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CURSO MODERNO DE FILOSOFIA WesLEY C. SALMON Universidade Brown . Traducto de Leonioas HEGENBERG e OCTANNY SILVEIRA DA Mota QUARTA EDIGAO Filosofia da Arte, Virgil C. Aldrich (2% ed) Filosofia da Linguagem, W. P. Alston (2 ed) ‘Ax Questdes Centrais da Filosofia, Alfred J. Aver Filosofia da Matematica, Stephen F. Barker (28 ed) \ Teoria do Conhecimento, Roderick M. Chisholm (2 ed) b Filosofia da Historia, Willion H, Dray (2% ed) Filosofia Social, Joel Feinberg Btiea, William K. Frankena (28 ed) Filosofia da Ciéncia Natural, Carl G. Hempel (28 ed) Filosofia da Religido, John Hicks Filosofia ea, David Hull Yi Filosofia V, Quine Filosofia dn Ciéncin Social, Rickard S. Rudner (24 ed) 4 Migien, Wesley C. Salmon (4 ed) ZAHAR EDITORES ‘A Pilowofin do Espirito, Jerome A. Shaffer no pe a Motatinion, Rickard Taytor ‘Titulo original: Logic “raduzido da tercsira impresio, publicada em 1965 pela PreXice-HALL, Ine, de Englewood Clits. New Jeney, Estados Unidos da. Ameria, na Sic FOUNDATIONS Ge" POSGeuY, dea por Eusuneta'e fownor, Braros.r Copyright © 1963 by Prentice-Hall, Inc cape de BRIco Nenhuma parte deste livro poderé ser repreduside ‘ejam quais forem os meios empregados (mimeografia, xeroz, datilografia, gravagdo, reproducéo em disco ou em fita), som a permiasdo por escrito da editora. ‘Aes infratores we aplicam as sancées previstas nos artigos 122 190 da Lei n° 5.988 de 1h de dezembro de 1973. 1978 Direitos para a lingua portuguésa adquiridos por ZAHAR EDITORES Rua México 31 — Rio de Janeiro que se reservam a propriedade desta tradusio eee es f Impresso no Brasil INDICE PREFACIO n 1 — 0 OBJETO DA LOGICA ... Pa aI Argumento, 13; Inferdncia, 21; Descoberta e justifeagio, 24; ‘Argumentos dedutives © indutivos, 29. 2 — DEDUCAO M ‘Validade, 34; Enunciados condicionais, 38; Argumentos con- Gicionais! 41; “Reductio. ad absurdum’, 48; 0 dilema, 51; Enunciados categoricos, 53; Silogismos categoricos, 57; A fa- lela de “cada” © "todos", 69; Logica dedutiva, 72 3 —INDUGAO 6... a . 16 Corresio indutiva, 76; Indugio por enumeragio, 78; Estatis- {ica insufilente, 80; Desvios estatisticos, 82; Silogismo esta tistico, 84; Argumento de autoridade, 88; Argumento conten 0. homem, 93; Analogia, 97; Argumentos ciusais © falicins causa, 101; Hipéteses, 103. 4— LOGICA E LINGUAGEM so eee Definisdes, 120; Enunciados analiticos, sintéticos e contradi- trios, 130; Contrarios © contradit6rios, 135; Ambiglidade © ‘equivoco, 137, LEITURAS ADICIONAIS .. secceevvooeal FORMAS DE ARGUMENTACAO CORRETAS E FALAZES ... 143 PREFACIO Embora a Logica seja, muitas vézes, considerada como um simples ramo da Filosofia, a verdade & que suas aplicacdes a Jevam para além dos limites de qualquer disciplina isolada, Os padrées de critica da Légica podem ser aplicados em qualquer Eampo em que a inferéncia e o argumento desempenhem algum papel — em qualquer campo de conhecimento, afinal, onde as Conclusdes devem receber o apoio de certas evidéncias. Nessa particular situagdo acham-se t6das as_jniciativas intelectuais sérias bem como os afazeres da vida cotidiana. Hé numerosos livros de L6gica, excelentes, em boa parte, ‘mas a maioria déles atende aos interésses de cursos especializados da matéria, O propésito déste volume é bem outro: foi rado para o leitor que nao esti acompanhando um curso de L6gica, mas que acredita na utiidade da matéria © deseja co- nhecer ‘alguns de seus resultados