Tunes e Tolentino Ensino Quimica

You might also like

Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 4
EDUCAGAO ENSINO DE CONCEITOS EM QUIMICA. IV. SOBRE A ESTRUTURA ELEMENTAR DA MATERIA Elizabeth Tunes! , Mario Tolentino! , Roberto Ribeiro da Siv Emilio Carlos Poderoso de Souza? e Romeu C, Rocha Fitho! * Universidade Federal de Séo Carls, Caixa Postal 876; 12560 ~ Séo Carlos (SP) 2 Brcole Brtadual de 22 Grau “Dr, Alvaro Gui Avenida fo Calor, 2190; 13860 ~ Séo Carls (SP) Reeebido em 29/09/88 ABSTRACT A system of chemical concepts referring to the types of atoms of the contituents of substances is described It is proposed that, from the standpoint of Chemistry, this is a last level of organization for matter. It is also proposed that nuclides are matter’s last form of realization, where the genesis of chemical properties occurs (these properties vary from chemical element to chemical element). INTRODUGKO Reconhecendo-se a existéncia de diferentes niveis de corganizagfo da matéria, o que ¢ fundamental para a com- preensfo do objeto de estudo da Quimica, vém sendo pro- ostos sistemas conceituais pertinentes a cada um desses njveis. Assim, relatou.se um sistema para matéria quanto @ sua natureza! , um quanto a sua forma de apresentagao? ¢ ‘outro para substincia quanto & natureza de seus consttuin- tes? Neste artigo, pretende-se apresentar um sistema con- ceitual adicional, correspondente a um dltimo nivel de orga nizagdo da matéria, isto ¢, um sistema para constituinte ‘quanto a natureza de seus stomos. A ESTRUTURA ELEMENTAR DA MATERIA. Por que, pare 0 qusimico, interessa considerar a estrutura clementar da materia? Conforme ressaltado antesiormente' 18 substancas sto objeto de estudo da Quimica e estas se realizam no consttuinte®. Isto significe que o consttuinte caracterizase como a unidade analtica da Quimica, endo 20 seu nivel que se apresentam as propriedades quimicas, Entretanto, « génese dessas propriedades quimicas di-se na eletosfera dos stomos; daf a necessidade de o quimico tratar da estrutura elementar da matéra, Isto € 0 mesmo que dizer que € necessrio referirse is vias espécies de matéria(tipos de dtomos), como serd discutido adiante ‘A Figura 1 mostra o sistema conceitual para constituinte quanto a natureza dos seus &tomos e, a seguir, sio apresen- tadas as definig6es de cada um dos conceitos nele envolv dos. [consrir nT TI T [HIOROGENMIO (H)] [HELIO (Hel] -++ = [TORIC (TH)] == +] [Ex] [24) [2a] [oe] Pn] Bn) Figura 1 ~ Sistema conccitual proposto para constituinte, segundo a natureza de seus dtomos CONSTITUINTE: conjunto de stomos que caracteriza uma substéneia particular. ATOMO: entidade do constituinte formada por um nicleo positivamente carregado e uma eletrosfera negativamente caregada, HIDROGENIO (H): tipo de stomo caracterizado pelo ni: mero atomico 1 HELIO (He): tipo de stomo caracterizado pelo nimero atomico 2 TORIO (Th): tipo de étomo caracterizado pelo nimero atmico 90. HIDROGENIO 1 ('H): tipo de hidrogénio caracterizado pelo muimero de massa | HIDROGENIO 2 (7H): tipo de hidrogénio caracterizado pelo mimero de massa 2. HIDROGENIO 3 ("H): tipo de hidrogénio caracterizado pelo mimero de massa 3 HELIO 3 (°He): tipo de helio caracterizado pelo niimero de massa 3 ‘QuiMica Nova 1212) (1989) 199 HELIO 4 (*He): tipo de helio caracterizado pelo ntimero de massa 4 TORIO 230 (#°TH): ipo de tério caracterizado pelo ni- mero de massa 230, TORIO 232 (*2*Th): tipo de trio caracterizado pelo ni- mero de massa 232." Examinando a Figura 1, vése que, no primeizo nivel de conceites, logo abaixo do iermo consttuinte, temse 