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Violao01 PDF
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VIOLAO
Quaternaglia
O quarteto fantástico fala sobre
a carreira e o novo álbum
E mais:
Viola Caipira: Escalas duetadas e a escuta
Flamenco: rasgueados de dedos
Cordas de aço: baixo alternado
Arranjo exclusivo: “Eu Sei Que Vou Te Amar”
Como estudar: posição da mão direita Ano 1 - Número 1 - Setembro 2015
“Tirar” de ouvido: arte ou técnica? www.violaomais.com.br
Luis Stelzer
Editor-técnico
16 40
História How to
study
22 43 Violão
Quaternaglia brasileiro
4 46
On Steelmaking
schedule
49
8 Em grupo
Point of
view 52 Violão
36 Popular
10 Flamenco
Where does 54
my guitar Coda
play? 38
By ear
14
32
Vitrine
World
34
Guitar
rustique
SETEMBRO
At age 60 - three decades after
having traded Rio de Janeiro for
New York - Romero Lubambo has
just released his third CD by the
prestigious Sunnyside jazz label.
The new solo album (acoustic
guitar and electric guitar) bears the
title of September -The Brazilian
Under The Jazz Influence is
presented by the label as "a
fabulous auditory portrait of a
musician who bridges the gap
between jazz and Brazilian popular
music, and between acoustic guitar
and electric jazz guitar." Lubambo
[and considered one of the largest
and most requested or the planet.
DISCO E TURNÊ
O bandolinista Hamilton de
Holanda propõe uma travessia
musical em seu novo álbum, Pelo
Brasil. O projeto exalta alguns
dos mais representativos ritmos
brasileiros, como o choro, o baião,
o maracatu, o samba, o bumba-
meu-boi, a moda de viola e o
chamamé. Pelo Brasil também é um
espetáculo interativo que mistura
música, textos e projeções, em
que o músico mostra um repertório
baseado em composições autorais
inéditas e possibilita ao espectador
uma experiência singular, como
no momento em que ele cria uma
música ao vivo.
VIOLÃO+ • 5
EM PAUTA
CONQUISTA
Há tempos os músicos de choro do Estado de São Paulo não se orgulhavam tanto. Na
reinauguração do antigo e (agora) reformado Teatro Arthur Azevedo, no bairro da Mooca,
no dia 21 de agosto, o público ouvia atentamente as interpretações de Izaías e Seus
Chorões no show Chorando São Paulo, momento histórico para celebrar a conquista de
um espaço destinado não apenas ao choro, mas a todas as artes, consagrando-se como
sede dos chorões. Por meio da Prefeitura Municipal e da Secretaria de Cultura de São
Paulo, os instrumentistas de choro tiveram a glória de inaugurar sua nova sede. O Clube
do Choro de São Paulo terá como sede o Teatro Arthur Azevedo e suas atividades se
espalharão por pontos da grande São Paulo. A ideia é descentralizar as ações, levando
a cultura do gênero choro à população. Haverá também, nesses pontos específicos,
aulas de música voltadas ao gênero, workshops e palestras. (Fabrício Rosil)
6 • VIOLÃO+
você na violão+
Como participar:
1. Grave um vídeo de sua performance.
2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de
transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.
3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço editor@violaomais.
com.br
4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+,
com direito a entrevista e publicação de release e contato.
www.teclaseafins.com.br
Teclas & Afins oferece três opções
& AFINS
VIOLÃO+ • 7
ponto de vista
Sobre o ensino
Fabrício Rosil
As iniciativas particulares e os patrocínios buscam preencher uma
lacuna existente no desenvolvimento de uma sociedade mais sensível
e reflexiva. Mas será que isso basta?
VIOLÃO+ • 9
onde meu violão toca Por Luis Stelzer
Musicoterapia
A atividade que utiliza a música como forma de promover a
qualidade de vida das pessoas atua como auxiliar na terapêutica de
diversos distúrbios físicos ou psicológicos
10 • VIOLÃO+
onde meu violão toca
que trata a área? Está mais ligada à
música ou à psicologia?
A Musicoterapia não está diretamente
vinculada nem somente a música
nem a psicologia. Pode-se dizer que
a Musicoterapia é uma profissão
transdisciplinar, pois emerge do
entrelaçamento de diferentes saberes,
especialmente daqueles que dialogam
com os campos das artes e da saúde,
mas transborda tais conhecimentos,
construindo um novo campo de saber,
que passa a apresentar características
próprias que a delimitam e a diferenciam
de outras áreas que têm a música ou Priscila Bernardo Mulin: musicoterapeuta
a saúde como objeto de investigação
e ofício. Então, podemos dizer, que a de forma multidisciplinar, ou seja, cada
Musicoterapia é uma profissão da área área isolada em que há uma somatória
da saúde que favorece a experiência de conhecimentos.
musical e sonora a fim de promover
a qualidade de vida das pessoas. Ela Violão+: Como são as principais
também pode ser utilizada em diversos formas de sessão?
tipos de tratamento de saúde e na Costuma-se dividir as práticas da
reabilitação de doenças. Parte-se da utilização desse tipo de terapia em
premissa de que os elementos sonoro- duas grandes vertentes: a receptiva
musicais são suscetíveis a promover e a interativa. No primeiro caso, o
mudanças no indivíduo, influenciando musicoterapeuta proporciona ao
todas as suas capacidades: sensorial, cliente/paciente experiências de
motora, mental, afetiva, criadora, audição musical. Já na musicoterapia
musical propriamente dita, estética, interativa, enfatiza-se o fazer musical,
cultural e social. O musicoterapeuta é assim o cliente/paciente se expressa
um profissional que se forma em um por meio de instrumentos musicais,
Curso de Graduação em Musicoterapia, atividades corporais, canto e de toda
obtendo a titulação de bacharel em gama de expressões não-verbais, por
Musicoterapia. A matriz curricular desse experiências de recriação, improvisação
curso é híbrida por natureza, por conta musical e de composição. A escolha
da própria característica do surgimento das experiências musicais a serem
interdisciplinar da profissão. Conta favorecidas varia de caso a caso e
com disciplinas que abrangem três do objetivo clínico específico, afinal
grandes áreas: Científica, Artística e cada pessoa se expressa e percebe
Sensibilizadora. Tais áreas, no entanto, a música de forma própria. É o que
não podem ser consideradas apenas chamamos de identidade sonora. Essas
VIOLÃO+ • 11
onde meu violão toca
processo terapêutico, que se constitui
ao longo de sessões periódicas com
objetivos pré-determinados.
