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Forma de avaliação: double blind review
A Importância dos Sistemas de Informação para o
Planejamento de Ações e Políticas de Saúde no Programa
de Saúde da Família do Município de Porto Alegre

Licélia de Lima Mendonça


Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)
licelia.lima@gmail.com

Marie Anne Macadar


Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)
marie-macadar@uergs.edu.br

ABSTRACT
After the Federal Constitution of 1988 was issued, the Brazilian health system started using a new
concept of decentralized health management. In 1990, an Act was voted that introduced the Unified
Health System (SUS) and a year later an Information Systems Department was settled to support the
Unified Health System (DATASUS). Based on the assumption that information systems (SI) help to
improve the decision making process, and taking into account the context of the health industry in
Brazil, the following research question was formulated: “How managers of the Basic Health Care
network of Porto Alegre use the information generated by the many information systems of the Local
Authority Health Secretary (SMS) to plan strategies for the Family Health Program (PSF)?” Thus, by
means of a single exploratory case study carried out in Porto Alegre in 2008, the authors identified the
main information systems used by the Family Health Program and, based on data gathered from
those systems about 2006 and 2007, several analyses were performed to check for inconsistencies.
Managers of the Family Health Program were questioned about the discrepancies that were found in
the data used by the Local Authority Health Secretary. Results show that the information systems are
not integrated, data is not reliable, there is little strategic alignment in the Local Authority Health
Secretary and little commitment of those involved with the health area at the local level.
Key-words: policy making; health care; information systems; local government.

RESUMO
Com o advento da Constituição Federal de 1988 foi introduzido, no sistema de saúde brasileiro, o
conceito de descentralização da gestão da saúde. Em 1990, foi criada a Lei Orgânica do Sistema
Único de Saúde (SUS) e no ano seguinte o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
(DATASUS). Partindo-se do pressuposto de que sistemas de informação (SI) podem apoiar o
processo de tomada de decisão, e considerando-se o contexto da área da saúde no Brasil, a seguin-
te pergunta de pesquisa foi formulada: “Como os gestores, da rede de Atenção Básica de Porto
Alegre, estão utilizado as informações geradas pelos sistemas de informação disponíveis na
Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para formulação do planejamento de estratégias do Programa
Saúde da Família (PSF)?” Assim, através de um estudo de caso único de caráter exploratório
realizado no município de Porto Alegre (RS) durante o ano de 2008, foram inicialmente identificados
os principais sistemas de informação utilizados pelo PSF. Posteriormente, com base em dados de
2006 e 2007 advindos desses SI, foram realizadas análises para verificar possíveis incongruências.
Assim, foi possível questionar gestores do PSF sobre as divergências encontradas entre os dados
advindos dos SI utilizados pela SMS. Como resultados deste estudo destacam a não integração entre
os diversos SI utilizados, a falta de confiabilidade dos dados coletados, a ausência de alinhamento
estratégico na SMS e o não comprometimento dos envolvidos na área da saúde municipal.
Palavras-chave: tomada de decisão; saúde pública; sistemas de informação; município.

Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 1


1 Introdução consequentemente na geração de políti-
cas públicas em saúde ineficazes. Da
O Sistema Único de Saúde (SUS)
mesma forma, indicadores pactuados
garante a todos os brasileiros e natura-
entre as diferentes esferas governa-
lizados o direito à saúde, de forma uni-
mentais podem estar sendo utilizados
versal e igualitária, às ações e serviços
de maneira distorcida, já que não refle-
de saúde e ao sistema nacional de
tem a realidade.
saúde brasileiro. A sua gestão, confor-
me a Constituição Federal (1988), deve Assim, surge a seguinte questão
ser descentralizada de acordo com ca- de pesquisa: “Como os gestores, da
da ente federado - Municípios, Estados, rede de Atenção Básica de Porto Ale-
Distrito Federal e União. Já a Lei Orgâ- gre, estão utilizado as informações ge-
nica da Saúde (no 8080, de 1990) regu- radas pelos sistemas de informação
lamenta o SUS e prevê a participação da disponíveis na Secretaria Municipal de
sociedade, garantindo a integralidade, no Saúde para formulação do planejamen-
que diz respeito a todos os tipos de to de estratégias do Programa Saúde
serviços (preventivo, assistencial, espe- da Família?”
cializado ou curativo).
2 Programa Saúde da Família
Importante lembrar que o sistema No Brasil, o Programa Saúde da
de saúde do país está estruturado em Família (PSF) foi criado em 1993, como
três níveis de atenção: A Atenção Pri-
uma tentativa de mudar o modelo de
mária (básica/baixa complexidade), a saúde predominante focado no profis-
Secundária (especialidades/média com- sional médico - modelo medicocêntrico -
plexidade) e a Terciária (hospitalar/alta e na instituição hospitalar - modelo hos-
Complexidade). A Atenção Básica prio- pitalocêntrico. O PSF surgiu como uma
riza a promoção da saúde e a preven- proposta inovadora, passando então, o
ção das doenças. A Secundária atua foco para a família e para a comuni-
quando não for possível prevenir a do- dade, propondo um cenário de mudan-
ença e existe a necessidade de um ças na lógica de funcionamento dos
atendimento mais especializado para a serviços de saúde até então existentes.
resolução do problema. Já o nível Terci-
ário tem como característica principal a O Programa de Saúde da Família
foi idealizado para aproximar os
cura e a reabilitação. serviços de saúde da população.
Para gerenciar todo este sistema Para cumprir o princípio constitu-
cional do Estado de garantir ao
de saúde, e os seus serviços proveni-
cidadão seu direito de receber
entes, a informação pode ser uma atenção integral à saúde - com
ferramenta aliada do gestor. Contudo, prioridade para as atividades pre-
conforme já alertavam McGee e Prusak ventivas, mas sem prejuízo dos
(1998), existe muita disponibilidade de serviços assistenciais - e para per-
mitir que os responsáveis pela
informação, o desafio está em coletar oferta dos serviços de saúde, os
informações relevantes e colocá-las de gestores do SUS, aprofundem o
forma organizada para a interpretação e conhecimento sobre aqueles a
análise. Não há dúvida que a incorreta quem devem servir (BRASIL, 2003
coleta e inserção de dados em sistemas p. 5).
de informação, através da utilização de
recursos humanos pouco qualificados, Em 28 de março de 2006 foi publi-
têm impacto negativo no processo de cada na Portaria No648 que estabelece
planejamento. Implicando, também, em a Política Nacional de Atenção Básica,
tomadas de decisões inadequadas e bem como a revisão das diretrizes e
normas para a organização da Atenção
2 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4
Básica. Dessa forma, o PSF fica conso- profissional que atua em uma popula-
lidando não mais como um programa de ção adstrita, junto à comunidade local.
governo e sim como uma estratégia de Em 2008 são criados os Núcleos
abrangência nacional, devido aos bons de Apoio à Saúde da Família. Com uma
resultados obtidos em municípios onde equipe multiprofissional e especializada
o programa havia sido implantado. em diferentes áreas, tem como principal
A partir de então, a Estratégia de objetivo, ampliar a capacidade resolutiva
Saúde da Família (ESF) é priorizada do PSF, não como porta de entrada pa-
como modelo de organização a ser ra serviços especializados e sim atuan-
adotado em todo o país. Esse modelo do de forma integrada com as equipes
reorienta a atenção básica, tendo em de saúde da família. Essa integração se
vista o foco de atendimento no âmbito dá na formação de parceria, identifican-
familiar, identificando situações de risco, do as necessidades da população,
tais como: tipo de moradia, existência capacitando e qualificando o trabalho dos
ou não de rede de esgoto, água tratada, profissionais, auxiliando nas limitações
coleta de lixo, dentre outros agravantes destes frente a casos que necessitem
que possam interferir diretamente na ser referenciados para especialistas,
saúde da população. O foco passa a ser diminuindo os encaminhamentos e, con-
a saúde de forma preventiva, através de comitantemente, melhorando a resoluti-
um conceito ampliado de saúde. vidade da ESF.
Por um lado, o PSF reestruturou o 3 Ministério da Saúde e o
modelo assistencial brasileiro transfe- DATASUS
rindo para os municípios responsabili-
O Ministério da Saúde (MS) é o
dades e recurso financeiro via Fundo
órgão do governo federal responsável
Nacional de Saúde. Dessa forma, o
por formular e coordenar ações, planos
repasse de recursos não mais ocorre
e políticas públicas em saúde em âm-
pela área de cobertura e sim pela ade-
bito nacional.
são e implantação da ESF no municí-
pio1. Por outro lado, o estabelecimento É função do ministério dispor de
condições para a proteção e recu-
de uma Política Nacional de Atenção
peração da saúde da população,
Básica regulamenta as condições para reduzindo as enfermidades, contro-
a implantação e o funcionamento da lando as doenças endêmicas e
ESF2, onde o processo de trabalho se parasitárias e melhorando a vigi-
dá pela formação de uma equipe multi- lância à saúde, dando, assim, mais
qualidade de vida ao brasileiro
(Site do MS,15/05/08).
1
No modelo anterior, municípios de pequeno Para tal, é imprescindível que ob-
porte eram diretamente beneficiados, pois a
tenha informações oriundas de todo o
implantação de uma ou duas equipes cobria
toda a população e, consequentemente, território brasileiro. Com este intuito foi
100% da verba era repassada. O mesmo não criado o Departamento de Informática
ocorria nos municípios de médio e grande do Sistema Único de Saúde (DATA-
porte, tornando o programa inviável e desin- SUS). Sendo este um órgão da secre-
teressante nestes casos.
taria executiva do MS, é responsável
2
Dentre as regulamentações estão: a defini- por reunir, tratar e disponibilizar dados
ção de carga horária de 40 horas semanais, referentes à saúde no país, advindos de
números de profissionais necessários para
compor uma equipe mínima, número de habi-
diversos sistemas de informação espar-
tantes por equipe, número de famílias por sos nas diversas instâncias (públicas e
Agentes Comunitários de Saúde (ACS), valo- privadas). Considerando a informação
res de repasse, dentre outras.
Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 3
uma ferramenta indispensável para os 4 Sistemas de Informação
processos de planejamento, controle, to-
A informação é essencial à toma-
mada de decisão, execução e avaliação
da de decisão. Os sistemas de informa-
da situação epidemiológica no país, o
ção, informatizados ou não, são a ferra-
DATASUS oferece aos gestores uma
menta para que a informação possa ser
série de softwares que auxiliam na reali-
transformada em conhecimento aplica-
zação dessas atividades. Sua missão é:
do ao planejamento, à organização à
Prover os órgãos do SUS de sis- avaliação e operações de ações de
temas de informação e suporte de serviços e dos sistemas de saúde. A
informática, necessários ao proces-
so de planejamento, operação e atualização constante das informações,
controle do Sistema Único de Saú- o nível de qualidade dessa informação e
de. Através da manutenção de ba- sua disponibilização em tempo e local
ses de dados nacionais, apoio e oportuno são fatores indispensáveis
consultoria na implantação de sis- para a decisão e ação adequada do
temas e coordenação das ativida-
des de informática inerentes ao gestor. Contudo, é importante lembrar
funcionamento integrado dos mes- que a informação é atividade-meio que
mos” (Site do DATASUS, 15/05/08). apóia estes processos.

Em janeiro de 2007 o Ministério da 4.1 Governo Eletrônico


Saúde lança a Portaria No 91 que Através da utilização ampliada das
“regulamenta a unificação do processo Tecnologias de Informação e Comuni-
de pactuação de indicadores e estabe- cação (TIC) os mais variados setores
lece os indicadores do Pacto pela Saú- governamentais iniciaram a disponibi-
de, a serem pactuados por Municípios, lizar ferramentas online para ampliar as
Estados e Distrito Federal.” Assim, são discussões, o acesso à prestação de
criadas novas diretrizes de gerencia- serviços e, em alguns casos, aumentar
mento baseado em metas e indicadores seu nível de transparência. Usualmente,
que devem ser “pactuados” entre os as atividades que compõem o que é
diversos entes da federação. A redefini- denominado de governo eletrônico são
ção das responsabilidades dos gesto- classificadas em três áreas (FERRER e
res, através do Pacto pela Saúde ao SANTOS, 2004, p.17):
mesmo tempo em que os auxilia para o • serviços de utilização direta pe-
efetivo planejamento das ações e poli- los cidadãos e pelas empresas;
ticas de saúde, de acordo com as pecu- • serviços para aumento da qua-
liaridades de sua região, lhes confere lidade e eficiência da máquina
uma série de atribuições. pública;
O DATASUS disponibiliza diversas • recursos para atuação social e
ferramentas de gestão que auxiliam os controle do governo.
gestores do SUS de todas as esferas e Dessa forma, pode-se afirmar que
órgãos governamentais a tomarem deci- o principal objetivo do governo eletrô-
sões estratégicas para o bom funciona- nico é estreitar as relações entre o go-
mento dos serviços baseado em dados verno e os cidadãos, possibilitando um
e relatórios estatísticos. Neste estudo controle social mais claro e efetivo, bem
são abordados alguns sistemas de in- como as relações com empresas e
formação, disponibilizados por este de- indústrias desde a disponibilização de
partamento, que auxiliam o gestor no serviços online até mesmo contratação
desenvolvimento do Programa de Saú- dessas organizações através de pre-
de da Família, hoje tido não mais como gões ou leilões eletrônicos.
um programa e sim como uma estratégia.
4 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4
Através de uma leitura mais apro- como filosofia os princípios do go-
fundada sobre o tema Barbosa et al. verno centrado no cidadão, na
qualidade e produtividade dos ser-
(2004) propõem um modelo de refe- viços públicos. Identifica e discute
rência de governo eletrônico, baseado os meios através dos quais os
em dois grandes vetores: governo- serviços públicos podem ser ofere-
cidadão (“foco no cidadão”) e governo- cidos aos cidadãos e trata as ques-
governo (“foco na gestão da admi- tões ligadas ao relacionamento
entre entidades governamentais e
nistração pública”). Esse modelo (vide não governamentais – G2B, G2C,
Figura 1) considera: G2E e G2G (p.6).
a tecnologia de informação como o
indutor e catalisador do processo
de transformação do estado e tem