fundamentais. Esse leitor pode estar estudando algum ramo da Filosofia; pode estar acompa- rnhando cursos de Matematica, de Ciéncias, de Linguagem, de Histéria ou de Direito. Pode estar interessado pelas técnicas de apresentagao ¢ critica dos raciocinios, tais como ocorrem numa exposicao ou num debate, Pode estar interessado na Logica visando aprimorar as suas proprias maneiras de pensar e vencer fa barreira que as palavras destinadas a persuadir representam para o pensamento correto. Oferego-the éste livro com a espe Fanga de que seja vitil para complementar, de modo eficaz, as matérlas a que icalmente sc dedica. Sentir-me-ei_altamente Tecompensado sc conseguir despertar o interésse do leitor, pro~ Voeando néle 0 desejo de continuar o seu estudo de Légica. ‘Uma breve lista de Icituras recomendadas acha-se no final déste Livro. ‘Com a Légica sucede 0 mesmo que com varias outras ma- térias: pode ser estudada como um fim em si mesma ou como um meio, atentando para as suas aplicagées. Os dois objetivos nao so mituamente excludentes. Procurei, na medida do pos- sivel, acomodar as duas tendéncias. De um lado, inclut varias observacdes acérca da natureza, da finalidade © da fungio. da Légica, Tentei caracterizar as questoes que pertencem & ‘ 12 LOGICA separando-as daquelas que no the importam. Espero que 0 Ieitor, depois de se ter debrucado sObre o que escrevi, acabe em condigdes de dizer 0 que é a Légica e de que ela trata. De ‘outro lado, no deixei de mencionar diversos t6picos que sio muito importantes do ponto de vista pritico. Busquei, com ‘grande empenho, aplicar as consideracdes I6gicas a muitos casos significativos. Descjo expressar os meus agradecimentos aos Professbres Elizabeth ¢ Monroe Beardsley, diretores desta série, aos Profes- séres William Alston, Stephen Barker e Joel Feinberg e & minha esposa, Nancy, que leram 0 manuscrito, ou partes déle, fazendo criticas © sugerindo alteragoes importantes. Quero agradecer também Senhora Betty Stokes, responsivel pelo servigo de datilografia, répido e esmerado, '¢ & Prentice-Hall, Inc., pelo apoio prestado a iniciativa. WesLey C. SALMON O OBJETO DA LOGICA As pessoas podem apresentar ou deixar de apresentar evi- déncias em apoio de suas afirmacées. Uma afirmagio que esti apoiada pela evidéncia é a conclusio de um argumento, © a Légica elabora técnicas para a andlise de argumentos. A andlise égica procura examinar as relagdes que existem entre uma conclusio ¢ a evidéncia que the serve de apoio. Quando as pessoas raciocinam, fazem inferéncias, Estas podem transformar-se em argumentos, © as técnicas da Lég podem, entao, ser aplicadas aos argumentos dat resultantes. E désse modo que as inferéncias que originaram os argumentos podem ser examinadas. A Légica trata, portanto, de argumentos ¢ inferéncias, Um de seus propésitos’ bisicos é apresentar métodos capazes de identificar os argumentos ldgicamente validos, distinguindo-os dos que néo so ldgicamente validos. 1, ARGUMENTO ‘Numa de suas eélebres aventuras, Sherlock Holmes esbarra num velbio chapéu de féltro. Embora nao conheca 0 seu pro- prietério, Holmes conta a Watson muita coisa a seu respeito — afirmando, entre outras coisas, que se trata de um intelectual. A afirmaco, como foi feita, nao dispde de qualquer apoio. Holmes podia saber da existéncia de evid8ncias, mas nao as dew. © Dr. Watson, como de hibito, nio pereebe o que se passa « pede, portanto, que Holmes o esclareca. “A guisa de resposta, Holmes colocou’o chapéu sobre a cabega, © chapéu resvalou. pela sua testa e foi apoiar-se no seu nariz. “E uma questi de volume’, disse éle; ‘um homem com uma cabeca tio grande 14 LOGICA assim deve ter algo dentro dela’.”