Rimpitch-C
O Rimpitch-C é um afinador
para ser usado no bocal do violão,
proporcionando ângulo de visão conveniente,
pois o músico pode vê-lo dentro de um ângulo natural
de sua visão, porém fora do alcance dos olhos do público.
O equipamento pode ser instalado em bocais com diâmetro
de 100 mm +/- 3 mm, permitindo que se encaixe em uma ampla
variedade de violões. Há um gancho que o impede de cair e, como
a parte que encosta no violão é feita de borracha, não há perigo de arranhar
o instrumento. O Rimpitch-C suporta afinação cromática, permitindo afinar em
qualquer escala e tom. O captador tipo piezo tem extensão de detecção de E2
(82.41 Hz) a E7 (2637.02 Hz). A função de calibragem permite ajustar a afinação
de referência em uma extensão de 238 - 445 Hz, suportando uma variedade de
afinações de concerto. Como adicional, o transporte e o armazenamento são
mais convenientes pois o músico pode deixar o afinador preso ao violão.
14 • VIOLÃO+
VITRINE
GS-55
A AlltechPro traz para
o Brasil o suporte para
violão GS-55, da Ultimate,
com sistema de trava patenteado.
O equipamento mede 31,10 cm
de altura aberto e 8,9 x 35,6 cm
fechado, em apenas 0,710 Kg, o que
garante facilidade no transporte.
AllTechPro – www.alltechpro.com.br
VIOLÃO+ • 15
história Por Rosimary Parra
Antecedentes históricos
do repertório violonístico
A música para violão é sempre muito atraente não apenas para
aqueles quesão apaixonados pela arte de tocar esse instrumento,
mas também para muitos apreciadores não violonistas que se
encantam com o refinamento dos repertórios renascentista e barroco
Para aqueles que têm alguma violonístico abrange obras que vão desde
familiaridade com o universo o século XV, com os compositores do
violonístico, é fato que, em alguma Renascimento, passando pela música
conversa sobre música para violão, Barroca e a música Clássico-Romântica,
surgirão referências brasileiras como até a produção contemporânea.
Dilermando Reis, Garoto, Américo Cabe lembrar que o violão com as
Jacomino e Baden Powell. Mas, logo características físicas com as quais é
virão outras lembranças, como um conhecido surgiu no fim do século XIX,
prelúdio de Bach, um estudo famoso de construído pelo luthier espanhol Antonio
Fernando Sor, uma peça do inglês John Torres Jurado (1817-1892). O violão de
Dowland ou, ainda, algum tema com Torres apresentou inovações em sua
variações de Narvaez. Dessa forma, construção que ainda hoje são seguidas
entendemos que o repertório tradicional pelos luthiers, como comprimento de
corda vibrante, dimensões do corpo do
instrumento, utilização de leques (tiras
de madeira) na parte interna do tampo
e o uso da cravelha mecânica.
Portanto, a música anterior a meados
do século XIX que se toca ao violão
foi, em grande parte, originalmente
criada para outros instrumentos de
cordas dedilhadas, alguns da família
das guitarras e alguns da família dos
alaúdes.
No período medieval, estiveram
presentes os alaúdes de menor
tamanho e uma variedade de outros
instrumentos de cordas dedilhadas dos
Iluminura: guitarra mourisca e guitarra latina quais não se tem muitas informações.
16 • VIOLÃO+
história
VIOLÃO+ • 17
história
Baroque guitar
T he baroque guitar has five orders, four
pairs of strings and a simple string. The
tuning follows the same pattern of the
guitar: La, Re, Sol, Si, Mi. The higher
strings, in pairs, are tuned in unison. The
use of sharp strings in place of the strings
generates a very different sound from the
guitar.There are also other playing were
used the terms viola da braccio, viola
da gamba and viola de mano (in
Spain, "vihuela de mano"). Related
composers: Luys Milan, Luys de
Narvaez, Diego Pisador, E. de
Valderrabano, Esteban Daza and Alonso
Mudarra, among others. Repertory: the
music publications for vihuela
contemplate the solo repertoire and
music for singing and vihuela. The
vihuelístico repertoire presents extremely
refined contrapontística music linked to
the Franco-Flemish tradition of the
composers of vocal polyphony of the
time. Possibilities, for the use of
borders and tuning in octave or unison,
according to the repertoire to be
played. Related composers: Gaspar
Sanz, F. Guerau, Robert de Visée and
Santiago de Murcia, among others.
Repertory: Baroque guitar has a large
solo repertoire, but is also used in the
accompaniment function to perform
continuous bass in small camerísticas
formations or, working alongside the
harpsichord or other stringed
instruments strummed in baroque
orchestra.
Hand Vihuela
This vihuela de mano has six orders,
five pairs of ropes and a single rope.
The tuning pattern is the same as for
the Renaissance lute. The interval
between the strings follows the
following pattern, from the most severe
to the most acute: 4th, 4th, 3rd, 4th,
4th. It is known that there were
vihuelas of varied sizes and hat,
therefore, they could sound more
serious or more acute maintaining this
relation of intervals between the ropes.
The origin of vihuela also has a
connection with the violas family.
