Ciro Flamarion Cardoso - UMA INTRODUÇÃO A HISTORIA PDF

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A Historia “nova”, com o seu card. ter de Hist6riaproblema, com 0 seu enfoque globalizante ou estru- tural, com a sua énfase no coleti vo, no social, convém muito mais {a elaboracao de pesquisas histori. cas e a um ensino de Historia que possam representar uma contribui- ¢40 valida dos historiedores br leiros ao necessario esforco de superacdo da situacéo vigente, do que a velha Historia narrativa, pa- tridtica, enaltecedora de falsos he- 16is e criadora de mitos que cum- prem exatamente uma funeao pre- servadora das estruturas em vigor. dos mecenismos de hege- leolégica. SERA A HISTORIA UMA CIENCIA? 1 Imerodugio: © problema da cientficidade da Histéria No capitulo 12 de seu livro sobre a teoria biolégica 3 evolugio, Colin Patterson aborda a questio de determi- nar 6e tal teoria € oa ado cientifica. Para tanto, opta por Dasear-se mas idéias do fil6sofo da ciéncia Karl Popper, representante de ums das correntes da tendéncia chamada ‘neopositivismo* " Segundo Popper, 36 em Matemética ¢ em Légica — citacias formais cujos objetos de esiudo io ideais (por exemplo: nimeros, {érmulas, figuras ge0- métricas) € possivel provar algo com absoluta certeza. Em todas as outras ciéncias (chamadas “factuais” em ‘oposiggo as “formais"), 2s teorias que as intogram se ccaracterizam por ter conseqiiéncias que, pela observacso e/ou pelo experimento, podem ser fabificadas (isto é, podem ser eventuaimente refutadas). Assim, a diferenga centre teorias cientifices ¢ teorias Y°metafisicas", para Popper, consiste em que es primeiras podem ser “falsi- ficadas” e as segundas, nfo. Partindo destes principios, Patterson prope dis- ‘inguir dois aspectos na teoria da evolugio: 1) a afirmasio de que ocorreu 2 evolucio das. espécies animals © vegetais (isto €, que tais expécies de relacionam por antepassados comens); 2) a asteveragio de que = . (CIRO FLAMARION 5. CARDOSO causa da evolugio € a selegdo natural. S6 nos interessa, aqui. © que o autor argumenta acerca do primeiro ponto. Ele diz que, trocado em mids, o que se afirma ¢ que # histOria da vida € um processo unico de separagio entre especies, © de progressio biolégica. “Esta parte da teoria € pois uma teorja historica acerca de acontecimentos tni- ‘cos, ¢ scontecimentos inicos no sio, por definigdo, parte ‘da ciéncia, porque sao irrepetiveis ¢ assim ndo sujeitos 2 vetificacdo.” E neste ponto ele se refere ace histori dores, 10 sentido de especialistas do estudo da histér humana: “Os historiadores nao podem predizee 0 futuro (00 se enganm quando 0 tentam), ¢ nio podem explicar © passado, mas <6 interpreté-lo. E nao ha uma forma desi- siva de por a prova as suas interpretagdes alternativas”. (0 bidlogo, porém, embora no possa prever a evolugio future ¢ explicar a passada (sé a pode interpretar), tem certas vantagens sobre o historiador, que Patterson enu- mera, mas que no detalharemos. E ele conclui: “Apesar e tais vantagens para o especialista em evolugio Bick ica, continua sendo verdade que aio existem leis da evolusdo compariveis as leis da Fisica, exatamente como do ha leis da Historia”. E ainda: “A teoria da evoluséo, portanto, nem é completamente cientifica como por exem- plo a Fisica, nem nao cientifica como a Hiswria” (Colin Patterson, Evotuiion. Londres, British Museum — Natu- ral History, 1978, pp, 144-146). Nada mais claro’ Aprendemos, assim, que para cer- tos cientistas natursis, ¢ sobretudo para certas correntes, a Filosofia da Ciéncia, como no aso © neopositivismo, @ Hisiéria mio € mem pode sex ciéncia. E se mudissemos radicalmente de perspectiva filo- séfica? Nada poderia ser mais oposto 20 neopositivismo, em matéria de Filosofia da Citncia, do que © marsismo. "Nao ha ddvida alguma de que, para K. Marx e F. Engel, © fundadores do marxismo, a Histéria possa ser-ple- namente cientiica. Entre os marxistas contemporineos, orém, embora esta continue sendo sem divida a posici0 Predominante, achamos também opiniées menos otimistas.. UMA INTRODUCKO A HISTORIA ° Recentemente, Pierre Jaegié ¢ Pierre Roubaud, refletindo ‘acerca da relagio entre ciéncias da natureza ¢ Historia, consideraram que enquanto a irreversbbilidade € 0 trago dominante da hisi6ria, sendo cada situagio histérica em ‘muitos aspectos singular. inimitavel ¢ impossivel de repro- duzir, no coragéo das ciéncias naturais estaria a invarién- cia ¢ 2 reversibilidade. E verdade que, em seu esforso no sentido de consiruir a Historia como ciéacia, o marxismo busca localizer mela oF fatoz repetttiver © oc fatores que, para um dado tipo de seciedade. sto invariances. No entanto, dizem 0s autores, “a oposicdo entre o singular histérico e o repetitive das citncias da natureza é forte 0 bastante para que © marxismo consinta em apresentar-se de modo mais ou menos separado em um materialismo histérico* ¢ um materialismo dialético*”. Logo = segui observamos um lapso revelador de Jaeglé e Rowbaud, 20 redigirem este subtitulo: “Para o objeto Unico: 2 Hisiiria, Para_o objeto repetido: as cigncias”. No fundo do seu raciocinio de fato nto véem a Historia como ciéncia. Logo depois. alifs, afirmam: “La singularidade do acontecimento histérico tende 2 ocultar a necessidade no movimento da histéria. A node de lei da Histdria descoberta pelo marxismo, ao qual tal merito deverd ser plenamente reconhecide algum dia, asso~ cia os fetores durdveis da vida econémica ¢ social & ativi dade conseiente e voluntiria dos homens em uma previsto do futuro desprovida de fatalidade © que tem tanto as caracteristicas da esperanga quanto as da certeza” (Ver P. Jaeglé © P. Roubaud, “Réflerions sur la place des sciences de Ia nature dans la théorie matérialiste dialecti- que” no Cahier du CERM de mesma titulo, n.° 151, Paris, Centre d'Etudes et de Recherches Marxistes, 1978, pp. ear Pobre “cigncia™ da histiria, se apesar das suas “leis” as suas previsSes participarem das caracteristicas de uma “esperanca™. mais do que do caréter preditivo das teorias cientificas! Bem, marxistas ou nio, Jaeglé © Roubaud sto especiaiisias das clénciae naturais. F ce procurarmos saber

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