Met Comp Familia e Parentesco

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Retiste ANTHROPOLOGICAS, ano 9, volume 16(1): 87-168 (2005) Método comparativo, familia e parentesco: Algumas discussdes e perspectivas’ Ellen Fensterseifer Woortmann’ Resumo Este artigo tem como objetivo discutir algumas das principais per- spectivas teéricas, modalidades, amplitudes e peculiaridades do mé- todo comparativo. Centra-se na anilise de obras de Antropologia classica que tenham estudos de familia ¢ parentesco como base de seus estudos. Palavras-chave: método comparativo, comparagio, farnilia, paren- tesco. Trabalho apresentado no GT “Familia e Sociedade”, no XXIII Encontro Anual da ANPOCS (Associacio Nacional de Pés-Graduaclo € Pesquisa em Ciencias Sociais), Caxambu, outubro de 1998. 2 Professora e pesquisadora da UnB. Endereco: Universidade de Brasilia, Depara- mento de Antropologia, ICS, 70,910-900 Brasflia - DB. Tel.: (061) 3468-2723, E- mail: ellen@ und.br Re:isia ANIHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 Abstract My purpose in this article is to discuss some of the main perspec- tives and modalities of the comparative method. It is centered on classical texts concerning the study of family and kinship, basic for the formation of anthropological theory. Key words: comparative method, comparison, family, kinship. Este artigo se propde a analisar alguns aspectos da presenca e signifi- cago do método comparativo no decorrer do processo de constitui¢ao da Antropologia classica. Nele se analisa o método comparativo em si no que ele apresenta de constante - a sua natureza - a rigor, o que independe das variagSes, portanto seu cere, ilustando-o com diferentes usos da no¢io de familia. Portanto, nosso objetivo é discutir um método que “[...] procura re- unir o que vulgarmente se separa ou distinguir o que vulgarmente se con- funde” (Bourdieu 1975:29) e que “[...] ado é suscetivel de ser estudado separadamente das investigagées em que é empregado’ (Comte apud Bourdieu 1975: 11). Dada a amplitude da discussio, no serio analisados os diversos tipos de método comparativo, tais como o da Goncordancia cu Acordo e da Diferenga na terminologia de Scokpol (1979, 1980), a questio da compa- tabilidade de dados quantitativos, tal como aponta Schmidt e Schweitzer (1990), ou a perspectiva empregada por Bateson (1967) quando analisa Naten ou ainda o denominado “efeito Rashomon”, tomando-se a termi- nologia de Rhoades (1989), na qual um mesmo fato é analisado desde a perspectiva dos diferentes atores. Tampouco serio analisadas em detalhes as abrangéncias dos principios em rela¢3o ao todo ~ principio particular, universal, segmentado, totalizante, etc. 88 Méiodo comparativo, familia ¢ parentesco Na anilise das obras seria tomadas algumas que consideramos mais explicitas, mais expressivas, tanto no que se refere 4 posi¢ao do autor, quanto 4 operacionalizacio do método. No caso de Radcliffe-Brown, por exemplo, escolhemos O Méato Conparatiwo en A ntropdlogia Soaal (1978) na primeira parte, porque julgamos ser o mais representativo do pensar estrutural-funcionalista e A fram Systems of Kinship and Marriage para a analise de sua concepgic de familia. O caso de Boas foge & regra porque funda- mentalmente nos apoiamos em critica sobre sua obra. ‘Ao centrarmos-nos numa obra, definimos de que método compam- tivo, de que autor e a que momento da carreira deste estamos nos refe- rindo. Destarte, evita-se de conceber a obra de um autor como uma totali- dade imutavel e coerente. Consideramos importante a anélise do método comparativo porque ele foi forjado pelo pensamento classico desde Tylor, como um meio con- tolado de chegar 4s regularidades e genemalizages do pensar. Na forma uum tanto radical de Cohen (1989), a “Antropologia es comparacidn, no es nada”. Desyencilhado das amarras do senso comurm, o método comparativo, como veremos, nio corresponde 4 comparagio, que é inerente ao ser ra- cional, porém nao é construido teoricamente. Nesse sentido poderia se perguntar: a comparacio estaria para o pensamento selvagem como 0 método comparativo estaria para o pensamento cientifico? Tal como entendido pelos classicos, o método comparativo constituiu uma forma de sofisticag4o necessaria a servigo da Giéncia para entender 0 chamado fendmeno humano. ‘A igor no ha o que se poderia definir como 0 método comparativo. Quer dizer, ele nio é, como mostra Scokpol (op. cit.), pensado, utilizado 89 Revista ANTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 da mesma forma, nem configura o mesmo objeto. Tampouco esti ligado a alguma tectia ou hipétese especifica, Ele compreende uma infinidade de variagdes enquanto método e como método, de forma que se toma dificil distingnir o que Ihe & ineremte, isto 6, 0 que 0 constitui