Alaúde: variedade
VIOLÃO+ • 19
história
Repertoire
Currently, in Brazil, there are some
luthiers who dedicate themselves to
the construction of ancient instru-
ments of strings strung. The possi-
bility of acquiring copies of period
instruments and playing them
extended the musical approach of
the repertoire of old music also to
the guitar. There are many treaties,
methods and other publications in
similes available on specialized
websites. Some names of the
strings, such as Hopkinson Smith,
Jose Miguel Moreno, Nigel North,
Paul O'Dette, Jacob Lindberg, and
David Starobin, made relevant
recordings regarding a historically
informed interpretation. It should be
borne in mind, too, the importance
of the Spanish guitarist Emilio Pujol
(1886-1980) - who rescued the
music for vihuela incorporating it
into the guitar repertoire - and also
the recordings and performances of Emilio Pujol: o redescobridor da vihuela
English guitarist Julian Bream to the Such historical records encouraged other
lute in solo interpretations or in guitarist performers to search, to know
chamber groups formations.
and to play the music for ancient
instruments of strings strung.
20 • VIOLÃO+
CD-60 CE
CLASSIC DESIGN SERIES
/FenderBrasil www.fender.com.br
matéria de capa Por Luis Stelzer
Quarteto
Fantástico
Alguns dias depois do concerto de
lançamento do novo CD, Xangô, no Sesc
Pinheiros, em São Paulo, o Quaternaglia
recebeu o editor da Violão+ para uma
entrevista, que se transformou em um
gostoso bate-papo sobre música, trabalho em
grupo, turnês, equipamentos e muito mais
quaternaglia
O Quaternaglia Guitar Quartet (QGQ), Abdalla e Sidney Molina, o quarteto tem
referência na música do Brasil, tem sido percorrido o mundo se apresentado em
aclamado como um dos mais importantes cidades como Nova York, Chicago, Los
quartetos de violões da atualidade, Angeles, Dallas, Lisboa, Porto, Buenos
não só em nosso País, mas também Aires e em mais de 15 estados brasileiros,
no exterior, tanto pelo alto nível de seu além de ministrar masterclasses e
trabalho camerístico quanto por sua palestras a convite de instituições como
importante contribuição para a ampliação Universidade de Yale, Jacobs School da
do repertório. Em mais de vinte anos Universidade de Indiana em Bloomington
de atuação, o grupo vem apresentando e Conservatório de Coimbra. Em 2013,
obras originais e arranjos audaciosos o Quaternaglia apresentou o Concerto
que inclui colaboração com compositores Itálico, de Leo Brouwer, sob a regência
como Leo Brouwer, Almeida Prado, do compositor, no Teatro Nacional de
Egberto Gismonti e Paulo Bellinati. Havana (Cuba) e, em 2014, estreou no
Essa produção está disponível em CDs Festival de Woodend, na Austrália.
- Quaternaglia, Antique, Forrobodó, Poucos dias depois do lançamento de
Presença, Estampas, Jequibau e o Xangô, o quarteto nos recebeu para
recém-lançado Xangô - além do DVD uma entrevista exclusiva, salpicada
Quaternaglia, gravado ao vivo. de histórias e lembranças, que contou
Formado pelos violonistas Chrystian com a participação da produtora
Dozza, Fabio Ramazzina, Thiago Miriam Bemelmans.
24 • VIOLÃO+
quaternaglia
grupo. A primeira formação, com Breno São Paulo – SP). Então, acompanhei
Chaves, Eduardo Fleury, Fábio e eu, o desenvolvimento deles desde o
fez o quarteto aparecer, gravar os dois começo. Isso consolidou (o trabalho).
primeiros discos, fazer as primeiras Nós gravamos, começamos a trabalhar
viagens pelo Brasil e ir até para o mais o repertório de música brasileira.
exterior, ganhar prêmio no Festival de Houve outro momento importante, em
Havana, em 1998, depois ir duas vezes 2000, quando o (Egberto) Gismonti
para os Estados Unidos. Aí, houve um produziu o álbum Forrobodó, lançado
interstício em que o Paulo Porto Alegre pela ECM, e começamos a ter contato
fez parte do grupo. Ele acrescentou com compositores brasileiros, como
muito nesse momento, quando o Breno Paulo Bellinati, o próprio Gismonti, o
não pode ficar e, também, com a Sergio Assad... Com essa formação,
mudança de rumos na vida do Eduardo. gravamos o DVD ao vivo do Itaú
Acabamos com uma segunda formação, Cultural, que foi lançado em 2006, com
muito sólida, com o Fernando Lima e o o selo Presença, e o CD Estampas,
João Luiz, que já estudavam violão com que foi gravado nos Estados Unidos,
o Henrique Pinto, mas tiveram aulas de lançado em 2010. Nesse meio tempo,
algumas disciplinas comigo na FAAM a passagem da Paola (Picherzky),
(Faculdade de Artes Alcântara Machado/ também foi bem legal. Chegamos
26 • VIOLÃO+
quaternaglia
nessa formação, vamos dizer, na Demoramos para ter repertório novo
segunda década do século XXI, com porque estamos na linha de frente da
o Chrystian Dozza e o Thiago Abdalla, construção desse repertório. Então,
que consideramos nossa formação de temos que experimentar. Nem tudo dá
maturidade. Costumamos dizer que certo. Ainda bem que temos contado
estávamos nos preparando para poder com muitos compositores - alguns até
tocar com o Christian e o Thiago, e bem famosos, outros muito talentosos
eles esperando, porque já podiam ir mas jovens - que tem escrito para nós,
direto ao assunto (risos). Já temos enviado peças, de maneira que nem
dois trabalhos com essa formação: temos dado conta de tocar e estrear
o CD Jequibau e, agora, o Xangô. O todas as coisas que chegaram para nós.
repertório foi todo desenvolvido por Ramazzina: O repertório demora a ser
essa formação. Com isso, retomamos constituído. Até este CD, sempre ex-
com mais intensidade nossa carreira perimentamos as peças em recitais.
nos Estados Unidos, e tocamos na Preparávamos, apresentávamos, e, de-
Austrália e em Portugal, além de viajar pois, íamos gravar. Neste CD, fizemos
mais pelo Brasil. Estamos nessa fase outra coisa. Estreamos aqui em São
com muita convicção e muita vontade Paulo, por exemplo, uma peça que já
de fazer as coisas. estava gravada, mas que nunca tín-
hamos tocado aqui. Fizemos a estreia
Violão+: Quais são os critérios para nos Estados Unidos, e também foi es-
a escolha dos repertórios? Vocês treia mundia. Mas a gravamos antes de
trabalham repertórios diferentes fazer a estreia para o público. É algo
simultaneamente? que nunca tínhamos feito.