0 que corresponde 0 conceito de elemento quimico, entendido como “tipo de 4tomo caracterizado por um numero atOmi- co especifica”. O nivel seguinte comporta um outro con ceito que ¢ 0 de nuctideo, que pode ser definido como “tipo de um dado elemento’quimico caracterizado por um rndmero de massa especiico™. Ou sea, est sistema concei- tual pode ser sintetizado do modo como esté mostrado na Figura? DIscUSsAo No contexto do sistema conceitual apresentado, do pon- to de vista da Quimica, 0s nuclideos so 0 modo de realiza- CONSTITUINTES DAS SUBSTANCIAS [ELEMENTOS quiwicos NUCLIDEOS Figura 2 Sintewe do sistema concetual pata constituinte quanto A natatena de seus étomes. so sltima da matéria isto é, as entidades quimicaselemen- fares da matéria. E como se disssse que, por exemplo, 0 elemento quimico hidrogénto realizase em seus nuclideos (CH, 2H ¢ °H); 0 helio também He, *He) etc. A partic este nivel, esbogase a interface difuse entre matéria energia, 20 se considerar as particu elementares (vide Figura 3). A expresso elemento quimico, na verdade, de signa tipos de étomos, definidos pelo atrbuto critico nime 1 at6mico; ou seja, um dado elemento quimico (por exem plo, hidrogénio) € um tipo de 4tomo caracterizado por um ‘nimero atdmico espectfico (no caso, 'H, 7H ¢ °H sfo 4 ELEMENTOS: eee ven Se aufuicos quimicas MATERIA -- - a : aioese NUCLIDEOS das propriedades quimicas variacdo eek | oropindodes dite entre | fica mara | oer a oe ENERGIA Figura 3 — Represents rive onde as propriedades fics variam, 200 ‘Quimica Nova 1212) (1988) Zo esquemitica da interface entre matéria e energia, dos ntveis onde propriedades quiiicas surgem ¢ variam, ¢ dos caracterizados — todos — pelo niimero atomico 1). A importincia de se ter em conta que cada elemento quimico corre de fato através de seus nucl{deos, pode ser constat da, por exemplo, na determinagso das massas at6micas, quando, em cada caso, 0 nimero de nuclideos e suas abun- déncias tem que ser determinados precisamente* No que diz respeito a matéria, a génese das propriedades ‘quimicas (vide Figura 3) est4 nos nuclfdeos, mas estas va- iam de clemento para elemento, Ressaltese, todavia, que, no caso de elementos muito leves, podem surgir efeitos ‘isotépicos, particularmente detetaveis na cinética de algu- ‘mas reagbes orginicas®. De qualquer modo, este efeito € cinético, no mudando qualitativamente 2 propriedade ‘quimica®. Quanto as propriedades fisicas (vide Fig. 3) estas atravessam os dois universos conceituais de matéria ¢ energia. Abaixo do nivel dos nuclideos,iniciase um do: rinio em que ndo é to nitida a distingo entre matéria € ‘energia: € aquele das particulas elementares’*. A. partir dai, iniciase um campo de conhecimento que ¢ nitidamen- te da Fisica, A Quimica trata da matétia até o nivel concei- tual de elemento qurmico, pois ¢ af que se verificavariagio nas propriedades quimicas ‘A Quimica interessa conceito de nuclideo na medida fem que para esta ciéncia ¢ fundamental a determine¢i0 de massas molaes, pois esta grandeza permite fazer a cont xfo entre © mundo microscSpico e © mundo macroscOpi co”. Mas, como jé mencionado, para determindcla € preci s0 conhecer as massas atémicas dos nuclideos de cada ele mento qurmico espectfico. Ou seja, os céloulos referentes ‘05 processos quimicos slo feitos levando-se em conta a ‘massa. ponderada dos nuclideos dos elementos. qutmicos considerados*. Assim, vale dizer que a Quimica transcende ‘© seu limite para poder compreender 0 seu dominio. CONSIDERAGOES FINAIS A expresso “elemento quimico” tem sido, por vezes, em nosso pais, empregada de modo