Capitulo 2
O PROJETO DE PESQUISA COMO EXERCICIO C'ENTIFICO E
ARTESANATO INTELECTUAL
Suely Ferreira Deslandes*
1. Introducao
Um projeto de pesquisa constitui a sintese de multiplos esfor-
¢os intelectuais que se contrapdem e se complementam: de abstra-
go tedrico-conceitual e de conex&o com a realidade empirica, de
cxaustividade e sintese, de inclusdes erecortes, e, sobretudo, de ri-
gore criatividade. Um projeto é fruto do trabalho vivo do pesqui-
sador. Para isso, ele vai precisar articular informagdes e conhe-
cimentos disponiveis (am amplo conjunto de saberes e técnicas),
usar certas tecnologias (0 uso de internet ou de certos programas,
por ex.), enupregar sua imaginacdo e emprestar seu corpo ao esfor-
co de realizar a tarefa. Quem duvida que as vistas cansam, as cos-
tas ardem eacoluna doi depois de longos dias em frente a um com-
putador ou a uma pilha de livros?
Q projeto 6 construido aricsanalmente por um artifice através
do trabalho intelectual. E, portanto, um artetato. O que queremos
dizer com isso’?
* Socidloga, doutora em Cigncias e pesquisadora litular do IKF/Fiocruz.
31Pesquisa social
Primeiro que o projeto de pesquisa nao surge espontaneamen-
te, unicamente pela vasta experiéncia ou pelo grande compromis-
so social de um pesquisador em relag4o a certa tematica. Fmbo-
ta esses quesitos também sejam muito importantes c presentes,
pois como dizia o socidlogo americano Wright Mills (1972) os pen-
sadores mais admiraveis nao separam seu trabalho de suas vidas,
“cnearam a ambos demasiado a sério para permnitir tal dissociagao,
e desejam usar cada uma dessas coisas para o enriquecimento de
outra” (p.211-212). Entretanto, se torna necessario o trabalho siste-
miatico para o dominio de teorias e métodos justamente para que o
pesquisador possa ser criador, evitando 0 “fetichismo do método
eda técnica” (WRIGHT MILLS, 1972), para que possa usa-los ar
tesanalmente, adequando-os, reinventando os carninhos proprios
para sua investigacao.
Segundo é que, ao construir um projeto, fabricamos também
uma ferramenta, um artefato, cuja matcrialidade nao se apresenta
somente no numero de paginas escritas ou num arquivo de um edi-
tor dc textos, mas que sc concrctizara na realizagao do trabalho in-
vestigativo. Artefato porque tanto ¢ fruto da mao-de-obra huma-
na, intencionalmente criado, quanto no sentido de ser resultado do
uso de métodos particulares em pesquisa (FGV, 1987). Eum ins-
trumento que servira como a guia para as ages do estudo propos-
to. Podemos ponderar que esta ferramenta-guia no se limitaria 4
metafora do prumo de um pedreiro, que se destina a corrigir a reti-
do do Angulo de uma parede, evitando rigorosamente os desvios.
Melhor talvez fosse pensar através da motafora de outras ferramen-
tas-guia, tais como o astrolabio c o sextante, instrumentos utiliza-
dos pelos antigos navegadores para se langarem em mares desco-
nhecidos, desafiadores e fascinantes.
2. Dimensées de um projeto de pesquisa
Quando escrevemos um projeto, estamos definindo uma car-
tografia de escolhas para abordar a realidade (0 que pesquisar,
32
Pesquisa social
como, por que, por quanto tempo etc.), Isso porque o projeto cien-
tifico trabalha com um objeto construido ¢ nio com o objeio per-
cebido, nem com o objeto real (BRUYNE; HERMAN; SCHOU-
THEETE, 1977).
O objeto percebido é aquele que se apresenta aos nossos sen-
tidos pela forma de imagens, é 0 que vemos e sentimos ¢ que, na
maioria das vers, se apresenta como “real”, natural e transparen-
te. Em pesquisa social sabemos 0 quanto estas percep¢des sofrem
influéncias das nossas visdes de mundo, possuidoras de uma his-
toricidade, portanto, em nada “naturais”.
O objeto real diz respeito a totalidade das relacdes da exis-
téncia social, Suas fronteiras e complexidade, porque dinamicas
e constantemente reinventadas, excedem a apreensio do conheci-
mento cientifico.
