A Serpente Do Paraiso - Erwin W Lutzer PDF

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A incrivel histéria de como a rebeliao de Satands serviv aos propositos de Deus “Este livro procura colocar 0 diabo em seu devido lugar.” E assim que o pastor Erwin Lutzer comega sua reveladora obra, onde registra que embora Lucifer tenha se rebelado para nao ser mais servo de Deus, ele continua subserviente ao Griador, Mesmo hoje, Satands nao pode fazer qualquer movimento sem o consentimento expresso do Todo-Poderoso. © autor argumenta que € dificil compreender apropriadamente a Satanas, a menos que primeiro entendamos a Deus. Quando ficamos diante do Senhor em reyerente temor, discernimos as artimanhas do diabo ¢ afastamos todo e qualquer medo do nosso adversrio. “.- € um desafio aos conceitos eopclares sobre Satanas, os quais sao utilizados pelo préprio inimigo para enganar, matar, toubar e destruir. Lutzer demonstra que a tentativa de Lucifer pela liberdade estava fatalmente fracassada no momento em que ele se rebelou. Eis aqui um livro que estimulara sua fé ¢ o levara a adorar a Deus, aquele que jamais sera derrotado, € mestre em teologia pelo Semindrio Teoldgico de Dallas e pastor principal da Igreja Memorial Moody em Chicago, Estados Unidos. Atua também como um popular conferencista € ensinador da Biblia. | Tsay a5-72e7 a 7367— 120-3 | Il) iN, Gategori Petite iblics 9"788575!671209! ISBN 85-7367-120-3 \ } Categoria: Estudo Biblico | | Este livro foi publicado em inglés com o titulo The Serpent of Paradise por Moody Press © 1996 por Erwin W. Lutzer © 1998 por Editora Vida 1” ompresséo, 1998 2* impressdo, 1999 Traduzido por Josué Ribeiro Todos os direitos reservados na lingua portuguesa por Editora Vida, Rua Julio de Castilho, 280 03059-000 Sao Paulo, SP — Telefax: (011) 6096-6833 As citagGes biblicas foram extraidas da Edicdo Contemporanea da Tradu¢io de Joao Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida, salvo onde outra fonte for indicada. Preparacao de texto: Mardénio Nogueira Revisio de Provas: Rosa Maria Pereira Capa: Gregory & Andréa Lyra Editoragio eletrénica: EDITAE — Assessoria de Comunicacaio Impresso no Brasil, na Editora Beténia Soh GOO SSO. te ee FPP a Sumario Prefacio.. Colocando o diabo em seu devido lugar.............. 9 Aestrela que comeu 0 p6 da terra... 23 Existe uma serpente em nosso jardim ............+ 45 A nova religiao da Serpente ssvscsssesssnecersscessesesene 67 A serpente Contra-ataca ........csccceseeseessesteeseseesees 85 Aserpente esmagada w.rsssssrssescssessssseeeseeresese 105 Aserpente, uma serva de Deus ....:.cssersseceseree 129 Oque a serpente deseja de VOCE? ......s:ssseresseress 153 Fechando a porta quando a serpente bate........175 . Neutralizando o veneno da serpente .........:0000 197 . Aserpente é expulsa do CEU ...ssssesssesssecsnsesseeese 219 . A serpente em eterna humilhagao ...............00 235 Prefacio oino outono de 1964, Eu estava sentado numa sala de aula na Universidade Livre de Amsterda, e ouvia uma palestra do meu professor, G. C. Berkouwer. Eraum dia quente, fora do comum na Holanda, e aquele local nao tinha ar condicionado. Eu permitia que minha mente di- vagasse, enquanto olhava distraidamente pela janelae observava alguns patos que nadavam num canal préxi- mo darua. Meu devaneio foi repentinamente interrompi- doe meu pensamento trazido de volta a atencaéo quando o professor proferiu uma sentenga simples e concisa. Nao sei quantas palavras jd ouvi em aulas e serm6es durante minha vida, mas tenho certeza de que o ntimero chega aos milhées. Da mesma maneira, também tenho certeza de que jé esqueci a grande maioria do que ouvi; mas ainda lembro-me das palavras do Dr. Berkouwer, naquela declaragao tmica e resumida: “Nao pode haver uma teologia saudavel, sem uma demonologia correta”, O que ele desejava dizer era que se a revelagéo biblica é 6_A SERPENTE DO PARAISO levada a sério, devemos considerar também com serieda- de o que as Escrituras ensinam sobre o mundo satanico. Todos nés jé ouvimos a expressao: “Companheiro, vocé tem fogo?” Em holandés diz-se: “Mijnheer, heefu en lucifer?” (Vocé tem fésforo?). Este termo para “fosforo” 6 “ldcifer”, a mesma palavra usada na Biblia para Sata- nas. Nao sei como tal vocdbulo teve essa derivacao etimolégica. Certamente, ha uma ligacao lexicografica com a afirmacao do Novo Testamento de que Satands se transforma em “anjo de luz”. O diabo nao aparece como a figura grotesca e hedionda descrita no folclore ou apre- sentada nas caricaturas das festas de fantasia. Pelo con- trario, Satands €é metamérfico. Ele gosta de aparecersub species bonum, “sob os auspicios do bem”. Ele é, conforme apresentado em Génesis, a mais sagaz e sutil das criatu- ras. Ele é a quinta-esséncia do artista trapaceiro que re- aliza seus esquemas por meio da camuflagem. Os dois esquemas mais usados por Satands para en- ganar s4o; 1) levar as pessoas a subestimé-lo, para que possa atrai-las a uma armadilha escondida; 2) levar as pessoas a superestimé-lo, para que fiquem intimidadas e paralisadas pelo seu poder ameacador. Ele adora quan- do negamos sua existéncia e, portanto, oignoramos; ou 0 elevamos ao mesmo nivel de Deus e ficamos preocupados com ele. Talvez nao sejamos possuidos por ele, mas as vezes ficamos obcecados com ele. Quando Erwin Lutzer me pediu para escrever esse prefacio, ele foi muito gentil. Ele sabia que nao comparti- lho suas opinides em certas questdes escatolégicas de- senvolvidas nesse livro e discordaria dele em alguns de- talhes. Se eu tivesse, contudo, de concordar com outro autor em cada detalhe de seu livro antes de endossa-lo, provavelmente nao conseguiria aprovar outro, salvo a Biblia. Da mesma mancira, também ninguém endossa- ria qualquer um dos meus escritos. PmKHACIO 9 Existem trés razées principais pelas quais tenho prix zer em endossar esse livro: 1) 0 que une Erwin Lutzere R. C. Sproul em teologia é muito mais abrangente do que 0 que nos divide; 2) tenho desenvolvido uma profunda ad- miragao por Erwin Lutzer como homem, cristao e defen- sor da fé. Todos nés conhecemos pessoas com quem, assim que as vemos, sem que uma palavra seja dita, sentimos uma simpatia instantanea. Quando vejo Erwin, meu es- pirito se eleva; 3) talvez o mais importante seja que des- cobriser esse livro um verdadeiro tesouro de revelacao bi- blica. Um dos perigos em ser um tedlogo é que muitos li- vros 0s quais leio contém poucas informagées novas, ain- da que aprenda pela repetigao, pois me considero lento para memorizar algo. Esse livro, entretanto, esta cheio de perspectivas muito licidas, que nunca considerei. Foium absoluto prazer aprender tanto de uma sé vez. Quando estou em casa, em Orlando, costumo levantar sempre as 4h. O relégio do meu corpo tem seu proprio despertador. Essa manha, abri meus olhos exatamente As 3h 58min. Pelas 4h 15min, iniciei a leitura desse ma- nuscrito. Eu sabia que tinha quatro aulas programadas, a partir das 9h. Normalmente gasto as primeiras horas na preparacao dessas aulas. Hoje renunciei a esse luxo, tao absorvido fiquei com esse livro. Em minha opiniao, ele é positivamente brilhante. E a melhor abordagem sobre a pessoa e a obra de Satanas que ja li. Nao 6 sim- plesmente um exercicio de teologia abstrata: 6 uma obra de revelagao biblica que, pessoalmente, preciso digerir. Mal posso esperar para lé-lo novamente. Ele nao s6 esti- mula a mente, mas também edifica a alma. R.C. Sproul Orlando, 1996 ee Colocando o diabo em seu devido lugar E ste livro procura colocar 0 diabo em seu devido lu- gar. Quando Liicifer (cujo nome significa “portador da luz”) jogou os dados, apostando que se daria melhor como inimigo do que amigo de Deus, estabeleceu uma catastrofe moral que repercutiria por todo o Universo. Vocé e eu fomos profundamente afetados por essa deci- sao diabdlica, tomada ha tantas eras. O que muita gente nao sabe é que Lucifer foi derrota- do quando pecou. Foi destruidoestrategicamente, pois, como criatura de Deus, passou a depender dEle para con- tinuar existindo. Qualquer poder que tivesse, sempre es- taria sujeito a vontade do Todo-Poderoso e a de seus de- cretos, Assim, momento apés momento, ele sofreria a humilhagéo de saber que nunca existiria ou teria pode- res por meios proprios. Nao desejo afirmar que para cada movimento dele, Deus realizaria um contra-movimento. E claro que isso é 10_A SERPENTE DO PARALSO verdade, mas a situagao de Satands é bem pior. Como ve- remos nos capitulos deste livro, ele nao pode, mesmo ago- ra, tomar nenhuma iniciativa sem o expresso consenti- mento de Deus! Podemos afirmar ousadamente que, qualquer que seja a travessura de Satanas, é algo permitido por Deus para que no final resulte em servico e beneficio dos san- tos. William Gurnall, depois de encorajar os crentes a fi- carem firmes na certeza de que Deus vigia cada mano- bra de Satands e que nao permitira que ele conquiste a vitéria final, escreve “Quando Deus diz ‘Quieto!’ Satands tem que ficar parado, como um cao ao lado da mesa, en- quanto os santos se banqueteiam no conforto de Deus. Ele nao ousa roubar nem um pedacinho de comida, por- que os olhos do Mestre estao sempre sobre ele”.! E assim é: os olhos do nosso Mestre estao sobre ele. Depois do seu primeiro ato de desobediéncia, seu fracasso e destruicdo foram selados. Embora nao pudesse prever isso, Liicifer seria derro- tado espiritualmente, na cruz; ali Cristo garantiu que pelo menos parte da humanidade seria comprada e res- gatada do reino das trevas, para 0 reino da luz. O fato de que criaturas que cairam na armadilha de Satands pu- dessem eventualmente ser levantadas acima do mundo angelical, que ele um dia liderou, era mais do que podia suportar. Ele, contudo, tem de suportar isso. Finalmente, quando for jogado no lago de fogo, ele sera derrotadoeternamente, pois estara distante da pre- senga divina para sempre. Entao, em vergonhosa ago- nia, contemplard eternamente sua insensatez, em ter-se levantado contra Deus. Sua humilhagao sera publica, dolorosa e perpétua. Nesse momento, enquanto vocé lé COLOCANDO O DIABO EM SEU DEVIDO LUGAR 11 essas palavras, ele 6 apenas um tragico participante no drama que ele proprio iniciou. E nao ha nada que possa fazer para mudar o seu fim. Na época medieval, o diabo era freqiientemente pinta- do como uma figura cémica, com uma longa cauda, pés que terminavam em cascos fendidos, dois chifres e uma roupa vermelha. Parecia um palhago; muitas vezes era descrito como um perdedor, nos conflitos das eras. Muitos desenhos o retratavam como um bufiio, cuja simples pre- senca jé era uma afronta para a humanidade. Nao devemos pensar que 0 povo da Idade Média real- mente acreditava ser o diabo um grande idiota. Eles sa- biam, assim como nds, que ele era, na verdade, um esp{- rito maligno, poderoso e assustador. O propésito das ca- ricaturas era atingi-lo em seu ponto mais vulneravel — seu orgulho. Eles queriam expressar que 0 diabo era um tolo por se opor a Deus. Apesar de ser uma criatura de imensa inte- ligéncia, era sem duvida insensato para se rebelar con- tra seu Criador. O povo medieval fazia com que ele pare- cesse esttipido, porque, a despeito do seu poder e conheci- mento surpreendentes, ele era realmente estipido. Eles sabiam que 0 diabo era tanto real como também podero- so; sabiam também que estava desorientado e derrotado. Por isso Lutero insistia em dizer que, quando 0 diabo per- sistisse em nos aborrecer, deviamos zombar e escarnecer dele, “porque ele nao suporta ser desprezado”. O povo medieval pode ter errado em dar exagerada atencao ao diabo e por muitas vezes ter misturado ver- dades biblicas com lendas e superstigdes. Temos, contu- do, de reconhecer a vigorosa crenca que tinham na exis- téncia do principe das trevas. Nossa geracao, por outro lado, esta em falta por ter-lhe dado insuficiente reco- 12_A SERPENTE DO PARAISO nhecimento, ou, pior ainda, concedido exatamente o tipo de reconhecimento que ele almeja. Quando o diabo persiste em nos aborrecer, devemos zombar e escarnecer dele Devemos ser gratos a um recente artigo na revista Newsweek, 0 qual obseryou que os que sao “nascidos de novo” levam o diabo a sério,2 Nés, que cremos na confiabilidade da Biblia, nado podemos ser acusados de desacreditar em sua existéncia concreta. Nés, acima de tudo, devemos levar 0 diabo a sério. Muito a sério. Nossa sinceridade, entretanto, nao garante ser corre- ta a concepcao que temos do diabo. Creio que a énfase renovada que os evangélicos dao as obras de Satanas, nos ultimos, digamos, 20 anos, tem sido, na maioria das yezes, muito util. Certamente estamos muito mais bem equipados para lutar contra o inimigo, gracas aos escri- tos daqueles que tém nos prevenido contra os esquemas satAnicos e nos lembrado dos recursos que temos dispo- niveis. Quando era um jovem pastor, fui ajudado na questao da batalha espiritual por aqueles que conheci- am o inimigo melhor do que eu. Junto com tantas informacées titeis, contudo, algu- mas distorgées tém se insinuado no nosso pensamento, as quais podem ser usadas contra nés, nas maos do dia- bo. Embora nao digam isso de forma expressa, alguns escritores deixam implicito que Satands pode agir inde- pendente de Deus; dizem que 0 Todo-Poderoso s6 se en- volve no que 0 diabo faz quando nés lhe pedimos. Porque Satands 6 o “principe deste mundo”, acham que isso