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Durval Muniz de Albuquerque Junior A arte de inventar 0 passado & nenhuma garantia de imp. impossivel we Capitulo 2 HISTORIA: A ARTE DE INVENTAR O PASSADO™ Bouvard e Pécuchet, protagonistas de um romance de Gustave Flau- bert, eram dois fancionsrios publicos, mediacres ¢entediados com a vida que levavam em Paris, Numa tarde sufocante de domingo se conhecem, no Bule- vvar Bourdon, ¢ se tornam grandes amigos. Um dia, o inesperado, a quebra da rotina, acontece com a chegada de uma carta que comunica o enriquecimento cle Bouvard com a heranga deixada pelo seu padrasto. Eles pensam imediata- mente em se tormarem agricultores, Apés muitas negociagoes, compram um si- tio onde iniciam uma série de fracassadas experiéncias com a agricultura, com 4 jardinager, com a pecuiria e com a guimica, Tentando espantar a tediosa ‘existéncia no campo, os dois amigos terminam enveredando pela Arqueologia ‘peli Hist6ria, Em pouco tempo, transformaram a casa num muscu: Luin velhaviga de madeira ergia-se no vestbula, Os xpécimes de geologia elvan ead uma enorme corent extendia-se be cho, ao longo do or Fed. Na jarede da frente, um caldetio dominava dois cies de chaminé e uma placa de ieee repesentando um monge 2 carci ume pastora. Ao redo, sobre [suena patelers, vin se casts, echaduras, parafusos, pci. soalho de- ‘sapareca sob os cacos de tlha vermelhas ‘Depois de fazerem intimeras escavagbes ¢ aquisigdes de objetos os mais disparatados, que eram oferecidos pelos vizinhos como pegas de rarissimo va- lor, Bouvard e Pécuchet se dio conta de que aqueles objetos nao thes diriam nada sem tum conhecimento prévio da Historia da Franca. Os objetos e as marcas deixadas pelo passado no teaziam em si mesmos seu sentido, o pas- 33 sado no era'o documento, nem os vestigios por ele deikados, mas a com- preensio da trama histérica em que estavam envolvidos, s6 possivel com um saber histérico e uma eruigao previamente adquirida. “Tinham na biblioteca a obra cle Anquetil, masa série dos reis madtragos muito pouco os divertiu" A procura da melhor Historia da Franga leram Au- ‘gustn Thierry e de Genoude, que divergian em quase tudo, Para de Genoude: rele, religio eas assembles naciontseram os “princlpios" da naga fea ‘ea init pelos Merovingios, Os Calovingios os derogaram. Os Capetos, de scordo coma votade do pov, esforaram-se por manté-tos. Sob Lis Xl, ores tabelecido o poder absolut, «fim de vencero protesantism, dime eforgo do feadalismo 9 6 um retorno 3 constituigio dos antepasads auchet admirow tnt ideas, Sowvard, a contro, deploro, por Naver ido Augostin Thier We queres dizer com nagzo francesa, pois ao avia ainda Franys, nem us sembleas naconais! Os Carlovingis nao usurparam absolutamentenada,e us rei ‘ao ibertaram ax comunat Le vets? Vivendo no século em que a conscigncia da historicidade dos fendme- nos era mais agugada, em que 0 aceleramento das translormagbes historicas tomnou sensivel © movimento e a mudanga da sociedade, num momento em que o paradigma realista metafsico tenta tornar a Historia uma ciéncia de ver dads exatas, de leis universas, estes personagens recorreram sucessivamente a vias obras clissicas sobre a hist6ria da Franga: 3 colegdo de Buchez ¢ Roux, fem que 0 excesso de debate thes pareceu prejudicar a visio de conjunto; a "Thiers, que p8s os dois amigos em lugares opostos, ao tematizar a revol “Bouvard, espirte liberal e coragio sensivel tornou-se constitucional, girondl ro termidoriano, Pécuchet, bilioso e de tendéncias autoritirias, declarou-se sans-culote ¢ até mesmo robespierrista’ “Para umas, a Revolugao & um econ- tecimento satanico, Outras a proclamam uma sublime exce¢i0. Os vencidos de ambos os lacos, naturalmente, sio miértires, Apés compilarem indmeros escri- tos sobre a revolugto, chegam a conclusio de que jé ndo tinham uma ida pre~ fla seria previo ler cisa sobre os homens ¢ 0s fatos