Ramazzina: Acredito que temos
trabalhado repertórios sempre pensando Violão+: E como é essa experiência?
em gravações, e tomando forma de um Vocês sentiram alguma diferença
produto fonográfico, um CD, um DVD. em fazer esse caminho inverso?
E isso é um processo que leva algum Há algum tipo de insegurança por
tempo. causa disso?
Molina: Até porque o repertório de Ramazzina: Não. Experimentamos. É
quarteto não está pronto como o de claro que, com o passar do tempo, a
violão-solo, ou piano, ou orquestra. tendência é a peça sempre amadurecer.
Ramazzina: Ele tem que ser inventado. Para o CD Estampas, fizemos uma
Molina: E isso é um desafio constante. turnê de um mês, uma série de dez
VIOLÃO+ • 27
quaternaglia
VIOLÃO+ • 29
quaternaglia
VIOLÃO+ • 31
mundo Por Luisa Fernanda Hinojosa Streber
Balalaica
(балалайка)
VIOLÃO+ • 33
VIOLA caipira
Cebolão
Fábio Miranda
Desde que conheci e iniciei meus estudos na viola caipira, www.fabiomirandavioleiro.com
percebi o quanto de coisa eu teria que aprender se quisesse
tocar como os grandes violeiros que via e ouvia por aí. Mas,
desde o início, percebi que a viola era singular, pois o seu
conhecimento não estava escrito em lugar algum. Onde
estaria, então? Como fazer para aprender a tocar esse
instrumento? Diferentemente de instrumentos musicais
que possuem tradição escrita, as manhas da viola caipira
estão na vivência da rodas de viola, do conhecimento
transmitido por meio de fala, gestos, olhares e silêncios.
Viola é instrumento que, para se conhecer, deve-se ir até
os mestres violeiros, deve-se caminhar, encontrá-los! E,
quanto mais a gente procura, menos a gente acha sobre a
viola e cada vez mais achamos o violeiro: quem encanta o
instrumento com tanta musicalidade, devoção e histórias!
Escalas duetadas e a escuta
As modas caipiras gravadas em disco estão repletas de ponteios de viola memoráveis,
tão importantes quanto suas letras. Aqueles riscados sentidos e chorados que abrem
alas para as vozes dos cantadores... Alguns são de arrepiar! Para muitos aprendizes
de viola, são esses os primeiros sons que vão buscar na violinha.
E como saber executá-los? O violeiro aprende ouvindo, vendo e vivendo a música
que toca. Antes de existirem as gravações em disco, o querente aprendia quando
podia ver e ouvir ao vivo um violeiro mais experiente “debuiando” a viola!
Com o disco e o rádio,
os violeiros puderam
também aprender as
modas, colando o
ouvido no radinho e
escutando os grandes
intérpretes e violeiros
da música caipira.
Pode parecer uma
tarefa difícil de início,
já que não dá para ver
o violeiro tocando, mas
é muito bom para exercitar a escuta e a criatividade. Hoje, podemos ver um violeiro
tocar mesmo não estando presente, pela TV ou pela internet, mas é sempre bom
apurar a escuta e desenvolver autonomia para tirar músicas de ouvido.
34 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
Portanto, para aprender os solos de viola que desejar, o
aprendiz deve:
1) ouvir bastante as modas de seu interesse e
2) conhecer muito bem as escalas duetadas no braço da viola.
Ida: 1 2 3 4 5 6 7 1
Volta: 1 7 6 5 4 3 2 1
Repetições
1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 3 4 4 4 4...
1234444555433336666555434321
Modo Flamenco
Flavio Rodrigues
Antes de qualquer consideração, gostaria de dar as boas- www.flaviorodrigues-flamenco.eu
vindas aos leitores e dizer que será uma honra e um enorme
prazer colaborar na Violão+, que tem tudo para ser uma
das melhores revistas especializadas em violão no Brasil.
Em nossa sessão, dedicada exclusivamente ao violão
flamenco – ou à guitarra flamenca, como dizemos na
Espanha - trataremos de toda a temática que envolve o
instrumento – construção/luthieria, linguagem musical,
códigos, estrutura dos toques, técnica, repertório, diferentes
ofícios do guitarrista flamenco (solista/acompanhamento ao
baile e ao cante), e muito mais!
Igualmente, em cada número, incluiremos vídeo-aulas,
trazendo sempre alguma novidade técnica, assim como
pequenas variações (falsetas – são assim denominadas na
linguagem dos flamencos), para, pouco a pouco, fazermos
uma imersão nesse mundo tão rico, que tanto tem a somar
dentro da concepção de qualquer violonista, seja ele popular
ou clássico.
Como este é o primeiro número, gostaria de fazer uma breve
introdução para que possamos compreender e contextualizar
o Flamenco.
História
A origem da palavra Flamenco, assim como o início dessa
expressão artística, é totalmente incerta. Existem inúmeras
hipóteses levantadas por diversas correntes de estudiosos,
mas o que podemos afirmar com certeza é que o flamenco
nasceu no sul da Espanha, na região da Andaluzia, onde
conviveram em paz absoluta, durante séculos, povos como
os mouros (o domínio árabe que durou quase oitocentos
anos), os judeus (sefarditas), os cristãos, os ciganos, e,
finalmente, os americanos a partir do século XVI.