quer dizer que é livre para tomar suas proprias decisdes, infli- gindo dano e devastacao onde e quando bem entende. COLOCANDO 0 DIABO EM SEU DEVIDO LUGAR 13 Com todo respeito, tenho que discordar. Eclaro que todos os evangélicos concordam que o dia- bo sera derrotado no final; mas alguns ensinam que por enquanto ele pode fazer tudo 0 que lhe agrada no mundo. Osatands, de muitos dos assim chamados ministérios de libertagao, é alguém que age por conta prépria, com po- der de decisdo e que detém e utiliza seu préprio poder, restrito apenas pelos amplos limites estabelecidos por Deus. De acordo com essa teologia, Satanas estabelece sua propria agenda e tem liberdade para nos afligir, qua- se sem nenhuma interferéncia do Todo-Poderoso. Precisamos nos lembrar das palavras de Lutero, que declarou: “O diabo é 0 diabo de Deus”. Temos esquecido que s6 quando sabemos quem é Deus, podemos saber quem 0 diabo é. Bem-aventurados sao os que tém convic- cdo de que o principe deste mundo tornou-se escrayo do Principe da Paz. Ahistéria nos dé exemplos de pessoas que escreveram sobre o diabo sem fazer um estudo cuidadoso das Escri- turas. Esses escritores, voluntaria ou involuntariamente, deformaram muito o nosso pensamento sobre Satanas. Vamos nos lembrar dos que foram mais influentes. QUAL DIABO? Dante Dante (1265-1321) faz uma viagem as regides mais baixas em sua cldssica obra-prima, O Inferno, que regis- traa experiéncia horrivel de ver deménios atormentan- do os desgracados ocupantes do inferno. Esses deménios patrulham um rio de piche borbulhante, dando aos peca~ dores a punicao que merecem. Com ganchos e garras afi- adas, os demOnios atacam qualquer pecador que tenta escapar ou desrespeita a autoridade deles. A punigaéo jd_A SERPENTTE DO PARAISO dessas pessoas é aplicada com exatidao: cada uma das nove regidées é designada para um pecado particular e cada pessoa recebe a retribuicado de acordo com 0 que fez, com os hipécritas no circulo mais inferior. Os deménios tém prazer em atormentar os que cometeram as ofensas mais hediondas. Esse retrato de Satands, que dominou grandemente o pensamento medieval, nao era baseado na Biblia, mas sim em folclore popular. Embora tenha produzido uma crenca vivida na existéncia de Satands e seus deménios, interpretou erroneamente o papel do diabo no mundo. O mito de que 0 diabo é 0 atormentador no inferno é ape- nas mais uma maneira de dar-lhe 0 tipo de reconheci- mento que almeja. Pior ainda, Dante negligenciou a doutrina neotestamentaria da salvacéo e a substituiu pela idéia da salvacao pelas obras. Apesar de Dante ser corretamente considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, desejariamos que tivesse estudado mais a Biblia ou entao que escrevesse sobre outros assuntos e nao sobre teologia. Milton Milton (1608-1674), em seus poemas épicos Paraiso Perdido e Paraiso Restaurado, resgatou a visao biblica de Satands. A crenga no diabo tinha comecado a declinar na Inglaterra mundana da época de Shakespeare e 0 cré- dito de ter reavivado a certeza biblica na existéncia de Satands deve ser dado a Milton. Apesar de sua teologia as vezes também ser deficiente e sua imaginacao ter sido a base da maior parte do que escreveu, esses poemas co- brem todos os aspectos da histéria da salvacao. Milton argumenta que os anjos tém liberdade de escolha e as- sim 0 mal tornou-se uma possibilidade. De fato, ele diria COLOCANDO O DIABO EM SEU DEVIDO LUGAR 15 que bondade moral é algo impossivel sem livre-arbitrio; Deus, contudo, torna o mal em bem, ensinando-nos sabe- doria e fé por meio dos nossos sofrimentos e provagoes. Milton apresentava Lticifer ao mesmo tempo sedutor e repulsivo. Tanto her6i, como vilao. Satanas é descrito como poderosamente atraente, pois Milton queria que o leitor fosse conquistado pela admiragdo, para sentir a forea de atracgado da tenta¢ao ao redor desse terrivel e auto-indulgente principe das trevas. Gradualmente, con- tudo, a verdadeira natureza de Lucifer é revelada e 0 poder sedutor do mal se torna claro. Milton ainda manteve algo do folclore de Dante. Sata- nds se rebelou, segundo Milton, porque “preferia reinar no inferno do que servir no céu”. Quando retorna ao in- ferno, vindo do Jardim do Eden e tendo conseguido cor- romper 0 homem, 0 diabo é saudado com um coro de as- sobios. Apesar dele proclamar ter abalado o trono de Deus, isso nao passa de uma mentira. Apesar de os ou- tros anjos caidos estarem “rastejando e prostrados” no lago de fogo, Satands os convoca as armas, conferindo- lhes seus titulos angelicais. Milton combinou teologia biblica, tradicdes cristas e imaginacao fértil. Nao podemos concordar que 0 livre- arbitrio tenha sido a principal causa da queda de Sata- nds; e certamente nao podemos aceitar que 0 diabo ja esta no inferno, ou que reinaré ali para sempre. Milton, porém, nos tem dado uma interessante descrigao da luta entre o bem eo mal, a batalha entre Satands, Adaoe Cristo. Suas descrigoes vividas tornaram-se inspiragao para artistas, escritores e pregadores. Acrenca na existéncia do diabo estava retornando, Entao chegou a época do Iluminismo. 16 A SERPENTE DO PARAISO Goethe O desaparecimento da figura do diabo no pensamento ocidental pode estar relacionado aquela época em que a féno mundo sobrenatural comecou a declinar, diante do ensino humanista e das descobertas cientificas. Logo 0 diabo tornou-se uma fantasia, pertencente a uma época de supersticdes que j4 estava superada. Desde que 0 Deus de Lutero e de Calvino foi substituido por um Deus mais sorridente e mais tolerante, a cren¢a geral era de que no Universo nao haveria lugar para um ser maligno independente. Se vocé acha que Fausto fez um pacto com o diabo e depois descobriu, para seu horror, que tinha cafdo numa armadilha e perdido sua alma, esta correto. Mas sé se estiver pensando na versao medieval da histéria. Apesar de Fausto aparentemente ser uma figura histérica, com poderes magicos, as lendas que surgiram a partir dele alimentaram muitas historias fantasiosas sobre suas proezas, artimanhas e, é claro, seus pactos com 0 diabo, Uma das verses dizia que ele morreu durante uma mis- teriosa demonstragéo de que era capaz de voar, em 1525. O folclore, que era freqiientemente aceito pela maioria, dizia que foi o diabo quem o segurou. Existe, porém, outro Fausto, uma versao mais popu- lar escrita pelo iluminista alemao Goethe (1749 - 1832). Nessa versao, escrita mais de cem anos depois de Milton, Fausto encontra um diabo diferente, um ser que tem al- guns elementos da visao crista, mas que nao 6 uma cria- tura a ser temida. De fato, segundo Goethe, 6 Fausto quem leva a melhor sobre 0 diabo! Mefistéfeles (0 diabo), de Goethe, 6 uma figura muito complexa, sendo o préprio criador dos anjos. Embora apareca opondo-se a Deus, é uma séria distorgao do dia- COLOCANDO O DIABO EM SEU DEVIDO LUGAR 17 bo do Cristianismo: ele é retratado como uma criatura que convida o leitor a encarar as miiltiplas faces da reali- dade. Certamente nao deve ser temido, Quando Fausto faz um pacto com Mefistéfeles, este promete ser um servo daquele nesse mundo, se 0 mesmo aceitasse ser seu servo no mundo vindouro. Mefistéfeles atrai Fausto para a sensualidade, fazendo crescer sua luxtiria por uma jovem, Gretchen, que se apaixona por ele. Confuso e desmoralizado, Fausto finalmente derru- ba suas ultimas resisténcias e realiza suas fantasias, indo para a cama com Gretchen. Aluxtria de Fausto, contudo— e isso éimportante—, transforma-se em verdadeiro amor. Assim, Mefistéfeles na verdade nao destruiu Fausto, mas lhe fez o bem que tanto desprezava. No final da trama, hd uma disputa pela alma de Fausto; esse, porém, leva a melhor sobre Mefistéfeles, porque aprendeu a amar. Fausto, portanto, foi salvo — nao do pecado —, mas da sensualidade e do intelectualismo drido. E foi salvo, nao por Cristo, mas pelos seus préprios esforcos em re- sistir. Fausto descobriu que servir a Mefistéfeles tem tanto responsabilidades como recompensas. Fazer um pacto com ele nao tem necessariamente conseqiiéncias muito sérias. O Mefistéfeles de Goethe se encaixa bem no contexto da América contemporanea. O diabo se transforma, para ser o que desejamos que ele seja. Podemos estar associa- dos com ele sem medo de perder a alma. E um diabo sim- bélico, de uma espécie mais fraca e até mesmo cémica. Nossa geracao cré num diabo inofensivo. Ele esta an- sioso para suprir nossa necessidade de explicar a exis- téncia do mal e se dispde a ser uma descri¢do simbélica dos horrores que nos esforgamos para entender. B um 18_A SERPENTE DO PARAISO diabo que deseja o melhor para nés; um diabo que 6 nosso servo; um diabo que compartilha conosco seu poder, pre- diz nosso futuro e ajuda-nos a desenvolver ao maximo nosso potencial, 5 o diabo dos horéscopos, dos tarés e dos jogos do tipo RPG e calaboucos e dragdes; é o diabo do Movimento Nova Era, que nos ajuda a entrar em conta- to com “mestres da sabedoria” e afirma nossa propria hu- manidade iluminada. De acordo com uma pesquisa da revista Newsweek, pelo menos 25% dos americanos créem ser o diabo ape- nas um simbolo da falta de amor do homem por seus se- melhantes, Dos que dizem acreditar, apenas uma peque- na porcentagem cré que ja foi tentada por ele. “Entre os cristaos”, diz a revista, “somente os nascidos de novo re- velam uma forte consciéncia da presenga do diabo”.? Tais perspectivas sao compativeis com aquelas cor- rentes de protestantes e catélicos que tém, nas palavras de Kenneth Woodward, “exorcizado o diabo do seu voca- buldrio”.* Podemos nos referir ao diabo como se nao fosse uma personalidade independente e maligna, tendo va- lor apenas simbélico, descritivo e especulativo. O socidélogo Robert Muthnow sugere que o fato de al- guém crer ou nado na existéncia concreta do diabo, freqiientemente vai depender da classe social a que per- tence. “Olhe para as igrejas”, ele diz. “Se a igreja é fre- qiientada por pessoas ricas, vocé nada ouvira sobre 0 diabo nas pregacoes. Se forem pessoas pobres, é s6 0 que vocé ouvira”® Por que este livro? Este livro tenta dar uma visao geral da carreira do di- abo e sua ligacdo com 0 Todo-Poderoso. Ele descreve des- de sua queda de uma posi¢ao exaltada até sua derrota por Cristo e sua condenagao a vergonha e desprezo eter- COLOCANDO O DIABO EM SEU DEVIDO LUGAR i9 nos. Tentamos provar que Satands sempre perde, mes- mo quando “vence”. E, o melhor de tudo, mostra que nés, os quais fomos transportados do reino das trevas parao reino da luz, podemos lutar contra ele e vencer. Minha primeira premissa é que Deus tem a soberania absoluta no Universo. Isso quer dizer que mesmo 0 mal 6 parte do plano maior do Criador. Nao quero dizer, écla- ro, que isso implica desejar Deus fazer o mal ou aprova- lo. Desejo dizer, contudo, que em virtude do seu papel de Criador e Sustentador do Universo, 0 Todo-Poderoso 6a causa final (ainda que nao imediata) de todas as coisas que acontecem, Estou convencido de que, a menos que entendamos como o diabo se encaixa no esquema de Deus, sera muito dificil ficarmos firmes diante da sua conspiragéo contra nés individualmente e da sua influéncia na nossa cultu- ra, A maneira como entendemos nosso inimigo determi- nara grandemente como lutaremos contra ele. S6 possuiremos uma teologia adequada do diabo, se tivermos uma teologia apropriada de Deus. S6 quando realmente tememos ao Todo-Poderoso, descobrimos ser desnecessdrio temer o diabo. Portanto, este é um livro sobre Satands, mas é também um livro sobre o poder de Deus, os planos de Deus ¢ os propésitos de Deus no mun- do. Quanto maior for nosso Deus, menor serd 0 diabo. Satanas... foi derrotado no momento em que escolheu pecar Temos de viver com a confianga inabalavel nao 86 no fato de que Deus vencera no final, mas que Ele realmen- te jd vence no presente, dia apés dia. Ndo temos de espe- 20 A SERPENTE DO PARALSO rar até que Satands seja jogado no lago de fogo para po- dermos festejar e dizer que nosso inimigo foi destruido. Quero usar todos os meus esforcgos para mostrar que ele foi derrotado quando escolheu pecar contra 0 Todo-Pode- roso. Minha principal afirmacaéo é que ndo é porque Lucifer se rebelou que deixou de ser servo de Deus —ele ainda é! Ha muitos anos, 0 titulo de um livro muito conhecido de J. B. Phillips nos lembrava que Seu Deus é Pequeno Demais. Talvez em nossos dias, outro livro deveria ser es- crito, com o titulo Seu Diabo é Grande Demais. O diaboé muito grande, se ficamos fascinados por ele; 0 diabo € muito grande, se achamos que temos de cumprir um com- promisso com ele; o diabo é muito grande se somos vi- timas de uma maldicao, colocada sobre nos, O diabo é grande demais se vivemos com medo de que nosso futuro esteja em suas maos. © Um escritor ofereceu esta ilustracao muito util: uma simples moedinha, colocada diante dos olhos, pode obs- curecer a luz ofuscante do sol, uma estrela cujo diametro é de 1.392.082 quilémetros. Assim também, se permiti- mos, Satands pode bloquear nossa visdo de Deus. Ele pode nos dar a terrfvel ilusao de ética de que, pelo menos nessa vida, ele é tao grande quanto Deus.