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Sobre o Pragmatismo de Willian James. Verdade e Realidade
Sobre o Pragmatismo de Willian James. Verdade e Realidade
Sobre o Pragmatismo de Willian James. Verdade e Realidade
Verdade e Realidade 1
Sobre o Pragmatismo
de Wiliam James
Verdade e Realidade 1
Henri Bergson
Sobre o Pragmatismo de William James. Verdade e Realidade 2
Henri Bergson
Sobre o Pragmatismo de William James. Verdade e Realidade 4
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A Pluralilistic Universe, Londres, 1900. Traduzido para o francês na “Biblioteca
de Filosofia Científica” sob o título de Filosofia da Experiência.
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Muito engenhosamente, André CHAUMEIX sinalou semelhanças entre a
personalidade de James e aquela de Sócrates (Revue des Deux Mondes, 15
outubro de 1910). O cuidado de levar o homem à consideração de coisas
humanas para ele mesmo tem algo de socrático.
Henri Bergson
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4
No belo estudo que consagrou a William James, — Revue de métaphysique et
de morale, novembro de 1910, — Émile Boutroux faz ressaltar o sentido todo
particular do verbo inglês to experience, que quer dizer, não constatar friamente
uma coisa que se passa fora de nós, mas provar, sentir em si, viver por si mesmo
tal ou qual maneira de ser.
Henri Bergson
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5 Eu não estou seguro de que James tenha empregado a palavra “invenção”, nem
de que ele tenha explicitamente comparado a verdade teórica a um dispositivo
mecânico; mas eu creio que essa aproximação é conforme ao espírito da
doutrina, e que ela pode nos ajudar a compreender o pragmatismo.
Henri Bergson
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Isso não quer dizer, ainda uma vez, que a verdade depende
de cada um de nós: o mesmo equivaleria a crer que qualquer um de
nós poderia inventar o fonógrafo. Mas isso quer dizer que, das
diversas espécies de verdade, aquela que está mais perto de
coincidir com seu objeto não é a verdade científica, nem a verdade
do senso comum, nem, mais geralmente, a verdade de ordem
intelectual. Toda verdade é um caminho traçado através da
realidade; mas, entre esses caminhos, existem aqueles aos quais nós
poderíamos dar uma direção muito diferente, se nossa atenção fosse
orientada num sentido diferente ou se houvéssemos visado a um
outro gênero de utilidade; isso é o contrário de a direção ser
marcada pela própria realidade: isso é o que corresponde, se se
pode dizer, a correntes de realidade. Sem dúvida, estas dependem
ainda de nós numa certa medida, porque nós somos livres para
resistir à corrente ou para segui-la; e, mesmo que nós a sigamos,
podemos inflecti-la diversamente, estando associados ao mesmo
tempo em que submetidos à força que aí se manifesta. Não é menos
verdade que essas correntes não são criadas por nós; elas fazem
parte integrante da realidade. O pragmatismo chega assim a inverter
a ordem na qual temos o costume de colocar as diversas espécies de
verdade. Fora verdades que traduzem sensações brutas, seriam as
verdades de sentimento que teriam na realidade as raízes mais
profundas. Se nós convimos em dizer que toda verdade é uma
invenção, será preciso, eu creio, para permanecer fiel ao
pensamento de William James, estabelecer entre as verdades de
sentimento e as verdades científicas o mesmo gênero de diferença
que entre o barco à vela, por exemplo, e o barco a vapor. Um e
outro são invenções humanas, mas o primeiro não dá ao artifício
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senão uma fraca parte, ele toma a direção do vento e torna sensível
aos olhos a força natural que utiliza; no segundo, ao contrário, é o
mecanismo artificial que tem maior lugar; ele encobre a força que
põe em jogo e assina-lhe uma direção que escolhemos por nós
mesmos.
A definição que James dá da verdade integra sua definição
da realidade. Se a realidade não é esse universo econômico e
sistemático que nossa lógica gosta de se representar, se ela não é
sustentada por uma armadura de intelectualidade, a verdade de
ordem intelectual é uma invenção humana que tem por efeito
utilizar a realidade de preferência a nos introduzir nela. E se a
realidade não forma um conjunto, se ela é múltipla e móvel, feita
de correntes que se entrecruzam, a verdade que nasce de uma
tomada de contato com qualquer uma dessas correntes, — verdade
sentida antes de ser concebida, — é mais capaz que a verdade
simplesmente pensada de perceber e de armazenar a própria
realidade.
É, pois, enfim, a esta teoria da realidade que deveria fixar-
se primeiramente uma crítica do pragmatismo. Poder-se-á erguer
objeções contra ela, e o faríamos nós mesmos, no que lhe concerne,
certas reservas, mas ninguém contestará sua profundidade e
originalidade. Ninguém, não mais, após haver examinado de perto
a concepção da verdade que aí se correlaciona, desconhecerá sua
elevação moral. Diz-se que o pragmatismo de James não é senão
uma forma de ceticismo, que ele rebaixaria a verdade, que ele a
subordinaria à utilidade material, que ele desaconselharia, que ele
desencorajaria a pesquisa científica desinteressada. Uma tal
interpretação não viria jamais ao espírito daqueles que leram
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