Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 12
TERAPIA Ne CASALLE™EAMIIA: 0 Luar do reDarTa. 1453, Ndde000NGANA. th my tide CO-TERAPIA = fc: ie ek ec Maw Ux Hallow VW TCA aS ALMaRA Rosser Lopes LILIA SCARANO HEMSI i A arte da terapa familiar consite ‘en sero olko na tempestade, i Robin Skinner Nosso objetivo é pensar a respeito da utilizagZo da co- terapia no atendimento de familias, a partir de uma expe- riéncia que temos vivido e que nos tem parecido bastante title prazerosa, Entendemos co-terapia em em que g familia é atendi pia familiar como aquela Pensamos que esse modo de atuar pe | © atendimento de pacientes por mais de um terapeuta | simultaneamente teve infcio com o aparecimento e utilizaco das técnicas grupais, do psicodrama de Moreno e da terapia familiar. O que vamos chamar aqui de co-terapia difere y ess do modelo dit ego auxiliar icic jerérquica entre 0s terapeutas. Difere também do modelo ‘erapeuta-observador utilizado em algumas terapias de gru- — 109000000000000N “ ‘TERAPIAIDE CASAL E FAMILIA S ie c po, nas quais 0 observador tem como tinica fungio observar _teraputica. Entretanto, ho € a respeito desse tipo de co- Terapia que vamos falar aqui. Tentando esmiugar o enfoque que adotamos, pretendemos enfatizar a situago da nfo-existéncia de distingdo de fungao ou de hierarquia entre os térapeutas. Na pratica, essa atitude ¢ explicitada através ‘dd jogo livre dos diélogos ¢ também, / pelo contrato, no qual, so combinados honorérios iguais” aos dois terapeutas, deles, separadamente, Por essa igualdade de fungSes a co-terapia ird possibilitar uma série de investimentos da famflia sobre os terapeutas COUGIOGUANNN da dinimica familiar. Freqlentemente o par terapéutico ser. jidentificado com o par parental, mas essa serd, no nosso entender, apenas uma das muitas possibilidades de identi- ficago. No decorrer destes dltimos anos atendemos varios casos de familia em diagnéstico ou terapia. Isso nos obrigou a procurar ¢ experimentar formas de manejo técnico que nos permitissem um atendimento conjunto e simultfneo da fa- miflia toda num enfoque psicanalitico. Desejévamos que to- dos pudessem participar, se comunicar e serem ouvidos ‘igualmente ¢ a0 mesmo tempo, apesar da diversidade de ‘idades, de formas de expresso, comunicagao e de papéis dentro da constelacao familiar. E preciso salientar que av milis ic ‘se assemelha al bastante ’@ nenhum dos agrupamentos g de uma forma rica e cheia de sentido para a compreensio (CO-TERAPA rapéuticos, A. diversidade decorrente da diferenga cronol6- gica e, portanto, de geragdo ¢ de status, exige uma plasti- a voz de nag 0 dividindo em subgrupo: uma parte da familia fosse apenas ot ‘mesmo porque muito f as pequenas ¢ adoles No atendimento de uma familia nos defrontamos com tendendo a se afastar, se enrijecer ou se colocar como di- ferente e poderoso. Em contrapartida, a familia tende a espe- SEH EuC He aogaAaAs “19900A00000F *0nGAB0 A famflia que busca uma terapia familiar vem com una queixa, exibe um sintoma, mas no é essa queixa, esse sin- toma, que ird atrair nossa! ateng&o. Sabemos que o sintoma entranha um sentido, mas¢ara uma situag%o conflitiva ¢ esta- remos interessados em descobri-la e explicité-Ia junto com © grupo, & medida que a formos conhecendo. Pretendemos que 0 setting teraputico seja um espaco Para pensar € temos nos dado-conta de que a falta desse 4 dor psfquica e para enfrentar ou evitar enfrentar as expe- incias dificeis com que se depara. imento.Tais esforgos, no entanto, além CO-TERAPA ” ‘a vida emocional desses individuos, acabam também n&o se mostrando eficazes enquanto manobras defensivas. C: rapeuta 20.2 d = atus-los de uma fo ve - fletida. tho que nos propomos é 0 de fazer espaco ‘para que aspectos nfo reconhecidos e no admitidos do fun- cionamento psiquico da familia possam ser identificados, aceitos € elaborados por seus membros. Tais aspectos da dinSmica familiar vao forposamente aparecer na relagdo co- osco, co-terapeutas; sero, por assim dizer, reeditados. Nao podemos, entretanto, ignorar que dois terapeutas na ae, erent is na compreensao dos fe- némenos em jogo. H4 um certo paralelismo entre 0 grupo * TERAPIA DE CASAL E FAMILIA “dificil: para um Gnico terapetita se desvencilhar de atitudes tavel. Outros hé que no aaa toara detesth meee pew mers a MN: cr 6 mba trobeden cs eet oa através de intervengdes Fiche Coa GAO eg ae grande capacidade de continéncia por parte das terapeutas. fato de sermos uma dupla nos ajudou a manter segurancd/, compreensio, flexibilidade ¢ a sair dessa fase sem neces- sidade de separar 0 grupo. ‘A nossa capacidade de. conti- néncia foi de grande valia, dando as criangas a percepeio de que a ansiedade pode ser contida sem levar acatéstrofes(/, a te € A mie um modelo de controle afetivo. and marital paychoerapy London: Conse & Company, 1977 A negacSo da falta do pai se alicergava nessa famflia na fantasia de uma mfe bissexualizada, ao mesmo tempo pai e mie, figura essa todo-poderosa. Na evolugao tesaptntca, na mae ora no filho mais velho, podia ser aliviada pela internalizago de aspectos paternos em cada um dos mem- bros da famflia de uma forma mais afetiva e verdadeira. ‘Néo temos a intengo de fazer a apologia da co-terapia no atendimento de familias e nem mesmo de tentar apre- senté-la como a melhor alternativa para esse tipo de aten- . dimento, Acreditamos que a melhor forma de atendimento 6 indiscutivelmente aquela com a qual o terapeuta se sente mais & vontade. HA terapentas para quem expor ou compartilhar inteira ¢ esmiugadamente o processo de uma terapia seria insupor- MDONNDODOONANAHNONNAOON..An 190000080000 Texto 1B RESOLUCAO DE CONFLITOS ENTRE CO-TERAPEUTAS REFLETIDOS EM UMA BREVE TERAPIA FAMILIAR José OTAVIO FAGUNDES CLyNoma N. WoLD O poder do sistema familiar e os problemas t que ele coloca tém sido experimentados por tod. peutas familiares. Particularmente 0 terzpeuta fa trabalha sozinho enfrenta muitas dificul te a possibilidade de ser tomado pel: negativa do sistema familiar sistema familiar basicamente ajuda a delimitar, checar e POG Ls Maa: sannooacogu my) 0 deixando isolado, Dificuldades comuns experimentadas , entre 0s co-terapeutas podem ser descritas como ciso ov: dissociagdo, competitividade, transferéncia e utilizagao dé- ‘outro como bode expiatério'. As, caracteristicas que uma mipe de ia deverd desenvolver_u bilidade baseada na méta 5 ara ilustrar mais detalhadamente os conflitos que podem surgir entre co-terapeutas, bem como o impacto que estes Possam ter no processo da terapia familiar, serd apresentado RESOLUGAO DE CONFLITOS ENTRE CO-TERAPEUTAS. 9s tum caso breve (doze sessdes) de tratamento de um: Nesse caso, a resolugo dos conflitos entre a equipe foi crucial para a resolugdo de cot lares no sistema familiar. A FAMILIA A famflia Y, composta de pai, mae e uma filha de 17 irigit tide mental, nos Estados Unidos, & procura de uma consulta para a filha, Debbie. Nenhum membro da famfia feito tratamento psiquié- trico anteriormente. A familia fora indicada pela Corte Ju- venil*, ap6s Debbie ter sido autuada por roubo em uma Ioja. Os acontecimentos que levaram a essa situagdo foram significativos. Debbie havia fugido de casa apds uma dis- ‘cusso com o pai acerca do uso do carro, encontrando abrigo em uma casa comunitéria. Antes da fuga, Debbie