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82 cadernos de teatro — NOVA TECNICA DE REPRESENTAR — B. Brecht — EXERCICIOS PARA O ATOR — L. J. Dezseren — TEXTOS PARA ESTUDO — Rubem Fonseca — 4 PECAS EM UM ATO — Pinter, Lagerkvist € Tennessee Williams (2) CADERNOS DE TEATRO N. 82 julho-agosto-setembro-1979 Publicago q’O TABLADO patrocinada pelo Servigo Nacional de Teatro — DAC — FUNARTE, érgio do Ministério de Educagdo e Cultura Redagdo ¢ Pesquisa d'0 TABLADO Diretor-responsdvel — JoXo Séucto Mario Nunes Diretor-executivo — MARIA CLARA MACHADO Diretor-tesoureiro. — Epoy Rezenve Nuwes Redatores — BERNARDO JABLONSKI, GUIDA VIANNA Carmina LvRa Secretdria — Suuvia Fucs Redagio: © TABLADO Ay. Lineu de Paula Machado, 795 - 2C 20 Rio de Janeiro — 22.470 — Brasil 0: textos publicados nos CADERNOS DE TEATRO 4B poderdo ser representadot mediante autorizarie dda Sociedade Brasileira de Autores Teatrals (SBAT) Av. Almirante Barroso, 97 Rio de Janeiro A NOVA TECNICA DA ARTE DE REPRESENTAR BeRroLt BRECHT Breve Descrigdo de uma Nova Técnica da Arte de Repre~ semtar, Conseguida Mediante um Ejeito de Distanciamento Tentarei, a seguir descrever uma técnica de represen- tacio utilizada em alguns teatros para distanciar os acon- tecimentos apresentados do espectador. O objetivo desta téenica do efeito de distanciamento era conferit ao espec- tador uma atitude analitica e critica perante o desenrolar dos acontecimentos. Os meios empregados para tal eram de natureza artista Para a utilizagio deste efeito, segundo o objetivo jd mencionado, & condigdo necessatia que no palco e na ‘ala_de espeticulos no se produza qualquer atmosfera ‘magica e que mio surja também nenhum “campo de hip- rose”. Nao se intentava, assim, criar em cena a atmos- fera de um determinado tipo de espago (um quarto a noitinha, uma rua no outono), nem tampouco produzir, através de um ritmo adequado da fala, determinado estado de alma’, Nao se pretendia “inflamar” o piblico dando-se rédea solia ao temperamento, nem “arrebati-lo” com uma representacio feita de misculos contraidos. Nio se aspi rava, em suma, por 0 piblico em transe ¢ dar-lhe a ilusio de estar assistindo a um acontecimento natural, no en- saiado. Como se veri, a seguir, a propensio do pablico para se entregar a uma tal ilusio deve ser neutralizada or meios atisticos. E condigio necesséria para se produzir 0 efeito de distanciamento que, em tudo 0 que 0 ator mostre a0 pi- blico, seja nitido o gesto de mostrar. A nocio de uma quarta parede que separa ficticiamente o palco do pablico eda qual provém a ilusio de o palco existir, na realidade, sem o pablico, tem de ser naturalmente rejeitada, 0 que, ‘em principio, permite aos atores voltarem-se diretamente para 0 piblico. © contato entre 0 piblico ¢ 0 palco fica, habitual- mente, na empatia, Os esforgos do ator convencional con- centram-se tio completamente na produgdo deste fend- ‘meno psiquico que se poder dizer que nele, somente, escortina a finalidade principal da sua arte. As minhas palavras iniciais, ao tratar desta questio, desde logo re- velam que a técnica que causa o efeito de distancia- mento é diametralmente oposta A que visa a criagio da empatia, A técnica de distanciamento impede 0 ator de produzir 0 efeito da empatia, No entanto, o ator, ao esforgar-se para reproduzir deter- ‘minadas personagens e para revelar o seu comportamento, ‘nao precisa renunciar completamente ao recurso da em- patia. Servir-se-4 deste fecurso na medida em que qual- ‘quer pessoa sem dotes nem pretensOes Teatrais o utilizaria para representar outra pessoa, ou seja, para mostrar 0 seu comportamento. Todos os dias, em inimeras ocasides, se véem pessoas a mostrar 0 comportamento de outras, (as testemunhas de um acidente demonstram aos que vio chegando 0 comportamento do acidentado: este ou aquele brincalhio imita, trocista, 0 andar ins6lito de um amigo, fle. ), sem que essas pessoas tentem induzir os especta- doresa qualquer espécie de ilusio. Contudo, tanto as testemunhas do acidente como o brincalhio, por exemplo, € por empatia para com as suas personagens que se apro- priam das particularidades destas © ator utilizaré, portanto, como ficou dito, este ato Psiquico. Deverd consumé-lo, porém — 20 invés do que € habito no teatro, em que tal ato € consumado durante a propria representacdo e com o objetivo de levar © espectador a um ato idéntico — apenas numa fase | prévia, em qualquer momento da preparagdo do seu papel, nos ensaios: Para evitar que a configuracéo dos acontecimentos fe das personagens seja demasiado “impulsiva”, simplista fe desprovida do minimo aspecto critico, poderi realizar-se maior niimero de ensaios a “mesa de estudo” do que habitualmente se faz. O ator deve rejeitar qualquer im- pulso prematuro de empatia ¢ trabalhar 0 mais demor damente possivel, como leitor que Ié para si proprio (¢ rio para os outros). A memorizacdo das primeiras im- presses & muito importante. © ator teré que ler o seu papel assumindo uma ati tude de surpresa e, simultaneamente, de contestagio. Deve pesar prés ¢ contras ¢ aprender, na sua singularidade, ‘fo s6 a motivagZo dos acontecimentos sobre o que versa sua leitura, mas também 0 comportamento da persona- ‘gem que corfesponde ao seu papel e do qual vai tomando conhecimento, Nio deverd considerar este como pre-esta- | belecido, como “algo para que nio havia, de forma algu- ‘ma, outra alternativa”, “que seria de esperar num carter ‘como o desta pessoa”. Antes de decorar as palavras, ter de decorar qual a razdo da sua surpresa e em que mo- ‘mento contestou. Deverd incluir na configuragio do seu papel todos estes dados. Uma ver. em cena, em todas as passagens essenciais, © ator descobre, revela © sugere, sempre em funcao do ‘que faz, tudo o mais, que nfo faz. Quer dizer, representa de forma que se veja, tanto quanto possivel claramente, ‘uma altemnativa, de forma que a representaco deixe pre- ‘ver outras hipéteses e apenas apresente uma entre as variantes possiveis. Diz, por exemplo, “isto, vocé ha de me pagar”, e ndo diz “esti perdoado”. Odeia os filhos @ no procura aparentar que os ama. Caminha para a frente, & esquerda, e nio para tras, a direita. O que no faz tem de estar contido no que faz, em médtua compen- sagdo. Entio todas as frases © gestos adquirem o signi- ficado de decisées, a personagem fica sob controle e é cexaminada experimentalmente. A designacio téenica deste método é: determinacdo do ndo-antes-pelo-contéri. © ator, em cena, jamais chega a metamorfosear-se integralmente na personagem representada. O ator no 6 nem Lear, nem Harpagon, nem Chvéik, antes os apre~ senta. Reproduz suas falas com a maior autenticidade ‘possivel, procura representar sua conduta com tanta per- {eigdo quanto sua experiéncia humana o permite, mas nfo tenta persuadir-se (¢ dessa forma persuadir, também, os outros) de que neles se metamorfoseou completamente. ‘Serd féeil aos atores entenderem o que se pretende se, ‘como exemplo de uma representacio sem metamorfose absoluta, indicar-se a forma de representar de um ence- nador ou de um ator que estejam mostrando como se deve fazer determinado trecho de uma pega. Como nio se trata do seu proprio papel, mio se metamorfoseiam completamente, acentuam 0 aspecto téenico e mantém a simples atitude de quem esté fazendo uma proposta Se tiver renunciado a uma metamorfose absoluta, 0 ator nos daré 0 seu texto nio como uma improvisagao, 2 mas como uma citagio, Mas, ao fazer a citagéo, teri, evidentemente, de dar-nos todos os matizes da sua expres- so, todo o seu aspecto plistico humano e conereto; iden- | ticamente, o gesto que exibe aparecers como uma cépi fe deverd ier, em absoluto, o carter material de um gesto hhumano. | Numa representagio em que nfo se pretenda uma ‘metamorfose integral, podem utilizar-se trés espécies de recursos para distanciar a expresso e a ago da persona- ‘gem apresentada: 1, Recorréncia a terceira pessoa 2. Recorréncia ao passado. 3. Intromissio de indicagdes sobre a encenagio de comentiios.. © emprego da forma da tectra pessoa ¢ do passado possbiltam ao ator 2 adogio de ume verdadeia attude Gistanciada, Além disso, o ator deve incuirem seu desem- enh indicagdes sobre a encenagao e também expresoes {ue comentem o texto, proferindoasjuntamente com est, fo ensalo. ("Ele levantow-se © disse, mal-humorado, pois fo inka’ comido nada...” ou “Ele ouvia agile pela Primera vez, e nfo stbia ‘se era verdage.-.”, ou ainda | Brom dise, com demasiada despreocupact,<."-) A | intromsio de nays na ters pnson ob a forma | de representar provoca a colisio de duas entoagies, 0 que, ‘por sua vez, provoca o distanciamento da segunda pessoa (0 texto propriamente dito). A representacio distanciar- se-4 também se a sua realizagio efetiva for precedida de uuma descricio verbal. Neste caso, a adocao do passado coloca a pessoa que fala num plano que the permite a retrospeceio das falas. Desta forma, distancia-se a fala, sem que o orador ascuma uma perspectiva irreal: com feito, este, a0 contririo do auditério, ja deu a peca até ‘ao fim e pode, pois, pronunciar-se sobre qualquer fala, partindo do desfecho ¢ das conseqiiéncias, melhor do que © piblico que sabe menos do que ele € que esté, portanto, como que alheio a fala. E pela conjugacio destes processos que se distancia © texto nos ensaios; mas também durante a representagio © texto se mantém, de maneira geral, distanciado. Quanto {8 diego propriamente dita, da sua relacio direta com 0 ppiblico sobrevém-the a necessidade © a possibilidade de | uma variacio que seri conforme a0 grau de importincia ‘a conferir as falas, O modo de falar das testemunhas, ‘num tribunal, oferece-nos um bom exemplo disto. A ma- neira de a personage frisar as suas declaragdes deverd produait um efeito artistico especial. Se 0 ator se dirigir diretamente a0 piiblico, deve fazé-lo francamente, ¢ no num mero “aparte”, nem tampouco num monélogo do estilo dos do velho teatro. Para extrair do verso um efeito de distanciamento pleno, seré conveniente que © ator eproduza, primero, em prosa corrente, nos ensaios, 0 ccontetido dos versos, acompanhado, em certas circunstin- cias, dos gestos para eles estabelecidos. Uma estruturagio aaudaciosa e bela das palavras distancia 0 texto. (A prosa pode ser distanciada por traducZo para o dialeto natal do ator.) Dos gestos propriamente nos ocuparemos depois; mas desde jé devemos dizer que todos 03 elementos de natu- reza emocional tém de ser exteriorizados, isto é, precisam ser desenvolvidos em gestos. O ator tem de’ descobrir luma expressiio exterior evidente para as emocoes de sua personagem, ou entio uma aco que revele objetivamente ‘0s acontecimentos que se desenrolam no seu intimo. A. ‘emogio deve manifestar-se no exterior, emancipar-se, para {que seja possivel traté-la com grandeza. A particular ele- Bincia, forga e graca do gesto provocam efeito de distan- ciamento A arte dramitica chinesa € magistral no tratamento dos gestos. O ator chinés alcanca o feito de distancia ‘mento por observar abertamente seus proprios gestos Tudo 0 que o ator nos dé, no dominio do gesto, do verso, etc., deve denotar acabamento e apresentar-se como algo ensaiado concluido. Deve criar uma impressio de facilidade, impressio que & no fundo, a de uma dificul- dade vencida. O ator deve, também, permitir a0 pablico uma recepgio facil da sua atte, do seu dominio da técnica. Representa 0 acontecimento perante o espectador, de uma forma perfeita, mostrando como esse acontecimento, a seu ver, se passa ou como teri, porventura, passado. Nao octlta que o ensaiou, tal como o acrobata nio oculta 0 seu treino; sublinka claramente que 0 depoimento, & opi- nifo ou a verso do passado que esté nos dando sio seus, ou seja, os de um ator. Visto que ndo se identifica com a personagem que representa, & possivel escolher uma determinada perspec tiva em relagio a esta, revelar a sua opiniao a respeit dela, incitar 0 espectador — também, por sua vez, mio solieitado a qualquer indicagio — a ‘riticé-la, A ‘pers- pectiva que adota & critico-social entos e caracteriza as personagens realeando todos os tragos a que seja possivel dar um enquadramento social. ‘Sua tepresentagio transforma-se, assim, num coléquio sobre as condigses sociais, num coléquio com o piiblico, | Estrutura os aconteci- | ‘a quem se dirige. O ator leva seu ouvinte, conforme a classe a que este pertence, a justificar ou a’ repudiar tais condigses. © objetivo do efeito de distanciamento é distanciar ‘© “gesto social” subjacente a todos os acontecimentos. ‘0s homens de uma determinac ‘A invengdo de titulos para as cenas facilita a expli- ceagiio dos acontecimentos, do seu alcance, e dé & socie- dade a chave desses acontecimentos. Os titulos deverio ser de cariter f ‘Chegamos assim a um método decisivo, a historiagdo dos acontecimentos. O ator deve representar os acomte- cimentos dando-Ihes o cardter de acontecimentos histéri- ‘cos. Os acontecimentos histéricos sao acontecimentos Ginicos, transitérios, vinculados a épocas determinadas. (© comportamento das personagens dentro destes aconte- cimentos niio é, pura e simplesmente, um comportamento hhumano e imutavel, reveste-se de determinadas particula- ridades, apresenta, no decurso da hist6ria, formas ultra- passadas ¢ ultrapassiveis e esté sempre sujeito a critica a época subseqiiente critica feita segundo as perspectivas, desta. Esta evolugio permanente distancia-nos do com- portamento dos nossos.predecessores Ora, 0 ator tem de adotar para com os aconte- ‘cimentos os diversos comportamentos da atualidade uma distincia idéntica & que é adoteda pelo historiador. Tem de nos distanciar dos acontecimentos e das personagens. (s acontecimentos e as pessoas do dia-a-dia, do am- biente imediato, possuem, para nds, um cunho de matu- ralidade, por nos serem habituais.. Distancié-los é torné-los, extraordindrios. A téenica da davida, divida perante os acontecimentos usuais, dbvios, jamais’ postos em divida, foi cuidadosamente elaborada pela ciéncia, ¢ ndo hi mo- tivo para que a arte nfo adote, também, uma atitude tio profundamente itil como essa. Tal atitude adveio a cign- cia do erescimento da forca produtiva da humanidade, tendo-se manifestado na arte exatamente pela mesma raziio. No que respeita ao aspecto emocional, devo dizer que ‘as experiéncias do efeito de distanciamento realizadas nos espeticulos de teatro épico, na Alemanha, levaram-nos a verificar que também se suscitam emogdes por meio dessa forma de representar, se bem que emogies de espé- ce diversa das do teatro corrente. A atitude do espectador hao serd menos attistica por ser eritica, O efeito de dis- 4 tanciamento, quando descrto, resulta muito menos natural do que quando realizado na pritica. Essa forma de repre- sentar ndo tem, evidentemente, nada que ver com a vulgar “estilizagdo” . © mérito principal do teatro épico — com © seu efeito de distanciamento, que tem por Ginico objetivo ‘mostrar o mundo de tal forma que este se torne suscetivel de ser moldadot — ¢ justamente a sua naturalidade, 0 seu carter terreno, 0 seu humor e a renincia a todas as espécies de misticismo, que imperam ainda, desde tem- os remotos, no teatro vulgar. 1 Stummung. 2 Behandelber (Extraido de Estudos Sobre Teatro, Ed. Nova Fron- teira, Rio, 1978) TEATRO DO ABSURDO Qual seria a methor maneira de definir 0 movimento chamado teatro do absurdo? Qual seria o critério para icluir autores dentro dessa classificagso? Como reagir dante da possivel inutilidade nihilista do teatro do absur- do? E 0 sentido politico do teatro do absurdo? Teatro do absurdo nfo 6, como o realismo, 0 expres sionismo ou o surrealismo, um movimento artistico com lideres, os chefSes da escola, teorias, padrées convencio- is. Foi um termo que surgiu para englobar autores de vvrias escolas, que, através dos anos, partindo ralvez dos fins do século passado, vio chegar até 0s dias de hoje, dias de absurdo, com ‘algumas caracteristicas, as vezes, imprecisas, dificeis de limitar. Teatro do absurdo em termos banais, ¢ talvez sejam esses os verdadeiros termos para encontrar uma definigao © mio nos enroscarmos em explicagSes ultra-intelectuais que no levam a nada, é o teatro de autores que colocam ‘© homem em situagées absurdas, ou pelo menos aparen- temente absurdas, € conseguem através dessa colocacio — o homem num extremo limite entre o real e 0 impon- derdvel, 0 homem ridiculamente preso a uma situagao inusitada — aprecié-lo melhor na sua verdadeira e real condicdo humana: mesquinho, pequeno, ser apavorado diante da imensidio do absurdo que nio compreende. Absurdo maior: a morte. Essa classificagio € das mais perigosas ¢ “teatro do absurdo” ainda € definigio muito discutida, Os criticos variam na colocagio desse ou daquele autor dentro desse | rétulo. Criticos existem que colocam apenas Beckett, | Tonesco, Arrabal e talvez Genet como autores do absurdo. | Alguns criticos desprezam esse rotulo. E mais ainda: ha | autores que negam sua inclusio no teatro do absurdo. Foi o caso de Tonesco a propésito de sua dltima peca | “Jew de massacre” | Uma tentativa de encontrar as origens do absurdo ros levam Jonge. E naturalmente a nossa pesquisa pode nfo ser aceita © caso de AUGUST STRINDBERG, autor que pes- quisou sempre e na sua obfa teatral passou por varias fases: foi momento culminante do Naturalismo, depois foi precursor do Expressionismo © mais tarde um dos eria- dores do teatro de cAmera intimista. Alguns criticos véem fem suas obras da iitima fase, como “O Pelicano” ¢ “So- rata fantasma", caracteristicas do que hoje chamamos teatro do absurdo. Ji PIRANDELLO € menos aceito como possivel pre cursor do absurdo. E um caso de racionalismo e nio de absurdo. Voltando & nossa pesquisa, vamos resumi-la em pe- quenos ftens: ALICE NO PAIS DAS MARAVILHAS Seu autor, Lewis Carrol é talvez. um predecessor dos au- tores do absurdo, embora tenha dado & sua obra um tom benigno, colocando seus personagens fantisticos num mero pesadelo de Alice. FRANZ KAFKA ‘Sua literatura é mareada pelo sentimento de culpa e de horror, de erime ¢ castigo (“O Proceso”), pela busca dde uma redeneZo espiritual do homem expulso do parafso pelo pecado. No cosmo kafkiano tudo é possivel, 0 medonho, 0 absur- do, a loucura, a crueldade, a injustica. JARRY A trilogia do rei Ubu representa no teatro francés um dos ‘maiores momentos a que chegou a mordacidade sécio- politica no palco, Inventando uma situaco fantistica, de sgolpes e guerras, Jarry atinge a sociedade e o governo de seu pais. “Ubu Rei”, “Ubu Pai” e “Ubu Cocu”, as trés ppecas que formam a ‘tilogia, mantiveram o impacto ¢ 0 interesse de sua estréia, dando ensejo a um espetéculo recente de Jean Vilar, no Teatro Nacional Popular, em ‘que a obra eta parcialmente aproveitada. APOLLINAIRE ‘Apresenta-se como um dos maiores poctas franceses, que revolucionou a estrutura do verso neste século. Sua con- tribuigdo para o teatro, “As Maminhas de Tirésias”, abriu as portas' do surrealismo ¢ do dadsismo no palco, onde simbolos er6ticos, um agudo senso de critica e um forte cspirito Iidico se mesclavam. JEAN COCTEAU Foi dos artistas mais produtivos na Franga, da primeira cada do seeulo até ov anos 30, No.cinema (“Orfeu", Etemno retorno”, “A Bela e a Feta”, ete. ), na (C“Apogiatures", “Plaintchant”, ete), no romance criancas terriveis", “Tomés, 0 impostor”), no pensamento ‘estético (“Cartas aos americanos”, “Discurso de Oxford”, “Discurso da Academia Francesa”), Cocteau impés sua presenca magica e inteligente ¢ sua preocupagio perma- hente com o senso do espetdculo. Sua contribuigao para fo ballet, a épera e 0 teatro foi constante, conseguindo grande sucesso entre vanguardistas e uma’ platéia mais fampla. Suas pecas mais conhecidas, muitas delas ence- nnadas no Brasil, sio: “Os Pais terriveis”, "A Aguia de dduas cabecas”, “A Voz humana”, “O Belo indiferente”, ete. ‘QORPO SANTO ‘Autor brasileiro dos fins do século passado, descoberto fem 1961 e cuja obra possui caracteristicas de teatro do absurdo ANTONIN ARTAUD Instaurow uma nova perspectiva no espirito do teatro fran- és, Pretendeu, através de ensaios e montagens, revigorar as raizes do espeticulo de impacto e verdade. Seu livro “0 Teatro ¢ 0 seu duplo” € considerado por muitos estu- diosos © mais importante documento teatral do século. ‘Ora com textos cléssicos ¢ romanticos, ora com autores seus contemporineos, Artaud pregava o “teatro da cruel- dade”, que inflamasse o espectador como a peste. MAIAKOVSKI Pertence a geracio de literatos, poetas cineastas e homens © de teatro que acreditaram na liberdade de criagio na Réssia recém-egressa da Revolugio de 1917. Sua anima- do durou pouco. As pegas de vanguarda e critica social, como “Os Banhos", “O Piclho”, nio tiveram apoio ofi- cial, sendo mais tarde toda a sua produgio proibida. Maiakovski foi preso € morreu na cadeia, desgostoso com ‘a deturpagio de seus ideais. Era a revolugio tirando aos artistas revolucionirios o direito de ser revolucionétio MEYERHOLD Representa a vanguarda russa, com as pesquisas do cons- trutivismo e da bio-mecinica, Em oposigio ao realismo de Stanislavski, Meyerhold tentou adaptar 0 ator © & mon- tagem a nova sociedade de méquinas e automatismos. seu teatro era baseado em construgdes; a cenografia con- vencional foi transformada em construgSes c&nicas (cons- trutivismo). Seu trabalho foi violentamente censurado pelo stalinismo e este genial diretor desapareceu em total obscuridade: OSWALD DE ANDRADE Uma das figuras de proa da Semana de Arte Moderna de Sto Paulo em 1922, cada vez se torna mais atual © significative. As edigdes de suas obras e a encenagio tio ruidosa de “O Rei da Vela” denotam a validade de seu antropofasismo. © movimento tropicalista, por exemplo, tem suas bases nas posicées de vanguarda de Oswald, cuja, inteligéncia e ironia esto presentes em seu teatro GHELDERODE ‘Transformagio do real, base realista do melhor absurdo. Sua obra inspira-se nos pintores Jeronimus Bosch © Bruegel HAROLD PINTER £ o grande representante inglés da corrente do absurdo, sendo toda sua obra de muita coragem e originalidade. ‘Além de temas de eritica de sua época, Pinter transcende ‘seu meio ambiente e revela a nudez metafisica do homem, seu medo essencial e sua solidio irreversivel. Com grande sutileza e habilidade, pecas como “A Volta ao lar” “Festa de aniversério”, “Uma ligeira dor”, “O Tnoportuno”, “A ‘Colecdo”, revelam dramaticamente’ problemas subjetivos, utilizando simbolos concretizados e de eficécia teatral. BORIS VIAN E dos pootas ¢ teatr6logos franceses o de maior forea e originalidade. “Os Construtores do Império” evidenciava ‘a decomposicao dos valores da sociedade atual, mostrando uma familia de classe média na Franga de hoje, sendo progressivamente acuada para o s6to do prédio. movidos por sons estranhos. Na tranglilidade hipécrita dos que ro ousam encarar sua realidade, os membros da familia possuem um monstro todo enfaixado e mutilado, Schmurtz, que acompanha todas as cenas de desagregacdo social © fisica dos personagens MARIA CLARA MACHADO Entre os autores brasileiros atuais, é a Ginica que incorpora elementos do absurdo & sua dramaturgia. Em suas pecas sentimos a conjugagio de personagens fantisticos, de situagdes de poesia no cotidi no, que lembram o melhor Giraudoux, para citar 0 exem- plo francés de fusio entre o real e 0 onftico. “A Menina © 0 vento”, *O Cavalinho Azul” sio exemplos da habi- lidade de fusfio do encantat6rio o dia-a-dia da vida de uma cidadezinha e seus habitantes. Ja em sua obra para adultos, “As Interferéncias” e “Os Embrulhos”, percebe- mos que a corrente do absurdo, o exagéro de uma situa- glo que parte do real e atinge proporcdes fantisticas, ‘melhor propiciart a Maria Clara seu meio de expressar © apelo a uma humanidade em que 0 individuo nao seja massacrado por uma engrenagem fria e impessoal. Este tema, ainda que com a roupagem de comédia de costumes, € 0 que nos revela sua “Miss Brasi DORRENMATT Em “Os Fisicos”, “A Visita da Velha Senhora”, “O Ca- samento do