Capítulo 6 - Krugman

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Economias de escala, concorréncia imperfeita e comércio internacional No Capitulo 3, assinalamos que ha dois motivos pelos quais os paises se especializam e fazem comércio. Primeiro, os paises dferem quanto a seus recursos ou tecnologia e se especializam nas coisas que fazem melhor; segundo, as economias de escala (ou retornos crescentes) tornam vantajoso para cada pals se especializar na produao de uma gama restrita de bens € servicos. Os trés ¢ uulos anteriores consideraram modelos nos quais todo o-comércio se basela na vahtagem comparativa — isto 6, diferenas entre os paises si0 0 tnico ‘motivo para o comércio. Este captulo apresenta o papel das economias de esala. A analise do comhércio'baseado em economias de escala apresenta certos problemas que temos evita- do por enquanto. Até agora, supusemos que os mercados posstuem concorréncia perfeita, assim todos os Iuéros de monopéiio sig eliminades por melo da concorréncia. Quando hé retornos crescentes, contudo, ir dominados por uma s6 empresa (monopéilo) ou, mais frequentemente, por poueas delas (oligopdlio). Dessa forma, quando of retornos crescentes passam a fazor parte do comércio, geralmente os mercados comecam a ter concorréncia imperfeita. concorrénei as Este capitulo comeca com um panorama geral do conceito de economias de escala e da economia da imperfeita. Em seguida, voltamo-nos para os dois modelos do comércio internacional em que economias de escala e a éoncorréncia imperfeita desempentiam um papel fundamental: modelo de concorréncia monopolistica e o modelo de discriminagao internacional de pregos (dumping).’ O res- tante do capitulo & dedicado 0 papel de um tipo diferente de retornos crescentes, na determi padrées do comércio: as economias exterrias. ‘Apés ler este capizulo, oc@ serd capaz de: / Reconhecer por que o comércio internacional geralmente ocorre a partir de retornos crescentes de =| escala e concorréncia imperfeita. ‘Compreender a origem do comércio intraindistria e como ele difere do comércio interindistria, | Detalhar os argumentos de dumping usados por setores locals como base a favor do protecionismo @ | ‘explcar arelacio entre dumping e dscriminagio de prego, Discutir 0 papel das econortias externa ¢ os transbordamentos de conhecimento na modelagem da vantagem comparativa e dos padrées de comércio internacional. paneeecees I "Nao ente os economists uma tadugo de uso coments para.o temo dumping, por isso canfamos um temo; ms oleitor poder, se -essim 6 desejar, utilizar o termo original em inglés (N. de TradugEo). 88 PARTE! Teoria do comércio internacional & Economias de escala e comércio internacional: uma introdugao (Os modelos de vantagem comparativa apreséntados basea- srarti-se na hip6tese de retornos constantes dc escaa. Isto 6, su- ‘pusemos que, se 0s insumnos de tm setor fossem dobrados, sua, producio também dobraria. Na price, porém, muitos setores ccaracterizam-se por economias de escala (também chamadas ‘de retomos crescentes), de mado que tim dado setoré to mais Cle, 0 ‘monopolista esté obtendo alguns lucros de monopélio* Concorréncia monopolistica (Os incros de manopélio so bem discutiveis. Uma empresa com lucros elevados normalmente atrai‘concorrentes. Assim, na prética, stuag¥es de monopSlio puro sto raras.’Na verda- de, a estrutura de mercado normal em setores caracterizados, Por economias de escala intemas é a de oligopélio: diversas ‘erapresas, cada uma delas grande 0 suficiente para afetar 05, ‘Pregos, mas nenkuma com wm monop6lio incontestével. A anilise geral do oligopslio é um assunto complexo ¢ controverso. Iss0 porque, em oligop6lios, as politices de for- 20 de prego sio interdependentes: cada empresa, a0 de- ‘teriinar seu prego, considera ndo apenas as reagGes dos con- * A defnigh econtmica do lueos io & igual 2 uitizada na contablidade onvercional, em que qnaluer recetsacima doe custo de trabalho € ‘ateriais€ckamada inoro, Uma empress que recebe mma taxa de rto sno sobre seu capital mesce do que aqela que esse capital poesia tr roduzido em outos sears oes errand ineos; do pont de vista condi, a taxa de rerorn normal sbneo capital representa pate dos ‘custs de empresa esomente records além daguela tna de Yetomo nor smal representa lore Economias de escala, concorréncia imperfelta e comércio internacional 91 ssumidores, mas também aquelas esperadas dos concorreates; essas reagSes, por sua vez, dependem das expectativas da concorténcia sobre o.comportamento da empresa — estamos, pportanto, em ura jogo complexo em que as empresas tentam, Drever as estratégias umas das outras. A seghir, discutizemos brevernente os problemas gerais na modelagem do oligop6- lio, Contado, hé um caso especial, conhecido como concor- réncia monopolistica, que € relativamente fécil-de analisar. Desde 1980, os modelos de concorréncia monopolistica tém sido amaplamente zplicados ao comércio internacional. “Duas hipéteses principais so levantadas em modelos de concorréncia monopolistica, para tratar 0 problema da in- terdependéncia, Primeiro, supbe-se que cada empresa possa diferenciar seu produto em relagio 20 de seus concorren- tes. Isto 6, se os clientes desejam comprar um produto em particular de determinada empresa, eles nfo corer para Comprar os de outras, mesmo que estas oferegam pregos um pouco mais baixos. A diferenciagio de produtos assegura que cada negécio detenha 0 monopélio em seu produto den- tro de um setor ¢ esteja, portanto, de certa forma isolado da concorréncia.'Segundo, supde-se que cada wimpresa tome 65 ‘pregos cobrados por seus concorrentes como dados — isto é, {ue ela ignore o impacto de seu priprio prego sobre 0 de o2- ‘tras. Como resultado, o modelo de concorréncia monopolis- tca supée que, mesmo que cada empresa esteja na verdade cenfrentando a concorréncia de outras, ela se comporte como se fosse monopolist, af o nome do modelo. No, mundo zeal, hé sctores em que ocome concorréncia monopolistica? Alguns podem ser aproximagses