retirou algumas centenas de délares de sua caderneta de poupanca, que foram roubados durante a noite. Com o dinheiro, pre- tendia comprar um carro ¢ aparentemente planejara o roubo na loja como forma de substituir seu dinheiro roubado. Ela havia entrado numa loja de variedades, ficando escondida até a hora de fechar. Apanhou entéo uma mala e encheu de mercadorias, mas, ao tentar sair, viu-se trancada. Na ‘manh seguinte, quando um empregado abriu a loja, Debbie © ameagou com uma tesoura e saiu correndo com a mala repleta de artigos roubados. Como esta pesasse bastante, Debbie a deixou na rua, com o intuito de voltar mai para buscé-la. Quando retornou, foi presa. Por cai incidente, a garota fora enviada a uma Corte Juver teriormente, encaminhada a consulta psiquidtrica. $0 equival » Juizado de Menores, wo Brasil TOA, SIOCTSIOGL: 50 FE (ee *» ‘TERAPIA DE CASAL B FAMILIA Os pais de Debbie chegaram a clinica com a idéia de que a filha era mentalmente desequilibrada ¢ delingllente,”’ ‘motivos pelos quais deveria ser tratada, Apés uma sessio individual e outra em famflia com um psiquiatra, a terapia - familiar foi recomendada. O fato provocou uma Teago ne- Bativa, especialmente na mée, que sentia qué no deveria estar envolvida em todo 0 proceso. Entretanto, a famflia concordou em participar para fazer uma tentativa, O primeiro encontro da famflia com a equipe composta Por co-terapeutas de ambos os sexos foi cabtico. Os mem- ,’ bros da familia falavam todos ao mesmo tempo, contradii, zendo ¢ desqualificando uns aos outros: A mae se conside!/ tava exclufda da famflia e, além disso, néo desejava parti- ipar do processo de terapia familiar. O pai parecia ser aliado da filha, que era um tanto sedutora com ele. Por sua vez, a filha se sentia isolada e incapaz de se comunicar com os pais. Parecia que ela tinha atuado no episédio do roubo lodas as suas dificuldades familiares. Os pais nfo-eram capazes de manter um acordo quanto 208 limites a serem colocados a Debbie. Ambos a deixavam agir a seu modo até que o pai tivesse explosbes de raiva com suas atitudes, o que levava a mie a deixé-lo de lado € a tomar partido da filha. Quando os pais discutiam, arru- mavam sempre uma maneira de fazer com que a filha par-, Licipasse das brigas, diluindo sua relago de casal através’, da intermediago constante dela. Debbie ficava ora do lado do pai ora da me, dependendo da ocasiio, e desse modo se tomava uma pessoa muito poderosa na familia e 0 centro das atengdes. Cada vez que uma situaco como essa ocorria, © pai € a mae eram incapazes de apoiar um ao outro. Nao havia limites de geracao pais-filha, mas havia uma parede emocional entre os pais. As caracteristicas da famflia eram as de uma famflia fundida: “niveis bastante clevados de Teagbes € envolvimentos, intromissdes. nos assuntos pes- soais, pouca diferenciagao de si mesmos e dos outros mem- 'RESOLUGAO DE CONFLITOS ENTRE CO-TESAPEUTAS.. ” bros da familia, subsistema familiar fraco, confundindo - ‘mmnito os limites ¢ hierarquias e bloqueio da comunicagao direta”*, Tanto 0 St. como a Sra. ¥ tendiam a infantilizar Debbie, Pois quando pequena a garota havia softido de alergias, desmaios esporddicos ¢ era considerada doente. A mie se Preocupava muito com ela e tentava sempre controlar sua alimentagdo ¢ sade, 0 que provocava brigas constantes en. tte Debbie € os pais. Apesar de seu cuidado, o pai tendia, as vezes, a se colocar no mesmo nivel de sua filha. Debbie reagia a essas incoeréncias dos pais portando-se de modo dependente e hostil, ndo comendo, dizendo-Ihes que havia desmaiado, cabulando aulas, bebendo e tentando roubar. Mas além desses problemas, os pais haviam