BRECHT, Bertold - O Teatro Épico PDF

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(© TEATRO EPICO ‘A cexpressto “teatro épico" pareeu a muitos contadiria em si, pos, a exemplo de Aristtces, considerava-se ques forma épick a forma dramética de narra oma fibula cram fundamentalmen te stints uma da outa, Em caso algum, a diferega exstente centre ambas se aribuia apenas 3 eireustaneia de uma set apre Sentada por eres vos e dea out utilizar a forma de lvro — houve abras e épiea, come ax de Homeroe dos ogras mediovos, «que foram também realizagies teatras,e dramas, como o Fausto, de Goethe. ¢ 0 Manfredo, de Byron, que, como é do conbecimento de todos. tveram maior repercusia como ives. A dferenga ene 8 forma dramatica ea forma ica em Arsttees ea atibulda 3 Aiterenga de estratur, sendo, assim, tatadas a les respitantes ‘sas duas formas em dois ramos distintos da esttca, A estruura depend das diversas manelaspelasquais a obras ofeecida 10 pilblico — através do palo ou do ltr. Mas, independentemente fesse fato,surgia ainda um cunhodramitico nas obra épicas eum ‘cumlo épico nas obras dramiticas. O romance burgués do século pessado cultivou um pendor dramdtic bastante intenso, pendor ‘ste que se traduzis em intensa concentiagio da fabula einer ependéncia entre as partes isoladas. O tom emocional da na ragioc um realeespetal dado ao entrechocar das forgas em causa caracterizavam essa "ramaticidade". Ao épico Doblin deve tuna excelente caracterizagio dos dis génetos ao afirmar que, 20 contrrio do drama. a epopéia se pode, a bem diet. retahar em pedagos, pedagos que permanecem, apesar de tudo, com intra italidade [No pretendemos expisar aqui por que motivo a oposicto en tre épico e éramatico, durante longo tempo considerada ins perivel, perdeu 2 sua rigder:basta‘os chamar a atengdo para 0 fato dea ena, através de aguisigdes tcneas, ter adquirde con Ages para incorporar nas representagdes dramatics cements natrativos. AS possbildades oferecidas pelas projvies._ pos! bildades de maior tansformagao da cena através da utiiacto de *motores” —o cinema — completaram oequipamento do paleo surgiram no preciso momento em que se constat ni Set pos ‘vel, sinda,apresentar os acontecimentos que se revestem pao homens de importincia maxima pelo simples processo de per- Sonificasio das foreas em ago ou da submissto das personages ‘0 poder de invisiels orgs metaises, Para a exata compreensto| os acontecimentos. tornavavse necessirio da realee (por vasto © "sgnificativo") ao ambiente em que vivian os homens. Este ambiente também ere, naturalmente, exibido nas obras “ramaticas produsidas at enti; porém, no como um elemento independente, mas, sim. apenas, do pio de vista da figura cen ral do drama. Surgia da reagio que o herdi the contrapunts [Aparecia a nossosolhos como uma tempestade que apenas s en trevé num barco que desiralda as velas 4 superficie das Agus depois, € visto ao vergar das velas. No teatro épico,porém, reten dias que o ambiente se manifests independentemente © palco principiow 4 “narrar". A austncia de uma querta parede deizou de corresponder & ausincia de um narrador.E mio fra somente o fundo que tomava posto perante 0s acontecimen: tos ocorridos no pale, traendo A memeris, em enorme tla ‘outros acontecimentos simultane, ocorrides em algum lvger justificando ou refutando, através de dociomentosprojetados, 3s falas dae peronagens: fomecendo smerosconcretoe susceptives se serem apreendidos através dos sentios, para acompantarem ‘loos bsirates: pando &aisposigae de acontecimentos Pst ‘jo sei fosseindeinig, mimerose frases. Tumbént tm tres ‘no consumavam completamente a su transformacd, antes man ‘Unham uma dstinca em relago & personagem. e inctavam, até [Nao mais era permiido a0 espectador abandonarse a uma visineia sem qualguer atta cries (e sem conseqiéncas na pritcs), por mera empatia para com a prsonagem dramitice. A Fepresentagdosubmetis os temas eo acomtesimentoe am proces ‘0 de alheamento indspensive a sua compreensao. Em tudo 0 que Eevidente. € hibito renunciar-se. muito simplesmente. ao ato de ompreender. O que era natraltinha, pos. de adquiir um ca titer sensaconal. 50 ssi as Tels de causa e de efeito podlam Ser posts em felevo. Os homens inham que apie de determina for ‘mae poder simultaneamente, age de outa, Foram, de fate, moifiagbes de monta ” {Para um controntoesquematizado entre o teatro dramitico © coteatto pico, v. "Notas sobre a Opera Grandesa e Decadencia da Cidade de Mahagonny (8.10. (O expectador do teatro dramétco dia: — Sim, ev também js sent iss. —~ Bu sou assim. — Osolimento deste homem eomove tne, pois €iremodisvel. E uma coisa natural, ~ Sert sempre as sim, — Isto € que € arte! Tudo all evident, —Chorocom os que ‘horame ria com os que im, ‘Ocespectador do teatro épico de: — Isso & que eu nunca pen saria, —'Nao é assim que s deve fazer. — Que cosa extrac iri, quaseinacreditivel. — Isto tem que acabar, — Osofrimen: to dest homer comove-me porque era emediivel. ~ Ito € que arte! Nada ali éevdente. — Rio de quem chora echoro com of ‘queriem © TEATRO DIDATICO (© palso principiow ater uma ago dita, (© petréle, a inflago, 4 guerea a ltas soca, a familia, 2 roligito, otrige, 0 comérco de gado de consumo passaram a fazer parte dos temas do teatro. Coos elucdavam o expectador acerca thos fator para cle desconbecidos. Por meio de montagens cine iatogrifcas, mostravamseacontesimentos de todo-o mundo. As Drojedes Forneciam material estatistico. Pela desiocao dos fun {hos para primeir plano, «ara0 dos homes er submetida& uma vii, aria uma forma cera e uma forma errada de agit ‘Apareciam os homens que sabiam © qu faim © outros que no Sabiam. © tcatzo passou a ofercer cs filsofos uma excelente ‘oportunidade, oportunidad, ali, aberta apenas a todos agucls {ue desejavam nao sb explicar como também modifica 0 mundo Favin-e filwfia ensinava'e, portanto. F. com tudo ise. © teatro perdia a saa funglo de entzetenimenta? Aciso 1s em purravam de novo para ox bancos di escola © nos trataram ‘como analfabetos? Queriam que faéssemon exames, que conse suissemos um diploma? E voz corrente que evste uma diferenca marcante entre aprencr © divertinse- E pone! que aprender tej Gti, mas 3 Advertise € agradivel, E precio defender teatro épeg conta a8 «qualquer posivelwspeita de se rata de um esto profundamen: {e desauradivel,tristonho efatigante ‘O gue podemos diet & ue a oposigio entre aprendere diver: tirse nto € uma oposigao necssiis por naturera, ums