Professional Documents
Culture Documents
Barata Moura
Barata Moura
Barata Moura
José Barata-Moura
1. Em jeito de introdução
Seja como for, e talvez como mais uma desculpa, o que é certo é que
não partilho inteiramente as reticências kantianas levantadas contra o
«filosofar fragmentariamente» (fragmentarisch Philosophieren), j á que,
em boa parte, nos encontramos adscritos — não digo: condenados — a
«no pensar apenas fazermos ensaios com a razão» {nur im Denken mit
der Vernunft Versuche [zu] machen) . 2
Por outro lado, falar de uma ontologia da acção pode indiciar recurso
exorbitante a uma metafórica liberdade poética que brinca com a conju-
gação imaginosa e imaginária de contraditórios.
Imediatamente considerados, ser e acção parecem excluir-se ou, pelo
menos, parecem integrar esferas de realidade acentuadamente distintas.
Se o universo do ser é o conjunto objectivado dos entes que como
«factos» se deixam dizer em proposições protocolares, o domínio especí-
fico da acção carece de pertinência neste registo, escapa, por definição, a
um alojamento consistente dentro deste marco.
A actividade d e v ê m , assim, uma instância «meta-ontológica» ou
«para-ontológica».
De alguma sorte, é esta aproximação que encontramos subjacente ao
pensar de L u d w i g Wittgenstein no Tractatus.
Se «os factos no e s p a ç o lógico são o m u n d o » , mesmo o agir ou a
4
5 «Die Operation sagt ja nichts aus, nur ihr Resultat», WITTGENSTEIN, WA, 5.25.
6 «Das Subjekt gehört nicht zur Welt, sondern es ist eine Grenze der Welt»,
WITTGENSTEIN, WA, 5.632.
7 «Die Ethik ist transcendem», WITTGENSTEIN, Notebooks, 1914-1916, ed. G. 11.
von WrightcG. E. M . Anscombe, Oxford, Basil Blackwell, 1969, p. 79.
8 «Die Philosophie ist keine Lehre, sondern eine Tätigkeit.», WITTGENSTEIN, WA,
4.112.
9 «en taut qu'agcnt de notre action, nous produisons quelque chosc qu'a proprcmcnt
parier nous ne voyons pas. [...] si le monde est la totalité de ce qui est 1c cas, le faire
ne sc laisse pas inclure dans cclte totalité.», Paul RICOEUR, «L'initiative», Du texte
ci i'action. Essais d'hermeneutique II, Paris, Seuil, 1986, p. 270.
10 Johann Goltlieb FICHTE, Gerichtliche Verantwortungsschriften gegen die Anklage
des Atheismus; Werke, ed. Immanuel Hermann Fichte (doravante: W), n. ed., Berlin.
Walter de Gruyter, 1971, vol. V, p. 261.
54 Prolegómenos a uma Ontologia da Acção
21 Gottfried Wilhelm LEIBNIZ, Systeme nouveau pour expliquer la nature des substan-
ces ei leur communication entre eiles, aussí bien que I'union de 1'ãine avec le corps;
Die philosophischen Schriften, cd. C. J. Gerhardt, reprod. Hildesheim, Georg Olms,
1965, vol.4, p. 472.
22 Georg Wilhelm Friedrich HEGEL, Phänomenologie des Geistes, Vorrede; Theorie
Werkausgabe, red. Eva Moldenhauer e Karl M . Michel (doravante: TW), Frankfurt am
Main, Suhrkamp, 1970, vol. 3, p. 23.
56 Prolegómenos a uma Ontologia da Acção
2. Filosofías da acção
Blondel que, no seu La Pensée de 1934, escreverá: «Se pensar não vai
sem ser, pensar e ser n ã o v ã o sem agir, sem se religarem (relier) por uma
o p e r a ç ã o original, sem uma iniciativa na ausência da qual (faute de
laquelle) a passividade não seria senão nada (néant)-» . 25
23 «L'acte n'est point une operation qui s'ajoute à I'ctre, mais son essence même.»,
Louis LAVELLE, De l'acte, Paris, Aubier, 1937, p. 65.
24 André L A L A N D E , «Action», Vocabulaire technique et critique de la Philosophie
(doravante: V), Paris, PUF, 1962 , p. 23.
9
25 «Si penser ne va pas sans être, penser et être ne vont pas sans agir, sans se relier par
une operation originale, sans une initiative faute de laquelle la passivitc nc scrait que
néant.», Maurice BLONDEL, La Pensée. I I : La responsabiiité de la pensée et la
possibilite de son achèvement, Paris, PUF, 1954 , p. 299.
2
José Barata-Moura 57
26 «our thoughts become true in proportion as they successfully exert their go-between
functions, William JAMES, «What Pragmatism means», Essays in Pragmatism, ed.
Alburey Castell, New York, Haffner, 1948, p. 151.
27 WITTGENSTEIN, Philosophische Untersuchungen, n. 197, Frankfurt am Main,
Suhrkamp, 1977 ,p. 126.
2
31 «Nicht das Sein, sondem die That ist das Erste und Letzte», Moses HESS,
«Philosophie der That»; Philosophische und sozialistische Schriften, 1837-1850, ed.
Wolfgang Mönke, Berlin, Akademie-Verlag, 1980 , p. 210.
2
41 FICHTE, Einige Vorlesungen über die Bestimmung des Gelehrten, V; IV, vol. VI, p. 345.
42 John L. AUSTIN, How to do Things with Words, ed. J. 0. Urmson c Marina Sbisä,
Cambridge (Mass.), Harvard University Press, I978 , pp. 5-7.
3
62 Prolegómenos a uma Ontologia da Acção
43 «Die Kritik der Religion endet mit der Lehre, daß der Mensch das höchste Wesen für
den Menschen sei, also mit dem categorischen Imperativ, alle Verhältnisse umzuwer-
fen, in denen der Mensch ein erniedrigtes, ein geknechtetes, ein verlassenes, ein
verächtliches Wesen ist», MARX, Zur Kritik der Hegeischen Rechtsphilosophie.
Einleitung; MEGA , vol. 1/2, p. 177.
2
José Barata-Moura 63
47 Vejam-se, por exemplo: HEIDEGGER, «Die Frage nach der Technik», Vorträge und
Aufsätze, Pfullingen, Neske, 1954, pp. 11-44, e Die Technik und die Kehre, Pfullin-
gen, Neskc, 1962.
48 Cf. MARX, Ökonomisch-philosophische Manuskripte, I I I ; MEGA , vol. 1/2, p. 263.
2
49 Ernst BLOCH, «Wille und Natur, die technischen Utopien», I I ; Das Prinzip
José Barata-Moiira 65
intérieur et invisible et qui est tel qu'il faut simplemet Vaccomplir pour
qu % soit) . 54
RESUMÉ
64 «Das was ist zu begreifen, ist die Aufgabe der Philosophie, denn das was ist, ist die
Vernunft.», HEGEL, Grundlinien der Philosophie des Rechts oder Naturrecht und
Staatswissenschaft im Grundrisse, Vorrede; TW, vol. 7, p. 26.