! A afirmagio de que 0 pro- prictirio do chapéu & um intelectual nao esta mais sem apoio. Hoimes ofereceu a evidéncia e a sua assergio esti, agora, devi- damente apoiada, passando a ser a conclusdo de um argumento. Consideraremos que as afirmagdes nao tm apoio, salvo'se f videncia estiver explicita — no importando 0 fato de que flguém possa dispor dessa evidéncia se no chegou, realmente, adeixica formulada. Hé um motivo ponderdvel para deixar as coisas nesse pé. A Lésica preocupa-se com os argu wrzumento_consiste em mais do_que_um_simples_enunciados © OBJETO DA LOGICA 15 ‘envolve argumento, no sentido logico. O desacdrdo é um convite para que se proceda ao levantamento da evidéncia, caso uma resolugao inteligente seja desejada. ‘Os argumentos so via de regra elaborados com 0 fito de convencer, e esta é, realmente, uma de suas importantes e legi- timas fungGes. A Logica ndo se interessa, no entanto, pelo poder je persuasio que os argumentos_possam_ter__ Ha argumentos Ibgieamene ineoretos que convencem, « bi-arguméntas Toga: ‘mente impeciveis que nao tem nenhum poder de persuasio. O que a Légica procura ¢ estudar 0 tipo de relagio que pode existir entre a cvidéncia e a conclusao, Um argumento pode, perfeita- Consiste numa conclusio e na evidéncia corroboradora, Enguanto nar. Nao importa quem oferece a evidéncia, Se Watson tivesse mencionado o tamanho do chapéu em apoio da afirmacio de Sherlock Holmes, teriamos um argumento para examinar. Se ‘nds imesmos, leitores da novela, tivéssemos citado a evidéncia, hhaveria um argumento para analisar. Nao obstante, a afirmagio de que © dono do chapéu era um intelectual, por si $6, nao tinha apoio, Nao se pode examinar um argumento a menos que hisja evidéncia: esta é€ uma parte indispensivel do argumento. Distinguir asseredes que nio dispOem de evidéncia, sepa~ rando-as das conclusbes de argumentos, nao equivale a condeni las. © propésito da distincdo ¢ apenas o de deixar claras_as circunsténcias em que a L6gica pode ser aplicada e as ocasides em que néo pode ser aplicada. E perfeitamente possivel que estejamos dispostos a aceitar, sem outros comentirios, uma afirmacdo qualquer. Quando isso acontece, a questio da e déncia nem sequer se apresenta, Se a assergio, porém, nio Ede fécil aceitagio, o problema da evidéncia é inevitivel. "Uma vez apresentada a evidéneia, a asseredo com apoio é transformada em conclusio: ha um argumento ¢ a Légica pode ser aplicada (0 vocabulo “argumento” € basico para a Légica. E neces- sirio esclarecer o que significa. Na linguagem_comum, “argu: mento” pode significar uma pendéncia, uma disputa, Na Logica, “a-palavra_“argumento” no tem_¢ssa_conolacio, Tal como_a “empregamos, um argumento pode ser apresentado para justficar ‘ma conclusio, haja ou nio desacordo entre as partes. E ver~ Made, contudo, que a disputa inteligente — que se ope & Wsoussio. aos brados © permeada de-mituas reriminagoes — Govan Doyle, The Adventures of the Blue Carbunce, aden of Hse (Rv York oem: hes, ap on, emda ih mente, ser [ogi ou pode accito, Em térmos nto muito precsos, um argumento € uma con- lusio que mantém certas relagées ‘com a evidéncia corrobora dora, Com. wm_povco mais. de preciso, wm_argumento é uma colecdio” de enuneiados que estéo relacionados uns-com oS ote tros.