daguela época, “Para jul todas as hist6rias, todas as memérias, todos os jornais, todos os manuscritos Renunciaram a tare! TTalver fossem encontrar a verdade nas épocas antigas. Afastados dos acontecimentos, os autores certamente os analisariam desapaixonadamente € & oa neutralidade ea objtividade cientificas seriam respeitadas. No entanto, 0s auto- ces no chegavam a um acordo sobre datas, fatos;eram outros tantos equivecos: ‘Tito Livio atria» fundagéo de Roma a Romulo. Saistio, aos woianos de Endias, Corilano morteu no exo segundo Fabio Pietro vima dos estrata temas de Atilo Tlo se Dionisio merece credit, Seneca arma que Hordcio Codes ‘egesov vitoros,¢ Dion qe cle foi ferdo na perma E La Math le Vayer eter ‘vidas smelsantesreltivamente a antes pows.” Assim, oa indifrenga plas datas, passéram iniferenga pelos atos, Passam a achar que o importante éa Filosofia da Histéria. A Histria, para além as migilbas dos acontcimentos singulates,expresaria nfo apenas uma orga- izagiosstémica, como reveavia uma racionalidade, uma necessidade, ua f nade. Asin clos homens e de suas existéncas individuasestaria ohomem, ‘ste ente empirico transcendental, inventado pela modernidad® assim como 4 humanidade com seus fis times. No entanto, mais uma vez se perderam ize nareativasempolgadas por razoes as mais dispares: uma religdo, uma na- «0, un parti, un sistema, unsa ideologia, ou para censurar os res, aconse- lar o povo,apresentarexemplos moras. Compilaram Bossuet, Vico, Daunou, ¢ teiinam por se confessarem desnorteados em matria de Misra Parece que, mais de um século depois, vivemos o mesmo drama de Bouward e Pécuchet Se para eles a modernidade trouxera a vontade de saber, a vontade de verdade, que os faia nomadizar entre um saber e outro, uma es- pecildadee utr, urna identidade outta, descobrindo, com dor edilacera- ‘mento, ocatiter telatvo dos sberese as incertezas da ciéncia, nds hoje, te- ‘mos qe conviver, no apenas com a rlatividade dos discursos\com a relati- vidade do saber histieo, mas com a relatvidade da pr6pria realdade Tendo surgido na década de cinglienta, no campo da esttica, 0 termo pés-rnadernidade foi se ampliando para outros stores da vida Soca, termi nando por nomear 0 novo horizonte de nossa experiéneia cultural. Embora alguns considerem a pés-modernidade uma decadéncia momentanea da mo- ddernidade ow considerem um estilo atistico, que faz a critica das vanguar- «las modernists, podemos define a p6s-modernidade como a nossa condiglo historica, a nossa episteme, Sendo a pés-modernidade uma nova condigéo histérica esendo 0 co- hecinento histérico um conhecimento celativo as condigbes histrieas de 55 sua produgio, ortanto, aio pode mais ser produzido a partir dos mesmos pa- radigmas, teorias e metodologias com os quis se produzia historia na moder- nidade, Discuttemos, neste texto, portanto, 0 estatuto do saber histérico na 1pos-madernidade. Como o fato de vivermos numa sociedade pds-moderna ainda esté em discussto, vamos, nicialmente,apresentar,em linhas gers, que transformdgoes hist6ricas levaram & p6s-modernidade, o que caracteriza « concligio pés-méderna, pra s6 entio abordagmas as mudangas paradiginati- cas do saber histrico que esta implica, anova dia de Historia eos desdobra- smentos terico-metodol6gicos que esta requer Em Rapsédias de agot, filme de Akira Kurosawa, go olhar no horizon tee vero cogumelo atbmico, uma japonesa pensa ver um grande ofho verme tho, cheio de raios de sangue,a piscar para ela Essa talvez tena sido a prime 1 piscadela da p6s-modernidade. Neste acontecimento simblico se conden- sa fodo'o racasso da modernidade, a faléncia do humanist eo fim do so ho iluminista Todas as promessas das filosofias da Historia do século 19, de ‘uma historia teleoldgica,atravessada pea razio, em ditesao & cvilizayio, 20 progress, liberdade, a igualdade e@fraternidade sio caleinadas junto cons milhares de japoneses. A validade