oparigho| ‘que sempre exist e sempre ter de exis 'A aprendizagem quo conhecemes da escola, da preparagso Fis ete inuhitvelmente penosa. Mas deve tere om conta em que circunstancas para que objetivo ela se process Tratacse, a realidade, de uma compra. A instrogao é mera mer. caudoria, adquirida com objetivo de revenda, Em todos aqueles que bltrapascaram 3 idade excolarainstroao fem de serevada efoto |quase que em siglo, pois quem confesater de aprender colors, SImultaneamente, num plana Inferior, considersndo'e alguém {ue sabe pouco. Alem uss, 0 provelt da insturdo encontrar se ‘ito imitado por fatores que eat fora doaleance da vontade Jo ‘studante. Temos o desemprego, contra o qual nio hi sabedoria fue salha, Temos a divito do trabalho, que inutliza © impos Pitta uma cultura geral. A instrupdoesté mutas vezes nas maos de {quem ji mio progride po esr algum. Raramente a cultura di Sows ao Porras existe uma cultura qe $8 se comsexe ad {ul através do Poder ’S insirugio desempenha para as diferentes camadas da Populagdo um papel muito divers, Hi camadas questo incapazes fe concer uma melhoeia de situagio: a stuagao em que tee ‘ontram parece thes sufiientements boa pars si. Acontegs © ve Scontecet ao einieo, dele rcebem cre, E, am do mals jase Sentem, efetvamente, um pouco envelheidas. Ji mio poder ‘ver maltos anos mais. Por que motivo enti vio fcr tentando| “aprender uma pory3o de cosas mais? J disseram 9 que tinhim & dizer pronto. Mas hi outrascamadas 6a populagio "que aindt ro veram a sua ver", que esto descontenes coma stvagio, que tm um grande iniresse prtico pela istrucao, que qverem 56 venta todo eusto. que sabem gue sem instrugio eso perdidas ~ estes estudantes a0 os menores eos mats sequioss de saber. posse. também, encontrar diferengas ene 0 dversos pases € Populugdes. © gosto pela inseugdo depende entio de muitos © XaFiados fatores. Mas, nao obstante, hd uma forma de insiugso aque causa pracer. que alegre combats ” [to fora esta posibilidade de uma aprendizagem divert, ‘teatro em que pese toda suaestratura no sera capar deensinar. ‘O teatro ndo dita de ser teatro, mesmo quando dato: e, ese que seja bom teatro, divert © TEATRO E A CIENCIA "Mas que tem a clincia a ver com a arte? Sahemos pee tamente que acifacia pode ser motivo de dversto, mas nem tudo ‘que dvere tem cabimento num paleo.” 14 muitas vezes, a0 apontar oF insalulives servigos que a ciéncia moderna, devidamente emprepada, pode pestar 4 art, e, fem especial, ao featro, me contestaram que a are e a ciécls 20 ‘ois dominion vaiows, mas totalmente dinerscs, da atiidade humana. Tal asserio é,natoralmente, um terivelugar-comum, 6 bom alirmar logo gue est, de fat, cert, como a maori dos lugares-comuns. A'artee a eiéaca atuam de manciras muito di ferentes, nto nego. No entanto, devo confesar, por muito que fra 4 sensbilidade de alguns, que nto me posivel subsist como a. tista sem me serve dacinci. E possvel que est afirmagio suscite fm muitas pessoas séras divides acerca das mihasaptidoes aie teas, Estio habituadas a ver nos poets sere sem par seres quase normals, que, com uma certea verdadeiramente divina, co- ‘aecem coisas que aos outeos sb & dado conhecer com grande es forgo e muita aplicacao. F, natralment, desagradivel ter de a rmitir que ndo pertencemos a0 numero desses seres leita. Nio podemos, porém, deixar de admit. Nuo podemos também Geir de objetar a que se considerem as tarefas centificas a- fqueles que desiaradamente as professam ocupagtes secundirias (Como tal pefetamente admissel) que sto devempenhadas 20 serdo, depois do tabalho feito. Bem sabemes que Goethe se de ‘cou também Ss cincias naturals e Schiller & Nstéria © que ext fatos sto muito condescendentemente tolrados como uma espcie de mania, Nio pretendo acusar ambos, sem mais nem memes, de trem necessitado destascincins para a sua atvidadepodtica, alo pretendo desculpar-me com eles, mas devo dizer que necesito das ‘eneias. E tenho, mesmo, de admits que no vej.com bons hos 50 «quem quer que ndo este 20 nivel de wm conbecimentocintificn, Isto 6, que cane tal como as aves, ou como se supde canter a5 aves, No quer ito dizer que rejite ura bela poesia que tena por tema o paladar de um linguado ov o prazer de uma excursio duties, apenas porgue o autor ndo estudou gastronomia ou eén- ‘a nica, Mas ereo que s6 podero ser cabalmentecomhecidos ‘agueles grandes e complexos acontecimentos do mundo dos ho- mens que, para melhor compreensto, chamarem 2 si todos 0s recursos posses Suponhamos que havla a representar grandes paixbes ou acontecimentos,desses que influenciam o destino dos povs. O in- Unto do Poder, por exemple, surge-nos, hee em dia, como uma frande paixto. Supondo que um poeta "satia™ este instnto Supondo que pretendia mostrar-nos alguém que ambicionasse 0 Poder ~ como poderé ese poeta conhecer 9 complicade mecanis mo exterior dentro do qual se lute, hoje, pelo Poder? Seo herbi ‘qe nor prope um politico, camo se faz, hoe, a politica? Se é um homem de nepicos, como se fazem, hoje or negécios? Mas hi poetas que se interessam muito menos apaixonadamente pelo ins {into de Poder do individuo do que pelos negScios ou pea politica! Como deverto eles proceder para conseguirem os necessiies conhecimentos? Limitando-se a andarem por a, de olhasabertos, pouco averiguario e, contudo, isso ji seria mais do que apenas reviar os olhos num atague de Toucura. A funeao de um jor tomo o Valkscher Beobachter! ou de uma firma como a Standard Oil algo bastante compro, algo que nose podera conhecer por simples milagre. A psicologia € um importante dominio para os Sramaturgos. Hi quem suponha que, apesar de um bomen vulgar rio ser eapaz de descobir. sem um esclarecimento cabal. 