O objeto construfdo, por sua vez, constitui uma tradugao, uma
versio do real a partir de uma leitura orientada por conceitos ope-
radores. E resultado de um processo de objetivagio tedrico-concei-
tual de certos aspectos ou relagées existentes no real. Este Gum
ponto muito caro as ciéncias sociais. Marx (1978) ja afirmava que
a ciéncia se apropria da totalidade do social pelo pensamento, por
abstragdes conceituais quc se debrugam sobre o concreto, Weber
(1986) postulava que a ciéncia social n&o trabalha com as conc-
xGes reais cntre coisas, mas com conexdes conceituais entre pro-
blemas e Durkheim (1978), que, assim como Marx, lembrava a im-
portancia de realizar uma ruptura com 0 senso comum, com as per-
cepgdcs imediatas.
Esta etapa de reconstrugdo da realidade, entendida ai enquan-
to.adefinigao de um objcto de conhecimento cientifico eas manei-
ras propostas para investiga-lo, traz em si muitas dimensées.
Ao elaborarmos um projecto cientifico estaremos lidando, ao
mesmo tempo, com pelo menos trés dimensées importantes que
est4o interligadas.
33Pesquisa social
A dimensdo técnica, que trata das regras reconhecidas como
cientificas para a construgdo de um projeto, isto é, como defi-
nir um objeto, como aborda-lo e como escolher os instrumentos
nuts adequados para a investigagido. Sendo que técnica sempre
diz respcile a montagem de instrumentos (DEMO, 1991), 0 pro-
Jeto de pesquisa é visto neste sentido como um instrumento da
investigagdo.
A dimensdo ideoldgica se relaciona as escolhas do Ppesquisa-
dor. Quando detinimos o que pesquisar, a partir de que base ted-
rica € como pesquisar, estamos fazendo escolhas que so, inesmo
em ultima instancia, idcolégicas. Hoje, mesmo os cientistas na-
turais reconhecem que a neutralidade da investigacao cientifica é
um mito.
Nao estamos, é certo, nos referindo a uma visdo maniqueista,
onde o pesquisador reconstr6i a realidade com “segundas inten-
¢6es politicas”. Estamos, sim, falando de uma caracteristica in-
trinseca ao conhecimento cientifico: cle é sempre histérico e so-
cialmente condicionado. O pesquisador opera escolhas (mesmo sem
tera percepeao clara disto), tendo como horizontes sua Posic¢ao so-
cial ¢ a mentalidade de um momento histérico concreto,
A dimensdo cientifica de um projeto de pesquisa articula estas
duas dimensdes anteriores,
A pesquisa cicntifica busca ultrapassar 0 senso comum (que
por si é uma reconstrucao da real idade) através do método cienti-
fico. Como ja dito, 0 método cientifico permite que a realidade
social seja reconstruida enquanto objeto do conhecimento, através
de um processo de categorizacao (possuidor de caracteristicas cs-
pecificas) que une dialcticamente 0 tedrico e o empirico.
Neste capitulo estaremos dando énfase a dimensao técnica na
questao da construg%o de um projeto. Estamos propondo uma in-
troduc&o a este tema, entendendo que dominar a técnica é também
viabilizar a produgdo do conhecimento.
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Pesquisa social
3. Os propésitos ¢ a trajetéria de elaboracéo de um projeto
de pesquisa
Fazemos um projeto de pesquisa, sobretudo, para esclarecer a
nds mesmos qual a questao que estamos propondo investigar, as de-
finicdes tcéricas de suporte ¢ as estratégias do estudo que utilizare-
mos (0 que pesquisar, como, por quanto tempo etc.). A redagdo do
projeto cria uma série de demandas ao pesquisador para tomar cla-
ra, coerente € consislente sua proposta. Redigir scu protocolo de in-
vestigaciio sob a forma de um projeto ajuda o autor a perceber o que
ainda precisa estudar, detinir e mesmo refletir para conclui-lo.
O projeto ajuda lambém a mapcar um caminho a ser seguido
durante a investigacao. Podemos, assim, antecipar cen4rios e criar
um plano de trabalho. [sso permite ao pesquisador planejar e ad-
munistrar cada etapa da investigacao ¢ os esforgos, recursos e em-
preendimentos que serao necessarios.