destas metanatrativas que tentaram unificar a totalidade da experidnca historia da modernidade, dentro de um projeto de emancipasao humana global, écontestada violentamente TImaginemos que, apds esta cena devastadora, nossos personagens do século 19 entrasem numa maquina do tempo eatercizassem no fim dese st culo, Paseando pelo mesino Bulevar Bourdon, dar-se-iam conta de que agui- Jo que chanaram de sociedade industrial, de captalsmo, de sociedad do tra batho, do progtess, de sociedade burgues, transformara-se radicalmente ‘Ninguém mais mitfca as méquinas eo trabalho, agora s6 se fla ern tecno :ncia, A informasio e a comunicagao vio se tornando os principais meios de produgio, False em sociedade pés-industral,cuja economia nao & mais 6 reing das coisas, mas o reino do Faxo de signos, em que mio se lida com sraridessomas de papel-moeda, mas com grandes cifras numa tela de compo- tador, A economia se desmateializa,seguindo de perto as descobertas da Fi- sica, que progressivamentetelatvizaram 0s fendmenos naturais, puseram em dividas as leis que regeriam o universo e desmaterializaram a materia, ‘A invengao do chip iniciou uma progressiva desteferencializagio do mundo e sua integrasao em circuitos telematicos. Passou a ser possivel asi 56 va wae? rmulagao de realidades virtuais, em que © homem convive com o simulacro, Um mundo de escolhas répidas, quantitativas, biticas. A robotica filha dile- {a desta revolugio telematica, aumenta o desemprego relative em todas as ‘economia e permite superar 0 padrio fordista de funcionamento das fabri «as. Surge a chamada acumulagi flexivel,a terceirizago, que buscam supe- rar a chamada rigidez do sistema, engessado nos paises centrais pelas exi- géncias trabalhistas dos operiros e o seu sindicalismo superorganizado. A sociedade do trabalho vai dando lugar & sociedade do écio, voluntario ou ‘nao. 0 proprio capital muda de qualidade ao ser cada vee mais capital cons- {ante e menos capital varidvel e, no entanto, ndo entrar em crise como pre- vita Mars, © eapitalismo nao s6 transforma constantemente as relagbes sociais| preexistentes, 0 ue desorientava nossos personagens no século 19 ¢ levava a reagbes rominticas e nostilgicas da sociedade comunitaria, como as proprias relayoes criadas por ele, Estas dissolusoes parciais, que pareciam, no comego do século, ser marca do apodrecimento do sistema e de sew inevitivel fm, fim predeterminavel, revelaram-se um processo contingente cujas conseqiién ‘as sao largamente indeterminadas. O capitalism foi capaz-de encontrar so- lugoes dferenciadas para as suas crises, contrariando qualquer determinismo e proviso, No século 19, nagio, a civilizagdo e a revolugio eram razies de hists- ria, 0 discurso historiogrético adquiria sentido, a institucionalizagzo do fazer historia ganhava um objetivo estratégico que era o de recuperaro passido na ional, © passado da civilizagao ou mesmo 0 passado que precisiva ser revo- Jucionado. Por isso era tio importante saber a Historia da Franca, de sua civi- lizagio e de sus revolus0, Hoje nossos personagens olhariam para um mun- do onde as nagoes tém, cada vez menos, significado. [4 com a Guerra Fria, 0 ‘mundo se dividira em dois grandes blocos internacionais e, apés 0 fim do so- tialismo real, se Iragmenta em blocos regionais, sab o policiamenta des org nismos internacionais. A civilizagio ocidental e crista trouxe no seu bajo tan- tosbarbarismes quanto aqueles que se propdsa superar. A revolucio, que des {tuiria 0 capitalism, seria feta por uma forga, que era, a0 mesmo tempo, in- tem e externa ao sistema, 0 proletariado. Mas esta classe foi, em grande me- ida, cooptada pelo sistema e bandonow a revolugio, atraida pelos Estados de bbem-estar social, montadas pelo trabalhismio e a social-democracta no pés- 37 ‘guerra, Gramsci, no comego do século, jd percebera as contradigoes dla teoria de elsse nas formulagdes eléssicas do