escondido de Debbie um segredo de familia. Antes de seu casamento, a Sra. Y teve uma filha ilegitima, que contava com 2 anos de idade quando os Y se casaram. Essa crianga, Carol, fora adotada pelo Sr. Y © ambos decidiram jamais contar as filhas sobre a adogao. Subjacente a di i gonha e o sentimento de culpa da Sra, fora do casamento. Embora a irma fosse Debbie dissera na segunda sesso que havia crescido com Debbie, Carol, estava casada havia cinco anos e mantinha Pouco contato com a famflia. Pouco antes da tentativa de roubo, Debbie decidira des- cobrir se era ou nao adotiva. Certo dia em que ficou sozinha €m casa, revistou os papéis que seus pais guardavam e en- controu os documentos da adogao. Ficou surpresa e aliviada 20 descobrir que ndo era ela, e sim a irmé, a filha adotada. O fato de Carol ter sido registrada com 0 sobrenome de solteira de sua me a deixou intrigada. Quando pediu ex- plicagbes aos pais sobre essa informago, ambos ficaram muito embaragados e bravos e se recusaram a responder qualquer pergunta. < Joo00uvom,: a reste VUOBOA * ‘TERAPIA DE CASAL E FAMILIA. O PROCESSO DA TERAPIA FAMILIAR Quando a famflia Y comegou a terapia, todos os membros estavam muito ansiosos, eram ineapazes de se comunicar Tapeutas ou os funcionérios da Justiga controlassem Debbie. Na segunda sesso, 0 co-terapeuta homem focalizou a mae € sua relagto com Debbie e com seu marido. A Sra. ¥ falou cconflitos conjugais i e sultado de um eletroencefalograma que Debbie havia feito 0s 9 anos e que apontava anormalidades. Jsso nfo havia sido mencionado durante a consulta psiquitrica. Aparente- driblar os terapentas introduzindo novo material, Confirmando esse fato, somente o Sr. Y e Debbie com- Pareceram A terceira sesso. A Sra. Y, que nfo trabalhava hd 25 anos, decidira repentinamente aceitar um emprego e ‘Zo compareceu por estar em seu horério de trabalho. Os terapentas insistiram na participagao da Sra, Y no processo teraputico ¢ ela reaparecen na quarta sessio. terapentas se tomaram evidentes, j4 que um, o do sexo mas- culino, era psiquiatrae por isso enfocava o problema médico, ¢ a do sexo feminino, assistente social, enfocava os proble- mas sociais. Até aquele momento, os co-terapeutas n&o fi- RESOLUGAO DE CONPLITOS ENTRE CO-TERAPEUTAS. » © assunto central das quatro sessbes s , nas quais © pai insistia para que 0 exame fosse feito ¢ a mie se per- guntava se seria realmente necessdrio. Os pais iam variando suas posiges, de modo a que nunca chegassem a um acordo. Nesse meio tempo, os terapeutas também foram envolvidos ‘no problema, com a terapeuta no querendo forcar Debbie a fazer 0 exame € 0 terapeuta insistindo para que ela o fizesse. * A CONTRATRANSFERENCIA a DOS CO-TERAPEUTAS terapeuta homem, inicialmente, sentiu simpatia por Debbie. Nao lhe agradava a fraqueza demonstrada pelo Sr. Y, como pai, justamente o oposto do que ele proprio havia / experimentado em sua familia de origem e meio cultural. Também a Sra. Y 0 aborrecia, devido ao seu criticismo ¢ a0 modo como infantilizava Debbie. Assim, no comeco.do, ‘ratamento, 0 terapeuta se sentiu como um aliado de Debbie, em oposi¢ao aos pais dela, Quando o Sr. ¥ levou o exame, o terapeuta homem pen- sou que talvez tivesse minimizado o problema de Debbie ou feito um mau diagnéstico. Sentiu-se entio manipulado por ela, do mesmo modo que considerava que 0 pai de Debbie houvesse sido. Nessa perspectiva, pareceu-lhe que ele também fora colocado na posigo de'pai fraco e isso 0 levou a reagir contra Debbie e recomendar energicamente a avaliago neurologica para uma nova andlise do caso, 1} 0000000000000..: 100 TERAMA DE CASAL E FAMILIA “ tomando assim o lugar