Além disso, um pesquisador necessita comunicar seus propd-
sitos de pesquisa para que esta seja aceita na comunidade cientifi-
ca, O “meio de comunicacao” reconhecido no mundo cientifico é
0 projeto de pesquisa. Através deste, outros especialistas poderio
tecer comentarios e criticas, contribuindo para um melhor enca-
minhamento da investigagao. E importante lombrarmos que a pes-
quisa cientifica pressupde sempre uma instancia coletiva de refle-
x4o. O projeto permite ainda que varias equipes de pesquisa, mes-
mo situadas em instituigdes ¢ regides diferentes, trabalhem intc-
gradamente, scguindo um mesmo protocolo.
O projeto é também um pré-requisito para obter financiamen-
to. As instituigdes de fomento 4 ciéncia regularmente abrem edi-
tais convocando aos pesquisadores a concorrerem entre si por fun-
dos. Um projeto bem elaborado é condicdo essencial a participar
destas concorréncias.
Finalmente, ao apresentar um projeto, 0 pesquisador assume
uma responsabilidade publica com a realizag4o do que foi prome-
35Pesquisa social
tido. Mudangas podem ser necessarias e imprevistos costumam
acontecer. Essa contingéncia revela que a pesquisa é uma pratica
dinamica, contudo, o pesquisador precisara esclarecer ¢ justificar
as modificagées daquilo que foi preconizado inicialmente. Os 6r-
gaos de fomento e instituicdes apoiadoras cada vez mais freqlien-
temente exigem relatorios de acompanhamento da execugao de
projetos.
O projeto de pesquisa é 0 desfecho de varias ages ¢ esforgos
do pesquisador. Ele culmina uma trajetéria anterior marcada por
atividades ¢ atitudes (RUDIO, 2000; MINAYO, 2006):
1) De pesquisa bibliografica disciplinada, critica c ampla:
a) Disciplinada porque devemos ter uma pratica sistematica —
um critério claro de escolha dos textos ¢ autores. Quais serao
as chaves tematicas de busca? Serao incluidos somente os tex-
tos mais recentcs? Serio textos oriundos somente de uma area
de conhecimento? Haverd alguma forma de escolha dos auto-
res? Aqueles, por exemplo, que defendem determinada linha
de pensamento? Responder a estas perguntas ajuda a definir
um certo escopo de pesquisa bibliografica.
b) Critica porque precisamos estabelecer um dialogo reflexivo
entre as teorias ¢ outros estudos com 0 objeto de investigagao
por nés escolhide — uma reviséo no pode ser diletante, mas
precisa estar atenta 4 correlacSo entre os métodos propostos €
os resultados encontrados por outros pesquisadores, Desenvol-
ver esta capacidade comparativa ¢ analitica em relagao aos ou-
tros estudos nos ajuda a melhor delimitar nossa proposta.
c) Ampla porque deve dar conta do “estado” atual do conheci-
mento sobre o problema — espera-se que o pesquisador saiba
dizer o que é 0 consenso sobre o assunto em debate e o que é
polémico; o que ja é tido como conhecido ¢ o que ainda pouco
sabe. F como se apropriar seletivamente de tantos conhe-
cimentos? Os fichamentos sio um bom procedimento, mas,
Pesquisa social
como jé dito, devem ter um foco e sempre estabelecer um did-
logo com o tema c objeto de estudo desejado.
2) De articulagdo criativa, scja na delimitagao do objcto de
pesquisa, seja na aplicac&o de conceitos — trabalhos originais e
inovadores se iniciam com perguntas que ainda nao foram formu-
ladas para a investigagdo cientifica e com maneiras diferentes de
abordar 0 objeto.
3) De humildade, ou seja, reconhecendo que todo conheci-
mento cientifico tem sempre um carter:
a) Aproximado, isto é, se faz sempre a partir de outros conheci-
mentos sobre os quais se questiona, se aprofunda ou se critica.
b) Provisdério — tanto a realidade social se modifica quanto as
interpretagdcs sobre ela podem ser superadas por outras que
incluem mais elementos e complexidade.
c) Inacessivel em relacdo a totalidade do objeto, isto é, as
idéias ou explicagdes que fazemos da realidade estudada s4o
sempre mais imprecisas do que a propria realidade.
d) Vinculado a vida real — a rigor, um problema intelectual
surge a parlir de sua existéncia na vida real e no “espontanca-
mente”,
e) Condicionado historicamente.