Figura 1: Modelo de Referência de Governo Eletrônico


Fonte: Barbosa et al. (2004, p. 6)
Diante da dimensão continental do 4.2 Sistemas de Informação em
país e da diversidade cultural, social e Saúde
política, não é possível analisar as
De acordo com Carvalho e Eduar-
ações de governo eletrônico brasileiras do (1998) os Sistemas de Informação
de forma uniforme. Em todas as regiões em Saúde podem ser classificados
do Brasil existem projetos de sucesso, conforme a sua natureza, a saber:
mas isso não é uma constante. Con-
forme Chahin et al. (2004), alguns pro- • Sistemas de Informações Es-
blemas devem ser destacados tais tatístico-epidemiológicas: são a-
como a ausência de integração entre queles que incluem o conheci-
“...as ações de governo eletrônico e as mento da mortalidade e suas
que visam à inclusão digital em uma causas determinantes, do pa-
direção estratégica, numa ação de drão de morbidade da popula-
política governamental e, sobretudo de ção ou da demanda atendida
política de Estado” (p.52). pelos serviços, dos aspectos
demográficos, sociais e econô-
micos e suas relações com a
saúde da população.

Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 5


• Sistemas de Informações Clíni- • Disponibilizar informações para
cas: referem-se aos dados clíni- atividades de diagnóstico e
cos sobre o paciente, desde sua tratamento.
identificação, problemas de sa-
Assim, no novo modelo de assis-
úde relatados, diagnóstico mé-
tência à saúde, é preciso reverter a
dico, até exames clínicos, labo-
atual situação de centralização de da-
ratoriais, radiológicos, gráficos,
dos, de limitação do seu uso, da demo-
procedimentos cirúrgicos reali-
ra com que são analisados e que
zados ou medicamentos pres-
retornam para o nível local. Para tanto é
critos, dentre outros.
necessário que os dados passem a ser
• Sistemas de Informações Admi- analisados no próprio município, geran-
nistrativas: não específicas do do de forma oportuna subsídios para o
setor da saúde, são as de con- planejamento e para as ações em saú-
trole de estoque, materiais, de, bem como de ações para a melhoria
equipamentos e gestão finan- da qualidade dos dados. Nesse sentido,
ceira. é que o são oferecidos, pelo DATASUS,
diversos sistemas que teoricamente
Mota e Carvalho (2003) ao anali-
oferecem suporte aos gestores locais.
sarem os elementos dos sistemas de
informação em saúde explicitam que 4.3 Softwares disponibilizados pelo
estes devem integrar suas estruturas DATASUS
organizacionais e contribuir para o cum- O Ministério da Saúde, através do
primento das finalidades institucionais e DATASUS, disponibiliza diversos pro-
técnico-operacionais de suas unidades gramas que auxiliam os gestores a
em cada um dos níveis de gestão. mapearem e conhecerem sua realidade
Nesse sentido a OPAS/OMS (1999) através de dados coletados pelos profis-
apresenta uma série de funções essen- sionais da saúde. Esses programas,
ciais destes sistemas, os quais se quando alimentados com dados qualifi-
destacam: cados, geram informações preciosas
• Respaldar a operação diária e a para o planejamento das ações de
gestão da atenção à saúde. saúde e permitem focar em regiões
• Contribuir para conhecer e mo- específicas, de acordo com as particu-
nitorar o estado de saúde da laridades locais, tais como: manutenção
população e as condições so- e gestão de informações sobre o aten-
cioambientais. dimento ambulatorial do SUS, bem
• Facilitar o planejamento, a su- como sua capacidade instalada, quanti-
pervisão e o controle de ações dade de pessoas que necessitam de
e serviços. atendimento, quantidade de profissionais
• Subsidiar os processos decisó- disponíveis por serviço e especialidade,
rios nos diversos níveis de deci- riscos relativos à situação epidemiológi-
são e ação. ca, morbidade, mortalidade, dentre ou-
• Apoiar a produção e utilização tras informações. O Quadro 1, a seguir,
de serviços de saúde. apresenta uma série de softwares e
suas respectivas finalidades.