0s ‘motvos que levaram alguém a um assasiio, um peta dispoedes- s: possibildade; poders dar, baseando-se em sipréprio, a imagen to estado de espirto de asassno. Para tal, bastard olhar pa tkeotro de i mesmo e pi, além dso, fantasia atrabalhar, efor preciso... Quanio a mim, uma vasa série de mativor me impede de bandonar-me & agradivel esperanga de conseguir bastar me & ‘mim proprio de uma forma assim tio cbmoda, Jt no consigo e Tina tnt doPrpeanse a Ten Rech W dT) st ‘ontrar em mim todos 0s fundamentos de acto observados no bhomem que vem transritos em artigos dejornais ou de publicabes cents, Tal como sicede «um vulgar joe no momento em que proferida « condenagdo. sou incapaz de imaginar satisfatoria- mente o estado de espinito de um asassino, A moderna psicologa, ihe pscinliye go hehasiorivns. proporcona-me ee nen ‘que me Faclitam uma aprecacio totalmente diversa do caso em {Questdo, muito especialmente se tomar em conta os dados da “Sicilia e nfo desprevar a economia ea histri. Dito queo que proponto & complicado, ao que to podeei responder sento Imativamente. Tales acabem por se convencer e por coneordar ‘omigo em que hi uma bos pare3o de literatura qu € bastante primitiv, mas perguntario, ainda, profundamente preocupados: Uma noite de teatro no passa, entio, a ser uma coisa tremen* 444?" A resposta € nepativa. Tudo o que uma poesia conver de cariter centifico tem de estar completamente transposto pa lano da poesia. Este aprveltamento pottico de elements cien- {fies contribu também para o prazer que vem do aspectopodtico| propriamente dito. Poném, para que tal transposighondo rsulte Em pjuza do prazercientifico, € neessrioapeofundar o pendor para uma intima penetraio nas coisas, € ecessirio cultivar © flee de tornar o mundo susceptvel de ser dominado: deste ‘modo, nos asseguraremos, numa época de grandes descobertas€ Invengbes, da fruigao da sua poesia SERA PORVENTURA © TEATRO EPICO UMA “INSTITUIGKO MORAL"? Friedrich Shiller. deve ser un insti moral. Quando Seiler formulou esta exigéneia.ndo The ocorreu ‘Que o fae de se ditar moral do alto do palo poderia pro publico Shr sella Fac tes épca.w pice dada nha conta ‘que se dtasse moral. Sé mats tarde, Friedrich Nietzsche oinjuriou, Tetaew "opti mora Sekine Pata Nits «ce, 2 preocupago moral era algo melancélco; Seller, perém, s considerava de interesse altamenterecreativo, Para Schiller, nada havia que fone mais dvertidoe causes maior satisagio da Goe ropagaridais. A burgucsaestava enti esruturando a ideologia hacional. — Arrumar nossa casinha, gabar a prata. da cas, apres eusas. xi) cnn alkane nvcrsativan, Por thy lado, € muito triste falarmos da ruina da noses casa, precisar de vender a prata, pagarmos a5 contas. — Foi sob este prisma que Friedrich Nietzsche encarou a questio, um séeulo mais tarde. A ‘moral no the cai no goto e, por conseguinte, tampouco o seu homnimo, ‘Também muitos se voltaram contra teatro ico, alogando que era demasiado moral. Mas, apesar de todo, no teatro pico apenas secundariamente surgiam questies moras, O verdadeira propésito do teatro épco era, mais do que molar analisar, Aw Sim, primero, analisara-se a questo, e 6 depos vinha a "subs ‘inci. x moral da histria, Afirmar que nos entrepamos & oma anilise por mero gosto de analisr, sem qualquer outro motivo mais palpivel,e que fcames, depois, completamente surpret: dios com o resultado, € evidentemente falso, O motivo que nos Jevou a al ands fo, Sem ddvida, os desacertos que vamos nos sa volta, stuagbes dfclmente toleriveis,situagdes que nio 6 por ‘sripulos moraisera dif suportar Nuod apenas porexrapulos moras que & possiel suportara fome, of ea repress. A fi nalidade das novsas pesquisas no se limita a desperar ese pulos em rela a determinadassituagbes(embora se pues facilmente susitar tis escripules, se bem que nio em todo © aviitério — era raro, por exemplo, maniletaremse exripulos nos ouviles que travam proveito das situagdes em questo finlidade das nossaspesqusas era descobrie meios que pudessem impedi a cragdo de stuacdes como esat tho dificiment fole- ries. io Ialivanin emt tonne sa gues eras cm nome de todos os que steer danos, 0 que é muita diferente, Diz-se com freqlncia aos que fora lesado, recoerendo justamente a alusdes de ordem moral, que devriam se conformar com a sa situagdo. Para tas moralistas, So os homens que existem em fn «0 da moral endo.a mori em fun dos homens. Do que ficou dito se poder ddr até que ponto © em que sentido o teatro pico € uma instituigso mora PODER-SE-A FAZER TEATRO EPICO ONDE QUER QUE SEIA? No que resprita a0 estilo, 0 teatro dpico nada aprsenta de ‘opevialmente nove. Assemelha-e to antiqulssimo teatro aii or peo su carder de exposiga e pelo realce dado ao aspecto ar Usico. B06 misters medienals, 0 teatro elissio espantol ‘teatro esta evidensiavam tendEncins Ais, Estas formas de teatro corespondiam direlamente a cetase Aeterminadas tendéncas da época e com elas morreram. Tamibéan ‘9 moderno teatro Gpico eth ligado a erase determinadas tnda- ‘as, Nio pode ser, de forma alguma, feito onde quer que seja. A raiora das grandes nagtes no esti disposta a debater os seus problemas aum palco. Londres, Paris, Téquio e Roma reservam Sus tenor para fine totalmente dvesos. Até agora, apenas em propcias ao desenvolvimento de um t fascismo pas im energcamente ao desenvolvimento dese teatro. Ete tipo de teatro pressupoe,além de um determinado nivel técnico, um poderoro movimento na vids socal, movimento este no sé interessado na te dcussto das questes vitals, visando ‘ia solucioe dispondo da possbilidae de defender esse interesse ‘ontra todas as tendéneias qu se he oponham. (0 teatro épico & a tentativa mais ampla © mais radical de crlagSo de um grande teatro modern cabethe vencer as mesmas Imensas difculdades que, no dominio da politica, da flosoia, da ‘SBneia eda arte, todas as foreas com vitlidade tem de vencer. EFEITOS DE DISTANCIAMENTO NA ARTE DRAMATICA CHINESA ‘Vamos abordar agora, em nos alongarmos demasiado, om prego do efit de distanciamento na arte dramética chines, Este feito foi, ultimamente, utizado na Alemanhs, em pecas de “ramétien ndo-arisrdica (que nd se fundamentam na empati} foi ulizado ao servigo das tentativas realizadas para a esr ragio de um rear épico © objetivo dessa entativas consistia em se efetuar a representagdo de tal modo gue fore impossivel ao es pectador meter-sena pee das personagens da pega A aceitasto ov 8 recusa ds palavras ou das agdes das personagens devia efetuar= se no dominio do consciente do espectador,e 0, como até ee ‘momento, no dominio do seu subeonsciente Esta tentativa de distanciar do publico os acontecimentos representados manifestase ji, em grau primitive, mas obras teatrais epictricasapreventadas nas tradiconas leita anuais. ‘modo como fal o palhaco do cico o modo como exio pintados ‘© panoramas ' acusam a utlzagdo do ato de distanciamento. A ‘maneira, por exemplo, como est pintada a reprodo do quadro A fuga de Caros, 0 Temeriro, depos da batalha de Murten reprodugio exibida em muita feiras anus alemas, €, decerto, Jefciente; no entanto, 0 ato de dstanciamento” consepuido nes ‘4 pintura ~ e gue o original nfo possui de modo algun se deve atribuir a deficiénia na reprodugio.O miltarem fuga, cavalo, a escola € a palsagem