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Novas contribuig6es para o Teste das Piramides coloridas de Pfister Anna Elisa de Villemor-Amaral Renata da Rocha Campos Franco 0 Teste das Piramides Coloridas de Pfister (IPC) é um instrumento projetivo que avalia caracteristicas de personalidade, permitindo uma compreensao dinamica e integrada do fun- cionamento psiquico do individuo. Prioritariamente 0 TPC avalia os aspectos emocionais, mas também permite boas previs6es a respeito do nivel intelectual ou desenvolvimento cog- nitivo. Por seus alcances diagnésticos, costuma ser muito apreciado pelos profissionais que o conhecem, principalmente devido a sua facil aceitagdo por parte dos examinandos que geral- mente 0 executam com prazer. ‘A grande vantagem desse instrumento se encontra no fato de ser uma técnica nao verbal, rapida e acessivel a sujeitos de todas as idades, incluindo aqueles com dificuldades de fala, com limitages culturais ou com resisténcias a tarefas que envolvam mais diretamente habi- lidades cognitivas. Além disso, constituindo-se como uma tarefa bastante inusitada ante as atividades do cotidiano de qualquer pessoa, é dificilmente manipulado por parte de quem o executa, j4 que dificilmente sabera o que ou como esta sendo avaliado. O TPC ficou muito tempo indisponivel aos novos profissionais por falta do material de aplicacdo, cuja edigdo esteve esgotada por muitos anos. Perdeu espaco entre as técnicas mais utilizadas também em decorréncia de poucas pesquisas ¢ falta de atualizacao. Porém, recen- temente, a edigéio do novo manual (Villemor-Amaral, 2005) acrescentou diversas pesquisas que trouxeram normas para uma nova amostra de adultos, além de estudos de validade e pre- cisdo, que nao s6 fortaleceram a técnica, como também contribuiram para a sua incluso na lista de instrumentos recomendados pelo Conselho Federal de Psicologia. Este manual trouxe acréscimos significativos por incluir um estudo normativo recente € estudos de validade com quadros psicopatol6gicos, pouco investigados com o Pfister até entao. Seis pesquisas sobre evidéncias de validade para diagnéstico psicopatol6gico, e dois estudos de precisio de classificagao, demonstraram que a técnica constitui um recurso «itil nas ava- liagées da personalidade. Além disso, a edicao desse manual veio acompanhada de um novo material de aplicacdo -jogo de quadriculos coloridos- que procurou minimizar a semelhanga entre os tons vermelho 4 (Vm4) e violeta 3 (Vi3) existentes no antigo manual, o que muitas vezes atrapalhava a aplicacdo do teste. O material atual diverge também em algumas outras aa ATUALIZAGOES EM METODOS PROIETIVOS PARA AVALIAGAO PSICOLOCICA tonalidades, porém as pesquisas normativas foram feitas com essa nova edigo das cores, 0 que garante sua padronizagao As contribuigdes evidenciadas no manual de Villemor-Amaral (2005) foram fundamentais para a revitalizagdo do Pfister e isso vem estimulando seu uso nos mais diversos contextos de avaliagao, embora sé 0 constante investimento em novos estudos poder garantir 0 aumento progressivo do reconhecimento do seu valor. Assim sendo, o presente capitulo tem como obje- tivo por um lado apresentar o Pfister para os que ainda nao 0 conhecem e, por outro lado, atualizar 0 leitor com dados de pesquisas recentes. ORIGEM DO TESTE DAS PIRAMIDES COLORIDAS DE PFISTER A técnica foi criada por Max Pfister no inicio da década de 1950. O autor concebeu esse instrumento a partir de suas observagGes sobre o efeito que a iluminacao do palco produzia na plateia que assistia aos espetdculos de danca que ele mesmo produzia. Sua profissdo, antes de tornar-se psic6logo, era de arquiteto e depois de dancarino e coredgrafo. Foi essa experi- @ncia artistica prévia, aliada a sensibilidade pessoal, que o inspirou para 0 uso de piramides e cores como meio de investigacio de aspectos da personalidade, quando, j4 com mais idade, decidiu se dedicar a Psicologia. A ideia de que as cores esto associadas as emogdes nao era nova. Pfister parece ter-se baseado mais em suas intuigdes do que em levantamentos cientificos rigorosos, embora conhecesse as teorias de Newton e estudos de Goethe, o