Sr.'Mississipi” e outras pecas, mostra 0 desenvolvimento do expressionismo alemio, sua eclosio no fantéstico, a0 qual no faltam humor e crueldade. Natural da Suica, Diirrenmatt é um dos maiores drama- turgos de lingua’ alema da atualidade. A encenacio de Ziembinski de “Os Fisicos” e a interpretagao de Cacilda Becker em “A Visita da Velha Senhora”, foram os me- Thores momentos da obra de Dirrenmatt diante do pa- blico brasileiro. | MAX FRISCH Suigo, como Dirrenmatt, denuncia também a esteriidade espiritual de uma era de famtésticos avangos tecnolégicos. Suas pegas “Andorra” e ““Bieterman e 0s incendiérios” contém elementos de teatro do absurdo. GEORG BUCHNER Viveu de 1813 a 1837, Morteu aos 23 anos. Um dos sénios mais precoces da histéria do teatro. Muito cedo ‘eavolveu-se em atividades revolucionsrias. Aos 22 anos escreveu a peca hist6rica “A Morte de Danton”. Esereveu ‘uma comédia “Leonce e Lena”, que é uma comédia do nihilismo. Buchner liga 0 tédio a0 vazio ¢ ao nada Depois dele os representantes e analistas do tédio se mul- tiplicardo, de Baudelaire a Checov, de Thomas Mann nniusea de Sartre e a “noia” de Moravia, que a define precisamente como perda de relagio com’ as coisas, 20 onto deo mundo desorganizar-se e se tomar absurdo. Leonce diz: “Se eu soubesse de algo debaixo do sol que ‘inda pudesse fazer-me correr”. “Woyzeck” (fragmento), escrito em 1836, 6 o primeiro drama “proletirio” de que ‘temos noticia, ‘Seu personagem central, Woyzeck, & a figura comovente de um péria humano, esmagado pela sociedade humana. Um proletario espezinhado pela Cign- cia e pelo Exército, “Woyzeck” & considerada uma das ‘obras-primas da dramaturgia internacional. Biichner no viu nenhuma de suas pecas encenadas. Depois de sua morte, foi completamente esquecido. S6 a partir de 1880 comega a ser redescoberto. Passemos agora as 4 grandes figuras do teatro do absurdo: IONESCO, GENET, ARRABAL e BECKETT. Veremos que cada um deles’é um mundo diferente. E falar aqui em “principios” do absurdo € impossivel, pois cada um deles tem seus principios, embora tenham como onto de contato a posicéo absurda do homem. Talvez © tema comum seja a incomunicabilidade, mas assim mes- ‘mo s6 6 reconhecivel em Beckett e Tonesco. IONESCO Desde a década de 50, sintetiza com sua obra os princi- pios, agora ji mais definiveis, de um teatro do absurdo. ‘Suas pegas percorrem toda a gama de temas e recursos dos quais este tipo de teatro langa mio. Ora sua ct atinge mais a sociedade burguesa, com seus tabus e pre- ‘conceitos, ora sua apreciacao amarga toca a prOpria con- digo humana, A familia (“Jacques ou a submissio”, “O Futuro esti nos ovos”), a incomunicabilidade entre fs seres ¢ o desgaste da linguagem falada, que faz com ue as coisas mais banais adquiram valores’ novos, a mul- tiplicidade de objetos que se proliferam destroem 0 ho- mem, a bestializagio e materializagio do espirito com a respectiva morte da jualidade (*O. so alguns t6picos dramaticamente apresentados em sua obra. Outras pegas: “A Cantora careca”, “As Cadeiras”, “A Ligio”, “Como se livrar da coisa” Com freqiientes encenagSes no Brasil, traduzido por Luis ‘de Lima, Tonesco venceu as dificuldades de accitagio de seu teatro, sendo hoje um autor de éxito JEAN GENET Considerado um dos maiores escritores franceses da atua~ lidade, € figura controvertida: poeta, assassino, ladrio ¢ hhomossexual. Seus poemas e romances atingiram um nivel raro de profundidade e carga poética. Suas pecas trans- poem toda a subjetividade de sua ficedo para personagens alegsricos, arquétipos vivos que resumem nossa época. Martin Esslin_afirma, em seu livro sobre 0 teatro do absurdo, que Genet conseguiu, através do teatro, objetivar seu mundo cadtico e de dificil compreensio, ordenar seus monstros ¢, entio, conviver com eles. Ainda assim, as pesas de Genet sfio de uma profundidade e de um aleance de dificil percepglo imediata, Seu dilogo ¢ imenso, bar- ‘ovo as vezes, caético, por vezes excessivo, mas suas pecas “0 Balelo”, “Os Negros” e “Os Biombos” so obras de grande forca revolucionéria. “0 Baledo”, a mais conhecida do pliblico brasileiro (pois anteriormente 6 “As Criadas” fora apresentada) € um grande jogo ritual, em que homens comuns representam ‘a “esséncia” de um bispo, um juiz, um general e os outros pilares da sociedade; quando ocorre uma revolucio, aque les que representavam sio chamados para substituir os que nna verdade ocupavam estes postos de sustentagio da or- dem piblica. “O Baledo” é, nas palavras do personagem revolucionsrio Roger, um combate de alegorias. Na pega “0s Negros", Genet também transcende de muito a pro- blemética individual e psciol6gica, para expor a luta de ragas, 0 declinio do Ocidente e a vigorosa forea africana Em “Os Biombos”, sua dltima obra teatral, Genet expoe © conflito da guerra colonialista francesa na Argélia. Genet, como escritor, acabou, Atualmente passeia pelo mundo, ligado as suas convicgdes (nos Estados Unidos cengajot-se no movimento dos Panteras Negras). ARRABAL £ 0 mais jovem dos autores enquadrados no teatro do absurdo ¢ © que mais sucesso tem feito nos palcos bra- Sileitos, principalmente com as encenagdes de “O Cemi tério de Automéveis” © de “O Arquiteto ¢ o Imperador dda Assiria”. Seu teatro é 0 teatro de panico, ligado & fugaz ¢ impor- tissima obra de Artaud: 0 teatro da crueldade. Arrabal pretende chocar a platéia, provocar nela 0 vomito, 0 asco. No entanto, afitma: “Nao tenho nenhuma teotia sobre © teatro; eserever & para mim uma aventura e nio o fruto do saber e da experiéncia”. Sendo um autor preso is tra- digdes da Espanha, no que ela tem de contraditério © rico, 0 catolicismo ¢ a rebeldia anirquica. Arrabal, como Bufel, cria fora de sua terra natal. Quanto aos’ movi- mentos de vanguarda, diz: “Sonho com um teatro onde ‘© humor e a poesia, 6 pinico ¢ 0 amor fossem uma coisa 86. O ito teatral se aproxima, entio, de uma “opera mundi", como os fantasmas de D. Quixote, os pesadelos de Alice, os delirios de uma maquina IBM”. No tocante ‘aos espetéculos que acompanhariam a audécia de seus textos, 0 autor declara: “Mas para chegar a isso, 0 espe- ticulo deve ser ditigido por uma idéia teatral rigorosa, ‘ow quando se trata de uma peca ela deve ser perfeita, refletindo sempre o caos ¢ a confusio da vida, debaixo de uma aparente desordem, € indispensivel que a diregio seja um modelo de preciso” (ritual). Obras de Arrabal: Romances — “Baal Babylonid”, “O Enterro da Sar tha”, “Festas ¢ ritos da confusio”, “A Pedra da loucura Teatro. — “Oragio”, “Os Dois carrascos”, “O Cemité- rmio de Automoveis”, “Guernica”, “O Labirinto”, “O Triciclo”, “O Pie-nie no Front”, “O Arquiteto e 0 Im- perador da Assiria", “O Jardim das Delicias", “Fando e Lis”, e outras, SAMUEL BECKETT Romancista ¢ teatr6logo irlandés, que escreve em fran- és e inglés, sendo, portanto, considerado um autor ori ginal dos dois idiomas. Seu periodo de convivéncia com | James Joyce, o genial criador de “Ulysses”, marcou-Ihe profundamente o estilo e a temitica. Beckett transpoe fem tudo que escreve uma refinada sutileza, nem sempre captével num primeiro contato, e uma amargura, um ‘questionar em profundidade da existéncia do homem que ‘6 tormam um autor de drduo acesso. O esforgo para sua preensio, porém, compensa sobejamente, pois a pla- ia e o leitor travardo contato com uma obra original © marcante, cheia de surpresas ¢ impacto humano. Nao pensemos que Beckett se perde numa metafisica vazia e distante do paleo; ainda que no recorra a movimentagoes e peripécias — suas intrigas so nulas, as situagoes pare- cem iméveis e inapelaveis — o autor de “Esperando Godot” sabe transformar no verbo cénico, sabe captar a dramaticidade de suas idéias abstratas. Em janeiro de 1953 no Teatro Babilonie, em Paris, sob a diregio de Roger Blin (intérprete também de Poz- 0), estréia “Esperando Godot”. Dois vagabundos, Vla- dimir e Estragon esperam num lugar descampado (uma estrada? uma praca? apenas um lugar) por Godot. Quem € Godot? Beckett diz que no sabe quem é. Um homem rico, Pozzo, passa por ali e dialoga com eles. Com Pozzo | ‘vem seu criado Lucky, preso a uma corrente como um ‘eachorro. Eles dialogam, dialogam e nada mais. A soli- dio, a espera initil em Godot (estranhamente préximo de Deus — God em inglés), soja ele Deus, seja a esperanca, seja a solugdo da misera condi¢do humana — é o tema ‘desta pega nada convencional de Beckett. Foi sucesso absoluto — S00 representacdes. Criticos os mais dificeis, ‘05 mais reaciondtios o aceitam. A importincia da estréia foi tio grande que foi comparada a estréia do primeiro Pirandello montado pelos Pitoeff em 1923. | Na sua primeira peca, Beckett ataca seu tema ¢ ‘mostra a sua visio da existéncia humana — tema e visio que serio constantes em toda sua obra. Autor de um tema inico, de um assunto tinico, Beckett consegue, no entanto, nos interessar em todas as suas pecas, pois em ‘cada uma delas se repetem as mesmas coisas, mas sem- pre através da riqueza imaginativa de um grande poeta que ele sabe ser, o grande poeta patético risfvel que sempre ele é. Beckett, autor do teatro do absurdo? Absurdo quer dizer irreal?’ Nao no caso de Beckett, certamente. Suas pegas sio realistas. A situagio € absurda, mas absoluta- mente real, Nessas pequenas situagoes, nessas tramas em que nada aparentemente acontece, onde’o olhar ¢ 0 ouvido ‘menos avisados mio perceberio nenhum crescendo (0 texto de Beckett parece uma nota s6 tocando durante um tempo que parece iterminivel) a condigéo humana surge mu, completamente nua. © homem nfo tem nada fas que sconda a sua misra, sta sold, a sun inca Packie (ou impossbiiade) de se feliz, Como 0 pet Sonagem de Pirandello em “Vesti ox nus, Era Drei aqulringoém mas tem um vestio bonito para eicondet sua mis. ‘Os personages de Beckett sfo maltrapihos, estar rapados € para car melhor o contrast patico-bmico tie apela paras palagos. Palags jogados numa arena delta ra vida ™ paagos passives qo espram (Via- dir « Estagon) e’enguanto esperam, flu parh dat nvimpresio de vWver. A expert de Godot € um sonbo? ‘Temoy certeza de" que Beckett escreveu um pesaelo Como pesaielo &0 drama de Winnie (em “Ob, que belos fiax!")’morrendo na arela que soca. Wine € 0 pe Sonagem talvez menos absurd e 40 mesmo tempo © mai tbeonio. A muther mediocre, o ser humano aceando tno, coninandose om post Winnie una, Poly ana sea, Em “Fim de jogo”, Hamm e Clov nfo, se falam rem se explicam nay sobre a necesidade de falar, mah {5 100 minutos dese espetcalo & 360 esforgo de Hamm tm manter um diiogo com Clov. Cloe nio 0 quer ouvir. Ele'é 0 crado, o gue. obedece e ele sabe que o fin {hegow, Hamm sabe, mas nfo er asta, tent dalogar, porgue sabe que 0 fim do dislogo é 0 fim mesmo, ¢ Inorte, 0. nada, 0 fim Entao inventa histras, inventa Orden, faz peigunas absutdas sobre o tempo, ft pet guntay velhas sobre aountonantigos © egolados Becket nos interes? Tneressa na medida em que podemes até repelilo, mas interesa sempre porque & die Fogo sobre o aosurdo' de nossa existncia deno.desa tra de tecnologia, séelo da comunicagi, onde o homens ‘io consogiem se comunicar. Interna porque "Um homem que penss,e mas ainda, um posta que pensa ‘Quando deparames com a obra‘de um dramatuigo aque atinge no palo tamanho grau de introspeccdo pro- findidade ds andise da alma humana, pasamos 8 see. dita que o teatro, apssar da apaentesupefcaidade dos msos'de que dispoe par expresar suas ih, consegue tmobiizar a su integidade 0 ser homano, em stab con tradgoes, seus maravlbamentos © confit. (Apostila dada por Sérgio Britto no Curso do Tea- ‘ro Senac — 1971-RI) 10 EXERCICIOS PARA O ATOR: DESENVOLVENDO TECNICAS ESPECIFICAS Uma vez “dono” de um papel em uma pega, ou em uma cena escolhida vocé provavelmente comecara por examinar o seu papel, a fim de descobrir 0 que. precisa fazer (vocé poderd inclusive vir a contar as linhas que The couberam a fim de satisfazer o seu ego). Podera des- ccobrir que entre os seus deveres esto, por exemplo, o de chorar, rir ow bater em alguém no paleo. Talvez vocé fique excitado com relagio as possibilidades draméticas inerentes a tais situagées, mas também é possfvel que voce fique assustado antevendo um possivéb fracasso. HA poucas regras minuciosas para se comunicar a emogio num palco. Mas hi alguns métodos eficients, aque sero discutidos em seguida, Descubra qual deles funciona para vocé e bom proveito. Seu diretor difcil- mente terd tempo para chamé-lo num canto e expliar-lhe como expressar uma determinada emogio. Lembre-se de que voce estar no paleo com outro ser humano. Seria terrivel ter de contracenar com um ator auto-indulgente, cujo riso ou choro o deixasse com o fracasso estampado zo rosto. Tarefasfisicas ou emocionais no paleo nio cons- tituem objetivos ou resultados finais em si; elas devem ser vistas como resultados naturais, que se_desenvolvem 8 partir de determinados objetivos & do partilhar de mo- mentos draméticos entre colegas atores. CHORAR pprocedimento Sente-se em posicdo relaxada. Tente se Tembrar de um acontecimento triste do ppassado recente. Neste processo de lem- branca, procure se concentrar nos aspectos ssensoriais do mesmo, recriando os momen- tos mais intensos de sua dor em associa~ ‘gio com os cheiros, gostos, sons e percep- discussio $8es visuais que 0 afetaram naguele mo- mento. Tents centrar a sensacio na area pélvica e “dinja” a respiracdo para esta fea de maneira lenta e ritmada, & me- ida que vai se lembrando das imagens Boceje e procure manter a sensacio do bocejo em sua garganta durante a inalagio ea exalacéo. Faga isso durante um mi- nuto. Em seguida, comece a vocalizar a inalagio suavemente. Pense na exalagi0 como a mancira de se selasar, a fim de propiciar © processo de voealizagio. Dei xe sua inalagdo passar pelas cordas vocal produzindo assim um gemido suave. Faca {sto durante um minuto, lembrando-se de rmanter a sensagio de ocejo na garganta. Chegue ao climax do exerciio acelerando ‘ritmo e arfando a cada inalagio até che- sar a0 ponto méximo, sem muito esforeo Tente encontrar um ritmo staccato. pro- prio para a inalagéo. E, finalmente, en- quanto estver exalando, fara a devida Yocalizagio, em forma de queizume. Al- eancado 0 choro, vi diminuindo 0 ritmo gradativamente. ‘A “meméria sensorial” foi necesséria? O ato de bocejar foi sufiiente para umedecer 6s seus olhos? Voo8 descobriu que manter © bocejo Ihe dé uma sensagio de ter um “nd na garganta”"? Conscientemente pro- cure produzir 0 mesmo som que consegti durante 0 exercicio, mas use a exalacio, 0 invés. da inalago. Qual dos méiodos Fequer mais tensdo? Usando @ exalacio pata recriar © som faz voce repuxar as ordas.vocais? © som teatral do. choro deveria ser conseguido “exatamente. ai”, durante a inalacio. Entretanto, a inalagdo poderd the dar a sensacio de ter a gar- Banta ressecada. Tente telaxar durante este processo, de inalaglo, usando a exa- Tagio' para sliviar a gargania. Engula e produza salivagio, se sentir secura. Eno fente com desespero. Quanto maior for a intensidade do exer- cicio, maior a intensidade dramstica. Qual procedimento a diferenga entre um som continuo ¢ um Som staccato? Procure fungar pelo nariz fem intervalos entrecortados. Isto faz 0 choro parecer mais real? Contagia a pla- ‘ia? imprescindivel produzir ligrimas ver- dadeiras? Vocé poderia conseguir isto fa- zendo uso de truques requintados? Um ator néo deve ter a obsessio de querer “chorar légrimas de verdade”. Légrimas podem ser o produto de um objetivo frus- {rado que voce esté tentando alcangar, mas concentrar-se exclusivamente nelas faz voce negara existéncia de outros atores {que possam estar no paleo com voce. Ha foutras téenicas de chorar — olhar para dentro do ““Leeko” (instrumento lumino- 80) fard, com certeza com que as lagrimas aparegam, mas também vai prejudicar a retina do seu olho. O ator nunca deve por tem risco seu fisico ou seu bem-estar em prol do “sucesso de um espetaculo” Chorar também oferece alguns perigos Voeé tem que saber quando termina o | choro e quando comega a auto-piedade ‘A platéia ndo vai querer entrar em contato ‘com ela. Chorar no paleo pode ser muito bonito, dependendo da sua atitude. Se ‘oc8 usa 0 choro para chamar a atencio da platéia sobre voce, entio no mais es- tard contracenando com seus colegas. Um critico experiente vai chamar isto de “gol- pe baixo” RIR Tente lembrar-se de um acontecimento cengragado pelo qual voc passou, ou de uma boa piada que ouviu recentemente. Novamente, reconstrua_o momento de quando a sua apreciagio deste fato ou desta piada chegou a0 maximo. Tente se Tembrar de um visual especifico, cores, sons, perfumes, estruturas — qualquer imagem sensorial que possa ajudé-lo a recriar estes momentos ou piada. Agora, dirija © sentimento para a parte inferior do seu abdomen e tente manté-lo ai, onde pode ser controlado; nifo deixe que se ins- tale no alto do t6rax ou no peito. Sinta 1 humor subindo suavemente em pequenos fespasmos, na direcdo da garganta e da sua boca. Encontre um ritmo calmo e mode- ado de respiragdo que se ajuste ao riso. Repasse na sua mente as melhores impres- ses sensoriais deste acontecimento e sinta ‘a emogdo langar sua respiracio para cima e para fora, a partir da regiZo pélvica, mas no perca este controle! O iso pode ser mantido se no for explosivo, isto é, se vier crescendo gradativamente, sob con- trole. Ele se diluira lentamente com uma série de exalagdes. Mantenha os Iabios cerrados e ria pelo nariz na primeira exalacio. “Engula” 0 iso pressionando para dentro. Controle-o ‘com seus mésculds intercostas e com 0 diafrdgma e ndo se deixe dominar por ele ‘Agora, deixe seus libios ligeiramente en treabertos ¢-gentilmente exale pela segun- da vez. Evite perder 0 folego antes de vocalizar 0 iso. Tome a se lembrar d imagens, abra um pouco mais a boca e mais alto a terceira exalaclo. Agora, abra mais a boca e deixe 0 som crescer a uma Geterminada altura. Visualize 0 som sain- do de voc’ e lance-o através do espago na Sua quarta exalagio. Abra_a boca uns dois centimetros e pegue 0 ritmo da res- Piragio, dominando o som vocalizado des- Se o inicio da quinta exalacio. Comprima riso para baixo; nfo deixe que ele se instale nos seus ombros ou no pescogo. ‘Agora, abra a boca uns ts ou quatro cen- timetros. Respire e diminua a intensidade €-0 volume. Faca isto durante uns 30 se- fundos, mantendo todo o som. Lentamen- te deixe-o decrescer e comprima-o. Diga voe8 mesmo que nio era, afinal de con- tas, assim tio engragado. Deixe dissipar. Olhe em frente. Deixe 0 riso ir parando. Lentamente torne a olhar para o seu par- ‘eiro (ou deixe as imagens voltarem & sua Imente).. Desvie 0 olhar rapidamente. Tor- ne a encaré-lo e comece a rir pelo natiz Veja como € fécil parar rapidamente 0 11 12 vatiagio discussio procedimento, riso, compartilhando com seu parceiro 3 medida que vocé permite que ele aumente tensidade (no necessariamente de al- tura ou de volume) Qual o valor de se jogar contra as emo- 6es? Voe8 pode aplicar esta mesma tée- nica no choro? £ melhor rit sozinho ou Aacompanhado? Voeé e seu parceiro podem praticar 0 riso de eada ume ainda encon- {rar inimo. para sustenté-lo? Acha neces: sivio trabalhar a meméria sensorial? CChorar pode estar mais igado & inala- so, talvez pelo fato de ser o choro uma emoeio interiorizada, uma vez que 0 ris0 esté' mais efetivamente ligado a exalacéo, Por ser uma emocio mais estereotipada \Vocé pode chorar com mais facilidade do que rit? Tanto 0 riso quanto 0 choro séo meios de extravasamento (de alivio) ‘Tente repetir 0 exercicio; agora ria de al- sguma coisa triste! A trapédia existe tam- ‘bém sem ligrimas. Ser que a coméd funciona sem o 10? Pode'o riso ser tré= £0? Ser feio ou bonito? Ouais as g6es as quais os comediantes mais se in tegram? Procure tir de maneira que pareca indicar ‘um tipo especifico de personalidade ou de femogdo. Peca a seu companheifo para fazer isto com vocé e descubra quantos risos diferentes vocé pode eriar, sem que seja repetido 0 mesmo tipo de iso. Ten- tem encontrar, um no outro, estimulos pa- ra a descobreta dos novos risos Qual o tipo de riso que surte maior efeito? A interacao com seu parceiro ajuda este trabalho? Quais os tipos de riso que pare- ccem forgados ou mecfinicos? Como pode ser bem usado um riso mecinico? Esta- riam algumas personalidades famosas as- sociadas com certos tipos de iso? CORRER Esvazie © local onde vai trabalhar. Seu parceiro se senta no centro desta drea discussao ido de “The Student Actor's Handbook”, Publishing Co., 1975, ‘Tradugio de Thais A. Ballon). vocé se coloca num dos cantos da coxia (se estiver trabalhando num palco). En- quanto ele faz algumas mimicas para se ‘ocupar, vocé escolhe um tema que possa também envolvé-lo; por exemplo: “Dois homens esto tentando arrombar 0 nosso carro! Venha, vamos chamar a_policia para impedi-los!” Corra para ele e © con- venga a sair com vocé — no caso — para chamar a policia Sua atuagio foi convincente? Quanto? Seu ‘corpo mostrou o esforeo causado pela cor- rida? Pergunte a qualquer espectador por ‘quanto tempo Thes pareceu que voc’ esta- va correndo? Vocé manteve controle sobre seu corpo, ou foi a situagio em si que o controlou? Voce se desequilibrou? Quando entrou correndo foi ralentando 0 passo até cchegar a0 seu parceiro, ou vocé pratica- mente 0 atropelou? Se foi assim, faga tudo novamente, mantendo a velocidade neces- sdria para demonstrar a sua urgéncia, sem ir de encontro a ele. Termine sua aproxi- ‘magdo com passos mais curtos e melhor controlados. ‘Mude as circunstincias, como por exem- plo: “Depressa! Seu cachorro acabou de ser mordido por uma cobra!” Seu parceiro pode variar sua reacdo para uma de me- nor intensidade. Mude © tempo da sua corrida, a fim de ver se pode dar a impres- io de’ter corrida um quarteirio a toda velocidade, ou ento todo um quilémetro. Preste atengio as diferengas de postura, assim como as de respiracao. Verifique sua preciso, correndo por todo 0 espago que tem para trabalhar e, mesmo que este ‘espagoseja pequeno, ainda assim vocé devera dar a audigneia a impressio de ter corrido todo um quilometro. Note os re- ‘quisitos fisicos que Georges Feydeau exige de seus atores, no segundo ato de “Com @ Pulga Atrés'da Orelha”. L. J, Dezseran; EXERCICIOS PARA O ATOR II FAZENDO © PAPEL DE “LOUCO" NECESSIDADES: Colocar um méximo de 8 a 9 ca deiras em semicirculo para acomodar os alunos que fa- ao 0 exereicio. Qualquer membro do grupo que tenha antecedentes. com relagio a problemas mentais deve se sentir livre para realizar o exercicio ou nao. Os dem: alunos, que vao apenas observar a acéo, devem aten tar para a teatralidade ¢ a veracidade dos’ desempenhos. Ocasionalmente, tanto neste como no exercicio onde o aluno se faz de bébado, a veracidade da situacdo € 0 cfeito teatral no sio necessariamente iguais, isto é, um bébado verdadeiro, carregado de dlcool, pode nio ter nenhum “efeito teatral”, e, por outro lado, igualmente, “um louco de palco” no’ tem — nem precisa ter — similaridade com 0 paciente internado ou paciente em surto, Assim, por exemplo, o filme Um Estranho no Ni rnho, dramatizado por DaleWasserman a partir do livro de Ken Kesey, contém uma série de liberdades dramé ticas — ow Ticengas posticas, como queiram —, que con- ferem um “tom teatral” que parece “verdadeiro”, © que no sio encontraveis em pacientes verdadeiramente neu- 16ticos ¢/ou psicsticos. Drama é contlito, néo é fato cien- tifico. Lembrem-se daquela anedota do concurso para ver quem imitava melhor © grunhido do porco, onde um es- perio candidato escondew. um porquinho sob a capa no afi de ser vitorioso ¢... perdeu. PROCEDIMENTO: Apés os participantes terem ¢s- colhido seus assentos, um outro ator é escolhido para fazer o papel do “analista”. Sua tarefa seré a de manter a reciprocidade entre os problemiticos pacientes, enco- rajando-os a se relacionar entre si em termos reais, O “analista” deve denunciar todos os comentérios “il6gi- os” proferidos, procurar fazer os pacientes ex seus problemas, sempre questionando as_incoeréncias. ‘Mas cuidado: nada de sucumbir A tentagio de dar or- dens ou julgar os pacientes! Sua fungio no exercicio basicamente catalisadora. Os participantes, por sua vez, dover escolher uma das seguintes m¢ vir de base as suas improvisagies. Est devem funcionar como uma espécie de “roteiro” ou “fio ‘condutor”. Assim, os atores devem escolher um dos se~ guintes objetivos: 1) Eu preciso mostrar a0s outros © humor que nos cerca e que esté em tudo que € dito. 2) Eu preciso encontrar uma palavra que rime com tudo que me disserem. 