Digamos que entre os séculos XVIII e o XIX, em meio a toda
essa mistura de culturas, começou a tomar forma o que
conhecemos por Flamenco, uma cultura que não se resume
apenas a um estilo musical, mas a uma filosofia de vida,
uma arte que se expressa por meio da dança, da pintura,
da poesia, do cante hondo, de elementos percussivos
36 • VIOLÃO+
f lamenco
(sapateado, palmas, cajón e outros instrumentos), e,
definitivamente, de qualquer instrumento ou manifestação
que domine a sua linguagem.
Creio que a música flamenca é muito querida e respeitada
em nosso País, apesar de ainda não ter conquistado o
espaço que merece, diga-se de passagem, por mérito
próprio dentro do cenário violonístico nacional. Sei também
que os violonistas populares brasileiros, além de alguns
eruditos, estão desejando ansiosamente ter a oportunidade
de aprender a linguagem, a técnica, e a sonoridade
impregnada de personalidade e temperamento únicos que
existem nesse música.
Por isso tudo, é que estou aqui agora, compartilhando toda
a informação que me for possível, desejando que seja de
utilidade para todos aqueles que nos sigam, de agora em
adiante.
Modo Flamenco
A Cadência Árabe/Andaluza se tornou independente do
modo frígio para formar um modo próprio: o Modo Flamenco.
Cadência Andaluza
Am, G, F, E9b Tônica = E9b (antes dominante de Am - frígio)
ou
Técnicas
Rasgueados de dedos – quatro toques
VIOLÃO+ • 37
de ouvido
Arte ou técnica?
Reinaldo Garrido Russo
Na Grécia antiga, a palavra que descrevia a criação do belo, a www.musikosofia.com.br
duemaestri@uol.com.br
arte, tinha como sinônimo, técnica. As duas andavam juntas,
inseparáveis. Hoje, vemos e sentimos de forma diferente.
Parece que, para muitos estetas (sujeitos que estudam o belo
dentro da arte, na filosofia), a concepção de arte, na canção
popular e em parte da música erudita, está intimamente
ligada ao padrão e à fuga desse padrão, simultaneamente.
Podemos dizer que se trata de um paradoxo, mas não é.
Quando ouvimos um guitarrista improvisar utilizando padrões
(os famosos patterns – brincadeiras repetidas com as notas
da escala) sentimo-nos saturados com facilidade. É claro
que se o instrumentista for excelente, muito rápido e tiver
boa técnica, vai impressionar os novatos. Se o improviso
se der no âmbito da total criatividade onde as ideias forem
extremamente novas (informações jamais criadas e não
divulgadas anteriormente) teremos a sensação de estarmos
em contato imediato com a estranheza total, alienígena.
Refletindo um pouco no que foi dito acima, podemos nos
perguntar o que isso tem com “tirar a música”. Bem,
primeiramente o que significa a palavra “tirar”? O termo vem
de uma expressão falada há muito anos cuja conotação era
aproximadamente a de “tirar do mundo sonoro alheio e tocar
igualmente” - ou - “tirar do universo sonoro e colocar na
pauta”. “Tirar”, no jargão musical, tem o sentido de perceber
e depois reproduzir, seja no instrumento, em código no papel,
ou outro meio de comunicação.
Entende-se por pattern (padrão, pai, referência) algo
consagrado que aceitamos como referência para imitarmos.
Quando ouvimos um acorde maior, ele já nos soa como
referência e, portanto, o identificamos de imediato. Um
perfume, para alguém que apenas gosta de odores agradáveis
é, para a percepção, apenas algo conhecido, sem a menor
precisão. Mas, se nos for familiar, passa a ser reconhecido
com rapidez em nossa mente. Já um especialista sabe o
percentual de cada ingrediente que compõe o perfume.
Analogamente, o mesmo se dá com nossa memória auditiva.
Primeiramente, temos o contato com o fenômeno sonoro,
aprendemos a percebê-lo se o colocarmos em foco e
38 • VIOLÃO+
de ouvido
estabelecermos comparações. Em seguida, temos que nos
familiarizar com o objeto em questão. Finalmente, estudá-
lo, dissecá-lo, catalogar e compreender seus elementos é
imprescindível para chegarmos à última fase, a do especialista.
A boa percepção, na maior parte das vezes, é um processo
que fazemos quando somos orientados por alguém inteirado
com o objeto percebido. Raras são as vezes em que a boa
percepção simplesmente acontece pela simples capacidade
de nossa inteligência ou de nossa vontade. Alguém sempre
nos dirige ao foco e o foco nos chama a atenção se assim
o quisermos. Exemplo clássico é a dos xamãs, líderes
religiosos e curandeiros, que viam as naus espanholas se
aproximarem no horizonte como pontos pequenos, difusos,
que os indígenas comuns não viam porque jamais haviam
presenciado algo desta natureza, portanto não tinham
na memória as informações para perceber. O xamã foi
quem os orientou a “ver”. O mesmo aconteceu quando os
irmãos Lumière apresentaram o filme “O Trem”. As pessoas
conseguiam ver apenas borrões que a projeção formava na
tela. Quando foram orientados a ver todos se assustaram
pensando que o trem iria passar por cima de tudo.
Nos próximos números de Violão+ serão expostas dicas
de como ouvir e memorizar, acompanhadas de uma boa e
pequena pitada da teoria que agrega todo o sistema que
usamos com maior frequência, o chamado Sistema Tonal ao
qual estamos mais que familiarizados. As escalas, os acordes,
o campo harmônico, as funções que os acordes praticam
no fraseado, cadências, encadeamentos, todos tem de ser
reconhecidos muito bem por nossa percepção e treinados
para que o reconhecimento seja instantâneo. Ouça a gravação
e verifique o grau de dificuldade nos exercícios. No primeiro
exercício, basta reproduzir, em seu violão, aquilo que ouvir.
