Poética e Poiesis

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POETICA E POIESIS: A QUESTAO DA INTERPRETAGAO Manuel Anténio de Castro - UFRJ Caminho: para cima, para baixo, um e 0 mesmo. Heréclito. Fragmento 60 Lesen aber, was ist es anderes als sammeln: sich versammeln in der Sammlung auf das Ungesprochene im Gesprochenen? * 7 Mas o que é ler, sendo reunir: reunir-se & reunidio do ndo-dito no dito? Martin Heidegger Vivendo, se aprende; mas 0 que se aprende, mais, é sé a fazer outras maiores perguntas. Guimardes Rosa? A questio A interpretagio faz parte da nossa existéncia cotidiana. Nem sempre nos damos conta de que nossas escolhas ¢ decisdes se fazem a partir de interpretagdes. Elas se processam ao longo do dia, dos anos e da vida, de uma maneira natural. Mas o que é a interpretagao? Esta ¢ a nossa questo. Questionar radica no que ha de mais profundo em nds. Nele sabemos e no sabemos, queremos € no queremos. O caminho da interpretagdo € a interpretago do caminho como 0 nfo-querer € 0 ndo-saber de toda questio. Se jé soubéssemos 0 que desejamos na interpretago, ndo questionariamos. Existir ¢ interpretar a questo. Mas 0 que € a interpretagio para que nela se dé a questo? A interpretagdo, 0 questionar e 0 que somos esto assim profundamente interligados. Por isso, quando tomamos como tema a interpretagio, ¢ em nossa propria existéncia que estamos pensando, Interpretar nessa dimensdo € interpretar-se. A questo é: O que é © interpretar para que nele possa acontecer um interpretar-se? Interpretar-se é eclodir no que cada um é. Eclodir diz-se em grego: poiein. De poiein se formaram as palavras poeta, poema e poiesis. E como reflexdio em torno do que eclode em todo poiein, se fundou a Poética. Ea interpretagao filoséfica do que é a arte, isto é, 0 poeta, o poema e a poiesis. E como tal, ha dois mil e trezentos anos tem acompanhado as. vicissitudes da filosofia e da arte na cultura ocidental. Mas ao lado da Poética filoséfica, que pensa as obras poéticas por um paradigma que Ihe é externo, podemos também pensar outra Postica, que se origina na dindmica do proprio fazer postico. Ha, portanto, duas Poéticas: a que nos advém na palavra do filésofo © a que nos advém na palavra do poeta, ou seja, nas obras como manifestagao da poiesis. Nesta perspectiva, temos um duplo caminho contraditério. De um lado, a Poética filoséfica define o que é a poiesis a partir da sua concepgfio de conhecimento e verdade, de outro, é a poiesis que se da como Poética nos poemas dos poetas. Seja na palavra do fildsofo, seja na voz do poeta, Poética e poiesis radicam na questio da interpretagao. Para que a interpretagdio nos fale, no podemos nos ater a conceitos jé estabelecidos. Apreender o seu Ambito € empreender um esforgo onde o penhor do empenho se da enquanto sentido de uma livre relago com a propria interpretagdo. Comegamos pela sua etimologia. Etimologia nio ¢ aqui entendida filologicamente, mas no sentido de apreensio da verdade do real enquanto ““identidade de acontecimento ¢ ‘enunciagdo”*(Torrano). A palavra interpretag’o vem do latim. “O substantivo latino interpretatio tem origem na feira, no negécio, na discussao dos pregos ou do prego, pretium, face a0 qual os interlocutores assumem posigdes diversas, de onde o inter-pretium” *(Gomes). Estranhamos esse uso no corrente de interpretago. Examinemos, porém, os componentes da palavra: 0 prefixointer € o radical: pretium. Inter, quando traduzido por “entre”, pde em cena 0 diflogo, o debate em que ha posigies diferentes. Indica também o lugar no qual a partir do qual acontece 0 didlogo, o embate. O prego é algo mutivel, que se define no decorrer € como conseqiiéncia do dislogo. E 0 valor que esti em jogo. O didlogo em torno do jogo do valor se faz a partir do lugar no qual os dialogantes se movem. A este lugar de abertura ¢ possibilidade do debate e embate deram os gregos o nome de ethos. A tensio ¢ relagio do “entre” como didlogo e do pretium como ethos fazem aparecer a terceira dimensdo de toda interpretagdo: o barganhar, 0 especular. Todo interpretar implica, pois, 0 didlogo, 0 ethos, o especular. Especular é um verbo comum tanto a interpretagao comercial como & filoséfica. E isso nao é de estranhar, pois a palavra interpretatio € a tradugio da palavra_—grega hermeneia, formada do verbo hermeneuein, _interpretar: “Hermeneuein, hermeneia ¢ hermeneus nao dizem, como sempre de novo se ouve, esclarecer no sentido de conduzir uma coisa estranha e obscura para o Ambito claro ¢ familiar da razio ¢ do discurso.” °(Cameiro Lelio). A tarefa do intérprete ndo consiste em esclarecer 0 sentido da obra, que nela esti oculto, mas num desvelar que implica: didlogo, ethos, especulagdo. Desvelar se diz em grego poiein. A interpretagfio ¢ a Poética tém em comum, portanto, essas trés dimensdes. A Poética mitiea ‘Assim comega Aristételes sua Poética: “Falemos da poética - dela mesma e das suas espécies, da efetividade de cada uma delas, da composigao que se deve dar aos “7, Segundo Aristételes, a S manifestagao da poiesis como poemas ou poesias se da no mito. Mas 0 que entender por mito ¢ a partir deste, o fazer postico? Mito foi traduzido por fabula ¢ depois por ficgdo. O mito nfo é um texto canénico ideal, a matéria, a partir da qual os poetas dariam forma as obras poéticas, em diferentes tramas. Na percepcao metafisica do mito, ndo se atenta mais nem para o vigor da Poética, nem da poiesis, nem da interpretagdo, e muito menos do mito. Ha uma simbiose fundamental entre Poética, poiesis, interpretagdo e mito. O que ¢ o mito, originariamente, para que tome possivel esta simbiose? Mythos se formou do verbo mytheomai, que significa: desocultar pela palavra. “... mythos tem o sentido de palavra divina que se apresenta em forma de palavra humana ¢ que por assim apresentar revela o canto como fonte de conhecimentos relativos ao sentido do ser e as formas divinas do mundo... mythos significa as palavras das ‘Musas Olimpicas, filhas de Zeus egifero’ ”® (Torrano). O mito aparece como 0 proprio real se doando como Linguagem na palavra. O real se manifestando como Linguagem é a poiesis, é o “sentido do ser”. Por outro lado, “o sentido da palavra divina que se apresenta em forma de palavra humana” nao pode originariamente ser externo ao proprio mito, nem a poiesis, nem a Poética, nem a interpretagdo. A propria Poética eclode pela forga do mito. E este atende tanto & dimensio da Linguagem divina como 4 dimensdo da palavra humana. Di-mensao ignifica o mediar através do qual se presentifica o dual do sagrado: 0 divino € © humano. Tal dimensao léntica e diversa nos advém no mito de Hermes. E uma