razotveis, Por exemplo, o setor automobilistico na Europa, onde dives- 80s fabricantes muito importantes (Ford, General Motors, Volkswagen, Renault, Peugeot, Fiat, Volvo e, mais recente- mente, a Nissan) oferecem automéveis bastante diferentes, ‘mas concortentes, pode ser descrito razoavelmente bem pelas hip6teses da concorténcia monopolistica. A principal van- tagem do modelo desse tipo de conconéacia nao é, porém, seu realismo, mas sia sue simplicidade. Como veremos na Proxima seg, 0 modelo de concorréncia monopolistica nos 4 uma visto muito clara de como as economias de escala, podem propiciar um comércio mutuamente benéfico; Eniretanto, antes de dar inicio a andlise, precisamos de- senvolver um modelo bésico de concorréacia monopolistica. ‘Vamos, portanto, imaginar um setor composto de diversas empresas. Estas fabricam produtos diferenciados — isto é, bens que no sto exatamente iguais, mas substituem uns aos, ‘outros. Cada empresa é, entio, um monopolista no seatido 4e ser 2 tnica a fabricar um determinado bem. No entanto, ‘a demanda por esse bem especifico depende do niimero de ‘outros produtos semelhantes disponiveis e dos pregos pratt ccados pelos demais concorrentes do setor. Hipéteses domodelo. Comecamos descrevendo & deman- da com que se defronta uma empresa na concorténcia asonopo- listica, Em geral, esperarfamos que ela vendesse mais quanto ‘maior fosse a demenda total pelo produto em seu setor e quanto, riaiores.fossem os pregos cobrados por seus concomentes. Por 92 PARTE | Teoria do comércio internacional ata figura Tusa o custo médio € © ‘qusto marginal correspondentes & ‘Gusto por unidade fungdo de custo total C= 5 + x.0 7 ‘custo marginal é semore igual a 1; a ‘custo médlo diinul conforme a produgao aumenta. 7 of sto méco a Casto marginal 24 6 B 10 12 14 16 18 20 22 24 Produpéo ‘outro lado, esperarfamos que ela vendesse menos quanto maior ‘osse o nimero de empresas no setor e quanto maior fosse sex propeio prego, Para descobrir essa demand, Jeyando em conts fais hipéieses, podemos usar a seguinte quacto. Q=VX (n= bx =P) (6-5) onde Q representa as vendas da einpresa, V as vendas totais do setor, n 0 miimero de empresas qué compem 0 setor, b ‘uma constante que representa a resposta das vendas de uma ‘enupresaa seu prego, Po prego cobrado pela propria empresa Po preco médio cobrado pelos concbrrentes. Pode-se dar 2 seguinte justficativa inmuitiva pata a equiacio (6-5): se todas ‘as empreses cobrarem 0 mesmo preco, cada uma teré uma parcela de mercado igual 2 In. Uma que cobre mais do que ‘a média teré uma parcela de mercado menor, enquanto outra que cobre menos terd ima parcela maior.* # aconselhdvel supor que as vendas totais V de umm setor ‘nfo sejam afetadas pelo prego médio cobrado nesse setor. Ou seja, pressupomos que as empresas possam ganar clien- tes apenas 2 custa das outras. Essa é uma hipétese irealista, ‘mas simplifica a andlise e ajuda a enfatizar a concoréncia. Em particular, significa que V 6 uma medida do tamanho do ‘mercado e que, se todas as empresas cobram o mesmo prego, cada uma vende Vin unidades. A seguir, voltaremos os custos de uma empresa comum. Por ora, suponhamos simplesmente que 0s custos total emédio ‘de uma delas sejam descritos pelas equagies (6-3) ¢ (6-4). Equilibrio de mercado. Para descrover o comporta- mento dessesetor, marcado pela concomréacia monopolistica, 7" cquulo (65) pode sc decvada de umn modelo em que os consumes ‘orsuee prfeencis dninias © as empresas prozem varedates fits 0b medida pra sogmentos paciclares do mercado, Para suber sais fobre esse enfoque, eja: SALOP, Stephen. “Monopolistic competition ‘wid cutside goods, Bell Journal of Economics, 10,1979. 81-156 +h equago (65) pode ser reeserita como Q = Vii ~ VX b x (P ~ F). SoP = P, ca se redez para Q = Vin; se P > P, entio Q < Vin, 26 P Vin ‘vamos Gupor que todas as empresas nele atuantes sejam simé- _-AniéGs; isto 6, a fungo demands e a fungfo custo slo idént. Gas para todas elas (mesmo que produzam ¢ vendam produtos com alguma diferenciagéo). Quando as empresas individuals ‘sho simétticas, podemos descrever o estado do setor sem ter de cnnmerar as caracteristicas de todas as empresas emt deta- Thes: tudo 0 que realmente precisamos saber para descrever ‘o setor é quantas empresas existem e qual o prego que a em- ‘resa padrio cobra. Assim, para uma anélise setorial — a fim de, por exemplo, avaliar os efeitos do comércio internacional ‘—, precisamos determinar 0 niimero de empresas n e 0 prego ‘médio que elas cobram P, Unas vez que tenhamos um método para determinar essas variéves, poderenbos perguntar como clas s8o afetadas pelo comércio internacional. ‘Nosso método para determinar n e P envolve trés etapas. Em primeiro lugar, estabelecemos uma relacio entre o ad ‘mero de empresas © 0 custo médio de uma enspresa padra “Mostramos que essa relagio € positivameate inclinada; isto 6, quanto mais empresas houver, menor seré a produsio de ‘cada uma e, portanto, maior 0 custo por unidade de. produ- (do. Em seguida, mostramos a relagio entre o mimero de empresas e o prego que cada uma cobra, que, em equilitrio, deve ser igual a P. Mostramos que essa relago € negativa- mente inclinada: quanto mais empresas houver, mais intense seré a concorténcia entre elas e, assim, menores os pregos por elas cobrados. Finalmente, argumentamos que, quando prego exceder o custo médio, empresas adicionaisingres- sario no setor, 2 asso que, quando 0 prego for menor que © casto médio, empresas deixardo 0 setor, Assim, no longo prazo, o niimero de empresas sera determinado pela interse- ‘¢do da.curva que fomece arelagdo entre custo médioe n com | ‘a curva que fornece a relaglo entre prego en. 1. Orimero de empresas ¢ 0 custo médio, O primeiro pas so para determinar n e P consiste em perguntat como © custo indo de uma empresa pacrao depende do mfmere {de concomenics no seu sefor. Como nesse modelo todas as empresas sfo simétricas, em equilbri, todas cobra cons que gue fio, Bees wo £5 z CAPITULO 6 rio o mestio prego, Mas, quando