Pause a gravação, repita, confira se está absolutamente
igual, de altura e de ritmo. No segundo exercício, ouça, sem
o auxílio do seu violão. Se tiver registrado em sua memória
os sete acordes, que foram tocados de maneira diferente um
do outro, você saberá. Insista, concentre-se. É possível que
em alguns acordes a percepção seja imediata, mas em outros
você poderá sentir-se certo e, na conferência em seu violão,
vai verificar que estava errado. Não fique decepcionado.
O desenvolvimento desta habilidade precisa do erro. Bom
divertimento nos erros e nos acertos.
VIOLÃO+ • 39
como estudar
Postura
Breno Chaves
Por causa de diferenças anatômicas, habilidades inatas
e também da compreensão que cada músico tem de
determinada obra musical, é muito comum observar que,
numa mesma música, cada indivíduo pode encontrar
alguma dificuldade técnica para resolver determinado
trecho e sua resolução pode ser simples para alguns
e extremamente difícil para outros. Muitos métodos
tratam de algumas questões técnicas (mão direita,
por exemplo), oferecendo uma série de exercícios de
arpejos e suas diversas combinações que, na maioria
das vezes, não resolvem determinado problema, por falta
de uma compreensão dos diversos fatores (músculos,
tendões etc) que envolvem a movimentação dos dedos.
Em muitos métodos, é comum encontrar frases como:
“...para se obter uma boa sonoridade, os dedos devem
permanecer perpendiculares em relação as cordas”. Isso
é muito relativo, pois depende do timbre que o violonista
quer extrair e do estado das unhas, por exemplo.Muitas
vezes essa perpendicularidade pode causar tensão
no pulso, no antebraço etc. Também, em relação ao
polegar, existem diversas polêmicas quanto ao toque,
se deve ser executado com a polpa, com as unhas ou
numa combinação de ambos. O fato é que se o polegar
for utilizado com a unha de forma incorreta, fazendo o
uso de articulações impróprias do dedo e do pulso, a
tensão é quase certa, gerando uma sonoridade limitada
e habilidade reduzida. O objetivo desta publicação e das
que se seguirão será o de fornecer ideias e dicas aos
estudantes de violão para um melhor aproveitamento
dos estudos e da prática musical.
Mão direita
Num primeiro momento, o posicionamento da mão direita
deve ser “construído” de forma gradual e por partes,
para que se estabeleça uma compreensão correta da
sua relação com o instrumento e o ato de tocar.
Em primeiro lugar, deve-se sentar como no exposto
acima, depois posicionar a mão e, na sequência, o braço.
Coloque os dedos indicador, médio e anular na mesma
corda (de preferência a 3ª – Sol), como na Figura 1.
Depois, o polegar (de preferência na 5ª – Lá), como na
Figura 2, sem encostar o antebraço no instrumento.
Uma vez que os dedos estejam acomodados nessa
posição, o passo seguinte é relaxar o antebraço no aro
superior do violão.
Mantenha o indicador na corda Sol, coloque o dedo
médio na corda Si e o anular na corda Mi, como na
Figura 3. Nesse momento, você deve mentalizar essa
sensação. É importante destacar que essa posição não
é estática, pois o braço e, consequentemente, a mão
direita são elementos móveis e dinâmicos na execução
de uma obra, em função da mudança de timbres, toques
e intensidade sonora.
VIOLÃO+ • 41
como estudar
Critérios básicos para os toques dos dedos da mão direita
As figuras da próxima página apresentam dois exemplos
clássicos de toques da mão direita. Em seu método, Abel
Carlevaro faz uma série de considerações sobre a fixação
de determinadas falanges para obtenção de diversos
timbres e intensidades. São questões complexas que, na
maioria das vezes, são mal interpretadas e, na prática, sua
aplicação se torna um quebra-cabeças difícil de resolver.
Devemos considerar que, para a movimentação plena dos
dedos, o toque deve se originar na articulação que fica em
sua base (metacarpo-falangeal), tanto para o toque com
apoio quanto sem apoio. Concentre-se nessa articulação,
mentalize o movimento do dedo se iniciando nesse ponto
e toque uma corda (escolha entre as primas Mi, Si, Sol),
primeiro sem apoio e depois, com apoio. A tendência será
a obtenção de uma sonoridade limpa, brilhante, repleta de
harmônicos, sem chiados e esbarros na corda posterior,
independentemente da posição da mão, porque nesse tipo
de toque (com origem nessa articulação), o dedo realiza
o movimento correto e de forma natural.
Nesse processo, os tendões envolvidos são os flexores
(palma da mão). É muito importante, após o toque,
relaxar o dedo (extensores) para que ele volte à sua
posição naturalmente.
Sem apoio Com apoio
42 • VIOLÃO+
VIOLAO BRASILEIRO
“Fui no Chororó”
Renato Candro
Escrevi este estudo levando em consideração os mesmos www.renatocandro.com
aspectos técnicos que existem no estudo nº1 (Opus 60) www.learningbrazilianguitar.com
de Matteo Carcassi. Apenas procurei escrevê-lo de modo
que ficasse próximo ao estilo do Choro porque trabalho
essencialmente com o ensino de violão popular.
Em relação a este assunto, vale lembrar que violão popular
não se restringe apenas a violão de acompanhamento.
Há uma tradição brasileira muito forte em relação ao
violão popular instrumental que começa com João
Pernambuco (1883–1947) e perdura até os dias de hoje
com Yamandú Costa, Alessandro Penezzi e muitos outros,
não menos importantes. Esse modo de compor e arranjar
temas populares para violão-solo é uma das mais ricas
manifestações desse instrumento em todo o mundo e,
como estilo popular, talvez apenas o flamenco tenha o
mesmo nível de comprometimento técnico e musical.
Objetivo
O foco principal nessa primeira lição é estudar a técnica de
abafar certas notas em determinados pontos da música. Os
propósitos são vários: aumentar o contraste entre duas ou
mais melodias diferentes (como se fossem dois instrumentos
diferentes) e evitar que notas de um acorde perdurem e
se tornem sons indesejáveis, quando a harmonia muda
ou por uma questão estilística. As mudanças de dinâmica
também são importantes nesta peça e contribuem pra que
não soe monótona (já que se trata apenas de um estudo).