em esséncia, em vista da multiplicidade de vatiages que ele apresenta, Estudar o mévodo comparativo implicaria numa revisio completa das obras de Antropologia. Se se 0 entende no sentido mais amplo, nfo existe outro método 4 nao ser este... [Ele] constitui, sem dtivida alguma, uma das ‘démarches’ essenciais de todas as ciéncias e um dos processos elementares do persamento humano. (Evans-Pritchard 19717) O método comparativo comega a ser utilizado pela Antropologia desde os seus primérdios, a ponto de Wissler, citado por Ackerknecht (in ‘Wallis 1954:123) considerar a propria Antropologia como “o ponto de vista comparativo”. O uso do método, enquanto método pensado para a Antropologia, foi introduzido, via Antropologia Fisica, Arqueologia e Lingiifstica, setores do conhecimento no qual, alias, nunca deixou de ser fundamental (id.: 117). Ackerknecht ainda ressalta que, nesse sentido, foram influncias im- portantes nesse periodo “formativo” da Antropologia as “[...] certas filoso- fias ou questdes priticas em voga, [tais como] escravidao ou emancipaciio nacional ou tendéncias como a frenologia de Gall e a fisica social de Que- tele” (in Wallis, op. cit). No século XIX, a separacio da Antropologia Fisica da Cultural nio significou o abandono do método por esta ultima. Pelo contririo, 0 método comparativo foi usado simultaneamente pelos evolucionistas pelos que se opunham a cles; patadoxalmente, ambos para afirmar suas respectivas posicdes. Nesse momento a preocupago era de critica & teoria 90 Método comparativo, familia e parentesco. cao objeto da teoria. O método ainda nao era questionado. ‘Uma significativa contribuigio ao desenvolvimento do pensar o método comparativo foi prestada por McLennan, especialmente na sua obta Primitize Manicge (1865). Nela o autor apresenta 0 primeiro estudo sistemdtico comparativo das instituiges das sociedades primitivas. Ao tomar exemplos os mais variados e sua definicao do geral e do particular como forma de definir conceitos classificatrios, McLennan toma-se o de- fensor de uma das abordagens mais fecundas do método comparativo: a dos trabalhos qualitativos. Quase no mesmo periodo encontramos os precursores do trabalho de Murdock, Jack Goody e outros: Herbert Spencer com suas tabelas ¢ seu esforgo de alcangar o maior ntimero possivel de amostras possiveis. O primeiro quartel do século XX assistiu ao surgimento de duas ‘arvores filogenéticas’ de pensamento antropolégico. Paradoxalmente, a que foi desenvolvida no novo mundo, mantinha-se ligada ao passado. Foi defendida por Boas e seus seguidores, que propugnavam uma “morfologia cultural fundada nos estudos comparativos das formas similares nas dife- remtes partes do mundo” (ibid.: 123). Os identificados com a segunda “Arvore”, 20 romperem total ¢ come pletamente com o passado renegaram também o método, Malinowski, entio em didlogo com Freud, torna-se um dos expoentes dessa nova ten- déncia da Antropologia do velho mundo, Ao romper com 0 método e se dedicar ao estudo de unidades isoladas, Wallis afirma que Malinowski des- prezou “[..] uma grande vantagem do método comparativo, que é o de que, num campo onde as experiéncias controladas sao impossiveis, ele prové ao menos algum tipo de controle” (id.:124-125). Ac opor a expe- riéncia controlada de laboratério 4 experiéncia controlada, construfda do método, est implicita a preocupacao dos classicos no que diz. respeito a diferenciagio entre Geéncias Humanas e Géncias Exatas, assim de afirmar a Antropologia como ciéncia. mn Resi ANTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 Alias, é interessante que se nesse periodo as Giéncias Exatas fornece- ram 0 referencial positivo que levou A constituigio das diferentes 4reas das Humanas, que por sua vez levou a uma posterior critica e abandono desse posicionamento cientificista, hoje se assiste um retorno desse referencial, porém em sentido inverso. Esse referencial torna-se negativo na medida em que os pardmetros das Ciencias Exatas passam a se tornar pardmetros gerais aos quais as Giéncias Humanas devem realizar © esforgo de se adaptar. Leach (1975:168), ainda nunn perspectiva cientificista mz non mrpo, afirma que o método comparativo, apesar de ser utilizado por ambas as cigncias, possui unidades ¢ objetos diferentes. E mais, que “o objeto da Antropologia é investido de vontade propria e nao pode ser submetido a experiéncias que sejam replicaveis”. Destarte, a unica possibilidade de chegar 4 generalizac3o de algama maneira controlada, é via o método comparativo. Gria-se entio um paradoxo a partir da afirmagio de Ackerknecht (ibid.:118) “de que a enorme colegio de dados etnogréficos coletados (isolada e separadamente) ... s6 fazem sentido em vista de um eventual uso comparativo desse material”. Assim, paradoxalmente, 