3) Eu quero impressionar a todos mostrando como sou inteligente © normal, e como eu vejo tio bem, de ‘modo to claro, os problemas dos outros. 4) Eu tenho de evitar infecgdes por germes e 0 suor das outras pessoas, e para isso me abstenho de qualquer contato fisico. 5) As faces das pessoas que me olham parecem se distorcer. Por qué? 6) Todas as pessoas esto mentindo. Por qué? 7) Eu quero ficar aqui sentado, sem qualquer res- ponsabilidade e sem me aborrecer com nada deste mundo, 8) Eu tenho de provar aos outros que a reza é a Sinica resposta para todos os males. 9) Eu estou inventando um sistema numérico que aplicado as palavras dos outros, vai me permitir saber se eles esto falando a verdade ou nio. 10) Eu quero saber por que fico sempre tio ner- voso, © por que esta iilcera que eu tenho nfo acaba nunca. + 11) Eu vivo triste, tudo me deixa deprimido. DISCUSS4O: Algum membro do grupo forgou a situa- io para parecer “louco”? Quem estava de fato abor- dando seus objetivos honesta e economicamente? O en- volvimento de cada participante em seu problema afas- too ou aproximou-o dos outros? Se houve momentos cexcitantes, a que eles se deveram? Puderam os observa dores de alguma forma se identificar com os atores? ‘Tentaram os participantes se controlar e se relacionar com os demais o mais normalmente possivel? Ou as comunicagées foram vagas e difusas? Quem esteve con- B 4 fuso ¢ embaragado? Conseguiu 0 analista fazer com que as pessoas trabalhassem juntas? Houve muita disperséo ‘ou 0 grupo conseguiu se manter em torno de certos t6- picos? | COMENTARIOS: A loucura raramente é a inabilidade ‘em escolher entre varias possibilidades alternativas; mui- to mais freqiientemente, Joucura significa ver as coisas somente ou predominantemente por um prisma ou um ponto de vista muito particular. Quando vocé for anali- sar os objetivos de um personagem que tenha problemas psicolégicos, tente nio vé-lo “de fora”, esquematizan- do-o simplisticamente ao redor de alguns sintomas. Ao Ao contririo, confie na légica “il6gica” do personagem, f¢ simplesmente desempenhe seu papel como voce o fa- ria, aso 0 mesmo fosse “normal”. Fique alerta para 0 que se passa A sua volta. E atengio: resista ao impulso de criar um “grande drama” e — pelo amor de Deus — vite a tentagdo de desempenhar o seu papel como se fosse um débil mental! Procedendo assim — tentando apenas confirmar preconceitos e visdes estereotipadas vi- ‘gentes — 0 que voce vai conseguir é ofender a sensibi- idade da audiéncia. Procure, a0 contrério, a forga © a beleza existentes no papel, imbuindo o personagem de tum sopro humano, Devido’a uma certa unicidade de de- ‘mandas, desempenhar um papel deste tipo € uma das ta- | refas mais dificeis em teatro. Mas no se desespere. A | primeira coisa a fazer € descobrir um modo de desem- ‘penhar os “sintomas” do personagem, as condicées sob ‘a quais ele age, bem como suas necessidades e aspira- ‘gbes. O maior perigo — a ser evitado — € o de deixar (08 sintomas crescerem a tal ponto em importincia que suplantem todo o resto ¢ faam-no “esquecer” qual se- ria 0 conflito real do personagem, ¢ 0 seu relaciona- ‘mento com os demais personagens. Isto € muito impor- tante: os sintomas no devem substituir 0 conflito; 20 ccontritio, eles devem ajudé-lo a acentuar os obstéculos ‘a serem removidos na relagdo com os outros persona ‘gens e com os objetivos da peca. E claro que os sinto- mas vo modificar 0 modo pelo qual o personagem vai ‘observar, pensar € agir. (OBS: Além de ver 0 mundo de apenas uma maneira Singular, pessoas sob forte pressiio mental, em geral, cevidenciam certos problemas “fisicos” ou somatizagbes: problemas motores, constipacio, descuido pela aparéncia, ‘aceleragio ou lentidio de movimentos, etc... Aborde este problema do mesmo modo que 0 outro). CONCLUSAO: Observe por exemplo, como os princi- pais personagens de “Os Rapazes da Banda” de M. Crowiey reagem as circunstincias e eventos que 0s ro- deiam, Nesta peca cada personagem é dono de uma certa unicidade, de um modo de ser particular, embora sejam todos homossexuais. Lembre-se que a sua tarefa é dar a audigncia a impressio de que Voc’ quer 0 que o seu personagem quer, da maneira que o seu personagem ‘quer! Escolha por exemplo tarefas reais que voc’ possa executar simplesmente. Se voc’ fez mais do que o sufi- iente para salisfazer as necessidades do personagem, voc’ esti deturpando o seu papel. Vocé, no paleo, nio esta representando um bébado, um viciado, um homos- sexual, um neurético. Voct esti representando um ser Iumano X, que € bébado, ou um ser humano Y que é viciado, ou um ser humano Z que é neurotico, etc. . Caso contrétio, todos os bébados, todos os neuréticos em todos os palcos e em todas as pecas seriam representa- dos da mesma forma! Veja seu personagem como um todo, e no como um esterectipo. E claro que todos estes, tipos tém caracteristicas comuns, que servem inclusive para diferencid-los dos que nfo Slo viciados ou neuré- ticos. Mas, isto de modo algum justifica uma aborda- ‘gem estereotipada e rigida. Em resumo, procure ver seu Personagem como dotado de uma grande dignidade hu- ‘mana, da mesma maneira aliés, que vocé teria de fazer ceaso 0 personagem escolhido fosse vocé mesmo, como voce se comporta e se relaciona na sua propria vida. (Extraido de “The Student Actor's Hand- book”, de L. J. Dezseran, Mayfield, pub. Co. 1975 — tradugio de Bernardo Ja- blonski) TEXTOS PARA ESTUDO Runem Foxseca Apresentamos como textos para es- tudo, quatro pequenos contos de Ru- ‘bem Fonseca, extrafdos entre outras das obras O Prisioneiro e Liicia Me Cartney publicadas pela Editora Co- deeri, Algumas adaptagdes foram f tas, principalmente no iltimo conto: Asteriscos (Entrevista 1V). ENTREVISTA I Eta — (entrando): D. Gisa me mandow aqui. Posso entrar? Ete — Entra e fecha a porta Eta — (fechando a porta) Esté cescuro aqui dentro, Onde é que acen- de a luz? ELE — Deixa assim mesmo. ELA — Como € seu nome mesmo? Ete — Depois eu digo. ELA — Essa é boa! ELE — Senta ai. Eis — Tem alguma coisa para beber? Eu estou com vontade de be- bei. Ai, estou tio cansada (Tira os ssapatos). ELE — Nesse armério ai tem be- bida e copos. Sirva-se Eta — (Preparando a bebida) Vocé nao bebe? ELe — Nao. Como foi que vocé velo para o Rio? Eta — Eu? Peguei carona num fusca. ELE — Sdo mais de quatro mil qui- ometros, voce sabia? ELA — Demorei muito, mas che- ‘guei. $6 tinha a roupa do corpo, mas ‘ado podia perder tempo. ELE — Por que vocé veio? ELA — Ha, ha, ha, ai Meus Deus! Que coisa....s6 rindo. ELe — Por que? ELa — Vocé quer saber mesmo? Ete — Quero, Eta — Meu marido, Vivemos qua- tro anos felizes, felizes até demais. Depois acabou. ELE — Como que acabou? Eta — Por causa de outra mulher. ‘Uma garota que andava com ele. Eu ELE — Vocé estava gravida. Eta — No dia 13 de outubro a gente estava jantando no restauran- fe, quando apareceu essa garota, que ele andava namorando. Meu marido estava bébado e olhava para ela de maneira debochada, e entao ela nio agiientou mais e se aproximou de nossa mesa, falou em segredo no ou- vido dele e'eles se beijaram na boca, como se estivessem sozinhos no mun- do. Ah, eu fiquei louca; quando det conta de mim, estava com um caco de garrafa na mao e tina arrancado fa blusa dela, uma dessas camisas de meia que deixa 0 busto bem desta- cado. Ete — Sei, Continua, ELA — Dei. varios golpes com 0 caco de_garrafa no peito dela, com tanta forga que saiu um nervo para fora, de dentro do seio. Quando viu aquilo, meu marido me deu um soco na cara, bem aqui em cima do olho: 6 por um milagre eu nao fiquei cega Fugi correndo para casa. Ele atrés dde mim. Eu gritava por socorro para ver se 05 meus parentes ouviam, eles rmoravam perto de mim. Porque eu io sou cio sem dono nio, ouviv? ‘Ainda ontem eu dizia na casa de D. isa para. uma moga, que eu _ndo posso dizer que seja’ minha amiga, Porque nessa vida ninguém tem ami- 0, n6s apenas fazemos. programas junto, eu dzia para ela, eu estou aqui mas eu nio sou cio sem dono, quem encostar um dedo em mim vai ter que se ver com minha familia, ELE — Mas agora eles esto 1 no norte, muito longe. ELA — Parece que eu estou num teatro, ha, ha... 15 16 ELE — Vocé fugiu gritando por socorro. Continua. Eta — Eu me tranguei dentro do quarto, enquanto meu marido que- brava todos os méveis da casa, De- ppois ele arrombou a porta do quarto © me jogou no chio ¢ foi me arras- tando pelo chio enquanto me dava ppontapés na barriga. Ficou uma man- cha de sangue no chao, de sangue ue saiu da minha barriga. Perdi nos- so filho, Eve — Era um menino? Eta — Era. ELE — Continua ELA — Meu pai e meus irmios apareceram na hora em que ele es- tava chutando a minha barriga © de- ram tanto nele, mas tanto, que eu pensei que ele ia ser morto de pan- ada; $6 deixaram debater depois que ele desmaiou e todos cuspiram ¢ Urinaram na cara dele. ELe — Depois disso voot ndo 0 viu me Eta — Uma vez, de longe, no dia em que eu vim embora, Ele veio me ver de muletas, com as pemas enges- sadas, parecia um fantasma. Mas eu nfo falei com ele, sai pela porta, dos fundos, eu sabia o que ele ia dizer. ELE — O que é que ele ia dizer? E1a — Ele ia pedir perdio, pedi para vollar, ia dizer que os homens ram diferentes. Ete — Diferentes? Eta — B, que podiam ter aman tes, que é assim a natureza deles. Eu jf tinka ouvido aquela conversa an- tes, ndo queria ouvir novamente, Eu queria conhecer outros homens ¢ ser feliz. ELE — E vod conheceu outros homens? ELA — Muitos ¢ muitos, Eve — E é feliz? ELA — Sou, vocé pode no acre- ditar, levando'a vida que eu levo, ‘mas ‘sou feliz ELE — E nfio se lembra mais do seu marido? ELA — Lembro dele apoiado nas muletas, Me disseram que ele anda | atrés de mim e carrega um punhal | ppara me matar. Posso acender as Iu- ELE — (Levantando-se) Pode. E | vocé no tem medo de ser achada | por ele? ELA — Jé tive, agora nio tenho ‘mais, B aqui que acende a luz? (Grito) FIM ENTREVISTA II (O Agente) (Na sala um homem sentado de~ fronte a uma mesa. Batem @ porta) Homem — Pode entrar. AGENTE — Boa tarde, sou do Ins- tituto de Estatistica ¢ venho fazer 0 seu questionstio, Homem — Que questionério? GENTE — Nome, nacionalidade, estado civil, Esses dados todos. Homem — Para qué? AGENTE — Para o recenseamen- to, para sabermos quantos somos, 0 que somos. HomEM — O que somos? Isso nao. AGENTE — O recenseamento nos dard a resposta de tudo. HomeM — Mas eu no quero sa- ber de mais nada. O senhor nao esta vendo que eu estou ocupado? AGENTE — O senhor me desculpe, mas sou obrigado a preencher a sua ficha. © senhor também é, de certa forma, obrigado a colaborar. O.se- thor no leu a proclamagao do Pre- sidente da Reptblica? Homem — Nao. AGENTE — Foi publicada em to- dos os jomnais. O Presidente disse... Homem — Isso ndo interessa (Le- vantando-se). Por favor. AceNtE — (Comecando a tomar rnotas) Seu nome? HomEm — (Sentando-se nova- ‘mente) José Figueiredo. Mas isso nto vvaj Ihe adiantar de coisa alguma, AGENTE — Por qué? O senhor no std me dando um nome falso, esta? Homem — Nao, oh! Nio. Meu nome é José Figueiredo. Sempre foi. ‘Mas se eu morrer amanha, isso nfo falsificard 0 resultado? AcENTE — Esse isco nés temos que correr. Homem — Morrer? AGENTE — Sempre morre alguém durante 0 processo de recenseamento, porém esta tudo previsto. Outros nas- cem, porém esté tudo previsto. Esti tudo previsto. Homem — Quer dizer que eu pos- so morrer amanha sem atrapalhar a vida de ninguém? GENTE — Pode... Ora, 0 senhor rio est com cara de quem vai mor- rer amanhd; esti meio pélido ¢ abs- tido, de fato, mas o senbor toma umas injecdes, que isso passa. Estado civil? Homem — O senhor pode guar- dar um segredo? AGENTE — Vitivo? Homem — Um segredo que vai durar pouco? AGENTE — Eu s6 quero saber 0 seu estado civil, a sua, Homem — Eu vou me matar ama- nha. AGENTE Hein? Como? Mas... Mas isso 6 um absurdol O senhor est brincando comigo? Homem — Othe bem para mim. Estou com cara de quem esti brin- cando com 0 senhor? AGENTE — Nio... Homem — Nao escrevi nenhuma carta de despedida; ou melhor, es- revi, escrevi virias, mas nenhuma me agradou. Além do mais, nio sa- bia a quem enderegé-las: a0 delega- do de policia? — impossivel; a quem interessar_possa? — muito vago. AGENTE — Que coisal... © se hor vai se matar mesmo? Homem — Vou. Mas o senhor ‘io precisa ficar tio chocado, AGENTE — Mas isso 6 um absur- do. O senhor nao gosta de viver? Homes — Bem, hi certas coisas que eu ainda gostaria de fazer, como beijar uma menina loura que passou por mim na rua ontem, tomar com ela um banho de mar ¢ depois dei- tar na areia © deixar o sol secar 0 ‘meu corpo. Mas isso deve ser in- fluéncia do cfu (olha a janela) que esté hoje muito azul AGENTE — Concito-o a abando- nar esse propésitol Prometa-me que no ira cometer esse gesto. .. Eu es tou com pressa. Homem — Ia decidi. Nio posso mais voltar attés. AGENTE — Isso é uma loucura Eu no posso ficar aqui até amanhi, 2 vida inteira, procurando convencé- To da sua insensatez, Nao posso per- der mew tempo. Também preciso vi Yer: cada dez minutos do meu tem po correspondem a um questions, ada questionério corresponde a cen- toe setenta e cinco eruzeros e cin- aiienta centavos! Homem — Eu aprecio muito 0 seu interese. AGENTE — De nada, de nada. Ainda nao fiz nada hoje. (0 Homem se levanta ¢ estende a ‘mio. Apertam-se as mdos. O agente Se retira lentamente. Enquanto sci, amassa a folha onde estWvera ano- tando os dados). FIM ENTREVISTA II (Os Prisioneitos) (Numa sala, um sofé, um homem deitado no sojé, sem paletd, com a gravata afrouxada, Ao lado uma mu- her de preto, sentada numa cadeira) ANALISTA — O senhor niio gosta de roupa esporte. E essa a razio? CuENTE — E muito chato vir de roupa esporte para a cidade, num dia Util, Parece que ndo trabalho, que sou um aposentado, um vadio, uma coisa dessa. ANALISTA — Mas por que se in comodar com isso? O senhor esti de Ticenca para tratamento de sade, re- ccebendo regularmente pelo Instituto. Esse € 0 seu trabalho: tratar de sua saiide, CLIENTE — Mas ¢ os outros que me véem na rua, flanando de roupa esporte! Que digo para eles? Ou no digo nada e carrego, como 0s cegos, uma tabuleta, ou bordo nas costas da camisa a frase: em tratamento de satide. Gostaria que a senhora me dissesse qual a mancira de identfi- car o louco de bom comportamento, (Os cogos carregam uma bengalinha branea, os surdos uma cometa actisti- ca ou um transistor inconspicuo na hhaste dos culos; 0s mancos uma bo- ta ortopédica, 0s paraliticos uma ca- deira_de rodas ow um par de mule- tas. E os malucos de bom comporta- ‘mento, como parece ser o meu caso? Hein? A senhora ndo tem uma boa idéia? (mudando de tom) Aliés a se- hora ndo tem uma boa idgia desde ue a conheci ANaLista — Jé comeca o senhor ‘com a sua agressividade. Eu Ihe disse fem nossa altima sessio que isso no passa de uma fraca defesa. Desde 0 primeiro dia o senhor se entrinchei ou € nfo quer abandonar essa pos 1 8 cio de antagonismo (pausa). O se- hor esté-com medo que eu 0 se- éuza CLIENTE — Ha, ha, ha, ha, ha. ANALISTA — O senhor est com medo que eu 0 seduza. CuiENte — (pensativo) Por que serd que a senhora me disse iss0? Engragado, as coisas que a senhora me diz me deixam na maioria das veres indiferente; as vezes, raramente, me jirrtam. Essa, me dew pena da senhora. ANALISTA — Pena de mim? Por que? Cuenre — Eu sei porque a se- hora me disse isso. ‘ANALISTA — Entdo diga Cuente — A senhora € casada? ANALIsTA — (Pequena hesitagdo) Nio. Cuexte — 36 foi psicanalisada, io foi? ANALITA — Claro. CueNtE — A senhora 6 virgem? ANALIstA — (hesitagdo) Isso no ajuda nada ao senhor. Ciuevre (semado no sé): B ow ‘ANaLista — (Recuando ¢ apoian- do as costas no encosto da cadeira) Sou. (0 cliente deita com um suspiro de satisfagao ¢ fica de olhos fechados como se estivesse dormindo. A psi- Ccanalista por momentos. permanece fencostada na cadeira). ‘ANatista. — (Empertigando-se, sentada) senor quer encerrar a nossa sesso de hoje? Curnte — Nao, no, Ainda nao acabei com a senhora. O seu psica- nalista foi um homem, no foi? ANALISTA — Foi (Curnte — E, um dia, numa das sessbes, ele The disse (imitando}: “A senhora esté com medo de ser sedu- zida por mim” — nio disse? Sendo virgem, a senhora devia viver, ou tal- vez viva, ainda, com esse medo, ou essa vontade, de ser seduzida, as duas coisas se confundindo, deixando-a perplexa. Agora a senhora vem e re pete a mesma coisa para mim, como se tudo fosse uma li¢do de piano. ANALISTA — O senhor jf pensou fem outra hipétese? Por exemplo: pode ser que eu esteja com medo de ser seduzida pelo senhor, transferindo esse sentimento. Cures — Eu néo tinha pensado nisso. ANALISTA — (Sorrindo) Vé, 0 se thor ndo sabe todas as respostas. CuieNte — E a senhora sabe? ANAtista — Eu nio, Nem mes- porque o senhor tem pena de CueNTE — Por que tenho pena da senhora? (Levanta-se) Epa Es- pere ai. A senhora no vai agora di- zer que estou com pena & de mim, e tortuosamente, digo que tenho pena da senhora, Daqui a pouco vai per- guntar sobre a minha mde, eu sei, ANALISTA — Se o senhor que fi lar sobre a sua mie, pode falar. O senhor no quer se deitar? Fica mais confortavel. CLiENTE — Meu Deus! Serd que a senhora nfo se livra das formulas? ANaLisTA — Que f6rmulas? CuENTE — (Irritado) sso tudo & muito ridiculo, Acho que eu estou perdendo 0 meu tempo. ANALIsTA — Sendo assim, 0 se~ nhor no devia fazer anilise. Pelo ‘menos comigo. fe esteja | Cunt — Fago porque 0 Insti- tuto esta pagando. D tituto arranja_ 0s mi nérios para os seus doentes. ANaLista — O senor esté pagan 4o, Nao descontou sempre para o Ins- tituto?| ‘CLIENTE — Esté certo. Eu estou pagando. Entio é pior ainda: estou jogando 0 meu dinheiro fora. "ANALISTA — O senhor no é obri- sgado a fazer psicandlse Cuente — (impociente) Eu ja Ihe disse uma porgio de vezes: so- fro de umas sincopes, perco 0 ar, des- maio. Quando isso” aconteceu,” pela primeira vez, os clinicos. disseram que eu devia ter um foco infeccioso. Tiraram-me as amigdalas. Piorei. Fiz coperacio de sinusite. Eles foram cando desesperados ¢ arrancaram to- dos os dentes da minha boca. Passei a ter dois ataques por semana. A Senhora sabia que todos os meus den- tes sfo posts? Eu tinka étimos dentes. ‘ANALISTA — Nao tinha notado. Cupxre — (Passando 0 polegar ¢ © indieador da mao nos dentes su- periores) Imbecis! Fiz. cardiograma, nada. Encefalograma, nada. Ando ser uma pequena disritmis, oriunda de pancada na eabeca quando era crianga, Vesicula, bexiga, _préstaa, intestinos, bago, figado, tdo perfei- to, Eles %6 tinham uma safda: dizer que eu era nerético. Mandaram-me para um médico psiquiatra, que pa- Fecia 0 Carlitos (pensativo). A éni diferenga € que ele usava roupa cin- za 0 tempo todo. ‘AxALista — E depois? CuENTE — (Bocejando) Depois fizeram sonoterapia. Um més na base do Amplictil e outras pilulas colori- das. Dormi p'ra burro, engordei, mas rio deixei de ter os mesmos colap- fos; as vezes 0 meu pulso subia a 200. ‘Awatista — 2007 Cuexte — 200. Como no desse resultado, passaram a convulsotera- pia. ‘ANALisTA — Insulina? Curent —_ Kilowatt, Também no adiantou. E assim, dos clinicos 20s psiquiatras, 0 abacaxi foi passa do adiante aos psicanalistas, ou seja (aponta com o dedo) a senhora. A senhora é a minha tltima chance. ‘ANALIsta — Pode confiar em mim. Cuexte — (Ajliio) Eu tenho que confiar na senhora. Hoje, quando vi- tha para cé, no meio da rua, as mi- has’ pernas’ pareciam de chumbo, © coragio disparando, uma sensagio horrivel. (Leva a mao ao peito) Eu estou sentindo a mesma coisa agora, veio de repente ANALIsTA — & melhor 0 senhor se deitar. CiENTE — Nao posso andar (Faz ‘cara de dor). ANauista — Tente. Voce pode sim, tente, por favor, voce pode. CLiENTE — Nio posso. Nao pos- so. Meu pulso! (Os dentes cerrados, respira ojegante) "ANALISTA — Vocé pode! CuENTE — Nao! (Com vor auto- ritéria) Puxe esse sofa para cal ‘Avatista — Pronto. (0 cliente cai pesadamente no sofd com as pernas para fora. A psicana- Tista curva-se e levanta as pernas do hhomem do chao, com esforgo enor ‘me, como se elas fossem mesmo de ‘chumbo. Estendido no sofé o cliente respira pesadamente). Cuente — Meu pulso! Veja! ANaLista — (Segurando 0 pulso do cliente, desesperada) Eu nfo te- rho relégio. Meus Deus! (larga 0 pul- 0 do cliente) Ele nio pode morrer aqui. (Grita) Maria, Maria! (4_ sala de ilumina. Uma porta, a tinica da ‘sala, se abre e surge wma mulher jo- vem de uniforme branco) Um mé- ico, chame, depressa, 0 clinico do 808. (Maria sai da sala. A psicana~ lista’ anda nervosamente. Entra o cli- nico, de avental branco, carregando uma maleta preta). CLixico — O que foi que acon- teceu? Sua secretiria me chamou aqui dizendo que um homem. .. ANALIsTA — Aqui doutor (Apon- ta para o homem no sofa). Bum cli- ete meu, um neurdtico, teve um co- Tapso Ctinico — Neurético? ANALISTA — (Nervosa) Psicético, no sei, Um estranho quadro patol6- gico. Ele costuma ter colapsos, os tlinicos nio descobriram a causa. Foi submetido a tratamento psiquidtrico fe nao melhorou. Agora esté fazendo psicanslise. Cuinico — Methorou? Anatista — Nao. O senhor esté vendo que ndo. Mas a psicanilise tum process demorado e ele esta co ‘migo hd pouco tempo. Cuuivico — Hum... (Toma o pul- so do cliente. Abre a maleta preta, tira uma seringa, uma ampola, pre~ ara uma injecdo que aplica no braco do cliente) ANALISTA — Como esti ele, dou- tor? Crixico — A senhora devia saber; cle & seu cliente, ANALISTA — Mas eu ndo_ senhor fica satisfeito de ouvi (grita) Eu no sei! ° Cuixico — Vai voltar a si (afirma- tivo). Mas a psicandlise nio vai me~ Thoré-lo. J4 tive um cliente assim. O homem deve ter um foco infeccioso ANaLista — (Falando e rindo ner- vosamente) Mas ele arrancou os den- tes, as amigdalas, o apéndice, a prés- tata, tudo atrés de um foco que nio existia, Fez operagdo de sinusite, tu- ‘bagem (explode numa gargalhada). CLINIco — A senhora esté histé- rica. (A psicanalista para subitamen- te; 0 cliente no sofé mexe-se e mur- ‘mura palavras incompreensiveis. O linico fecha a maleta, secamente) Creio que j posso ir-me embora. ‘ANaLista — Um momento, um momento, por favor. O senhor vai deixd-lo assim? CLixico — Ele é seu cliente, no € meu, Este ataque ja nfo oferece petigo... creio (Curva-se ¢ examina © cliente no sofa) E estranho. . ANALISTA — © qué (Aproxima- se). Cuixico — Ele esté suando s6 do lado direito do rosto. ‘ANatista — (Agitadamente) E do corpo. Veja, $6 0 lado direito do corpo esta suando. Ele me disse que costumava suar s6 de um lado do corpo, as vezes do esquerdo, as ve~ zes. do direito (Mudando de tom, | agora desconsoladamente) ¢ eu nio acreditei nele. Cuinico — Que coisa estranha. Antigamente isso teria sido consid rado um milagre, Ele sofre de aluci nagoes? ‘Anatista — Nio. Cuinico — Ele € casado? ANALISTA — Solteiro. As pessoas solteiras enlouquecem mais do que as casadas, 19 20 Cuinteo — Isto esté provado es- tatisticamente? 