foram, consienlemente, pintados de modo ‘que produzisem a impressao de um acontecmentaextraordinite, uma catistrofe surpreendente. O pinor. ado bstantefodes as elciéncias que encontramos na sua obfa, consequiv trar um feito excelente do imprevsto, Eo assombro que Ihe comanda 9 piel sonsonpenamictnete IN da) s ‘Também a veiha arte dramitica chinesa conhoce 0 feito de Aistanciamentoe utilia-o de maneira muito sul. Sabemos que o teatro chinésemprega uma poreao de simbolos. Cito alguns exem pos um general traz ao ombro uma poredo de pequenas bar eras, em nimero precsamente igual ao dos regimentos que comanda. Indica-se a pobreza cosendo iregularmente sobre os Trajen de seda alguns pedagos do mesmo material. mas de cor diversa, que representam remendos, Os caracteres S20 indicados or meio de méscaras, ou sea, por meioda pintura, Determinados estos executados com as duas mos representam 0 abrir ilento ‘ie uma porta, ete, O pals, propriamente, parece nie sore a: teragio algume, do principio ao fim do espetdculo, se bem que sejam colocados alguns moves ao longo da representa. Tudo ie: {06 conhecido ha muito difclmentepoderé se modifier © hibito de encarar uma representagio de cariter atistico ‘como ‘um todo mio se dest facimente, Todavia, & sem divi, nocessirio destruito, se se quise estar um ecto isola, entre rites outros, O efeita de distanciamento &abtido no teatro chines o seguinte mode: ‘rimeiro, o artis chings no representa como se al das tnésparedes que o radelam exists, ainda, uma quart. Manjesta Saber que estdo assstindo ao que faz. Tal cicunstinea ast, desde logo, possibilidade de vir a produzirse um determinado sinero de iusto caracteistico dos palas europeus. O public jé ‘ho pode ter, assim, aust de sero expectador impresentido de ‘om acontecimento cm curso, E, desta feta, toma-seperfetamente Supérfua toda uma técnica prolitamente desenelvida nos pales curopeus: permite a relerida téenica ccultar que as cenasestio ‘montadas de forma que poss sr reconhecidas pelo publica sm ‘ominimo esforg. Tal como os acrbatas, o tore exclem, bem A vist de todos. as posiges que melhor os expdem a0 pablce. ‘Outra medida tenia” 0 artes é wm expectador de proprio. AO representar. por exemple, uina nuvem, o eu Suto imprevist, © seu decurso suave e vielen, a sua tansformasio répida e, no ex tanto. gradual, oa, or vees, para oespectador. comese guises se dieele: "Nao assim mesmo?” Mas alha também para 08 Ses prpris brags e pars ak suas perma, uiando os, extminsh foros e,acaso,elogiando-os. até. no fim. Olha elaramente para 0 se chit, avalia 0 espago de que dispte para seu trabalho; nada disto parece poder perturbar a lust. O artista separa, pois, @mimica (representacio do ato de observar) do “gesto"(repreentagto da ruvem), mas esteem nada fea perdendo pela separacio;& posicio| to corpo provoca uma reac na fisionomia econfere-the toda sua expresso. Ora nos mostia uma signifietiva expressao de reser Serle soph triunfo, Q aris wiles rote com maf Ina bran wer preci pel "get cae O gue o artista pretende € parecer alheio ao espectador, ou antes, causarihe estranhera, Para consegublo, observase 8 31 proprio e a tudo o que estérepresentando, com alheamento. As Sim, 0 quer que presente adguir o aspect de algo eetvamente ‘spantoso, Numa arte com estas caracerstias, 0 quotidiano passa para além do ambito da evidéncia, Vejemos mais um exemplo: Spresentada ao pblico uma mulher jovem, filba dum pescado, remando num bote. Conduz 6 pé a embarcapio inexistente, com tum pequeno remo que mal Ihe chega aos josthos, Ora a corrente se tora mas ripida, ra the € mais dif manter 0 equiibrio, ora ncontra uma enseada erema descuidadamente. Bis como secon: {uum bareo! Mas esta Viagem de bote dis impresio de ser uma Wiagem histrica, cantada em muitas cangbes, jvulgar, bem confecida de todos. Os movimentos desta mulher joer famoss foram fxados em imagens. eada curva do to era uma aventura, aventura conbecida: e a curva a que aludimos agora também & conhecida. & a atitude do anista que provoca no espectador esta Sensagdoe que tornaa viagem clebre. A referida cena recorda-n0s 4 marcha para Budveis, na versio de Piseator de O Valente So: ‘dado Chovik, A marcha de Chk, tés das ao sole ds estes, em ‘regio it frente, que, por mais estranho que pareca, nunca aan: {loi um autentico acontecimento historic, nao menos notive ecerto do que a expedigio de Napoleto & Russia em 1812. ‘A autoobservagio pratieada pelo artista um ato artical de avtodistanciamente, de naturera artistic, no permite a0 expec ‘dor ama empatia total to &, uma empatia gue actbe por se iransformar em auténtce auto-renincia; cris, muito pelo con ‘rari, uma distincia magnifica em relagao aos acontecimentos. Isso no signifies, porém, que se renunce & empatia do espe tar. E pelos alhos do ator que oespestador +, pelos los de a 3 suém que observa: deste modo se desenvole no pblico uma Attu de observagio, expectant A. atuagto dos artistas chineses parsce a0 artista ocidental freqentemente fra. Ndo que o teatro chins renuncie represen tagho de sentimentos! O artista representa acontecimentos. que relator reproduca a aitude do motorists ou «do atropedo, ov 8 de ambos, de al forma que os crcustantes tena posibllidade Ae formar um juzo erie bre o scien, Este exemplo de um teatro épico na sua forma primitva parece ser em si, fcilmenteaceitivel. No entant, pelo que Sa o bvemos por experigncia propria, tal exemplo revestese, para 0 ‘ouvinte ou para oletor, de uma espantosa dficuldade, desde que ‘048 um ou a outro se exja que compreenda, em todo 0 seu akan ‘ce, o propésit aque obedecea a nossa escola consideraro exem plo da esguina de rua base de um grande teatro, um teatro de ‘uma época cientifica. O que com isto se pretend dizer 6, por um ido, gu ota fi pode os Sr em fon por Tudo, mas que no necesita incur, fundarentalmene, near elemento que vi além desta exemplifieagio da esquina de ua, pars poder ser um grande teatro e, por outro lado, nBo se poder ‘Shama teatro pico se faltaste gum dos elementos essenciais do fexemplo que refer. Sé depois de se compreender sto se poderd, na realidade, compreender 0 que we segue. SO depois dese compreen- der o que hi de novidade, de ousadis, de desfioaberto 8 ertica nesta afirmagio de que uma cena como a da esquina de rua é sfisente como exquema de um grande testo, se poder realmente fomipreendero gue Segue. preciso ter em conta que o acntecimento em questio no corresponde evidentemente, de modo algum. ao que costsmamos Gdesignar por um acontecimento de ardem esttca. O autor da texemplificacdo nao necesita ser artist. Para alcancar seu objetivo bnatathe saber 0 que, pratcamente, todos nbs sabemes. Supo- ‘nhamos que n80 era capaz de executar oma movimentaglo Wo Fipia como 1 do acidentado que est Imitando: Bastard, nesse ‘aso, que diga, como explicagdo: — Os morimentos dee eram tes ‘eves mais ripidos do que os meus. — A exemplifiagto no sri por iso, prejudieada na sua estneia, nem desvrtuads. Mult pelo ontrrio, marcar-se-é assim um limite & sua perfegio. Se sa Capacidade de metamorlosechamasse a atengio dos crcunstantes lal efeto perturbaria a exbigdo.Terd, pls. de comportarse de forma a eviter que alguém possa exclamar: "Com que veracidade cle far © papel dem choler!