do “pai forte, que iria ajudar o pai freee. De inicio, os pais gostaram da posig¢ao do terapeuta, privcipalmente © Sr. Y; mas quando Debbie se rebelou, ‘fentando desafiar sua recomendacao, os pais ficaram divi- didos sobre 0 assunto, Por sua vez, a terapeuta “‘re-experimentou” sua familia de origem, da qual era fitha Unica. Debbie parecia repre- sentar seu “self mau”, que controlava seus préprios pais, com um comportamento de crianca mimada ¢ teimosa. Por essa razdo, a terapeuta teve sentimentos extremamente ne- Sy -gativos para com Debbie, até perceber que esses sentimentos.” stavam relacionados a sua prépria familia de.origem. Desde entio, a terapeuta foi capaz de criar uma empatia com a garota e agir, eventualmente, como sua porta-voz. Nas duas— rimeiras sess6es, ela sentiu que 0 terapeuta homem tomava conta da situago, controlando as entrevistas, ¢ afirmou que 79 abandonaria 0 processo cao ele no mudasse de atitude. | Essa ameaga foi inconscientemente colocada, coincidindo | com a fuga da Sra. Y da terapia familiar, & €poca em que Tepentinamente encontrou o emprego ¢ faltou & terceira sto, Quando o assunto acerca da avaliaclio neuroldgica se tor- nou uma disputa, a terapeuta concordou com seu colega de equipe de que aquele era um tema importante para a familia. Poxéin, quando Debbie se recusou a fazer 0 novo eletroen- cefelbgrama, a terapeuta se colocou ha mesma posi¢ao ne- gaciva e ambfgua dos pais, duvidando da verdadeira impor- tGzicia de novo exame. Isso provocou uma’cisio na equipe, com © terapeuta do sexo masculino insistindo para que 0 exame fosse feito ou entig a terapia familiar nfo continuaria, €.a do sexo feminino insistindo no fato de que nfo era uma questo to importante. Tornou-se evidente para ambos os terapeutas que essa divisio néo ajudava o processo da fa- milia, mas, 20 contrério, bloqueava-o. Por fim, chegaram a um acordo: trabalhariam em cima da discusso do exame 'RESOLUCAO DE CONFLITOS ENTRE CO-TERAPEUTAS.. oy tomando-a como a representago de um conflito familiar, Principalmente a falta de habilidade dos pais de fixar limites a Debbie, Tal como é descrito na literatura sobre o assunto, ¢ muito, fécil para o terapeuta ser envolvido no sistema familiar cle”. Varios autores tém apontado que o sistema familiar € envolvido na composigao de relago de co-terapia, mani- festando-se no seu trabalho e no modo corn a relaco entre 05 co-terapeutas se estabelece, criando na equipe uma tenso que exige ser trabalhada'™ *. Os terapeutas essencialmente foram capturados pela dinamica familiar e repetiram os con- flitos familiares na relagdo de co-terapia, 0 que resultou em um impasse, A equipe levou cinco semanas até elaborar isso, durante as quais a terapia nfo obteve progressos. Através de uma série de conversas ¢ explorando seus sentimentos, 0s co- terapeutas se deram conta de que haviam sido aprisionados no sistema familiar. Desse modo, foram entdo capazes de se distanciar de suas experiéncias pessoais passadas até che- ‘gar a perceber suas relagBes como co-terapeutas no processo. A partir desse momento, concentraram-se em um método para ajudar a familia a sair do seu dilema: a técnica de coaching*, Como a comunicagao nessa familia era muito cadtica, as sessOes foram estruturadas da seguinte maneira: 0 pai falava com 0 terapeuta e a mae com a terapeuta e transmitiam ‘entdo um a0 outro as posigbes dos pais, pedindo-Ihes que interviessem se fosse necessério esclarecer algum ponto. Quando os pais chegavam a um acordo, a terapeuta assumia © mesmo papel em relacdo a eles e a terapeuta falava com Debbie, conduzindo entio a outro didlogo entre os terapeu- * Embora usualmente coaching