'ANALISTA — Estatisticament. Cuinico — F, mas o fato de ele suar s6 de um Tado nfo prova que cle seja louco (balancando a cabeca). Nao prova. ANALISTA — Hi casos em que rninguém pode provar que uma pes- soa esteja louca, a ndo ser ela pro- pria. Ele se recusa a isso. CLixico — Entio ele esté 0 seu raciocinio. ANALISTA — Nilo sei, Confesso due estou confusa, Ele acha que esti om, e, para falar a verdade eu tam- bém'acho que ele esté bom (Excla- ‘ma:) Mas € 0s colapsos? E 0 suor? ‘As pemnas de chumbo? Ctixico — Também nio sei o que dizer. ANALISTA — Ele niio tem familia, nninguém, 86 0 Instituto. Cuinico — (Confortadoramente) Essas sincopes acabam matando-o. (Longo siléncio) Eu tenho mesmo que ir embora. Meus clientes me esperam. ANALISTA — Estou to cansa bom: FIM ENTREVISTA IV (Asteriscos) ENTREVisTADORA — “Minha bio grafia nao interessa a ninguém”, cos- tuma dizer o jovem diretor de Ende egos. José Henrique surgiu de re- ente no teatro brasileiro dirigindo “Dias Felizes” . Colocou os dois per= sonagens da peca inteiramente nus, a ‘mulher salpicada de fezes © © homem de sangue. “Hoje eu nio perdei tempo com Beckett” diz José Henri- que. Sua consagracao, porém, foi com a adaptacio de “Juliette”, de Sade “A platéia de teatro é normalmente composta de estupradores latentes, hhomossexuais reprimidos e incestuo- 508 sublimados, todos com complexo de culpa. E claro que a pega do di vino Margués teria que ter sobre eles tum grande efeito catértico”. José Henrique no pensa mais em dirigi Sade. "Sade me interessou como uma experiéncia de consubstanciagio do sexo da violéncia com a violéncia do sexo. Mas isso esti superado. O Or- gasmo é um prato de batatas fritas” E. agora, queridos telespectadores, ‘vou chamar aqui, & frente de nossas ccimaras e microfones, o grande dire- tor José Henrique. Uma salva de pal- mas para ele, que ele merece (Pal- ‘mas). Vocé ji comegou a ensaiar a sua nova peca, José Henrique? Se- horas e senhores, José Henrique std dirigindo a Trilogia GT, 0 maior acontecimento teatral da temporada. Tudo bem, José Henrique? José. HeNrious — Por enquanto 6 cedo para dizer. Quer dizer, os en- saios vao bem. Guer dizer, nem co- rmecaram ainda. Mas isso nfo € pro- blema. Problemas nés vamos ter com 6 pilblico, que & eretino, ¢ com a cen- Sura que & sempre composta de su- jeitos que tém horror a vida e & arte. ‘Todo censor é um assassino em po- tencial, todo espectador teatral um dSbil_ mental. ENTREvistapoRA — Como foi que vocé decidiu enfrentar o grande de- safio de encenat © Guia dos Telefo- José H. — Nao sei, Acho que cansei dos velhos textos do teatro do absurdo, da crueldade, da incomuni- cabilidade, etc. Sentia-me enclausu- rado_num’microssegmento do multi- codalismo do conhecimento humano, No ano pasado encontrei-me com ‘Tynan em Londres ¢ ele me disse “O grande diretor de teatro ainda no nasceu”. No aviéo vim pensando: Welles, Barrault, Vilar, todos ape- nas hubris e nada mais. Ocorre tam- xém que eu havia acabado de ler ‘Psicolingtistica: um levantamento dos problemas de teoria e pesquisa”, de Osgood ¢ Sebeck, e estava com isso na cabeca: as relages entre 0 observador e 0 observado, uma velha hist6ria que Parménides conhecia muito bem. © homem sofre limita- (Ges na sua capacidade de perceber conceitualizar. Mas o mundo & co- Tocado dentro do molde das nossas percepedes. Eu arrebento 0 molde, entenderam? E chego no amago do significado das coisas, livre dos pa- rimetros de tempo © espaco © das perplexidades neurofisiolégicas. Eu arrebento 0 molde, entendem? ENTREVISTADORA — E_ Stai vsky? José H. — Stanislavsky. Vocé leu 0 livro dete? ENTREVisTADORA — Que livro? José H. — Minha vida de artista, ow coisa assim. O sujeito era uma besta, Talvez tivesse sido um bom ator representando pecinhas de Gor- ki e Checov, mas diretor, diretor mes- mo, © cara nio era, Quando esta éramos nascidos. ENTREVISTADORA — Quando foi? Jos H. — Trinta e muitos. Antes da Segunda Guerra. Vé como 0 su- jeito & antigo? ENTREVISTADORA — Vocé resol- veu dirigit 0 Guia dos Telefones pa- a mostrar que & um grande diretor? José H. — Eu no preciso mos- trar a (........) nenbum que sou um grande ‘diretor. Escolhi 0 Guia dos Telefones por ser ele uma peca — conjunto de informagdes sobre 0 mundo — da maior importincia, constantemente renovado, postatual, | conde © contexto predomina sobre © texto e a analogia sobre as relagées de quantidade. (Levanta-se) Olla, se tiver alguém da imprensa af, quando imprimir isso, manda colocar a fra- se — conjunto de informagdes sobre | © mundo — entre parénteses, assim doh! (faz 0 gesto) Estes caras da im- prensa sio umas bestas mesmo! Se ho explicar tudo direitinho, eles er- ram tudo. Débeis mentaist ENTREVISTADORA. — Parece que vocé nio esti ensaiando todas as trés ppecas que integram 0 Guia dos Tele- fones. Podem elas ser representadas isoladamente, sem deformacGes no seu significado, como acontece com 2 edipiana de Edipo, digo, de Sofo- cles, por exemplo? Tost H, — Séfocles escrevia pe- gas compactas. O que hii de comum entre Edipo Rei, Edipo em Colonus © Antigona é a presenca de Antigo- nna ¢ Isménia em todas elas, dizendo porém coisas diferentes. Alids em Edipo Rei nem isso acontece, pois clas ficam mais mudas. No Guia dos | Telefones hé uma profunda ¢ insepa- | ravel ligagio e dependéncia entre En- deregos © Assinantes ¢ desias com | Paginas Amarelas, Mas infelizmente | no poderei ensaiar a tilogia, demo- raria seis horas ¢ os oligotrénicos que freqlentam 0 teatro no agentariam tanto tempo com 0 est6mago vazio. E os empresérios querem apenas ga- har dinheiro, como 0s editores, os marchands de tableux, os exibidores © demais exploradores dos artistas ¢ intelectuais. Como s6 podia levar uma, optei por Enderecos, onde a temética da estética como cigneia da sensualidade é confrontada com a dessublimacdo represiva da. socieds- de tecnolégica. ENTREVISTADORA — Dizem que @ encenagdo do Guia dos Telefones & lum mafeo 130 importante para o tea- {ro quanto 0 transplante de cérebros para a. medicin José H. — Acho a comparacio ruito infeliz, A arte sempre foi mais importante do que a ciéncia, do qual a medicina é um dos ramos menos relevantes. Vocé falou em Sofocles. Voo’ se lembra do nome de algum miédico do tempo dele? TENTREVISTADORA — Eh... Bem... No momento ndo me record... Jose. H, — Mas conhece Esquilo, Euripedes, Aristétanes, Tuciides, Séerates, Platio, Xenofonte, Fidias, Praxiteles, centenas de nomes céle- bres, contrapostos apenas ao de péerates, que era mais uma espécie Ge “pubiie relations” da medicina do que propriamente “um médico. 0 miédico mais famoso de hoje € quan- do muito duas linhas do Guia. De- pois de morto nem isso. Os técnicos $6 valem enquanto vivos. ENTREvIsTADORA — Segundo cons- ta, 0s censores ficaram um pouco confusos com 0 texto. Disseram que em vinte anos de censura, este foi 0 texto mais estranho que cles encon- traram, Nio hi falas na. sua peca? José H. — A pega néo é minha, Nem a cidade € minha. ENTREVISTADORA — Sei José H.— Imagine um edifc ‘Avenida Nossa Senhora de Copaca- ‘bana. Ele fala? ENTREViSTADORA — Ha, ha, ha. claro que nao! José H. — Entio & porque a se- nhora no. esti. imaginando. Esta apenas vendo. Vendo por fora. Mas a imaginagio ve por dentro. Enten- dew? ENTREVistADORA — Sim. José H. — Um amigo meu, ct rinoso, tatuou um coragio no’ bra- go e dentro escreveu “Amor de Mie". A policia matou-o a tiros ele munea soube que foi vitima do amor de mic. Entendeu? ENrrevistapora — Continue José H. — Um burocrata senta- se numa mesa e escreve uma norma que vai virar decreto. Alguém che- gando com o ouvido bem perto de Sua boca conseguird ouvir o ranger os seus dentes. Entendev? ENTREvisTaDoRA — Qual 0 seu préximo_projeto? José H. — A_Psychopathia Se- xualis, de" Kraff-Ebing, 0 qual as mulheres faréo os papéis dos homens © 0 homens os papéis das mulheres Pretendo desmitficar o sexo ¢ a sua psicopatologia. Por trés das taras dos pacientes de Ebing estio insolis problemas de adequagio dependen- cial, que pretendo expor, pela. pri meira vez num paleo. ENTREViSTADORA — Mais alguma coisa a declarar aos nossos telespec- tadores? José H. — Sim. Dedico o espeté- culo Enderegos a John Gurtisi, um americano de Boston, um precursor que em 1956 tentou levantar recur- Sos para encenar “Yellow Pages”. Tinfelizmente, ele sumiu. Boa noite, | imbecis! 22 O TUNEL de Paer Lagerkvist (Os meios intelectuais suecos, norue- sgueses e dinamarqueses ficaram trans- tomados pelos horrores da 18 Guerra Mundial, da qual haviam sido teste munhas.” Lagerkvist, como grande es- critor e poeta, nio ‘cansou de desen- volver uma meditacio angustiada so bre o mal inerente & natureza humana, que denunciavam os sofrimentos da guerra e a escalada do fascismo. Uti- lizando primeiro uma técnica expres- sionista, a fim de apreender os fato- res essenciais do drama (“O Homem Que Pode Reviver Sua Vida”, 1928), ‘evoluiu até o realismo para mobilizar, mediante 0 simbolismo de seus arzu- ‘mentos, as forgas do espirito contra os males do nazismo (“O Rei" 1932), Sua carreira culmina_com “Barrabas (1953), vido de uma fé que a razdo niio pode admitir (Histéria del teatro contempordneo — Paul Louis Mignon) © Tiinel — No mesmo ano em que Lagerkvist fazia publicamente, em Teatro Moderno: Pontos de Vista ¢ Ataques (1918), a sua profissio de {6 anti-naturalista e proclamava a sua incondicional admiragao por Strind- berg, o Strindberg da Estrada de Da- masco e do Sonho, reunia em volume, sob o titulo genérico de O Instanie Dificil (Den Svara Stunden), trés pe- ‘gas em um ato de tendéncia’acentua- damente expressionista © Téinel € a primeita dessas pesas: fe se bem que a revelacio final sobre fa verdadeira situagio dos personagens tenha perdido grande parte do seu feito de surpresa, depois da Viagem Infinita, de Sutton Vane; de A Excur- so Misteriosa, de Leck Fischer, ov do Huis Clos, de Sartre, ainda hoje 0 clima de mistério e angistia em que f@ ago progride até a revelagio final ‘nos prende © empolga.. PERSONAGENS: Um Homem DE Casaca UM Corcunpa Sobre um fundo escuro destaca-se, f extrema direita, uma parede azul, que desce num declive acentuado até A ribalta: ao alto, & esquerda, um pa- rapeito térreo que corta obliquamente cena. Ao fundo, rufnas de uma abé- boda de tinel iluminadas, do lado de baixo, por grandes rolos de um fumo branco que penetra, em turbilhoes na abdboda e desapareee. Por cima das ruinas, na obscuridade, o vulto de um clo de pélo avermelhado a arremes- sar-se, ferozmente, contra alguém ou alguma coisa; a direita do cio, duas ‘miios enormes, crispadas de terror; esquerda, uma cabeca, em grande es- cala, calva e esquilida; e, também esquerda mais alto ainda, uma tabu- Teta com grandes letras: S. 8007. Estas imagens esto todas dispostas em planos diferentes que se intersec- tam. Cores variadas mas esbatidas. ‘A cena esta jluminada por uma mei luz azul-violeta Um Homem — (extremamente elegante, entra pela direita, Caminha como um sonémbulo, cambaleia. Pa- rece falar com alguém) — Pois cal- ccula — repara bem — que foi preci samznte no momento em que entré- vamos no tinel. A toda velocidade, ainda por cima. Um estrondo, de re ppente, como se o céu e a terra desmo- ronassem. Ab, meu Deus! Fiquei livi- do de medo, Um Corcunpa — (magro, minado pela doenca, surge do fundo, apoiado @- uma bengala. Aproxima-se do ou- to e comeca a segui-lo como uma sombra, inclinando a cabeca para me~ Thor 0 ‘ouvir. Ao caminhar, bate no chio com a bengala) — Claro, cla- Homem — (ndo o fita e continua como antes) — Eu ia sentado num dos bancos da frente, junto a janela, estava olhando para © parapeito do fosso, para a rua, Ii em cima ... re- parei num edo, num maldito c¥0 que comegou a ladrar... mas isso, afinal, io tem importincia nenhuma. .. 0 sol brithava, estava um dia lindo. elegamtissimo, verdadeiramente luxvo- so... 8007... $. 8007 — Oral Es- tou a baralhar tudo... 0 automével & cue era verdadeiramente deslum- brante, luxuoso ... © dum momento para o outro pareceu que a carruagem fem que seguiamos se partiu a0 meio, que todo o metrd se de- sintegrava_em mil pedagos! ... Fui projetado para a frente, como uma bala, pelo tine! adentro. Negro como bre... E depois senti um va- por esealdanie na cara... € um outro tipo ao meu pé gritava como um pos- sesso! Ah! (geme, cambaleia, conse- ‘gue dominar-se) Aliés, pelo menos no que me diz respeito, 0s estragos no foram grandes, escapei com pouca coisa ... Apanhei uma pancada aqui atrds, ‘na nuca, mas sem gravidade. Foi verdadeiramente extraording ter escapado com tio pouco . . se-ia que houve uma intervengio da ‘me d6i um bocado a nuca, mais nada. | Os outros, ah! s6 Deus sabe 0 que serd | feito deles. Mas eu, levantei-me num | instante... sentia tonturas, 6 certo, sobretudo a principio... Pus-me a andar pelo tinel ... até chegar aqui. Porque do outro iado, na outra porta, jf ndo havia safda possivel ... tudo tapado, completamente obstruido, per- cebes? © Corcunpa — Hum. Claro. © Homem — Nem sequer uma simples abertura, nem nada. chado como um’ muro. Por isso tive de sair por aqui © Coxcunpa — (dando risinhos) Eh, eh,eh! © Homes — Mas ouve, Jorge, munca pensei que este maldito tinel fosse tio comprido. Que tamanho tera? © Concuna — £ muito dificil di- 2er a0 certo. © Homem — Seja como for, tive imensa sorte em te encontrar! Sinto- me tio esquisito ... Tenho a sensa- do de que tudo gira & minha volta... Nesta obscuridade, vejo tantas coisas rmisturadas © Concunpa — Ec © Homem — 0 que, tu niio vés? © Corcuxpa — Nio. Nio vejo nada, © Homem — Nada? (© Corcuxpa — Nada. | © Homem — Isso é que & estra- | ho .... Mas, evidentemente, eu sofri tum traumatisme na nuca, e serd por ‘sso que tenho estas vertigens ‘© Corcunpa — Pois claro. O Homem — E depois, dir-se-ia que no meu eérebro hi ainda tantos estos deste pavoroso desastre. Foi uma verdadeira sorte ter te encontra- do, Jorge ... E a propésito, acaso te encontras aqui? © Corcunpa — Isso, 56 Deus 0 sabe. © Homem — De qualquer manei- ra, foi muito amavel da tua parte Di-me a tua mio, sinto-me tio *.. Ob, que horror, como estis frio! © Corcuxpa — Eh, eh, ch (O Homem — Sim, foste muito gen- til... tinha tanta vontade de te ver. . [Nem sei bem porque, mas estava j tamente a pensar em ti e sentia o de- sejo de tornar a ver-te... Espero que rio tenhas ficado zangado comigo. Ficaste? © Concunpa — Que idéia! 0 Homem — Porque mio tenho | culpa, nenhuma, acredita, absoluta- | mente nenhuma.... Ela € que se apa Xonou por mim, sem que eu fizesse | nada para isso. E eu era jovem isso explica muita coisa, no. €? Ao asso que tu... tu... enfim, por causa da corcunda, deves compreen- der. © Corcunpa — Pois claro, com- preendo perfeitamente. © Homes — E nota, ela amavacte também, sem divida ”nenhuma uma certa mancira. Mas depois mee pronto, tinha por forca de se apaixonar por mim ... Meu Deus, bem sabes como elas sio: todas & mesma coisa. (© Corcuxpa — Ouve lis disseste aque ela se apaixonou por ti? © Homes — Exatamente. Estava Jouea por mim. © Corcunpa — (que continua a sequi-to de wm tado para 0 outro) realmente cutioso, muito curioso. Eu julgava que tu é que tinhas te apai- | xonado | porque (© Homem — Bom, evidentemente que eu também © Corcunpa — Entio é como me parecia. Porque me tinha constado que a tua paixio Ihe era completa- ‘mente indiferente. © Homem — Quem te disse seme- Thante coisa? © Corcunpa — Entiio, acalm: vamos! Foi ela propria que um di ime disse, de passagem ... © Homem — Ela! © Corcunpa — Sim, ela. O Homem — Isso é mentira! © Corcuna — £ possivel, foi ela quem me disse. © Homem — Estés mentindo! © Concuna — Mas, meu caro, se cu bem a ouvi ... Porque foi direta- ‘mente a mim que ela 0 contou Deus meu, j4 Id vo tantos anos O Homen — Bem, s6 se foi nessa época .... sim, nesse tempo pode ter sido. .; Mas fica sabendo que, de en- to para c4, tudo mudou (© Corcunpa — F curioso, Mudou, dizes uw? © Home — Sim, senhor. Mas niio podes exigir-me que te explique com todos os pormenores ... Hi ‘uuitas coisas que niio me encontro em estado de explicar ... E além disso, com tamanha confusio que me vai pela cabega ... (agarra-o subita- ‘mente por um braco) Cuidado! Esti a ruir tudo! Socorro! Socorro! Socor- ro! Sufoco! Nao consigo respirar! Sol- ta-me! Solta-me! Meus Deus! Sufoco! (Acalma-se. Ri-se do proprio susto) Vamos, vamos ... afinal de contas, estou praticamente ileso ... escapet aié muito bem. $6 esta pancada na cabeca ... mas ndo 6 nada. Escutal Nao os ouves gritar, 14 ao longe? A saida esté completamente obstruida. 23 24 ‘como se tivessem fechado a porta du mma ratocira ... € imposstvel sair por aquele Indo.” tém de sair pela ou tra porta, € claro. E longe, Jorge? Sabes se € longe? Nao, nfo deve ser muito Ionge ... Bom, tenho de des- cansar aqui um pouco, estou morto de cansago, Isto jé passa. Uf! Escapei de boa, nao hé divida. E ainda bem, porque esta noite tinha que fazer No reparaste como venho janota? (Ora vé li se nio rasguei o terno No rasguei? Otimo. Um jantarzinho disereto, sobre a tarde, percebes no “Fenix”... gabinete reservado. com ela! © Corcunbs — Com ela? B curio- © Homem — Sim, meu velho, com ela, Que tal, hein? (Executa alguns pasos de danca pouco seguros, asso~ biando) Bs capaz de guardar um se~ sgredo? Entio, vou confiar-te. ‘© Corcunos — Dize 16 (© Home — (inclinando-me para ele, em voz baixa) Esta noite ... es tou certo de que conseguirei (© Corcuxps — Hum, Conseguiris © que? © Homes — Ora, bem me enten- des ... de que conseguirei obter de- la © Corcunpa — Mas tu sempre estiveste certo disso. (© Homes — Bom, 1é isso, sempre estivel Mas, & que hi obter © obter. © Corcunoa — (ri) Eh, eh! © Homem — De que te ris? Ora, uma senhora nfo aceita um convite destes, a no ser que... E depois, aquele sorriso quase imperceptivel ‘quando nos despediamos, quando me estendeu a mio ... um tudo nada trocista, meio provocante ... Si0 coisas que um homem percebe sem- pre. © Coxcuxoa — Eh, eh © Home — Homem, mas onde foste tu arranjar este riso cavo? Pelo som até parece que tens uma caverna no peito ... E tens mesmo, pobre desgracado! E com certeza por isso que nio podes ver um homem fel 0s tipos como tu nfio admitem a feli- cidade dos outros. | ‘© Corcuxpa — Ouve lé, queres ‘que nos zanguemos? Queres talvez que eu me v4 embora? © Homem — (segura-o por um braco) Néo, nfo, nio me abandones, | no te vés embora, Jorge! Sinto-me | to esquisito ... to fraco ... Uma pancada no crineo, aqui atris, na nu- ea... Nao, no me deixes sozinho, Jorge! Tenho tanto medo! (© Corcunpa — Medo? 0 Homen — Sim, tanto medo ... nem te posso dizer quanto ... ah, Deus do Céu! ‘0 Concunpa — Mas que tens tu? O Homem — Nao sei... sinto- me to cansado ... J4 nfo consigo quase que nio consigo erguer 0 brago ... Repara como ele treme! ‘Ah, meu Deus! Ora, examina bem a minha nuca, Jorge: garante-mes que ‘no tenho um buraco na cabeca? © Corcunps — Estés parvo! Nem uma simples arranhadura. © Homem — Pronto, pronto Sou eu que estou outra vez a imaginar coisas ... E que fiquei abalado com tudo isto, compreendes. .. Meu Deust Escapei de boa! Mas 0s outros, ouve, 6s outros... raios me partam’ se sei (© que hes’ teré acontecido! (Solta uma gargathada nervosa) Ab! Aquele gorducho... como estava_ridiculo! - apanhou uma tal pancada na bar- tiga que os olhos quase The safram das Grbitas! Ah, ah, ah, a cena era tio cémical Sobretudo porque esse tipo tinha um ar tio confiante em si pro- prio, ia com as mos nas algibeiras, espreocupado ... deve ter apanhado a sua conta! Eu safei-me bem ... E certo que estou um tanto 0 quanto enfraquecido, Mas no € nada. O ais estipido ¢ isto ter me aconte- ido na noite em que tenho um en- contro com ela. Nao havia realmente razio especial para ter tomado o me- ‘ropolitano; podia ter ido de téxi, ha intengo . ... Mas depois Tembrei-me de que 0 metropolitano era um pouco mais barato . ‘© Corcunos — Eh, eh, eh! Pois claro, pois claro. © Homem — Mas por que disbo te ris assim? Estis roido de inveja por nfo te encontrares no meu lugar, é claro. Pobre corcunda, como munca comeii a sua parte do bolo, tem in ja dos outros! Mesquinha criatura! J4 alguma vez. se viu tamanha baixeza? ‘© Corcuxpa — Vamos, vamos, nao te exaltes. O HomeMm — De resto, nem outra coisa era de esperar de ti! Bem me embro com que covardia desapare- ceste no dia em que eu entrei em cena! Encostado & parede, como um rato com medo do gato; mas 0 teu olhar chispava, tetias mordido se para tanto tivesses coragem. Verde de in- vejal Raras vezes vi expressio 120 ancorosa como a tua nesse dia! ‘0 Corcuxpa — Entéo, entio, acal- mate, senso vou-me embora. © Howe — (assusiado) Nao! Nio te vis embora! Nio quero que ime deixes, Jorge! Nio ouso ficar s0- zinho! © Corcunoa — Tens medo? © Homes — Tenho ... Tanto medo! (pega-the no braco) Nio os uve a berrar, Ié adiante? Oh! B hor- rivel! Nao 0s’ ouves? © Corcuxpa — Nio, no ouo nada © Homem — Que dizes tu? Nao ouves nada? © Corcunpa — Absolutamente nada. Esté tudo silencioso como num ‘timulo. © Homem — Santo Deus! © Corcunpa — Eh, eh, eh © Homem — Acaba de vez com esse iso, Jorge. Faz-me estremecer, fico com calafrios ... Nao sejas as- sim implacdvel comigo, suplico-te ... 434 nfo me sinto com foras para na- © Corcunpa — Mas, meu caro, eu quase que nio tenho dito palavr Tu 6 que tens estado a falar sem des- canso. ‘© Homem — A série? Em todo caso, tenho a impressdo de que és tu aque me excitas ... E depois estou tio fatigado ... mai posso ter-me de ‘uve, Jorge, no deves guar- dar-me rancor. Ela era um ideal, pre- isamente a que se aspira, que se dese- in obsecantemente .. Ness tempo eu era jovem, forte... queria viver a vida ... Meu Deus! € 0 que todos nnés queremos ... E tu... tu eras tio débil, tio © Corcuxpa — Sim, meu velho, compreendo tudo isso perfeitamente. © Homem — Mas, de qualquer maneira, fui igndbil, fui horrendo Se tu soubesses quanto sofri, quantos remorsos! Sinto uma verdadeira pu- thalada_no coracio, cada vez que penso em ti... E nao posso deixar de me lembrar de ti... B tudo tio estranho ... tudo se passa como se fosses tu a forcar-me a proceder as- sim, exatamente como se me obrigas- ses’... Sim, sim, agora percebo! Es tu que me forgs! Contra. a minha wontade!'Ndo me déstéguss, imple. Cavelmente,ineescantemente, até cu sucumbir isso 0 que preten- ds, claro! (© Concunoa — Ent, enti, cal ma O Howest — Tens razio, Jorge devo sealmarie s+ tu 6 to bom INio penso 0 que digo, acred «a, ‘Doves compreender » Oh, tio amargo tomar a enconttart, reviver tudo isso. tua amavas tuto, nfo € verdad? © Coxcuxos — Sim, muito. Se tbem que doma maneira ‘diferente da ta, Porque eu nha to poucas expe- rangas — pratcamente mala esperava O Howes — Nio . © Concunns — E por iso o meu amor por ela era muita ms humilde, mais submisso +. Mas para que Te cordar o passat O Homem — Conta, conta, Jorge! E como se .. © Coxcusoa — Hum © Homes — Continua, pego-e. . Ah, como isto é dloroso! Hia quanto tempo a amavas a? (© Concunpa — Seis anos, creo. | © oes — Seis anos! © Concusoa — Mais ow menos. Bem yés experava pacientemente que tla compreendesse. Seguita, para.a importunar, € claro The dite sequer uma palavra, Con” tentavaeme com améla em segredo | whumildemente "Por causa des | ia ‘coreunda © Homent — sim, sim, som cer teza (© Corcuxpa — Mas ela parcia no notar os meus sentimentos dlrseria que nem dava por isto Limitavade a cantare a sorrir-— bem | sabes, naquela sua estranha maneira de sorrir, que nos perturba ¢ simulta- rneamente os faz sentir como ela esté distante .... Deves conhecer 0 seu sorris, sem divida. © Homem — Conheso, pois. © Corcunos — Tinhas fatalmente de conhecer. E ela gracejava e brim cava, porque me achava Um ar cénmi também e hu- Esperava aque ela acabasse por notar com que ardor eu a amava. E continuava a Segui-la ... como um cio ... hum demente ‘© Homem — Mas, meu caro, pro- cedendo dessa maneira, nunca pode- Figs. t8-la conquistado! Santo Deus, isso era agir contra o mais elementar bom senso! Era preciso conquist-la do alto, com sobranceria, hein, como tum homem, que diabo! ‘© Concuxpa — Sim, tens razdo...