™ Nao tem de “arrastar"™ninguém ‘consign, Nig deve (rasportarainguém. servindo-se do seu poder de sedugdo, da exfera do quotidiano para outra "mais elevada”. ‘necesita dispor de aptides especialmente supestvas. E mito significative o fato de ima das caractersticas fundamentals dsse teatro que por a se faz habitualmente.e que consste em apresen os ‘ur ao pblico uma iusto, nlo se manifestar na cena de rua. A representagio do individue que dewreve a ocorréncia na rua tem ‘um cariter repetitivo. © acontecimento realizou-se« es que se realiza agora a repetico. Desde que a cena ter cia, neste pono, a cena de ru, o teatro deisatd de ocaltar que é teatro am ‘bém a desrigto na esquina da rua nao oculta que € uma descricio (nem tem pretenses de ser um acontecimento auténtico). Tudo 0 ‘que na representagdo & fruto de ens liar, por completo, em evidfncin — desde a memorizagio do texto a toda « engrenagem mobilizaa e a toda a prepara subjacente, Sera essim pense uma vvéncia? E a realidaderepresentads, sei ela, ainda, suscep veld ser vivid? ‘Ncona da rua determina qual a indole da vvénca a suc to espectaor. O indiniduo qu fa a deserigho na rua experimen ‘ow indubitavelmente uma vivéncia de natureza emocional. mas no intenta fazer que a sua dsergao result em vvencia para oes Dectador. E mesmo avivéncia do motorist do acidentado sto por fe transmitidas apenas pare yum pretende que flay venham a translormar-se para oespectador numa vvéncia © ‘numa fonte de prazer. por maior que seja a veracidade que em reste sua desrico. Esta no ted menor valor seni repro 8 pico que o acidente provocou: teria menor valor se © repre vss O objetivo da sua descrigao io € car emoydes pus Un teatro que se proponha seguir o exemplo que preconiel realira, desde logo. como & bvio, uma alteraco da sua fungi. Oviro clement essencial da cene de rv, também aecessirio 1 cena tearal — se pretendermos apresenta teatro pico ¢a sircunstinca de a desrigo tr uma projeyto no dominio pric, ‘no dominio social. Quer o individu que deste 0 que oorreu ha ‘ua ura, apenas. mostrar que ese ov aquelecomportamento de lum transeunte ou do motorist determing ineitaveimente um acilente (que um comportamento diverse poderia preven), quer 0 sew intuito soja esclarecer a quem cabe a culpa 4 desergio obe *lecea uma fnaidade rites, hi sn compromise social Eo objetivo da decrgdo que determina qual 0 rau de cexatiude a conferie & imitagdo, O nosso narrador ago precisa imitarinegralmente a atitade das suas personagens stare qua imiteem parte, em tanto quanto for necesirio para nos dar uma Imagem da ocorréncia. A mesma cena apresentada no teatro dé ros: de uma forma gral, imagens muito mais completas, imagens ‘gv estdo de acordo com aesfera de interesses do teatro, que é mais ‘asta, Como estabelecer entdo, neste poato, uma afnidade entre a ‘cna da rua ea do teatro? A vor do acidentado, para exemplifcar om um detalhe, pode, em primeio lugar, nio ter desempenhaco papel algutn no acidente, Mas uma divergéacia de opaices urgida| entre as pessoas que assstizam ao acidentee que dscutem se aex ‘lamagio ouvida ("Cuidado") veio do aidentado ou de qualquer ‘outro transeunte poderé evar nosso interpreta imitar «yor que a proferi. E possvel solucionar uma questo como esta desereven 3, muito simplemente, se se tratava da vor de um veho ou de tuma muiher, ou se era apenas de tonalidade alta ou baixa. Con- tudo, a solugto pode também depender do fato de a vor sera dum Ihomem cult, ob 4 dum homem inculto. Pode darse 0 caso de a tonalidage alta ou baixa desempenhar ur papel importante, pos. conforme a circunstinela, assim caberi ao motorsta uma culpa ‘maior ou menor. Hé, ainds, uma série de particulariades da vitima que necessiam ser representadas. Esavia distraido? AL. sguma cosa 0 distaiu? Qual teria sido, provavelmente, 0 motivo? ‘Que € ue, o seu comportamento, reve que trd sido essa cir onstincia a distal, e nfo outs? Ee. ete Como vm. atrela ‘ave nos langamos, de desrever um acontecimento passado mi ‘Sauina de uma rus, permite-noselaborar uma reproduc bas fante rica e polilacctada do homem. Nio devemos, porém. es fquecer que Um teatro como 0 que advogames, que nos Seu cle tents esenciis no pretende wltrapassar a representac feta ths via pili, tem de reconhecer detrminados limites 3 sua Jmitaguo. € em funeio do objetivo a que se propse que deve jus tilfear o seu dispéndio de clementos.! stem wai som craton a nent 0 romero a Sm 70 [A descrigto pode, por exemplo, er como ponto ulminante a questo da indenzagio, ete. O motrista rears que o despecam, ie Ihe trem a carters, que o prendam; eo aidentado, por sa vez. receari uma enorme despesa de fretamento médico, perder © fempreg. fcar desfiguredo para sempre, os, porventra, inca: pacitado para o trabalho. E dento deste campo de posibidades ue 0 individ que fac a deserigho molda as suas personagens. O| scidentado estala, postivelmente, acompanhado « a0 lado. do ‘motors iia sentada a respectiva namorada, A perspectiva socal fzanhari. assim, maior eidéncia. Os caractees poderio ser mais ‘scamentedelineados ‘Um outro aspect essenclal da cena de mi consiste em o natrador deduze os earacteres que aprewentaintsiramente a pat las ages. Lmita a8 agdes.permitind, assim, ques espeito dels Se tre uma conctusto. Um teatro gue também neste ponta sige 0 cexemplo da ena de ua afastar-se-4 de um hibito caracterstice do teatro usual e que consiste em fundamentar as ages nos caracteres ‘© subtraflas a uma ertca, apresentando-as coma proving ir Stniro sgn, Anas conden or toe scr xc ma a rsa nt gs ma opener inviin dee de ats ndpeaclentender catalan qe eh tsa ena naa pea ou mela. te ur én eae “nr onsen pce an. Plena tere de epitope” So preinete dpe