poeta alemao que também se inte- ressou pelo estudo das cores. Entretanto, no ambito das artes e das religides, por exemplo, as cores sempre se prestaram a expressdo de estados emocionais ou de caracteristicas da per- sonalidade. Nao € dificil entao, encontrar nas expresses populares cores relacionadas com caracteristicas emocionais tais como: 0 roxo vinculado com a inveja, o verde a fome, o ver- melho ao 6dio e assim por diante. Herman Rorschach antecedeu Pfister na compreensio a respeito das reagées diante do estimulo cromético como sendo equivalentes das reacGes as emocées, e muito da riqueza das interpretacdes ao Método de Rorschach esto pautadas nas relacdes entre os diversos tipos de respostas de cor em relacao aos demais tipos de respostas. Para Rorschach (1974), ser estimu- lado pela cor, reagir a ela, inclui-la conscientemente nas associa¢es ao formular respostas, ¢ identificar 0 estimulo cromatico como determinante de sua resposta, demonstra o grau de controle cognitive que uma pessoa tem sobre o estimulo emocional. Embora Rorschach nao falasse sobre o significado de cada cor como propés Pfister, mas sim das cores em geral como um fendmeno estimulante, nao deixou de dar destaque ao vermelho e as cores acromaticas como indicadores de estados emocionais especificos. Seja por seu significado simbélico e cultural, seja pelos conhecimentos originados nas neurociéncias, o fato que a experiéncia clinica e as pesquisas tem demonstrado o quanto as conclusées de Pfister, na época bastante intuitivas, sdo bastante titeis para o diagndstico da dinamica emocional e da maturidade cognitiva dos individuos. Sendo assim, as cores utili- zadas no teste, e 0 modo como sao dispostas sobre o esquema da piramide, indicam a maneira como a pessoa se coloca emocionalmente no ambiente, ou seja, como expressa suas emogdes na relagao com os outros. Novas CONTRIBUICOES PARA © TESTE DAS PIRAMIDES COLORIDAS DE PFISTER as MATERIAL E MODO DE APLICACAO A técnica consiste em solicitar que a pessoa construa trés pirdmides coloridas, uma de cada vez. Para isso, utiliza-se de um jogo de trés cartes com o esquema de uma piramide € um jogo de quadriculos coloridos composto por 10 cores subdivididas em 24 tonalidades. A pessoa € convidada a construir trés piramides e as instrugGes sdo simples e devem ser dadas de forma padronizada: Aqui temos uma grande quantidade de papeizinhos com cores ¢ tonalidades diversas e o esquema de uma piramide. Cobrindo-se os espacos da piramide, obtém-se uma piramide colorida. Vocé deve fazer uma piré- vontade, até que a pirdmide fique do seu gosto, mide usando as cores que quiser, pode trocar ou substit fique bonita para voca. Feita a primeira piramide, pede-se para o individuo construir outra; é preferivel avisd-lo de que hé ainda uma terceira (¢ tiltima) a ser construfda, Assim que 0 sujeito se declarar satis- feito com a pirdmide construfda deve-se oculté-la, para que o individuo construa a seguinte sem procurar se basear na anterior. Apés 0 término das trés pirmides 0 examinador faz um breve inquérito no qual pergunta qual piramide mais gostou, qual menos gostou, quais suas cores preferidas e, com isso, encerra-se a aplicagao. O processo de anéllise e interpretacio consiste em, inicialmente fazer a contagem das cores e tonalidades usadas em cada piramide e no conjunto delas. As cores devem ser anali- sadas individualmente e também na combinagio com outras jé que certos arranjos envolvem significados que vao além da interpretacao isolada de cada cor. Em seguida, classifica-se 0 comportamento da pessoa ao realizar a tarefa quanto ao modo de colocagao e proceso de execugao, e depois o aspecto formal das mesmas. aspecto formal é um ponto fundamental na anilise, que deve ser levado em conta junto com o significado das cores. Para terminar, verifica-se a frequéncia das cores na sequéncia das trés piramides, sua constancia ou variabi- lidade da primeira para a terceira piramide. ‘Apés levantamento das varidveis, deve-se estruturar uma sintese que aponte as carac- terfsticas mais acentuadas do sujeito, o que inclui comentarios sobre suas habilidades e dificuldade emocionais frente a