todas cobram o mesmo prego, de modo que P = P, a equacéo (6-5) nos diz que Q = Vin; isto ¢, a producio de cada empresa, Q, € uma parcela I/n das vendas totais do setor, V. No entanto, ‘vimos na equagio (6-4) que o custo médio se rlaciona inversamente & produgdo de uma empresa. Conclusnos, pprtanto, que o custo meédio depende do tamanho do mer- cad e do mimero de empresas que compéem o setor: CMe = FIQ+c=nX FIV+c (6) A equagdo (6-6) nos diz que, permanccendo tudo o mais, constante, quanto mais empresas howver no setor, maior serd 0 custo médio. Isso porque, nesse contexto, cada uma produzira ‘menos. Imagine, por exeaplo, um setor com vendas totais de 1 milli de unidades por ano. Se ele abranger cinco empresas, ‘cada uma venderé 200 mil por ano. Se forem dez, cada uma vvenderé apenas 100 mil e, portanto, cada qual terd um custo :édio maior. A relagGo positivamente inclinada entre ne 0 custo médio é mostrada em CCna Figura 6.3. 2. Omimero de empresas ¢ 0 prego. Enguanto isso, 0 prego que empresa padko cobra também depende do némero intensvos (chips) e importado um servgo tabalkoiten- vo (monlagem do computady) Tal comério ‘psendolnainditia’ ¢ ‘pticularmente cormum entre os Estados Unidos & 0 Mésico. cengajar no comércio intraindiistria, um pais pode a0 mesmo; i tempo reduzir 0 niimero de produtos que fabrica e ‘aumentar % ‘a variedade de bens disponfveis para os consumidores domés- tio. Ae produsir ua variedade menor, pode produzi cada ‘uma em escala maior, com produtividade mais alta € custos tnenores, Parselamente iso, os consumidores sto benet- ciados pela maior apgfo de escolha. Em nosso exemplo nu- érico dos ganhos gerados pela integrago do mercado, os ‘consumidores do Local descobriram que o comércio intrain- ‘totia expandia sun opcode esolha desis para dex mode- # tos de autombveis no exato momento em que redzin 0 prego ‘dos automéveis de $10.000 para $8.000. Como o estado de eso da indéstia eutomobilistica norte-americana indica 4 {© 10D, a8 vantagens de car um seorintogrado em dois ‘paises podem ser substanciais também na prética. Em nossa discussio anterior sobre a distribuigdo dos ganhos do comércio (Capftalo 4), estévamos pessimistas quanto as expectativas de que todos seriam benefciados pelo comércio, mesmo que o comércio intemacional pu- desse potencialmeate elevar a renda de todos, Nos mode- Jos discutidos anteriormente, todos os efeitos do.comércia. ‘icevam de-modangas nos Svon-que poe sah. “Vez tém um impacto jmenso sobre a disttibuicae de renda. Suponha, entretanto, que o comércio intraindtstria seja ‘a origem dominante dos garbos do comércio. Isso ocorrers ‘quando os pafses forem semelhantes em termos de ofestarela- tiva de fatores, de modo que niio haja muito comércio interin- distria, e quando as economias de escalae a diferenciagio de produtos forem importantes, de modo que os ganhos da escala maior e das possibilidades de escolha mais amplas sejam gran- des, Nessaé circunstancias, os efeitos do comércio : adis- it ‘de renda serio pequenos ¢ 0 int ria. ar gi aloo sigaltvos. Como rend, ple | ae, ipesar dos efeitos do comércio sobre a distibuicto. | ret, oes resin i dasa q im que circunstancias isso sera mais provavel? O co- 4 i néicio intrainddstria tonde a prevalecer entre os pafses se~ melhantes no que conceme a razdo capital-trabalho, nivel de qualificasdo e assim por diante, Desse modo, esse comér- ‘io serd dominante entre os pafses com grau semethante de” desenvolvimento econdmico. Os scomérsio. ser grandes quando as.economias de escala forem fortes. ¢ 08 produtos altamente diferenciados. Isso é mais caracteristico “dos bens mANUfARITAGSS sofisticados do que das matérias- -primas ou dos setores mais tradicionais (como téxteis ou calgados). Assim, ocomércio sem efeitos.mazcantes. sobre a.distribuicHio de renda provavelmente ocorreré.na tansagao- de tecidos entre 0s pafses avancados, ‘Essa conciusio é confirmada pela experiéncia do pés-guer- 1, particularmente na Burope Ocidental. Em 1957, 0s princi- pais pafses europeus estabeleceram uma érea de livre comércio de bens ‘© Mercado Comum ou Consunidade Econémica Earopeia (CEE). (O Reino Unido eatrou na CEB ‘posteriontente, em 1973.) O resutado foi um crescimento répi- do do comércio. Darante a dscada de 1960, 0 comércio dentro rain no CAPITULO 6 mundial como um todo, Esperava-se que esse crescimento ge- russe transtomos consideraveis e problemas politicos. A expan- sio do cométcio, entretanto, foi quase toda intrainddstia, e no interindsstia. Por exemplo, em vez de os trabalhadores no setor efi de maquinaria elética da Franga serem prejudicados enquanto no Fos da Alemania ganhavam, os trebalhadotes de ambos os pat- os ses ganharam com a eficiéncia crescente do setorintegrado em in todo 0 continente. Como resultado, o cescimento do coméscio ae dentro da Europa apresentou muito menos problemas socias e 0 FF politicos do que o previsto. | Hid um lado bom e um lado raim nessa visto favorével fica do comércio intraindistis. O lado bom é que, sob algumas bois circunstancias, toma-se relativamente fécil conviver coin 0 coméreio e, partanto, apoié-lo em termos politicos. O lado dos faim é que o comércio entre pafses muito diferentes ou nos sts | quai as economias de escalne a cfereniag dos prods no sejam importantes continua politicamente probleméti- le nos mostra que o8 conceitos bis ‘mes alo ates no mands real ts, a: verdade, ConttOlada pelas mesinas’ iortezan Soham de er menos ue Sas tans Jeauas. Mas, talver''o *flbricas -das" — yoltadas para a produio.d oe ot componente, enquanto as canadenses jnaisimportante 6a aie : Econoias de escala, concorrénciaimperfeita e coméreio internacional 101 a CEE aumientou duas vezes mais répido do que o comércio , co, Na verdade, a liberalizagto progressiva do comércio que caracterizou um periodo de trés décadas (de 1950 2 1980) concentrou-se sobretudo no comércio dé manufataras en- tre as nacées avancadas, como veremos no Capitulo 9. Se 0 progresso em outros tipos de comércio é importante, 0 que ‘ovorreu