seja traduzido por treinamenin na exe Ustad O00000000u, —— o000000 we ‘TERAIA DE CASAL E FAMILIA tas, desta vez ele representando os pais ¢ a terapeuta, a filha, Essa técnica funcionou muito bem com a familia, por- que eles se sentiram gratificados por conseguirem se co- municar, pela primeira vez, mais claramente, sem negativas ¢ interrupgdes. Para ilustrar.como a familia agia nesse sen- tido, uma vez, quando a terapeuta falava por Debbie, 0 te- Tapeuta comegou a interrompé-la, falando pelos pais. Deb- bie, entfo, intervelo, pela terapeuta, dizendo-the: — Espere um momento, ela aigda ndo terminou! Foi a partir desse momento que 0s pais comecaram a discutir como colocar limites a Debbie, ¢ embora ela tenha esistido no infcio, acabou sé envolvendo de forma aberta no processo de terapia familiar (nas sess6es anteriores, ela ‘inka ficado lendo livros, bocejando, mostrando-se entediada ou interrompendo). Os terapeutas alteraram entio 0 tipo de técnica de coaching empregado e passaram a ajudar cada membro da famflia a falar por si mesmo, com o suporte dos terapeutas. Durante as sessdes de coaching eles muda- vam ativamente suas posieSes, apoiando cada membro con- forme fosse necessério. Uma grande quantidade de raiva, mordacidade € acusagdes relacionadas a acontecimentos passados foi dirigida pelos pais, um ao outro. Os terapeutas estruturam entZo a situago familiar de modo a que o casal se concentrasse mais no presente do que no pasado. A SESSAO DE RESOLUGAO Quando os terapeutas conseguiram ser mais objetivos um com 0 outro e com a familia, mudangas construtivas ocor- Teram. A nova sessio foi o climax desse processo. A familia foi logo dizendo que Debbie iria fazer 0 exame de eletro- encefalograma e que o pai estava muito aborrecido, porque a decisdo fora tomada entre mae e filha. Os terapeutas en- corajaram a familia a recriar 0 incidente, no qual o pai ‘RESOLUGAO DE CONFLITOS ENTRE CO-TERAPEUTAS.. 13 sentiu que sua mulher havia negociado a decisdo sobre o exame com a filha pelas suas costas. O fato fez vir a tona i 08 sentimentos que os pais tinham de sempre um estar mig ‘nando as tentativas que 0 outro fazia para dar algum suporte © agir de modo mais estruturado com Debbie. Os terapeutas ediram aos pais que se sentassem um em frente 20 outro, com 0 terapeuta do mesmo sexo ao lado, para discutir esses sentimentos. Segue-se um breve techo do didlogo: St. Y — Foi como uma exploséo. Debbie disse que nao ia fazer 0 exame e eu disse que assinariamos os Papéis Para que ela o fizesse de qualquer maneira. Cerca de cinco minutos depois, Debbie saiu do quarto e disse que queria conversar a sds com a mae e a préxima coisa que eu sei € que minha mulher saiu e disse: Ela assinou os Papéis e vai fazé-lo, Debbie — Sim, mas eu queria falar para ele. (E nio que 08 pais falassem um com 0 outro.) Sr. Y — Vocé sabe, eu fico louco, mas passa rdpido. Essas duas € que ficam emburradas 0 tempo todo. Debbie — Nao, Huh-uh. A terapeuta retomou a discussio sobre a raiva do Sr. Y Para com a sua mulher, perguntando-Ihe porque estava bravo. St. ¥—Porque senti que ela desrespeitou minha posi¢do. Continuou dizendo que teria gostado que Debbie conver. ‘Sasse Com ambos a respeito da decisao. Sra. Y — Foi tao répido que na hora esqueci de tudo isso. (Do acordo que tinham feito de discutir 0 problema Juntos.) A mide, entfo, discorreu sobre 0 assunto e uma briga acalorada ocorreu sobre os detalhes do incidente. Os tera- Peutas pediram a familia que representasse o que havia acon- tecido, dando-Ihes bastante apoio, incentivo e esclarecimen. ‘o. Para limitar a briga, pediram que os pais combinassem como gostariam de proceder