realidade do mundo interno e externo. Toda interpretacao deve ser entendida em rede, isto é, levando em conta todas as varidveis do teste, caso con- trario a compreensao dos resultados fica comprometida, pois nenhum dado isolado permite fazer inferéncias sobre a personalidade. INTERPRETACAO DOS DADOS A interpretacdo se inicia pelo Modo de Execugao e Colocacao. Ambas as informagoes se referem a estilos de organizacao do trabalho. Existe a do tipo metédica, na qual o sujeito repete o modo de colocacao de forma idéntica nas trés piramides, refletindo uma organizacao meticulosa ou mesmo rigida. Ja o modo de execugao ordenada permite algumas variagdes de pirdmide para piramide e sugere um estilo mais flexivel e adaptado. A execugdo desordenada, caracterizada pelo excesso de variagdes nos modos de colocacao, sugere uma postura indecisa, displicente ou mesmo ansiosa. No tipo relaxada, 0 sujeito nao se orienta por nenhum prin- 416 ATUALIZAGDES EM METODOS PROJETIVOS PARA AVALIACAO PSICOLOCICA cfpio variando 0 modo de construgao nas trés piramides, evidenciando um comportamento despreocupado e descuidado, Em relago ao Modo de Colocagao, o individuo pode preencher as piramides de forma ascendente, partindo de baixo para cima, o que propicia a projecao da nocao de desenvolvi- mento. Esse modo de colocagao € coerente com o processo légico de construcao partindo-se da base para 0 alto, o que pode ser interpretado como um sinal de maturidade de atitudes, Ja 0 modo de colocacao descendente, que parte do topo para baixo, é interpretado como indicador de instabilidade ou inseguranga e parece ser mais frequente em criangas (Villemor- Amaral, 1978). No que se refere as interpretagdes dadas as Cotes, a literatura do Teste de Pfister seguiu, no inicio, um processo muito mais intuitivo que cientifico. Como jé descrito, as observacées de Max Pfister mesclavam elementos da cultura tradicional, com 0 conhecimento da ciéncia e acessivel de sua época, como por exemplo, a vibracdo e frequéncia das ondas luminosas ¢ sua possivel influencia no comportamento das pessoas propostas por Newton. Pfister dividia as cores em dois polos opostos, um composto pelas cores frias e outro pelas cores quentes. As cores frias, combinadas por ondas longas e de baixas frequéncias, proporcio- navam efeitos mais tranquilizadores, enquanto as cores quentes, compostas por ondas curtas € com alta frequéncia eram mais irritantes. Enquanto as cores mais vibrantes estavam rela- cionadas com um conjunto de caracteristicas mais euféricas, as cores frias produziam efeitos mais disf6ricos ou de contencao. Assim, num extremo o vermelho estava mais ligado a extroversio, irritabilidade e impul- sividade, enquanto o amarelo, que apesar de estar relacionada com a extroversio, evidenciava uma forma mais canalizada e adaptada. A cor laranja, intermediaria do vermelho e ama- relo, foi interpretada por Pfister como a cor da ambicao e dos anseios de produsio. No outro extremo, 0 azul estava relacionado com a capacidade de controle e adaptacao, o verde com o interesse interpessoal, o violeta com a ansiedade, o branco com 0 vazio interior, o cinza com a repressdo dos afetos, o preto com a contengao e o marrom com o dinamismo e acao. O aumento ¢ o rebaixamento dessas cores, associadas com as diferencas de tonalidades, que vao das mais fortes, impregnadas de preto, as mais fracas, impregnadas de branco, apre- sentavam outras interpretac6es relacionadas a diferentes nuances de expressio afetiva. Embora Pfister soubesse que as cores estavam relacionadas com os afetos, estudos empiricos precisavam demonstrar a real implicagao das cores no campo da psicologia e do psicodiagnéstico. Nesta direcdo, diversos autores se empenharam nos estudos das cores. Hiltmann (1960) curiosa para verificar empiricamente a influencia das cores frias e quentes, aplicou o teste de Pfister em dois grupos de adultos, um composto por pessoas que nao estavam medicadas e outro composto por pessoas que consumiram uma substancia estimulante. Constatou aumento das cores quentes - vermelho, laranja e amarelo - ¢ rebaixamento nas cores - frias, azul e verde ~ nas pessoas estimuladas pela