Preste atenção às pausas e à separação das vozes
mostradas na escrita e, principalmente, não se apresse
a chegar ao fim da música rapidamente. A boa execução
é fruto de um bom estudo e a velocidade é apenas uma
conseqüencia disso tudo. Bons estudos.
VIOLÃO+ • 43
~ BRASILEIRO
VIOLAO
“Fui no Chororó”
Renato Candro
44 • VIOLÃO+
~ BRASILEIRO
VIOLAO
VIOLÃO+ • 45
siderurgia
Baixo alternado
Walter Nery
Nesta aula, quero falar um pouco sobre as possibilidades www.walternery.com
deste maravilhoso instrumento, que começou a ser
industrializado na década de 1920, nos Estados Unidos.
De características particulares, o violão cordas de aço é
muito diferente do violão de nylon e da guitarra elétrica, em
especial sob o ponto de vista das técnicas empregadas em
sua execução e do repertório que lhe é próprio.
Sua construção, bem como o material de que são feitas
as cordas (em geral de liga de fósforo e bronze), faz que
seu toque produza uma sonoridade brilhante e rica em
harmônicos, o que propicia arranjos que valorizam o uso de
cordas soltas. Nesse sentido, uma das técnicas comumente
empregadas em arranjos de peças mais simples é a que faz
uso do chamado “baixo alternado”, normalmente construído
com as notas do próprio acorde que está sendo executado
em uma determinada passagem. A execução do baixo
alternado fica, na maioria das vezes, por conta de movimento
repetido do dedo polegar.
Desse modo, tem-se uma simplificação na densidade das
vozes empregadas, o que beneficia o resultado sonoro tão
característico desse instrumento. Em boa parte dos casos,
apenas a melodia e o baixo alternado são suficientes
para o arranjo de uma determinada peça, que pode ser
incrementado com o uso de vozes intermediárias ou tipos
diversos de figuração.
Segue o exemplo do acorde G com três possibilidades:
a primeira com uma melodia formada por semibreves, a
segunda com mínimas e a terceira com semínimas.
46 • VIOLÃO+
siderurgia
VIOLÃO+ • 47
siderurgia
Como exemplo de aplicação destes conceitos, trouxemos
um arranjo bem simples da canção Mack the Knife de
Bertold Brecht e Kurt Weill, o qual será incrementado nas
aulas posteriores. Um abraço musical a todos.
48 • VIOLÃO+
em grupo
“May It Be”
Márcia Braga
Ao ouvir por alguns segundos o som de um violão, www.conservatoriodetatui.org.br
marciaboroto@hotmail.com
inevitavelmente uma reação acolhedora e de intimidade
penetra no fundo do coração da mais pura criança que
mora em cada um de nós, quando inocentes e ricos de
sensibilidade.
Lentamente, isso já vinha acontecendo desde o começo
do século XX, com o surgimento em especial de Canhoto,
o Américo Jacomino. Hoje, aceleradamente, com o
nascimento de centenas de bons violonistas. O que ainda
era incomum - e hoje parece ser um caminho mais seguro -
é essa diversificação de formações em grande quantidade:
do violão acompanhando a voz de um cantor, ou mesmo
compondo tantos duos e trios quanto quartetos, até a
criação de cameratas ou ainda de orquestras de violões.
O Brasil já tinha uma tradição camerística maravilhosa
em sua história, do Duo Abreu, formado por Sérgio e
Eduardo Abreu (necessário se faz a todo bom violonista
ou amante do violão ser conhecedor e profundo ouvinte
dos Irmãos Abreu). Logo depois, surgiu o Duo Assad, que
está agora comemorando 50 anos de trabalho magistral e
impecável pelo mundo afora. Há 18 anos, também temos
o formidável Brasil Guitar Duo e, não muito depois disso,
outro duo genial, o Duo Siqueira Lima, sem contar com
outros excelentes e com a nova geração.
Talvez pela própria necessidade física e emocional dos
violonistas, foram se criando novos agrupamentos. Não
resta dúvida alguma de que o violão em construção
tradicional de seis cordas, por si só, já é uma orquestra
completa. Vou então defender a principal razão pela qual
os violonistas também adoram tocar juntos com outros,
inclusive da mesma espécie: o ato de tocar em público é
especialmente prazeroso quando coletivamente.
A possibilidade de realizar novos casamentos musicais e
comunhões coletivas, é estimulante. Completa a satisfação
dividir um palco. Multiplicam-se as possibilidades de
aprender um com o outro, de emocionar e de se emocionar.
O aluno de violão que participa já nos primeiros anos de
estudo de uma orquestra de violões, aprende a se relacionar
VIOLÃO+ • 49
em grupo
não somente com a música mas com outros colegas que
estão se tornando, também, músicos, fazendo que esse
processo seja muito mais rápido e, principalmente, mais
amoroso e feliz.
Depois dessa experiência, a prática de música de câmara
dará segurança e acabamento a esse jovem violonista,
tanto musical como relacional para a vida. Além do prazer
de tocar com bons músicos, trará uma abreviação de
horas diárias da prática do instrumento e em especial a
real oportunidade de se tornar um bom intérprete.
Outra observação importante que faço é sobre o entusiasmo
que é gerado quando um colega vê outro tocar bem. É
como se alguma idéia viesse a eles da seguinte forma: “Se
ele pode tocar assim, eu também posso!”
Faça uma experiência, convide algum amigo ou colega que
tenha esse mesmo desejo de fazer música juntos. Se você
estuda com algum professor particular, converse com ele
sobre essa possibilidade ou vá a alguma escola de música
e procure por uma orquestra ou por essa pessoa. Você vai
se surpreender e, certamente, acelerar seu aprendizado
técnico e, principalmente, o musical.