0 trabalho dos fun- cionalistas, opositores 20 uso do método comparativo, sé ter sentido se incorporado a outros trabalhos através do uso do método ao qual ele eles proprios se opuseram! Portanto, mesmo que uma obra nio tenha sido pensada para ser sub- metida ao método comparativo, seus dados poderio ser retomados, e, na medida do possivel, incorporados ao lado de outros ao método compara- tivo, caso ela tenha sido construida teoricamente. O século XX assistiu a elevagSo do nivel de abstracio do método ligado ao desenvolvimento do pensar a teoria antropoldgica. Com a nogio de totalidade, Mauss e Durkheim abrem, por exemplo, uma nova dimen- sao quanto ao uso do método e ao seu objeto. Essa nocio é alcada 4 92 Método comparativo, familia ¢ parentesco abstragdo assim como relacGes e relagdes entre relacdes, e nao mais ele- mentos sao a ele submetidos. A pamtir da cisdo tedrica Boas/Malinowski, o método comparativo foi utilizado por alguns, das mais diferentes maneiras, como Radcliffe-Brown, Murdock, etc. e rejeitado por outros, como Evans-Pritchard, ou ainda usado num momento ¢ abandonado posteriormente, como Leach, Geertz, etc. Nesse interim, houve momentos em que ele caiu em desuso quase completo. Uma perspectiva interessante, ¢ mais recente, é apresentada por Car- doso de Oliveira (2000), quando propde que ha modalidades de compara- ¢40 que nao partem do micleo de oposicdes estruturais ow estruturantes. Elas partem de comparac6es que nao esto destinadas a qualquer modo de generalizac&o, e tampouco est’éo em busca de “leis sociais” ou regulari- dades que levem © pesquisador 4 busca por formulagées abstratas. Da mesma forma, 0 autor aponta que as pesquisas comparativas nao devem se circunscrever 4 andlise de sistemas simbdlicos, mas a “compreensio de sentido”. Partindo de uma perspectiva iluminada pela hermenéutica, ele propde que se busque uma “comparagio elucidativa” (ibid.:40) que com- para Lfewnrds, isto 6, ‘mundos de vida’, ou, em outros termos, visdes de mundo, y © que é importante em tudo isso, é 0 fato do método ter acompa- nhado o pensar amropolégico em todo curso de sua histéria e de ser responsivel por grande parte do pensar de sua producio, quer sendo utili zado em si, quer como alvo da critica de seus opositores. Na medida em que ele é combatido através da producdo, ainda assim, por oposigio, 0 miétodo comparativo ainda esta estimulando a geragio de Antropologia. 3 Retista ANTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1),2005 Nessa parte, a titulo de exercicio légico, 0 proprio método compara- tivo foi tomado como objeto da andlise. Ao tomarmos o método comparative como objeto observa-se que 4 afirmagao de Evans-Pritchard de que “[...] a comparaco constitui [...] um dos processos elementares do pensamento humano” (1971:7), pade ser acrescentada outra, se abstraida em parte de seu contexto, de Leach: “[...] nem todos os seres humanos pensam igual, mas nao necessitam pensar todos de forma distinta” (1975:171). Alguns aspectos merecem ser explorados nas duas citagdes. Evans- Pritchard concebe a comparag3o como parte integrante do pensar hu- mano, do senso comum, sendo, portanto, processo clementar. pensar, ao langar mio da comparacdo, nio supée a explicitacio consciente de seus passos, Nessa perspectiva, portanto, a comparacio, enquanto processo elementar nao construido, nao pode ser confundido com o método comparativo. Diferentemente da comparacio, 0 método comparativo sup6e a comparacio, porém essa é uma comparacdo con- struida, consciente, parte integrante de um procedimento controlado ~ na acepgao dos classicos ~ cientifico. A segunda citagio, a de Leach, ao remeter 3 diversidade do pensat, por extensdo, A diversidade do pensar por comparacio, remete também ao geral e ao particulary, a0 geral, como parte da estrutura do pensar do Homem e ao particular, porque se expressa das formas as mais diversas. Alias, a amplitude maior da comparac3o constitui fundamento de varias teorias como da comunicacao ou para as anilises simbolicas, estrutura- listas, etc. Estas formas do saber supdem o método comparativo. Con- tudo, ele nem sempre é operacionalizado ou tomado explicito, Isto posto, pergunta-se, 0 que vem a ser o método comparativo? Geralmente ele é concebido como a “comparagio de semelhangas e dife- rencas entre grupos, sociedades ou partes delas entre si”. Desdobrando a nogio em partes, observa-se que a comparag4o aqui é considerada como 94 Método comparativo, familia parenteses sindnimo de método comparativo. A nosso ver, comparacio constitui, um momento do método, mas nio ¢ 0 todo ~ e ¢ bbvio que a parte no pode abarcar 0 todo, A segunda parte se refere ao objeto - suas diferencas e semelhangas, porém, a tigor, nfo definem.o objeto em sia ser submetido ao