6 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4


Quadro 1: Distribuição de softwares DATASUS e suas funcionalidades

Finalidade Softwares
GIL (Gerenciamento de Informações Locais), SIASUS (Sistema de Informações
Ambulatoriais Ambulatoriais do SUS), SIGAE (Sistema de Gerenciamento de Unidade
Ambulatorial Especializada) e SISREG (Sistema Central de Regulação).
CNU (Cadastro Nacional de Usuários do SUS), CNES (Cadastro Nacional de
Cadastros Estabelecimentos de Saúde), CID-10 (Classificação Estatística Internacional de
Nacionais Doenças e Problemas relacionados à Saúde), Repositório (Banco de Dados de
Tabelas Corporativas do Ministério da Saúde) e Unidades Territoriais.
SIAB (Sistema de informação de Atenção Básica), SI-PNI (Sistema de
Epidemiológicos informações do Programa Nacional de Imunizações) e SISCAM(Sistema de
Informação do Câncer da Mulher).
BDAIH (Banco de Dados de Autorização de Internação Hospitalar), SGIF
Financeiros (Sistema de Gestão de Informações Financeiras do SUS) e SIOPS (Sistema de
Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde).
BLHWEB (Sistema de Gerenciamento e Produção de Bancos de Leite
Humano), HEMOVIDA (Sistema de Gerenciamento em Serviços de
Hemoterapia), HOSPUB (Sistema Integrado de Informatização de Ambiente),
Hospitalares IRAIH (Imposto de Renda Sistema AIH), REDOMENET (Sistema de
Armazenamento de Dados Doadores e Receptores de Medula Óssea), SIHSUS
(Sistema de Informações Hospitalares do SUS) e SNT (Sistema Nacional de
Transplante).
Hiperdia (Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e
Diabéticos), Integrador (Solução de Integração dos Sistemas de Informações de
Saúde), PVC (Programa De Volta para Casa), SISPRENATAL (Sistema de Pré-
Outros sistemas
Natal) e SISVAN (Sistema de informação para Vigilância Alimentar e
Nutricional), PROGRAB (Programação para Gestão por Resultados da Atenção
Básica).
SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) e SINASC (Sistema de
Eventos vitais
Informações de Nascidos Vivos).
Caderno de Informações em Saúde, TABDOS (Tabulação para DOS), TABNET
Tabulação
(tabulação para intranet/internet) e TabWin (Tabulação para Windows).

Considerando a grande variabili- obtidos das consultas realizadas, do


dade de softwares disponíveis pelo acompanhamento e, principalmente, du-
DATASUS e, principalmente, o foco rante as visitas realizadas pelos agen-
deste estudo, foi realizada seleção dos tes de saúde às comunidades. Nesse
principais sistemas utilizados pelo PSF, momento são coletados dados demo-
os quais são descritos, de forma gráficos, epidemiológicos e sócio-eco-
sucinta, nas próximas subseções. nômicos da área.
4.4 Sistema de Informação da Por meio do SIAB obtêm-se infor-
Atenção Básica mações sobre cadastros de famílias,
O Sistema de Informação da Aten- condições de moradia e saneamento,
situação de saúde, doenças predomi-
ção Básica (SIAB) é software de geren-
ciamento de informações locais e uma nantes na população, produção e com-
importante ferramenta para o plane- posição das equipes de saúde. Tam-
jamento das ações das ESF, uma vez bém é possível produzir relatórios que
que aborda os conceitos de território, auxiliam as equipes e as unidades
vulnerabilidade social, problema e res- básicas de saúde às quais estão
ponsabilidade sanitária. Os dados são ligadas. Os gestores municipais podem
acompanhar, através dessas informa-

Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 7


ções, o trabalho e avaliar a sua quali- esferas governamentais. O CNES
dade. Os relatórios emitidos pelo SIAB abrange todos os hospitais existentes
permitem ao gestor e às equipes, no país, assim como a totalidade dos
conhecer a realidade sócio-sanitária da estabelecimentos ambulatoriais
população acompanhada, avaliar a ade- vinculados ao SUS e, ainda, os
quação dos serviços de saúde ofere- estabelecimentos de saúde
cidos - e readequá-los, sempre que ambulatoriais não vinculados ao SUS
necessário - e, por fim, melhorar a qua- (BRASIL, CNES, 2007).
lidade dos serviços de saúde (BRASIL, 4.7 Programação para Gestão por
2003). Resultados da Atenção Básica
4.5 Sistema de Informação O PROGRAB (Programação para
Ambulatorial do SUS Gestão por Resultados da Atenção
O Sistema de Informação Ambu- Básica) é um software voltado para o
latorial do SUS (SIASUS) é um sistema planejamento de ações das equipes de
que permite o gerenciamento de todos Atenção Básica e de Saúde da Família.
os atendimentos feitos a nível ambula- Propõe um amplo escopo de ações
torial pelas unidades básicas, equipes desenvolvidas no cotidiano das equipes
de saúde da família ou centros de de Atenção Básica, dentre elas: as
saúde. Essa ferramenta é utilizada atividades de promoção da saúde em
pelos gestores municipais e estaduais áreas programáticas – especificidades
de saúde para realizar a captação, para cada faixa etária e sexo - a deman-
controle e pagamento do atendimento da espontânea, prevenção de agravos,
ambulatorial prestado ao cidadão pelas tratamento e recuperação, as ações
Unidades Ambulatoriais credenciadas intersetoriais e interinstitucionais.
(BRASIL, SIASUS, 2007). Este sistema É uma ferramenta que permite as
produz relatórios com informações equipes locais de saúde planejar suas
detalhadas sobre todos os procedi-
ações em concordância com os parâ-
mentos produzidos pelas unidades e metros estabelecidos com a Progra-
gera os números que quantificam a qua- mação Pactuada e Integrada, o Pacto
lidade do nível de serviços e proce- da Atenção Básica e os indicadores do
dimentos através de indicadores, bem Projeto de Expansão e Consolidação da
como os valores pagos por cada proce-
Saúde da Família. Têm como intuito
dimento realizado por cada equipe e estruturar e integrar a atenção básica,
geral dos municípios. objetivando apoiar os gestores e as
4.6 Cadastro Nacional dos equipes de Atenção Básica e Saúde da
Estabelecimentos de Saúde Família a planejar suas ações, traçar
metas e avaliar seu desempenho na
O Cadastro Nacional dos Estabe-
lecimentos de Saúde (CNES) permite execução dos serviços de saúde
ao gestor obter conhecimento a respeito (BRASIL, PROGRAB, 2007).
de seus estabelecimentos de saúde de É um programa flexível, pois permi-
forma quantitativa e qualitativa do ponto te modificações, inclusões e exclusões
de vista da área física, recursos huma- de áreas, atividades e parâmetros, o que
nos, equipamentos e serviços ambula- possibilita uma adequação à realidade lo-
toriais, especializados e hospitalares de cal das equipes de cada município. Tam-
toda a sua região. Propõem disponi- bém possibilita e facilita a pactuação de
bilizar informações das reais condições metas, objetivos e resultados entre equi-
de infra-estrutura de funcionamento dos pes e gestores, tendo em vista que utiliza
estabelecimentos de saúde em todas as homogeniza parâmetros nacionais.
8 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4
5 Metodologia que serviu como principal ferramenta de
cálculo para a elaboração de tabelas
O presente estudo é de caráter
que subsidiaram o presente estudo.
predominantemente qualitativo em nível
exploratório, utilizando o estudo de caso Assim, foram elaborados quadros
único como método de pesquisa. comparativos com metas estabelecidas
Conforme Godoy (1995, p.62) o estudo pelas equipes do Programa de Saúde
de caso “é um estudo exaustivo de da Família (PSF) e com os indicadores
algum caso em particular de pessoa ou de pactuação proposta pelo MS. Para a
de instituição, para analisar as circuns- montagem dessa série histórica foram
tâncias especificas que o envolve”. utilizados dados coletados no período
Contudo, também foram utilizadas de julho a setembro de 2008 referentes
técnicas quantitativas, para a análise de a cinco marcadores de saúde do SIAB.
dados secundários, com o objetivo de Estes foram escolhidos de acordo com
enriquecer o estudo de caso. o Pacto pela Saúde, a saber: atendi-
mento de hipertensos, atendimentos de
Este trabalho refere-se especifica-
diabéticos, número de consultas médi-
mente ao Programa Saúde da Família
cas, número de consultas de enfer-
em desenvolvimento no município de
magem e visita domiciliar. Esses
Porto Alegre e aos sistemas de infor-
indicadores expressam dados importan-
mação utilizados para a sua gestão.
tes sobre a saúde da população e como
Para tanto foram analisados os dados
já é sabido e citado por diversos autores
do “Relatório de Produção e de Marca-
como Starfield (2002) e Lobo (1993)
dores para Avaliação” e do “Relatório da
algumas doenças podem ser preveni-
Situação de Saúde e Acompanhamento
das ou controladas no nível da Atenção
Famílias na Área” advindos do Sistema
Básica.
de Informação Ambulatorial (SIAB), bem
como foram analisados os indicadores A cidade de Porto Alegre atual-
pactuados no município de Porto Ale- mente possui 93 equipes envolvidas no
gre. Programa Saúde da Família em nível da
Atenção Básica. Contudo, foi preciso
Também foram utilizadas outras
excluir deste estudo 10 equipes, pois
fontes de dados secundários, tais como:
estas não possuíam nenhum tipo de
livros, leis, portarias, sites oficiais do
registro de dados. Entre setembro e
Ministério da Saúde (MS), Secretaria
outubro de 2008 foram entrevistados
Municipal de Saúde (SMS) e da Secre-
sete gestores e ex-gestores responsá-
taria Estadual de Saúde (SES), artigos
veis pela Atenção Básica em PSF do
e teses coletadas em base de dados
município de Porto Alegre. Inicialmente
nacionais e internacionais como Fio
dez pessoas estavam habilitadas para
Cruz, Bireme, Lilacs e Scielo.
esta fase qualitativa da pesquisa. Entre-
Preliminarmente foi realizada uma tanto, uma entrevista foi desconside-
análise quantitativa de dados utilizando- rada, pois o entrevistado considerou-se
se dados procedentes do SIAB e das desabilitado a responder. Um dos ges-
bases de dados existentes no site do tores não quis participar da pesquisa e
DATASUS (www.datasus.gov.br). Os outros dois gestores não residem mais
dados foram formatados através do em Porto Alegre. Apesar de ter sido
programa TabWin, disponível para realizado contato, via e-mail, com estes
download no próprio site do DATASUS. ex-gestores ambos não retornaram.
A partir dessa formatação, os dados
Desta forma, foi possível aprovei-
foram organizados em uma série histó-
tar as informações obtidas com 06
rica, através do Office Microsoft Excel
Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 9
entrevistados. As entrevistas foram ba- 6.2 Atenção à Saúde
seadas em um roteiro semi-estruturado Porto Alegre possui uma rede de
previamente elaborado e informações atenção mista composta por 125 postos
advindas da análise de dados secun- de saúde, destes 117 são unidades
dários. Cada entrevista foi realizada básicas de saúde (UBS), oito são cen-
após a explanação a respeito da pes- tros de saúde (CS) e dois são hospitais