Considerando-se os varios ciclos de uma pesquisa, esta eta-
paéreconhecida como a fase exploratéria e é, sem ditvida, um de
seus momentos mais importantes (MINAYO, 2006). Compreen-
de varias fases da construg&o de uma trajetéria de investigagao,
tais como:
a) escolha do topico de investigag4o;
b) delimitagao do objeto;
c) definigao dos objetivos;Pesquisa social
d) construgdo do marco tedrico conceitual;
e) selegdo dos instrumentos de construg&o/coleta de dados;
f) exploracéio de campo.
Importante lembrar que a fase exploratoria conduzida de ma-
neita precaria trara. grandes dificuldades a investigagao como um
todo. Um pesquisador mais inexperiente pode pensar que a elabo-
ragaéo de um projeto é uma tarefa inc6émoda e 0 que mais importa é
logo fazer o trabalho de campo e realizar a andlise. Contudo, sc o
objeto ¢ objctivos de pesquisa ou sc os métodos nao forem bem de-
marcados, futuramente os obstaculos aparecerao exigindo revi-
sdes e ajustes.
Formalmente, a fase exploratdria termina quando o pesquisa-
dor definiu seu objeto de pesquisa, construiu o marco teérico con-
ceitual a ser empregado, demarcou objetivos claros para o estudo,
selecionou os instrumentos de coleta de dados, escolheu o espaco
@ 0 grupo de pesquisa, criou eritérios para a inclusdo dos sujeitos
no estudo ¢ estabeleceu estratégias para entrada no campo. Em ou-
tras palavras, a elaboracdo do projeto de investigagao demarca a
conclus&o desta fase.
4, Os elementos constitutivos de um projeto de pesquisa
O projeto de pesquisa deve, fundamentalmente, responder as
seguintes perguntas (BARROS; LEHFELD, 1986; GIL, 1991; RUDIO,
2000):
+O que pesquisar? (Detinigdo do problema, hipoteses, base ted-
rica e conceitual.)
+ Para que pesquisar? (Propdsitos do estudo, seus objetivos.)
* Por que pesquisar? (Justificativa da escolha do problema.)
= Como pesquisar? (Metodologia)
+ Por quanto tempo pesquisar? (Cronograma de execugao.)
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Pesquisa social
+ Com que recursos? (Orcamento)
+ A partir de quais fontes’? (Referéncias)
O que pesquisar? A construgao do objeto de pesquisa
Definigdo do tema e escolha do problema
O tema de uma pesquisa indica a drea de interesse ou assunto
a ser investigado. Trata-se de uma delimitagao ainda bastante am-
pla. Por exemplo, quando alguém diz que descja cstudar a questao
“explorac&o sexual de criancas e adolescentes”, est4 se referindo
ao assunto de seu interesse. Contudo, é necessério para a realiza-
gao de uma pesquisa um recorte mais preciso deste assunto.
Fste encontro com o tema é 0 primeiro passo para o trabalho
cientifico. Sugere-se que o pesquisador faga trés indagacdes sobre
o tema eleito (SANTOS, 2004): se lhe agrada e motiva; se possui
relevancia social e académica; ¢ se ha fontes de pesquisa sobre ele.
Mas 0 tema é um caminho ainda em aberto. O pesquisador de
nosso exemplo entio se pergunta: o que pesquisar sobre explora-
cao sexual de criangas e adolescentes? Varias quest6es podem ser
de seu interesse. Quais sao as caracteristicas destas criancas, ado-
lescentes e suas familias? Como operam as redes e agentes res-
ponsdveis por esta exploraciio? Quais agdes tém sido realizadas
nos Ultimos anos para o combate a. essa pralica?
Ao formularmos perguntas ao tema estaremos construindo sua
problematizagao. Um problema decorre, portanto, de um aprofun-
damento do tema. Ele ¢ sempre individualizado ¢ especifico,
A definigao do problema ou objeto de pesquisa as vezes é tare-
fa dificil, mas também é a raziio da existéncia de um projeto. A
construgdo de um objeto de estudo cientifico constitui um verda-
deiro exercicio contra a idéia de que as coisas estdo dadas na reali-
dade e que basta apenas estar atento ao que acontece no cotidiano.
Esta postura € criticada por Bourdieu, Chamboredon e Passeron
(1999), que a nomeiam como “sociologia espontdnca”.