equivocado. Isto decor- re, em parte, do fato de haver muitos livros traduzidos da lingua inglesa, na qual um tinico voeabulo — element — abarea tanto © conceito de substincia simples como 0 de elemento quimico, Infelizmente, isto nfo tem sido levado fem conta pela maioria dos tradutores (em geral, traduz-se sempre como elemento), o que tem causado confusdes conceituais que, em nossa lingua, sio perfeitamente evitd veis. Por exemplo, as confusbes contidas nos trechos traduzidos, abaixo transcritos, seriam evitadas se os tradu- tores levassem em conta 0s diferentes sentidos do vocd- bolo inglés element: “Podemos determinar se uma substincia pura é um elemento ou um composto pelo exame do tipo de trans- formagdo que sofie...""° ‘duas espécies de substincias puras: elementos ¢ compostos, Elementos sG0 substancias simples, funda- rmrentais,"" ‘Ainda relativamente a linguagem, ¢ importinte lembrar {que elemento quimico ndo étomo: na verdade, cada ele- ‘mento quimico diz respeito a uma classe de étomos. Cons derando os nucl{deos estéveis de cada elemento quimico, fem alguns casos, a classe de dtomos (elemento quimico) pode conter apenes um exemplar, 0 que oconre para um ‘grupo de vinte elementos quimicos* Por outro lado, cabe comparar a definigo aqui propos. ta para elemento quimico com aquela usual em livros de quimica para o segundo grau: conjunto de (todos os) éto- mos de um mesmo mimero atémico!?”", A definigéo “tipo de atomo caracterizado por um niimero atOmico ‘specifica é aplicdvel diretamente a cada elemento quimi £0, pois hidrogénio ¢ 0 tipo de étomo com um numero atbmico 1”, “hélio € 0 tipo de 4tomo com nimero at6mi- co 2”, etc, Tal nfo ¢ posstvel para a definigo usual, pois info parece logico afirmar que hidrogtnio seja 0 conjunto 4g (todos 08) dtomos de numero atOmico 1; na realidade, todos 0s tomos de nimero atOmico 1 constituem 0 con- junto de étomos do elemento quimico hidrogénio; cada ‘tomo do conjunto ¢ um stomo deste elemento, O sistema conceitual aqui apresentado permite alguma reflexdo sobre a seqiifncia de contetidos adotada em cur- 50 propedéuticos de Quimica. Nio ¢ infreqiiente que se Inicie 0 ensino da Quimica pela atom‘stica, seguindose pela clasificardo periédica, até chegar as substincias (fungées quimicas). Considerando © que foi exposto ¢ os sistemas conceitusis relatados anteriormente, esta néo parece ser a seqiiéncia mais adequada, por dois motivos. Em primeiro lugar, admitindo-se um continuum de concre- titude/abstrago conceitual, € possivel hierarquizar os ‘conceitos abaixo especificados, em grau crescente de abstra- 40, do seguinte modo, 1, Material? 2. Substancia’ 3. Constituinte™ 4. Atomo Vese, assim, que a seqiiéncia de ensino anteriormente referida iniciase do abstrato e caminha para o concreto, isto ¢, caminha para tris, na perspectiva do desenvolvimen- to cognitive. Em segundo lugar, nesse caso, o ensino ¢ co- ‘megado exatamente no ponto em que as demarcag6es entre (05 campos de conhecimento da Fisica ¢ da Quimica si0 difusas, criandose, desse modo, a necessidade de, jf a0 inicio do processo de ensino, fazer a distingdo entze os dois ‘campos de conhecimento cujo objeto o aluno ainda compreendeu (no sentido psicologico do termo). Ou seja, © aluno ¢ introduzido & Quimica tomando contato exata- mente com o sistema conceitual no qual esta disciplina se esgota enquanto ciéncia das substancias Finalmente, cabe chamar & atengo 0 modo como étomo foi definido: “entidade do constituinte formada por... ‘Assim 0 tomo, por definigdo, fica claramente relacionado a0 constituinte, Tal relago decorre do fato da