remedivelmente, por determinismo natural, dos caracteres a que ‘tho dando eletivagio, Para quem faz a descrcdo do que aconte- ‘ou navi pUblica,ocaréter do individue que sth sendodeseito& ome uma espécie de dimensto fsica da qual nto tem de dar uma ‘efnigao completa. Dentro de determinades limites pode se, in- Aiferentemeate, ou assim ou assado. A quem deserve tanto inte: resam as partculridades do vsadosusceptveis de provocarem o dents, como af que eram susceptivels de enti. Mas pode, farmbém, dar-seo caso dea refeida cena em teateo, nos mostrar Indviduoe que apresentem menor variedade de matizs. Ela devers ser, ent eapar de assinalar oindviduo como caso especificoe de indicar oimbito no qual realizam os efeitos purticularmente ig rifieatives, mima perspectva socal. As posibilicades dscritvas {do nosto relator que atu na va pablica esto condicionadas por tstreitos limites (excolhems este exomplojustamente para termos| ‘ox mais esteitos limits poses). Se pretendermos que a cena em teatro nio ullraasse, nos seus elementos esenciais, a cena que ecorrena rua, hi que ter sempre em conta que o fato de aquela possuir maior riquera jamais deverd significa seao um enr ‘quecimento, Tomae, pois, necessirio abordar a questio dos cease limite. [Escolhamos um detalhe. Ser lito que oindividuo que faz 8 escrigdo reproduza, num tom exctado, a afirmacio do motors ta, de que se encontrava cansado por estar em serio havia muito tempo? (Em si, tal comportamento seria to inadmissivel quanto 0 ‘deur emiesrio que, ao vollar de uma entrevista com o ri, in Urodursse 0 stu relato da segunte forma: "Vio el barbado!”) Sem divida, para que possafazélo, ov antes, para que ten de flaé-lo, haveria que imaginar uma situapio, dentro da cena ‘ocorrida na exquina da rua, em que o estado de exitagdo (us tamente motirado por este aspecto do acontecimento} desempe hase um papel especial. (No exemplo anterior, verificar sein luma situagHo desse tipo, no eas deo re ter, por exemplo, jurado ‘einar crease a barba até que. ete.) HA que descobrir uma pers: or de apotnn gus tev orto ot le tnd Psete Frowc n pectva que permita ao narrador submeter seu estado de excitagao ‘ums atitude eitiea. $6 ser etoa este nosso amigo imitar o tom, fexcitado da vtima quando adotar uma perpectira bem dete. tinads, isto €, quando aacar es motorists, por exemplo, porque ‘io fazem nada para encurtaro seu horiie de trabalho, (Ele em Sequet €sindicalizado, mas quando acontece alguma desgraga per {ego cala, edi: "Fico dez oras ao valantel") Para chegar ata, ou se, para poder apoatar ao stor yma ‘perspectiva hem determinads, o teatro tem de adotar uma série de ‘medidas. Se ampliar este pequeno excerp de um espeticuo, que & ena de rua € mostrar 9 motoristanoutrassituagbes alm desta do acdente, de modo algum excedera, por isso, 0 exemplo-padrio. Criard. apenas, mais uma situacio de caréter-padrio. E possvel imaginarmos ua cena, no nos afastando do caster evidenciado pela cena de rua, em que s asita a uma deseriao,suficiente- ‘mente fundamentada, do surto de emogbes tas como ado motors 1a, 04, entao, em que seam apresentadosconfronos de enoactes. ara nao exceder a cena-padrao,otentrotera apenas de desenvl- ser, segundo as cicunstincas, uma Wénica que permitasubmeter as emogées a una aitude critica da parte do expecta dor. Com sto, no se pretende,naturalmente,airmar que oespectador dea sr, fem principio, impedido de partihar_determinadas emogdes apresentadas em cena. Todavia, a reeepea0 de emordes seré apenas, para 0 espectador, um determinado esthdio a efticn {uma fase ou uma conseqnéacia).O narrador, no teat sto &, @ ator. tera deempregar uma tenia que Ie pssibilitereproduzit a fetoagio da personagem por si descrita com uma determinads reser, com cera distineia (de modo que 0 espectador posse Gir: “Esti exctado — em vio, tarde demais, fnalmente™ ete) [Em suma, ator nio deve jamais abandonar a atitude de narrador: tem de nos apresentar a pessoa que ester descrevendo como al igudm que the & esranho! no seu desempento ndo deverd nonce Falae a sugesti de uma tereira pessoa: "Ele fr ito, ele die to." Nio deve ansformar-se completamente na personagom des- ‘Um dos elementos essencinis da cena de rua consiste nt atitue natural de duplicidade que o nareador adota: ams, per Imanentemente a duassituagSes. Procede de modo natural como n narrador € confere ao objeto da sua naracdo um procedimento também natural, Nbo se esquece jamais, e nem tampovco permite que ninguém se esqueea, de que quem esthem cena nla a pessoa escrita, mas, sim, a que faz a descriqdo. Ou sea, o que o publica ‘é alo é ume fasto entre quem descreve e quem est sendo des ‘tito, nto ¢ um terceito,auténomo e ndo contraditério, com con ‘orns dluids do primeiro(o que faz desrito) e do segundo (e aque & desrito), tal como é costume deparar-se-nosno teatro que Por aise faz habitualmente:" As opnides eos sentiments doin Aividuo que descreve e do que€deseit nto esto sintonizades CChegamos, asim, a um dos elementos mais earactristicos do teatro Epic, 0 chamado eeito de distanciamento. Tal eeto de pende de uma tenica especial, pela qual se confere aos aconte ‘ments reprsentados (acontecimentos que se desenvolam ene (5 homens nas suas relagtes recfpocas) um cunho de sensiio falismo; os acontecimentos pastam s exigir ume explcagto, deixam de ser evidentes, naturals. O abjtivo do elite de dist lament € possibiitar ao espectador uma erties Feeunda, dentro 4 uma perspetva socal. Serd este efelto também importante pra individuo que faz a descrgdo na via publica? E fécilimaginarmos oque aconteceria se le nto o produzise. ‘Suponhamos, por exemplo, uma situagho do génera da que asso Sescrevers — Um espectador dra: "Seo acidentado, como voce tos exth mostrando, ps primeio opé direltona ra, entde.." 