- ‘mas bem vés, havia a’ corcunda (0 Howem — Li isso 6 verdade Em todo o caso, nunca se deve agir assim com as mulheres. Nio da re- sultado. Eu, logo da primeira vez que 4 vi, fui desdennoso, percebes ‘mostrei-me indiferente.” E ela ficou imediatamente apaixonada — logo, desde 0 primeiro instante: o auténtico amor A primeira vista... Doida por im. Numa palavra: inieiramente & minha mercé. © Corcuxpa — A sério? Nao me digas (© Homem — Pois claro. B a tini- a mancia, fixa bem, atnica © Corcunos — Talvez, mas no para mim, Eu a nada podia aspirar, quando muito podia imaginar que um dia, eventualmente, ela se dispusesse a dar-me qualquer coisa, por. pura bondade ... Foi por isso que fiquei 2 espera, hhumilde'e ealado. E, por 25 26 fim, julguei perceber que ela sentia, talvez e apesar de tudo, um pouco de afeicio por mim. Nio que me amas- se, que idéia ... Mas tinha deixado ¢ zombar da’ minha enfermidade. Pareceu-me que ela se tomava afc tuosa para comigo. E entio, um dia - um dia, ao despedirmo-nos, deu- ‘me um beijo na testa... Oh, que sensa¢o extraordingria ... Foi nesse ‘momento que tu apareceste, E ime- diatamente percebi © Homem — An, 6 terrivell E hor- roroso pensar que te fiz sofrer tanto! © Corcunpa — Mas, meu caro, ‘tu nfo tiveste a minima culpa, ainda ha pouco o disseste. © Homem — Nao troces de mim, por favor! No verdade, bem 0 sa- es! Roubei-te a tua Gnica razio de cexistires, a Gnica, aquela com que so- nharas toda a vida! Que horror ... ‘Como pude proceder desse modo Sucumbiste, aniquilado ... J nio tinhas motivo para viver ..- nenhum E depois apanhaste essa doenca nos pulmoes im, recordo-me: cerravas como uma sombra ... minds- ‘culo, encovado ... 0 olhar febril © Corcunpa — Hum © Homem — Lembro-me do teu olhar que me fixava, o teu olhar do- ente, amargurado, cheio de angistia, uum ‘abismo de ‘angtstia! Oh, esse olhar, jamais o esquecerei © Concunpa — B curios ... © Homem — Nunca consegui es- quecé-Io, nunca! © Corcunpa — Hum © Homem — Oh! £ monstruoso! E diver que sou eu, eu, a causa de tudo isto! Fui eu quem te levou a0 desespero! ... Oh, Jorge, Jorge! Fui eu quem te ievou A mortel (para de repente, sobressaltado; recua aterrado, livido, os olhos cravados no outro) Deus do Céu! Mas, tu morteste, Jor- / ‘ge! Tu estés morta! Socorro! Socorro! © Coxcuxpa — (segue-o) Entio, ento, acalma-te, vamos... ‘0 Homent — Socorro, socorro! Tu ests morto! © Concuxpa — (segue-o sempre, toca-the com a bengala) Eh, eh, ch E tw também, O Homes — Que dizes tu? Eu? Eu também estou morto?! (© Corcunpa — (acena afirmati- vamente com a cabeca. O homem de casaca cambaleia, abate-se no chiio soltando wm grito) — (debrucado sobre ele) Vamos... vamos... ag0- a acalma-te ... Ao comego excita mo-nos tanto... tém-se tantas coi sas na cabeca ... baralham-se todas «+ (as imagens desvanecem-se lenta- mente no fundo do palco, que comeca a escurecer) Va, Vi... agora sen- tes-te melhor, jé estas mais calmo, nao € verdade? Ah, sim, estamos to exci tados a principio, fo confusos . Mas jé nao vés coisas tio estranhas, pois nto? (o palco mergulha em es- curidao total) Agora, jé nem 2 mim vés, nio €? Bem te dizia eu ... Sen- tes-te melhor, esté tudo mais trangii Jo... Bom, entio ja posso ir-me em- bora (Ouven-se os passos do corcunda, lentos, marcados, e 0 ruido da bengala percutindo o cio. O som dos passos ‘morre ao tonge) FIM «NOITE» De HAROLD PINTER ‘Trad, R, NOVOA ¢ F. BOHRER HoMmeM — Vocé se lembra daque- la vez no rio? MULHER — Que vez? HoMeM — A primeira vez, Na ponte. O comego, na ponte (PAUSA). MuLHER — Néo consigo me lem- vbrar. Homem — Na ponte, Nés para mos e olhamos pro rio. Era noite ‘Tinha luzes na margem. A gente es- tava sozinho, Eu pus minha mio na tua cintura, Vocé se lembra? Pus mi- ‘nha mio por baixo do teu casaco. (PAUSA) Motier — Era inverno? HoMEM — Claro que era inverno. Fo quando a gente se encontrou, Foi ‘nosso primeiro passeio. Deste passeio vvocé se lembra? ‘MoLiter — Eu me lembro do pas- seio, Eu me lembro do passeio com voeé. Homem — A primeira vez? Nosso rimeiro passeio? Mutter — Sim, & claro, Eu me embro dele, (PAUSA) Nés cami- rnhamos pelo campo, és atravessa- ‘mos algumas cercas, més chegamos um canto e ficamos junto de uma Homem — Nao. Foi na ponte que 16s paramos. (PAUSA) Mutiter — Entilo foi outra pes 50 Home — Que beste ‘MULHER — Foi outra mulher. Homem — Faz muito tempo. Vo- | c& se esqueceu, (PAUSA) Eu me Iembro da Tuz sobre a gua. Mutter — Vocé estava junto da cerca € segurou meu rosto com suas mos. Vocé foi muito gentil. Muito atencioso. Voct me acariciou. Seus olhos procuravam meu rosto. Eu es- tava querendo saber quem era vocé. Eu estava querendo saber o que voce ia fazer, Homem — A gente se encontrou ‘numa festa, Vocé nfo concorda com isto? MuLHER — Que & que foi isso? HoMen — Isso 0 que? Mutiter — Eu pensei ter ouvido uma crianga chorando. Homem — Nao tem barulho ne- hum. MuLHER — Eu pensei ter ouvido uma crianga chorando, acordando. Homem — A casa esté em silén- cio. (PAUSA) E muito tarde, Ainda estamos sentados aqui. Nos jé devia- ‘mos estar na cama. Tenho que aco dar cedo amanhi, ‘Tenho muitas coi sas pra fazer. Por que vocé quer dis- cuir? Mutiter — Eu no quero discutir. Eu nfo estou discutindo, Eu quero é ir para a cama, Também tenho coi sas para fazer. Tenho que acordar cedo amanba. (PAUSA) Homem — A festa foi na casa do John. Vocé conhecia ele. Eu s6 co- | hecia ele de vista. Eu conhecia mes- mo é a mulher dele. Foi ld que eu cencontrei voc’. Vocé estava em pé junto da janela, Eu sorri pra vocé e, para minha surpresa, vocé também sorriu pra mim. Vocé gostou de mim. Eu fiquei admirado, Vocé me achou atraente. Mais tarde voo’ me disse isto. Vocé gostou de meus olhos. ‘ULMER — E voc gostou dos meus. (PAUSA) Voc’ pegou minha mio. Me perguntou quem eu era e 0 ‘que fazia. E se eu estava percebendo que voc’ estava segurando a minha mio, que seus dedos estavam aper- tando os meus e que seus dedos es- tavam entre os meus. Home — Nao. Nés paramos na ponte. Eu estava atras de vocé. E eu us minha mao por baixo do teu ca- saco. Na tua cintura. Vocé sentiu mi- nha mio em voce. (PAUSA) MULHER — Nés tinhamos estado numa festa. Na casa de John. Voce conhecia a mulher dele. Ela te ‘olhou com muito interesse. Dando a entender que te queria. Ela parecia {gostar muito de vocé. Bu no te co- nhecia. Nunca tinha te visto. A casa deles era maravilhosa, Na’ margem do rio. Eu fui apanhar meu casaco vocé ficou me esperando. Vocé se ofereceu pra. me acompanhar. Eu achei vocé muito simpético, muito gentil, muito educado, muito aten- cioso. Eu pus meu casaco e olhei pra janela, eu sabia que voc? estava me esperando. Eu olhei pro jardim até 0 rio e vi as luzes sobre a gua, Entio cu fui até voc’ © nés passeamos pelo campo, atravessamos algumas cercas. Devia ‘ser uma espécie de parque. Depois pegamos o teu carro. E demos algumas voltas, (PAUSA) Homem — Eu toguei teus seios. ‘MuLHER — Onde? Homes — Na ponte. Eu segurei teus seios. 27 28 ‘Motwer — Tem certeza? Homem — Eu estava atrés de Motiter — Eu fiquei me pergun- tando se voot ia fazer, se voce queria mesmo, se vocé ia fazer. Home — Sim. Mutiter — Eu fiquei me pergun- tando se voot ia fazer isto, se voce tinha vontade suficiente. HomeM — Eu pus minha mio por debaixo da tua blusa, Soltei teu su- E apertei teus scios. MULHER — Talvez uma outra noi- te, Ou uma outra mulher, Homem — Vocé no se lembra de meus dedos no teu corpo? ‘MoLMER — Eles estavam nas tuas iio? Meus seios? Nas tuas mos? HoMEM — Vocé nfo se Iembra das minhas mios no teu corpo? (PAUSA) Mutter — Voot estava atrés de mim? Home — Sim, MULiteR — Mas eu estava encos- tada na cerca, Eu senti a cerca nas rminhas costas. Vocé estava de frente pra mim. Eu estava olhando os teus olhos. Minha blusa estava fechada. Estava trio, HomEM — Eu desabotoci tua blu- MULHER tava meio frio. Homem — E depois nés deixa- ‘mos a ponte e fomes andando pela margem e chegamos num monte de lixo ‘MOLMER — E voc me possuiu, E voc’ disse que estava apaixonado por mim, e voce disse que ia tomar conta de mim para sempre, e vocé disse que minha voz, meus olhos, Era muito tarde, Es- ‘minhas coxas, meus seios, eram ma- ravilhosos € que voce ia sempre. Home — Sim. Eu disse, MutnER — E vocé ¥. rar sempre? Homem — Sim eu vou. MULHER — E entio nés filhos e estamos sentados versando, e vocé se lembrou de mu- Iheres nas pontes e nas margens e nos montes de lixo. HomEm — E voc se lembrou de sua bunda na cerca © homens segu- rando suas m#os ¢ homens olhando nos seus olhos. ‘MULHER — E falando pra mim suavemente. Homem — E tua voz lando para eles suavemente. Na noi te. Mutiter — E eles diziam: eu vou te adorar sempre. Homem — Dizendo: adorar sempre. FIM = ‘me adorar me ado- ‘aqui, con- suave, Fi eu vou te FALA COMIGO DOCE COMO A CHUVA Pega em 1 ato de TENNESSEE WILLIAMS: (Tradugdo de Maria Vorhees) PERSONAGENS: Homem ‘MULHER ‘Vor DE CRIANGA (nos bastidores) CENA: Um quarto mobiliado a este da Oitava Avenida no Centro de Manhattan, Numa cama de abrir e fechar esté deitado um homem de cueeas amarrotadas tentando desper- {ar e seus suspros so os de um ho- mem que foi deitar muito bébado, A Mulher esté sentada numa cadeira de espaldar reto junto tnica janela do quarto, 1d fora 0 céu estécinzento carregado de uma chuva que ainda nio comesou a cair. A Mulher esti Segurando um copo de égua do qual ela toma pequenos goles com gestos hervosos como um passaritho. be- tendo ‘gua. Ambos tém rostos jo- vens ¢ desoiados como os rostos de ctiangas em paises devastados pela fome. Na mancira de falar existe uma certa delicadeza, uma espécie de for- malidade meiga'como de duas crian- as solitrias que desejam ser ami- 2s, €-no entanto tém-se a impressio ue cles viver nesta situagio intima hha muito tempo e a cena que esté se passando entre eles neste momen- to 6 uma repeticio de cenas anterio- res, to fregiientes que se tornaram patéticas pois nada mais resta do que aceitagdo de uma situacio inalte- rével entre eles, sem nenhuma espe- anga de mudanga. Homem: (com voz rouca) Que horas séo? (A mulher murmura algo incompreensivel). O que, bem? Mutiter: Domingo. Home: Eu sei que € domingo. Voc nunca dé corda no rel6gio. (A mulher estica um brago magro para fora da manga do quimono de Fayon rosa e velho © pega um copo de gua e 0 peso deste parece pu- xé-la um pouco para a frente. O ho- ‘mem observa da cama, de modo 20 ‘mesmo tempo solene’¢ carinhoso, enquanto ela bebe égua. Uma miisica comega a tocar ao longe, hesitante, repetindo uma frase musical vérias vezes, como se alguém num quarto ag lado estivesse procurando lembrar uma cangio num bandolim. As ve~ zes uma frase 6 cantada em espanhol. ‘A cangio poderia ser Estrellita.) (Comeca a chover: chove e para de chover durante toda a peca. Hi © barulho forte do esvoagar de pom- bos passando pela janela'e a voz de uma crianga cantarola do lado de fora —) ‘A VOz DE UMA CRIANGA: Chuva, cchuva, vai embora! Volta novamente num outro dia! (O canto € repetido por outra cri- ana mais ao Tonge em tom de zom- Daria) Homem: (Em conclusio) Seré que eu descontei o meu cheque de ‘desemprego? (A mulher se inclina para a frente como se 0 peso do copo a puxasse; por um momento, O Homem conti- ‘nua falando desanimado..) Eu espero rio ter descontado 0 meu cheque. ‘Onde esté minha roupa? Procura nos meus bolsos € vé se o cheque esta comigo. ‘MULHER: Vocé voltou quando eu tinha saido para te procurar, pegou © cheque na cama e deixou um Thete que eu ndo pude entender. HomeM: Vocé nfio entendeu o bie Thete? ‘MULHER: Somente um niimero de telefone, eu telefonei mas 0 barulho fra tanto que nfo pude escutar coisa alguma, HomeM: Barulho? Aqui? Mutu: Nao, barulho 1é. HomeM: Aonde 1a? Mutuer: Eu nfo sei. Alguém dis se “vem para cé” e desligou e tudo que eu consegui depois foi um sinal de ocupado. HoMEM: Quando eu acordei eu estava numa banheira cheia de cubos de gelo derretendo e cerveja Miller's High Life, Minha pele estava azul Eu estava respirando com dificulda- de numa banheira cheia de cubos de gelo, Era perto de um rio, mas néo sei se era 0 East ou o Hudson. AS pessoas fazem coisas horriveis quan- do alguém esté inconsciente nesta ci- dade, Eu estou todo dolorido, como se tivessem me dado pontapés esca~ da abaixo, ndo como se eu tivesse ceaido mas como tivesse sido chutado. Eu me lembro de uma vez que ras- param todo 0 meu cabelo. Outra vez me enfiaram numa lata de lixo, em ‘um beco e eu acordei com cortes € | queimaduras no meu corpo. Gente ‘mé abusa de vocé quando voct esta ‘coloca-o no parapeito da janela com | inconsciente. Quando eu acordei es- jum pequeno barulho que parece as- a, Ela comeca a tir sem folego tava despido numa banheira cheia de ccubos de gelo que derretiam. Eu me arrastei para fora da banheira, fui para a sala e alguém estava saindo pela outra porta quando eu entrei , eu abri a porta e ouvi a porta de um elevador fechando e vi as portas de um corredor de hotel. A TV es- tava ligada e havia um disco tocan- do ao mesmo tempo; a sala estava cheia de carrinhos de ché carregados de coisas da Copa, presuntos inteiros, perus inteiros, sanduiches de trés an- dares j@ velhos e ficando duros, ¢ garrafas, garrafas e mais garrafas'de todos 8 tipos de bebidas que ainda nem tinham sido abertas, ¢ baldes de gelo derretendo... Alguém fe- ‘chou uma porta quando eu entrei (A Mulher bebe gua.) Quando eu entrei alguém estava saindo. Eu ouvi | a porta de um elevador fechar... (A. Mulher pousa 0 copo..) — Tudo es- palhado' pelo chio daquele quarto perto do rio — coisas — roupas por fodo lado... (A mulher se assusta quando pomibos passam voando pela janela aberta.) — Soutiens! — Cal- Cinhas! — Camisas, gravatas, m =e outras coisas MULHER: (baixinho) Roupas? Howem: Sim, todo tipo de coisas pessoais e vidro quebrado © méveis Aerrubados, como se estivesse acon tecendo uma briga do ti nna rua © a poli batida poticial ‘MULHER: Oh. HomeM: Deve ter havido violén- cia naguele — lugar... ‘MuLHER: Vooé estava — ? Homes: Na banheira — gelado... ‘Mutner: Oh HomeM: E eu me recorda de pe- sar o telefone para perguntar 0 nome do hotel, mas néo me lembro se eles me disseram ou nio.... 29 ‘Me dé um gole de gua. (Os dois se levantam e se encontram no meio do quarto. © copo é passado de um para 0 outro com seriedade. Ele co- ‘mega a bochechar olhando fixamente para ela, ¢ cruza para cuspir a agua pela janela. Depois ele volta ao cen- tro do quarto © devolve 0 copo para cla, Ela toma um pouco de égua. Ele coloca os dedos de modo cari- mhoso sobre longo pescoco dela.) Agora recitei_a ladainha de minhas tristezas (Pausa: 0 bandolim é ouvi- do.) © que voce tem para me con- tar? Diga-me um pouco do que esté se passando dentro do — (Os dedos dele passam sobre a testa ¢ 08 olhos dela. Ela fecha os olhos e levanta a mio no ar como se fosse tocé-lo. Ele pega a mio e examina de cima para baixo, depois beija os dedos dela apertando-os contra seus _lébios. Quando ele solta os dedos, ela toca seu peito magro e liso como de uma ccrianga e depois toca seus lébios, Ele levanta a mao ¢ deixa que seus de- dos deslizem pelo pescogo dela € pela abertura do quimono enquanto 0 andolim toce com mais forca. Ela se volta para ele ¢ se encosta nele ‘urvando 0 pescogo sobre os ombros dele e ele corre os dedos pela curva do pescoco dela ¢ diz — ) Faz tanto tempo que no estamos juntos @ nio ser como dois estranhos vivendo jun- tos. Vamos nos reencontrar ¢ talvez nao ficaremos mais perdidos. Fala comigo! Eu estive perdido! Eu pensei ‘em vocé muitas vezes porém nao po- dia the telefonar, meu bem, Pensei em vocé 0 tempo todo mas no po- | dia telefonar. O que eu poderia dizer | se telefonasse? Poderia dizer, estou perdido? Perdido nesta cidade? Jo- gado de um lado para outro entre ‘© povo como um cartio postal sujo? — E depois desligar 0 telefone. 30 Eu estou perdido nesta — cidade. . . Muti: A nica coisa que botei na boca desde que vocé saiu foi agua! (Bla diz isto quase alegre sorrindo. © Homem a abraga com desespero ‘com um grito suave e chocado,) — Nada a-nao ser café instantinco até que acabou, © agua (Ela i convule sivamente.) Hontent: Vocé pode falar comigo. bem? voce pode falar comigo agordt Mien: Sim! Howtest: Entio fala comigo como se fosse a chuva e me deixa ouvir, me deixa deitar aqui e— ouvir... (Ele cai para tés_atravessado na cama, vira-se sobre 0 estomago com um brago caindo do lado da ‘cama e as vezes batendo um ritmo no chlo com bs dedos da mio fechada. bando- lim continua.) Faz tanto’ tempo — aque no nos entendemos. Agora me onta as coisas. O que voeé tem pen- Sado. em silencio? —~ Enquanto eu fra jogado de um lado. para outro nesta cidade como se fosse um car- to postal sujo... Me conta faa co- rmigo! Fala. comigo como se fosse a Chuva e et ficaredeitado aqui e ov ‘Motiter: Eu — Howent: Voce tem que falar, é necessirio! Eu preciso saber, por isso fala comigo como a chuva ¢ eu fica- rei deitado aqui e ouvire, eu ficarei ‘Seitado aqui e — Mutiter: Eu quero it embora Howent: Voc’ quer? Mouser: Eu quero ir embora. Hoste: Como? ‘Mutiter: Sozinha! (Ela volta para a janela,) — Eu me registrar’ sob tim nome falso num pequeno hotel na costa. HoweM: Que nome? Mouser: Anna — Jones... A ar- rumadeira seré uma pequens vel nha que tem um neto ¢ ela fala so- bre ele ... Eu sentarei numa cadeira enquanto’ a velhinha faz a cama, meus bragos cairio — dos lados da cadeira, e — a voz dela seri — tran- lila... Ela me contaré 0 que 0 eto comeu no almoco! — mingau de tapioca... (A Mulher senta-se pperto da janela e toma pequenos go- les de gua.) — O quarto estaré na penumbra, fresco, ¢ cheio do mur- mério da — HoMEM: Chuva? MULHER: Depois de algum tempo a velhinha diré, sua cama esté feita, Senhorita, e eu direi — Obrigada. Tire um délar da minha carteira pa- a vocé, A porta fechari. E eu fica rei_sozinha novamente. As janclas serdo altas com venezianas azuis e serd a estagdo da chuva — chuva — chuva ... Minha vida sera como 0 quarto, fresco — cheia de sombra fresca'e — do murmirio da — Home: Chuva... Motuer: Eu receberei um cheque pelo correio toda semana no qual eu possa confiar. A pequena velhinha id ao banco descontar meu cheque e me trard livros da biblioteca © pega ré— minha roupa lavada... Eu sempre terei coisas limpas! — Eu ‘me vestirei de branco. Eu nunca se~ rei muito forte nem terei muita ener- sia, porém depois de algum tempo terci energia suficiente para andar na — calgada — para passear na praia sem esforgo. .. A noite eu passearei na calgada junto a praia. Eu terei um certo lugar onde me sentarei, um pouco afastada do pavilhio onde a banda toca as misicas de Victor Her- bert a0 anoitecer... Eu teret_ um quarto grande com Venezianas na j rela, Haverd uma estacio de chuva, | chuva, chuva. E eu estarei tio can- sada de uma vida passada na cidade que eu ndo me importarei_de_ficar apenas ouvindo a chuva. Eu ficarei tio quieta. As rugas desaparecerao do meu rosto. Meus ollos do fica- fio. mais inflamados. Eu nio terei amigos. Eu nem sequer terei conhe- eidos. Quando eu ficar com sono, andarei devagarzinho de volta para 0 Pequeno hotel. O empregado dic, Boa Noite, Senhorita Jones, e eu ap nas sorrtei ¢ pegarei minhas chaves Eu nunca otharei um jornal ou escuta- rei o radio; ev nao terei a menor idéia do. que esté.acontecendo no mundo, Eu néo terei consciéncia da | passagem do tempo... Um dia ev re olharei no espelho e notarei que meus cabelos comecam a embran- quecer e pela primeira vez terei cons cigneia de estar vivendo neste peque- zo hotel sob um nome. falso, sem ‘amigos ou conhecides de qualquer tipo por vinte e cinco anos. Isto vai ‘me surpreender um pouco mas no me incomodaré nem um pouco. Eu ficarei contente que 0 tempo. tenha passado tio facilmente assim. De vez em quando eu talvez vé a0 cinema Sentarei nas filas de trés, com toda @ escuridio ao meu redor e, icarei sen- tada com as pessoas iméveis 20 meu Jado sem tomarem conhecimento da minha presenca. Olhando a tela. Pes- soas imagindras. Pessoas das estrias. Lerei grandes livros e os difrios de escritores mortos. Eu me sentirei mais préxima deles do que das pessoas {que conheci antes de ter me retirado do mundo, Esta mina amizade com ppoetas mortos seré doce e refrescan- te, porgue no terei que tocé-los ou responder suas perguntas. Eles fala- io comigo sem esperar minhas res~ postas. E ficarei sonolenta ouvindo Suas vozes explicando os mistérios para mim. Dormirei com 0 livro ain da entre 0s dedos, e choverd. Aco darei_e ouvirei a chuva © tornarei a dormir. Uma estagéo de chuva, chu- va, chuva... Entio um dia, quando tiver fechado um livro ou voltado so- zinha do cinema para casa as onze horas da noite — Olharei no espelho e verei que 0 meu cabelo ficou bran- co. Branco, completamente branco. ‘Taio branco quanto a espuma das on- das, (Ela se levanta ¢ anda pelo quarto enquanto continua a falar —) Passarei as mdos pelo meu corpo ¢ sentirei o quanto fiquei leve e magra, Oh, como estarei magra. Quase trans- parente. Quase itreal. Entio compre- enderei, saberei, de modo vago, que estava morando neste pequeno hotel, sem nenhuma relacdo social, respon- sabilidade, ansiedades ou perturba ges de qualquer tipo — por quase cingiienta anos. Meio século. Pratica- mente uma vida inteira, Nem sequer ime lembrarei dos nomes das pessoas que conhecia antes de vir para ci nem da sensagio de ser alguém espe- rando por alguém que — talvez nio venha... Entio saberei — olhando no espelho — que pela primeira vez ‘chegou 0 momento de andar sozinha mais uma vez na calgada com o ven- to forte batendo em mim, o vento lim- po e branco que vem do principio do ‘mundo, ainda mais além do que isto, vem do principio do espaco, ainda ‘mais além de qualquer coisa que haja além do principio do espaco (Ela senta novamente sem muita fir ‘meza perto da janela, ) — Entéo sai rei_e andarei pela calgada. Andarei sozinha e serei empurrada pelo vento e ficarei_pequenina, pequenina Homes cama. MoLHER: Pequena, pequena, pe- quena, e mais pequenina e pequenina! (Ele atravessa 0 quarto indo em sua diregdo e a levanta da cadeira a for- ca) — Até que finalmente nao teria mais corpo € 0 vento viesse me to- ‘mar em seus bragos brancos e refres- cantes para sempre, ¢ me levasse embora! HomeM: (ele aperta a boca con- tra peseogo dela.) Vem para a cama comigo Mutu: Quero ir embora, quero ir embora! (Ele a solta ¢ ela volta ‘20 centro do quarto solucando des- controladamente. Ela senta na cam: Ele suspira ¢ se debruga na janela, as luzes piscando além dele, a chuva caindo mais forte, A Mulher treme de frie ¢ cruza os bragos contra 0 peito. Seus solucos morrem mas ela respira com dificuldade. A luz pisca © ouve-se 0 vento frio. 0 Homem continua debrucado na janela. Final- mente ela fala com ele suavemen- te —) Volta para a cama. Volta para ‘@ cama, meu bem... (Ele vira 0 ros- to para ela com uma expressio per- dida e —). Amorzinho. Vem para a A CORTINA CAT a 32 “A DAMA DE BERGAMOTA” (de Tennessee Williams) (rad. Thais do Amaral Balloni) PECA EM 1 ATO Ska. HARDWICKE-Moone — (TOM ASPERO E AFETADO) Por favor, quem esté ai? Ska. Wink — (DE FORA, TOM RUDE) Sou e Ska. Hanpwicke-Moore — (SEU ROSTO MOSTRANDO PANICO MOMENTANEO. AVANCA COM FIRMEZA) Oh... Sra. Wire, entre. Eu ia mesmo até seu quarto para Ihe falar uma coisa Sta. Wine — (ENTRA. B UMA MULHER DE SEUS CINOUENTA ‘ANOS, PESADONA E RELAXA- DA) Ab, sim? Sobre 0 qué? Sea. Hagpwickt-Moore — (TEN- TANDO SER ENGRAGADA, MAS COM DIFICULDADE” DE” SOR- RIR) Sra. Wire, lamento dizer que nnio considero estas baratas 0 tipo mais desejavel de companheiras de quarto, nio esté de acordo? Sea. Wine — Baratas, hein? Ska, Haxpwicke-Moore — Sim, exatamente, Nio tive muita experi- ncia com baratas, mas as poueas que vi eram do género “pedestte”, daque- Jas que andam. Estas, Sra. Wire, me parecem ser baratas voadoras! Fiquei Chocadissima, aliés fiquei mesmo foi anita, quando uma delas Ievantou ¥60 e comecou a zumbir pelo ar, gi rando e girando em cireulos e s6 30 esbarrou no meu rosto por muito | barata! (PEGA — . poucos centimetros. Sra. Wire, sen- tei-me a beirada desta cama e me de- buthei em légrimas. Eu ‘chocada e desgostosal Imagine ratas voadoras, que nunca imagine’ cxistrem, zumbindo em voltas e mais voltas ali, na minha frente! Ora, Sra, Wire, queria que soubesse que. Sas. Wine — (INTERROMPEN- DO) Ora, niio vejo razio pra tanta surpresa por causa de simples bara- tas voadoras. Elas estio por toda Parte, até mesmo nos bairros mais clegantes. Mas no era bem isto 