figura na qual se fazem presentes o divino ¢ 0 humano, a Linguagem e a palavra, a verdade e a nio-verdade como ethos. “Portanto, um mito ndo visa passar ou explicar fatos, ou ensinar padrdes de comportamento. Nao € esse o sentido do mito. O mito funciona e se apresenta como a forga instauradora de uma ordem”® (Carneiro Ledo). E 0 caso de Hermes. Ele € o mensageiro divino entre os deuses e os homens. Nao é o mensageiro de mensagens, & a propria mensagem, pois Hermes “evoca o radical grego, herm- ... Como o latim verb-, 0 alemao Wort e o inglés word, radical grego werm- provém de uma mesma raiz,wer ou wre, que significa o falar e dizer da lingua enquanto interpretagao do mistério” '° (Carneiro Ledo). Mistério tem a mesma raiz de mito. Formou- se do verbo myeisthai e significa: velar, silenciar. © mito como desvelamento, € 0 mistério como velamento se implicam mutuamente. Hermes niio & um mito que explica a mediagio, ¢ a propria palavra fundadora de poema e interpretago. A manifestagao origindria da poiesis se dé como mito, pois mito é em sia palavra divina. Esta Palavra divina é a voz das musas, filhas de Zeus e Mnemosyne. Esta voz nos chega no canto do poeta. “Interpelado pelas Musas ¢ assim impelido a cantar, uma relagao mimética une o cantor & origem desse impulso que o sagra e garante a seus cantos 0 carter ontoffnico da revelagao divina”"! (Torrano). Notemos que a palavra que 0 poeta pro-fere como relagao mimética nao imita nada enquanto representago, mas se tora a “imagem viva do que silo as Musas no Olimpo, em cujos cantos desdobra-se a visio do que foi, do que ¢ ¢ do que serd, Essa interpelagdo 0 sagra cantor, outorga-Ihe 0 centro e vidéncia, pondo-o doravante a servigo das Musas” '*(Torrano). Na palavra do poeta, se apresentam as musas como fala (mythos) de revelagdo (mimesis) do ser (physis). Podemos concluir que a Poética, originariamente, se constitui em torno da physis, das Musas, do Mito ¢ da mimesis. Quando o poeta, atento e aberto a voz das Musas, canta 0 canto da poiesis, nesse canto advém “a visto do que foi, do que € e do que sera”, pois as Musas sio filhas de Mnemosyne, a Meméria. Nao é qualquer meméria, nfo € a meméria do escrito. E a Meméria do Ser que se doa como tempo. O poeta s6 é poeta porque seu poema ¢ a interpretagdo da voz das Musas. Nele se manifesta a visio do que foi, do que é ¢ do que serd, Essa manifestagdo € possivel porque nela se presentifica Hermes. Por isso, todo poeta é hermeneuta, no a partir dele, mas da palavra mitica que nele ocorre. Hermes, a propria palavra, é sempre interpretagio. Hermes, enquanto mensageiro dos deuses, ¢ @ possibilidade fundamental de didlogo ¢ intermediagdo entre homens e deuses. A tarefa dos homens, como a dos poetas, é escutar a voz de Mnemosyne, que foi, € ¢ sera. Hermes, como palavra dos deuses ofertada aos homens na dicgdo do poeta, diz sempre a verdade, porém ndo toda a verdade. Desta tensdo entre verdade ¢ ndo-verdade € que surge 0 préprio mito como espelho de toda especulagdo. A esséncia do espelho no ¢ representar 0 eu como (0 seu outro, no ¢ reduplicar o real em representagdes, mas mostrar 0 que se esconde enquanto aparece. Ou seja, Hermes é 0 proprio diélogo. No didlogo, as diferengas se especulam, ndo como diferengas de si, mas do real, Hermes, de onde provém hermengutica, é a propria interpretagdio enquanto didlogo de especulagao. Especulagdo diz de uma intermediagio pela qual o sentido de toda ago se faz o caminho de verdade e ndo- verdade do real. Hermes, como Palavra dos deuses, é 0 deus que preside aos caminhos dos homens e a suas encruzilhadas. E 0 seu ethos. No encaminhar de todo caminho se decidem os muitos caminhos possiveis do homem, Decorre disso ser Hermes também 0 deus do comércio, onde se da a interpretatio. Dialogar em tomo do prego ¢ especular em tomo da verdade. Nao qualquer verdade, mas a ética. No especular do dialogo, 0 valor ético fundamental é a verdade e a ndo-verdade do real. Originariamente, perguntar pela interpretagdo €: O que € 0 didlogo eo especular como verdade do real’ Essas so as dimensdes da questo da interpretago. Na questdo, a interpretago nos advém, nfo como a tarefa de esclarecer 0 que é obscuro, mas como o esforgo de subir a uma montanha: quanto mais alta, tanto mais abrangente a paisagem © profundo o horizonte. A Poética metafisica ‘A questiio da interpretago toma um rumo ¢ um sentido completamente diferente com Platéo. Na Cconjuntura de seu tempo, o vigor do mito, enquanto Linguagem instauradora de mundo, se perdera. A vida da Polis ficou & mercé da capacidade de manipulagao comunicativa dos que sofistica e retoricamente dominavam o discurso. Em lugar da verdade do real, passou a dominar a doxa, ou seja, a opinido comum decorrente das decisdes das assembléias na agora. Para que tal nfo acontecesse, era necessério formar bem © cidadao, elaborando uma paideia nova, que lhe assegurasse 0 acesso a verdade ¢ liberdade. E este 0 fundo que orienta toda a estrutura argumentativa do didlogo Reptiblica. Detectamos nele dois movimentos bem articulados. O primeiro gira em tomo da contraposigao da paideia poética a paideia filos6fica. Plato questiona o alcance da palavra mitica como reveladora do real. Em seu lugar, propde a paideia filosofica como iinica capaz de formar 0 verdadeiro cidadao. Investiga, por isso, 0s principios que presidem 0 poicin como tekhne. Ao fazer isto, Plato dé inicio & formulagdo da Poética metafisica, filha da teoria das idéias. Nela, 0 artefato discurso ¢ examinado como mediago que representa 0 real e no como mediag2o do real. Essa separaco (khorismos) permite a anélise das formas de narrago: 0 poeta narra em seu nome, em nome dos personagens ou poe os préprios personagens para narrar. Se € o poeta que narra ou p&e os personagens para narrar, é a obra que comesa & ‘cupar o primeiro plano da Poética. As musas se tornam um entusiasmo que diz respeito mais ao poeta que 3s obras, Narrar é fazer conhecer. Até onde esse real, que eclode na narrativa, é verdadeiro? E 0 problema da mimesis, A verdade das assembléias, a doxa, era um produto do discurso, por isso, uma falsa verdade, tama manipulagao da verdade pela forga persuasiva dos sofismas. Assim sendo, a palavra mimesis diz mais respeito a verdade da Polis como idéia representada do que A verdade da physis como vigor da polesis. ‘Nesta perspectiva, os elementos constituintes da Poética se tornam metafisicos. A idéia corresponde a obra, 8 palavra como eclosto mitica corresponde a palavra como mediagdo, & mimesis reveladora corresponde ‘a mimesis da tepresentaco, 4s Musas corresponde o poeta inspirado. Em tal Poética, a