quisa e assinatura do Termo de Con-
próprios. Das 117 UBS, somente 60
sentimento Livre e Esclarecido. O possuem a Estratégia de Saúde da
projeto de pesquisa foi previamente Família (ESF), com equipes simples,
aprovado pelo comitê de ética da duplas ou triplas. São 93 equipes do
Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Programa de Saúde da Família (PSF),
6 Apresentação do Caso destas cinco se enquadram como
Equipes de Saúde da Família com
O órgão gestor do Sistema Único
Saúde Bucal.
de Saúde (SUS) na cidade de Porto
Alegre é a Secretaria Municipal de As UBS e as ESF são a principal
Saúde (SMS) que tem como atribuições forma de acesso aos serviços especia-
coordenar os serviços, as ações e lizados e hospitalares, de média e alta
políticas de saúde na cidade. E também complexidade, do município. Para in-
deve estabelecer ações integradas e gressar nos serviços é preciso ter o
intersetoriais com outros setores públi- Cartão Nacional de Saúde (Cartão
cos e privados das esferas municipal, SUS)3. É através dele o usuário poderá
estadual e federal. ser encaminhado para uma consulta em
um dos serviços básicos - pediatra,
6.1 Fluxo da informação na SMS de
ginecologista, clínico geral, médico ge-
Porto Alegre
ral comunitário ou de família.
O Fluxo da informação inicia-se
Através do Fluxo de Referência e
pela coleta de dados e preenchimento
dos formulários pelas equipes de Contra-Referência, ilustrado na Figura
Atenção Básica e de Saúde da Família. 2, é dada continuidade ao atendimento.
Esses dados são inseridos em soft- A partir da estratégia da interconsulta,
wares disponibilizados pelo DATASUS, se necessário, o paciente é encami-
que geram um único arquivo que é nhado para o nível de maior comple-
encaminhado à SMS. Esta, por sua vez, xidade. Para tanto, o serviço básico
recebe os dados, analisa, concatena as deve emitir um documento chamado de
informações e repassa para a 1° Coor- “referência e contra-referência”. A “refe-
denadoria Estadual de Saúde (que rência” é o encaminhamento ao espe-
repassa para a SES) quando então é cialista e a “contra-referência” é o
repetido o processo de análise e retorno para o serviço básico de origem
concatenação. Finalmente esses dados UBS ou PSF.
são repassados para o MS. O Ministério
da Saúde recebe dados de todo o
território nacional, os organiza de acor-
do com a área (vigilância, epidemi- 3
O cartão SUS tem o propósito de cadastrar
ologia, etc.) e realiza a divulgação de os usuários deste sistema, de forma a
dados consolidados através do site do organizar a Rede de Atenção à Saúde de
DATASUS. Dessa forma o processo é acordo com as necessidades regionais e
realimentado com a atualização de da- implantar um Sistema de Informações em
Saúde que contenha os dados do usuário
dos proveniente de diversos sistemas. com intuito que facilite o seu acesso às ações
e serviços de saúde.
10 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4
Figura 2: Fluxo de referência e contra referência
7 Análise e discussão dos verificar junto aos entrevistados, esse
resultados processo nem sempre ocorre dessa
forma.
Para análise dos dados, foi elabo-
rada uma série histórica contendo mar- 7.1 Integração dos Sistemas de
cadores e indicadores de saúde, Informação
inseridos no Sistema de Informação da A partir de 2007 alguns sistemas
Atenção Básica (SIAB), e produzidos de informação utilizados pelas ESF
pelas equipes de saúde da família no passaram a depender de informações
município, e o levantamento do quanti- repassadas entre si para funcionarem
tativo de doenças registrado na fichas de forma adequada. O objetivo foi
de Acompanhamento dos Agentes Co- integrar os programas CNES, SIAB e
munitários de Saúde. Após esta coleta SIASUS, já que continham informações
de dados, membros da unidade inserem semelhantes e eram acessados de
os dados no SIAB e SIASUS que são forma independente ocasionando fre-
encaminhados para a SMS. Conforme qüente retrabalho. Atualmente, para se
Bellusci (2006), o envio desses dados, inserir dados no SIAB e no SIASUS é
através dos sistemas de informação, é necessário gerar previamente um arqui-
uma forma de prestar contas das ativi- vo no CNES.
dades realizadas pela equipe e uma
forma de unificar, uniformizar e informar Contudo, conforme destaca Lobo
a situação epidemiológica da região. (2006, p.12) “para que um sistema de
informação seja utilizado é preciso veri-
A contrapartida deveria ser o envio ficar alguns requisitos básicos, dentre
de relatórios para que as equipes eles a facilidade de manipulação pelos
possam também tomar conhecimento usuários, estrutura do banco de dados e
de sua situação e fazer o cruzamento integração dos sistemas”. Conforme os
dos dados, objetivando a melhoria entrevistados, tais requisitos não exis-
continua do serviço prestado à comu- tem nos sistemas de informação utiliza-
nidade, pois de acordo com Starfield dos pelos gestores de saúde. Essa
(2002), é necessário dar à saúde um questão é uma das principais críticas de
conceito ampliado, conhecendo a reali- quem trabalha no setor da saúde públi-
dade de cada membro da comunidade ca. Verifica-se que embora se tenha
estabelecendo vínculos, levando orien- iniciado um processo de integração dos
tação, informação, cultura e conheci- sistemas (CNES, SIASUS, SIAH e
mento. Contudo, como foi possível SIAB), ainda são necessários muitos
Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 11
ajustes para que isso ocorra de forma foi encontrada nenhuma razão que
eficaz. justificasse tal diminuição do repasse4.
Alega-se que, atualmente, as equi- Verifica-se que durante o ano de
pes precisam preencher um grande 2007 há uma regularidade dos repasses
número de dados em diferentes siste- referentes as 90 equipes de saúde da
mas, muitos dos quais são redundantes. família. Contudo, observa-se que duran-
A unificação dos sistemas permitiria te o mês de agosto houve uma pequena
uma agilidade na execução das tarefas alteração. Isso ocorre justamente no
pelas equipes de saúde, evitando o momento da integração dos sistemas
retrabalho. de informação CNES, SIAB e SIASUS,
... se tivesse um sistema único, redefinindo fluxos e prazos. Tal fato
seria mais fácil capacitar as pes- demonstra uma possível inconsistência
soas pra poder alimentar o sistema de cadastro e posterior suspensão de
e a gente poderia manusear melhor repasse de recursos para as equipes do
os dados e gerar relatórios mais
município de Porto Alegre. As equipes
fidedignos e a gente poderia traba-
lhar melhor essa informação (EN- de saúde bucal têm grande oscilação
TREVISTADO 3). em seus repasses, mas não houve por-
taria que suspendesse o repasse de
7.2 Repasse de verbas recursos. Este fato leva a crer que tam-
Através da implantação do PSF o bém houve inconsistência de cadastro
repasse de verba foi redefinido, tornan- nessas equipes.
do os municípios responsáveis pela ges- 7.3 Incidência de doenças
tão de recursos financeiros recebidos, via
Entre os anos 2006 e 2007 foram
Fundo Nacional de Saúde. Ao se analisar
atendidas, em média 226.725 pessoas,
as transferências fundo a fundo (2006 e
pelo PSF de Porto Alegre5. Utilizando
2007) para o município de Porto Alegre,
os marcadores de atendimento do
traçam-se alguns comentários.
SIAB, consta-se que o número de
Observa-se um aumento no valor pessoas atendidas pelo PSF de Porto
do repasse, a partir de abril/2006. Alegre (2006 e 2007) está abaixo do
Através da análise de documentos, índice preconizado pelo Ministério da