no é exatamente encorajador. © Discriminagao internacional de precos (dumping) © modelo de concorténcia monopolistica ajuda-nos a ‘compreender como os retomos crescentes promovem 0 cO- mércio internacional. Mas, como notamos anteriormente, esse modelo deixa de lado muitas das questées que podem surgir quando 25 empresas vivem em concorréncia imper- ‘eita, Embora a andlise da concorréncia monopolistica re- ‘eonhega que a concorréncia imperfeita é uma consequéacia necesséria das economias de escala, ela ndo se concentra nas 102 PARTE! Teoria do comércio internacional consequéncias possiveis da concorréncia imperfeita em si A economia da discriminagao internacional de pregos Nos mercados de concorréncia imperfeita, as empresas &s ‘vezes cobram um determinado prego quando exportam um_ ‘bem € outro diferente quando 0 vendem no mercado intemo. Em geral, 2 prética de cobrar pregos diferentes de clientes di- ferentes & chamada diseriminagio de pregos, A forma mais comm de disriminagéo de pregos no comércio internacional € adiseriminago internacional de precos (dumping), uma prética de formacio de pregos em que a empresa cobra um prego menor pelos bens exportados do que o cobrado pelos mesmos bens vendidos domesticamente. A discriminagdo in- temacional de pregos constitu: uma questo contoversa na politica comercial, na qual é amplameate considerada prética ‘desleal’ e esté sujeita a regras e penalidades especizis. ‘Discutiremos a controvérsia politica que permeia a discrimi- nagio internacional de pregos no'Capitulo 9. Por ora, faremos apenas uma anélise econdmica basica do fenémeno. ‘A discriminggo internacional de pregos pode ocomtr apenas se duas condighes forem satisfeitas. Em priméiro lu- gar, 0 setor deve ter concorréncia ,de-modo que-as empresas determinem 03 pregos, em-vez"dé os tomarem do mercado como dados. Em segundo lugar, os mercados deve ser de modo que os residentes doméstioos no coniprem failméate bens que se pretende exporter. Dada’ es- ‘sas condig6es, uma empresa monopolista pode descobrir que é JIucrativo se engajar na discriminagao internacional de precos. ‘Um exemplo ajudar a mostrar como a discriminagio in- rusia de press pode set ascii ce moana ‘dos Tucros. Imagine uma empresa que venda atualmente mil ‘unidades de um bem no mercado doméstico e cem no estran- geiro, No mercado doméstico, o bem custa $20 por unidade e, nas vendas de exportagao, apenas $15 por unidade. Pode-se ‘imaginar que, para a empresa, as vendas domeésticas adicionais iio muito mais lucrativas do que as exportagées adicionais. ‘Suponha, porém, que para expandir as vendas em uma ‘unidade, em qualquer mercado, seja necessério reduzic 0 pre- oem $0,01. A redugo do prego doméstico em um centavo aumentaria as vendas em uma unidade — adicionando dire- tamente $19,99 & receita, mas reduzindo em $10 das receitas sobre as mil unidades que teriam sido vendides 20 prego'de $20. Logo, areceita marginal da unidade adicional vendida € de apenas $9,99. Por sua ver, a redugio do prego cobrado de clientes estrangeiros e, por causa disso, a expansio das ex- portagSes em urna unidade aumentariam diretamentearece- taem apenas $14,99. O custo indireto da reductio de receitas sobre’ as cem unidades que teriam sido vendidas ao prego original, porém, seria de apenas $1, de modo que a receita ‘marginal sobre as vendas de exportagao seria de $13,99. As. sim, seria mais lucrativo nesse caso expandi as exportagées, do que as vendas domésticas, mesmo que o preso recebido pelas exportagdes fosse menor. ‘Esse exemplo poderia ser invertido, com 0 incentivo volt. do para a cobranca menor nas vendas domésticas do gue nas 4 estrangeiras. No entanto, a discriminago de progos a favor das cexporiages é mais comum, Como os mercados intemacioiais” "Slo imperfetamente integrados, por causa tanto dos custos de transporle como Gai bartels comerclais pentsionisias as Gm ‘Presas domésticas normalmente detém uma parcela maior nos, inereados domésticos do que nos iros, sua Vt ‘Bignifica que suas vendas estrangeiras sto mais afetadas por sua a ie prego do que as vendas domésticas, Uma empresa ‘com uma parcela dé 20 por cento do mercado ido necessitaredu- ‘i tanto sew prego pera dobrar as Vendas quanto outra com uma parcela de 80 por cento. Logo, as empresas em geral percebem Aft ques doce dome vend: nie no caso das vendas de: pssuem.um-pader de na T fendr € encontram um incentive maior Ianter ” ‘sels progos Hs baixos do que nas vendas domésticas. oe ‘A Figura 6.8 apresenta um exemplo gréfico da discrimi- Ope ‘ago internacional de pros. Ela mostra um setor em que bi coms ‘uma tinica empresa doméstica monopolista, que'véride em dois Poo! Tcadon uniaccado domestic, onde clas dona com jf fs a curva de demanda Dyay, € um mercado de exportagio. No mercado de exportaglo, consideremos no limite & hipétese de que as vendkas respondem bem ao preyo que a empresa cobra, supondo que ela possa vender tanto quanto desea 20 pregO Par ‘A linka horizontal P, 6, desse modo, a curva de demanda para ‘vendas no mercado estrangeiro, Supomos que os mercado se- {jam segmentados, de modo qué a empresa possa cobra? um pre- ‘go mais alto pelos bens vencidos domesticamente do que pelas exportagdes. CMg é a curva de custo marginal para a produgEo total, ue pode ser vendida em ambos os mercados. ‘Para maximizar os lucros, a empresa deve buscar uma receita marginal igual 20 custo marginial em cada mercado. ‘A receita marginal nas vendas domésticas é definida pela curva RMgsoyn que se situa abaixo de Drny As vendas de cexportagio ocorrem a um prego constante Prey de modo que a receita marginal para uma unidade adicional exportada € de somente Pj. Para conseguir um custo marginal igual & receita marginal em ambos os mercados, € necessitio pro- | Gazir a quantidade Qpayorduor PAA Verder Opoy 20 mercado doméstica e exportar Quovoyiio ~ Qpourt Nesse £280, 0 custo _| de produzir uma unidade adicional é igual a Py.» @ receita _marginal das exportagdes, que por sua vez € igual &receita mar~ | ‘ginal para as