Quimica ser a cigncia das substincias, as quais slo caracterizadas por constituintes especificos; isto é, para © quiimico, o étomo s6 tem significado como parte dos constituintes? ‘quimica Nova 1212) (1989) 201 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem 4 CAPES (PI:249/PADCT-027/85; PI.239/PADCT-93/86), 0 apoio recebido para o desenvolvi- mento deste trabalho, REFERENCIAS * Tolentino, M.; Silva, RR; Rocha-Filho, R.C.; Tunes, E.; Giéne. e Cult. (1986) 38, 1721 2 Silva, RR.; Rocha Filho, R.C.;Tunes, E.; Tolentino, M.; Giénc.e Cult. (1986) 38, 2028 * Rocha-Filho, R.C.; Tunes, E.; Tolentino, M.;Silva, RR. Souza, E.CP.;Quimica Nova (1988) 11, 417. * Greenwood, NN.; Jn: Kolthoff, 1M.; Elving, P.J.; “Trea- tise on Analytical Chemistry. Part I. Theory and Practi- ce"; John Wiley & Sons, Nova Torque (1978). Vol. 1, Cap.8 ASSUNTOS GERAIS § Hine, J.; “Physical Organic Chemistry”, 28 ed.;McGraw- Hill, Nova Torque (1962), p. 71-73. © Carey, F.A.;Sundberg, RJ.; “Advanced Organic Chemis: tay. Part A: Structure and Mechanisms”, 28 ed.;Plenum Press, Nova lorque (1984). p. 191 7 Cheng, DC; ONeill, GK.; “Elementary Particle Physics”; Addison-Wesley, Reading (1979). © Haber, HE.; Kane, G.L.; Scientific American (1986), 254, 42. ° Rocha Filho, R.C.;Quimica Nova (1988) 11, 419. "© Quagliano, J.V.; Vallarino, LM.; “Quimica”, 38 ed. Trad. A. Espinola; Guanabara Dois, Rio de Janciro 979), p.9 " Russel, JB; “Quimica Geral”; Trad. G. Vicentini et a.; McGraw-Hill, S¥o Paulo (1982), p. 33 7 Aichinger, E.C.; Mange, G.C.; “Quimica Bisica 1”; EP.U,, Sto Paulo (1980), p. 83 * Novais, VLD.; “Quimica Geral’ Sao Paulo (1983). p. 40, "* Feltre, R.; “Quimica”, 28 ed.; Modema, So Paulo (4982). p. 51 38 ed., Atual, TRANSMUTAGAO DOS METAIS: UM VELHO TEMA REVISITADO. Oswaldo Luiz Alves Instituto de Quimica — UNICAMP; Caixa Posial 6154; 13081 — Campinas, SP Recebido em 04/01/89 RESUMO Este artigo enfoca a ““transmutagao dos metais", v lendo-se de escritos de J. Marcus de Véze, publicados em 1902. Desta obra, procurou-se destacar varios aspec- tos: idéias do Autor ¢ seus contemporaneos sobre a transmutago dos metais, a evolugdo da Quimica, bem como informagdes acerca de supostas realizagdes de ex- periéncias de interconverséo de prata em ouro, nos Es- tados Unidos. Finalmente, € apresentada uma descrico de dois procedimentos que, segundo De Véze, permiti- iam (22) a obtengao do chamado “‘ouro alquimico” INTRODUCAO ‘A questio da Transmutacdo dos Metais tem recebido as ‘mais variadas consideragGes, seja na diregdo de simples aceitagdo ou refutagdo dos procedimentos da Alquimia, 202 ‘QuiMica NOVA 12(2) (1889) seja na recolocacdo do problema dentro do contexto dos procedimentos ciemtificos e tecnolégicos disponiveis atualmente. Sobre estes diferentes aspectos existe gran de quantidade de material bibliografico, sendo a maio- tia nao disponivel em nosso pais. Nossas varias visitas a Biblioteca do Arsenal, em Pa- ris', possibilitaram-nos contacto com uma variedade bastante significativa de titulos que tratavam do assun- to, com énfase principalmente no periodo onde os pro- cedimentos da Alquimia eram extensivamente pratica- dos. Naquela oportunidade, deparamo-nos com um opiis- culo denominado La Transmutation des Métaux et L'Or Alchimique — 1° Argentaurum de J. Marcus de Véze, editado em 1902 ¢ reeditado em 19772. Dentre os varios aspectos abordados, dois, efetivamente, chamaram nos- sa atencdo, por sobressairem-se as demais obras. O pri: ‘meiro, sua data de publicagdo: 1902 — observe-se que jt fem pleno século XX — e, o segundo, o'sub-titulo: “Di

You might also like