método, A terceira parte da no¢ao apresenta as unidades a serem comparadas numa aproximagio murdockiana porque as identifica a partir de critérios onde nio cabem outras unidades evidentemente construidas, tais como estruturas, relacbes etc. Portanto, a nogao apresentada nfo se refere ao método, tampouco abrange a prépria comparacio como um todo. O miétodo comparativo pode ser concebido, na abordagem clissica, como um meio de aproximagSo do real; uma criagio arbitraria, prévia e controlada do pensar e pelo pensar. Para organizar esse pensar e torn’-lo um procedimento cientifico, os clissicos propéem que é imprescindivel que se estabeleca uma ruptura com o senso comum. Essa ruptura se con- sagra através da sujei¢4o a um “contrato” pelo qual previamente se esta- belece um “mabe qpeandi”, uma “trajetéria do pensar” que inclui varios momentos, que arbitrariamente, para nossos fins, foram separados entre si e destacados. Sao arbitrarios, porém nfo aleatérios. ‘Temos que reconhecer que esses momentos resultam de corte nosso. Evidentemente eles formam uma totalidade integrada; inclusive muitas vezes esses momentos esto superpostos, isto é, ocorrem simultaneamente ou entao, dada a mutltiplicidade das variagdes do método, podem seguir um ordenamento diferente, ou entio ainda, nio apresentar explicitos, todos os momentos, O primeiro momento caracteriza a sele¢io-separacao das unidades de observacao. De uma ampla gama de fenomenos (sociedades, grupos em si, grupos dentro de grupos, como familia, por exemple) selecionanrse os que mais se adequam. Os critérios que orientam essa sele¢o variam. E ae Reusta ANVHROPOLOGIGAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 uma selegio-separacSo arbitriria e consciente que opera no sentido de minimizar os esforgos e maximizar os objetivos e resultados do trabalho. Imbricada na selecio-separacio do que sera comparado do que sera desprezado, ja existe uma orientagSo explicita ditada por principios e teo- tias. Lévi-Strauss, na introducio 4 obra de Marcel Mauss mostra do pro- prio Mauss que, no Ensaio sobre a Didiva, ele fixou sua “ateng4o sobre sociedades” que representam verdadeiramente uns “[,..] maximos”, uns ex- cessos, que permitem ver melhor os fatos do que sociedades em que, nio menos essenciais, eles, contudo, permanecem pequenos e involuidos” (1974:27). Mauss ainda confessa que “[..] escolhemos os lugares nos quais, gragas aos documentos ao trabalho filolégico tinhamos acesso 4 con- sciéncia das proprias sociedades, pois se trata aqui de termos e de nogdes, © que restringia ainda mais o campo de nossas comparagées” (id.:43). Portanto, o que Mauss procurou através do que ele denominou “com paracao precisa”, foi “[...] estudar © tema apenas em Areas determinadas ¢ escolhidas” (ibid.:43), isto é, onde os fenémenos esto melhor e mais facil- mente visiveis ¢ explichveis pela teoria da reciprocidade. Kula, o Podatch, etc., representam, assim, manifestag6es acerbadas, fatos sociais totais sele- cionados e separados dentre muitos outros que nfo o foram, como o Natal, por exemplo. E interessante alias, que Mauss foi criticado como ingénuo por considerar o Natal ainda dentro da teoria da reciprocidade. Retomando Lévi-Strauss, agora em seu Olhar Distandiado (1986) que a0 discutir o conceito de familia compara unidades auto-identificadas, as mais expressivas: a resnie da rea rural eslava, em que a noiva ao viver sua noite de nupcias com o pai do noivo, ao invés deste Ultimo, simbolicamente é incorporada 4 unidade familiar maior e nio se destacando a unidade marido-mulher. A partir dessa experiéncia a gtavidez que pode advir gera um primogénito estruturalmente da familia no sen sentido mais extenso, visto que é fruto da relacio da mie com paterfamilias ou como filho deste. 96 Método comparativo, familia e parentesco ‘A outra unidade por ele comparada ¢ a discutivel unidade familiar naiar, unidade essa encontrada no maximo oposto. Outro aspecto que merece ser destacado se refere aos critérios que orientam a selecao-separacao das unidades de separagao. Exige-se um con- trole absoluto no sentido de aplicar os mesmos critérios a todas as uni- dades. Exige-se enfim, a uniformidade dos critérios. E acritica que Leach (Llobera 1975: 175) e outros fazem a Murdock quando este mostra que [a] as unidades bésicas de comparagio, que sio descritas de diversas formas como tribos, povos, culturas ou sotiedades so tratadas como se estivessem naturalmente deslindadas e autodiscriminadas”. Destaca-se ainda que os limites do que sera sclecionado/ separado nao esto estabelecidos pelos mesmos critérics. ‘Além disso, dada a ambicio de Murdock de abranger uma amostra mundial, ha outros problemas nos seus critérios de limite a serem aponta- dos. O primeiro, como mostra Shapera (1953:357), refere-se ao uso simul. tineo de categorias politicas ¢ sociais. A essa critica se lhe acrescenta outra: a de substituir a amostragem quantitativa por outra qualitativa nas areas onde as fontes so insuficientes ou entao, pelo contrario, as fontes sao ricas para alguns grupos e duvidasos para outros grupos das imediagdes. Na sua critica, Shapera ainda deixa claro que 0 que Murdock considera como “fontes insuficientes” que j am a alteragZo dos critérios, sdo, de fato, insuficiéncia de fontes em inglés. Shapera critica o autor por néo ter recorrido 20 vasto material dispontvel para essas areas ¢ grupos, em outras Iinguas, especialmente © francés, alemio ¢ holandés, Mutatis maands, 0 seu método foi comprometido por sua limitada percepc4o neo-imperialista do século XX, que slo levou em conta as fontes expressas as linguas que expressaram o imperialismo de ontemm. Nesse sentido interessante contrapor 0 uso de fontes de Mauss ¢ Murdock, Enquanto o primeiro, num rapido levantamento, se utiliza de bibliografia em variadas linguas, tais como, francés, inglés, alemio, Jatin, ” Retista ANTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 italiano e dinamarqués, Murdock fica autolimitado ao inglés. O segundo momento do pensar do metodo comparativo ¢ o da defi- nico e construgio das unidades e do objeto, Nio restaa menor divida que, ao se realizar a selecio/separacao das unidades a serem comparadas ja, concomitantemente, se esta construindo as mesmas, mas por oposi¢ao. Ao tomar ou rejeitar unidades, esti-se con- struindo 0 que sera comparado e onde se dara a comparacio, isto é, ope- rando com o método comparativo. ‘As unidades da comparagio so aqui entendidas como 0 “locus” ou 0 espago, em seu sentido amplo, onde acontecem, onde sio observaveis os fenémenos a serem comparados ou, de outra maneira, onde se d4 o que sera comparado. Restringindo 0 conceito unidade de observaga0 20 que foi trabalhado pelo método, e nio a extens4o da projecao feita 4 partir do que foi com- parado, decorrente da teoria ou hipétese que 0 informou, veremos que a unidade enquanto tovalidade pensada, construida, supde abrangéncias muito diversas. Retomando o exemplo de Murdock, a0 tomar 0 maior numero de amostras, 250 diferentes sociedades, ele tenta se aproximar 4 totalidade dos grupos humanos, a totalidade das amostras, das suas uni- dades comparadas. No extremo oposto encontramos Leach que analisa apenas uma sociedade, definida por critérios politicos e referendada por elementos lin- gilisticos, geograficos, etc. Ele define os Kachin pelo fato de eles consti- tuirem uma sociedade organizada por uma série de principios, relagdes e telagées entre relagSes que lhe sio particulares (1977:3). Os limites da sua unidade nfo sao estabelecidos de “fora para dentro” como fez Murdock. Alits, talvez ai resida ai uma das principais raz6es que explica grande parte das criticas que lhe sio feitas. Leach pelo contrario, busca os limites da sua unidade “de dentro para fora”: a unidade se estende ate onde prevalece a série de relagdes e principios que lhe sXo particulares. Portanto é a propria 98 Méodo comparativo, familia ¢ parentesco unidade que “estabelece seus limites”, ela de ceva forma se “autodefine”, ou melhor, prové o necessario para que 0 autor o faga. Radcliffe-Brown constitui, a nosso ver, um intermediario entre ambos 0s extremos visto que toma algumas unidades estruturadas em metades exogamicas’. Estabelecidos os limites ¢ definidas as unidades de observagSo, resta- nos acompanhar a construgio do objeto que sera submetido ao método comparativo. ‘A problemitica da construgio do objeto do método comparativo esta intimamente ligada 4 problemitica do objeto das Géncias Sociais em rela- gio as Géncias Naturais como mostra Bourdieu (1975:63). O fato da maioria dos expoentes das Géncias Sociais terem tido for ma¢io na 4rea das Bioldgicas ou Exatas' colaborou para que 0 objeto da Antropologia fosse concebido “as # o das Géncias Naturais. Somente com o Estruturalismo se d4 o divércio e a Antropologia assume total- mente a “guarda” de seu objeto. No modelo cientifico classico, as unidades de descrig&o s4o tomadas 3 Pode-se definir no minimo como peculiar 0 caso do Japio em que, como mostra Beillevaire (sem data), a unidade 2 sede isto 6, o sistema doméstico amplo, tradi cional, constituiu a unidade de parentesco mais importante. O autor aponta que até 6 periodo da restauragio/ ocidentalizacio Meiji (1868), nfo existia a nocio de kazoku, familia nuclear, isto é, unidade social criada a partir do casamento ¢ com> posta pelo casal e seus filhos, tal como conhecida no Ocidente. O autor mostra que a palma kazoln, que hoje designa familia em japonés, foi criada nesse periodo, ‘composta pela justaposigio dos caracteres casa - no sentido