marxismo, ou sea, se 0 proletariado era tumva clase euj identidade seria dada pelo proprio sistema ¢ esta identidade setia fixa, como ela poderia mudaro sistema se este seria um sistema fechadot Sea identidade do proletariado se alterava permanentemiente, como cle pode ria ter sempre a mesma tarefa, ou seit, como poderia ele fundar a Historia se cestava et mutate historia? Admitindo que o proletariado era pragmitica e ‘contingente, ue & identidade de classe era Felacional, suas mudangas sed Sramasci adimite a pos vain na relagio com o tempo, espage € outras classes, sibilidade de o proletasiado nao realizar a sua tarefa, de ser cooptado pelo sis tema, dissolvendo, assim, a possibilidade da elaboragao de uma Filosofia da Historia, endo a identidadle proletiria como referente, Estas © outtas leituras do marxistmo vio colocando-o cada vez mais longe do marxismo clissico, terando em varios pontos a mais bem acabada Filosofia da Historia lo século 19, que tinha a ideia cle revolugzo como pressuposto, ‘A niio-realizagdo das previsbes histricas das flosofias da Historia do século 19 coloca nossos personagens diante do questionamento da propria ta cionalidade da Hist6ria, dos mitos das fundagbes, ou seja, da existéncia de tuma determinagio em ltima instincia da Historia. O carter eelacional, con~ textual e plaral de qualquer acontecimento hist6rico elimina a possbilidade de uma argumentagao que tome, como pont de partida, um pont fxo, re velando a propria relatividade da realidade Coatiouando seu passeio por Paris de hoje, Bouvard e Pécuchet se riam confrontados com toda a maquinaria da cultura de massis: um mundo de imagens, simulacros, signos luminosos. A arte pop, levanclo as iltimas conseqdéacias a liberdade de criagio e experimentagao instaurada pelas va iuardas modernistas, poe em crise a representagao realista do mundo, A pro= pria Psicandlise, ao nos informar sobre © nosso universo inconsciente, poe fem xeque o império do realismo e da razdo cartesiana. Descobrimos que, para além da conscigncia, nossas agbes e produgies sociais sto produtos de desejo, de suas maquinagdes e agenciamentos. Esta cultura de massa instau- ra uma nova sensibilidade, aberta para o chogue, a surpresa, 0 cariter rla- cional das identidades. O sujeito deixa de ser visto como uma totaidade fe hada ¢ fondante das agses e represent produc histrica, coma um lugar que diferentes pessoas vim ocupar suees s, pata ser pensadlo como um 58 sivamenie ov como a produgie de uma identidade, em que virios uxos de 1gas de suigdo se encontram. A sociedade da serilizagao e subjeti. slo inuividuo ibsiga & que 0s individuos assumam uma série de papéis, de idontihades, aymentandas, Nossos yetsonagens Cerium que aprender & conviver com at crise do dado. Na sovieiale pos-modleraa, nada é evident, O rete e,0 fendmeno e ‘ sgn ceinann slo ser dads fixas, validate objetiva de que partem as tepre- seniors, jst rem sevelados conto produto de invengio sociale ingsti- ‘6.0 nioderaisino reaizou esta tare de critica iia de realism em arte. A icniticantes e signiticados se alter, si existindo sais sight casos fisos © unisersais, Cada sgniticante, podenda ter muitos signiticados, levanuto.apripria crise daidia de signifivante. Os homens descabrens mun- fi dernase a insiawra docu uae Esta nova sensbilidade leva a erasio das categorias mo: de nove s paradigmas no campo do saber. Mas see’ que ‘tas (ransfornn, Ges so to recentes assim? Os dois personagens voltam para isi convenciddos a retomarem os estudos arqueolbgicos e fazerem uma ar ‘queoiogis do presente, Perguntam-se quais as descontinuidades, as raptaras {que ocorceran: ne proprio saber mederno, que os levou até seus limites e fex com ge se iisturasse uma nova episteme no Ocidente? Bouvard lembra-se de Immanuel Kant, quando este enuncia:“4 mente ro cria tas les com base na natureza, ina as impoe a si mesma” e Pécuchet val até a biblioteca, sopra