0 que eu queria. ‘Rs. HARDWiCKE-Moore — (IN- TERROMPENDO) Isto. pode ser verdade, Sra. Wire, mas devo The zet que tenho horror a baratas, até das mais comuns, do tipo pedestre, © sobre estas que voam...! Se vou continuar a morar aqui, estas bara- tas voadoras tém que desaparecer. E desaparecer imediatamentel ‘SRA, Wine — Como que vou fa- zer com que estas baratas voadoras deixem de entrar pelas janclas? Mas isto, de qualquer forma, néo era 0 que eu. ‘SRA, HARDWiCKE-Moore — (IN- ‘TSRROMPENDO) Eu nio sei como, Sra. Wire, mas certamente ha de ha- ver uma maneira. Tudo o que sei é que temos que nos livrar delas, an- tes que eu durma aqui mais uma nx te, Sra, Wire. Porque se eu acordar de madrugada ¢ encontrar umazinha que for sobre minha cama eu posso ter uma sincope, Juro por Deus, eu simplesmente morreria de convulsoes! Sea. Wins — Vai me desculpar pelo que vou Ihe dizer, Sra, Hard- shell-Moore, mas a senhiora é 0 tipo dda pessoa que vai morrer mesmo é de bebedeira e no de convulsdes de UMA LATI- NHA DE POMADA SOBRE 0 GA- VETEIRO) Mas 0 qué é isto? Po- mada de Bergamota! Ora, veiam s6! ‘Ss. HARDWICKE-MooRE — (RU- BORIZADA) Eu uso isto para ama- ciar minhas cuticulas. ‘Sma. Wine — E, a Senhora é mui- to exigente! ‘Sma. Harpwickt-Moore — O qué quer dizer com isto? ‘Sma. Wire — E que em todo éste bairro ndo ha uma s6 destas casas velhas que no tenha baratas. ‘Saa. HARDWICKE-MooRE — Mas no esta quantidade absurda, nao €? Vou Ihe dizer uma coisa: este lugar estd realmente empestado! ‘Ska. Wine — Nao esté tio mal assim. A_propésito, a senhora ainda no me pagou o restante do aluguel desta semana. Nao quero fugit do assunto das baratas, contudo gosta- ria de receber este dinheiro, ‘Sma, HaRDwicxe-Moore — Eu The pagarei 0 resto do aluguel, tdo logo a senhora extermine estas baratas! SRA, Wire — Ou a senhora me paga imediatamente, ou vai pra rua! ‘SRA, HARDWICKE-Moore — Eu pretendo sair, se estas baratas nio sairem! ‘SRA, WIRE — Pois entio saia ¢ pare de ficar ameacando! ‘SRA. HARDWICKE-MOORE — A se- nhora deve estar louca, eu no pos- so sair agora! ‘sma, Win — Entio, 0 qué quis dizer quando falou em baratas? = Ska. HaRDWICKE-MoorE — Eu quis dizer exatamente 0 que disse: gue as baratas nfo sio, na minha opi nfo, companheiras de quarto muito desejaveis! ‘SRA. WIRE — Muito bem! Néo fi- que com elas! Arrume suas coisas ¢ mude-se para um lugar onde nio haja baratas! ‘Sra, Haxpwicke-Moore — Quer dizer que insiste em ficar com as ba- ratas? ‘SRA, WikE — Nilo, Quero dizer que insisto em receber meu aluguel. ‘SRA, HaRpwickE-Moore — Neste exato momento isto esti fora de co- sitagio. Ska, Wine — Esté fora de cogita- ‘SRA, HARDWICKE-MoorE. — Est sim e vou Ihe dizer porque! O pags ‘mento trimestral que recebo do ho- mem que toma conta da minha pla tagio de borracha, ainda nfo me foi enviado. Ha semanas que espero por ele, mas hoje recebi uma carta pela manhé, dizendo que houve um pro- bblema qualquer com os impostos do ano passado ©: ‘Sra, Wine — Ora, pare com isso! Jé ouvi demais sobre suas planta- ‘gdes de borracha! Plantagio de bor- racha no Brasil! Entdo a senhora ppensa que estou neste neg6cio ha de- zessete anos e que ndo aprendi nada sobre mulheres do seu tipo? Sra. HaRDwicke-Moore — (TEN- SA) © que ha por tras desta sua ob- servacdo? Sra. Wine — Vai me dizer que 0s homens que a vistam todas as noites vyém aqui somente para conversa so- bre suas plantagdes de borracha no Brasil? ‘SRA, HARDWICKE-MOORE — A se- hora deve estar maluca para afirmar tal tipo de coisa! ‘Sra, WiRE — Eu ouco 0 que ougo sei muito bem o que vem aconte- cenda! ‘Sra, HaRDWiCKE-Moone — Eu sei que a senhora fica espionando e es- ccutando atras das portas! ‘Sra, WikE — Eu nunca espiono ¢ nem escuto atrés das portas! A pri- meira coisa que uma senhoria do bairro francés aprende & no ver e ‘nem ouvir, somente receber 0 aluguel! Enquanto ele estiver sendo pago, tu- do bem, sou cega, surda e muda! Mas a partir do momento em que o di- nheiro no vem, recobro minha au- digdo, minha visio e também minha voz, Se necessério for, vou a0 tele fone e chamo o chefe de policia, que por coincidéncia é cunhado de minha irmal Ontem & noite eu ouvi a dis cussio sobre aquele dinheiro! ‘SA. HaRDWICK-Moons — Qué discussa0? Qué dinheiro? ‘Saa. Wine — Ele falava tio alto, (que tive de fechar a janela da frente pra que a rua inteira nfo tomasse conhecimento do que estava aconte- cendo aqui! Ndo ouvi mencionarem nenhuma_plantagio de borracha no Brasil! Mas ouvi muitas outras coi sas serem ditas na conversinha que tiveram A meia-noite! Pomada de Bergamota. .. para as cuticulas! Esti pensando que sou boba, é? Planta- glo de borracha! Essa, "também... no me pega. (A PORTA SE ABRE. © ESCRITOR ENTRA VESTIDO COM UM ROBE-DE-CHAMBRE DE COR PORPURA, JA VELHO) Escertor — Pare! Sra. Wine — Ah, 6 voce? EscriTor — Pare de atormentar esta mulher! ‘Sa, Wirz — Entrou em cena 0 segundo senhor Shakespeare! EsciroR — A droga dos seus gri- tos atormentaram meu sono! ‘Sra, Wine — Sono? Ha, ha! Voce ‘quer dizer, entormecimento causado ela bebidal Escerror — Eu tenho necessidade de descansar, por causa da minha do- engal Sera que no tenho o direito de Ska. Wiz — (INTERROMPEN- DO) Doenca... Alcoolismo! Nao ‘queira me enganar. Estou contente por ter vindo. Vou repetir agora, rd seu governo, o que ja disse a esta senhora, Estou cheia de parasitas! Fi- ‘cou bem claro agora? Estou pelas tampas com todos vocés: ratos de ppensio, mesticos, ébrios ¢ degenera- dos que tentam enganar todo mundo com mentiras, promessas © desilu- s8es, ‘SRA, HARDWicKE-Moone — (TAM- PANDO OS OUVIDOS) — Oh, por favor, por favor, por favor, parem de gritar! Nio ha necessidade! ‘Sra. Wiz — (PARA SRA. HARDWICKE) A senhora, com sua plantagio de borracha no Brasil. ‘Aquele brazio na parede que com- prow no ferro-velho. .. a vendedora me contou sudo! Uma das Hapsburgs! Sim! Uma verdadeira dama! A Dama de Bergamotal Este & 0 seu titulo! (A SRA. HARDWICKE-MOORE CHORA DESCONTROLADAMEN- TE E SE JOGA DE BRUCOS SO- BRE A CAMA). Escritor — (COM PENA) Pare de importunar esta pobre mulher! Seré que nio existe mais compaixio no mundo? O qué aconteceu, nio ha mais compreensio? Acabou-se tudo? Onde esti Deus? Onde esta Jesus Cristo? (ELE SE APOIA TREMU- LO NO ARMARIO) E se nio exis- tir nenhuma plantagio de borracha ‘no Brasil? ‘sna, Haxbwicke-Moore — (SEN- TA-SE ERECTA, MUITO EMO- CIONADA) Eu digo que existe, exis- te sim! (SEU PESCOCO ESTA RE- TESADO E SUA CABEGA CAIDA PARA TRAS) Escritor — E dai, se no existir nenhum rei da borracha em sua vida? Mas tem que ter um rei da borracha em sua vida? Devemos culpé-la pelo simples fato dela ter necessidade de 33 compensar as deficincias da reali dade exercitando um pouco... como devo dizer?... um pouco da sua bem dotada imaginacio? Ska. HARDWICKE-Moone — (JO- GANDO-SE NOVAMENTE DE BRUCOS NA CAMA) Nio, nio, ni, ndo é... imaginagao! Ska. Win — Vou Ihe pedir, por favor, que pare de jogar na minha cara ‘estas frases. empoladas! Ose thor, com sua obra-prima de 780 pac ginas... faz boa dupla com a Dama de Bergamota, levando-se em conta tio bem dotada imaginacdo. Escrirox — (COM VOZ CAN- SADA) Ora, ora, muito bem, © s¢ isto que disse for verdade? Suponha- mos que nio haja nenhuma obra- prima de 780 paginas. (FECHA OS ‘OLHOS E PASSA A MAO PELO ROSTO) Suponhemos que néo haja mesmo nenhuma obra. E que tem isso, Sta, Wire? Somente _poucos, ‘muito poucos.... rabiscos sem va. for... no fundo ‘da minha canastra Suponha que eu tenha querido ser um grande artista, mas que me falta ram a forga e 0 poder para tal! Su- ponhemos que meus livros néo te- rnham alcangado seus objetivos no capitulo final e que meus versos se- jam enfadonhos e incompletos! Su- pponha que as cortinas da minha fan- {asia mais sublime subam e mostrem dramas maravilhosos.... mas que as luzes se apaguem antes do pano cair! Suponha que todas estas coisas Ia- rentiveis sejam verdades! Esupo- nha que eu... errando de bar em bar, bebendo um dringue ap6s outro acabe me estatelando no colchao ‘empestado de “chatos” deste bordel. suponha que eu tenha que tomar este pesadelo suportavel, enquanto eu for seu heréi miserdvel.... Suponha 34 que eu omamente, ilumine... lori fique tudo! Com sonhos, ficgSes fantasias! Assim como a existéncia de uma obra-prima de 780 péginas. pronta para ser produzida pela Broad- way... e de maravilhosos volumes de poesias nas mios dos editores, es- perando apenas por uma assinatura para serem liberados! Suponha que eu viva neste lamentével mundo de ficgio! Qual a sua satisfacdo, boa mu- Ter, de-dilacerar tudo... de aniqui- lar... de dizer que & mentira? Vou Ihe dizer uma coisa, agora ougal Nao existem mentiras, a nio ser aquelas que sio atochadas em nossas bocas pelos punhos da miséria e da neces- sidade, Sra. Wire! Sim, entio eu sou um mentiroso! Mas seu mundo foi feito de mentiras, seu mundo é uma hedionda fébrica de mentiras! Mentiras! Mentiras!... Agora estou cansado, Disse 0 que tinha de ser dito © nao tenho dinheiro para The dar, logo suma-se e deixe esta mu- het em paz! Deixe-a sozinha. Vamos, saial Va embora! (ELE A CONDUZ FIRMEMENTE PARA FORA) Sra. WikE — (GRITANDO DO LADO DE FORA) Amanha pela ‘manha! Ou recebo meu dinheiro, ou uat Voces dois. Os dois juntos! Obra-prima de 780 paginas e plant 0 de borracha do Brasil! LORO- TAS! (DEVAGAR © ESCRITOR E A MULHER VIRAM-SE E SE ENTREOLHAM, A LUZ DO DIA ‘SE ESMAECE NO CEU. 0 ESCRI- TOR ESTENDE SEUS BRACOS NUM GESTO DE AJUDA, VAGA- ROSAMENTE E COM FIRMEZA) ‘Sra. HARDWICKE-MooRE — (DES- VIANDO © OLHAR) Baratas! Por toda parte! Nas paredes, no teto, no chao! © lugar esté cheio delas. E:curton — (GENTILMENTE) Eu sei, Actedito que nio haja bara- | tas na sua plantacéo de borracha. ‘Ska. HARDWICKE-Moore — (AFE- TUOSAMENTE) Nio, claro que nao. Tudo sempre esteve impecével. sempre. Impecdvell O piso era tio claro ¢ limpo, que brilhava como... espelho! Escertor — Eu sei. E as janelas. com certeza mostravam uma vista maravilhosal ‘Sa. Hanpwicke-Moore — Indes- critiveimente maravilhosa! Escertor — A qué do Mediterrineo? ‘SRA. HARDWICKE-Moore — (CON- FUSA) Do Mediterrineo? Ora, so- mente uma ou duas milhas! Escrrror — Eu ousaria dizer que, numa manhd clara e limpida, seria possivel se ver os cumes brancos de Dover?... Do outro lado do canal? ‘Sra, HaRDWiCKE-Moore — Sim. quando a_atmosfera esta bem lim- pa. (SILENCIOSAMENTE O ES- CRITOR LHE DA UMA GARRA- FA DE UISQUE) Obrigada... se- hor... senhor... Qual seu nome? Escarto — Chekhov! Anton Pav= Iovitch Chekhov! ‘Sra. HaRDWICKE-Moore — (SOR- RINDO, COQUETE) Obrigada, Sr. Chekhov tincia fica FIM DOS JORNAIS ENCONTRO DO TEATRO DAS AMERICAS: CONTRA O ISOLAMENTO, EM BUSCA DA INTEGRAGAO NOVA JORQUE — Em tese, era uma espléniida idéin. A partie da constatacdo em diversos festivals anteriores, da inst Reiencia para ito dizer quase inexisténcla'— de um verda- ‘eirointercimbio ‘de informagées ¢.sobretudo de priticas tea. frais entre as trés Amériens, 4 otganizagio novaiorquina TOLA ‘Bpfeate of Latin America Tne. resolveu reunir um numeroso ‘rupo de artitws de Virualmente todos os paises do Continente party através de uma. ampla” gama de lnboratérios piticos 1 Fados em conjunto, tomarem conbecimento, de propostas ¢ te nicas gue estio sendo tabalhadas desde o Norte'do Canada até © Sul'da Argentina, Paralelamente, espeticulos Tepresentativos Vindos e alguns destes paises forzeceriam um, pequeno mos {russio dos resultados aleangados alguns pains tedricos ten tarlam analisir as semelhansas eas iferengas entre os proble- mae enffentados nas. diversas regides das Américos. Tudo isto Stbocdinado a0 tema: o que ‘Dodemos aprender uns com os ‘uttos? ‘Para cumpre este programa, © Encontro foi subdividido em teés clapas. A primeira, em Washington, abrangia apenas “a5, Epreseniagdes don espeticulos pariipantes, no. Kennedy Center. Durante segunda, os -mesmér espetaculos cootinuaram sendo Aapresentados, agora em Nova Torgue, ao, mesmo tempo em que of elegados individuals vinbam chegando ‘dos seus pases “Je ‘rigem, incorporando-se a0 grupo do Encontro, que acabou abcan- endo cerca de. 200 pessoas, asistindo aos espeticulos, e parti- Eipando, de reunides igriae mas quais ina sendo discuida € Gslinsada a programasdo da tltina e mais importante das és ‘lapis. Esta que acaba de encerrarse, reunit todos. os parti= Cipanles — elencos dos espeticuos delegados individuals — luis semana. de trabalho conjunto, tendo por cenirio a paisa- gem campestre do Estado de Connecticut, mais preciaamenic © Fhonimental campus do Connecticut College, pesto de New Lon- don, e av insialagbes da Fundagio O'Neil, perto de Waterford ‘Uma ‘pequena trots de_ albus especialmente arrendados. trans- portavi entre os dois locals a pequena mudi dos partcipan- Ter entre os quilt of bration Amir Haddad, Cesar Vieira, Regina Case, Hamilton. Vaz Pereca, Joio Chaves, Mauricio Sete, Ruth Escobie, Celio Frateschi, Taito Borralho, Cecilia Conde, Eric Niclwen, além este Tedator ede parte do elenco de Ma- ‘unaima, 'Na pritica, a excelente idéiarevelow-xe muito mais dificil de ser xecutata de uma maneira efiiente do que seria de se esperar. R pequena ‘bem intencionada equipe do TOLA investi nela ‘uate dois anos de tabalho, io poupou esforgos para que {do correste Bem; mas o passo que ela pretendeu dar mostrou- {ev algo, maior do. quest “suas pernas_organizacionals. Mesmo ‘Com @ reforgo de alguns elementor coontratados de fora para fm dols meses decisivor ~~ entre eles 0 Jovem dietor brasileiro Chico Medeiros, sobre cujos ombros acabou recaindo um avase 35 36 salador volume de tarefas logistcas — a infraestrutura, 0 pla- hejamento eo know how especifico dos ofganizadotes foram nsuficientes para que se. pudesse extra do. evento todos. os Deneicio pretendidon. 14 durante. a etapa de Nova Torque fiooa claro que, 2 seleio dos espeticules convidados, com brihante ‘xseHo do nosso “Macinima “ditava ‘mula "a eset. Eas Teunides de, programagso resultaram muito dispersvas, em parte or causa do fasinio da cidade, que fez com que muitos latino Americanos no resstisem 3s tristcas 30 pelo. do consumo, em vez de se concentraem a discussso do trabalho er realizado em Connecticut; e em parte porgue as propria Dropostas de laboratrios, tis” como. estavam formuladas por TOLA, pareciam abstratas demais para propiciar um fet de- bate prévioy e-deixavam excessvamente” em aberto. a propria losolia do’ empreendimento, Por outro lado, i nessa etapa preporatria ficaram pa fentes ‘os inevitaveis) conflitos que’ sempre se. manifestam em ‘eunises deste lipo: alé que ponto.a paula dos trabalhos deve- vin day” énfase 2 anslie das contradigbes poliicas que marcam fo continente © pressionam 0 seu teatro, e ate que ponto deveria, Soncentrarse ‘no teinamento pratico de iécnicas”esttaments featras? Qual © espago comum dentro do qual possam_aluar € diseutz, por um lado, os representantes das tendéncias definidas or rotulos tis come’ teatro: popular, tealro. campesino ou teat | ‘de rus, que fomperam.at estruuras convencionas da Produsdo | ‘eatra @ que em muitos paises da ‘America “Latina Gesempe- | ‘ham ‘um papel preponderante, e, por outro lado, os artistas profissionais do teatro empresarial, que tem uma dimensio in. ‘iscuivel, por exemplo, no. Brasil, na Argentina eno Mexico? ‘Até que ponto a cada vez mal radical Tota que multos homens de teatro travam nas Américas contra 0 colonalismo cultural € fem busca de uma expressio autenticamente. nacional pode ‘ear ‘Sonttar um terreno e entendimento com as faixas de ciaga0 fue acsimilaram ay infivénclas colonizadoras a ponto de trans: formé-as numa tradi. propia, e em alguns asos sem alter- ‘Quando chegamos a Connecticut, a_perplexidade ea con fusio.aumentaram. Em primeto lugar, feo claro que. agama de opgcesofereci Sivar"esavam prog ‘mesmo se alguas deles delxaram de ser realizados, ainda asim reesnvo, e frustrou multas pessoas que DPderam fazd-o, por confito. de. hordrios, ou entio\tentaram Fieéto assim mest, © scabaram apenas belscando ‘um Dowco eo tempo “reer @ ‘sobre 0 mélod. de trabalho proposto pelos respectivos or: “4 offcina orentada pelo’ pessoal fo ‘Bread and Puppet, que ecuped seus alunos em regime de tempo integral durante todas. semana, os outros. laboratrion previam um méximo de cinco sews de dust ol (8s hotss, © lguns ‘fo ultrapassavam 0 modesto total de dus. cesses.” A. farde, no mesmo horirio de virios laboratéros, stavam mafca ‘dor depoimentos de diversos homens. de teatfo.latinoameries nos sobre’ as condisées de trabalho ‘nos seus pales, projesses Ge slides e filmes, cc; ineapuzes de superar concorréncia das atividadespraticas, esas sesten reazavam-se geralmente.diamte de plata’ melancolicamente minguadas. Ey a partir da. metade da semana, as frenéticas atividades que comecavam logo aps 0 fife da manhi, servido rigorosamente das 7-is 8h, © entravarn foite ‘dentro, comecaram a provocar em todos um erescente ansago. ‘Ao mesmo tempo, um certo clima de regime de intemato criaya em alguns particpantes uma mal contida Irritaglo: tanto © Conaecticut College como 0 Campo O'Neill sio. lugares is lados, sem nenhuma condugio’ que. os ligue is cidades vizinhas. Para‘ mturaimente bois pesoal de fara, imposibiidade $e locomover durante uma semana (a mio scr nos caros fificeis tinis que tnham de ser" chamados “de New London, & Yérios quildmetros de distancia) ‘para qualquer ugar onde’ se pudesse tomar um chope oU um ulsquinho ever" caras_dife- Fontes das com as quale se convivia durante dia consituiase ‘num saeifcio, ma opiniio’ de muitos insuicicntemente compen Sado pela privilegiada paisagem da regido. Apesar de tudo, valeu a pena, ¢ muito. Néo tanto, pelo resuliado concrete. dos workshops dos grupos de trabalho, Pouco informativos com, algunas. personaliades,lusves, como Arthur Miler, Edvard Albee, Julian Beck e Judith Malina, Joe Chaikin; e “muite’'menos pelo resultado. concreto dos expeta: culos convidados. Mas valeu a pena pelo encoatro de tantas Dessous represent fendéncias do teatro, filidade do. que. nas aflvidades olisialmente.programadss, scaba- Fam comunicando umas As outias o significado. dat suas angi tias, dos seus problemas, dor seus ideals. O proprio clima tens aque feinou emt boa parte do Encontro realtou finalmente fe- undo, pois etiou entre eles todos, apesar de posses a9 vezes Fadicelmente ‘divergentes, um quente sentiment de solidareds- fez era preciso superar as dificuldades para nfo perder esta ‘portunidade de fazer ver aos outros o-que cada Um pensa, faz evdeseja. E, em Ultima andllse, cada um Voltou 20 seu pals de forigem (ou" de adoglo, no. caso de vitior artsias exiladon) 39. tendo muito mais sobre a situacio. do continente, das diversas resposas teatrais a esa stuapdo, do que sabia antes de chegar 2 Nova Torque A imagem que se pode extrait deste acréscimo de conhe- cimenta ¢, 00 que diz fespeto a. América Latina, muito pouco Segre. A’ quantidade e diversidade de opresiées que tearto foe na mioia oy feat pater So yrdacinmente saree: 18 comesar elas minis Variadas Yormas de censura e hos Aids" aber" por parte "dor ‘Governone clminando. com's Incipient base de estrutura econdmica que predomina na quase totalidade dos paises. No contexto tal como foi exaustvamente escrito no. Encontro, 2 dose de idealimo ¢ de abnegasio.ne- cessria para fazer teatro, por exemplo, no Paraguai, no Peru, fo Equador’ ot! na Bolivia afigura-se pattia; e, por. motivos Algo diferentes, mesmo em palses que ja tem wna sida, tar ‘isfo teatral, como a. Argentina, o Urugual e 0 Chile, parece hoje infnitamente. dite dizer algo de relevante atraves da ritca' do officio teatral Diante deste quadro, a stuagio do teatro brasileiro aparece agora ironicamente priviepiada, Por menos saifatorio que se Jam ainda os nosor indices deiberdade de cringio © por maic- fet que sejum ay sificuldades econbmicas para os ‘seloces que ‘io almejam sucess do tipo Pato Com Larania, no ha divida de que’ alcangamos "um nivel de organizagao © de relaiva IndePendénca, lem “de ‘uma visio. comtemporines da criaga0 teatraly com que outros paises do Continente nfo podem ainda Sonar. “Enceluando 0 dbvio caso." parte que io. os" Ee tados:Unides, talvez apenas ‘no Canadé na Venezuela exist ondigdes materia. ¢- cultura comparivels com se do Br fara a exisléneia. de um bom teatro profssiona, Isto no quer dizer que em vérios outros palses, dos quais a,.almia’ ales wh elon ere nein, oe joy em. bases ‘alternatives, um teatro. impor {ante que faz_da_resistéecla contra um melo-ambiente desfavo- FHvel' a sua préprin razso. de ser. Neste sentido, nada comovea Imais os partiipantes “do Enegntio do. que a preocupagio. dos ois jovens representantes da Nicarigua com a futura reorgani= zagdo da vida teatral do ‘seu pets, e com 2 contribuigio que eso made dar constug de tna Sociedade lie, depas Ga queda’ de Somoza. No ano passido, ao comentar a 4* Sessio do Teatro das Nasdes em Caracas, disse que nada sinetizou melhor esse grande encontro mundial de teatro do que. a apresentario ao at livre {80 grupo norteamericano ‘Bread. and Puppet: 10 trabalho dos menestés orientados por Peter Schumann, eu sent reunidas a5 Brandes exéacias do featro de todos or tempos eas principals Preocupajées ‘contempordneus, ©. tearonarie ¢ 0. teaorula, 0 Experimentalisma ea) tradigio, a poesia e a eitca social, © fespojamento ea sofisticagio estétca, Tive de novo a mesma fenragio agora, quando o Bread and Puppet encerrou © Encon- te do. Teatro das Américas ‘com’ uma festa ao ar livre que feneantou e comoveu. io s6 0s aproximadamente "200 partici= prantes. do" Encontro, mas também ‘a populagio. da eidaderiaha fie New London. Depois de um cortejo que percorreu a cidade, tendo. frente Peter Schumann dangando em cima das suas fenormes pernas de pau e seguido da sua infinitamente poctica bandinha ‘cireense de sopro €.percussio, 0. Bread and Puppet ‘encenou na. prags. prinelpal om" erpetdcuio. que foi 0 resulado fo workshop dirigido por Peter Schumann no’ Connecticut Colle- , a0 mesmo tempo, © ponte miximo de todo 0 Encontro. Em cerca de 30 minutos, os bonecos gigantes do. grupo interpre faram, acompanhados de’ uma narracdo de uma ctistalina snge- Jeza, irés pequenas fébulas. A. primeira fala de uma mulher fue’ viera, Go campo para a cidade grande c fol esmagada por sta cidade. Avsegunda falava de uma mulher que passva Vida aver televiso e-acabava ‘ualmente esmagida pelos fan {asmas saidos da. pequena tela. Fa torceira colocava’ em cena 4 historia de uma favadeira triste, evo marido foi arrancado do far por ‘um brutal mensageiro da morte, mas que depots se uu” outras mulheres que estavam na mesma situasdo, para ‘uma danga ao mesmo tempo dewesperada e esperangosa. Nenhum fsesfo, nenhiimapalavra lem do rigorosamente necessério para Dropor ma arrepiadors sintese de alguns dor grandes problemas ‘Que nos obcecam todos Bastaria este resultado, conseguido em apenas uma semana de trabalho — mas na verdade tomado.possivel por uma traje- {ride anos em que o Bresd and Puppet foi eristalizando a sua linguagem ¢ a sua abordagem do mundo, dnicas no teatro fontemporinco “~~ para defini 0 workshop arientado por Peter ‘Schumann como o' mals importante e bem-sucedigo don quase 20 que se desenrolaram no Encontro, O mais exaustivo, também ‘8 20 alunos — entre oF quais os braseiros Hamilion Vaz Pe- ‘mente elaboridos durante a semana de Connecticut. Outro laboratério muito tem sucedido © apreciado pelos seus pariipanies fol orentado por (és. membros de um curioso Brupo de. josrais norte-amerieanos, o Talking Band, que se de~ ‘dca a. uma. minima valorizge sonora de" textos’ eriris ‘dramaticos..A"partr de uma variada gama de-estimulos emo- Sionais ¢ téenias corpora, foram estudadas maneiras originals fe expresivas de dar corpo'® palavra, de condurida & fronteira fnire fala e misica e, quando’ necessrio, a superar esta fron teira. Lee Brewer, ditetor de_um dos mals interessantes grupos ‘experimentais de Nova Yoraue, Mabou Mines, realizeu. em Spenas duss sessbey de trabalho aquele que parece ter sido. © ‘ais interessante laboratério. direamente ligado a0 trabalho. in- terpretative. do stor concebido saves de técnicas nfo conven: onal, ligido.a_ uma maneira su generis de transforma 0 vo com que se tabalha através da atuagio. do Nada menos de és workshops concentravam-se exsencial- ‘mente nos problemas de criagio coletiva, formagio e consolida- ho e grupos ¢ trabalho teatral A margem das formas institu: Eionalizadas de produgio. Um deles, orientado pela atric argea- tina Maria ‘Escudero, atualmente radicada ‘no Equador, ee- fcupavacse esvenciaimente com process de diresio de atores Sentro de’ um trabalho grupal. O segundo, liderado pelo chileno Raul Osério, pelo canadense Paul “Thompson ¢ pelo costar gc "Lais Cvs Vasauce consi nn toma de experi as entre. grupos que_j dspsem de longa trajeteria no. campo 4a cragio.coleuva. Eno tereeiro 0 brasileiro Celso Frateehi ‘plicou a um tema escolhido de comum acordo com © grupo as ‘Eenicas que elaborou a0 longo de quase 10 anos de trabalho com trupos de periferia de Sig Paul. ‘Os dramaturgos presentes a Connecticut, liderados pelo eating Osvaldo Dragtn, pelo guatemalteco Hugo. Carilo e pe dominicano Jaime Lucero. Vasquez, reuniam-se diariamente, par Teitura © discussio de uechos de obras que esto escrevendo m0 ‘momento. As duas sessdes a que tive a oportunidade de assis, edicadas a fragmentos de-novas peyas de Dragin © doch eno’ Sérnio Vodanovi, deram-me’a"impressio de_que pelo me- thor estes dois autores estdo engajados em projtos que, uma Yer terminals, ‘merecetio reseber ampla divulgagio ‘na Ame ea Latina, © mente ne Brasil, onde a dramaturgin dos paises vislthes’€ tao mal conhecida. 