de maison ~ & qual foi agregada a de parenté, que inclui filiagao ¢ alianca. Nesse quadro sécic-histbrico, como construir uma unidade para uso no método comparativo, a partir de uma categoria que foi formulada inicialmente por estrangeiros para fins de uso na nova egislacio civil que estava sendo criada, e que hoje foi re-configurada num contexto de globalizacio? Stocking (1974) mostra em sua critica, que Boas manteve a preocupagao biold- gica propriamente dita até a maturidade, 0 que muito influiu na sua produgio como um todo. Da mesma forma Leach, a rigor, nunca renegou suas raizes nas Géncias Exatas. Retista SNTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 como linguagem universal neutra e unanimemente aceita. O objeto é su- posto como “modelo da realidade”. O problema é que a abordagem do homem nao constitui unn linguagem neutra ou uninime. Pelo contririo, o homem emite juizos, conceitos sobre si e sobre os outros, é um objeto para fins do pensar, mas mio se pensa como tal individualmente, porque tem vontade propria e fala. Por isso, como mostra Leach (op. cit.:168), ele @ concebido pela Antropologia de forma diferente da Historia, em sua per- cepcao tradicional - se uma o aborda enquanto agente ¢ condutor de sua vontade, a outra o toma enquanto participante dos fatos sociais sem que, contudo, possa, individualmente alteri-ls de forma significativa. Assim, apesar dos fatos sociais serem replicados equivalendo, portanto, 3s expe- ri€ncias de laboratério das Giéncias Naturais, elas sto de natureza dife- Tente, integrando parte do que o estruturalismo de Lévi-Strauss definiu como “sistema de comunicacio”. Destarte, coereme com a vertente classica, o objeto deve, ao se constituir em produto do pensar do proprio objeto, necessariamente, ser submetido ao artificio légico da ruptura. Ele é concebido a partir de uma Construgdo consciente que procura se aproximar do real ou nio, ¢ ligado ao nivel de abstracio em que opera. O objeto, enquanto criacio arbitraria e consciente da mente do pes- quisador, ¢ gerado inicialmente por oposicio e corte, rompendo com: 1° 0s conceitos do senso comum; 2° 0s cortes empiricamente construidos, os consuctudinarios; 3° os conceitos afins das demais areas. Assim, a preocu- pacdo manteve-se em “despir’ o fendmeno a ser analisado, para entao ser pensado enquanto objeto em si e para si, assumindo-se uma orientaco terica. A mente agora o captura nio mais como fendmeno, mas como objeto, decodificade em conceito. A construgio do objeto do método comparativo se da de forma similar. A dificuldade surge quando 0 objeto nao é construido pelo autor para Ser operacionalizavel pelo método. 100 Método comparativo, familia e parentesco Retomando a critica a Murdock (1975), percebe-se que ele opera com fendmenos ¢ tipologias forjadas pela realidade. Ou de outra maneira, ele analisa as relacdes de parentesco, por exemplo, como “coisas”, isto ¢, en quanto “coisas” que independem se pensadas ou nio pelo pesquisador para existirem. Além disso, nfo foram elaboradas no plano das ideias. Nessa perspectiva, ¢ retomando 0 exemplo anterior, encontram-se dificuldades conceituais mais complexas: como incluir numa comparacao sobre familia, por exemplo, o universo japonés anterior ao periodo Meiji, se antes sequer existia a nog&o ou uma palavra que expressasse a unidade familia nuclear? De outra forma, se no #é tradicional, a unidade familiar, marido-mulher e filhos nao era concebida de forma distinta, poderia se afirmar que foi a ‘ocidentalizacao’ do Japao que tomou a familia japonesa comparivel? ‘Na medida em que os fendmenos estio na realidade, eles constituem individualidades; so especificos, dnicos, clementos de sociedades em grupos, etc., que como tais também so individualidades; logo, nio podem ser cleitos como objetos do método comparativo. © método comparativo, nesse sentido, nfo pode operar com “indivi- duos”, porque sio individuos, incomparaveis, ticos. O método opera, isto sim, com ‘pessoas’, quer dizer, individuos aos quais se subtraiu a im- portancia da individualidade, substituindo-a por outra forma de pensar o ser humano, a pessoa, objeto abstrato. Enfim, o que se percebe entio ¢ que a critica que Goodenough (1970) faz. a Murdock de que a presenga dos mesmos elementos, tipclogias niio significa que contenham o mesmo contetido nos diferentes grupos analisa- dos, na realidade atinge a questio apenas na superticie. A critica maior que a cle pode ser feita em outro plano de analise ¢ de que ele comparou elementos, nesse sentido, ‘individuos’, e nao ‘pessoas’, isto é, abstracGes. De certa forma, Boas incorre no mesmo erro pela sua Grizallidskeit, sua excessiva dedicacao aos detalhes empiticos, sua vocaco etnografica 101 Reuisia ANTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 