*® Lembre-se, Satands adquire mais poder, & medida que nés lhe atri- buimos maior poder! Satands é tao forte quanto nés cremos que ele seja. Os israelitas acreditaram que Jeric6é era uma cidade inconquistavel e por isso e/a era realmente. Os morado- res da cidade, entretanto, viram as coisas de modo dife- rente: estavam aterrorizados com a presen¢a do povo de Israel e perguntando-se por que nao tinham vindo rei- vindicar sua heran¢a 40 anos antes. Realmente, Josué e COLOCANDO 0 DIARO HM SEU DEVIDO LUGAR 21 Calebe sabiam que “a protegéo deles se foi” (Nm 14,9), Nao foi o poder da cidade, mas a incredulidade do povo de Israel que retardou a vitoria. Atribuindo & cidade mais poder do que tinha, os israelitas Ihe deram o poder de go- vernar. Da mesma maneira, se crermos que Satands 6) invencivel, ele se conformard a nossa expectativas!) por isso que nunca devemos olhar para 0 diabo, sem olhar também para Deus. Minha segunda premissa é que Deus usa nosso con/li- to com Satands para desenvolver nosso cardter. Hssas lutas nos dao oportunidades de ter nossa fé testada, Nos- sa batalha espiritual é uma sala de aulas, onde podemos aprender sobre 0 engano do pecado e o juizo de Deus — juntamente com sua graca e poder. Deus poderia ter ba- nido Satands para outro planeta ou té-lo jogado imedia- tamente no lago de fogo. Ele, contudo, escolheu usar 0 diabo, e dar-lhe um papel a desempenhar no drama divi- no. Deus sabe que temos de lutar, antes de podermos ce- lebrar. Temos que aprender, antes de sermos aprovados. Deus permite o reinado temporario de Satands, como 0s puritanos costumavam dizer, “para aumentar a eterna alegria dos santos”. Deus nao nos langaria nesse conflito se também nao nos desse os recursos de que precisamos para vencer 0 ini- migo. Isso nao quer dizer que sempre tiramos proveito dos beneficios que sao nossos, como cristaos. Tenho expe- rimentado minha cota de fracassos na luta contra o prin- cipe das trevas; entretanto, interpreto esses fracassos como minha responsabilidade — responsabilidade que divido com outros crentes, os quais também sao parte do mesmo Corpo de Cristo. Varios capitulos deste livro séo dedicados ao que te- mos chamado de “batalha espiritual”. Tento mostrar 22_A SERPENTE DO PARAISO como podemos reconhecer as estratégias mais comuns de Satands contra nés. Acima de tudo, afirmamos com con- fianga que estamos numa guerra a qual podemos vencer. Estamos lutando contra um ser que tem todas as limita- gdes de uma criatura. Somente a Biblia pode nos ajudar a avaliar os concei- tos sobre Satands popularizados por Dante, Miltone Goethe. Nas Escrituras, deparamo-nos com um inimigo de Deus, mas que, a despeito disso, tem de se submeter aos propésitos divinos. Deparamo-nos com um ser que nunca reinaré ou atormentara as pessoas no inferno; também nao é 0 diabo fruto da nossa imaginagéo, ou um ser que podemos ludibriar, por pensarmos que somos mais espertos que ele. Terei falhado com vocé, leitor, se, ao terminar de ler este livro, nao tiver uma fé mais forte na vitéria de Deus. Oro para que me seja dada sabedoria para nos lembrar de que Satands é grande para nés, mas nao para Deus. Devemos ter temor e reveréncia diante de um Deus que pode usar um rebelde para glorificar 0 seu nome. Nunca devemos olhar para Satands, sem olhar tam- bém para Deus. Pao A estrela que comeu o po da terra ec E stavas no Eden, Jardim de Deus” (Ez 28:13). Com esta nica declaracao, entramos em um mundo que simplesmente vai além da nossa compreen- sao. Um mundo de beleza, paz e unidade. fF um mundo tao diferente de tudo 0 que jd experimentamos, que ul- trapassa o limite da imaginagao. Ver os jardins do pala- cio Schonbrunn em Viena ja nos deixa extasiados, imagi- ne entao “o jardim de Deus”! Mesmo ali, em um mundo que ultrapassa nossa com- preensao, uma criatura gloriosa escolheu fazer uma jo- gada arriscada e tudo deu errado. Ele derrubou uma sé- rie de pecas de dominé enfileiradas, inter-relacionadas de uma forma totalmente desconhecida para ele. Sua atitude, uma vez consumada, repercutiu por toda a eter- nidade; o Universo inteiro estremeceu, abalado com o grande choque. Ainda hoje, vocé e eu sentimos seus efeitos dolorosos. 24_A SERPENTE DO PARAISO Essa foi a maior de todas as jogadas arriscadas; foio movimento inicial de um drama — com certeza nao de uma comédia, mas de uma tragédia de proporcées gigan- tescas. E claro que Deus usaria tudo isso para sua gloria; na verdade, existem evidéncias de que tudo fazia parte de um plano anterior, Isso, contudo, nao diminui 0 im- pacto brutal daquele dia tragico, quando uma das criatu- ras de Deus deu o primeiro passo em uma trajetéria que o levaria cada vez mais longe de sua posicao privilegia- da, de influéncia e realizagao. Para descobrir os detalhes, voltamo-nos para a Biblia, o livro que nos conta sobre os eventos registrados no mundo invisfvel, que nunca poderfamos conhecer por ndés mesmos. A cortina é aberta e somos apresentados aos personagens desse drama. Quando olhamos mais cuida- dosamente, percebemos que nés também estamos no pal- co, participando do conflito das eras. Quem era ele? Quem era essa criatura que trocou a paz pela guerra? Quem era essa criatura desorientada, que pensou trocar a servidao por um possivel reinado? Seu nome era Lucifer, ou “aquele que brilha”. Ele era o “portador da luz”. Nao tinha luz natural em si mesmo, mas devia re- fletir a luze a gléria de Deus. Deus nunca criaria um ser tao grandioso e belo, idén- tico a Ele préprio. Qualquer criatura teria que necessari- amente estar abaixo da perfei¢fo infinita do Todo-Pode- roso. Portanto, Liicifer era muito menor que Deus, mas, evidentemente, foi o “melhor” ser que o Criador formou. A Biblia nos convida a abrir a cortina e olhar as razdes da rebeliao de Lucifer. Dois profetas do Antigo Testa- mento contam a histéria de um ser que era mais que um A ESTRELA QUE COMEU O PO DA TIERRA J) simples rei humano; eles nos introduzem aquele mundo onde a grande jogada césmica foi realizada. Ambos, tanto Isaias como Ezequiel, contam a mesmit histéria, mas de pontos de vista levemente diferentes. Ou dois pronunciam palavras de adverténcia contra reis or- gulhosos da época. Ambos lembram aqueles monarcas que Deus jamais permitiré que sigam adiante com sua arrogancia e rebeliao. Ele os derrubara do seu alto pe- destal de cinico elitismo. De repente, os profetas entram em uma descrigaéo que jamais seria aplicada a qualquer ser humano; descre- vem um ser mais poderoso, que esta por tras dos manda- tdrios desse mundo. Eles falam de uma criatura que uma vez possuiu uma formosura espantosa, mas que depois tornou-se totalmente maligna. Era como se olhas- sem para tras, pelo corredor da histéria e vissem a gloria do Universo. Somos apresentados a uma criatura que vivia no jardim de Deus, mas que terminou no abismo do desprezo e da humilhacao. Vamos deixar que Ezequiel fale por simesmo: Veio a mim a palavra do Senhor: Filho do homem, levanta uma.lamentagao sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: assim dizo Se- nhor Deus: Tu és 0 selo da perfeicao, cheio de sabedoria, perfei- to em formosura. Estavas no Eden, jardim de Deus; cobrias-te de toda pedra preciosa: 0 sdrdio, o topazio, o diamante, o berilo, 0 6nix, ojaspe, a safira, o carbtinculo e a esmeralda, Os tews engastes ¢ os ornamentos eram feitos de ouro; no diaem que foste criado foram eles preparados. Tu eras querubim da Muarda ungido, e te estabeleci; estavas no monte santo de Deus, andavas entre as pedras afogueadas. Perfeito eras nis tous caminhos, desde o dia em que foste criado, atl qt ne acho inigiidade em ti. Na multiplicagao do teu comdrole we —_— 26 A SERPENTE DO PARA[SO encheu o teu interior de violéncia, e pecaste; pelo que te langa- rei profanado fora do monte de Deus, e te farei perecer, 6 querubim da guarda, entre as pedras afogueadas. Elevou-seo teu coragdo por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor. Por terra lancei, diante dos reis te pus, para que te contemplem. Pela multidao das tuas iniqitidades, pela injustiga do teu comércio profanaste os teus santudrios. Eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo que te con- sumiu, e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplam. Todos os que te conhecem entre os povos estdo espantados de ti; chegaste a um fim horrivel, endo mais existirds (Bz 28.11-19). Se vocé perguntar por que, durante séculos, os estudi- osos da Biblia tém chegado a conclusao de que Ezequiel profetiza inicialmente sobre o rei de Tiro, mas no térmi- no faz mengao a Lucifer, descobrira que essa descrigao nao pode se referir a qualquer ser humano. O rei de Tiro nunca foi “cheio de sabedoria e perfeito em formosura”, e jamais foi “querubim da guarda” e muito menos “perfeito em todos seus caminhos”. O rei de Tiro (nunca foi) “querubim da guarda ungido” Portanto, para que esse texto faga sentido, precisa- s interpreta-lo de forma espiritual, ou supor que uiel falava de um ser que estava por tras do rei de. . Em virtude de a Biblia ensinar que Satands go- verna as nacgoes, é razoavel supor que o profeta referia- a Aquela criatura angelical que um dia mereceu a des- crigfo dada nessa passagem, mas que depois arrogan- Jemente rebelou-se contra Deus, o seu Criador. Aquele A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA THA BP que era 0 apice da criacao, viveria para sempre Na Ver gonha e no desprezo. Consideremos essa descricao mais cuidadosaments “Estavas no Eden, jardim de Deus; cobrias-te de toda pe dra preciosa: 0 sdrdio, o topdzio, o diamante, o berilo, o nix, o jaspe, a safira, o carbiinculo e a esmeralda” (v. 13). Esse Eden nao era o paraiso terrestre, pois essa 6 uma descrigao da beleza mineral, e nao menciona a vegeta- cao. Esse 6 um jardim adornado com jéias e toda forma de riqueza, um paraiso adequado para alguém que, como criatura, era perfeito. Lucifer era a obra-prima do Todo- Poderoso, um espetaculo, cuja presenga trouxe gléria para seu Criador. Ele representava o melhor da criagao de Deus. As tarefas que ele executava O que Lucifer fazia, naqueles dias gloriosos, quando 0 Universo experimentava a tranqiiilidade da perfeigao? Nés lemos: “Tu eras querubim da guarda ungido, ete es- tabeleci; estavas no monte santo de Deus, andavas entre as pedras afogueadas’” (v. 14). O que Ezequiel queria dizer com a expressao “querubim ungido”? Talvez fosse uma referéncia geral de seu servico no reino de Deus. Barnhouse, em seu livro A Guerra Invisivel, sugere que a expressao se refere a uma funcdéo sacerdotal, associada aos querubins, os quais lideram a adoragéo no Céu. As asas de dois queru- bins, vocé deve lembrar, estavam estendidas sobre a arca da alianca. Para confirmar essa interpretagao, te- mos a expressao “teus santudrios” (v. 18), aparentemen- te uma referéncia a adoragao. Se esta interpretacao estiver correta, torna-se eviden= te que Lucifer dirigia e organizava a adoracdo dos ou- 28_A SERPENTE DO PARAISO tros anjos. Ele recebia a adoracao dos anjos abaixo dele e passava para Deus, acima dele. Nenhuma parte dessa adoracao deveria se desviar pelo caminho. Apenas Deus era digno de receber o que era dedicado exclusivamente aEle. Nao temos certeza do lugar onde Liicifer tinha seu domicilio. Barnhouse cré que sua esfera de agéo era aqui na Terra. Afinal, um dos desejos de Liicifer foi “subir aos céus”. Embora tivesse acesso ao trono de Deus, a Terra era seu habitat. Era onde ele estava incumbido de exer- cer suas obrigagoes sacerdotais. Muitos outros estudiosos créem que a residéncia pri- mitiva de Lucifer era préxima ao trono de Deus, no Céu. Ezequiel diz que “Por terra te lancei” (v. 17), talvez com 0 propésito de entendermos que foi precipitado para a Ter- ra depois que pecou. Seja na Terra ou no Céu, parece claro que Lucifer era um lider na adoragao e no louvor, diante do Todo-Poderoso. Por quanto tempo ele gozou desse privilégio? Nao sa- bemos; talvez por milhées de anos, ou quem sabe por um tempo bem curto. Milton sugere que a criacgdo de Adao e Eva foi a causa de Lucifer se tornar dominado pelo citime e que pecou logo depois da criacado de nossos pais. De qualquer forma, até pecar, ele existia para ser- vir a Deus, incansavelmente, sem intrigas ou competi- ao. Ele era 0 lider da adoragao a Deus, diretor do coro e coordenador do louvor. Se ele apenas soubesse como era afortunado! Orisco que ele assumiu Ficamos chocadose perplexos poressa simples declara- cao: “Perfeito eras nos teus caminhos, desdeodiaem que foste criado, até que seachou iniqiiidade em ti"(y. 15). A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA TERRA 29 “Foi achada iniqiiidade em vocé!” Com esse surpreendente comentario, temos uma des- crigéo de como 0 pecado entrou no Universo. Este é um comentario inspirado sobre a origem do mal — foi en- contrada iniqitidade em um ser que momentos antes era perfeito! Qual foi esse pecado, essa iniqitidade? Acreditamos que foi a arrogancia: “Na multiplicagao do teu comércio se encheu o teu interior de violéncia, e pecaste... Elevou-se o teu coragao por causa da tua formosura” (vv. 16,17). Sua beleza e posigAo levaram-no a um orgulho endureci- do. No Novo Testamento, Paulo escreveu que nenhum ne6fito devia ser ordenado para o ministério, para que “nado se ensoberbeca e caia na condenagao do diabo” (1 Tm 3.6). A cidade de Tiro orgulhava-se do seu comércio; da mesma maneira, Lucifer tornou-se orgulhoso em seu trabalho como administrador dos negécios de Deus. Es- pecificamente, ao invés de passar todos os louvores para Deus, comegou a receber alguns para ele préprio. Comoo comerciante