experiéncia da poiesis se torna saber filoséfico. E 0 que nos ensina no mito da caverna, Nele se concebe o real como duas grandes instncias separadas: 0 mundo sensivel por oposi¢ao ao mundo inteligivel ou mundo das idéias. Os nicleos fundamentais de toda Poética passardo a ser vistos no espelho deformante do mundo das idéias, mundo que se torna a verdade Gnica do real nico. Até onde a cama pintada pelo pintor apresenta o real como idéia? Esta € a questo. Claro, no mais © real dual do mundo do mito, mas 0 real Gnico do mundo das idéias. AA resposta nos faz entrar no segundo grande momento. A mimesis sera tanto mais verdadeira quanto houver adequago entre a obra do poeta e a idéia como real. A adequagdo se da pelo processo de sua descoberta e representagdo. Como ocorreu isso no mito da caverna? Nela, o homem esta preso. Solta-se e, de etapa em etapa, caminha em diregdo ao mundo das idéias, até a contemplagao final da idéia unica, O que ¢ importante aqui para a interpretagto? Esta passa a ser verdadcira enquanto caminho em diregao a idéia Caminhar em diregdo a se diz em grego meta hod. Se Platdo separa a palavra do real, a religagao se dé no metodo, Este seria, pois, © caminho que nos assegura o passar do real sensivel ao real inteligivel. A partir desta concepgdo, s¢ constituira a idéia dominante do que é interpretagao. E descobrir no significante sensivel o significado inteligivel, no literal, 0 simbélico, no denotativo, o conotativo. Isso ocorrerd depois, porque o proprio Plato procederd de outra forma. A questio dos poetas é a mesma de Platio: o real ¢ sua Verdade. Para a questo da interpretago, mais do que buscar as respostas nas obras do grande filésofo, talvez seja melhor perguntar: Como ele experienciou a verdade do real? Escrevendo didlogos. Dislogo é, pois, a forma mais radical de Plato experienciar a manifestagdo da verdade do real. Em Atistételes ja aparece a Poética metafisica bem estruturada. O filos6fo retoma os dados fundamentais apontados por Platdo: o mito, a mimesis, © poeta, @ obra. Mas hé duas mudangas significativas. Em lugar das idéias, a physis, apreendida, contudo, metafisicamente, O avango significativo aparece em relagdo & palavra como mediagio. No lugar desta, a obra passa a ocupar 0 centro da atenodio. Serd vista em duas Fimensdes. Inicialmente € concebida como um todo orgénico, em que o poetizar esté estreitamente ligado as articulagées da tekhne, com vistas ao processo de unificagdo. E 0 uno légico como verdade do real que ‘se torna 0 fundo da obra como tal. A constituiglio da obra se processa como articulagao e unidade técnica. Dai o titulo Peri poietikes tekhnes. No tender a unidade do fundamento consiste a organicidade da obra, € no demonstrar tal organicidade consiste 0 processo de interpretagao. A palavra fekhne foi traduzida para 0 fatim como ars, de onde se formou a palavra arte. A arte, como concepgao, fica estreitamente presa a0 conceito de obra, ¢ esta € determinada pelo uno l6gico, como verdade do real. O uno légico ¢ buscado por ‘Aristoteles através das quatro causas: material, formal, eficiente e final. Como a obra toma 0 centro do interesse, passam a ser dominantes as causas material e formal. O artista vive em fungdo da articulagdo ddessas duas causas, que foram tendo diferentes nomes como conteiido e forma, significante e significado, enunciagfo e enunciado. Mas como essas causas so comuns a todos os entes, 0 ente obra de arte se distingue pela causa final. O fim da obra de arte é 0 belo. A relago do poeta com a palavra é determinada pela obra e esta articulada pela tekhne, ou seja, pela arte. A arte, nessa interpretagdo, se resolve na Lnicidade da obra. Esta foi a concepgao dominante no percurso metafisico do ocidente. ‘A outra dimensio diz respeito a katharsis, Este aspecto reintroduz 0 intérprete na economia da obra organicamente concebida. A concepgdio da unidade orginica da obra é perturbada pela presenga dakatharsis. S6 por ser inerente & obra pode remeter diretamente para a esséncia da interpretago. Nao podemos, por isso, identficar a karharsis com o belo, € muito menos com um mero efeito esttico. O que @ Poética metafisica em torno da obra e sua unicidade orgdnica esté esquecendo? Nao serd este esquecimento o que ha de mais fundamental em toda interpretago? {A interpretagio metafisica da obra foi insttucionalizada pelas escolas que se formaram em torno do legado filoséfico de Platdo e Aristoteles. O triunfo do Cristianismo platonizado acaba por determinar a vigéncia do mundo ideal de Plato. O encontro da cultura grega com a judaica sera determinante para os rumos da ‘esséncia da interpretagio e do lugar destinado as obras poéticas. Estas stio de fundamental importéncia para 4 cultura e identidade gregas. “Os gregos, que nfo possuiam nem livros sagrados nem casta sacerdotal, tinham procurado em seus poetas, sobretudo em Homero, os signos de sua unidade espiritual. Por isso achavam que na literatura se concentra tesouro de uma civilizagao” Zumthor). experiéncia do real ‘como Polis esta estreitamente ligada sua experiéneia como poiesis. Para conservar as obras escritas criou- se a filologia. Ela abrangia sua conservagabo, classificagdo, estudo ¢ interpretagdo. Tais tarefas tomavam como base a gramética, a interpretagio metafisica da lingua. Ou seja, a filologia era a aplicagdo da interpretagio filosGfica as obras potticas. Este dado fundamental, por dois motivos. Primeiro: @ interpretagdo filoldgica ou gramatical se tornou candnica. Canon diz, exatamente isso: régua ¢ Tegra Segundo: os fildlogos alexandrinos elaboraram a lista dos melhores textos cléssicos ou candnicos. Além do fundamento filos6fico da filologia, hé o outro aspecto: a escrita. Esta fixa a lingua como ela é falada no momento em que se escreve. Com o passar do tempo, a lingua viva se transforma ¢ a escrita precisa de especialistas que a estudem e interpretem. Com a escrita, uma determinada meméria de realizagio histrica € registrada, que no acompanha a dindmica temporal. Quando o texto ¢ canonizado e, igualmente, a interpretaglo que o interpreta, um choque inevitavel surgird entre o acontecer hist6rico vivo e diferencial € a meméria registrada ¢ tomada como canon, Nesse sentido, a escrita, a filologia ¢ a interpretagdo filosofica tendem a reforgar © mundo da identidade das idéias platSnicas, onde ndo ha lugar para as diferengas. E a obra em sua organicidade toma definitivamente o centro das atengbes. O ponto de referéncia de toda interpretagio ¢ 0 sentido determinado pelas obras canénicas. ‘Ao contririo dos gregos, toda a cultura judaica gira em tomo da religiio ¢ seus livros sagrados. A