substancia quimica. Esse estudo propiciou evidencias de validade para o indicador Sindrome de Estimulo, evi- denciando que o. aumento das cores quentes tendia a ser mais frequente em pessoas enérgicas einteressadas nos aspectos afetivos das situacdes. Diferentemente a Sindrome Fria, composta pelas cores azul, verde e violeta, evidenciava pessoas menos excitadas afetivamente, que res- tringiam os contatos pessoais e procuravam manter uma atitude mais distante com relacao ao mundo exterior. Resultados como de Hiltmann (1960) foram alcancados empiricamente por diferentes estudos ao longo de 30 anos e novas descobertas sobre outras sindromes e duplas de cores ganharam sentido interpretativo, ampliando as possibilidades de compreensio sobre a Novas CONTRIBUIGOES PARA O TESTE DAS PIRAMIDES COLORIDAS DE PristER 7 dinamica afetiva do sujeito, avaliando e enriquecendo as andlises feitas pela técnica das Piramides Coloridas. A maioria desses estudos selecionava um conjunto de indicadores eos comparava em dois grupos de pessoas de mesmas caracteristicas socioeducacionais. Se um grupo assumia a funcdo de ser o critério controle, o outro deveria apresentar presenca ow auséncia, e/ou aumento ou rebaixamento das variaveis predefinidas. Essas comparagdes foram importantes para o avanco do diagnéstico diferencial, permi- tindo veracidade das interpretagdes geradas pelas cores. Além disso, os achados empiricos tendiam a se repetir em diferentes estudos, 0 que agregava valor ao efeito sintomatico das cores. Schaie e Heiss (1964), Justo e Van Kolck (1975) e Villemor-Amaral (1978) apontavam © aumento da cor violeta tipica nos grupos psiquidtricos de intensa ansiedade como, por exemplo, nas fobias, nas obsess6es e compulsées. Justo e Van Kolck (1976), Villemor-Amaral (1978), Heiss e Halder (1983) verificaram que a cor branca era tipica da esquizofrenia jé que reverberava fraqueza estrutural e a perda do controle sob os impulsos. Entretanto, os estudos atuais de Villemor-Amaral, Prime, Farah, Cardoso e Franco (2003) ndo confirmaram alguns desses achados numa amostra de pacientes diagnosticados com base no DSM-IV, Uma primeira razdo para isso deve-se ao fato de nao ser possivel controlar a variével medicagao devido a razGes éticas evidentes. Além disso, os critérios do DSM-IV nem sempre correspondem as observac6es originadas na clinica e fundamentadas nas teorias psicodina- micas, Mesmo assim, estes autores encontraram evidencias significativas da cor marrom para identificar o transtorno obsessive compulsivo, da cor vermelha nos transtornos por abuso de Alcool, da cor branca nos pacientes com transtornos somatoformes e, recentemente Bot- tino e Moscoso (2007) encontraram a cor azul aumentada de modo significativo em idosos deprimidos. Entretanto, Villemor-Amaral, Farah e Milanesi (2007) afirmam que a frequéncia das cores contribui pouco para isoladamente discriminar os grupos psicopatol6gicos entre si, sugerindo que as informagées geradas pelas cores devem estar necessariamente associadas aos outros elementos do teste como, por exemplo, o aspecto formal. O aspecto formal esta atrelado a estrutura da piramide, que se organiza de acordo com 0s recursos emocionais e cognitivos da personalidade. A maneira como 0 individuo dispoe 0s quadradinhos sobre o esquema da piramide é uma expressio da forma como ele contém suas emogées, ali representadas pelas cores. Quanto mais estruturada for sua piramide maior © grau de maturidade emocional, ja o inverso, menor estruturagéo, menos maturidade emocional. Entre as piramides estruturadas destacam-se as Formacdes, que levam em conta uma organizacao multidimensional e horizontal, e as Estruturas, consideradas as mais sofisticadas devido ao fato de levar em consideracao o plano tridimensional da piramide. Enquanto nas construges do tipo formacao o eixo vertical é ausente, nas estruturas ele sustenta a piramide. Depois de definido o eixo multidimensional ou bidimensional, a combinagao das cores é 0 que vai classificar as variagdes. As formagdes podem ser do tipo: inicio de ordem; camadas; simétrica e alternada. As estruturas podem ser do tipo: simétrica, em escada, em