* Um _argumento consiste_num_enunciado que ¢ a _con- ‘Esses_enunciados de evidéncia_sio.as_chamadas_“premissas”. samente correto, mesmo que ninguém o reconheca; ser logicamente_incorreto, mesmo que_universalmente s_enunciados. sy a Nao hd regra que determine © mimero de premissas que um dado argumento deve posswir, mas existe sempre uma premis- sa pelo menos. ‘Quando Watson solicitou uma justificagio capaz de dar apoio ao enunciado de Holmes, o detetive forneceu-the uma indi- cago do argumento. Embora nao tivesse formulado 0 argumento de modo completo ¢ minucioso, Holmes disse o bastante para Benmitr a reconstrugdo do argumento, Poderiamos formulélo jéste modo: 4) 1. Hé um chapéu grande 2: Alquém é 0 proprietirio déste chapéu 31 Propretérios de grandes chapéus tém grandes cabesas. 4, Pessoas de grandes cabesas t8m cérebros. grandes 5. Pessoas de cérebros grandes sio intelectuais 6. 0 proprietério déste chapéu € um intelectual. sends 2 Ysibilo enmcade” seth empezao, pr nla Tncrestariam ‘0 Teor inicio" ave The. pce Loatca ecth um argumento, formado com seis enunciados. Os cinco args premissas; o sexto é a conclusKo do argumen'o, ‘Ay premissas de um argumento devem, em test, SPrsen vias oa que corroborem a concluséo. Apreseniat a cvicCec® videos requ Guas coisas. Requer, em primeira Mee ma Pep premisatsejam_emunciados de fate, Mea Gee fa due. os fatos apresentados srvamt de evidéfte POR due OS Conseqlientemente, duas manciras de concebsr aa apresentacao Ai primeiros si cconclus g possbiidade de as premissas nio servitem por aoe ac As premissas — uma deas, varias, ou {6006 dem, em primeiro lugar, set falas, New, cts fatos eacerips afo-sio, de maneira alguma,{at0s; a alegaee evidéncia slesec ese. Se assim acontece, & dificil supor que hak solidas mae scaara aceitar a conclusio, Mesmo que tOdas as Purnia? fait verdadeiras (sto é, mesmo que enunciem, Ce ‘modo leg sciam Sr fatos), € possivel, de outra parte, que no ic} ade- fiuadamente relacionadas com a conclusio. Nessa hhipdtese, 08 Beare realmente, como as premissas descrovpm; ndo posiane fatos Faeos nfo sio evidéncia para a conclusio em tela. Biv teaes EPhirvam ce evidocia é necessirio que Sejam Teen fara a conclusio, Esté claro que no hi interes oferecer Miguns enunciados de fato, arbitrariamente escolhidos, para aisar uma dada conclusio. Os enunciados precisam, de’ algum Thoda, relacionar-se a conclusio. mnto_se_apresenta_para_justificar_sua aan gy quesibes_ se colocam, Primeita:_as_premisses sonelusio. mer ‘Segunda_as_premissas esiio relacionadas. Se ‘to stip adequada, com _conclusio?_Se_uma das psy saa cativay a ustificagao nao pode sex susan. ntretanto, @-al Late indispen dipensive m0 Tndagagoes._Para a Lpica sO interessa a Sexual E-sabmetido 4 andlise Yogica € apenas a_questio.. se considera, 4 Légica trata_da ses enire premissas_e_conclusdo, deixando de imporih-ie ‘com a verdade das premiss SS ‘Giz de. nossas- metas fondamentais 6 elaborar métodos- dr Lima de-nossa* agumentos corretos e jncorretos._A-corresao pert cao logics de wm argumento-36-depende- da relacdo “tnire. premissas conclusao. Num ie mente TOGIEAMETHE CO" 4) Mb_ na impocane excegto fazer tl inarads ese moe, ua serh veda ma seco 28, mas © OBJETO DA LOGICA "0 reto, ou legitimo, é esta a relag&o que as premissas m: eau a ete a etl boo besa ari erate de consi, So egadon fatos Eien pln prema do argumtnto panes