texperiéncia do real é 0 real como palavra religiosa. “Entre os judeus da época tardia, a biblia se identifica com a nogo de escritura. A idéia, primitivamente magica, de santidade do livro, passa aos cristos ¢, 20 fim da idade patristica, se mistura com as concepgdes gregas. A autoridade da coisa escrita toma-se 0 objeto de um respeito que dé origem a uma necessidade constante de recurso a0 texto ...” (Zumthor). Neste encontro da cultura judaica e da grega, a obra nao s6 se torna o centro organico de toda interpretago, ‘mas também adquire um sentido transcendente como palavra divina. Contudo, 0 sentido desta palavra divina nada mais tem a ver com a voz das musas na fala dos mitos. S40 dois mundos divinos distintos. E ‘como tais vio se opor radicalmente. O mito, traduzido como fabula ou ficgdo, nao é uma simples traduco, muito mais uma traigo, porque nela se trai retrai a verdade da poiesis. Contudo, o Cristianismo, para se afirmar, no pode simplesmente desconhecer toda a riqueza cultural grega. Surge o problema: Como interpreté-la? Historicamente, algo de fundamental ocorreu. O Cristianismo absorve as idéias do platonismo, que passam a assumir uma dimensto religiosa e transcendente, [sso é largamente conhecido. Mas o importante a destacar € que a interpretagdo platGnica da verdade se toma a interpretagdo também da verdade religiosa. A idéia de obra como palavra de Deus, portanto, algo transcendente, Unica, verdadeira, eterna, advinda do judaismo, acaba influenciando a idéia de obra de arte, que adquire um sentido também religioso e transcendente. Ainda que traduzissem 0 mito por fabula e o quisessem esvaziar de qualquer sentido de verdade, as obras como tais ndo perdiam seu vigor de verdade. Quando a metafisica divide o real em sensivel e inteligivel, surge a necessidade do método para interpretar. ‘A idéia, no sendo mutavel nem transit6ria, mas universal ¢ permanente, constitui o objetivo do método, na ‘medida em que é 0 fundamento ideal da obra, Cada realizag8o formal singular tem como principio a obra ideal. O método interpretativo, nesta concepgfo, tem dois objetivos: ou descobrir a idéia que subsiste por debaixo do artefato discursivo, ou mostrar como as realizagdes formais so, ¢ até onde sto, a realizagao da obra ideal, Diante de tal concepedo, a interpretagdo depende do método ou métodos. A interpretagao correta esté atrelada concepgdo de um paradigma ideal. A obra vai ser entendida como a reuniio do como se diz em relagio a0 que subjaz como fundamento, ‘A interpretagao se consubstanciou em dois métodos principais. O primeiro diz respeito a Biblia. Recebeu 0 nome de Exegese. Entre os gregos designava todo processo de interpretagao, seja religioso, seja literdrio, seja juridico. O método exegético partia do pressuposto de que havia dois textos: o texto propriamente biblico e o texto da doutrina crista, a inspiragdo divina. Ble se fundava na doutrina dos quatro sentidos: o literal e o espiritual. Este se subdividia em trés: alegérico, moral e anagogico. segundo método, de larga e profunda influéncia na cultura ocidental, é 0 filolégico. Era aplicado as obras, escritas. Quando se separa 0 sensivel do inteligivel, entra em cena a questo da mediagdo. Ela é a prop palavra. Mas enquanto 0 Logos origindrio significava a reunidio harménica dos contrérios da physis, na filosofia passa a designar a palavra enquanto mediagao légica. A palavra como proposigao se toma o lugar da verdade. O Logos como mediagao deu origem as duas disciplinas basicas: a retorica, que se voltou para © dominio da palavra falada, e a gramética, traduzida para o latim por literatura, que se voltou para o estudo € 0 dominio da palavra escrita. ‘A Modernidade se inicia quando um novo método de conhecimento é proposto para substituir o antigo. Foi ‘0 que fez Descartes no seu livro Discours de la méthode. A busca ¢ a mesma de Plato: algo de indubitavel, permanente, universal. Porém, ha uma diferenga: 0 homem nao sai da caverna. O caminho consiste numa caminhada em direcao ao seu interior. E encontra a razo. A transcendéncia € substitufda pela imanéncia, 0 divino pelo profano, a exterioridade pela subjetividade, a physis pelo espirito. A dicotomia platénica continua a mesma: © mundo sensivel se torna res exiensa, e 0 mundo inteligivel, res cogitans. Em Kant, teremos a mesma dicotomia: a0 mimeno se opde o fendmeno. Ha uma diferenga em relagio & posi¢ao platénica, mas que no muda a esséncia da sua visio. O método ndo passa simplesmente a dar acesso a um objeto exterior e transcendente, ele constitui o proprio objeto, assegurado em sua objetividade, néo mais pela idéia ou por Deus, mas pela raziio. Como fica a interpretagaio diante dessa nova teoria? Distinguiriamos trés posigdes basicas, tendo em comum a subjetividade. A primeira reforga a velha posigéo filolégica, retomando os ensinamentos de Arist6teles, mas lendo-o na dtica das novas realidades s6cio-politicas. Centraliza-se na obra como um todo organico, seja do ponto de vista do género, seja do ponto de vista do estilo. A introdugao do dado histérico no altera em nada a concepgdo basica da obra. As mudangas se dio nos elementos constituintes. O conceito de histéria, também metafisico, nio muda em nada 0 conceito essencialista da obra. E 0 que comprovaré a dialética hegeliana, que se resolver na Idéia Absoluta. A outra posigio interpretativa resultard diretamente da posigéo kantiana. Uma vez que o método é que determina o objeto de conhecimento, em relagdo as obras literdrias, surgiraé a Teoria Literdria. Variando a teoria, teremos diferentes correntes literdrias. Mas tém algo em comum: uma pretensa objetividade cientifica e uma andlise objetiva da obra. O mimetismo em relagdo A ciéncia deixa de lado a palavra interpretagdo ¢ introduz 0 vocdbulo anilise. Esta concebe a obra como um objeto, cujo conhecimento das partes, em sua funcionalidade, leva ao conhecimento da verdadeira funcionalidade do todo: a obra, Dependendo da corrente, tal funcionalidade pode referir-se ao todo da obra, seja na anélise estilistica, seja na andlise estrutural, ou pode referir-se a funcionalidade psicolégica ou social, quando se considera a obra como representaco da estrutura psiquica ou do sistema social. Notemos que, a organicidade da obra em si, corresponde, nestas correntes, a organicidade psiquica ou social. O conceito de obra, oriundo do platonismo e do aristotelismo, continua intocado. A terceira posigao diz respeito a arte pela arte ¢ a experiéncia estética. Exemplifiquemos com a miisica. Na sociedade aristocratica, era composta ¢ executada na corte, nas festas do rei, e nas igrejas, nas festas