vendas domésticas. ‘A quantidade Ono, Ser4 démandade domesticamente 20 IPO Proyy que est acima do prego de exportacto, Pur 7 Pode parecer que o monopolist: deveri far as vendas domésticas no nivel onde Cig eM gpg intercepiam. Mas lembre-t de que 0 m900- polista eid prodazindo tm produto tot Oyun’ it0 significa gue 0 ostode produir una unidade dicicnal igual Pej essa unidade destnada ao mereado estrangeio 0820 doméstico, Fé ocxsto cfetivo ds prodagdo de una unidade adicional que deve ser igual &receita margi- com fal Assim, intersogo entre CM © RM deve OcOTer 10 PORTO GUE ere represonta quanto a empresa peoduzria caso ea ndo esse a pao de Assi exporta, mas isso ¢irelevante ou x Z 2 x se ARTS CeO RREOR | eae ae Serta ee oR a Re CAPITULO 6 ae Custo, Ge prego, F ‘ilgza most um monapoisia ‘42.9 deronta om ume curva de corranda Dy bar as venas ddatons, ms quo tam pote ‘ander quarto desejarao rage de Pay Uma V2 Ura Uniiade adalona pace sempre servendida por Pg, a empresa aumenta sua prodigao até que 0 esto marginal ej gual a Pays ‘essa prod que maxiza os tues 6 mostrada cero Camo est marina ia 27 Darius Pa, 08 NGS produ no mercado corto ats ® ponfo om que arecete margal igual Pep, 0 os0e nel de masmizagdo de ors de ventas domestics é mastade como Qa © resins de a preciso, Srereue ~ Onno 6 expr, @ (preg ao qual os consurridores ou domésticos demand Qnay6 Prag COMO Pray > Pay 8 TOTES Vondas domésticas * wie a8 experi a um sreqo inferior a0 que cobra dos consuicores demestoas Desse medo, @ empresa estard fazéndo discriminagéo in- temacional de precos, vendendy mais barato no exterior do ‘que no mercado local. Tanto ex nosso exemplo numérico como na Figura 6.8, 2 erupresa escolhe fazer discriminaco internacional de prepos Pe 5 doinstico re Tae era a alteragbes de preco, Na Figura 6.8, supomos «que a empresa possa aumeatar as exportagSes sem reduzir seu ‘Prego; logo, a receita marginal e o prego coincidém no mers cado de exportacio, Domesticamente, em contraparta, o au. ‘mento das vendas abaixa o preco, Esse éum exemplo exiremo da condigao geral para discriminago de pregos apresentada ‘nos cursos de microeconomia: as é nar Dregos quando as vendas responderem_ mercado do que em outro.” (Nesse caso, supusemos que a de- ‘manda por exportagdes responde infnitamente 2o prego.) (he Sasi imemacionl, ¢disciminasointemacio- . nat de progs équase sempre ida como uns price welea ‘Nio bd itenbumia justifiativa econémica razodvel para que ‘ consideremos particularmente prejudicial, mas a legislagao, comercial dos Estados Unidos, por excmplo, profbe que as; empresas estangeiresfagam esta dscriminago no mercado] norte-americano e, quando ela 6 descoberta, automaticamen- te sto inipostas tarifas. * codigo fama par a dscriminasS des pegs a egunte x emp {8 cobacio pegos mas bainos em mercaos nos qusis els go defect ‘com uma elaicidade da demands maior, sendo a elartcdade a dimizigso ‘oroeomal as vend que resulta den aumento de 1 pr eeaio no pees, Ani sens fats Srna ntemactal do ew neg So Econcmias de excala,concorréncia imperfeita e comércio internacional ‘Quantidades produzidas e demandadas, Q Exportagbes ae Produgéo total A situagdo mostrada na Figura 6.8 é simplesmente uma versio extrema de uma classe mais ampla de simagées em ‘que as cmpresas encontram estimulos para vender no exte- rior a um prego inferior ao cobrado dos clientes domésticos, Discriminagdo internacional de precos reciproca (dumping reciproco) A anélise da discriminagao ‘internacional de Sus se ueadssltinacdo de precas pada a ssdane aise 9 comércio internacional. Suponha que haja dois monopé- ios ¢ que cada um produza 0 mesmo bem, um n0 Locél € outro no Estrangeiro. Para simplificar a anise, suponha que @ssas duas empresas tenhiam o mestao custo marginal. Supo- aha ainda que haja alguns custos de transporte entre os dois, ‘mercados, de modo que, se as empresas cobrarem o shes ‘prego, no haverd comércio. Na auséncia de coméicio, o mo- nop6lio de cada uma delas seria incontestével Porém, se introduzirmos a possibilidade de discrimina- {$0 intemacional de pregos, o comércio poderd surgit. Cada ‘empresa limitaré a quantidade que vende no mercado local, Teconhecendo que, se tentar vender mais, derrubaré o prego de suas vendas domésticas, Todavia, se essa empresa puder ‘vender um pouco no outro mercado, ela aumentaré seas In- cros mesmo que o prego seja menor do que o praticado in- temamente, pois 0 efeto negativo sobre o prego das vendas Preexistentes recaird sobre a outra empresa, no sobre ela mesma. Logo, cada qual encontra incentivo para ‘roubar’ 0 ‘outro metcado, vendendo pouicas unidades a um prego (fqui- do dos custos de transporte) que é menor do que o prego no ‘mercado local, mas ainda acima de custo marginal. 104 PARTE 1 Teoria do comércio internacional = EsTUDO DE CASO © [Antidiscriminagdo interriacional de presos (antidumping) como forma de protecio ‘Nos Estados Uniidos, como €m muitos outros pafses, a isoriminagao intemacional de pregos € considerada uma prética de concorréncia desieal. As empresas’ que alegam - ~ ter sido prejudicadas pela discriminagto internacional de ‘pregos (dumping) que estrangeiras praticaran.no morca- _do norte-ameticano podem apelar, pot melo de um teimite auasejuridico, wo Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Se sua reclamacio for ulgada valida, um “impos- ‘tp antidiscriminagfo internacional de pregos’equivalente ‘a ciferonga calcilada entre’ preg efetive eo prego justo" dos importados, seri estabelecido, Na prética, 0 Depart; ‘mento de Comércio aceita a maioria das reclamagdes de ‘ernpresas itort-americanas sobre’ deslealdades na forma- (do de progos estiangeira. Contudo, determina se magi de: pregos deslealefetivamente provocoa préjutzes. “std nas méos de ontra agéneia, a Comisséo de Coméscio Ttemacional; que rejeita cerca de metade das casas: ©" Os economistas:stunca se sentiram muito satisfeitos ‘dom a ideia de tachar'a discrimi © pregos como pritica proibida “A discriminagao: dé pre «gos entre 08 moreados pode