que rouba um pouco dos lucros que passam sobre sua mesa, assim Lticifer mantinha um pouco da adoragao, e desfrutava do que ele achava que era sua parte. Talvez pensasse que fosse apropriado Deus rece- ber a maior parte da adoragéo e louvor, mas nao tudo. Por que o Todo-Poderoso nao poderia dividir um pouco dessa gloria com suas criaturas, principalmente com aquela que era a mais brilhante e a melhor? Aqui encontramos um enigma teoldégico que tem pos- to A prova as mentes mais brilhantes, durante séculos: Como uma escolha injusta pode nascer no coragao de lum ser justo? Mais especificamente: por que uma oriatura sem defeito se tornaria insatisfeita em um 30_A SERPENTE DO PARAfSO mundo perfeito? Trata-se de um ser que evidentemente alegrava-se em servir a Deus; se estava satisfeito, por que entao se rebelou? Muitos te6logos atribuem esta decisao ao livre-arbi- trio. Dizem que ele tinha uma opgao diante de sie como umacriatura livre (mesmo perfeita), sempre teve o poten- cial para se desviar. Talvez essa seja uma parte da hist6- ria e temos de concordar que Lucifer nao foi coagido por Deus ou por outro anjoa realizar o que fez. Assim mesmo, ainda ficamos com 0 enigma: Por que tal criaturadesejou desafiar Deus? Mesmo que ele tivesse livre-arbitrio, nao entendemos por que ele escolheu aquela op¢ao. Talvez, a melhor resposta seja que nao ha resposta. Ou, se colocarmos isso de forma mais acurada, nfo existe uma resposta que nés, como seres humanos, possamos discernir, Deus tem uma resposta — talvez algum dia Ele nos dé a chave para a solugao do enigma. Até 14, nés simplesmente nao sabemos por que Licifer repentina- mente permitiu que a iniqiiidade brotasse em seu ser. No entanto, sabemos que Lucifer se enganou, quando pensou que a rebeliao seria necessdria, se quisesse colo- car seus préprios interesses em primeiro lugar. Ele fa- lhou em perceber que, mesmo motivado por interesses egoistas, a obediéncia ao seu Criador seria a melhor op- cao. Para colocar isso de outra forma: o melhor de Deus para ele e o melhor que ele queria para si mesmo, na yer- dade, eram a mesma coisa. O mau julgamento de Lucifer é um alerta para nos. Nunca devemos pensar que nossa obediéncia é o melhor para Deus, mas que nao é 0 melhor para nés. Quando nos manda obedecer-lhe, Ele nao tem somente os seus me- lhores interesses em mente, mas os nossos também. E A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA TERRA 31 por isso que nunca somos mais sdbios do que quando es- colhemos seguir a vontade de Deus, a qualquer prego. Contra todas as probabilidades racionais, Lucifer per- mitiu que sua vontade competisse com o desejo de Deus. Consumido pelo citime e pelo desejo ardente de ser reco- nhecido merecedor do louvor, decidiu fazer o que queria, ao invés de realizar o que Deus designava que fosse feito. Qualquer que tenha sido a satisfagaio momentanea que experimentou dessa decisao, ela seria sobrepujada pelo desprezo eterno que teria de suportar. Ele, contudo, nao pensava no que aconteceria ld na frente. No momento em que ele jogou os dados, estava conde- nado ao desapontamento. Colocava o seu futuro em uma “maquina caca-niqueis” que nao paga os lucros. Ele cal- culou mal o poder e as intengdes de Deus. Qual era sua motivagao? Ja aprendemos que Liicifer escolheu seu proprio ca- minho, movido pela sede de que era merecedor de louvor. Mesmo hoje, enquanto escrevo estas palavras, ele ainda deseja o que agora ja sabe que jamais tera. Como 0 nau- frago, que engole Agua salgada e entao descobre com horror que ela s6 aumenta sua sede abrasadora, assim Satands bebe somente para aumentar sua frustragao e apressar seu destino. Isaias conta uma histéria similar. Inicialmente, aler- tao rei da Babilonia, depois, como Ezequiel, descreve 0 ser que esta por tras daquele monarca. Ele relaciona cin- co objetivos que Lucifer estabeleceu para si. Se for ver- dade, como ensina a Noya Era, que o que a mente acredi- ta, ela pode alcangar, Lucifer deve ser parabenizado por sua ambigao. 92_A SERPENTE DO PARAISO Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei 0 meu trono; no monte da congregacao me assentarei nas extremida- des do norte. Subirei acima das mais altas nuvens; serei seme- lhante ao Altissimo (Is 14.13,14) Nada de aspiragoes modestas aqui. Esses clamores de- monstram um desejo progressivo e representam 0 anelo de uma cinica arrogancia. “Eu subirei ao céu”. Costumamos dizer que os passaros “vyoam no céu”; mas, acima da atmosfera, temos 0 céu estelar, circundado por incontaveis estrelas; e existe tam- bém um terceiro céu, que é a propria habitacao de Deus. Liicifer ja tinha 0 privilégio de visitar o mais alto céu, para oferecer louvores a Deus. Agora, quando diz que deseja “subir ao céu”, ele declara que gostaria de tomar 0 lugar de Deus. Desejava sentar-se no trono do Todo-Po- deroso, se isso fosse possivel. Nao satisfeito com a Terra, almeja um lugar permanente no Céu. Ele quer subir, nao para servir, mas para governar. Nao quer adorar, mas confrontar. Nao quer obedecer, mas rebelar-se. Nao percebe que este desejo pelo mais alto de todos os lugares finalmente ira lev4-lo ao mais baixo de todos os lugares, Ele, que experimentaya a gl6- ria do Céu, sera rebaixado aos piores horrores do inferno. “Eu exaltarei o meu trono acima das estrelas”. Em va- rios lugares, lemos que as estrelas eram freqiientemente usadas como simbolo dos anjos (J6 38.7). Lucifer ja teve autoridade sobre eles, mas era uma autoridade delega- da. Ele almejava ter um poder independente. Queria ser temido e adorado. Cansado de obedecer, agora queria dar ordens, de acordo com seu préprio capricho e nao segun- do os planos de Deus. Se me A ESTRELA QUE COMRU 0 po UA SOTA al “exaltarei o meu trono; no monte da congregagao met assentarei, nas extremidades do norte”. Uma montanha freqiientemente simboliza um reino ou uma nagéo (Is 2.2). Laicifer almejava ter a autoridade de Deus, para governar sobre um reino. Estava obcecado em ter seu préprio domfnio. Para ser mais preciso, ele queria roubar 0 territério que pertencia somente a Deus. “Subirei acima das mais altas nuvens”. A gléria de Deus é manifesta numa nuvem (Ex 16.10). Essa gloria, chamada pelos tedlogos de shekinah, representava a propria esséncia da presenga de Deus. Lucifer deseja estar acima das nuvens, mesmo acima da gléria de Deus, se pudesse. “Serei semelhante ao Altissimo”. Finalmente, ele reve- lao seu maior desejo. Queria ser semelhante a Deus. Ele viu a gloria e a honra que o Todo-Poderoso recebia e que- ria tudo aquilo para si. Ser adorado tornou-se sua paixio consumidora. Por favor, note que seu desejo era ser se- melhante a Deus e nao diferente de Deus. Ironicamente, seu desejo arrogante o tornaria taodiferente de Deus quanto isso fosse possivel! Até Lucifer cometer seu grande erro, havia harmonia no Universo. Cada ser criado por Deus era obediente a sua vontade. Deus era 0 governante, e sua criagio res- pondia as suas iniciativas; mas daquele momento em di- ante, haveria oposicao as instrugées de Deus, Liicifer re- crutaria outros anjos em seus ataques a Deus. Posterior- mente, a humanidade se uniria aquelas hostes angeli- eais na rebeliao. Aoinvés de um plano unificado no Uni- Verso, agora havia milhées de planos, cada um deles di- rigido pela ambigao pessoal. O governo de Deus receberia Oposigéo em todos os setores. 34_A SERPENTE DO PaRAISO Que erro colossal de julgamento Lucifer cometeu! Ele rolou os dados césmicos e nao percebeu que a palavrasu- cesso nunca fora escrita neles. No momento em que a idéia de se opor a Deus entrou em sua mente, jd estava fadado ao fracasso. Ali estava um ser que conhecia 0 Todo-Poderoso e ain- da nao acreditava que os caminhos de Deus eram 0 me- lhor. Ali encontrava-se alguém que nao estava contente em ser servo, mas, pelo contrario, queria ser servido. Po- bre coitado, pois jamais deixard de ser um simples servo! POR QUE A JOGADA FRACASSOU? Eu creio que Licifer sinceramente calculou mal tanto as conseqiiéncias de sua decis&o, como a reagéo de Deus. Repentinamente, se viu no meio de uma situagao que jamais imaginara. Pensou que estaria no controle do seu proprio futuro, mas logo ficou claro que seus “amanhas” seriam determinados justamente por Aquele que ele ar- rogantemente havia rejeitado. Seu suposto salto paraa liberdade foi um mergulho para a escravidao.’ Neste momento, Lticifer aprendeu o que todas as cria- turas precisam saber: podemos ser capazes de controlar nossas decisdes, mas nao podemos estabelecer os resul- tados delas. O pecado aciona a lei das conseqiiéncias nao planejadas. Por que ele estava fadado ao fracasso? Ele era limitado para alcancar 0 que desejava O que Lucifer esperava alcancar quando se rebelou contra Deus? Ele queria ser semelhante ao Altissimo. Mas isso seria possivel, mesmo remotamente? Quando os tedlogos falam sobre Deus, usam trés pala- yras que comegam com 0 prefixo “oni”, que significa sim- A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA TERRA 36 plesmente “todo”. Deus éOnipresente, pois esta presente em todos os lugares; Ele éOnipotente, pois é 0 Todo-Pode- roso; Ele éOnisciente, pois tem todo o conhecimento, Es- ses atributos sao a propriaesséncia da natureza de Deus. Quantos desses atributos Liicifer receberia, se conse- guisse ser “semelhante a Deus”? A resposta é clara: nenhum. Ele jamais seria onisciente, ou seja, nunca poderia sa- ber tudo. Ele sabia que um homem planejava assassinar o presidente dos Estados Unidos, quando este chegasse a Dallas, Texas, no dia 22 de novembro de 1963. Ele nao sabia, contudo, se isso realmente aconteceria. O assassino podia mudar de idéia, a arma podia falhar, ou talvez o motorista do carro, no ultimo instante, resolvesse fazer um itinerdrio diferente. Deus sabe exatamente o que acontecerd, mas Satands é capaz apenas de fazer uma previsao acurada. Embora conhega os planos, ele nao sabe qual sera o resultado final. Ele pode influenciar nas decisdes humanas, mas nunca dirigi-las. Suas previsées mais insignificantes sempre envolvem 0 grande risco de jamais se concretizarem. Isso explica por que, no Antigo Testamento, o reco- nhecimento de um falso profeta era feito As vezes pelo erro de suas previsdes. Apesar de acertar algumas vezes, somente Deus pode prever o futuro de forma infalfvel. Portanto, um verdadeiro profeta de Deus sempre acerta 100% das vezes. E quanto a onipresenga? Liicifer seria capaz de encher todo o Universo com sua presenca? Poderia estar em to- dos os lugares simultaneamente? Nao, ele jamais conse- guiria. Pode viajar rapido, mas quando se encontra na India, nao consegue estar em Washington. Quando tra- va uma batalha em Chicago, nao pode estar numa reu- nitio de oragdo na Coréia. Portanto, nunca sera onipre- _- 36_A SERPENTE DO PARAISO sente. E verdade que multiddes de deménios estao espa- lhadas pelo mundo, realizando as obras do diabo, mas cada um desses anjos caidos também nao pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. E quanto a onipoténcia? Lucifer nunca seria todo-po- deroso. Provavelmente ele nao tem poder nem para criar uma tnica molécula, muito menos para criar estrelas, o sole a lua. Nem pode sustentar o Universo pela “palavra do seu poder”. Quando procura imitar a habilidade cria- dora de Deus, ele sempre apela para as fraudes e falsifi- cagoes. Nao, ele jamais sera onipotente. Em que sentido entao ele poderia ser “semelhante ao Altissimo” Apenas nisso: ele achou que se tornaria in- dependente. Ele sabia que suas realizagées sempre se- riam apenas uma sombra daquilo que Deus pode fazer. A alegria, contudo, de sabe que agiria sem a aprovacao de Deus, fazia o risco valer a pena. Entao poderia dar ordens e nao mais recebé-las. Pelo menos esse era 0 plano. 