15(1), 2005 positivista que encobriram ou postergaram ad infirtumn a construgio dos dados para que se tomnassem operacionalizhveis pelo método comparativo. Sem duvida essa foi sua preocupagio, uma opgio consciente que se liga ao fato de Boas se propor a construir verdades, climinando primeiramente os problemas especificos (Stocking 1974:186). E acabou enredado nelas ou retido neles. Assim, © que se aponta, é que a construcao tanto da unidade quanto do objeto sup6c fundamentalmente sua ‘homogeneizacio” meaatis mutantis: as vias de linguagem abstrata comum, Ela se d4, no ao nivel do fend- meno, do real, mas ao nivel do pensar. Por isso a homogeneizagio é inerente 20 mécodo. Bla atua, tetomando a expressio de Leach, “a if” as unidades e objetos tivessem a mesma amplitude em relagio 20 todo, a mesma magnitude e fossem coeténecs. A ‘homogeneizacio’, contudo, nem sempre est4 evidente, especial. meute no que diz respeito 4 amplitude da explicacZo ou intensidade da presenga, como se percebe em Mauss, na diferenca entre o Kuk e o Natal. i Me ressaltar, contuda, que a construgo do objeto ‘homogeneizado” nio supée pensar a constmucio homogencizadamente. Tomando apenas alguns exemplos significativos, observam-se objetos muito diferentes, Rad- cliffe-Brown (1978) deixa claro, por exemplo, que seu objeto so as rela- Ges entre os elementos ¢ nio os elementos em si. Propde que, enquanto os elementos variam, as relacdes os princfpios explicativos das relagées sdo generalizaveis. Além disso, Radcliffe-Brown, tal como Leach compara estruturas da sociedade. A Antropologia interpretativa de Clifford Geertz (1986) merece uma aproximacio mais detalhada, pela forma como opera € como o objeto é construido. Em seu Islam Olsated, Geez estabelece uma macro-unidade — 5 Homogencizagio foi 2 Momogeaczacio fo colocala eau axpss por fate de temo que expresise 102 Mécodo comparativo, familia ¢ parentesco © desenvolvimento da religito islimica. A partir dai seu objeto € consti- tuido por “duas civilizagdes” contrastantes: a Indonésia e 0 Marrocos que sio comparadas entre si. O destaque esta no fato de ele construir o objeto A partir de elementos definidos pelos proprios agentes sociais, a biografia representativa, por exemplo, que ¢ fundamenualmente uma escolha do coletivo, e nfo dele, Geertz. Identifica-se nesse caso, um esforco evidente, sua marca tebrica, no sentido de buscar a percepcio do outro, de penetrar ma btica do outro ou de, nos seus termos, “olhar por sobre o ombro dele”. Se 0 esforgo de Geertz segue na dire¢io da profundidade horizontali- zada da percep¢io do outro, na linha da descri¢So densa, Silvia J. Yanisako, em seu Trarsfarming the Past (1985) busca o método comparativo de uma forma original: a fim de atingir a profundidade verticalizada, a autora com para os padrdes demogrificos, as percep¢es acerca da concepgic de fami- Ia, matriménio e papéis sexuais das diferentes geracbes de nipo-america- nos. Nesse caso, ela parte de um mesmo espaco € introduz um recorte generacional, até certo ponto compartimentalizado ao plano do modelo dos agentes sociais, que separam isis, de vassais etc. € ‘horizontaliza’ o que no tempo ¢ verticalizado, Essa compatimentalizacio no plano do modelo de autopercep¢io dos emigrantes nipénicos ¢ seus descendentes é que possibilita assumir 0 uso do método comparativo. Oterceiro momento do método comparativo ¢ o da comparacao pro- priamente dita. Como vimos antes, a comparagao, senso comum, é perce- bida como uma totalidade nfo plenamente consciente. O método compa- rativo, em contrapartida, como operagéo do pensar consciente, configura uma trajetbria a qual se afasta das semelhanges em termos do fendmeno; é um momento do processo no qual se di a comparagao do que fot con- struido. Radicalizando, 0 que Murdock (1975) produziu é resulante de uma compatagio e no do uso do método comparativo. A comparagio, além disso, supde como que uma “jmobilizagio”, isto 4, operar como sé - novamente “as if” - as unidades e 0 objeto fossem 103 Reusta ANTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 equilibradas ¢ estéticas. E o pensar por aproximacio, oposicio. E sub- meter 0 pensado o construfdo A mesma matriz. Supée ainda, o estabeleci- mento de pontos de encontro entice unidades, via objeto. Comparar de certa forma remete a parar, quer dizer dever 0 conti- num do pensar, como que num “corte transversal”, introduzindo uma hova apreensao, dimens&o do objeto. Estabelece-se destarte, as vias de comunicagio, de sintonia entre ‘pessoas’, pensares construfdos, Do pensar dessa forma emergem pontos de confrontagSio que se tra- duzem em momentos de reflexio sobre o objeto. E 0 meio pelo qual 0 pensar antropolégico substitui a experimentacio. Eleva, além disso, a observacio,o real a