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F importante lembrar que um problema social nao é a mesma
coisa que um problema cicntifico (VICTORA; KNAUTH; HAS-
SEN, 2000; BOURDIEU, 1989). Em nosso exemplo falavamos do
tema exploragdo sexual de criangas ¢ adolescentes ¢ este é um pro-
blema social importante, seja porque traz sérias conscqiiéncias
a satide fisica e mental destas criangas, seja porque fere todes os
scus direitos, seja porque é moralmente intoleravel, ou mesmo por-
que denota falhas nos mecanismos de protegao daquela sociedade
4 infancia e adolescéncia, Contudo, a explorac4o sexual de crian-
cas e adolescentes 86 se tormara um problema cientifico se o pes-
quisador operar prop ositalmente uma série de rupturas sistema-
ticas: a) romper com as idéias e concepgées circulantes sobre a
questio (sejam religiosas ou morais); b) desconstruir idéias pre-
concebidas (que as familias sao as principais responsaveis pelo pro-
blema, por ex.); c) cvitar as explicagées simplistas (6 a pobreza que
explica a existéncia deste tipo de comércio). Se estivéssemos cons-
truindo um objeto cientifico sobre esta quest4o, uma das posturas
iniciais seria a de se perguntar quando e em que contexto de nossa
historia a pratica de explora¢do sexual de criangas ¢ adolescentes
(perpetrada por centenas de anos em nossa sociedade) passou a ser
vista como um problema social? Quais atores (movimentos so-
ciais, midia, representantes do Estado etc.) e circunstancias foram
responsaveis por atribuir A questo o status de problema social? Esse
caminho, que ajuda a romper o senso comum sobre o problema
¢ suas explicacGes circulantes, é chamado pelo socidlogo francés
Pierre Bourdieu (1989) de pratica da “ditvida radical”.
O apoio de revisdes bibliograficas sobre os estudos ja feitos
ajuda a mapear as perguntas j4 elaboradas naquela area de conhe-
cimento, permitindo identificar o que mais tem se enfatizado e 0 que
(cm sido pouco trabalhado. Construir um diario pessoal de pergun-
tus c questionamentos sobre o tema também ¢ itil. Confrontar estas
perguntas com o que ja foi investigado e a forma como foram trata-
das por outros estudiosos ¢ a proxima etapa para selecionar o pro-
AQ
Pesquisa social
blema de estudo. Este exercicio permite ao pesquisador nao s6 deli-
mitar o seu problema, mas constituir a sua problematica de estudo,
isto €, contextualizar o seu problema em relagdo aquele campo te-
mitico de conhecimento (LAVILLE; DIONNE, 1999).
Aescolha de certas varidveis também auxilia a delimitagao do
problema. Retomamos 0 exemplo colocando-o inicialmente co-
mo problema de estudo: “quais foram as iniciativas para combater
aexploracio sexual de criangas e adolescentes?” Como se vé, uma
séric de imprecises dificulta o cntendimento dessa proposta: — a
que tipo de iniciativa nos referimos? Relativas a que periodo de
tempo? Em todo opais? Trata-se, entdo, somente de listar o que foi
feito? Novas reflexdes a partir de maior conhecimento sobre o tema
ajudariam a reelaborar a proposta c terfamos ento: “como se ca-
racterizam as iniciativas governamentais, cm termos de estraté-
gias, efetividade c continuidade, para combater a exploragio se-
xual de criangas e adolesccntes no Estado do Rio de Janeiro desde
aimplantagao do Estatuto da Crianea cdo Adolescente?” Poderia-
mos seguir recortando a abordagem para as iniciativas de certa 4rea
especitica de atuagao das politicas pablicas (Seguranga Publica
ou da Assisténcia Social).
Alguns autores sugerem que o problema deva ter algumas ca-
racteristicas, como por exemplo (GIL, 1991):
a) Deve ser formulado como pergunta. Esta maneira parece ser
a mais facil para se formular um problema, além do que facilita
sua identiticag&o por quem consulta 0 projeto de pesquisa.
b) O problema deve ser claro ¢ preciso.
c) Deve ser delimitado a uma dimensao viavel. O problema é,
as vezes, formulado de maneira muito ampla, impossivel de
ser investigado.
As vezes, problemas propostos n&o se encaixam a estas re-
gras. Um caso tipico é o dos temas pouco estudados ou muito re-
centes que carecem de pesquisas cxploratérias.
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