ser umaestratéaia te gonio“os © “pomiais; uma empresa pode,"por exemplo, estar disposta: a vender sea produto com prejuizo enquanin baixa custos ‘pot meio da experiéricia ou quand ‘um novo mercado: [No entanto, se ambas as empresas fizerem isso, 0 resultado ser o surgimento do comércio mesmo que nfo haja (por hipste- se) nenhuma diferenga inicial no prego do bem nos deis merea- dese mesmo que haja alguns custos de transporte. Mais particu- "justo pode distoroer prticas de nogécios perfeltammente sinagSo, por dois motives. Um € que o répido crescimento ‘nas exportagbes desse pas provoco miitas queixas: Outro, 6 ato deque se trata ainda de uma nagdo comunista, que os Estados Unidos considera oficialmente com, ina "éconio- ‘mia de ndo-mercado', Um artigo na revista Business Week desoreveu a diferengs que faz 0 status politic da China: . “Ys50 significa que os Estados Unidos podem simplesmente jjgnorar os dados chineses sobre custos, sob a alezagao de 4 ‘telefnic Jarmente, haverd coméreio do mesmo produto nos dois sentidos. Por exeraple, uma fabrica de cimento no pais A pode enviar ‘cimento para o pafs B ao mesmno tempo ema que urn fabrica de cimento em B pode estar fazendo 0 inverso. A sitmaro.em que a. CAPITULO 6 iseriminaglo intemacional de pregos leva a0 comer ‘ino produto nos dois sentidos € conhecida como. -~Eise pode parecer um caso estranho, ¢ devemos admitir que talvez seja raro no comércio internacional bens exata- mente idénticos serem enviados em ambos os sentidos de uma s6 vez. Apesar disso, o efeito da discriminacdo inter- nacional de pregos reciproca tende a aumentar 0 volume do Goméreio de bens que ni Sio completamente idéntioos. 7"Bsse comércio peculiar e & primeira vista indtil é social- mente desejavel? A resposta soa ambigua, Sem dtivida, é an- tieconémico enviar 0 mesmo bem, ou substinitos préximos, ‘para um lao para 0 outro quando hé custos de transporte. ‘Mas, note que o surgimento da discriminacdo internacional de precos recfproca em nossa ‘historinha’ eliminou 0 que eram inicialmente monopélios puros, levando a alguma concorréncia. A concorréncia maior representa um benefi- cio que pode compensar a perda de recursos no transporte. O efeito liquido desse comércio peculiar sobre o bem-estar ‘econdmico de uma naco €, portanto, incerto. A teoria das economias externas Presume-se que. no modelo de comércio com concor- xénéia monopolistica, as economias de escala que geram 0 ‘omércio intemacional Ocorram fio nivel de cada empiesa “individualmente. Isto é, quanto jnaior a producio de qual “guer negéio ein particular, menor serd sou custo médio, O resultado inevitével de tais economias de escala, no nivel das ‘cas ais cons 3 doses Mics ‘No entanto, como indicamos no inicio do capitulo, nem todas as economias de escala se aplicam a empresas individaalmente. Perna ote dere, éExquts auusn conor ‘tragdo da produgo de um setor em um oy alguns poucos locais eas Sas So churns te Ha prime 7 analisou a3 economias externas, ha mais de um século, foi o economista britnico Aifred Marshall, que estavaimpressicnado ‘com 0 fenémeno dos ‘distitos industiais’ — concentragdes ge- ‘ogrficas de indstrias que nto poderiam ser facilmente expica- 4as pelos recursos naturais. Na época de Marshall, os exemplos ‘mais famosos inclufam concentragtes industriais como 0 con- ‘lomerado (cluser) de manufaturas de cutelaria em Sheffield eo conglomerado de fabricantes de meiss em Northampton, Exent- pilos modemos de indfstias em que parece haver poderosas| conomias externas incluem a de semicondutores, concentrada ‘no famoso Vele do Silfcio, na Califérmia a de bancos de invest ‘mento, em Nova York; ea do entretenimento, em Hollywood. “A possblidade de escriminao nteracinal de prejos repro fei ata: \d2em ptimeito lugar gor: BRANDER, Jane, "rind te in de ‘alcammodits" Journal of inerational Economies, 11,1981, p. 1-14. Economias de escala,concorréncia imperfeta e comércio internacional 105 Segundo Marshall, um conglomerado de empresas’ pode ser mais eficiente do que uma empresa isolada por tes rezes, ‘rincipais: a capacidade de um conglomersdo (cluster) de sus- tentar fornecedores especializados; a forma pela qual um setor ‘geograficamente concentrado permite um mercado comum de trabalho; ea maneire pela qual um setor geograficamente con- centrado ajuda 2 fomentar os transbordamentos de conheci- ‘mento, Esses mesmos fatores continuam valides até hoje. Fornecedores especializados Em muitos setores, a produgio de bens eservigos —e, em sande parte, o desenvolvimento de produtos novos — requer © uso de equipamento ou servigos de apoio especializados; ‘mas uma empress individual néo fomece um mercado grande © suficiente para manter esses fomecedores no negécio. Um conglomerado industrial localizado pode resolver esse proble- ma, 20 reunir muitas empresas que, coletivamente, geram um, mercado grande 0 suficiente para sustentar uma ampla gama de fomecedores especializados. Fsse fenémeno tem sido do- ‘cumentado de forma extensiva no Vale do Silfcio: um estado de 1994 relata como, & medida gue a indtstri local cresceu, “engenheiros deixaram empresas slidas de semicondutores para abi fabricas de bens de capital, como foros de difu~ ‘fo, cAmeras especiais e aparelhos de teste, além de mate Tiais © componentes, como méscaras fotogréficas, gabaritos de teste e prodiatos quimicos especializados... Esse setor de ‘equipamentos independente acabou beneficiando as préprias, empresas de semicondutores, ao livar os fabricantes do custo de desenvolver 0 equipamento de capital intemamente © a0 Aisteibuir os custos de desenvolvimento, Ele também reforgou aatendéncia & concentragao industrial, uma vez que a maioria, esses insumos especializados nio estava dispontvel em ou- ‘as regises dos Estados Unidos”. ‘Como afirma a citagéo, uma dénsa rede de fornecedocés especiaizados propiciou as empresas de alta tecnologia do ‘Vale do Silfcio algumas vantagens consideraveis-sobre aque- 1s de outros lugares. Os princi o mais baraios + e esto disponivels mais