4 Aironia 6 que na independéncia alardeada por Sata- nas, na realidade, tornar-se-ia outra forma de dependén- cia A vontade e aos propésitos de Deus. Realmente, ele nao dependeria da orientagao do Todo-Poderoso nas de- cisées que tomasse, mas cada um dos seus atos de rebe- liao estaria debaixo do controle cuidadoso e da diregao de Deus. Ele, com certeza, podia desafiar o Criador, mas todas as suas atividades sempre seriam restritas Aquilo que Deus permitisse. Sua independéncia sé a muito custo poderia ser digna desse nome. Como mencionamos no capitulo anterior, ele se rebelou para nao ser mais um servo de Deus e, apesar disso, jamais conseguiu, ou con- seguira, asua independéncia. Mais adiante, neste livro, discutiremos as limitacdes de Satands mais detalhadamente. Aqui, 6 bom lembrar A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA TERRA 37 que ele nfo pode afligir J6é sem a aprovacao divina. Ele s6 conseguiu atormentar Saul, porque foi enviado por Deus a esse monarca. E ele nao péde dar ao apéstolo Paulo um “espinho na carne” sem que Deus determinasse tanto a limitagao do tempo como a severidade. Isso nao soa mui- to como independéncia! De fato, como veremos mais adi- ante, isso 6 escravidao. Se Milton pensou estar certo ao dizer que Liicifer pre- feriu ser rei no inferno do que servo no céu, ele (Lucifer) estava lamentavelmente enganado. Lucifer desco- briu, para seu desgosto, que no final continuaria eterna- mente um servo de Deus. E, como veremos, nao existem reis no inferno! Aquele que odiava a idéia de servir, tornar-se-ia um outro tipo de servo. Ao invés do servigo voluntario, abragaria uma servidao relutante, um servigo com uma motivacao diferente em diregéo a um final diferente; mas, de qualquer maneira, sempre um servo. Final- mente, ainda existiria para a gloria de Deus, exata- mente como fazia quando ambos estavam em har- monia. Satands estava condenado a uma existéncia vazia, interminavel, sem descanso, e miserdvel. Ele sempre se- ria impelido a desprezar a Deus e tentar agir contra Ele. Ainda assim, no final, seria compelido a promover os pro- pésitos divinos. Ao invés da alegria na presenca de Deus, teria eterna humilhacao; no lugar do amor de Deus, re- ceberia a ira e 0 juizo eternos. O orgulho fez com que Liicifer perdesse todos os seus privilégios. Ele assumiu um grande risco, ao achar que, se nao pudesse destronar a Deus, pelo menos conse- guiria estabelecer seu préprio trono, em algum lugar do Universo. Ele subestimou a Deus e superestimou a si mesmo, 38 A SERPENTE DO PARAISO Ele era limitado naquilo que podia prever Liicifer sabia que surgiriam algumas conseqiiéncias devido A sua decisdo, mas no tinha idéia de como seriam. Lembre-se, até esse momento nao havia ne- nhum tipo de rebeliao no Universo. Ele nao podia apren- der com os erros dos outros; e uma vez que cruzou a li- nha, era muito tarde para recuar do seu grande propé6si- to. Mais importante, ele nao podia prever o advento de Cristo para redimir o homem, nem podia contemplar sua propria condenagao eterna no lago de fogo. Ele nao sabia que apenas um terco dos anjos escolhe- ria se unir 4 sua causa rebelde (Apocalipse 12.4 diz que a cauda do dragao “levou apés si a terga parte das estrelas do céu”), Se ele pensou que todos os que estavam sob sua autoridade ficariam ao seu lado em sua oferta de inde- pendéncia, teve de engolir essa decepgao. Pense nisso, Para cada anjo que o respeitava, dois continuaram fiéis a Deus! Talvez Satanas tenha ficado surpreso por ver como o Céu funcionava bem sem sua supervisao e autoridade. Nao importa quao confiante- mente ele exercia seu poder adquirido, pois seu sucesso era apenas parcial. Durante um determinado tempo, ele sé péde remoer o seu erro. S6 lhe restava aguardar que Deus desse 0 préximo passo. Ele era limitado no controle dos danos Apesar de nao termos dito explicitamente, existe pou- ca divida em minha mente de que Lucifer lamentou profundamente sua decisao, no momento em que a mes- ma foi tomada. Ele havia atravessado um portal desco- nhecido, na esperanga de que o abriria para um brilhante futuro, contudo, nao sabia que havia um abismo do outro A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA TERRA 39 lado, Entao, tendo experimentado 0 pecado em primeira mio, ele sabia que perdera a maior aposta de sua carrei- ra. Ele fez a “roda da fortuna” girar e nado percebeu que Deus tinha o controle de cada uma das suas rotacées. Em qualquer lugar que ela parasse, ele sempre seria 0 perdedor — um perdedor por toda a eternidade. Rapidamente, ele aprendeu que nao é gratificante es- tabelecer um reino rival, s6 para descobrir que vai fatal- mente falhar. Por mais agradavel que seja a indepen- déncia, nao ajuda muito se vocé é independentemente derrotado, independentemente atormentado e indepen- dentemente envergonhado. Se ele soubesse disso! Ele pegou o trem errado, mas, depois de corrompido, seguiria adiante até o final. O arre- pendimento era impossivel — por varias razées: Primeiro, Satands era e continua incapaz de se arre- pender; o arrependimento é um dom de Deus, dado as pessoas em cujos coragdes o Todo-Poderoso ja opera. Para Satanas, arrepender-se significaria que existe algo de bom nele; mas nenhuma virtude pode ser encontrada no mesmo. Entao, ele se tornou totalmente mau, irreme- diavelmente perverso. E Deus resolveu abandoné-lo, para o seu fim bem merecido. Como ja aprendemos, um Liicifer perfeito deixou o mul brotar dentro de si, mas desde que a corrupcao esta- va completa, o bem nunca mais existiria dentro dele. Quando era uma criatura perfeita, era capaz de cometer 0 mal, mas, uma vez que foi contaminado, ele jamais se- yiw capaz de fazer o bem. A corrup¢ao seria completa, ivreversivel e total. O pecado entao se tornaria uma ne- ceasidade moral. Segundo e mais importante: mesmo que Licifer se ar- vopendesse, ele nao seria redimido, pois nenhum saerifi- 40_A SERPENTE DO PARAISO. cio foi feito pelos seus pecados. Cristo carregou apenas os pecados dos homens e nao os dos anjos. “Pois na verdade ele nado socorre a anjos, mas sim & descendéncia de Abrado. Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irméos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, a fim de fazer propiciacdo pelos pe- cados do povo” (Hb 2.16,17). Sem uma propiciagao disponivel, o comportamento rebelde de Lucifer tornou-se entao irrevogavel e perma- nente. Daquele momento em diante, sua passagem pelo Universo seria em uma linha reta, direto para uma eter- nidade de vergonha e humilhacao. Para ele, nao have- ria uma segunda chance. Licifer aprendeu uma importante li¢éo: uma criatura pode estabelecer uma confusdo, mas jamais pode endi- reitar as coisas! A lei das conseqiiéncias nao planejadas seria sempre aplicada por toda a eternidade. Somente Deus pode, se assim desejar, conter ou reverter as conse- qiiéncias da desobediéncia. i Ele eralimitado no conhecimento de Deus Oatributo primario de Deus é sua santidade. Lucifer, que desejouser semelhante a Deus, na verdade permane- ceria tao longe desse atributo, quanto seria possivel estar. Nao sabemos 0 quanto Deus se revelaya as criaturas angelicais, mas Lucifer, acredito, devia conhecer sufici- entemente a Deus para saber que Ele jamais dividiria sua gléria com alguém. Quanto mais alto Lucifer aspi- rasse subir, maior seria seu fracasso. Sera que ele julgou mal a Deus, ao achar que o amor do Todo-Poderoso suplantaria qualquer possibilidade de julgamento severo? Nao sabemos, é claro, mas tenha em mente que Lucifer conhecia apenas o perfeito amor de A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA TRERA 41 Deus. O conceito de justica simplesmente néo existia. Desde que nao existia desobediéncia no Universo, nao havia necessidade da demonstragao da ira divina. Lucifer nao previu até onde Deus poderia ir para preser- var sua honra. Liicifer achava que conhecia a Deus, mas ainda tinha muito o que aprender. Se ele simplesmente tivesse confi- ado no que nao conseguia entender e crido no que nao podia saber por si mesmo, seu futuro teria sido diferente. Agora que ele sabia mais sobre Deus, era tarde demais. Ele era limitado para entender a diferenga entre o tempo e a eternidade Licifer deveria saber que nenhuma exaltagao mo- mentanea pode compensar uma eternidade de humilha- ¢ao; ser adorado por um momento nao pode compensar uma eternidade de desprezo; nenhum momento de exci- tagao pode compensar uma eternidade de tormento. Uma hora no inferno fara com que a excitagao de se opor a Deus se desvaneca no eterno esquecimento. Eis aqui uma licao para nés. Nenhuma decisao pode ser considerada boa, se a eternidade prova que ela é ruim. Explicando melhor, nenhuma decisao nessa vida pode ser boa a nao ser que se torne excelente na eternida- de, Somente um ser que conhece o futuro eo passado pode prescrever o que é melhor para nés. Nés julgamos haseados no tempo, mas somente Deus pode revelar os julgamentos baseados na eternidade. Daquele momento em diante, Lucifer venceria apenas pequenas batalhas, mas seria forgado a perder a guerra. He ele apenas tivesse levado Deus mais a sério, nao teria wubestimado a capacidade infalivel do Todo-Poderoso de puni-lo. Se a grandiosidade do pecado é determinada de 42_A SERPENTE DO PARAISO acordo com a grandiosidade do ser contra quem é cometi- do, Lucifer entao cometeu um erro gigantesco. A RESPOSTA DE DEUS Onde estava Deus, enquanto tudo isso acontecia? Como sempre, encontrava-se fazendo “...todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). A queda nao foi surpresa para Ele. Realmente, 0 Todo-Poderoso tinha criado Lucifer sabendo plenamente que ele iria se rebelar; assim, a queda de Satands fazia parte de um grande plano. Se perguntamos por que alguns anjos seguiram Lucifer e outros mantiveram orelacionamento com Deus, descobrimos que a resposta esta no mistério dos propési- tos eternos do Criador. No Novo Testamento, os seres angelicais que nao cairam sao chamados de “anjos eleitos” (1Tm 5.21, ARA). Evidentemente, foram preservados do pecado por decreto de Deus. Os que cairam voluntaria- mente, sem dtivida, estavam cumprindoum plano divino. A queda foi apenas a primeira cena de um longo drama. Deus havia antecipado tudo isso, Muito tempo antes dele escolher criar um tinico anjo, Lucifer e sua futura condenacao ja eram conhecidos e, pode-se dizer, orde- nados. Deus jamais aprende algo novo. Ele nao pre- cisa esperar que um evento acontega para conhecer seus detalhes. Ele conhece todas as coisas, em detalhes, com antecedéncia. Deus entao teve varias opcoes. Ele podia ter exterminado Lucifer, destruindo-o com poder esmagador. Ou devia té-lo banido para outro pla- neta. Ali, num campo de concentragao em um canto escu- ro da galaxia, Satands e seus deménios poderiam re- A ESTRELA QUE COMEU 0 PO DA MORIA 4 moer a insensatez da decisao que tinham tomado, Ou, entao, Deus podia té-lo atirado no lago de fogo imediata- mente. Isso também seria licito e justo. Deus, contudo, decidiu usar Liicifer (0 qual chamare- mos de Satands) para revelar verdades que estariam permanentemente escondidas se o mal n@o tivesse en- trado no Universo. A cortina seria aberta e comecaria 0 drama realizado sobre a Terra, no qual Lucifer e Deus, a justiga, o bem eo mal estariam em constantes conflitos. Eis as regras: 1, Satands receberia o governo do mundo ¢ teria per- missao para espalhar suas mentiras. Sem divida, ele continuou com as admiraveis caracteristicas de poder e de conhecimento que tinha antes da queda, exceto as vir- tudes que foram pervertidas. Séculos mais tarde Cristo referir-se-ia a ele como 0 “principe deste mundo” (Jo 12.31; veja também 14.30; 16.11). E quando Satanas ofe- receu ao Filho de Deus os reinos desse mundo, Jesus nao odesmentiu! Satanas jamais cantara novamente - apenas gemera 2. Deus daria tempo, para ver se Satands governaria 0 seu proprio reino com sucesso. Traria porventura ordem ao caos que ele préprio criou? Governaria bem o mundo, we esse fosse dado a ele? 3. Deus néo comprometeria sua propria santidade e Justiga, mas enfrentaria Satands em igualdade de condi- ges, para conquistar uma vit6ria moral e espiritual sobre 4eu adversdrio. O Todo-Poderoso nao venceria apenas polo poder, mas pela justiga. A batalha nao seria apenas para determinar quem era o mais forte, mas quem esta- re 44_A SERPENTE DO PARAISO va certo e era mais justo. Ambos os lados iriam recrutar outros aliados, para estarem com eles no conflito. Aquele que desejava ter seu proprio reino seria forga- do a provar que sé podia dividir e jamais unir; ele nao podia construir, mas destruir. Ele podia gritar “haja luz”, mas permancceria envolto em trevas e ouviria apenas 0 eco vazio de sua prépria voz. Ele nao podia resistir a ver- dade, mas deveria abragar a mentira. Dali paraa frente, como diz Francis Thompson, Satands jamais cantaria, mas apenas gemeria. Embora seja inteligente, Lucifer nao é sdbio. E nés nascemos com uma gota de sua rebelido em nosso cora- cao. Ficamos entre ele e Deus, no meio do fogo cruzado. Nosso destino sera determinado de acordo com a escolha que fizermos entre o vencedor e 0 perdedor. Quanto a nés, queremos passar a eternidade com o Deus que ama- mos e servimos. O drama apenas comegou. 