0 rartadoe poderia intercompé-lo dizer: “O que eu mostrel fol que le is primero op esquerdo.” Uma dsputa come era, sobre se ‘© pe ue o-narrador asentou eletiamente primeiro na rua. a0 fazer 8 sua descriho, foo dreito ou o exquerdo, , sobretudo, sobre qual foi o procedimento do acidentado, pode modifica a escrica de tl forma que sujao efit de dstanciamento. Desde ‘© momento que © narrader passe a reparar eserupulesamente na sua movimentacdo ea eletuclacuidedosa everossimilmente rts. fad, obterd o efit de distanciamento, ou sj, dstanciard esse ‘equeno acontecimento parcial realgando-he a importnci. tor ‘ando-o notdro. O eeito de cistanciamento do teatro Epica revel se pois também til para individeo que faz a descr em plena ” rua, ou, por outras palavas, manifesta-se também nesta breve ena (que pouco tem a ver com arte) de um teatro natal, nama fesquina de rua. A transericao direta da represenagio 30 comen- rio, que carcteriza 0 teatro épico, € o elemento que logo & primeira vista encontramos numa descrigdo levada a efeito ne via bia, seja ela qual for. O individuo qu efetua a deserigdo na via pili interompe com explicagies, tanta vere the paroyam co ‘enientes, «sua imitagao. Os cores eas projeqdes do teatro Epo, (os atoresdirigindose diretamente ao espectador, tudo ito 6, 20 fundo,exatamente o mesmo ‘Como se poderé comprovar — espero que tal no suceda sem ssombro —. no apontei dente os viros elementos, aqucles que fenguadram a cena da vie piblica e, simultaneament, o teatro Epic, um plano propriamente artistic, O nosso amigo que fac a Aeseigdo em plena rua € capaz de fara, com faite, srvindose lapenas de capacidades que "praicamente todos of homens pos- ‘Sem. Mas quanjo a0 valor artstcn do teat épico, que haverh a diver? (0 teatro épico situa 0 seu exemplo-padrio numa esquina de fa, sto & remonta a um teatro simplicssimo, “natura”, a uma realizgao de natueza social cos motives, meios © objetivo sto pric, terenes. O exemplo-padrio jusifia-sea si proprio, no ecssita do aualio de certs jusiieasbescorentes no teatro ais como “lnstinto de expressio", “apropragao do destino alk", caperinci expritual”,“instintaludiea","prazer de fabulacio", ce, Serf ict conclur que o teatro épico mio estar, por conse. fine, interes pela arte? Em primero logar. seria convenient formula « pergunta de smaneita diferente st €, comegar por inguitise se podem uliear ‘apacidades arstieas para realizar os objetivos da cena de ra Responder afrmativamente 4 esta pergunta é fil. Também na eseicdo & esquina de rua se encontram elementos artisticos. Em todos os homens existe uma percentagem minima de aptidees a Ustics. E comveniente que nos embremos disso quando estivermos perante uma obra de arte. AS aptidbes que designamos por arti ties: podem. sem divida. ser sempre enquadradas nos limites determinados pelo exemplo-padrio — a cena de rua. Operario ‘como aptides artistas, mesmo sem transporem este limite (mes. 8 smo que, por exemplo, nfo deva ocrrer uma metamorfose intgeal fo individvo que descreve naguele que & descrio). O teatro épio tem, com efeito, um carter profundamente etticoe dificimente se pode concebéto sem artistas e sem qualidade estes, sem fan- tasia, humor esimpatia. Sem tudo isto, e ainda muito mais, n20| ser possivelrealiear teatro épio, Ese teatro que preconizamos ‘em, simultaneamente, de divertir ede ensinar. Como sera, eto, posstel desemolver arte nos elementos contidos na cena de ra sem omisio ou aeréscimo de qualquer elemento? Com & qu. sia cena, resularh tate, ia cena come fabula sents ‘stores experintes,linguagem clevads, caractrizacioe, ainda, um trabalho conjugado de vris tare? Necesitaremos, acts, de al um complement para adicionar aos elementos j6 conecidos, a0 passarmos da deserigdo natural” desrig “arifcial”? Tudo o que acrescentams ao exemple-padrio, para chogae: ‘mos a‘um rear épico, no seri, ao fim e ao eabo, de naturera diversa? Desde ji, se nos detivermos numa breve anilise, pode remos demonsirar que nao. Vejames, por exemple, a fab, Acidente na rua nB0 foi wma invengao. Ors bem: 0 teatro vulgar também no tata, exclsivament, temas inventados, como 36 verifiea se pensarmos nas pegashistérces, Mas também ae ‘qina de uma rua € possielrepresentar uma fabula. O individ «que faz a desriao na rua pode dizer certs altura: "A culpa do ‘motorsta. pois tudo acomteceu como dexcrevi. Mas el no seria cupado se acidente tnesseocorido da forma que passo a des crever". Poder ento, invent um acontecimento diver det srevé-le, Quanto & questto de, no testo, 0 texto ser ensaado, também o individuo que faz a deserigho na tua pode, se esver| perante uns tribunal, como testemunha, aprender decor eenstiar © teorexato das falas das personagens que val representa e ue, possvelmente, snotou de antemao. Apresetari assim, também, tm texto enssiado, E quanto a have uma representa ens ‘cargo de virias pssous, a verdad € que nem todas ax descr ese tipo seefetvam com vista aum objetivo artisticos endo, len bremos procediment da Policia francesa, que leva ox principals implicados de um caso de crime a petit perante 3 Policia, as situagies que possam ser mais eselarecedors. Veja. agora, as Imdscaras. Ligeiras ateraghes no axpesto das personagens (com % por exempl, dar aos cabelos um aspect desgrenhado) so tam: Ibm sempre ponsiels numa descrigao de cariter mlo-artstice Mesmo a carssterizagho nto €ullzads, apenas, para ins tetas: ( bigode do motorists. na cena de rua. pode ter um significado pecial, E possvel que tena influenciado o testemnho da sia hipotétics scompanhante. 0 individvo que far a descrigio poe dar uma representacio conereta essa circunstincia, fazendo @ motorists collato big fctiio na altora em que leva sua aco ppanhane a prestar detarages. Ser-the-d, assim. pesivelredult Ifandemente 0 valor do testemunho desta, Todava,spassagem de lm bigode ictco a um bigode autéaic, no teatro, oferese cera Aificuldade dficuldade essa que surge também no que respeita 0 dlsfarce. O indvidve que far 4 deserigio na rua pode. em deter ‘minadas circunstincas, pro bone do motorista: por cxemplo. se ‘Quiner mostrar que este se enconttura, provavelmente, ébrio (Goloca-o de banda). Massé deve fad-lo em determinadascircuns- tncits,e nunca sem que para tal huis justfcagio (vet as ind ages precedentes acerca do casolimite). Comtudo. a0 efetwarmos tama deveriao por intermidio de varias pessous, do gener day anteriormente refers, podemos adotar um disfare, para que ‘ja pomvel diningur, ums as outs, as pessoas desea, Mas. também neste caso, badtamos um difarce dentro de certs limites. Nio se deve susitarailusio de que as pessoas que esto deserevendo @ acontecimento so, a reaidade, os proprios Protagonist. (0 tato Epco pode laver gor tal usto por meio fe disarees partcularmeate exayerados ou de vestimentas com determinadis caracerisieas, que tenham cariter espetacular) Mas poxemios propor, ainds, outro exemplo-padrao. que, neste onto, sativa o da esquina de russ tratase da exibigao fet, também na nia, pelos vendedores umbulantes. Para venderem a sway rava.este divs figuram peranteo ranseunte tanto tn heme mal vestido, como un leat: com us quanto ace Seis eum minino de ests, reprewentany