facilmente porque hd muitos fornece- ddores concontendo pare oferect-los. Além disso, as empresas podem concentrar-e no que fazem melhor tee! = tros aspectos de seu negécio. Por cee agua Fae do Silcio que se especializaram no fomnecimento de chips de ‘computador sitamentesofsticados para detenminados clientes escolberam torar-se‘fantasmnas' isto é, nfo possuemn nechu- ma instalago fisica em que os chips possaim ser fabricados. [Em ver disso elas se concentram em projetar os chips, depois alugam outra indstria para, efetivamente, fabricé-os. ‘Assim, uma empresa que tentasse entrar no setor em outro local — por exemplo, em um pais que nio tem um couglo- ‘merado industrial comparével — jé comegaria em desvanta- gem porque no teria acesso fécil aos fornecedores do Vale do Silicio e teria de produzir ado internamente, ou teria de tentar negociar& longa distincia com eles. "" Vero ivzo de Saxena citad na sejdo “Sogestes delta, p17 106 PARTE] Teoria de comércio internacional Mercado comum de trabalho Hé ontra maneira de obter economizs externas: urn con- glomerado de empresas pode criar um mercado comum de tabalhadores com qualificagdo altamente especializada. Tal mercado comum € uma vantagem, tanto para produtores como para trabalhadores; afinal, com ele, € pouco provavel {que os produtores tenham dificuldade em encontrar recursos ‘umanos e que os rabalhadores fiquem desempregados. "A melhor forma de compreender esse ponto é avalisar um exemplo simplificado, Imagine duas empresas que usem © mesmo tipo de trabelho especializado, digamos, dois estidios cinematogréficos que utilizam especialistas em animagio por ‘computador. Os dois empregadores esto indecisos quanto 20 rontante de milo de obra que desejam contratar: se a demand por seu produto for ata, ambas contatarao 150 trabalhadores, ‘mas, se for baixa, vdo contratar somente 50. Supona também {que haja 200 trabalkadores com esse qualificagdo especial ‘Agora, compare duas sitagbes: uma com as duas empresas € todos os 200 trabalhadores na mesma cidade ¢ outra com as dua empresas 100 trabalhadores em duas cidades diferentes E fil peroeber que tanto os trabalhadores como seus empresa ‘dores scem ganhando se todos estiverem na mesma cidade., ‘Em primeiro lugar, considere a situagdo do ponto de vis- ta das empresas. Se estiverem em locais diferentes, quan- do uma delas progredir bem, enfrentaré escassez, de mio de cobra; ela desejard contratar 150 trabalhadores, mas haverd somente 100 disponiveis. Agora, se estiverem préximas uma dda outta, é possivel ao menos que lima esteja indo bem © ‘a outra mal, de modo que ambas possm contratar quantos ttabalhiadores desejarem. Logo, a0 se situarem perto uma da ‘utra, as empresas aumentam sta probabilidade de tirar van- tagem das oportunidades de negécios. ‘Do ponto de vista da forga de trabalho, ter uma inds- ‘ria concentrada em um local também é uma vantagem. Se a indGstria estiver dividida entre dias cidades, quando uma ddas empresas tiver uma demanda por trabalhadores baixa, © resultado serd o desemprego; ela seré capaz de contratar ape- nas 50 dos 100 trabalhadores que vivern nas proximidedes. Mas, se a indstria estiver concentrada em uma tinica cida- de, 2 demanda por trabalho baixa de uma emprese seré, pelo ‘menos as vezes, compensadia peld demanda alta da outra, Em decoméacia, o isco de desemprego serd menor. ‘De novo, essas vantagens foram documentadas para 0 Vale do Silicio, onde é comum tanto as empresas se expandirem rapidamente como os tabalhadores mudarem de empregador. ‘Segundo o mesmo estudo dessa regio citado anteriormente, @ ‘concentracéo de empresas em tum tinico local toma mais fil 2 toca de empregador. Nas palavras de um engeakeiro citado no ‘estuco, “no foi uma catistrofe tio grande sair do emprego na sexta-feira¢ tet outro na segunda... Voc nem mesmo precisa ‘contax a sua esposa. Simplesmente pega o caro ¢ toma outra dlnegdo na segunds-feira de mana” "Essa lenibiidade tora 0 ‘Vale do Silicio um local straente tanto para trabalhadoresalta- mente qualificados como para as empresas que os empregam. * saxenian,p. 35. ‘Transbodamentos de conhecimento “Afualmente ¢ lugar-conmum afirmar que, na ezonomia mo: derma, 0 conbecimento é, no mfaimo, um insumo to irpor- a tante quanto os fatores de producéo, como trabalho, capita fe materas-primas. Isso se aplica sobretado nos setores mas {novadores, em que estar somente alguns meses atrés da van- gguarda em téenicas de produgio ¢ projetos de produtos mais 1 ‘avangados pode colocar um negScio em grande desvantagem, "Mas de onde vem o conhecimento expecializado, esse bem Go crucial para o sucesso dos setores inavadores? As empresas podem adquirr tecnologia gracas a seus prOprios esforgos de pes- qusa ¢ desenvolvimento. Também podem tetar aprender i og concortentes, estudando seus produtos e,em alguns casos, des- 4 smontand-06 para fazer uma ‘engenariareversa’ de seu projet em nivel pessbél. Esse tipo de difusfo informel de conbecimento parece ovorter de maneira mais efesiva quando um setorestcon- = ‘eentrado em uma érea razoavelmente pequena, de modo que os funciondrios de diferentes empresas possamn encontrarse social mentee falar sobre quests tcnicas de maneiradescontraida. “Marshall descreveu esse processo de modo memoravel ‘quando escreven gue, em um distrito com muitas empresas dio mesmo setor, “os mistérios do comércio se desfazem, mas € como se estivessem no ar. O bom trabalho € corretamente fapreciado, invengées ¢ apérfeicoamentos em maquinarias, em rocessos ena organizagao geral do negécio ttm seus mérites 4 prontamente discutidos: se um homem tem ume ideia nova, cla ¢ assimilada por outros ¢ combinada com sugestdes prOprias,¢ dessa forma ela se toma a fonte de mais ideias novas”.” ‘Um jomalista desereven como esses transbordamentos de ‘conhecimiento atuaram durante a ascensio do Vale do Silicio (@ também ofereceu uma excelente nogéo da quantidade de onhecimento especializado presénte.no setor) da seguin: te forma: “A cada ano havia algum lugar — Wagon Wheel, Chez