3 Existe uma serpente em nosso jardim M udar de diregdo nunca é facil. Em 1995, muitos investidores perderam dinhei- ro em uma organizacao chamada Nova Era. Os clientes emprestavam seus délares a essa entidade e recebiam- nos de volta com juros bem altos — em alguns casos, até o dobro do valor investido. Supostamente, doadores secre- tos faziam esses empréstimos com objetivos puramente filantrépicos. Nos bastidores, contudo, os lucros generosos eram garantidos por meio da aquisigao de novos investi- dores. O homem responsdvel pelo esquema garante ter co- megado com boas intengées, mas que sua estratégia sim- plesmente “escapou do controle”. Pelo menos, por alguns «nos, ninguém suspeitou que havia problemas, porque havia dinheiro suficiente para fazer os pagamentos e manter a operagao em pleno funcionamento. Logo, porém, o fundador e diretor da Nova Era teve de onearar uma decisao. Devia admitir a faléncia e enfren- tar as dolorosas conseqiiéncias? Ou devia solicitar mais 46 _A SERPENTE DO PARAISO empréstimos, para manter as coisas funcionando, a fim de adiar a sua prestacao de conta? Lamentavelmente, ele escolheu a segunda alternativa. Quando finalmente oalarme foi dado, seus credores ja eram centenas e nao mais dezenas e 0 prejuizo ja estava na casa dos milhdes e nao mais dos milhares, Quanto mais ele prolongou 0 es- quema, mais dinheiro foi perdido e mais pessoas foram prejudicadas, Da mesma maneira, Satands ignorou todos os sinais de alerta. Mesmo depois da queda, se pensasse com clare- za, talvez tivesse a certeza de que maior desobediéncia s6 poderia resultar em tormento também maior. Embora sua condenacao ao inferno tenha sido decretada no mo- mento em que pecou, se tivesse se retirado da batalha, seu tormento provavelmente seria mais toleravel. Em sua insensatez, contudo, a excitagao de vencer uma guerra momentaneamente apenas adiou a dor maior no lago de fogo no futuro. Assim, temos 0 mal exposto clara- mente: 0 desejo de opor-se a Deus, mesmo sabendo plena- mente que no final o Todo-Poderoso triunfara. Longe de se render, Satands escolheu prosseguir com oconflito. Admitir a derrota era humilhante demais; era melhor seguir adiante, sustentando a rebeliao, do que retirar-se da briga e aceitar a punigao. Ele fingiria que ilusao era realidade, chamaria derrotas de vitérias. Quanto mais expandisse seu governo rebelde, mais reta- liagdo acumularia. Outros anjos foram recrutados. A idéia de criar um reino rival, segundo o padrao do mundo angelical no qual tinha servido, era um projeto tentador. Seu desejo secreto, é claro, era o de ter 0 controle sobre os que esta~ vam abaixo dele nas regides celestiais. Aquele que con- EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM 47 siderava a obediéncia a Deus como escravidao, agora buscava outros para torna-los seus escravos. Como ja vimos, outros anjos o seguiram. Eles esta- vam sob sua autoridade antes da queda e escolheram seguir sua lideranga e unir-se a rebeliao crescente. Seja motivados pela lealdade, ou pela ganancia de conquista- rem seu préprio poder e independéncia, alguns decidi- ram participar da grande jogada. Como resultado da re- beliao, achavam que aleangariam a satisfacado pessoal de escolher seus préprios caminhos e tornar-se-iam par- te de um reino auténomo. Quantos anjos seguiram Satands? Se foi um terco das hostes angelicais, o nimero de rebeldes provavelmente ultrapassou centenas de milhées. Nao sabemos quantos foram criados, mas compreendemos que existem “mi- lhées de milhdes e milhares de milhares” (Ap 5.11). Seja qual for o nimero daqueles que se aliaram a Liicifer, os quais sabiam ou nao o que faziam, no momento em que pecaram, tornaram-se participantes de uma marcha for- gada rumo a destruicgao. O préximo alvo de Satands erao homem., Quando viu (dao eEvaseremcriados, seguramente pensou que eram as criaturas mais estranhas que ja tinha visto. Foram feitos & imagem de Deus e tinham uma capacidade de comunhao com o Criador que nem os anjos possuiam. Logo no inicio, Satanas sabia que valia a pena fazer todo 0 possivel para conquisté-los, em seu ataque contra Deus. Adao e Eva diferiam dos anjos em outra coisa. Eles podiam se reproduzir por meio da procriagao. Podiam se tmultiplicar pela uniao sexual, em vez de serem criados individualmente. Seus descendentes seriam unidos pelo #angue e teriam lagos familiares, como maes, pais, ir- mllos, irmas e primos. 48 A SERPENTE DO PARAISO Essa solidariedade nao tinha paralelos em Satandas e seus seguidores. Quando os anjos pecaram, fizeram isso individualmente. A decisao de um anjo nao afetava dire- tamente a decisdo de outro, Assim, um tergo das hostes ficou do lado de Liicifer e dois tercos mantiveram o rela- cionamento de amor com Deus. Entre os humanos nAo era assim. Se Adao e Eva pe- cassem, eles nado somente contaminariam a si mesmos, como também seus descendentes. Por estarem no topo da raca, esses futuros pais tinham a tremenda responsabili- dade de tomar uma decisao que, fosse boa ou ruim, afeta- ria todo o curso da histéria da humanidade. Nao é de es- tranhar que Satanas tomou um interesse especial por aquelas estranhas criaturas! Satands estava por perto para ouvir as instrucdes que Deus deu a Adao e Eva. Ficou surpreso com a generosi- dade do Criador: “De toda a drvore do jardim comerds li- vremente, mas da drvore do conhecimento do bem e do mal, dela nado comerds; pois no dia em que dela comeres, certamente morrerds” (Gn 2.16,17). Eles podiam comer de todas as arvores do jardim, exceto de uma. Uma tinica proibigéo no meio de milhares de permissdes! Satands esperou pelo momento certo para fazer sua manobra. Ele considerou as opcées. O momento da tenta- cao e os meios que usaria eram muito importantes. Era uma oportunidade que nao podia perder! A ESTRATEGIA DAS MENTIRAS Aqui temos nossa primeira visdo da mente satanica e comecamos a ver como esse anjo caido opera. Como Cris- to disse, ele é “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). So- mente na fraude ele é consistente. Se pudéssemos ver sua assinatura em algum lugar, deveriamos logo procu- rar seus enganos e sedugées. EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM_ 49 Ele mente sobre quem ele realmente é Ele nao apareceu como 0 diabo, 0 adversario de Deus. Ele deveria vir a Addo e Eva revelando sua terrivel firia e suas intengoes malignas, mas jamais teve respeito por propagandas que usam a verdade. Ele chega sob um dis- farce, sem revelar quem realmente é. Ele se transforma em algo que nao é, para enganar os outros. Ele nao vem para assustar, mas para acalmar, encorajar e instruir. Embora Satands possa se materializar em formas humanas, nao pode criar matter ex nihilo, ou seja, criar a partir do nada. Assim, nessa situagao, ele utilizou o corpo de um animal que Deus tinha criado. Escolheu 4 Serpente para ser 0 veiculo que usaria para tentar nossos primeiros pais e trazé-los para debaixo do seu controle e autoridade. Ohomem pode formar sentengas, transmitir conceitos «falar deidéias abstratas, tal como Deus. Poroutro lado, 04 animais s6 podem se comunicar pela percep¢ao, 0 uso de sinais estabelecidos para causar certas respostas. Nao #abemos como Satands se comunicou com aserpente, mas podemos imaginar que o maligno provavelmente lhe dis- ne que s6 ele(Satands) possufa 0 poder de fazer com queela tivesse omesmo dom queohomem adquiriu parase comu- Nicar. Somente ele podia fazer a cobra falar. No final terdo o que ele deseja que possuam Provayelmente a serpente era uma criatura muito bonita, ndo a figura detestavel que rasteja pelo chao. Longe de ficar com medo, Eva sentiu-se atraida por ela. ‘Mla pensou, claro, que estaya simplesmente fascinada por um bonito animal e nao sabia que era atraida por um ‘#0 Invisfvel que buscava sua destruigdo. 16 AARP ENTE DO PARAISO Satands tem usado continuamente essa mesma estra- tégia no decorrer da Historia. Ele nao foi até Davie disse: “fu o odeio e tenho um plano hediondo para sua vida... Quero destrui-lo, e também sua familia e seu reino. Vocé precisa cooperar e cometer adultério com Bate-Seba, der- rubando, assim, a primeira pega da fileira de dominés”. Satands nunca nos mostra as conseqiiéncias das dro- gase do dlcool. Ele esconde habilmente os resultados da pornografia, daimoralidade eda desonestidade. Ele tam- bém nao nos mostra o fim daqueles que mantémcrencas erradas a respeito da Biblia, de Cristo e da Salvacao.Sua estratégia é dar ds pessoas 0 que elas querem, certode que no final terdo aquilo que ele deseja que elas possuam. Normalmente vocé jamais tentaria apanhar um rato sem uma ratoeira. Ela 6 importante porque vocé pode usd-la como uma substituta, para pegar sua vitima, en- quanto yocé mesmo fica fora de vista, Uma armadilha mostra a promessa de comida e realizagav, enquanto mantém as conseqiiéncias escondidas. O rato vé apenas 0 queijo e nao entende a haste de metal e a mola podero- sa. Semelhantemente, Satands quer nos manter igno- rantes sobre as dinamicas complexidades dos aconteci- mentos no mundo espiritual, Ele deseja que as cireuns- tancias parecam corriqueiras e jamais suspeitemos de suas armadilhas. Porque atrds da armadilha, esta 0 ca- cador e atras da mentira esta o mentiroso, Paulo adver- tiu: “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com asua asticia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos, e se apartem da simplicidade que hd em Cristo. Pois se alguém for pre- gar-vos outro Jesus que nés nao temos pregado, ou se recebeis outro espirito que nao recebestes, ou outro evan- EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM 61 gelho que nao abracastes, de boa mente 0 suportais” (2.Co 11.3,4). Satanas esta especialmente interessado em vender outro evangelho, com uma mensagem mais doce e uma falsa garantia. As vezes, ele usa mentiras deslavadas; outras vezes, faz uma mistura de verdade com mentira. Se estamos cegos para uma parte da verdade, ficamos vulnerayeis ao engano. FE ninguém é mais cego do que a pessoa enga- nada, por nao acreditar que pode enxergar! Ele mente sobre quem é Deus A primeira vez que Satands abre sua boca é para fa- zer uma pergunta onde Deus ja fizera uma declaracgao definitiva. Seu primeiro desejo é perverter a opiniao de Adao e Eva sobre o Criador. Ele pinta Deus como egois- ta, indiferente e inseguro diante da potencialidade laten- te da natureza humana. Assim, Satands faz sua per- gunta: “E assim que Deus disse: ‘Nao comereis de toda drvore do jardim’?” (Gn 3.1). Quando Eva responde que existe apenas uma arvore da qual foram proibidos de co- mer e que, se desobedecessem, morreriam, a serpente replica: “Certamente nao morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, os vossos olhos se abrirao, e sereis como Deus, conhecendo o bemeo mal.” (vv. 4,5). Em outras palavras ele disse: “Deus enganou vocés! Ele esconde a yerdadeira razao por que nao permite que comam da assim chamada arvore proibida; se vocés co- merem, serao semelhantes a Ele! E claro que deseja a gloria, nao porque ela legitimamente lhe pertenca, mas porque nao deseja o melhor para a humanidade! Deus 6 ‘desmancha-prazeres’ e mentiroso”. ee 52_A SERPENTE DO PARAISO Nao perca esse ponto: Satanas fez Addo e Eva se con- centrarem na tinica proibigao, na tinica arvore cujo fruto nao deviam comer. Ele os deixou cegos para as centenas de drvores exéticas, enfileiradas nos caminhos do vigoso jardim. O unico ponto negativo foi usado para desacredi- tar os incontaveis pontos positivos. Satands sabia que se conseguisse fazer com que Eva focalizasse sua atencao na unica coisa que nao tinha, isso tiraria sua alegria por todas as coisas que possuia. Aquele que vem para enganar, acusa Deus de enga- nador. Aquele que nao pode falar a verdade, acusa Deus de nao ser verdadeiro. Satands mente sobre si mesmo, assumindo uma aparéncia inofensiva. E entao mente sobre Deus, fazendo-o parecer ameacador, E sempre foi assim. Mesmo hoje, como crentes, somos tentados a olhar para o mundoe acreditar que temos sido defraudados. Nao sao s6 os adolescentes que muitas ve- zes pensam consigo mesmos: “Imagine as coisas legais que eu poderia fazer, se nao fosse cristao!” E, assim, en- quanto outros experimentam os prazeres do pecado, nés, pobres criaturas que somos, temos de ficar em casa e nos contentar com as maravilhas sem limites da graga in- comparavel de Deus. Assim, os filhos do Rei dos reis fi- cam se lamentando, cheios de autopiedade! Por que somos atraidos pelas tentagées tao freqiien- temente? Porque temos cafdona armadilha de pensar que oscaminhos de Deus ndosaoo melhor para nos, Acredita- mos que nossa obediéncia é boa para Ele, mas nao para nés. Lutero, contudo, tinha razao ao dizer: “todo pecadoé desprezo a Deus”. Seu ponto de vista 6 que ninguém peca tao deliberadamente, quando faz mau juizo de Deus. Se realmente conhecéssemos 0 Todo-Poderoso, sempre esco- EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM 53 lheriamos ajustica. A jogada inicial de Satanas étentar fazer que tenhamos um mau juizo sobre Deus. A titulo de reflexao, sabemos que Deus, na verdade, demonstrava sua bondade, quando colocou uma “cerca” ao redor da arvore e disse: “Nao comam!”