Brees cet alunnay nos qua se imp mo un, prion, ox mesmo Hines ques nossa cena do acklente impoe ae natrador (propane ‘ds chap, a Bengal das las avon, ma sua represent. toma ausiva contrafagdo de um gal. note revlam muito mai profundamente da qi extras. Vriicamo, também. a par te dos vendedores ambulantes, a utilzagto do verso coma parte de lum conterto iéntico ao indicado pelo nosso exemplo-padrio Quer se trate de um vendedor de mais, quer de um vendedor de suspensrios, ambos utlizam rtmos irepulares, mas certo, ‘As conseragées que temos feito comprovam que 0 sso ‘modelo-padrio nto € insuficiene. Nio existe qualgue ierenca e base entre o teatro épco eo teatro pico atstico, O teatro que se desenrola numa esquina ée rua € primitive seus motivo, ob {jtivos e meios de realizado nio Ihe conferem qualquer valor pecia. Contudo, é, incomtestavelmente, um acontecimeato si nificatvo, com uma aida fungd0 Social, 4 qual estao subor rnados todos 0 seus elementos. Na repreentagao da rua hau ‘eterminado incdente que serve de pretexto © que pode ser analsado de diversas formas e reprodurido deste ou daguela ‘maneira:tratase de um caso "ainda por resolver” © que, muito pelo conraro,vri ater conseqaéncias, sendo portato importa te que sobre ele se forme um juio, O objetivo da representagho & possbltar uma apreiagao cities da acorénci, Os melon de que se sere correspondem a este objetivo. O teatro épico # um teatro altamente artistic. denota um eonteida complexe e, alm disso, profunda preocupacio social. Insttuindo a cena de tua exemplo- ppadrio do teatro épico. atrbuimos a este uma nltida posto secial. Estabelecemos asim determinados prineipios pra teatro pio. tur dos quai €porsiel waliar se que nee se desenrola& ‘um acontceimento sigificativo ou nao. Oexemplo-padrio tem im portincia prtiea. Di aos diretores de ensaio © aor ators que preparam uma representa nests meldes, em que surgem ques "Wes de pormenor freqientemente complexase problemas utsticos soca. a possibile de controarem sea funglo socal de tol, "aengrenagem se mantém sempre perfetament ntact ANOVA TECNICA DA ARTE DE REPRESENTAR BREVE DESCRICAO DE UMA NOVA ‘TECNICA DA ARTE DE [REPRESENTAR, CONSEGUIDA MEDIANTE ‘UM EFEITO DE DISTANCIAMENTO ‘Tentarei, a seguir, deserever uma Unica de representagao utlizade em alguns teatros para ditanciar os acontecimentos spresentados do expectador.O objetivo desta tecnica do efito de ‘istanciamento era confers ao espectador uma aitudeanaitca€ critica perante 0 desentolar dos. acontecimentos. O5 meios em progadon para tal eam de natureza artista Para a utlizacho deste efito, segundo o objetivo jé mencio nado, €condigio necessiria que no palco e na sala de espetcules| no se produra qualquer atmosfera magica e que no surja tam: bbém nenhiom "campo de hipnose". Naose intentaa, assim, erat tem cena a atmesfera de um determinad tipo de espago um quarto hoitinba, uma rua no outoae) nem tampouco produzi. através ‘deur ritmo adequado da fla determinado estado de alma", Nao se preendia “inflamar 0 pablico dando-se rédea solta ao tem> peramento, nem “arrebat-lo™ com uma repreventarlo feita de ‘uiseuloscontaldos. Nao se asprava. em suma. pro piblico em ttunse e dare a ilusto de estar asistind «um aconecimento ature ndo enssiado, Como se vers, 2 seguir 4 propensao do pblica para se entregar a uma tl us deve ser neutraliads por condigio necessiria para se produvir 0 eleto de dstan- clamento que, em tudo o que oor most ao public. sea aldo ‘esto de mostrar. A nogdo de uma quarta parede que separa fc- tciamente 0 palo do publica e da qual prorém a iusto de o paleo custr, na realidade, sem o piblic, tem de ser naturalmente riitada, o. que, em principio, permite aos atores votaremse Alsetamente para opablico, (O contato entre 0 pibico © o palo fica, habitualmente, na ‘empatia. Os esforgos do ator conventional concentamse to com Pletamente na produgio deste fendmeno psiguico que s© poders Sizer que nele, somente,descortina sfinalidade principal da sua arte. AS minhas palavas iniias, ao tatar desta questo, desde logo revelam que a técnica que causa oefeito de distanciamento & Giametralmente oposta & que visa a criggdo da empatia, A teenia ‘e distanciamento impede oator de produze feito da empatia, No entanto, 0 ator, a0 esforcar-se para reproduzir determi nadas personagens para revelar o seu comportamento, io precisa renunciar completamente ao recurso dt empatia, Serr: 8 deste recurso na medida em que qualquer pessoa sem dots nem pretenses teatraiso ulizaria para represeniar outra pesto, ou sia, para mostrar o seu comportamento. Todos os dias, em inimeras oeasibes, se véem pessoas « mostrar o comportamente de ‘uteas (a testemunhas de um acidente demoustram aos que vio chegando 0 comportamento do acdentado; este ou aqucle brim «allo imite, wocist,o andar inst de um ago, ef) se que sas pessoas tentem induzir os expectadors a qualquer copie de Iusto. Contudo, tanto as testemunhas do acidente como 0 bin: calhic, por exemplo, é por empatia para com as suas personagens ‘ques apropriam das particularidades desta. 0 ator utilizar, portano, como fico dito, exte ato paiauice Deveri consumo, portm — ao invés do que éhabito ao teatro, fem que tal ao €constmade durante a pripriarepresentagloe com ‘objetivo de evar oespectadoraum ato denice —, apenas numa fase prévia. em qualquer momento da preparagao do seu papel Para evtar que a configuracto dos acontecimentos ¢ das per sonagens sea demasiado “impulsiva”, simplista ¢ desprovida do ‘minima aspectocrtieo, poder realizar-se maior numero de en stios “mesa de estado” do que habitvalmente se faz. O ator deve ‘ejeitar qualquer impulso peematuro de empatiaetrabalhar o mais demoradamente possivel, come leitor que para sl proprio ( nto para os outros). A memorizardo das primeiras impresses € muito Inportante ‘O ator tek que lero su papel assumindo um atitude de sur pres e simultaneamente, de contestagdo. Deve pesar prbs con tras © apreender, na sua singularidade, nio 36 4 motivagdo dos acontecimentos sobre que versa a su leiturs, mas também o com portamento da personagem que correspoade ao sev papel edo qual Yai tomando conhecimento, NBo deveri consderar este como preestabelecido, como "algo para que no hava, deforma algun ‘ute alternativa". "que sera de experar num canter como o desta pessoa". Antes de decorar as palavas, ert de devorar qual arario| 4a sua Surpresa ecm que momento contestou, Deverhincluir na

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