0 cenéerafo argentino Francisco Javier orientou um work shop sobre espagos cenicos convencionals ¢ lo convencionas; ‘que’ por falla'de tempo teve de ficar’no' terreno das concei- aT 38 tages te6rcas, mas parece ter realizado um trabalho bastante protive. ‘Um pouco & margem das outras slividades do Encontro funcionou'um laboratério de técnicas teatals para surdos-mudes, forientador por And). Vasnick, que dirige ma’ Fundagio O'Neill {Uma famosh escola protissional para docentes desta modalidade, além de um Teatro. Nacional dos Surdos, Uma demonstragio ‘Que Andy’ Vasnck, ele proprio um surdomudo, realizou. para 0s Dartcipantes do. Encontro transformouse numa experiécia mbilo Parone; dentro. desta demonstragio constiuiuse num ponte Salto, de grande densidade podtica, © comparasio entre a deseri- ‘Gao'de um levantamento do sol realizada, no codigo gestual dos Surdos:midos, pelo” proprio orlentador americano e um jovem rio japones: cada ‘um eles traduzia através. do. seu de fenho.gesiual toda ‘uma enorme carga de tradig6es.culturais Droprias da sua. respeciva cilia ‘entre outros, um curso. da folclorsta pe- ‘Cruz Sobre o descobrimenta e_dasenvoli mento do. sentido ritmico: um tabalbe de improvisogio para ‘mulheres orientado ‘pela autora cubano-americana Maria Tren Fornes: méodos de ‘interpretagse dos americanos Dee Henoch, Elvabeth Swados e Dan Favel ¢ do mexicano Juan José Gurro- Ja; tentativas de letra dramatizada, em espanhol © em ings, as dus obres Tntino-americanas especialmente. selecionadas, Pat tetca, de J0a0 Chaves, Lo. Crudo, lo Cocido, lo Podrido, do Chileno Marco Antdnio de la Parra; © mesivredondas sobre His- {Gris do. Teatro. nak Américas ea. sua situagdo aftal, Sem es ‘quecer ineresantesima demonstrapio ‘realizada por AUgUSIO Hoal com etercielos preparatérios do seu método. eto. apenas quanto programasio oficial, decididamente bundante demais para” apenas uma semana de’ reunifo. Alem Sela otve, como ‘era sede esperar, toda uma série de atv Givaedia do. Encontro, Batre ests, merece destague um grupo ‘Se trabalho que elaborot tim projeio bjvo de eviacio de um ‘esquema de intercimbio.sstematico de textos, ensaios infor- Imagecs entre os teatros dos dversos palses do continente, com pPequonos centros feplonals a serem crlados no Canada, 6s Es {dos Unidos vnériea Latina, Se este peojto se concte- tisar, poderd transformar-se ium dos resultados. coneretos, mais Sjnifiativor do Encontro. Pois, se alguma conclusio pode ser firadadestas ‘cndticas mas fecundas duas semanas de Convivio, 'a de-que a gente se conhece muito mal uns 20s outros, ‘Que tem muita vontade de cohecerse melhor. Um esquema de fitereimbio. como este proporto em Comnectcat e uma eventual Tepetigio de tnialivas como este pioneiro Encontro. do TOLA Poderio’contribuir para que este impulso de conhecimento. md> fo sain do" ferrene’ da uot (YAN, MICHALSKI — ext 11 6 12/7/78). be © Jornal do Brasil — ROBERT WITKIN: QUAL f © LUGAR DA-ARTE NUMA ESCOLA POBRE? © professor Robert Witkin, 6 autor de A Inieligéncia da Senaiblidade. Socilogo © psicslogo, professor da Universidade de Exeter (Inglaterra) desde’ 1972, Witkin, foi ditetor, de_ 1969 a 197% da peau Ar Aries 0 Adolescente, promovida pelo ‘Sades parailas, surpidas mais ou menos espontaneamente 0 | Govern inglés, que resultoy numa nova. perspectiva sobre a Felasdo ‘entre arte ¢ educagio. ‘Na entrevista segunte, ele fala thas uae deseoberta Poderia falar um pouco sobre 0 seu trabalho? © meu trabalho tem sido, de uma maneira geral, uma de responder pergunta: por que toda sociedade_de- Yeriapreseupar-se om a ulllzapio ‘das artes criativas a ed agio? Ha uma visio penetalizada de que as. artes lo ‘slo fssenciais & edicaglo; de-que sio muito agradéveis, muito en- Tiquecedoras, mas Tepreentam tm Tixo quo a socidade tecno- Iigics no bode pager e muito menos as socledades em deseo olvimento. "Jaa mioha opinife, as artes criativas so uma parte muito importante ‘no procesio de conbeser 0 mundo. Sto {ima forma de Conhecimento, se nio investirmos elas em te ‘mos de educacio, estamos abandonando una parte importante a processa educative, = Mas na Europa id ndo existe Id bastante tempo essa Interselopio entre @ arte ¢ 0 proceso educative? =f verdade; mas a arte, mesmo na Europa, ainda é a Cinderela do curiculo, a parte’ do curriculo que recebe menos recursos, menos atensio. Nio’€ consierada importante porque D curricula académico seté sobrecarregado de ciéncla, tecnologia, fia, bisa, homanidades. As pessoas ainda no conside- faite como forma de conhecimento, Ate que iso seon- fega, até que se peredba que a arte tem alguma coisa a ver com fa inteligéncia © com a pereepeio, nfo se acreditaré que a arte fem de fato.tima funglo educativa, e que alguns dos nosos Conceltos sobre a inteligtncis mde ser revistos,_pols as ne~ ‘cessidades das pessoas, em todo” 0. mundo, no. slo exclusiva: fnente,teenoldgigas, Noma escola sem as artes, € uma parte da {telgéneia que te atrofia: © eu acho que no ce pode permit S50, seja numa sociedade desenvol ibdesenvolvida, Acho importante sublinbar que no se trata de ins poviicos relacionados com a arte; 0 que 6 preciso fazer € mos- Ehra inteligeneia e 0 comhecimento que so obtém no através da fit, mas tsando os media expresses que conduzem arte TS, fe sendo apenas um eremplo, uma forma mais alta. O ue € preciso fazer € desenvolver as, lguagens expresifas ‘Minguagem dos gesos, do movimento, da danga, do. som em ‘isin, da llostragio, ee = Quer iter, ndo user a arte em si mesma? = Arte no € importante. Arte com A maidseulo nfo € (0 que me interes, nem mesmo a rica experiencia que sé pode extrair de um quadro pendurado a parede, de uma. es Enltir, et. A-AMe € apenas e produto de uma forma de vida imental Esea vida & que 6 importante: dar 3s criangas a poss Eilidade de desenvolver uma capacidade de expressio, de dar frdem e sentido 2 sus vida faterior, isto é importante © Mo 0% Objetosavtsios em si'mesmos. Em paises como o Brasil, me ergotam te ets por que deveamos enim ari os, I {Bares mais pobres? Ha pessoas que mio t@m, is vezes, nem Toupa e nem comida? ‘uma pergunta que talvez, nfo se, possi Tesponder postvamente, mas sim negativamente: ‘Se voses vio dar a essas pessoas seja que. tipo for de educagio, vocés vio thes rum’ poder de organizar suas experifocas; e entlo, 6 importante que clas possam orgunizar também o seu mundo ite terlor. Vockdirdt are nio’ importante para essas_ pessoas. E'eu respondo: arte ‘com A maiisulo no’ € importante; Mas elas cantam, elas. dangam, elas atramam 0 cabelo, cominicam- frente sc usam todo 6 campo do sentimento humano, 0° que Slgnifica uma vida interior. Ee importante que a escola 10 fejaestranha a isso, pols também 0 pobre tem 0 direto. de fxpressarse, de encontrar asa maneita de. expressdo. Nio fem nada ver com darhe Arte com A. maidsculo, seaimen- tore experitnclas Tefinadas, Beethoven ou ‘mesmo Villa-Labos, — 0 que voc? esti dizendo nio cheea a ser inteiramente nove, no — Ni. O que eu tentel fazer fo} colocar esses aegumentos dl via Torta mais sicoliice. 16 fisofor e estar que sm fe resale ‘ae arte para 0 desenvolvimento Site "Or ffl om endo do tba on Drofesores nas eseolsss tm even do" proceso. do. edocays visi at esclas, de maneira t fazer com que. ar tens fncionassem ‘a préica, Apresenelalgumas ideas sobre a ma nea Pela qual ov profesorespoderiam comegar mudat © ‘ul pproachpedagevio. 0 que et dexcob fol que’ os PEO. ‘Sisoces "do arte tém uma WE pobre da fonsSo eaucaia d ss gxrendo. Ogle feel ler fof examiner 8 ote ‘loci ‘don profesores para. tentar dev gue manera ‘Srmode ‘pelo gual sane € conosbids moma socedede”detr= Inina exatamenie a maneira pela qual’ € ensinada as e20l Ogee iterossn_€ uma forma pti Ge feos, uma ter ‘que no result mum lo, marque desperte a. peropsio. de ‘lun poston ainda nfo Suleientement”Gevenvolvios 00 ro: eo edvcativo — como a fungio'das ares da expresso. 0 feabuito que se fax hoje sinds & muito tesrso east Maelo, poriana,€ volta sobreudo para os pro — Sem Pee; porque nfo estou ineressado em teorizar, para (98 filsofos, 0 que fostaria € de colocar um tipo de tabalho | 2° disposgdo dos" que tabalham com eriangas. — 0 seu ponto de partide estaria, entdo, no campo da pslcologla? = De fato: meu ponto de, partida foi um conflto veriti- cado no "met intima felacionado com 0 desenvolvimento. da Dsicologia de Jean Piaget. Por esse desenvolvimento, muito di fundido hole, 0 coahecimento. & Sempre o conhecimento das col- fe tod0'0 procetso de detenvolvimento mental 6 0 des Yolvimento” de uma percepeio objeiva. do mundo como, fato, Scparado de Gs. modelo humano, nessa perspectiva, € 0 ci fentista capar de complesas operagées Togicas. Meu conflito eo Imesou quando ‘descobri que na vollmosa obra de Piaget io havin, lugar” para o artista; no se” fala na inteligeacia “do at~ tists e nfo hi tape do que se pode chamar de sensibilidade fartistica na organizagio do mundo interior, A partic desse ponto "que comeset & organicar ax minhas propre idéiss,picolat- fas, Por aguela visio, € come se houvese separasio toul entre (duaslinguagens Jo vida mental — a gue serve para a logica, piira_o ponsamento dscursivo, ea que. torna porsvel as artes Expressvss — a danga, a misica, © prSpria. movimento. Como tum momento nos pudessemos ser intelramente Togicos, para logo em seguida os tornarmos interamente sensiveis 8 ~ Essa divisdo anda af pelo ar... Agora, nesses termos, 9 problema deve ser muta serio meamo ‘na Europa — Talvez até mais sécio do que mum pats como o Bras | 0 desenvolvimento do pode © nio deve ser unilateral pois ‘asim io se rewoliem os problemas a longo prazo; crite, apenas, outros tipos de_problemas, que febentarao’adiante. Nin {fuem "pode criar uma ‘ociedade’ ineiramente tecnologica, vol fida para 0 objetivo: porgue ela entSo io. seria flta para 0 Ihomem. ‘Nos paises desenvolvdos 0 problema é mats ‘rave! feixamos que & tecnologia absorvesse o que havia de expressivo fem nosis cultura Aut ainda him cootato vital eatre as pessoas. Eu nio gost Pelo argumento de que no ha disheiro para fazer outro tpo de ESta." Mio 6 guest de dink, Tanto mals quant sash tum prego, muito alto por raciocinar apenas na base do. econt Imico! um custo altisimo que deriva da atitude em relagio 40 ffabalbo Je pessoas em que se bloqueou toda exatvidade, tod ide interior. O batbarismo tecnologico termina ria economia. Tnfelizmente, o¥ politicos devem tender vempre Tiintereses imedistos, Mas’ 90 podemes ‘perder de vista a ne- etsdade de" adaptacio inteligente a0 nosso ambiente. Sob ese {spesto, 0 fato de. que paises como o Brasil esto-se indus fizando’ numa, efapa histories: male avansada deveria servir para ‘gua algumas lige fosiem aprendidas = 0 que voe€ sugerria do pontode-ista prético? = Prestar_atengéo na importincia do. uso dos meior ex micagdo:_ som, movimento. Trazet esse. {pO Tnicigtncia que pettene ao artista, tas pio #0 a ele. A educacio arisiea poderia comegar esque: eccrine coma fala eet ae 0s""Ena dela, podera, enti, espraarse para Feito do curiulo, Pols matéaas cents ‘tambem podem “od io sep. eins de mania ita, uhandose rear de Expressio que nio slo propriedade do tetra a es Siiuagem fax pare, Ga missto. dor profeores de arte, que Poleriamy reply comesar por equecer"® arte A intcigecia @ Tine coisa 9, Noo bs nada pior do que pariia em pedagos. O Erpresivo an parte vial — mesmo. 0. ponto-de-vsta tec {fico ou clentteo. Se isto for entendido, nfo havera tio povces ‘Santa crindores. (Entrevita a Luie Paulo Horta, extraida de O Jornal do Brasil, 20/7/79). 39 LEGISLAGAO A MARGEM DA REALIDADE Clévis Garcia A tio esperada ¢ desejada regulamentagio das profissSes de ‘antista ¢'téenico em espetdculor de diversGes (siz), objetivo de Tonga Srdua uta da classe, finalmente se concretizou, com. 2 promulgagio da Lei n® 6.553, de 24 de maio de 1978, © 0 Fespectivo regulamento pelo Decieto n? §2.385, de 5 de ‘ott ‘bro de 1978. Com tantos debates, tanto inereses, os diplomas eu ssam ton dco contac, amiss Bldades, De_qualguer forma. temos ‘normas'lewais e desde sua Publicagio, soments com o registro previo na. Delegacia Regio- Bal do Trabalho, para o qual & exigido diploma em curso reco ‘hecldo, ow atesiado de capacitagio profisional (abertura. ainda ‘aio sufiientemente examinada pelos interessados), poder fist ‘exereer sua profisso, Para as atvidades teatrais, as respctivas profisbes jf tavam ‘defindas pela len? 4681, de 27 de malo de 1965, ‘gue estabeleceu dois grupos: divetor de Teatro, cenéprato, pro- fessor de Arte. Dramitca, formados em cursos de nivel’ stpe- Tor, © ator, cenoléenico, contriregra ¢ soaoplata, formados em ‘curio de nivel médio. 1é-n sepiragto do curso de ator, de car Tacteriticas semelhanies as protissbes do primeiro grupo, des- ‘Gonheceu a unidade e integragio do espetéculo teatral, deter ‘minando. uma primeira difieuldade para os cursos. ‘A nova legislagio repetiv 0 erro da lei anterior, a0 exigit ‘9 diploma de curso superior para o registro de diretor de Tea- tro, eoreografo (eve ser cenbgrafo, pois nso hf curso superior be coresgrato, mas o engano se Yepete nas publicgées) © di+ Dloma de curso. de. 3° grat, pare ator, conttaegra, cenotéenico 2 sonoplasta. Continuam, pols, 0s cursos sem integral, separa os de nivel, m0. campo" aristico. Alm disso, a atual Tel @ felere a, professor de “Arte Dramitiea, quando esse curso {01 ‘ubstiwlda’ pelo de Edueacto Artstica, hubilitgfo em Artes C8. hicas, desde 4. Resolusio nm? 25, de'23 de novembro de 1973 {do Comelho Federal de. Educasic. ‘Mas o problema principal é que a exigéncia Jegal de diploma ts spina reaiade cues do Pas aver, quando io ‘cinco cufsos reconhecidos, de nivel sbperiot, que preparam pro: | fissionais de ‘Teatro, E em nivel. médio, nenhum Estado bras Tei, jf que_a competdncia. legal para esse nivel & estadual, fixot, ‘até hoje ov rexpectivos curriclos, o que impede 0 Teco ihecimento. dos cursos O Conselho Federal de Educaslo esta- beleceu or currculos minimon para as escolas. de 2° rau fe- ‘derais, mas apenas 0 T-U. da Universidade Federal de. Minas Gerais, ‘pelo que conhecemos, se enquadrou nas nocmas esas. ‘Quanto ‘fo curso de Inlerpretapio.em nivel. superior, adotado, por exemplo, pela FEFIER), do. Rio, aio. protissionalizante, Dio 30 pela etigencia legal do curso de 2? grau pata profisio e ator, como pela fundamentagéo do parecer que dev origem & Resolsio n° 32, do CFE, que eslabeleceu os curriculos. mini- ‘mor para o bachatelado em ‘Teatro; & um curso de aperfeigoa- mento e de preparacio We profesores univesiarios. ‘Se a classe teatral e as autoridades do Ensino, foderais e ceadvais, no se preocuparam com a prévia organizapio e ins lalagdo de cursos, prevendo a requlamentagio das profissées teattais, 0s docentes'¢ diretores das escolas de Teatro" proc Yam, nos dltimos anos, alerar_e estudar o problema. (Em beiro de 197, a enlio FEFIERG realizou no Rio ¢ I® Simpos fobre 0 Ensino e Profissbes Teatras, com a partisipagie dedi Teg, otenres alunos (ns dona tina featfo), que estudou e apreseaiou propostas de. reforma 44s et 4681/65, ¢. projets. de" curiculos minimos, Esas con: lusdes, resultado do trabalho. de especialistas do. Brasl inti, ‘nunca foram sequer consderadas pelo Conselho Federal de Edu cago ou outto Greios do Ministerio da Educasio e Cultura, ‘gue 20 baixar a Revolucion 32, mal assessorado, estabeleced Sunieulos minimos repletos de defctos. Em 1974, no quadro do ‘VII Festival de Tnverno, ealizouse, em Sio Joao Del Rey, 0 2° Seminirio Nacional’ de Teatro, com diretores,.professores 2 alunos de escolas de Teatro de varios estados. O.relatorio final desse encontro ainda € 0 melhor documento’ sobre. cursos de Teatro, tanto que o Encontro de Dietores de Escolas de Arte Dramatice do Bras, realizado no uadro do. 10° Festival de Taverno, em Belo Horizonte, em 1976, limifouse a relterar suas ‘conclsées. Mas, também exses documentos no foram consi. ‘dos. pelas autoridades do Easino, A sung do cursos de 2° sau € mals eave, impedindo © registro dos alunos formados.pelas poucas escolas enstents. ‘A Bicola de’ Arte Dramitca de'Sto Paulo, tio justamente f moss e hoje incorportda 2 USP, ainda no esté reconhecida eur ekalunos somente estio podendo registrar-se. pela compre- ‘ensdo. do. Sindiato. dos “Artsy ¢ "Téca ticlos. de Diversdes do Estado de ‘Sto Paulo. Quand glo. da EAD, em 1969, procuramos,regulatizar si egal adotando ‘9. cutrculo ‘minimo federal e encaminhando 0 proceso 20 Conselbo Estadual de Educacto, orpio. competente era. o seu reconhecimento. O CFE, alerado pela documentagio, Seciaia estabelecer 0 curiculo mi Digray, 0 ave fol feito. pela Resolucto CEE n® 8/71, crlando fem nosso Estado 0 Colégio Téenico de Teatro. Infeiziente, 00 mesmo ano, a nova Lel de Diretzes e Bases do Ensino de 1? E20 ‘Graus extingula oF colégiosténicos, fundindo-os com ‘6s académicos. O Ensing de 2? grav passou a ser Um 36, com tim niieleo comum, de cultura geral, © uma. parte profisiona lizante. A Secretaria da EdvcasSo.constituiu uma comissio para Extado do problems, presidida. por Eugenio Kusnet da qual fizemos ‘parte. © trabalho entregue, entretanto, dorme nas 6 far da ‘Secretaria da Edvcagio. até hoje. (Extraido de O Estado de So Paulo, 28/3/79). NOTICIAS DO SNT PATROCINIO DE EXCURSAO PARA ESPETACULOS: ‘TEATRAIS ° (0 SERVICO NACIONAL DE TEATRO DA SECRETARIA DE ASSUNTOS CULTURAIS DO MINISFERIO DA EDUCA- CAO F CULTURA, faz publicar para coshesimento. dos. inte essados 0 presenle EDITAL, que Tepulamenta, » concessio de PATROCINIO DE EXCURSAO as. empresas teatrals para apte- sentagio de espeticulos de teatro, no periodo de 30 de julho a Bide dezembro de 1979 (© Patrocinio para Excursio objetiva divulgar os espeticulos de teatro em toda 0 Pais, no sentido de aligit © numero de ‘spectadores e contibuir para: » de um mercado nacional na érea do fei 4 descentraliza Tecimento' das respectivas empress; ©) 8 valoriagio do aspecto artstico da stividade na érea » os expeticulos, bem como 0 forta- Se teatro ara_methor sendimento econémico, as empresas deverio planejar, racionalmente, suis eXcursses. Sera concedido amparo especial is emy serem a aleangar as regis mals distantes do in 1, DO PATROCINIO 1.1 — 0 presente EDITAL visa conceder recursos finan- ceiros para cisieat parte da estada, alimentagio e transporte dos Stores e pessoal técnica das empresas beneficiadas com © Patro ‘ini, durante 0 perlodo em que excursionarem, assim fixados: 1.1.1 — 80% (ctenta por cento) do total relativo 20 or samento aprovado para © transporte dos atores © pessoal ténico. 1.1.2 — 609% (sessenta por eento) do total relativo 20 oF samenio’aprovado para a estada ¢ alimentagio da companhia, 1,2 — As empresas concorrentes 20 Patrocinio de que trata este EDITAL s6 podetio Iniclar as excursBes. aps a aprovagio 40 pedido, bem como, da assinatura do Contrato para com fessho do” Pattocini. 1.2.1 — No exame das propostas visando a concessio do Patrocinio, 36, serio considerados Para os fins de aprovasio do fryamento, até 0 méximo de trés tecnicos. 1.3 — Toda e qualquer despesa decorrente da excursSo ¢ a realizagio dos espeticulos, sera de responsabilidade exclusiva do patrocinie, @ Sem €vedado 0 uso do nome do SNT ou de ‘outros Orgios da’ Ministéio da dueaeSo e Cultura para a con- tealagio de servigor ou compra de materia. 1.4 — Atendendo 208 objetivos do presente EDITAL que slém' do estimulo 2 dramaturgs, 4 produgio do espeticulo © = popularizsedg. do teatro, visa também o ineentivo a0. aumento do mereado de trabalho teital, propisiando que um espeticulo bem Stcedido numa praga posta set visto por outs, o Patroinio de ‘que trata este EDITAL serd concedido analisondo-se 0 nivel ar- lisico do expetdeulo, bem como 0 aspecto de prejeréncia do pibliee TAL — A fim de que os aspectos acima mencionados possam ser avalados, farse'4 necesirio que o espetaculo. con Porrente ao Patrocinio tenfia realizado um ‘isimo. de 30. (trinta) Sspreseniagdes, em temporada regular, na cidade de otigem. 1.5 — 0 Patrocinio seri concedido analizandose os crité- jos ji mencionados, a ficha téoniea do espetéculo ¢ 0 curricula (ia empresa 1,6 — E permitido a8 empresas beneficiadas com o Patro- sino de que ‘fala este EDITAL pleitear aunilio, inclusive fi fanceiro, Telativo a parte do orgamento nfo patrocinado pelo SNT, mas Tocalidades por onde excursionarem. 2. DOS ROTEIROS Para a habilitagéo de que tata este EDITAL, os roteros de vingem sero clasificados como: a) Projeto SUL; 1b) Projeto NORTE-NORDESTE; 2). Projto LESTE-NORDESTE; 4) Projeto CENTRO-OESTE; fe). Projeto CENTRO; 1) Projeto BRASILIA, 2.1 — 0 Projeto SUL compreendert os roteiros que incluam, ‘além das capitais dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Ci farina e Parund, mais 4 (quatro) municipios dentre'os Estados smencionados 2.2 — O Projeto NORTE-NORDESTE compreenderi os roteiros que incluam capitis dos Estados do Amazonas, Para Maranhéo, Piaui, Ceara, Rio Grande do Norte ¢ Paratha, e mais 2 (ols) iminiipios dentre 06 Estados mencionados. 2.3 — O Projeto LESTE-NORDESTE. compreenderé 05 r0- ros que incluim as eapiais dos Estados do Espirito Santo, Be hin, Alagons, Sergipe, Pernambuco e mais 2 (dois) municipios desire os Estados mencionados. 2.4 — 0 Projeto CENTRO-OESTE comprestideré os rotei- tos que incliam Brasilia eas capitals dos Estados de” Gols, Mato Grosso do Norte, Mato Grosso. do Sul, Acre e Territrio de Ronda, 2.5 — 0 Projo CENTRO. compreenderi os rotcicos que incluam, além de Brasilia, as captais dos Estados de Minas Ge- Tai Golgs mais 2 (dois) municipios dene essas unidades fe- Seratvas. Serdo consideradas, para efeito de contagem acima, 3s idades sates do. Distrito Federal 2.6 — 0 Projeto BRASILIA compreenderé a realizagfo de cexpeticulor em Brasfliae, po migimo, ‘numa dag eidades sate Ties, desde que hala condigoes'ténicas favorsvets 2.6.1 — Visando incentivar uma maior atividade artisica e cultural ta Capital da Repiblica, as companhias que. oplarem pelo, Projeto Braslia receberdo. Patrocinio faegral, referent stada, orpedagem e tansporte dos atores ¢. pessoal téenico. 2.7 — Durante os dias em que permanecerem em Brasilia para a. realizagio dos espeticulos pelos Projetos “Centro-Oeste an 42 ‘que realize 0 espetgculo numa das cilades satlites 2.8 — A empresa poderé propor rote abrangendo. mais de um Projet. 