. Era uma ex- pressdo da graca e misericérdia e uma prova de queo Cria- dor se preocupava com Adao e Eva e com o futuro deles. Qualquer que sejaa restrigao que Deus coloca sobre nés, é para o nosso bem e nao para o nosso detrimento. Ele mente a respeito dos beneficios da rebelifo A serpente diz 4 mulher, para contradizer a Deus: “Certamente néo morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, os vossos olhos se abrirdo, e sereis como Deus, conhecendo o bem eo mal.” (vy. 4,5). Deus declara: “Com certeza vocés morrerdo”; Satands afirma: “Com certeza vocés no morrerao”. Note as perspectivas conflitantes sobre Deus, apre- sentadas a Adao e Eva. Por um lado, o Criador era muito bom, ao impedir que fizessem algo e morressem. Por ou- tro lado, Ele era muito mau, ao proibir que aleangassem seu maximo potencial. & aqui, entdo, que a serpente substitui a confusdo pelo entendimento: “Vocés serao como Deus, conhecendo o bem e 0 mal!” Esse, vocé lembra, era exatamente o sonho do préprio Satands! Ele queria ser igual a Deus; sonhava em des- tronar o Todo-Poderoso e colocar seu préprio trono nos eéus, E entao diz a Addo e Eva que se lhe obedecerem, poderao fazer parte de sua fantasia. Certamente Satands jd sabia que falharia em sua ten- jaliva de ser igual ao Altissimo. Sua transformagao em dim ser maligno deu-lhe autoconsciéncia; muito prova- ————a—a——————————— CCS 54 A SERPENTE DO PARAISO velmente tornou-o dolorosamente atento quanto as suas limitacées e a impossibilidade de lutar contra Deus. Suas préprias esperancas foram despedacadas; por isso recrutava Adao e Eva para compartilharem seu fracasso eterno. Ele tinha jogado os dados e perdido; agora queria que eles jogassem os mesmas pedras, pois sabia que sai- ria para eles o mesmo resultado terrivel. Entao, eles comeram e provou-se que Satanas estava errado. Eles morreram no dia em que comeram o fruto proibido. Seus corpos comegaram a definhar fisicamen- te; sua deterioracéo seria lenta, mas inevitavel. Morre- ram espiritualmente, porque foram separados de Deus. KE iriam morrer também eternamente, a menos que 0 Todo-Poderoso interviesse. Satands estava certo nesse aspecto: Adao e Eva ti- nham agora conhecimento experimental do mal. Eles realmente conheciam “beme mal”, exatamente como eram. Suas consciéncias foram poluidas e sentiram forte- mente sua alienacao de Deus. A corrupgao tinha encon- trado seu caminho dentro de suas almas. Sera que os seguidores da Nova Era tém razao ao di- zer que o homem na verdade saiu ganhando na queda do Eden? Sera que foi realmente uma queda para cima? Eles ensinam que a serpente e a mulher sao as redento- ras, porque seu ato trouxe ilumina¢ao ao homem. Afinal, foi o fruto da arvore que lhes deu esse conhecimento es- pecial, o qual estava escondido deles. Nés, contudo, nado nos tornamos iguais a Deus tendo um conhecimento experimental do mal. O que Addo e Eva conseguiram foi uma descoberta terrivel. Francis Schaeffer diz que é igual ao conhecimento de uma crian- ¢a, cuja mae diz: “Nao chegue perto do fogo”, mas ela de- EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM 55 sobedece, cai no fogo e passa os préximos trés dias agoni- zando, antes de morrer. A crianga aprendeu algo — mas aque preco! Cada vez que pecamos, nos afirmamos a mentira original do Eden Adao e Eva deveriam ter conhecimento de Deus e da criacao. Foi-lhes dado (ou podiam aprender) tudo 0 que fosse necessdrio para governarem o mundo. Nao é erra- do buscar conhecimento, mas é tragico buscar esse tipo particular de conhecimento. O ENGANO QUE FUNCIONOU Adao e Eva tinham o privilégio de andar com Deus todas as tardes no jardim. Havia muitas arvores das quais podiam comer. Se tivessem qualquer necessidade, podiam té-la mencionado ao Todo-Poderoso e Ele, muito provavelmente, teria satisfeito todos os desejos do cora- cao deles. Esse era o paraiso de Deus. Ainda assim, lemos: “Vendo a mulher que a drvore era boa para se comer, agraddvel aos olhos, e drvore desejdvel para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu” (v. 6). Cercados por uum ambiente perfeito, Addo e Eva pecaram. Em uma mensagem ministrada na Igreja Moody, Warren Wiersbe comentou sobre os passos progressivos na decisdo de Eva, quando acreditou na serpente: Blaviu e tornou-securiosa. Blapegou e tornou-se uma ladra. Blacomeu e tornou-se rebelde. Bladeu e tornou-se uma tentadora. ee ———————————————— 86_A SERPENTE DO PARAISO Adao, ao lado de sua esposa, nao fez nenhuma objecao quando ela gentilmente arrancou o fruto da arvore. E, depois que comeu, compartilhou com 0 marido e ele co- meu com ela. Eles acabavam de ser apresentados a men- tira que agora domina 0 mundo: a mentira de que acria- tura pode ser igual ao Criador. Todas as outras mentiras sao apenas uma extensao dessa. Cada vez que pecamos, estamos afirmando a mentira original do Eden. O Novo Testamento diz que Eva foi enganada, mas Adao nao (1 Tm 2,13,14), Ela foi enganada porque acei- tou a serpente como uma mensageira de Deus. Achou que aquele animal fora enviado pelo Criador para escla- recer a revelagéo original. Estava disposta a aceitar essa “revelagéo complementar”, embora estivesse em desa- cordo com a revelacao anterior — ou pelo menos achou que essa ultima revelacdo anularia a outra. Como Eva poderia saber que a serpente nao falavada parte de Deus? Nao seria perguntando como se sentia a respeito; nao seria analisando o fruto saboroso, para ver se realmente tinha uma aparéncia ma, ja que na verda- de parecia muito bom. E nem seria avaliando a entona- cao da voz da serpente, para ver se realmente era sincera. Muitas pessoas sao enganadas por causa de tais senti- mentos subjetivos sobre a fonte da revelagao. Os falsos profetas e o préprio Satanas podem falar com um tom de voz que transmita tranqiiilidade e esperanga. O tinico recurso que Eva deveria usar seria o de comparar as pa- lavras da serpente com as de Deus. De acordo com nossa prépria razao, faria sentido pen- sar que, se Deus criou o fruto e ele parecia bom, deveria ser excelente para comer. A razéo humana é limitada e nao pode ver o quadro maior; as coisas simplesmente po- dem nao ser o que aparentam. EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM 57 A arvore nao era m4, nem daria um fruto mau. Tudo o que Deus criou era bom. Nao havia nada intrinseca- mente naquela drvore que a tornaya diferente das ou- tras, Deus podia ter dito: “Nao atravessem aquele ria- cho” ou “Nao subam naquela montanha”. A arvore era apenas um teste para ver se o homem obedeceria a voz de Deus ou a da serpente, que alegava falar em nome do Todo-Poderoso. Se Eva quisesse se preservar do erro, deveria ter cha- mado a serpente de mentirosa, Sua responsabilidade nao era a de olhar paradentro de si mesma, tentando calcular qual caminho seria melhor, mas olhar para/ora de si, para uma revelacao objetiva. Ainda hoje os evangélicos debatem sobre se apenas a Biblia é suficiente para nos dar orientacao, ou se precisa- mos de revelagoes e esclarecimentos adicionais. Alguns insistem em que devemos crer em visées, profecias e so- nhos, desde que nao sejam contrarios ao ensino biblico. Outros dizem que tais revelagdes subjetivas, mesmo es- tando em harmonia com a Biblia, so um solo muito fértil para 0 engano. Um pastor evangélico, cuja esposa 0 havia deixado, voltou a igreja alguns meses depois, com outra bem mais jovem. Embora muitos na congregacao acreditassem que 0 divércio e o novo casamento o tinham desqualificado para o ministério, o pastor contou como havia jejuado e orado em seus dias de angustia e o Senhor lhe havia “fa- lado” que deveria retornar e continuar na lideranca da mesma igreja. Evidentemente, a lideranga da igreja sen- tiu que se 0 afastassem do cargo, desobedeceriam a reve- lacao divina. Em vez de julgar de acordo com as qualifi- eacdes relacionadas na Biblia, eles aceitaram a 68_A SERPENTE DO PARAISO experiéncia subjetiva do pregador, que comegou sua ex- plicagdo com as palavras: “Eu busquei ao Senhor e Ele me disse”. Visdes de santos, de Maria e de parentes mortos nao parecem estar totalmente em conflito com a Palavra de Deus, mas aqueles que aceitam essas coisas como reve- lagdes divinas negam que a Biblia sozinha é suficiente como regra de fé e pratica. Dizem que essas revelagoes sdo necessarias para dar orientacao e estimular a fé. A histéria, contudo, tem provado que freqiientemente sao armadilhas que pervertem o Evangelho e fazem com que muitos se desviem, Confundir a voz de Deus com a do di- abo nao é dificil. Tudo 0 que precisamos fazer é nao levar a sério a finalidade da Biblia e comegar a buscar revela- ¢des subjetivas adicionais. Nao esquegamos jamais que em sua primeira aparicao na Terra, Satandés comunicou uma “revelagao” que su- postamente era igual ou até mesmo superior a de Deus. Odiabo adora falar. Ele gosta de fingir que tem uma liga- cao intima com Deus e tudo o que precisamos fazer é ouvi-lo e teremos todas as nossas questdes respondidas, Embora Eva tenha sido enganada, Adao comeu cons- cientemente. Ele sabia que aquela mensagem nao vi- nha de Deus, mas decidiu entrar na aventura junto com aesposa. Nao é verdade que algo proibido é mais gostoso? Aindependéncia n4o traz uma excitacao que a obedién- cia nao pode gerar? Como aconteceu com Licifer antes deles, Addo e Eva descobriram entao que nada mais seria a mesma coisa. Para Adao, o solo seria amaldicgoado e ele ganharia seu pao por meio do “suor do seu rosto” (Gn 3.19). A Eva foi dito: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gra- videz; em meio de dores dards & luz filhos; 0 teu desejo sera para o teu marido, e ele te governara” (v. 16) EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM 69 Adio e Eva descobriram o que o diabo ja sabia: as con- seqliéncias da desobediéncia sao imprevisiveis e total- mente fora do nosso controle. A vergonha que sentiram ora apenas o inicio de uma vida com peso no coracao, pura eles e todos os seus descendentes. Eles nao podiam, (claro, prever a traicdo, violéncia e crueldade que viriam sobre a Terra. Eles jogaram uma pedra montanha abai- *0 e descobriram horrorizados que tinham comecado uma avalanche. O CETRO FOI DERRUBADO Adao e Eva, enganados por umanimal! ‘Tinham autoridade para expulsar aquela criatura do im; podiam té-la banido da face da Terra. Podiam ter do o dominio dado por Deus a sério e dito nao aos ca- prichos daquela criatura. Apesar de tudo isso, eles agi- vam insensatamente, de acordo com as sugestoes dela! Ouca o que o proprio Deus disse: “Fagamos 0 homem a a imagem, conforme a nossa semelhanga; tenha ele n.inio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, abre os animais domésticos, sobre toda a terrae sobre udos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26). O mom, criado a imagem de Deus, tinha dominio sobre » o mundo ao seu redor. Adao e Eva deviam estar en- Deus e tudo o que Ele tinha criado. Como Francis i#hneffer mencionou, esse dominio era prova de respon- dade moral: nao deviam supor que qualquer coisa verdade. Deviam governar 0 mundo de acordo com ipios de Deus. peixes e répteis — todos esses animais esta- dobaixo da autoridade dos dois. A serpente que apa- sem ser convidada no jardim deles, e falou com Eya ——$----~Sss 60 _A SERPENTE DO PARAISO tao calorosamente, também estava sob o comando de Adao. Se os passaros e peixes estayam sob 0 dominio dele, a serpente com toda certeza teria ido embora com uma simples palavra de nosso primeiro pai. Inacreditavelmente, Adao foi seduzido por uma cria- tura que estava abaixo dele. Ele fugiu da responsabili- dade, dada por Deus, e aceitou a palavra de um animal irracional. O homem, que podia andar ereto no meio de todas as criaturas, entao se curvou diante da sugestao de uma cobra. Adao derrubou 0 cetro e Satanas 0 pegou. O homem, criado para ser o poderoso da Terra, tornou-se um escra- vo, acorrentado, em todos os sentidos: * Ele semeia, mas nao sabe se iré colher ou nao; © Eleconstréi, mas nao sabe se o trabalho de suas maos sera destruido por tornados, furacées e terremotos; ¢ Ele experimenta sua liberdade sexual e termina com relacionamentos ilfcitos, traicgao e doengas sexualmen- te transmissiveis; * Eledescobre a cura para uma doenga, apenas para ser assombrado por outra;. ¢ Eleestabelece relacionamentos, apenas para ser ven- cido por citimes, desconfianga e 6dio; ¢ Finalmente, ele 6 um escravo da morte. Nao importa quantos seguros e planos de satide tenha; nao impor- ta quao bons sejam seus médicos; no final, a morte fara sua reivindicacao. Adao e Eva, como o cao na fabula de Esopo que dei- xou cair 0 osso para pegar seu reflexo na agua, desco- briram que haviam trocado a comunhao com Deus por uma miragem. A promessa de Satanas nao sé era vazia, mas também adicionada com veneno. Nao hayia, contudo, retorno. EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM_ 61 No Eden, a coroa escorregou da cabega do homem, Satands a apanhou do pé e colocou em sua prépria cabe- ca, mas sua vitoria nao teve brilho. Barnhouse escreveu: Ele agarrou a espada do poder com ambas as maos, mas asegu- rou pela lamina e feriu-se em suas bordas afiadas; ele nao podia, com suas maos, tomar seu alimento; dai para a frente, tinha que devorar a comida diretamente no solo; e o pé da terra tem sidoo sabor de tudo que ele tem provado.