dali em diante em assuntog’~ GOOUbLL | 108 ‘TERAPIA DE CASAL E FAMILIA daquele tipo. O Sr. Y confrontou sua mulher sobre os pactos que ela fazia com Debbie, usando isso para minar sua au- toridade. Debbie o interrompeu varias vezes, com comen- térios do tipo: Machdo chauvinistal O terapeuta propés a Debbie que mutlasse de lugar, co- locando-se do lado oposto dos terapeutas, de modo que estes ficassem entre Debbie ¢ os pais, formando uma verdadeira barreira humana. A garota se recusou a faz8-lo e ameagou abandonar d sessio. A terapeuta interveio, entfo, ajudando o colega e sugerindo que eles e os pais mudassem de lugar, criando assim a mesma situago, na qual funcionariam como uma barreira entre as duas geracSes. Mesmo assim, Debbie continuou interrompendo a discussdo de seus pais, até que © terapeuta disse: — Debbie, vocé tem uma posicdo muito poderosa na familia e'€ una boa lutadora, néo? Debbie sorriu, admitindo que era “boa de briga” e ento © terapeuta the pediu que deixasse seus pais falarem. Ela concordou e foi capaz de observar em siléncio. Foi nessa sesso, na qual os terapeutas agiram estreita- mente engrenados como uma verdadeira equipe, dando su- porte, classificando € servindo como modelo, que os pais conseguiram trabalhar algumas de suas dificuldades ¢ se- parar também 0 relacionamento do casal do relacionamenté/ com a filha. Na sessfo seguinte, a m&e pOde falar com bastante liberdade dos seus anos de adolescéncia, de sua gravidez enquanto solteira e de seus conflitos diante da si- twag&o. O pai também compartilhou algumas de suas expe- rigncias de adolescente e ambos puderam ter algumaempatia com a filha. Debbie, por sua vez, foi capaz de dizer & mae que devia ter sido muito dificil para ela falar sobre Carol (@ filha ilegitima), Depois dessa stssio, tf mobilizadora, na qual todos os membros se envolveram e foram empéticos um com 6 outro, aconteceram mais duas sessdes que levaram 20 término do processo terapéuticé de comum acordo. [RESOLUCKO DE CONFLTOS ENTRE CO-TERMPEUTAS.. 10s CONCLUSOES Passaram-se seis semanas entre a primeira e a thtima sesso. A famflia sentiu que suas dificuldades haviam sido resolvidas. Debbie estava muito mais independente dos pais ¢ seus pais conviviam melhor entre si A familia conseguia discutir suas discordincias e chegar a conclusdes. O eletro- encefalograma foi feito (¢ o resultado foi normal). Quando acontratransfer€ncia foi reconhecida e resolvida, permitindo que houvesse comunicago entre os terapeutas, a familia conseguiu por fim trabalhar seus conflitos* ". A resolugo dos conflitos dos terapeutas serviv como modelo para os membros da familia. Isso confirma as observagtes acerca’ do impacto que a relagao dos co-terapeutas pode no processo de térapia familiar € como 0s co-terapeutas po- dem servir de modelo de comportamento para a familia * ‘A equipe de co-terapeutas de ambos os sexos pode dar 0s pais a oportunidade de trabalhar conflitos antigos, por- que ela reativou sentimentos relacionados propria expe- riéncia deles com seus pais. A familia ¥ forneceu um quadro excepcionalmente claro sobre o impacto que o confflito entre o-terapeutas tem no processo familiar, por se tratar de uma terapia breve (doze sessdes) € de todas as sess6es terem sido gravadas em video e sido revistas posteriormente pelos terapeutas. O caso ilustra vivamente a facilidade com que até mesmo terapeutas experientes s4o induzidos pelo sistema familiar sem perceber que isso possa estar ocorrendo, € a extrema importncia das equipes de co-terapeutas explora- Tem constantemente seus préprios relacionamentos, relativos 20 proceso terapéutico, LO P@SSIL-_ a

You might also like