Yvonne, Rickey's, Roundhouse — aonde membros | dessa irmandade esotérica, 0s joveus da indtstia de semi: condutores, se dirigiam ap6s o trabalho para beber, fofocar fe trocar ‘experiéncias de guerre’ sobre phase jitters, cicuitos fantasmas, memérias de bolhss,trens de pulsos, contatos sem retomos, modos burst, testes leapfrog, jungbes p-n,distirbios {0 sono, cas0s de morte Ienta, RAMs, NAKs, MOSes, PCMs, PROM blowers, PROM blasters e grandezas daordem de tera- bytes.” Esse tipo de fiuxo de informacio informal significa «que 6 mais fécil para as empresas na regio do Vale do Silicio na linha de frente tecnol6gica do que paraas de foutras regides; de fato, muitas multinacionais fundaram cen ‘wos de pesquisa © mesmo fbricas nessa regido simplesmente ‘para acompanbar as tecnologias mais recentes. Economias externas e retornos crescentes ‘Um setor geograficamente concentrado pode sustentar for~ necedores especializados, oferecer um mercado comum de tra- 5 MARSHALL, Aled. Princip of economics. Londres: MacMillan, 1920. Tom Wolfe, citado om Saxenian,p 3. ; 10. on sais Bs BPS ASE EEE SS Bae Le CAPITULO 6 balbo e propiciar os transbordamentos de conhecimento —-fa- cilidades pouco provéveis em outro geograficamente disperso. ‘Mas umm pals no pode ter muitos negécios concentrados em, lum nico setor, a menos que ele seja grande o bastante. Des- ‘s¢ modo, a teoria das economias externas indica que, quando essas economias so importantes, umm pais com um setor eco- nomico forte seré, permanecendo tudo 0 mais constante, mais ficiente nesse setor do que outro no qual ele seja diminito.. Em outras palavras, as eccnomias externas ocasionam retor- os cresointes de eeal-na nivel da indisiria aetonal—— ra Os detalhes das economia’ externas sejani "na prética, mais sutis e complexos (como mostra o exemplo do Vale do Sitieio), pode ser til nos abstrairmos dos detalhes epresentarmos as economias extemas simplesmente supon- do que 0s cystos de um setor serdo mais baixos quanto maior for esse setor, Se ignorarmos possfveis im acon cotténcis, isso significa que o setor em questo teré uma “carva de olartaRegalvaments ileus ase maior 3 Ao setorial, menor seré o prego pelo qual as empresas. tsa digpsias a senderseu 13 Economias externas e comércio internacional As economias externas, como as economias de escala ue séo internas &s empresas, desempenham um importante Papel no comiércio internacional, nas, quanto a sas conse~ uéncias, podem ser completamente diferentes das internas Em particular, as economias extertlas podem fazer com que paises fiquem presos a padrées indesejéveis de eipecializa- 920, ou mesmo levar a perdas do comércio intemacional. Economias externas e 0 padrao do comércio Quando hi ecoriomi fs com Quando hd ecosiomias de_escala extemas, um pafs com_ ‘ums produgo grande em determinado stor tenders, periane: ‘cendo tudo 0 mais constante, a ter custos baixos na producao Chere a ababo da Curva de custo mmécio para a Suiga, CMe, Desse ‘do, a Taléndia poderla potencialmente ‘abastecer o mercado mundial de forma mais barala do que a Suiga. Contudo, 28¢ a indstria suiga comegou primeira, pode vender relégios 20 prego P, que ‘eta eaixo do custo Cy com o qual uma empresa individual talandesa se Setrontaria se iniciasse uma procugao. Logo, um pac de ecpeciaizacdo criado pelo acaso histrico pode persist, mesmo {quando novos produtores tém custos ptencisimonte mais baixos. Economies de escala,concorrénciaimperfeica ¢ comércio internacional rego’ custo (pcr relic) 7 daquele bem. Isso ocasiona uma circularidade Obvia, pois um ‘Pals capaz dé produzic um bem de forma mais barata também tendecé, portanto, a produzir muito daquele bem. Eeonomias externas fortes costumam confirmar os padres existentes do Comércio interindistria, quaisquer que sejam suas fontes ori Fis: o pafes qu comeya como grandes prodtnes os “como grandes produtores, mesmo se algum ouiro ‘pais ‘Poteiicmalmente produzir os! ‘ais - “A Figura 6.9 ilustra esse ponto. Mostramos 0 custo de produzirum relégio como uma fungio do niimero de rel6gios Produidosanualmene, Dois paises slo moxtaloe: Ses c ‘Tailéndia. O cisto para produzir um relégio suico € mostra- do como Cems eo caso talandés ene OMe D representa a demanda mundial por rlégios, que supomos poder ser satisfeita pela Suica ou pela Tailandia. Suponba que as economias de escala na prodiiglo de re- l6gios sejam totalmente extemas as empresas ¢ que, como ‘no hé economias de escala no nivel da empresa, a indtistria de relégios em cada pafs consista em muitos pequenos ne- g6cios com concoméncia perfeta. A concoréncia, portanto, baixa o prego dos relogios até seu custo médic Stponhsfambém quo a curve de cute taflaness. que sbaixo da suiga porque, digamos, os salérios tailandeses 220 -menores do que os suigos. Iso significa que, em qualquer nf vel de produgio, a Tailindia poderé fabricar el6gios de for- ‘ma mais barata do que a Suiga. Pode-se esperar que esse fato sempre implique que a Tailandia, na verdade, abastega o mer cad mdi Infsizment, uso nem seme aoaten,Sopes nha que a Suiga, por motivos histéricos, inicie sua indistria de relégios primeiro. Entio, inicialmente, 0 ‘equilibrio mun- dial de reldgios seré determinado no ponto 1 da Figure’69, com a produgio suiga de Q, unidades por ano a um prego P,, Agora, introduza a possibilidade da producto tailandesa. Se a ‘Tailndia pudesse assumir.o controle do mercado mundial, ° equilibrio se desiocaria para o ponto 2. Contudo, se nfo how- ver a produgdo inical tailandesa (Q = 0), qualquer empresa 2, Quantidade de reiégios fabricados @ demandados 108 PARTE | Teoria do comércio internacional individual desse pats que esteja pensando em fabricar rel6gios causa de sua curva de custo médio mais baixa, 0 preso dor ata com ans custo de produsao igual a C, Da forma relégios tsiandeses no ponto 2, P. seria na realidad menor a se acrtanhartos, ese custo ext acima do prego em que 2 do que o prego dos e6gios sufgos no ponto 1 Ps SS

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