verifica-se que houve um aumento no Saúde. De acordo com o MS, é
número de equipes no município, desejável que cada habitante faça pelo
passando de 67 para 85 equipes nesse menos 1,5 consultas/ano. Conforme
período e crescimento das equipes de análise realizada com os dados coleta-
saúde bucal. No mês de julho desse dos, o índice em Porto Alegre é de 1,29
mesmo ano Porto Alegre é credencia a consulta/ano em 2006 tendo tido um
aumentar a quantidade de equipes para acréscimo significativo no ano de 2007
90. Contudo, no mês de agosto/2006 (1,46 consulta/ano).
houve a diminuição do valor desse
Entretanto, estes números refle-
repasse para a saúde bucal mantendo-
tem apenas a situação da Atenção
se até o mês de novembro/2006. A
Básica atendidas pelo PSF. Assim,
partir de então, o município volta a
receber a totalidade dos recursos. Não
4
Foram pesquisadas portarias municipais, es-
taduais e federais desse período e nada
consta.
5
Quantidade de pessoas cadastradas no
SIAB, conforme informação coletada do DA-
TASUS.
12 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4
buscou-se saber como estava o índice tem recursos para se controlar e estabi-
na atenção básica incluindo as UBS e lizar tais doenças (orientações e medi-
os PSF. De acordo com os resultados camentos).
da pactuação de 2007, o município Estas constatações, elaboradas
alcançou um índice de 1,43 consultas exclusivamente com base na análise de
por habitante/ano. Ou seja, existe uma dados secundários, foram apresentadas
pequena discrepância entre os cálculos
aos gestores responsáveis pela Aten-
realizados e os apresentados pelo rela- ção Básica em PSF do município de
tório de pactuação de Porto Alegre. Em Porto Alegre. A idéia inicial era apro-
última análise, uma divergência entre os fundar os achados e encontrar explica-
diferentes sistemas de informação utili- ções sobre tais oscilações de dados. As
zados pelos gestores públicos de saú-
principais causas apresentadas pelos
de. entrevistados foram:
Ressalta-se, ainda, que dessa • Questões culturais – procurar
população atendida, aproximadamente atendimento apenas em situações
10,56% (23.933 pessoas) possuí algum extremas (intenso mal-estar);
tipo de doença, sendo a hipertensão • Capacidade instalada – existência
(60%) e o diabetes (15%) as que têm de poucos serviços de saúde para
maior incidência. Contudo, os dados prevenção e acompanhamento de
informados pelo DATASUS não de- doenças;
monstram qual o percentual em ambas • Motivação – ausência de progra-
as doenças. Tampouco foi encontrado, mas permanentes para estimular o
nos documentos analisados, informação controle sistemático de doenças
sobre o número de pessoas que reali- crônicas;
zem reconsultas. Essas informações • Horário de atendimento comercial
são significativas, já que em muitos – muitas pessoas que possuem o
casos os hipertensos também são agravo não têm disponibilidade de
diabéticos, e tratamentos específicos realizar tratamento nesse período;
devem ser realizados. • Baixo número de profissionais -
No que se refere ao atendimento muitas equipes de saúde da
da população acometida por essas família atendem quase o dobro da
doenças, constatou-se que 19% (mé- população recomendada pelo MS.
dia/mês) das pessoas hipertensas Isso faz com que os profissionais
cadastradas no SIAB foram atendidas não consigam seguir a lógica da
durante o ano de 2006. Em 2007 esse prevenção, deixando de fazer a
número aumenta para 21% (média/ busca ativa dos doentes com o
mês). O percentual é um pouco maior intuito de prevenir e controlar do-
quando se trata de pessoas diabéticas. enças.
Em 2006 foram atendidas 33% (média/ • Sub-notificação – profissionais que
mês) de pessoas diabéticas e 2007 fazem o atendimento desconhe-
esse número aumentou para 42%. cem a importância do registro ade-
quado de agravos;
Verificou-se uma grande oscilação
na quantidade de consultas e atendi- • Desatualização de dados – ausên-
mentos, em especial para pacientes cia de regularidade na inserção de
com hipertensão e diabetes. Sabe-se dados nos sistemas de informação
que essas doenças, atualmente, são (em especial o SIAB). Muitas
incuráveis. Portanto, o grau dessa osci- vezes os dados estão nas fichas
lação deveria ser mínimo, já que exis- (meio papel), mas não foram digi-
tados no sistema de informação. O
Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 13
principal motivo apontado foi a De acordo com Bellusci (2006) o
falta de tempo para digitar os somatório das visitas dos agentes deve
dados (equipe reduzida). ser maior que o número de famílias
7.4 Resolutividade cadastradas. O MS saúde sugere que
todas as famílias cadastradas sejam
A resolutividade na rede básica visitadas, pelo menos uma vez ao mês,
está ligada ao recurso instrumental e pelo agente de saúde. Os dados
conhecimento técnico dos profissionais, secundários deste estudo demonstram
bem como à ação acolhedora, ao o contrário no caso de Porto Alegre.
vínculo que se estabelece com o Verificou-se que, durante o período
usuário, ao significado que se dá na estudado (2006 e 2007), a quantidade
relação profissional/usuário, que sugere de visitas domiciliares realizadas foi
o encontro de sujeitos com o sentido de inferior ao número de famílias cadas-
atuar sobre o campo da saúde. Nesse tradas.
sentido uma maior resolutividade dos
serviços prestados no nível da Atenção 7.6 A utilização dos Sistemas de
Básica poderá reduzir a demanda por Informação
consultas especializadas e exames, Os sistemas de informação apon-
especialmente os de maior complexi- tados pelos entrevistados como sendo
dade, desta forma os gestores poderão utilizados (ou que deveriam ser) na
repassar os recursos para outros proce- SMS para a atenção básica são:
dimentos (FRANCO e MAGALHÃES, SIASUS, SIAB, CNES, PROGRAB e
2003). outros da Vigilância Sanitária (SINAN,
De acordo com Bellusci (2006), o SINASC e dados do IBGE e DATA-
número de encaminhamentos determina SUS). Contudo, não existe, conforme
a resolutividade da equipe. Para esta eles, na SMS um setor que reúna todos
autora, um índice em torno de 85% é os sistemas utilizados pela atenção
bem adequado. Conforme análise reali- básica e que ofereça suporte aos
zada, Porto Alegre ultrapassou tal gestores no processo de planejamento
índice atingindo 86% (em 2006) e 87% de políticas, ações e serviços de saúde.
(em 2007) de resolutividade no PSF. Se A Gerência de Regulação dos Serviços
as consultas médicas e de enfermagem de Saúde (GRSS) foi apontada por
forem consideradas o percentual médio alguns como sendo local que concentra
resolutivo aumenta para 90% e 91%, parte dos sistemas de informação, em
nos respectivos períodos. especial o SIASUS e o CNES. Já o
SIAB está disponível no Instituto Sollus6
7.5 Visitas domiciliares
No PSF todos os profissionais
podem realizar visita domiciliar, mas
mais de 90% das visitas em Porto
Alegre foram realizadas pelos agentes
comunitários de saúde. Caso neces- 6
Em agosto de 2007 foi firmado um Termo de
sário, o agente informa a necessidade Parceria, conforme prevê a Lei Federal
de visita domiciliar por outro profissio- 9790/99 e o Decreto Federal 3100/99,
nal. Assim, é papel do agente comuni- firmado entre o setor público representado
tário realizar a busca ativa de pacientes pela SMS e uma OSCIP (Organização de
Sociedade Civil de Interesse Público)
e promover a disseminação de representado pelo Instituto Sollus