a poeira do livro A ciéncia nova, de imbattista Vico, ele este enunciado: “o homem pensunte & @ Gnico responsivel por seu Pensaiento' Estamos no século 18, ¢ estes dois enunciados provacamn deslo camientos fundamentals para se pensar 2 historicidade do pensamento oci dental, Nasce una nova cosmovisio, uma nova teoria do conbecimento, em que este iio é ura imagem do mundo, mas chave para possiveis mundos. Fles cnunciam o fin do realismo metuisico que, durante muito tempo, afrmou a capaciiade do homem de conhecer 0 mundo tal como ele é, que pensou a ver- dade como uma operagdo de correspondéncia entre a representagio, o enn tiado © a realidae idepenidentemente do sujeito, uma realidade como dado objetivo, Desde Kant, instauram-se as premissas do relativismo, em que co- nhecinieato ¢ ealidade nao correspondem, mas se adaptam fncionalmente, (© mundo da experiéncia, sendo o tinico lugar da procura da verdade, nao ha vendo outro mundo anterior. O onhecimento passa a ser itl e relevante se 59 resistir ao mundo da experitncia e nos capacitar a fazer progn tar ou impedir a ocorréncia de certs ftos, ‘Tends feito uma viagem pelo tempo, Bouvard e Pécuchet chegam & conelusio de que nunca conhecemos 0 mundo, mas certs circunstincias par- ticulares, sendo nosso “real”, nosso limite. O conhesimento no se refere & ‘uma realidade ontol6gica “objetiva” mas, sim, a organizavbese ordenamentos de-um mundo constituide de nossas experiéncias. A inteligéncia organiza © ‘mundo, organizando-se a si mesma, Portanto, é em Kant, a percepgao da rea- tidade havia sido deslocada para 0 campo dos fendmenos, pondo em duivida atcxistincia de um abjeto isolado do resto do mundo, como uma coisa ou una ‘unidade inteiriga, Desde Vieo, toda cincia € 0 conhecimento das origens, das formas e do modo como se fizeram as coisas; nesta ciénia, 0 verdadeiro é 0 feito, € a procura das condigaes de possibilidade. O ser humano s6 pode co nnhecer aquilo que fe, $6 pode conhecer as operagoes de produgio do que fe, © 0 que faz & 0 que chamamos de real. Vindos de um século eujo paradigma realista ¢cientificista tinha a pre tensio de romper as aparéncias do mundo ¢ encontrar suas esséncias, nosso dois personagens se deparam com a crise desta concepgao de cnc, no fin tio sé 20. Fica claro para cles que &arteem que o conhecimento provémn da conscgncia do ato de constr em que o ato de construgio nunca € es moteado, parece se ofeecer melhor como paradigm diante desta nova visio acerca do conhecimento, Em que o ser 560 & quando conhecido epercebido, 56 sendo, como dizi Heidegger? A dieotomiaesseciaeaparénea€ supera- ao sers6€ quand aparece, Por tris da aparénca, nada hi. S6 que o ser apa recede diferentes modos, dai sa relatvidace ‘0 mundo construido € um mundo de experitacias que se constitu pe- las experincias e no tem nenhusa pretensio A verdade, no sentido decor- respondera uma eaidade ontolégica. Os objets 25 expeiéncias sto produ- tos de nosso modo de experimentar, determinado no tempo eno espago, Ov seja, seo verdadeiro feito, demonstra algo por meio de sua causa € caus Jo.A propria naturezamnao & em si mesma orgonizad, a esque vemos na na- tueza sio nossa inteligéncia que as coloca, Nés ordenamos e orgaizamas # cass, © determinante €, pois, ist6ria do que construimos, como constr ‘mos as condigSes da constrgao,porgueo it fet limita 0 que se pode fazer agora, A historicidade reside nesta dependéncia dis ages eexperincias pre~ sents e das agGes e experincis passidas CF ico meten Portanto, ao contrério do que pensavam Bouvard ¢ Pécuchet ¢ seu século, o ato de conhecer nao ¢ fruto de uma recepgéo passiva de um mun- do transparente, leita pelo sujeito do conhecimento, mas conhecer & uma atividade, O organismo cognoscente examina suas viveneias ¢ por que 0 far, tende a repetir umas e evitar outras. A regularidade de certas experién-

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