manto, assi- métrica dinamica e em mosaico. Independentemente da interpretagao agregada a cada uma das variagées, o importante é saber que a precisdo da forma impressa na piramide é 0 que qualifica o controle sob os estados emocionais. Associando-se o aspecto formal as cores que 0 compée verifica-se que as vezes 0 mesmo aspecto formal apresenta interpretacdes diferenciadas em fungao da cor Por exemplo, uma estrutura em manto com as bordas fechadas de uma cor qualquer ¢ com seu miolo formado por cores acromiticas tende a expressar defesas do tipo fechamento em: a8 ATUALIZAGOES EM METODOS PROIETIVOS PARA AVALIAGKO FSICOLOGICA si, {4 a mesma estrutura, com o miolo composto de cores vivas, levaria a hipotese sobres os esforcos de contengao diante da turbuléncia emocional. Assim observa-se que a combinagao de forma e cor é fundamental paraas interpretacdes € quando a forma ¢ falha ou ausente estamos nos referindo ao aspecto formal do tipo tapete, que pode ser do tipo: puro; furado; desequilibrado e com inicio de ordem. Nesse aspecto formal as dimensionalidades horizontal e vertical s4o negligenciadas. A pessoa ignora a forma de pit mide e preenche o esquema de forma aleatéria, levado apenas por sua atraco pelas cores. Diversos estudos apontam o aspecto formal do tipo Tapete como sendo tipico de pessoas imaturas como as criangas ou em adultos portadores de algum transtorno mental (Villemor- Amaral, 1978; Cardoso & Capitdo 2006). Villemor-Amaral e colaboradores (2005) aplicaram o teste de Pfister em pacientes psiquidtricos e os resultados diferenciaram os grupos patolégicos no que diz respeito ao uso de tapetes, que é mais elevado entre os esquizofrénicos, sendo que a soma total de Tapetes, independente de seus subtipos é de 78%. Outro grupo patolégico que apresentou tapete aumentado em 60% de seus protocolos foram os alcoolistas, mas execu- taram tapetes do tipo puro com maior frequéncia que os psicoticos. Jé entre os depressivos a soma total de tapetes baixa para 37% e elevam-se as formagées tendendo a estruturas, 0 que denota um transtorno mental menos comprometido estruturalmente, 0 que é coerente com as teorias psicanaliticas (Klein, 1970). Outro aspecto observado foi a evolucdo da primeira para a terceira piramide. Os esquizofrénicos tendiam a piorar no aspecto formal havendo um predominio de tapetes com inicio de ordem na primeira piramide passando para tapetes puros e terminando com o predominio de tapetes furados. Quanto aos alcoolistas ha sempre uma tendéncia ao uso maior de tapetes puros nas trés pirdmides. Ja os depressivos ¢ os com transtorno de panico costumam manter o nivel formal em torno das formacdes nao havendo alteraces muito significativas da primeira para a terceira piramide, o que é condizente com 0 dados teéricos de que essa patologia organiza-se em fase mais avancada do desenvolvi- mento mental (Villemor-Amaral, 2005). Outra varidvel importante para as interpretagdes do teste de Pfister é a Formula Cro- mética, que pode ser do tipo: Ampla; Moderada e Restrita. A amplitude é caracterizada pela quantidade de cores que a pessoa usa ao realizar o teste. Assim uma formula Ampla indica boa abertura para os estimulos externos demonstrando interesse para a comunicagao e trocas interpessoais, logo, o sujeito parece bem mais disposto trocas afetivas. A Formula Moderada indica interesse atenuo em investir seus afetos e a Restrita indica pouco interesse diante as relacOes interpessoais, podendo significar extrema inibigdo ou constri¢éo emocional. Cada um dos trés tipos descritos acima pode ser classificado como Estavel, Flexivel ou Instavel, mostrando em que medida essas cores variam da primeira para a terceira piramide. Sendo assim, uma pessoa com a formula cromética Ampla Instavel realiza suas piramides usando muitas cores, mas estas se repetem muito pouco na frequéncia das trés piramides. Uma pessoa com a formula cromatica Ampla Estavel, demonstra riqueza e possivel constancia nas trocas afetivas, diferentemente de uma pessoa, cuja formula cromatica é Restrita Estével. Nesse caso, mesmo coin menos interesses, a pessoa parece conseguir investir de forma adaptada seus afetos quando a