religiosas. A experiéncia musical era determinada pela ordem aristocratica e pela vivéncia religiosa, tanto uma como outra representagdes de uma realidade transcendente. Desmontada a ordem aristocratica, com a ascensio da burguesia, a miisica passa a ser tocada em saldes. No horirio marcado, todos ali se retinem e tem lugar 0 concerto. Terminado, todos voltam para suas casas. A experiencia musical se realizava como experiéncia estética. Era algo subj i Deste modo, a inscrigdo da obra musical como experiéncia do real, como identidade cultural ¢ como comunidade histérica se dilui. O trago comum as trés modalidades de interpretagdo € a fungao: do belo, na organicidade perfeita; psicolégica ou social, nos temas; estética, como fruigdo do sujeito. Na concepgao imanente do real, também 0 criador da obra ocupa um lugar determinante, como sujeito da criago. Assim ‘como Deus criou 0 mundo do nada, o artista cria a obra a partir do vigor da sua genialidade. O génio ¢ um deus sem transcendéncia. Hoje, a anilise da obra esti em crise. Ao menos nas funcionalidades tradicionai ‘A Modernidade tem uma outra vertente além da cientificista. A Reforma se desfez da exegese doutrinal da Igreja Catélica. Serd, pois, na Alemanha onde a interpretagdo tomard novos rumos. O fiel, baseado na doutrina da predestinag&o deveré buscar os sinais de sua salvag4o, ao interpretar a Biblia. E uma busca intima ¢ individual. Tal interpretagdo implica o lugar do interpretante. E dentro dessa tendéncia que surgem 65 pietistas, acentuando o lado racional do homem na hermenéutica da salvago. E desenvolvem ent&o um método novo de interpretagdo das escrituras, dividido em trés momentos: sutileza do compreender, do explicar, do aplicar. A sutileza introduz na interpretago 0 sentido da vida daquele que interpreta. A importéncia desta mudanga, para a interpretagdo, esti em que se quebra o multissecular modelo de relagdo do leitor com a obra. A sutileza do compreender comega a fazer um contraponto com a obra. Mas 0 passo ‘mais importante foi dado por Schleiermacher. Do ponto de vista da interpretagdo, introduz. dois aspectos fundamentais. Primeiro: O que ¢ a compreensio para que se possa dar um sentido a interpretago de uma obra? Com esta questo, Schleiermacher funda a hermenéutica geral, ou seja, ele pergunta pelo fundamento da compreenso que toda interpretago exercita. A segunda contribuiggo marca um passo decisivo no questionamento da obra ideal e orgénica. Em que consiste a interpretago? Na reconstituigo das vivéncias do escritor ¢ da sua insereao histérica, Esta atitude retoma a esséncia da interpretagdo, ao reintroduzir 0 didlogo, mas ainda a nivel do autor. Ao destacar a compreensdo da obra como didlogo, é a organicidade da obra que é posta em questo. O que é a obra? © Logos grego foi traduzido para o latim por trés termos: Verbum ou palavra; ratio ou razio; discursus ou discurso. A tripla tradugdo jé mostra a amplitude e complexidade do Logos grego como experiéncia do real. ‘Vejamos o discurso. O suporte em que uma obra se realiza tem dois aspectos principais: 0 discurso ¢ 0 material onde se inscreve. Quanto ao material, predomina o livro, embora jé se possa também registré-lo num disquete ou CD. Neste caso, a denominagao obra independe do material. Diz respeito ao discurso. Preferimos denominé-lo artefato discursivo. Os latinos, ao traduzirem oLogos por discurso, tinham em vista a sua apreenso como devir temporal. O Logos diz a manifestagaio do sentido do real como reut harménica de contrarios. O sentido do real é 0 tempo se manifestando como discurso. Na palavra dis-curso, © real eclode como tempo. E o que ela nos diz: o radical -curso vem do verbo currere, ou seja, a physis como fluir e manifestar-se. Uma vez que 0 fluir se dé no manifesto, tiveram de acrescentar 0 prefixo dis-, que € 0 mesmo que o prefixo dia-, na palavra did-logo. A correlagdo entre discurso e didlogo se perdeu porque a apreenstio da physis como devir ja se dé numa chave metafisica, pela qual o tempo é algo externo a sua propria manifestagao. Neste discurso, 0 vigor do real como tempo fica reduzido a mediagdo, no tempo. Enquanto mediagao, o tempo deixa de ser ontolégico e se toma cronoligico. Na cronologia, 0 discurso € a expressio tricotémica do tempo como passado, presente ¢ futuro. O discurso perdeu a viggncia do vigor e passou a ser visto como algo estitico, que compde a obra. A apreensio da obra se daré na andlise da composigdo. Ela consiste na decomposi¢ao das partes em sua funcionalidade. E 0 objetivo da Poética metafisica e seu método. Este prevé dois momentos. No primeiro, somos envolvidos pela exposigo em seu nivel temético e pela trama. O artefato discursivo nos aparece como um sistema de palavras ¢ oragdes, de construgdes estilisticas, de procedimentos metaforicos. Todos esses elementos se organizam num todo que dé um primeiro sentido ao artefato discursivo. Eo sentido literal. Desse primeiro momento pode-se partir para um segundo, que consiste em surpreender como as articulagdes se dao a partir de recursos recorrentes e elementos-chave. Trata-se, na realidade, de descobrir a estrutura subjacente, ou seja, a dinmica implicita pela qual a organicidade da obra se dé na perfeita funcionalidade de suas fungdes. A interpretagdo do artefato discursivo nos leva a perceber como o vigor da sua constituigdo articula funcionalmente todos os signos em torno das palavras-chave. Contudo, num ‘mundo funcional, ndo basta constatar a funcionalidade. Resta a pergunta: Para que serve tal conhecimento? E um conhecimento que se tem da obra de arte, mas com o qual nada se pode fazer. Pois o artefato discursivo é uma mediagdo. Contudo, a mediagdo estd em fungio de algo que Ihe é externo, em fungo de ‘um fim, No fim a atingit € que consiste a sua utilidade. O conhecimento da mediagdo ajuda a melhor atingir os objetivos extemos ¢ utlitirios. 