informações objetivando promover a (http://www.sollus.org.br/). Este acordo prevê
saúde da população visitada. a implementação, supervisão, co-gestão e
avaliação da ESF no município.
14 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4
e os demais sistemas na Vigilância Sa- situação da saúde em cada unidade de
nitária7. PSF do município de forma quantitativa
Constatou-se também que, além e comparativa ao mesmo período do
da grande dispersão e variedade de ano anterior.
sistemas de informação existente na A ausência de fluxo informacional
SMS, nenhum tipo de relatório é emitido definido e sua centralização foram pon-
aos gestores de modo a que estes tos levantados por um dos entrevistados
tenham acesso a informações atualiza- ao afirmar que a informação segue uma
das sobre a área da saúde do município única direção: do PSF para a SMS.
de Porto Alegre. Além disso, não existe Conforme ele “quem está na ‘ponta’ não
um processo de análise da qualidade tem conhecimento dos resultados do
dos dados encaminhados. Simplesmen- seu trabalho”. E afirma ainda:
te eles são repassados às instâncias ... a falta de informação faz com
superiores correspondentes (Secretaria que as pessoas não se compro-
Estadual de Saúde ou Ministério da metam com a qualidade da coleta
Saúde). O relacionamento com a GRSS, de dados. Seria adequado que
todas as equipes tivessem acesso
conforme um dos entrevistados, somen-
contínuo a pelo menos o SIAB,
te ocorre em período específico (elabo- SIASUS e PROGRAB.
ração do relatório de gestão)
... a gente tem um relacionamento Além disso, é necessário também
mais próximo a GRSS na época de que todos estejam plenamente capaci-
apresentação de relatório de ges- tados a manusear esses sistemas.
tão. Que é um relatório então apre- Dessa forma poderiam trabalhar com
sentado ao conselho municipal de
saúde prestando contas das ações dados locais antes mesmo de enviá-los
da secretaria (Entrevistado 1). à SMS, possibilitando-se a realização
de um planejamento baseado nas parti-
Além desse período específico, cularidades locais.
quando é elaborado o relatório de ges-
8 Considerações Finais
tão, todos os entrevistados afirmaram
não ter sido gerado nenhum outro tipo Cabe aos gestores do SUS as
de relatório entre 2006 e 2007. Quando atividades de planejar, organizar, con-
é necessário obter algum dado espe- trolar e avaliar as ações e serviços de
cífico, eles solicitam diretamente à saúde, bem como gerir e executar os
Gerência Distrital, que se responsabiliza serviços de saúde. Contudo, a presente
em reunir os dados requeridos e os pesquisa verificou que os diferentes
encaminha à SMS. Verifica-se que níveis de gestão, possuem diferentes
mesmo tendo todos os sistemas de visões sobre os mesmos serviços a
informação disponíveis e “alimentados” serem prestados na área da saúde.
mensalmente pelos serviços de saúde a Embora estando no mesmo local físico
SMS continua realizando este tipo de observa-se a inexistência de diálogo
solicitação às gerências distritais. Con- entre os diferentes setores. As dife-
tudo, em 2008, de acordo com alguns renças são maiores entre os extremos
entrevistados, iniciou-se a emissão de (gestores da SMS e agentes de saúde,
relatórios gerados com dados oriundos por exemplo). A falta de alinhamento
do SIAB. Estes relatórios explicitam a estratégico é evidente, já que o inter-
câmbio informacional não ocorre nem en-
tre setores localizados no mesmo prédio.
7
A Vigilância Sanitária, apesar de pertencer à
SMS localiza-se em outro prédio, o que A falta de comprometimento dos
muitas vezes dificulta o acesso. envolvidos na área da saúde municipal
Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4 15
(do gestor ao agente), muitas vezes ência entre as informações trabalhadas
passa pelo desconhecimento dos objeti- e a qualidade dos dados coletados
vos a serem alcançados e da importân- utilizados (ou muitas vezes inexistentes)
cia dada às informações utilizadas. na SMS sejam algumas das razões que
Estas são algumas das razões para que justifiquem esta situação. Outro motivo
estratégias divergentes com a realidade apontado por este estudo é a ausência
enfrentada nos PSF e nas USB seja de rotina na utilização de sistemas de
elaborada pelos gestores. A elaboração informação no planejamento das ações
projetos e programas envolvendo todos e políticas de saúde.
os atores relacionados é uma possi- A falta de confiabilidade nos dados
bilidade, mas não a única opção. Ações coletados e inseridos pelos servidores
efetivas passam pela qualificação dos
dos serviços de saúde também pode
servidores, nas ferramentas informacio- ser um indicativo da não utilização dos
nais disponíveis na saúde. E como ob- sistemas de informação existentes.
servado nesta pesquisa, não são poucas. Como levantado por este estudo,
Para tanto a integração dos sistemas, ferramentas como o SIAB, SIASUS,
ou pelo menos a compatibilidade entre CNES, PROGRAB entre outras estão
eles, é fundamental. Mas é preciso que disponíveis na SMS e podem ser
a mudança seja realizada desde a cole- utilizadas pelos gestores. Estas possibi-
ta de dados. litam a obtenção de dados para a gera-
A utilização de tecnologias móveis ção de informações que subsidiem a
para a coleta de dados por agentes de tomada de decisão, planejamento e
saúde é uma opção que não deve ser elaboração de políticas públicas em
descartada. Contudo, se a sua imple- saúde do município de Porto Alegre.
mentação não for bem trabalhada a Por fim, sugere-se que estudos
resistência poderá ser demasiada gran- futuros incluam em suas análises dados
de. As necessidades são muitas e, secundários de 2008, já que nesse
como bem abordado na análise dos período a figura de uma OSCIP - como
dados, as equipes são pequenas (ca- Co-gestora do PSF – insere-se no
rência de quadro funcional). cenário analisado pelo presente estudo.
Lembrando o que afirma Prade Imagina-se que este novo ator tenha
(2004, p.29), a vigilância epidemiológica contribuído para alterar o modelo de
“... consiste em coleta, análise e inter- gestão em saúde de Porto Alegre.
pretação sistemática permanente de
Referências
dados na área da saúde, no processo
de descrição e acompanhamento de um BARBOSA, A.; FARIA F. I.; PINTO, S. L.
Governo Eletrônico: modelo de referência para
evento sanitário”. Então, se o processo a sua implementação. In: Congresso Anual de
de coleta de dados, análise e interpre- Tecnologia de Informação (CATI), 2., São
tação é falho, ou inexistente, conforme Paulo. Anais eletrônicos..., FGV-EASP, 2004,
afirmam os entrevistados, não existe CD-ROM.
uma vigilância epidemiológica efetiva no BELLUSCI, D. G. P. Programa Saúde da
município de Porto Alegre. Família II. Manual para o dia a dia das
equipes de Saúde da Família. Ed. Lawbook,
Apesar do aumento dos índices de 2006.
atendimento e estes estarem muito
BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de
próximos aos preconizados pelo MS, os
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
demais indicadores de saúde, pactua- Básica. SIAB: Manual do Sistema de
dos em Porto Alegre, estão abaixo do Informação de Atenção Básica. 1. ed., 4ª
planejado. Provavelmente a incongru- reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2003.

16 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 4


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BRASIL, Ministério da Saúde. PROGRAB.
Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/dab/
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