A cada matéria apresentada aqui você terá oportunidade
de saber sobre os duos, trios, quartetos, quintetos, octetos,
cameratas e orquestras de violões que existem, não só
no Brasil mas pelo mundo afora. Terá oportunidade de
escutar e imprimir alguns belos arranjos para as mais
diversas formações junto ao violão, inclusive solos que se
transformaram, arranjados para quartetos, e vice-versa.
“May It Be”
Theme Song, Lord of The Rings
Enya (Bearb. S. Kupsa)
VIOLÃO+ • 51
arranjo
Violão-solo
Luis Stelzer
Olá, violonista da Violão+! Tudo bem?
Preparei uma partitura de uma música lindíssima, das
mais conhecidas do nosso cancioneiro: “Eu Sei Que Vou
Te Amar”, dos mestres Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Não é um arranjo fácil, por isso tenha paciência para
estudá-lo, faça um pouco de cada vez. Procurei escrever
a partitura da melhor forma possível, para que ficasse
bem compreensível. A tablatura também está aí, para
auxiliar na execução da obra.
Este tipo de arranjo traz harmonia e melodia juntas. É o
que chamamos de arranjo de violão-solo. Tente perceber
que a música vai sendo “cantada” pelo violão. Ela é
apresentada desta forma em toda a sua primeira parte
(até o compasso 24). A repetição (a partir do compasso
25) deve apresentar alguma novidade, para o arranjo não
ficar monótono. Optei por colocar frases de baixo, como
se fosse um violão de 7 cordas, intermediando algumas
frases melódicas principais. Também em alguns trechos,
quando a melodia toca a mesma nota (esta melodia do
Tom usa muito notas repetidas), fiz algumas brincadeiras
com cromatismos descendentes nas vozes dos acordes.
Repare na repetição da melodia: em alguns acordes, há
uma voz “caindo”, buscando uma sensação de movimento.
Outra curiosidade a ser percebida: fiz esse arranjo há
muitos anos e o vídeo, que acompanha esta edição,
recentemente. Algumas passagens são tocadas de
outra forma, pois um arranjo de música popular muitas
vezes funciona assim: a gente muda alguma coisa com
o passar do tempo, toca sempre decor e vai, meio que
automaticamente, modificando algumas notas e acordes.
É bem legal descobrir o que tem de diferente. São
poucas coisas, mas dá para notar. Basta ler a partitura
atentamente. Ela também está cifrada, para o caso de
algum acompanhamento para canto ou outro instrumento
solista.Bons estudos!
VIOLÃO+ • 53
arranjo
54 • VIOLÃO+
arranjo
VIOLÃO+ • 55
coda
O violão,
a entrevista e
Luis Stelzer
o taxista
Um belo dia, fui chamado para uma entrevista de emprego. Empregos
na área de música, carteira assinada e tudo... Cara, vamos tentar!
56 • VIOLÃO+
coda
para tocar algumas músicas. ouvirem a história, os professores me
Eis que chega o dia da tão esperada dispensaram da prova com o violão, pois
entrevista. Estava muito confiante, não eram instrumentistas também. Tentei
haveria quem me tirasse essa vaga. me concentrar e responder às questões
Nem reli nada sobre os pedagogos sobre pedagogia musical.
musicais. Isso, “tiro de letra”, pensei. Quando veio a pergunta, generosa por
Muito metido, mesmo! Dei uma aquecida tão fácil, percebi o quanto estava abalado
nos dedos, toquei um pouco no meu com a perda do instrumento. “O que você
violão de estudo, estava bem, músicas poderia nos dizer sobre a pedagogia
escolhidas. Mas, e o plano de aulas? musical no século XX?”. Na cabeça,
Corri e fiz. Horrivelmente, mas fiz. Com nada vinha. Dalcroze, dançou. Kodály,
isso, me atrasei. Talvez chegasse a não foi visto a tocar flauta por aí. Nem
tempo pelo transporte público, mas não Orff, brincando com xilofones. Suzuki,
quis arriscar. Ao sair à rua, vi um taxi não veio mostrar o seu afeto. Schaffer,
passando, chamei não surgiu de trás
e entrei. Confiante, de uma paisagem
mas um pouco “...Dalcroze, dançou. Kodály, não foi sonora. Um tímido
nervoso com o visto a tocar flauta por aí. Nem Orff, Piaget apareceu
horário. em meio à
Nesse dia, um brincando com xilofones. Suzuki, enrolação. Saí de
acidente parou a não veio mostrar o seu afeto. lá envergonhado.
via principal, que Mais que isso, triste
me levava até o
Schaffer, não surgiu de trás de uma duplamente, pois
local da prova. Já paisagem sonora. Um tímido Piaget não conseguiria
estava na hora, e aquele emprego e
o taxi parado no
apareceu em meio à enrolação...” estava sem meu
meio do trânsito. violão. Ainda fiz
Telefonei, consegui falar com a secretária uns bilhetinhos dizendo: “Perdi meu
dos coordenadores da seleção, que violão no seu taxi, meu telefone é tal”
disse que poderiam esperar um pouco. e distribuí nos pontos de taxi na região
Como já estava a menos de um de minha casa. Logo parei, me sentindo
quilômetro do local, paguei o motorista ridículo, pois peguei o taxi no meio da
e fui, desembestado, correndo pela rua, rua de uma cidade como São Paulo.
com meu plano de aulas, partituras, Como encontrar? Dei o instrumento
documentos e mais nada. Ao chegar, como perdido.
descobri o pior de todos os erros daquele Sobre o emprego, a resposta é óbvia,
dia: o violão dormia no banco de trás do não fui chamado. Mas, quatro dias
taxi... E lá ficou. depois, meu celular toca. Atendo. Uma
Inconformado, tentei ainda ver como voz diz do outro lado: “você esqueceu
estava o trânsito, para ver se o motorista o seu violão no meu carro, como faço
ainda estava ao alcance dos olhos. Nada! para devolver?”. Ainda tem gente boa
Entrei no prédio para fazer a prova. Ao nesse mundo.
VIOLÃO+ • 57