0 conhecimento da mediagdo pela mediagio ¢ vazio. Com ele nig podemos fazer nada no sentido utilitirio da agio produtiva. Nem podemos afirmar que de wm tal penhecimento nos adviria a experiéncia estética, que em si, ndo seria utilitiria, mas gratuita. O dominio do discurso pode ajudar na experiéncia estética, mas de maneira alguma podemos afirmar que ela ¢ causada pelo conhecimento da obra em sua estrutura funcional. A interpretagdo, como conhecimento da obra em era funcionalidade e organicidade, nos suscita a questo: O artefato discursivo faz necessariamente parte dda obra, contudo, esta se dimensiona apenas na sua funcionalidade e organicidade? Na sua harmonia das partes, cla se prende & légica da mediagao e, por isso mesmo, se toma uma mediaglo que se esgota ems Pitema, Isso & decorrente da Separacdo metafisica. Obra de arte é mediagio? Nesse sentido, interpretar ¢ a mediagao da mediag0? A mediagdo ocupa, na questo da interpretagdo um lugar central como reflexdo. A Teflexto como método se consubstanciou em Plato como eristike tekine, a técnica da disputa, ou seja, do didlogo. Mas neste caso, 0 didlogo era um método que conduzia a um objetivo que estava fora do proprio didlogo, Quando na Modernidade, a idéia deixa de ser transcendente e se tomna imanente ¢ transcendental, Coloca.se 0 mesmo problema de acesso, ou seja, da mediagdo. No caso da arte, a obra como mediagio ¢ a0 mesmo tempo como objeto dessa mediagfo, nos leva ao seu impasse. F que a obra de arte foi reduzida to eu anefato discursivo. Diante deste, devemos partir para a interpretaco propriamente dita: fazer eclodir tm nds a compreensio do que a obra poetica como artefato discursivo “ndo diz, mas quer dizer em tudo que diz” (Cameiro Ledo). Esse ndo-dizer em tudo que diz se torna a questo central da interpretago poética. ‘A Poética hermenéutica Sair do impasse metafisico é voltar as obras posticas. Os diferentes métodos interpretativos, até agora vistos, foram tributérios do conceito metafisico da obra poética. Nao adianta mudar a interpretagao, se nao se questiona tal conceito, Obra se origina do latim opus, que significa atividade eo produto que dela Tesulta, Hi trés tipos de produgdes: as naturais, como as plantas, os animais e os homens, que aparecem sem a ago do homem. E as que aparecem através da sua ago ou produtos culturais. Neste, distinguimos ae ieenacculturais e as obras de arte. Hoje, opomos os produtos da natureza aos produtos culturais, sejam frtisticos ou nfo. Tal no se dava anteriormente & metafisica. Natureza é o que os gregos chamavam de physis. Para 0 grego, tudo provinha da physis, seja 0 homem e seus produtos, seja a terra, a Agua, o a1, © fogo. Mas a physis era enigmatica, pois se mostrava em tanta diversidade ¢ ao mesmo tempo se retraia emo o oculto e permanente de tudo que se manifesta. Ela é, portanto, ambigua: muda e permanece, ¢ diversa e una, Esta sua duplicidade se mostra tensional, pois a noite se opde ao dia, o feminino ao masculino, 0 divino ao humano, 0 caos a ordem. Esta disposigao dual se da como harmonia de contrarios & diferengas, Diz Herdclito: “O contrério em tensio é convergente; da divergéncia dos contrérios, a mais bela harmonia”®, E nessa dualidade harménica radical da physis que podemos tentar entender a obra poética. Quando temos obras naturais ¢ obras culturais, em que consiste a diferenga? A physis produz o homem. ote é, portanto, natural. Porém, ele pro-duz.as obras, que sto, a0 mesmo tempo, naturais e culturais. Nas obras culturais, a physis se manifesta como cultura e se oculta como physis. Porém, as obras culturais ainda so divididas em obras tecno-culturais e obras de arte. Nessa seqincia de diferentes obras, qual € 0 lugar do homem? Por que s6 0 homem pro-duz_ obras diferentes dele mesmo? Que lugar ocupa o homem em meio a physis? Entender as obras que 0 homem produz é entender este lugar especial. Sdo as obras que distinguem o homem. Perguntar pelo lugar especial do homem e pela sua possibilidade de produzir obras € perguntar pelo sentido da ago que se dé no homer. ‘A ago da physis que se da por intermédio do homem, os gregos denominaram: poiein e tekhne, Por estas agdes, 0 homem se constitui e se diferencia como homem. Nas obras acontece a compreenso do que © hhomem é, no e pelo vigor da physis. Esta, no agir do homem, se revela em seu sentido. As obras do homem se constituem e instituem como obras na medida em que pro-duzem mundo. Mundo nio ¢ a obra, ndo ¢ © homem: € 0 sentido da physis manifestado pelo homem nas obras. Nelas, advém o sentido do homem ¢ da physis. Sentido é a physis se manifestando como mundo no agit do homem. O agir do homem, que revela a verdade da physis como mundo, foi denominado poiein. Contudo, vimos que ha dois tipos de obras, que 0 homem produz: as tecno-culturais e as obras de arte. Como se distinguem? As tecno-culturais definem-se pela sua funcionalidade, ou seja, a instrumentalidade e utilidade dentro do mundo. J4 as obras de arte nunca so funcionais nem operam nada. Uma obra de arte manifesta mundo. S6 no mundo manifesto ¢ que as obras tecno-culturais podem ser apreendidas em seu sentido funcional. A obra poética se define pelo seu sentido, por isso, s podemos aprender 0 sentido funcional pelo sentido da obra poética. O seu sentido vige no instituir mundo. O mundo ¢ o sentido da physis, manifestado no poeta enquanto poeta. No poema do poeta, a physis se revela em seu sentido. O que € 0 sentido da physis? S6 podemos falar de sentido como eclosio de mundo pelo vigor da poiesis nos poemas dos poetas. A eclosio de mundo na obra dos poetas ¢ o real se manifestando como Linguagem, verdade e caminho. E o ethos do real. A palavra revelando o mundo é © real se manifestando como Logos. Logos, de legein, em seu sentido originério, diz reunido. No Logos, o real se manifesta em sua verdade. A verdade do real é a unidade de reunidio de sua duplicidade fundamental: mudanga ¢ permanéncia, diversidade ¢ unidade. Ler ou reunir significa, pois, manifestar-se o real em sua tensio harménica fundamental como verdade. Por isso diz Heidegger: “Arte é o por-se em obra da verdade” “7. 0 sujeito da arte e do pOr-se é a verdade do real. Os mesmos gregos que experienciaram o real como physis compreenderam a sua verdade como aletheia. Em si, a palavra diz 0 que nao se oculta, ou seja, o tornar-se visivel da physis em cada ente: na planta, no rio, no homem, O que se oculta € a ndo-verdade. A physis como real é, portanto, a jungao harménica de verdade ¢ ndo-verdade. Esta nada tem a ver com 0 erro. A verdade da obra poética nao é, portanto, algo ‘oculto, que & necessério, através da interpretagdo, trazer para a luz. Ela € 0 aspecto manifesto do que se oculta. Como manifesto, diz respeito ao mundo da physis. £0 seu sentido. A verdade da obra poética nao diz, portanto, respeito a algo verdadeiro como a representagdo correta ¢ adequada. A sua verdade diz sempre respeito & verdade como sentido do real. Sentido implica escolha, limite, eaminho. Escolha, limite, caminho esto diretamente ligados a todo operar. O que se opera na obra poética como sentido se dé na medida em que se traga um caminho, o aparecer de limites. Quando 0 poeta traga 0 caminho da palavra abrindo um mundo como sentido na floresta do real, o caminho e seu sentido s6 so visiveis ¢ apreensiveis na medida em que a propria floresta se ausenta como floresta, ¢ se oferece ao poeta como limites. Nos limites do caminho, vemos a forma, o seu irromper sinuoso, claro, verdadeiro. A claridade em que caminho se instala como caminho, pelos limites que o fazem aparecer, provém da clareira da floresta. A floresta é a physis. E necessario compreender o sentido que inaugura caminhos, sendas, veredas, em sua proveniéncia. O caminho como limite articula uma finitude que se alimenta do que se retrai, como sua permanente possibilidade, tanto de limite como de ilimitado. A esta dindmica de limite ¢ ilimitado como possibilidade, no retraimento da floresta, se dé o nome de forma. A forma na obra poética é a palavra da poiesis no poiein do real. Portanto, a palavra do poeta, como manifestagaio da poiesis, nio é uma mediago externa aquilo que se instaura e instala: € a prOpriaphysise seu sentido se manifestando como poiesis, na forma do poema, enquanto sentido e limite de caminho. A obra poética como verdade e caminho do real é que se oferece ao intérprete. Sé nessa dimensio se pode integrar © compreender o lugar do artefato discursivo. A interpretagio se constitui como didlogo, especulago e ethos. Mas estas dimensdes s6 so passiveis de concretizacao a partir da obra poética como manifestagaio de mundo. E preciso desconstruir 0 conceito metafisico, organicista e ideal, de obra de arte. ‘A obra poética se apresenta como dislogo ¢ 0 didlogo como obra. Por isso retomamos agora a questéo: O {que constitui 0 didlogo? A nossa existéncia cotidiana transcorre na sua maior parte como didlogo ou troca de opinides. Dai estar sempre presente a interpretagdo. Troca de opinides se di no mundo. Outra forma de dilogo é a que ocorre na sala de aula. Nela se faz presente quem ensina ¢ quem aprende, tendo em vista 0 saber. Nesta conjuntura, 0 didlogo se dimensiona a partir do saber. O objetivo do didlogo é levar um dos participantes a se apossar de um saber que ele ainda nio tem. O didlogo seré tanto mais frutifero quanto os dois polos do diflogo se nivelarem e identificarem em relagdo ao saber. Este é algo que alguém tem e outro alguém no tem, mas pode vir a ter, pelo didlogo. Apreendemos aqui duas caracteristicas: um saber que se tem e pode ser ensinado ¢ aprendido, e que, portanto, se pode tornar comum. E um saber abstrato que anula iferengas ¢ o proprio vigor do didlogo. Nesse sentido, se ensina Fisica como se ensina Literatura, como se ensina Poética. Esta é a visio metafisica do saber, que ndo preserva o didlogo originario que toda obra poética é. Dislogo ndo é uma simples palavra entre outras. Nele ¢ por ele advém nfo apenas uma dimensio fundamental da interpretagdo, mas a propria esséncia e razio de ser 0 que somos. Dislogo no & algo que pode ou ntlo nos acontecer. Sempre s6 podemos acontecer como didlogo. Quando tem meio as multiddes nos sentimos isolados; quando s6s, lamentamos a auséncia do ser amado; quando fetirados num lugar ermo, a solido com seu peso surdo ¢ cinzento se abate sobre nés; quando cansados dios contatos trepidantes com 0s outros, nos retraimos para nés mesmos, o que em todas essas experiéncias hos est acontecendo & a busca do didlogo originério, 0 que somos. No didlogo, somos sempre com os utros. O mondlogo é a mais radical afirmago do outro como auséncia. No didlogo, 0 outro aparece como fala que se ope. Na oposigdo das falas se consttui 0 didlogo. Se ndo houver oposido no ha didlogo. A oposigio dial6gica leva a. duas atitudes. Pela primeira, usa-se toda argicia e poder da palavra para cravencer ¢ vencet 0 outro. Nao se tolera a oposigao. A ago comunicativa sera tanto mais comunicativa {quanto mais anular as diferengas. Prevalece o saber ‘ico, Outra atitude pode ainda ser gerada no didlogo. ‘A oposigao de posigdes nao busca a eliminagao da fala do outro, mas a composigao. Na composigio, cada posigio reconhece de antemfo o limite do seu saber. Cada saber se afirma como diferenga. No didlogo das Uiferengas, a identidade ndo é nem a soma do saber de todos, nem a sua média, nem o poder de argumentago do mais arguto, mas 0 ndo-saber. O néo-saber ndo ¢ a indiferenga, mas 0 vigor ¢ possibilidade de toda diversidade, de todo novo saber, da composigao de todos os saberes. Dis, 0 prefixo da palavra didlogo, diz originariamente dualidade, de onde surge a separagdo, o limite, Por isso, didlogo implica diferenga, cuja oposig&o ndo é fundada pelo eu © 0 outro, mas pelo Logos do real Pelo Logos, cada homem € constitutivamente dialogante. Ao experienciarem 0 didlogo, os homens experienciam-se a partir do Logos do real. Por isso, 0 dié- de dilogo diz a modalidade de presenga do Logos no homem, como forga através da qual se manifestam as diferengas e oposigdes. No didlogo, @ fala de cada dialogante é a abertura para a escuta do Logos do real. Em tal abertura, o real se nos mostra em sua dualidade oigindria. E 0 didlogo originério que nos possibilita sermos jé desde sempre dialogantes. A harmonia de contrarios do didlogo se manifesta como reflexo, dai estar presente no ato de interpretar. Refletir é 0 ato através do qual nos dobramos sobre nés mesmos, nos vemos € nos auscultamos. Isto nao significa nos dividirmos em exterior e interior. A reflexto une a visio € a escuta. Mas o que nela se vé ¢ ‘acuta nfo somos nds mesmos num outro nivel de representagdo. Quando tal sucede, a obra s6 ainda nos atingiu como experiéncia vivida ou esttica, Nao ultrapassamos a dimensio da subjetividade. E necessério {ue, na reflexdo, acontega em nés a escuta e a voz das musas,filhas de Mnemosyne. A Meméria do que foi be sera faz eclodir em nds a experiéncia poética. Na experiéncia poética experienciamos a verdade © 0 sentido do real como poiesis. ‘Ao intérprete da obra poética, 0 real se manifesta como experiéneia poética. Experiéncia é outra palavra que ocupa em nossa existéncia um lugar central. Vamos destacartrés aspectos. Toda experiéncia se mostra Como didlogo. E do didlogo consigo mesmo, com 0s outros e com as coisas do mundo que se pode atribuir experiéncia a alguém. E a experiéncia da vida. Do diflogo resulta um saber que torna as, pessoas experientes. Esse saber pode dizer respeito a um conhecimento especifico ou as vicissitudes da vida. Neste caso, assume uma dimensio ética que se transforma em sabedoria. {A interpretago como experigncia poética inclui essas trés dimensGes, mas no podemos afirmar que ela jé tenha ocorrido, Pode alguém conhecer todas as obras de um poeta, sua vida e seu tempo, ainda assim, nao se deu a interpretagao poética. Tais interpretagdes que levam em conta a vivéncia estética de cada um, o conhecimento do poeta, das suas obras, do seu tempo se diferenciam enquanto