situagio se faz necessaria. Ao contrario de uma pessoa com formula Restrita Instével, que além de nao se interessar ou evitar os estimulos externos, investe seus afetos de forma desajustada. A formula cromética é um indicador considerado estavel nos estudos mais antigos de teste-reteste (Villemor-Amaral 1978) e em um estudo recente de preciso de codificac&io encontrou uma concordancia de 80% nas classificacdes de juizes independentes (Villemor-Amaral, 2005). Novas CONTRIBUICOES PARA © TESTE DAS PIRAMIDES COLORIDAS o£ PristeR 3 ESTUDOS DE VALIDADE E NORMATIZACAO Atualmente os estudos empiricos estdio empenhados em verificar a validade do Pfister pax avaliar nivel cognitivo. No Brasil, Brauer (1998) verificou que 0 aspecto formal é a variawel que mais explica o rendimento cognitivo das pessoas. O autor analisou setecentos protocolias e observou que o aspecto formal Tapete foi mais frequentes em mulheres.com baixo nivel d= instrucdo. Oliveira, Pasian e Jacquemin (2001) pesquisaram a vivéncia afetiva de idosas as ladas e nao asiladas e concluiram que as nao asiladas fizeram 51% de estruturas, sinalizando uma organizagio e criatividade, j4 as asiladas fizeram 57% de tapetes. Giintert e Hesse (2002) avaliaram artistas plasticos com alto nivel de escolaridade a partir dos aspectos formais pro duzidos. Os resultados demonstraram que as pirdmides organizadas em estruturas eram as mais frequentes, sendo os tapetes completamente ausentes. Costa e Villemor-Amaral (2004) compararam a técnica de Pfister com a prova de racio- cinio BPR-S, a partir de grupos contrastantes (baixo e alto rendimento na BPR-S). Os resultados sinalizaram que as configuracGes do tipo tapete sdo mais frequentes em individuos de baixo rendimento, ao passo que as configuracées do tipo estruturas predominam em individuos com alto rendimento. Alguns jovens com alto desempenho na prova de raciocinio também apresentaram tapetes, confirmando o fato de que um alto nivel cognitivo nao resulta neces- sariamente em producées diferenciadas. J4 os jovens com baixo desempenho na BRR-S, que nao executaram estruturas, revelam que um baixo nivel cognitive impede uma produgao mais bem elaborada. Outro estudo importante foi realizado com a populacao infantil foi o de Cardoso e Capitao (2006) que compararam 0 desempenho cognitivo de criangas surdas e ouvintes encontraram diferencas significativas quanto ao aspecto formal entre os grupos. As criangas ouvintes apresentaram piramides mais elaboradas que as criangas surdas. Esse estudo, que na verdade decorrente da Tese de doutorado, da primeira autora, apresentou evidencias de vali- dade para o Pfister infantil devido a comparagao dos resultados do TPC com os resultados do Desenho da Figura Humana (DFH), caso contrario, tais inferéncias seriam arriscadas uma vez que o Pfister nao tem dados de normatizacdo atualizados para a populacdo infantil. Além disso, as pesquisadoras Villemor-Amaral, Farah e Milanesi (2007) estdo trabalhando para atualizar as tabelas normativas, de quatro décadas atrés. O estudo est4 em andamento sendo que jé foi aplicado o TPC em 250 criangas de 6 a 10 anos, ambos os sexos, das pri- meiras, segundas, terceiras e quartas séries de escolas ptiblicas e particulares do interior de Sao Paulo e Grande Sao Paulo. Além desse estudo, realizou-se uma investigacdo com uma amostra no Nordeste do Brasil para averiguar se as normas estabelecidas para os adultos do sudeste do pais apresentam dife- rengas culturais. Nesse estudo, nao foram encontradas diferencas significativas, sugerindo em principio, que as tabelas do sudeste podem utilizadas para a regio do nordeste do pais (Ville- mor-Amaral & Pianowski 2006), o que confere maior espectro para a utilizaczio do TPC. Sendo assim, é possivel constatar que os estudos recentes com o Pfister demonstram tratar-se de uma técnica titil em diversos contextos culturais e em faixas etérias distintas, encontrando-se cada vez mais evidéncias de sua validade como instrumento de avaliacao psicol6gica. Entretanto, muitas pesquisas ainda devem ser feitas, dando continuidade ao seu desenvolvimento.

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