TEXTOS PARA NADA
DUCAO ELOISA ARADJO RIBEIRO
FAGIO LIVIA BUELONI GONGALVESeS
Subitamente, nao, por fim, enfim, nao pude mais, nio
pude continuar. Alguém disse, Vocé niio pode ficar ai. Eu
nao podia ficar ali endo podia continuar. Vou. descrever 0
lugar, isso nao tem importancia. O topo, muito plano, de
uma montanha, nao, de uma colina, mas tao agreste, tao
agreste, basta. Lodo, urze 4 altura dos joelhos, impercep-
tiveis veredas de ovelhas, erosdes profundas. Era no vao
de uma delas que eu jazia, abrigado do vento. Belo pano-
rama, sem o nevoeiro que velava tudo, vales, lagos, cam-
pina, mar. Como continuar? Eu nao devia ter comecado,
sim, devia. Alguém disse, talvez o mesmo, Por que veio?
Poderia ter ficado no meu canto, aconchegado, aquecido,
abrigado, no podia. Meu canto, vou descrevé-lo, nao, nao
consigo. fi simples, niio consigo fazer mais nada, como se
~ diz. Digo ao corpo, vamos, de pé, e sinto o esforco que ele
faz, para obedecer, como uma velha carniga caida na rua,
que nio faz mais, que faz ainda, antes de desistir. Digo
A cabega, Deixe-o em paz, fique tranquila, ela para de
respirar, e entdo ofega ainda mais. Estou longe de todas
essas histérias, nado deveria me preocupar com elas, nao
preciso de nada, nem de ir em frente, nem de ficar onde
estou, isso me é totalmente indiferente. Deveria afastar-
-me, do corpo, da cabega, deixar que se entendam, deixar
que parem, nao posso, seria preciso que eu parasse. Ah
sim, somos mais de um, parece, todos surdos, nem isso,
unidos para o resto da vida. Outro disse, ou 0 mesmo, ou
o primeiro, todos tém a mesma voz, as mesmas ideias,
vocé devia ter ficado em casa. Em casa. Queriam que eu
voltasse para casa. Minha casa. Sem 0 nevoeiro, com bons
olhos, com uma luneta, eu a veria daqui. Nao éum sim-