* Agora, ele ameacaria o mundo, como se lhe pertences- se, Ele foi bem sucedido em separar 0 homem de Deus, mas ainda havia muito trabalho a ser feito. Ele queria a fidelidade e a adoracao da humanidade. A RESPOSTA DE DEUS Adio e Eva receberam a devida condenagao No dia em que comeram, eles morreram: a morte é tanto um processo como uma crise. Como processo, come- ou no momento em que comeram o fruto. Quando 0 pro- cesso estivesse completo, ele terminaria em uma crise. Stas almas seriam separadas dos corpos. No entanto, alguma coisa pior aconteceu: a alma do (mem também foi separada de Deus. Adao, Eva e seus ucendentes perderam o ponto de referéncia. Assim acontece com uma lampada que é apagada, acor- “um e descobriram uma barreira de vergonha entre e Deus. ra eles conheciam “o bem e o mal”, por meio de consciéncia despertada e distorcida. Separados de , comecaram também a se separar um do outro. Co- se com folhas de figueira, escondendo-se um do ede Deus. Sentiram até uma separagéo interna, a —_— 62_A SERPENTE DO PARAISO alma separada de si mesma. Viveriam como criaturas sem sossego, em um mundo turbulento. A serpente tambémrecebeu sua condenacao “Visto que isto fizeste, maldita és entre todos os ani- mais domésticos, e o és entre todos os animais selvdticos: rastejards sobre o teu ventre, e comerds po todos os dias da tua vida” (Gn 3.14). Talvez nao seja sem um significa- do simbélico que a cobra, alguém me disse, é 0 tinico ani- mal que nao pode se mover para tras. Ja que a decisao fora tomada, a serpente do paraiso encontrava-se em um caminho estreito, e s6 seria possivel arrastar-se para frente, de um erro para outro. Deus prometeu que “colocariainimizade” entre a ser- pente e a mulher e que a sua semente esmagaria a cabe- ca daquele inimigo. No préximo capitulo, olharemos mais de perto essa promessa da vinda de um redentor. Por agora, devemos apenas lembrar que 0 Todo-Poderoso estava preparado para a confusao que Adaoe Evatinham causado. Emboratenham comido voluntariamente, eles fizeram 0 que Deus sabia que aconteceria; melhor ainda, fizeram o que Deus tinha programado para acontecer. O plano eterno de Deus foi revelado Se alguém segurasse sua cabeca a dez centimetros de distancia da asa de um grande aviao a jato, vocé nao te- ria idéia do que seria aquilo que estava vendo. As peque- nas marcas no metal brilhante dificilmente pareceriam artisticas; 0 comprimento e a largura daquela estrutura seriam desconhecidos para vocé. Se alguém lhe pergun- tasse algo a respeito, vocé poderia ter apenas uma vaga idéia do que seria aquela pequena porcao de superficie dura. Se sua perspectiva fosse aumentada, contudo, a EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM_ 63 medida que fosse se afastando, teria uma nogao melhor dos detalhes. O mistério de Satands e do mal sé faz algum sentido porque Deus nos convida a nos afastar e olhar seu pla- no do ponto de vista da eternidade. E claro que nao ve- mos tudo, mas podemos ter um vislumbre do passado distante. Descobrimos que, antes de qualquer coisa ser criada, Deus ja tinha um plano elaborado: as quedas de Liicifer e do homem ja estavam incluidas no grande designio. Paulo escreveu a Tito: “Para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade, na esperanca da vida eterna que o Deus que nao pode mentir prometeu, antes dos tempos eternos” (Tt 1.1,2). Deus fez uma promessa “antes dos tempos eternos”. Isso nao se refere aos tempos a partir da criacéo, mas sim. 4 eternidade passada, Paulo escreyeu a Timéteo que Deus nos salvou: “...conforme a sua propria determinacao © graga que nos foi dada em Cristo Jesusantes dos tem- pos eternos” (2 Tm 1,9 — grifo nosso). Realmente, o autor da carta aos Hebreus nos diz que somos salvos por meio do “sangue da eterna alianca” (Hb 13.20). Obviamente, a alianga de Deus, feita nas distantes 6pocas da eternidade, nao seria feita com anjos ou ho- mens. O pacto foi firmado entre os membros da Trinda- de, O Deus Pai, que ama seu Filho infinitamente, prome- teu-lhe como presente uma humanidade redimida, como wxpressao especial de amor. Assim, mesmo ha tanto tem- po, a queda do homem e sua subseqiiente redengao ja fio era sé conhecida, mas também fazia parte de um grande plano. Nao é de estranhar que Cristo sempre se referia aos remidos como aqueles que “o Pai me deu” (Jo 6.37; 10.29; 17.9). Jesus disse que o Pai nos ama da mes- ————— 64_A SERPENTE DO PARAISO ma maneira que ama 0 Filho, eo Filho era amado “antes da fundacéo do mundo” (Jo 17,23,24), Sim, fomos ama- dos muito tempo antes da serpente ter enganado nossos primeiros pais com suas mentiras! Joao, falando aqueles que permaneceriam firmes na perseguicdo, escreveu: “E adord-lo-Go todos os que habi- tam sobre a terra, aqueles cujos nomes nao foram escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto, desde a funda- ¢ao do mundo” (Ap 13.8). O Livro da Vida nao foi criado porque Deus teve de mudar seus planos, devido ao peca- do de Addo e Eva. Aqueles que seriam redimidosjé esta- vam inscritos nos céus, antes mesmo de nossa primeira mie ter sequer tocado no bonito fruto do Eden. Esse nao é 0 lugar apropriado para tentarmos explicar todas as questdes que temos sobre o que Deus fez e por que Ele o criou. Em vez de lutarmos para entender os de- talhes dos mistérios do plano divino, podemos simples- mente nos regozijar com as palavras de Paulo: “Assim como nos escolheu nele antes da fundagao do mundo, para sermos santos e irrepreensiveis perante ele...” (Ef 1.4). Existe pouca utilidade em alguém ficar tentan- do explicar esse texto, recorrendo a idéias fantasiosas sobre como, para Deus, a eternidade passada na verdade é agora. Deveriamos simplesmente nos alegrar no fato de que o Criador fez a escolha e agiu assim antes que o mundo fosse criado. Nao houve reunides de emergéncia nos céus quando Adao e Eva pecaram. Nao houve necessidade de se can- celar outros planos; nenhuma tentativa desesperada de conter a obra do maligno; nenhuma necessidade de se criar uma estratégia que jd nao estivesse meticulosa- mente planejada. O plano de Deus engloba todas as coi- sas: “Pois nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visiveis e as invisiveis, sejam tronos, se- EXISTE UMA SERPENTE EM NOSSO JARDIM_65 jam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16). Acriag&o do Céu e da Terra—por meio dele epara Ele; entidades visiveis e invisiveis —por meio dele epara Ele; reinos e autoridades —por meio dele epara Ele; anjos bons e maus —por meio dele epara Ele. A queda do homem culminaria em maior adoragao, maior apreciacado e maior demonstragao dos poderosos atributos de Deus, A graga de Deus, sua justiga e seu amor seriam entao demonstrados. Quanto a Liicifer, transformado em Satanas, existiria para a gléria de Deus, como acontecia nas épocas passadas. Seus moti- vos seriam diferentes e Deus o trataria como inimigo e nao mais como amigo, mas ele terminaria obedecendo aos decretos divinos. Satands deixou o Jardim do Eden com apenas metade dos seus objetivos alcancada. Ele teve sucesso em separar o homem de Deus, mas havia muito mais a ser feito. Ele no estava satisfeito com um homem que andaria em seu préprio caminho; ele queria um ser que seguisse os cami- nhos da serpente. Desligado de Deus, mas ligado a ser- pente — esse era 0 desejo do diabo. A fim de atrair o homem para longe de Deus, a serpen- te plantou as sementes das religides ocultas, ao planejar ®saconder-se por tras daquelas armadilhas para receber adoragao. Seu maior desejo era multiplicar as religides, ma esperanga de que o homem tivesse contato com elas, tas pensasse que estava em comunhao com Deus, As cinco mentiras no Eden formam o coragao de todas i religides ocultas, seja na antiga Babilénia ou na Amé- vlea moderna. Quando a serpente fala, pelo menos algu- Mis pessoas escutam. Continue lendo. 4 A nova religiao da serpente ) amos tentar, por um momento, entrar na mente de Satanas. Imagine que alguém tivesse um abominavel desejo de #Nganar todos os habitantes da Terra. Imagine também ‘que ele tivesse a habilidade de soprar pensamentos na inte de algumas pessoas e elas achassem que eram jas proprias. Imagine que este alguém estivesse con- mido pelo desejo de ser adorado. Ele, contudo, nao de revelar sua natureza maligna para a raga humana da esperar ser bem aceito. Entao, este alguém esta- uma religiado alternativa, que faca sentido para 0 nem, mas que ele controle dos bastidores. Seu objetivo vencer os seres humanos que pensam possuir uma \6ncia com Deus quando, na verdade, esto em con- ¢om outro ser . Ser adorado sob um disfarce é melhor nao ser adorado por ninguém. 68 A SERPENTE DO PARAISO Foi assim que as raizes das religides ocultas foram estabelecidas, 14 no Jardim do Eden. Satands nao negou a existéncia de Deus quando tentou Adao e Eva. Seu ob- jetivo nao era transform4-los em ateus. Pelo contrario, sua intengao era persuadi-los a adorar um outro deus. Para resumir, Satands era um concorrente de Deus, de- sejoso de adquirir a fidelidade dos homens. AS CINCO MENTIRAS DO OCULTISMO O ocultismo possui muitas formas, mas, geralmente, tem cinco premissas basicas. Sejam as religides orien- tais, ou o florescente pensamento da Nova Era contempo- ranea, todos sao frutos que se desenvolveram a partir da raiz plantada no Eden. Naquele dia fatidico, Satanas revelou as mentiras pelas quais tentaria enganar o mun- do. Vocé vai reconhecé-las facilmente. Amentira da reencarnacaio Deus tinha dito que no dia em que Adao e Eva co- messem do fruto proibido, “certamente morreriam” (Gn 2.17). E, como j4 mencionamos, apesar de o corpo continuar em pleno funcionamento, 0 processo da mor- te jd tinha comecado, Os dois estavam destinados a se- pultura. Como era de se esperar, Deus estava certo. Opondo-se a clara adverténcia de que morreriam se comessem 0 fruto, Satands ofereceu sua propria promessa: “Certamente nao morrereis!” (Gn 3.4). Era uma contradi¢ao frontal ao que o Todo-Poderoso havia dito anteriormente. Serd queessa mentira de Satanas seria acreditavel? Eu acho que nao e o diabo também sabia disso. Adao e Eva morreram, assim como todas as gera¢ées que se seguiram. Os cemitérios lotados ao redor do mundo sao a prova de ANOVA RELIGIAO DA SERPENT 69 que Satanas estava mentindo. A morte esta aonosso re- dor; todos nés temos medo dela. Mesmo os ateus ficam apavorados com a perspectiva de um dia morrerem. Essa mentira, contudo, com um pouco de ingenuidade @ engano, tem passado a milhées de pessoas. Ela foi re- modelada, recebeu uma nova interpretagdio e tornou-se a doutrina da reencarnagao. Sim, o presente corpo mor- re, todos o esquecem, mas o espirito reencarna em outro corpo, em algum lugar da Terra. Ele fica indo e vindo, com direito a todas as chances que forem necessarias, até atingir a perfeicao. O espfrito leva consigo toda a sabedo- ria que acumula e usa na proxima vida. Nao ha julga- mento; a morte, portanto, nao precisa ser temida. Areencarnagéo ensina que as almas fazem uma espé- vie de ‘brincadeira da cadeira’ com os varios corpos no mundo. Nessa vida vocé é uma pessoa, mas na proéxima ja sera outra. Sempre para a frente e para cima, o proces- #0 nos move incessantemente adiante, enquanto nos ‘perfeicoamos em cada ciclo. Um casal de seguidores da Nova Era, que se beijou e depois ambos se jogaram de ‘uma ponte, deixou um bilhete no carro, no qual o marido ilizia: “Amo todos vocés; gostaria de ficar, mas preciso me 4pressar. O suspense esta me matando”. A reencarnacao é baseada na cruel doutrina do ma, uma lei impessoal e irrevogavel a qual diz que los receberao 0 que merecerem. O mal é sempre puni- ha préxima vida; o bem é sempre recompensado. Isso fica que as pessoas comegam sua vida terrena em diferentes. Alguns, devido ao pecado, perderam 08 privilégios. Outros, devido as boas obras, tornam em altas posicdes e vao muito bem, em seu cami- “ra onirvana. O melhor exemplo disso é visto no 0, no qual todas as pessoas sao divididas rigida- —__—s—S—?s CT? 70 _A SERPENTE DO PARAISO mente em cinco niveis: quatro castas, seguidas por uma categoria mais baixa, daqueles que nem merecem estar em uma casta. O principio bdsico é que o pobre existe para servir o rico. O karma ensina que nao existe injustiga no mundo. Tudo o que acontece é resultado do bem ou mal cometi- dos previamente. Considere a crueldade dessa doutrina. Imagine chegar para uma crianga que sofreu abuso se- xual e dizer: “Vocé recebeu o que merecia, por causa dos pecados que cometeu em outra vida”. Seu engano mais deslumbrante: Uma falsa experiéncia religiosa Shirley MacLaine, a atriz que tem popularizado 0 en- sino da Nova Era, diz com confianga que a morte nao existe. Ela “descobriu” que em vidas passadas tinha sido uma princesa em Atlantis, uma inca no Peru e uma cri- anca criada por elefantes, na Africa. Nessa filosofia, a morte nado deve ser temida, porque, como é entendida tradicionalmente, nao ocorre. Nao exis- te um Deus pessoal, ao qual teremos de prestar contas. Vocé pode viver da maneira que desejar, acreditando em qualquer coisa que queira, Citando Shirley MacLaine, é como estar participando de uma cena de filme: “Vocé con- tinua fazendo e repetindo, até que fique boa”. A reencarnacéo é a mentira do diabo que se tornou acreditavel; 6 um engano engenhoso, remodelado parao consumo popular. A evidéncia da reencarnagao nao é baseada na transmigracao das almas, mas na transmi- gracdo dos demGnios. Aqueles que estao em contato com A NOVA RELIGIAO DA SERPENTE 71 espiritos malignos freqiientemente tém conhecimento de tempos e lugares anteriores. Dequalquer maneira, atualmente, muitos sao engana- dos e concordam com 0 diabo: certamentendo morrereis! A mentira do esoterismo Depois que Satanas brilhantemente conseguiu anular 4 Palavra de Deus, baseada na verdade, o que serviria como substituto? Ele prometeu a Eva que “seus olhosse- riam abertos” (Gn 3.5). Ela teria uma experiéncia diferen- te, ou seja, seria iluminada; isso resultaria em uma per- «epcdo da realidade que lhe daria discernimento mistico. O maior desejo de Satands nao 6 que homens e mu- Theres cometam imoralidade, ou mesmo consultem as- trologia, ou sejam curados por meio de cristais. Todas es- (is coisas sao apenas pequenos passos que levam ao seu engano mais fascinante: uma falsa experiéncia religiosa. Ble quer que os homens encontrem-se com ele e pensem ue estao em contato com o verdadeiro Deus. Essa expe- riéncia da iluminagao é uma “conversao satanica”. Essa filosofia é 0 esoterismo, a crenca em uma trans- formagao de consciéncia que nos inicia na verdadeira spiritualidade. A literatura da Nova Era esta repleta de roferéncias a “luz” ow a “iluminagao”. Na Grécia e Roma gis, essa iluminacaéo era baseada na teoria do conhe- imento secreto que podia ser obtido quando se buscava His profundezas da propria alma. Na realidade, envolve encontro com um ser espiritual. HA muitos anos, Marylin Ferguson escreveu no livro ipiracado de Aquario que uma “mudanga irrevoga- estava para acontecer. Nao 6 um novo sistema, mas nova mente. A sociedade seria transformada por jo de um “conceito ampliado do potencial humano... transformacao da consciéncia pessoal”. SS

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