experiéncias que ocorrem no mundo, A interpretagdo poética nos remete para a etimologia de experiéncia. Ela se compde do prefixoex- e do radical per-. De per- se formou o verbo grego perao, que significa originariamente: travessar, e 0 substantivo peras: limite. Toda travessia se dé como caminho. Abrir caminho € dar-se limites, Dai afirmar Heidegger: “O limite ndo é nada que de fora sobrevém ao ente. Muito menos ainda uma deficiéncia no sentido de uma restrigdo privativa. O manter-se, que se contém nos limites, 0 ter-se seguro a si mesmo, aquilo no que se contém o consistente, é 0 ser do ente”8, A experiéncia, em seu radical, faz-nos perceber 0 ente como um caminho de realizagio, na dinémica dos limites. Mas isto se dd com qualquer ente. Por isso, quando se trata da interpretago poética como experiéncia, temos de nos voltar para © prefixo ex- que significa “para fora”. Em ex-periéncia, o prefixo indica um para fora do caminho € do limite, que no designa apenas uma mudanga de espago, sendo a experiéncia consistiria tfo-somente numa sucesstio de espagos. Nao é isso que ocorre. ‘A experiéncia & constitutiva da existéncia, Esta se desdobra como experiéncia. Temos um paralelismo significativo entre experiéncia e existéncia. Os dois radicais se unem na concepgao grega do ser. O radical de existéncia -sis(- indica o estar erguido sobre si mesmo. * ... O vir € permanecer num tal estado € 0 que os gregos entendem por Ser. O que dessa maneira chega a uma consisténcia e assim se torna consistente em si mesmo, instala-se livremente e por si mesmo dentro da necessidade de seus limites, peras” (Heidegger). O prefixo ex- das duas palavras indica, por isso mesmo, a abertura para tudo que é. Por tal abertura “o homem se abre a todo instante um circulo de desvelamento™*(Cameiro Ledo). S6 por estar constitutivamente aberto ao Ser, pode o homem ter experiéncias e realizar obras poéticas. Portanto, em toda abra poética se da, a partir da abertura, uma experienciagdo do real. O poeta no poema ndo revela qualquer experigncia, mas experencia o real como mundo, a abertura da verdade e sentido do real. E 0 que chamamos de experiéneia poética. A interpretagdo da obra poética s6 se dé em toda a sua radicalidade, quando acontece como experiéncia poética. Esta resulta da verdade e sentido do Ser, ¢ se realiza enquanto abertura de mundo. Em toda obra poética se institui mundo. Nada se medeia ou representa. A interpretagao poética esté sempre em demanda do sentido e verdade do real, manifestos na obra poética como abertura de ‘mundo. Por isso, ela vai sempre aparecer como diilogo. Heidegger vai denominar os poetas ¢ pensadores vigias da casa do Ser, vigias da Linguagem. As interpretagées silo as agdes de vigiar a casa do Ser, nao sdo 0 Ser. Interpretar nao é explicar nem analisar, é con-duzir a0 didlogo poético, onde o real se manifesta na sua verdade dial6gica. A interpretagdo nao substitui a obra poética, langa-se na mesma atracio de retraimento. O intérprete no salvaguarda 0 mundo que a obra de arte abre, mas a abertura de mundo. Salvaguardando a abertura de mundo, manifesta a obra postica como vigor de ter sido no vir a ser do porvir. A interpretacdo poética é acontecer. Neste acontecer, a interpretagdo poética ndo se propée, criticamente, como a tinica verdadeira, Assim entendida, nao teria ainda ultrapassado a dimensio objetiva ou subjetiva, e nem teria descido, no dizer de Parménides, ao “coragao intréy da verdade de circularidade perfeita”'. Ainda nao teria compreen 1 da interpretago poética. Ela ¢ escuta da voz do real na palavra das Musas. Na escuta nos advém a apropriago do que somos como vigor de ter sido, Na interpretagio poética, nao hé nem pode haver método ou mediagao: ha também caminho e limite, mas como ex-periéncia de sentido e verdade do Ser. Interpretar é pois, abrir-se para a escuta da verdade ¢ sentido do Ser como ethos. Este abrir-se implica um interpretar-se € nfo um exteriorizar-se diante de uma obra. Nao consiste numa contemplagdo externa ou interna, ou na rememoragao da vida vivida, ou, ainda, no gozo de uma experiéncia estética. O interpretar-se ¢ um abrir-se para a vigéncia do real, pela qual se dé, na interpretagdo, uma experiéncia poética. Nesta, quem advém é 0 real como mundo. Experienciar a verdade do real como mundo ¢ apropriar-se do que nos € proprio. A apropriacdo se dé nos limites do caminhar. Dé-se, por isso mesmo, como o experienciar da experiéncia postica. Interpretar-se poeticamente é experienciar a experiéncia de ser. Ser ¢ 0 apropriar-se, em todo caminhar, do vigor de ter sido. Por ter sido, € que podemos nos projetar nos caminhos da interpretagdo. A possibilidade ¢ sentido de toda interpretagio é a questio da interpretagao. Como possibilidade ¢ sentido, fazemos nossa travessia. O sentido e verdade da travessia, ndo somos nés, no € qualquer interpretago, no é qualquer experiéncia, mas tinica € tdo-somente a interpretagdo da questo. Mas qual é a questdo da interpretagio? Tudo o que até agora meditamos nesta fala, nada mais foi sendo preparar a escuta da questiio da interpretagao. Determo-nos na questo ¢ o que nos faz experienciar a reflexdo de Guimaraes Rosa, quando diz: “Mestre ndo é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende"™. A questo da interpretagaio como experiéncia poética nos levou, aparentemente, a uma simples inversio: a interpretagao da questo. Nao foi. Resultou do que aprendemos como exercicio do ensinar. O tema era: A questo da interpretagao. O tema se tomnou: A interpretagdo da questi. Estamos prontos para comegar a caminhar. Para esta aventura poética, jf desde sempre nos convocou o poeta e pensador origindrio Heréclito, quando, hé dois mil e quatrocentos ‘anos advertiu: “Se no se espera, no se encontra o inesperado, sendo sem caminho de encontro nem vias de acesso™’, A interpretagdo como caminho ¢ experiéncia pottica € 0 concentrar-se na “espera do inesperado”. NOTAS: 1. Os pensadores origindrios. Trad. Emmanuel Carneiro Ledo. Petrépolis, Vozes, 1991. p.75. HEIDEGGER, Martin. Gesamrausgabe. Band 13. Aus der Erfharung des Denkens. Frankfurt a . Main, Vittorio Klostermann, 1983, p.108. 3. ROSA, Jodo Guimariies. Grande sertdo: veredas. 6, Ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1968, p. 312. 4, TORRANO, Jaa. O sentido de Zeus - 0 mito do mundo e 0 modo mitico de ser no mundo. S. Paulo, Tuminuras, 1996, p.25. 3. GOMES, Pinharanda. Preficio, p. 12. In: Aristételes. Organon. Lisboa, Guimaries, 1985. 6 LEAQ, Emmanuel Cameiro. Aprendendo a pensar. Petropolis, Vozes, 1977, p. 238. ARISTOTELES. Poética. 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