um nivel de abstrapo pelo qual atinge, via de Tegra, as regularidades ¢ a generalizagio. O tltimo aspecto a ser desenvalvido em nossa andlise é 0 da relacio entre método comparativo e a teoria, isto é,a relacao entre o método, sua amplitude explicativa e a amplitude do todo. Vale ressaltar que, a rigor, a problemética teérica determina o método. Uma das grandes dificuldades no uso do método comparativo est4 na sua adequacio 4 amplitude explicativa, isto 6, A projeco do comparado. Boas (op. cit), por exemplo, ao se propor a analisar varias sociedades a fim de encontrar os pontos em comum e a partir deles reconstruir as origens comuns ou nfo, desenvolveu uma proposi¢ao, uma hipétese demasiado ampla em relagio aos elementos. Enquanto a sua proposigio ¢ de largo alcance, a operacionalizaciio dos elementos, em sendo perceptiveis como elementos permaneceram ao nivel da comparagio, isto ¢, nio foram construidos para que fossem por ele, ou por outros posteriormente submetidos ao método. Tomando Mauss e Leach por outro lado, temos dois exemplos de adequacao entre as suas modalidades de construcio do método, a ampli- tude do todo da explicacao. Eles paradoxalmente, no entanto, se opéem: enquanto o todo de Mauss é 0 fato social total, portanto é restrito, o todo 104 Método comparativo, familia ¢ parentesco de Leach é a estrutura ampla. Em contrapartida, a amplivade explicativa de Mauss é ampla abrange o fendmeno humano ¢ a de Leach restrita, Ja Radcliffe-Brown opera em contraste, com o equilibrio: 0 método com Ptincipios amplos compatando estruturas para chegar & generalizacio. De outro modo, em muitos autores o método comparativo é um meio para chegar a0 modelo, como Radcliffe-Brown e Leach que com param estrunuras de sociedades para, através da anilise, chegar a0 modelo. Difcrentemente Lévi-Surauss parte de modelos para posteriormente passar para a andlise. Portamto, o que se constata é que 0 método comparativo estabeleceu a relagio entre 0 objeto e o real ou o modelo. Ele nfio vem a ser uma simples técnica porque exige um pensar sobre o agir e em seguida um pensar sobre 0 como agir, isto 6, como consttuir. A partir dai cabe a pergunta: submete-se ao método comparativo o modelo ou a pritica dos gnipos? No livro de K. Woortmann, A Familia cis Malbers, por exemplo, o autor aponta em seus estudos sobre Alagados, que na periferia pobre de Salvador prevalece 0 ideal de familia patriarcal, centrada na figura do pai-provedor e da mie dona-de-casa. Esse modelo, que se realiza na classe média urbana, nos Alagados coexiste, paradoxal- mente, com praticas matricenuadas, em que prevalece a relacio mie-filho- irmio da mie. Ja em nossa experiéncia de uso do método comparativo, opde-se a familia teuto-brasileira 4 do sitiante nordestino. A primeira 6 organizada em toro da Stammhars, na qual a familia nuclear se encontra subordinada a familia extensa virilocal, Em termos espaciais est concentrada vertical. mente mum s6 local, tem em cada geracio um Beziizer casado, isto 6, um Ocupante gerenciador, que nic se confunde com o Eigntum, quer dizer com a propricdade ~ ¢ remete A maditio— & familia no sentido extenso. Em contrapartida no sertio nordestino cada familia nuclear corres- ponde a um sitio, familia esta subordinada, numa primeira insvincia, a0 pai de familia em sentido mais amplo, ¢ ao grupo corporado como wm todo 105 — Reuista ANTHROPOLOGICAS, ano 9, vol. 16(1), 2005 em segunda instincia, visto que, casando de acordo com © grupo, este dara acesso ao novo casal ao Sitio, territorio da familia. Concluindo, o método comparativo “6 sa forma de evdiadn”, nos ter- mos de Little et al. (op. cit) e mmis especificamente, uma forma controlada de questionamento e de aproximagSo organizada. E antes de tudo um meio de organizar o pensar sobre o real, diriam os classicos, num proceder controlado, cientifico. J4 a neutralidade do proceder cientifico, enquanto tal é inatingivd, utopica, porque todo pensar nunca é destituido de vo ou vinculos ideologicos. Com isso, a neutralidade nas Géncias Sociais, como propée Bourdieu (1975) deve ser buscada pelo caminho inverso: a0 invés de temar negar ou suburair essas interferéncias, deve-se assumi-las e explicita-las em toda sua potencialidade. E paradoxalmente, com isso 0 método assume procedimentos cientificos, visto que deixa de ser um jnstrumental de uso mecinico, atrelado ao senso comum, para se tornar um meio de controlar o pensar e pensar o controlar. Bibliografia ACKERKNECHT, EH. 1954. "On the Comparative Method in Anthropo- logy’. In SPENCER, Roben F.; Matad and Penpative in Artbropday. Minneapolis: The University of Minnesota Press. BEILLEVAIRE, P. s/d. Ether ot Oikos: figs fernlicles ce la vie cdllectine japonane, s/l. 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