2.9 — A empresa se obriga a apresentar 0s espeticulos nos locais'progeamados de modo a cumprir sempre 0 nimero ‘de apresentagbes correspondentes a0 Projeto elaborado. 2.10 — No caso de impossbiidade comprovada de_apre- sentar 0 espeticulo em uma ou empresa deverd ineluir no rote uado em uma. das snidades federativas incluidas no. Proto. 2.11 — Para 9 Projeto CENTRO-OESTE, de scordo com a anilse de custo’ do. orgamento apresentado, o SNT. poder Conceder' Patrocini cujo valor cubra também as despesae com fo transporte de material. 2.12 — As companhias sediadas em Sio Paulo que dese- 5 das capitis programadas, ‘mais 1 (um) municipio si transporte rodovisrio dos cendrios e passagens por via terreste para a compantia. 3. DA INSCRICKO 3.1 — Ao se imtereverem ot interesados deverdo apre- 8) requerimento contendo, obrigatoriamente: nome do re- Dresentante Tegal eo enderego. da sede da empresa, by 3 (eres) pias do texto. da. pect ©) atestado fornecido pela SBAT ou pelo proprio autor, fredenciando 0 requerente a encensr 0 texto: &) ficha técnica “do expetéculo, ©) curriculo atualizado da empresa ou de seus membros; 1) atesado de liberagio da pera: 8) orgamento. da excursio, consideradas as despesas de transporte de pessoal (leresre ou aéreo. a erterio do SNT), hospedagem © alimentacio.(especificando. 0. nl. rmero’‘de pesos de dlrs). No orgamento. nfo se- io consideradas as despesas relaivas a0 transporte de ‘material, com excesio do ctso do. Projet CENTRO- OESTE, item 2.11 dos Roteiros; hy registro’ da firma e respectiva.certidao; 1) atestado de quitagdo do Imposto Sindical da empresa; 4) comprovacio de inscrigio no ISS © CGC; 1 certficado de regulardade de situasio CRS/INAMPS; 1m) elagdo de teatros e respectivas datas de ocupasio; ‘8) c6pia em xerox dos documentos de. Identiade edo CIC dos’ representantes pela empresa 3.2 — Qualquer dos documentos referidos no item anterior, auando soreseiado em sia, deveré ear competent 3.3 — As empresas jé cedastradas no SNT ficam condicio- fnadas a apresenlar apenas os documentos que necestem afua- Tracte. 3.4 — 0 pedido de Patrocinio de que trata o presente EDITAL, deverd ser apresentado a0 Servo Nacional de Tea- to, Av.'Rio Branco a? 179 — 3° andar, n9 Rio. de, Jane tm Sio Paulo na sede do eseriério Jo SNT, & Rua Teodoro Balma n? 94" Vila Buargue. 3.5 — As imsrigdes para concorrer ao Patrocinio estarto sbertas a partir da data de assnatura do” presente EDITAL, S18 0 dia 31 de outubro de 1979. 4. DISPOSICOES GERAIS. 4.1 — Uma vez aprovado 0 plano de excursio ¢ estsbe- lecido' © seu valor, 0 Patroinio. sera concedido em 2 (duas) parcels) a saber: 8) 78 apés a atestagdo pola Coordensdoria Téenica do SNT do eumprimento’ do item 3 dete EDITAL, © da asinalura do’ Contrato a ser asinado. entre a8 partes para a concessbo do. patroinia; 1b) 2860 apds o cumprimento integral do plano de excursio apresentado, comprovado através de *bordereaux” ou ‘ertdao da’ SBAT ou de outra qualquer entidade ase- Imelhada;" a realizagio dos espetéculos exgidos pelo Projo; comprovagio do stendimento A Clsusula refe- rente a Divulgacio eda apresentapdo de utos de Cumentos, segundo normas exigidas pelo SNT" para. Prestagio’ do Service. 4.2 — 0 pagamento das parcelas acima discriminadas 56 seri feito mediante a apresentagdo pela empresa. palrocinada a respectiva, Nota Fical Je Servos 4.3 — As empresas em débito contratual com 9 SNT nfo poderio obser o Patrocinio prevsto neste EDITAL, 4.4 — 0 SNT, se notificado pelo Sindicato de Classe, sus- ender © pagamenio do Patrocinio & empresa que eativer em ‘Gébito. de ‘Slério ‘com profisional participante “do ‘espeticulo patrocinado. 4.5 — As empresas beneficiadss com 0 Patrocinio deverio fazer consiar de todo 0 material de vulgasio ulilizado, interno ‘ou extern. (publicidade, ‘cartazes, fachadas, programas etc), Felacionado com 0 espeiculo beatficiado como allo ¢- di: ante a realizacdo da excursio, os sequntes dieres: “PATRO- CINIO' ~'SERVICO NACIONAL DE TEATRO ~~ SEAC — Srgios do. MEC” 4.6— A empresa comprometerse-4 a apresentar espeticulos ‘com venda de. ingressos com abatimento para estuantes em {das as loealdades por “onde excursiona. 4.7 — 0 no cumprimento das exigéncias deste EDITAL «de qualquer das clausulas do ‘Contrato ser colebrado, implic ‘cara na inabiltagio da empresa para firmer novos compromis- ‘Sos com @ SNT, além de fear mesma obrigada a develver Jmportincia jé recebida, sob pena das sangles civis © penas. 4.8 — Os casos omissos serto resolvidos pelo Diretor do Servigo Nacional’ de" Teste. PATROCINIO DE EXCURSAO PARA ESPETACULOS DE. DANCA\ © SERVICO NACIONAL DE TEATRO DA SECRETARIA, DE ASSUNTOS CULTURAIS DO MINISTERIO DA EDUCA GAO, E CULTURA, faz. publicar para eonhecimento dos Fesados o presente EDITAL, que regulamenta, a concessio de PATROCINIO DE EXCURSAO is empresas para apresentagio Ge patios de DANCA no period de ¥ db seo 31'd> seem. (0 Patrocinio para, Fxcusio objetiva di de Danga em todo 0 Pais, no sentido de ‘de expectadores e contribuir para: 44) criagfo efetiva deum mercado nacional ma érea da Danga: 1b) a descentralizagio dos espetéculos, bem como o fort fesimento. das respectivas empresas; ©) a valorizagio do aspecto artistico da atividade na érea fa Danga: Para melhor rendimento econémico, as empresas deverto planejar, racionalmeate, suas eXcurs6es ‘Sera concedido amparo especial is empresas que se dispu- serem’ a aleangar as repides mais distantes do interior do Pals. 1. DO PATROCINIO; 1.1 — 0 presente EDITAL visa conceder recursos finan- cvios para eostesr parte da eslada, alimentagio e transporte dos Dallarinos e pessoal teenico das empresas beneticindas com o Pa- ttocinio, durante 0 periodo em que excusionarem, assim fixadox TeI1 — 80% (otenta por cento) do total do oreamento ‘aprovide para o transporte dos balarinos e pessoal téenico. 1.1.2 — 60% (sessenta por eento) do total do orgamento provide para a estada e alimeniagdo. da. companhis, 1.2 — As empresas concorrentes 20 Patrocinio de que tata ste EDITAL 36. poderio Iniciar as excursGes pds a aprovagio fo pedido, bem como sssinatura do Contrato para a concessio ‘do Patrocinio. 1.2.1 — No exame das propostas visando a concessfo do Pateocnio, 36_serio considerados para os fins de aprovasio do Drgamento, até'o mimo de trés tecnicos. 1.3 — Toda e qualquer despesa decorrente da excursio € 4a relizagio dos espeticulos, sera de responsabiidade exclusiva {to potrocinadoy a quem & Yedado 0 uso do nome do SNT ou de Guttos Gres do. Ministerio da, Educosto e Cullura para a ‘contatagio de servigos ou compra de materia ftlos 8 popularizasdo da, Danga, view tamk ftumento. dg mercado de teabalho, Propiciando que um espetaculo fem sucedido numa’ praga.possa ser visto por outras, 0 Patro- inl ‘de que tata este EDITAL seré concedido analisando-se 0 ‘vel antsco do espeticulo, bem como 0 aspecto de preferéncin do piblico, 1.4.1 — A fim de que oos aspectos acima_mencionados posta ier avalados, farce nevessario que 0 espeticulo con- corrente a0 Patrocfnio tenha realizado apresentagées regulares na tidade' de origem 1.5 — 0 Patrocinio seri, concedido analisando-e os crté- tos ji mencionados, a ficha téenien do espeticulo eo curricula de empresa 1.6 — & permitido as empresas beneficiadas com o Patro- cisio de que ala este EDITAL pletear auxii, inclusive funceiro, felativo a parte do orsamento no patrocinado pelo SNT, nts Tocaliades por onde excursionarem 2. DOS ROTEIROS Para a habilitagio, de que tral de viagem serdo clasificados como: 4). Projeto SUL; ) Projeto NORTE:NORDESTE; ©) Projeto LESTE-NORDESTE; 4) Projeto CENTRO-OESTE; {e). Projeto CENTRO; £)Projeto BRASILIA. 2.1 — 0 Projeto SUL compreenderé os roteiros que in- cluam, além Gas. capiais dos Extador do. Rio Grande, do. Su, SantaCatarioa e Parang municipios deatre” os Estados me fonados, desde que haja condigGes técnicas para a realizasio dos espettlos 2.2 — 0 Projeto NORTE-NORDESTE compreenderé os r0- teiros “que incluam capitis dos Estados do Amazonas, Para Maranfto, Plauiy Ceara, Rio Grande do. Norte, Paratba’e mic ‘ispios denize ot Estados mencionados, desde que haja condigtes téenicas para a realizapio dos espetiilos. 2.3 — 0 Projeto LESTE-NORDESTE compreenderi os r0- teiros que incluam as capiais dos Estados do’ Espirito Santo, Tabla, Alagoas, Serpipe, ‘Pernambuco e municipios dente 0s Exiados mencionados, desde que haja condigdes téenicas para a realizagéo dos. espeticulos. 2.4 — O Projo CENTRO-OESTE compreenderi os rotei- ros qi inciuam Brasilia a capitals de’ Gols, Mato Grosso do Norte, Mata Grosso do Sul, Acre e Territério’ de Rond6nia, 2.5 — O Projeto CENTRO. compreenderd os roteios que inclaim, além de’ Brasilia, a8 captais dos Estados. de Minas Ge- ‘nis, Glas © municipios dentre essas unidades federaivas. Ser onideradas, para efelto de. contagem acima, as cidades caté- lites do" Distrito Federal 2.6 — O Projeto BRASILIA compreenderi realizagfo de ‘espeticulos em Brasilia e, no minimo, numa. das cidades saté- fies ‘desde que haja ‘condigdes téenicas favordvel '2.6.1 — Visando incenivar uma maior atividade artistica « caltral na Capital da Repdblice, as companhias que optarem flo. Projeto BRASILIA receberio’Patrocinio integral referente fstaday hospedagem ¢ transporte dos atores © pessoal tGenio, 2.7 — Durante os dias em que permanecerem em, Bras para a rellzagio. dos espeticulos pelos Projetos “CENTR¢ BESTE efou CENTRO, a compahias receberio, Patrocinio integral para custst” as didrine com esavae alimentagio da ‘este EDITAL, os roteiros 43 44 ‘companhia desde que realize 0 espetéculo numa das cidades sa- ‘ales 2.8 — A empresa podeth propor roteiro abrangendo mais ‘de um Projeto. 2.9 — A empresa se obrign a apresentar ot espetéculos nos locals programados de’ modo m cumprt sempre o numero Je preseniagdes cortespondentes a0" Projto elaborado. 2.10 — No caso de impossihilidade comprovada de apre- sentar 0 espeticulo em uma ou mais das capltas prosramadar, 4a empresa deverd incluir no" tote mais (um) municipio Sinuado em ‘uma das unidades federativas incluilas ‘no Projeo, 2.11 — Para © Projeto CENTRO-OESTE, de acordo com 2 andlse Ge custo’ do. orsamento 3 © SNT poters onceder’ Patrocinio cuje valor cubra’ também as despesas com ‘© transporte de material, 2.12 — As empresas sediadas nos Estados de Séo Paulo, Rio ‘de Janeiro, Parand, Santa Catarina, Rio. Grande do’ Si, ‘Minas’ Gerais, Bahia, Pernambuco e Disrito Federal que’ dese Jurem obter Palrocinio para. apresentar seus espeticulos na ci- ‘dade’ do Rio de Janeito' e/ou Sto Paulo, somente terdo auilio. ‘para transporte rodovidrio dos cendtios ¢ passagens por via te. Festre para a companhia. ‘Tratando-e de temporada em teatro ‘de grande capecidade, com duragdo mésima des (Its) semanas ‘com ingressos a. pregos populates, podetdo. set beneficiadas com unio que. abrangers. também as dirias de hotel, de acordo ‘Com 0 que estabelece o item 1-1-2. 3. DA INSCRICAO 3.1 — Ao se inscreverem os intressados deverio apresen- a »» ° ® 2 5 requerimento contendo, obrigatoriamente: nome do re- ‘resentame legal e 0 cndereso da sede da empress; S"Gats) copias do prosrama apresentado. na. excurso: ‘estado. formecido pela SBAT. ou. pelos CoreSeraton, ‘redensiando 0 Tequerento a encenar on Bales ficha ténica do expeticul:, currculo atuallzado da empresa ou de seus membros: frgamento da excusio, consideraday. as dspests de ansporte de pessoal (ercsre 00 agreo. a emer Jo SN), hospedagem alimentagSo.(epecitcando 0 mi ‘erode pesoun ee diarias) No ersamento ado serio. comsideradas as despess > Iativas ao tansporte de material, com excepia' Jo cas0 do Projeto CENTRO-OESTE. (item 2-11 dos Roteton); feintro. da firma e respectiva certiito; estado ‘e_aaio J mpong Snal da empress ") comprovssio de inicio no TSS © }) serifiado’de regulate de situagso CRS/INAMPS: 1) felagio de teatro e respectivas datas de ocopay Spi em. xerox vos documentos de Tetidade © GiC" don representantes pela empress, 3.2 — Qualguer dos documentos referdos no item anterior, ‘quando. apeesentados em copia, deverd estar compeentements Senticad. 3.3 — As empress jé cadastradas no SNT fim consiio- nadas spresentar apenas os documenton be Decssitem ata sto. “to 3.4 — 0 pedido de Patrocinio de que tata o presente EDI- TAL, “deverd. ser apresentado a0. Servigo ‘Naciondl de ‘Teatro, Av. "Rio Branco. n¥"179 — 3°"andar, no Rio de Janeiro © em ‘fo Paulo na sede do escritério do SNT, a Rus Teodoro. Bima 1? 94 — Vila Buargue. 3.5 — As inserigves para concorrer a0 Patrocinio estario aberias a partir da data de"assnatura do presente EDITAL, até ‘odin 31 de outubro: de 1979. do Patocinio, dependendo esta So exame © aprovagio geral por parte do SNT. 4. DISPOSICOES GERAIS 4.1 — Uma vez aprovado 0 plano de excursio ¢ estabele- ido 0 seu valor,"0. Patrosinio sera"concedido em "2" (ass) Parcels, a saber? 2) 73%. (ctnta aco por, cenio) do, valor cone, le a apresentagio, 2 documentagao ext {ids no item'3.1 deste EDITAL, eda sssinstura do. Contato av ser ‘assinado entre "at partes para a cow exssio do’ Patrociiot 25% (vinte © cinco por cento) apés o cumprimento ‘do plano de excursio apresentado, comprovado, através de Fordereaux” ou certiio da SBAT ou de ‘outra_ qualquer entidade assemethada: realizasl0 dos ‘expetictlos exigidos pelo Projeto: comprovagio Go atet~ ‘imento % clausula Feferente Divulgagio’ © da pre. ‘entagio, de outros documentos, segundo as normas ex aidas pelo SNT para a Prestagio Ue Servgo, 4.2 — © pagamento das parcelas acima disriminadas 36 seré feito mediante a apresentagdo. pela empresa patrocinada. da respectiva Nota Fiscal de Servigon, 4.3 — As empresas em débito contratual com o SNT aio poderio obtér 0 Patrocinioprevsto neste EDITAL 4.4 — 0 SNT, se notficado pelo Sindicato de Classe, sus: eocinlo 4 empresa que estiver em » 4.5 — As empresas beneficiadas com o Patrocinio deverio fazer ‘ont ‘de “od, 9 terial elgg ‘rao, in temo ou extemo (publicidad, cartus, fachadas, programas tc), relacionado com 0 espeticulo beaeticindo com @ ‘durante a realizaglo da excursio, os seguines.dizeres: PATRO- CINIO DO'SERVICO NACIONAL DE TEATRO — SEAC — Orgios do MEC” 4.7 — 0 no cumprimento das exigéncias deste EDITAL ede ata le do Conta ser elbrado im Dilisard’ na inablitagdo da ‘empresa para firmar novos compro- Imissos com 0 SNT, além de fiat a mesma cbrigada a devolver 2 importineia jf reeebida, sob pena das sangGes civis © pens. 4.8 — 0s casos omisios serio resolvdos pelo Ditelor do Servigo. Nacional de Teatro. MOVIMENTO TEATRAL Jutho/Agosto/Setembro = 1979 ‘TEATRO CACILDA BECKER Mae do Maso, de Hector Grillo. Diresio fe Mauro Cesar e Ari de Oliveira, com (Catso Baqull, Grace Alves, Mauro 'Cesat f outros. Ingiessos: C¥8 30,00 Fondo e Lis de Fernando Arrabal. Di. ‘regio 'de Rubens Correa, com Betina Via- By, Marcus. Alvis, Alby Ramos e outros Ingressos: CxS 500, ‘TEATRO DA CEU Mew Companeiro Querido, de Alex Po lari Diregeo’ de ‘Amir’ Haddad, com Ste- pan Nereessan e Roberto Nascimento. In- Bresson: C18 60,0. ‘TEATRO COPACABANA, Tem Um Pacanaliva na Nossa Coma, de Joio Bethencourt, Diregio do. autor, com Soely Franco, Felipe Wagner ¢ Nelson Ca- uso. Ingressos: Cr8_ 150,00, ‘TEATRO DULCINA Murro Em Ponta de Face, de Augusto Boal Direcdo. de. Paulo José, com Othon Basos, Yarn Amaral, Ada Chaseliow, Re- rato Borghi e outros. Ingressos: Cx$ 100,00. TEATRO DA GAVEA As Hienas, de Bréalio. Pedroso. Diregio de. Sebasiéo Lemos, com Mateeio Picch, Margot Buird,"Joto Elias © outros. In: sressos: Cr$ 100,00. Se Eu Néo Me Chamasse Raimundo, de Fernando Melo. Directo de Mateo “Anto- io. Palme com. Mauricio Lessa, Ana ‘TEATRO GINASTICO Lola Moreno, de, Bréulio Pedros, Dite- | (lo de Antonio Pedro, com Lucclia San- fos, Nei Latorraca, Grande Otel e ou twos, Ingresos: Cx3 150,00, ‘TEATRO GLAUCIO GIL © Fado ¢ A Sina de Mateus ¢ Catling, Se Benjamin ‘Sinton, Diregio de Ces Thiré, com "Tete Medina, ‘Tania Alves, ‘TEATRO GLAUCE ROCHA Mitério Bufo, de Buza Ferraz ¢ do Gru- po Iaz0-Corsgio. Diresio de Buza Fer- Pax, com Anat Prstes, Ariel Coelho, Gil- 42 Guithon, Saraka. Barreto ¢ outros. In- pesos: "C18. 80,00. ‘TEATRO GLORIA Agul ¢ Agora, de Mitio, Brasni. Diregio Ge Cock Thité, com Mario Brasini, Andre Vion @' Tereza -Amaye. Ingressos: cs 30.00 Sinal de Vida, de Lauro Cesar Muniz. Di fegio de Marcos. Paulo, com Gracindo ior, Marita. Severo, Cidinha Milan (Outros, Ingressos: Cr8" 200,00. TEATRO JOAO CAETANO © Rei de Ramos, de Dias Gomes, Dite- 0. de Flivio. Rangel, com Paulo Gar Einco, Felipe Carone © outros. Ingress: Gr is0,00. ‘TEATRO IPANEMA Prometen Acorrentado, de Esquilo. Dire- fo de Wan de Alboquerque, com Ru- bens Correa, Xuxa Lopes, Leila Ribeiro e*outros. Ingress: C8 80,00. TEATRO DA LAGOA. Mas Quem Nao €, de Chico. Anisio, Di ego. de Paulo Afonso Grisoli, com Nes- for de Montemar, Julio Braga © outros Ingressos: Crs ‘TEATRO MAISON DE FRANCE Quem Tem Medo de Virginia Wolf, de Edward Albee. Diregso de Antunes Filho, com Raul Cortez, Lilan Lemmertz ¢ ot- {Woe Ingressos: ‘CxS 150,00. ‘TEATRO MESBLA Investgegdo Na Classe Dominante, de Priestley. Drogo de. Flavio, Rangel,’ com Leonardo Vilar, Nathalia’ Timbere, Jonas Bloch e outros. Ingressos: Cr$_ 150,00. Festival de Ladrdes, de Joo Bethencourt sressos: Cr¥ 150,00. ‘TEATRO OPINIAO Mural Muther, de Yoio das Neves. Dire (0 do. autor, com Tva Nino, Ana Cris- fina, étima "Maciel «outros. Ingress: Ge" 12000. ‘TEATRO PRINCESA ISABEL A Cale, de Cask Steinheim. Diteso de ‘Maurice ‘Vaneau, com Oswaldo Loureiro, Italo Rossi, Jacqueline Laurence outros: Ingress: C$ 150,00, ‘TEATRO DOS QUATRO Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Fi Iho. Diregho de Nelson Xavier, com Ser- ‘io. Brito, Tonico Perera, Nildo Parente {outros Ingressos: Cx8 150,00. ‘TEATRO SENAC Unkas e Dentes, de Micheline Bourday. Ditegio ‘de Luls Carlos Ripper, com Be Jn Genauer, Thelma "Reston, ‘Thais Por- tinbo e Maria Lucia Dabl. Ingressor CxS" 150.0, ‘TEATRO VILLA-LOBOS Pato Com Lorania, de_ Wiliam Douglas Home. Diregio de Adolfo Celi, com Pa Jo Autran, Matilia Pera, Denis Carvalho © ‘Outros. Ingress: Cr8 150,00, 45 ‘TEATRO VANUCCI Palkecos de Ouro, de Neil Simon. Dire- ‘io de Claudio Corres e Castro, com Jai Ime Barcelos, Older Cazarré, Ivan Can ‘ido ¢" outros. Tngressos: C$ "200,00. OUTROS ESPETACULOS Em diversos locals foram spresentados ‘os seguintes espeticulos: MeiaSola, de Bené Rodrigues; Cara a Cara, de os Rodrigues; Teatro de Aber tua Lilia, pelo Grupo TAL; Contrapon- fo, de José Maria Monteiro; Hora’ dos Ruminantes, de J. 3. Veiga: Nadim, Nox inka Contra'e Ret de aleve, de Mario Brasin; Condélia Bras, de Antonio Bivat: Alice Fantasla Dramatica, de Marcio Mel- ‘elle; Palomares, de Ana Mavia Ato Nina C'Et Autre Chase, de Mich anaver; O Borrdo da Paluagem, de Ze2é Ge Imeox; A Invasdo, de Dias. Gomes; Séeulo AT, de. Maria’ Luiza Prates; Auto do Lampiéo No Além, de J. Gomes Campos: Analg, pelo, Grapo Pasiana; Valsa n? 6 Ge" 'Neison ‘Rodeisues; -Alzra Power, de ‘Antonio Bivar: Grea Garbo. Quem Dire Acabow no Tray de Fernando Melo; Luz nor Trevas, de ‘Bertolt Brecht; Apasa. a Inc, ‘de Eraldo Santos Delle: Golpe de Status, de Clon Campos; 0 Cao Slames de Altira Power. de Antonio Bivar: Boca de Ouro, de Neloon Rodrigues; 0. Rio Amar nheceu Sangrando, de Gilvan Javan. ‘TEATRO INFANTIL Eniveram em eartar as seguintes peyas Deseulpe se Incomodamos, Mas Estados Trobathando para Embelezar a Citde, pelo Grupo Solus de Teatro Estodanl ‘Apenas Um Conto de Fadas, é¢ Eduardo ‘Tolentina. Dancin Show de Eduardo Roessler. A Fabulosa Fabula A Cigarra eA For- ‘niga, de Mério Paris PapoDe-Anjo, de Ricardo Mack Fil Bumbo, Violdo, Violino Também, de Car- Ite” Marchon. © Cavalinho Azul, de Maria Clara Ma- Shade. Maketu Mukutu, de M. Cena © Ligls Mdsico, do Luiz Sorel. 46 0 Guerreiro de Prat, de Iremar A Menine ¢ 0 Vento, de Maria Clara Ma- Shade. Kakarelo Boneko, de M. Cons. Maria Minhoca, de Maria Clara Machado. Chapeuzinho Vermelio, de Roberto de Gastro Joaozinho ¢ Marla na Casa da Brixa, de Init Pinheto, Ennio, Sci ¢ Visconde Contra Asterix, 0 Gaules de Wiliam Guimaries. Bernardo ¢ Bianca e a Bruxa Atémica, de | ‘Carlor Nob. Branea de Nove e Os Sete Andes, de Os waldo Ferra © Patino Felo, de Jair Pinheiro. Zé Vagdo da Roda Fina ¢ Sua Mae Leo. potdina, de Silvia Orthoft Era Uma Vez... Um Urso, pelo Gropo Piratas a Lona, As Trangas de Ibaé, de Beto Coimbra © ‘Ricardo Hows. © Pardo Miserioso, de Benjamim San- tos Uma Plade de Sorte, de Alice Rei. ra Una Vez Una Gate, de Wion Ser io. Carval Wet fapatOOap 1a Ase Fernandes, Bezerra 0 Que Fazer Com a Flor?, de Marco An tonia. Carvalho Panclandia, de Alsiandro Bedotti. | Folia Dos Trds Bois, de Silvia Ortoft 0 Velho Mar, de Wanda Bedean. Maria Gente Fina, de Lupe Giglioti. Fala Pathoco, pelo Gropo Hombu. gem ao Faz de Con de Water Qos | Circo © Mundo, de Antonio Bernardo. Quem Tem Medo de Careta, de Wilson Rocha. Miica de Madonépolis, de Ire- | Teseu e€ Minotauro, de Sylvia Heller. No Pais dos Prequetés, de Ana Maria Ma | chad, Bloco da Palhora, pelo Grupo Bloco da Patinoga Textos 4 disposigao dos leitores na Secretaria dO TABLADO Aman-Jean AAnéaimo Anti ‘Anonimo (séeulo XV) Andrade Oswald ‘Attabal Fernando Doarros Almeida Inés Bacco, Settmell,Marinett Borges J, C. Cavalant Prandto. Raul recht Bertolt CCabrujas, José Yendcio Casona Aiefandro Cervantes (Cocteau Jean ‘Checov Anton Franca Jonior Garcia Lorca Gheiderose Gheon Henri Kotoschkn Oska TEabiche Eugtne Macedo J." Manvel Machado’ de Assis Machado M.C. Marinho Lue Martins Pena Mactertinck Millor Fernandes Monteiro. de Arado Carmosina O'Neil, Eugene Pirandello, Ll OarpoSato Racine Silveira. Sampaio Strindberg August Synge J.M. ‘Tondiew Jean al Viren Vian, Boris Yeats Wedekind Frank © Guarda dos Péssaros Mesine Pedro Pathelin O'Posteléo «0 Torte Todomundo A Morta Guernica Piguenique ro Froni OvTogo da Independencia Teatro. Pucturista Em Figura de Genie 0" Doido'e 9 Morte A Excecdo ¢ a Resra quete que diz Sim, dar Quanto Custao Ferro O' Mendigo to Cultural Parse do Mencebs 0 Tribunal dos Divérios © Retdbulo das Meravithos Edipo Rei 0 ube Or Males do’ Fumo Meidita.Parentela ‘imorde D. Perlingiim co lisa em se Jari Os Copos 4 Via Sacra Assasino Esperance das Mulieres 4 Gramdiice © Novo Orelo Ligdo de Botanica Nao: Consults Medico Os Embrathos As Incerferéncias Umm Tango Areentino OF Viajantes 4 Derradeira Cela © Calxera da Taverna © Inglés Moguinsta 4 Inerwse Do Tamanks de um Befanio Bumbermew-Bot Chica da Silva Antes do Cafe. omen do lon cs Mateus & Mateuso Os Advogados «ous 85 0° Farad tem’ Alina Treco nos Cebor A Mais Forte 0s Credores 4 Sombre do Viajantes para 0. Mer Converszo’Sinfonieta Um Gesto por Outro Morte Newval ma Force Consrurores de" Império 0 Unico Chime de Emer 4 Morte ¢-0 Dembnio ‘ue ie sansegnaenssasee 41 48 INDICE A Nova Técnica da Arte de Representar — B, Brecht Teatro do Absurdo , Exercicios para o Ator 1 — L. J. Dezseran ... Exercicios para o Ator Il — L. J. Dezseran Textos para estudo — Rubem Fonseca . © Tainel — Paer Lagertvist . A Noite — Harold Pinter Fala comigo doce como a chuva — T. Williams A Dama da Bergamota — T. Williams Dos jornais: Encontro das Américas, Robert Witkim Noticias do SNT Movimento teatral (Colaboraram neste némero: Thais Balloni, Sergio Britto, Rubem Fonseca ¢ Maria Vorliees) 10 13 15 2 27 28 32 35 al 45 A venda na Secretaria d'O TABLADO = CADERNOS DE TEATRO Autora: Mania CLARA MACHADO Clarinha na Tha 0 Cavalinho Azul 90,00 70,00 Embarque de Noé (misica-gravagio) . 100,00 © Patinho Feio (mésica-gravacio) ... 100,00 CARTAZES . 10,00 assinatura anual (4.0%)... 100,00 Estas publicagdes poderio ser pedidas & Secretaria dO TABLADO mediante pagamento com cheque visado, em nome de Eddy Rezende Nunes — O TABLADO, pagivel no Rio de Janeiro. Em caso de vale postal, 0 mesmo deverd ser remetido & agéncia dos correios do Jardim Botinico - RJ, sem- pre em nome de Eddy Rezende Nunes. Impresso pela Gririca Eotrora po Livro Lipa.

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