creo fron alien ao eat a frecn f eidesarra 2Soncinan fo 0 ae pedo nif a0 disc ae roca an arcu Meee aS verdade da conclusio. Ao di (0 dizer que as premissas de um argu- {que haveria boa evidéncia para a conclusio se as pre fdssem verdadeiras. Pinta ‘As premissas de um argumento Io \s premis ut icamente incorreto ae imprest ‘de que sustentam a conclusao, embora na reali- seis no acon Argucnis lbgeamon SOT so sma jas”. Mesmo se as premissas de_um_argumento “Jogicamente incorreto féssem verdadsiras, nio haveria boss tazies_ ‘As premissas de um argumento 10 ‘camente incorreto no tém a soaa par ies iio te adequada relevancia para a Como a corres ou incorresio 16g gument depende da relagéo que stabs i é aay ~ a 4 correco ou a incorrecdo Igica & Inteiramente_indepe ee tet aie nae ” ‘ejam_{alsas. Voltemos a0 exemplo do chaps ior 30 chapéu. O leitor pode 5 aie, que havia algo de insatisfat6rio na Ec tat do hand pr ncn a eis lc ter-se inclinado a rejeitar a conclusio, imaginando que i ane obtida, Isso, porém, seria um — ee thanta‘é lege -—-ndo.€ faz — mas contém_uma premissa sm_uma_premissa tals, Em verdade, como questo de fato, nem tOdas as pessoas le eabeca grande S80 intlectuas. O letor very enretanto, que 4 conelisio teria de er verdadeita se tdas as premissas f6ssem Wena La n-ne. pl gud de ‘ aS_pessoas. érebros grandes sao intelectuais. Essa questiio #6 pode eo por mio de ua esse Seni ee ¢ determinar_se_as_premissas dadas. sustentam_a_conclusi 18 LéGicA Segundo acabamos de ver, um argumento logicamente cor- reto pode ter uma ou mais premissas falsas. Um argumento lbgicamente incorreto pode tet premissas verdadeiras; mais do que isso: pode ter também a conclusio verdadcira. Premissas: Todos os mamiferos so mortals. Todos 08 cles sio mortais. Conclusdo: Todos 08 ces sho mamiferos. » ‘Ai est um argumento que é dbviamente incorreto. © fato de as premissas ¢ a conclusfo serem tOdas verdadeiras nao sig estarem as premissas sustentando a conclusio. Com efeito, as premissas no sustentam a conclusio. Na seco 5, veremos, aplicando um método geral, que éste argumento ¢ falacioso. AS ‘téenicas da segio 11 também podem ser usadas para analisar ‘argumentos désse tipo. Por ora, o cardter falacioso do argu mento b pode ser exibido notando-se que as premissas continua- rim sendo verdadeiras mesmo que os ces f6ssem répteis (e nio mamiferos), mas que nessa hipstese a concluséo seria falsa, Acontece que a conclusio, “Todos os cies sio mamiferos", verdadeira; nada ha nas premissas, todavia, que sirva para las- trear essa verdade. Recordando que a correo ou a incorrecdo I6gica de um argumento s6 depende da relacio que existe entre as premissas conclusio, independendo totalmente da verdade das pre- rmissas, torna-se possfvel analisar os argumentos sem cogitar da verdade das premissas; & possivel, mesmo, analisar os argumentos nda que se saiba que as premissas sao falsas. Este é um aspecto altamente favordvel da situagdo. Com efeito, nao é raro desejar-se saber 0 que é que se pode inferir de premissas falsas ‘ou de premissas duvidosas. Para exemplificar, note-se que uma eliberagao_inteligente requer a consideracio das varias conse- aiiéncias de certas alternstivas. Pode-se, nesse caso, formular iversos argumentos, com diferentes premissas, para conhecer fs possiveis conseqiiéncias. Assim agindo, nao estamos admi indo a verdade das premissas; ao contrério, podemos examinar ‘05 argumentos sem mesmo levantar a questéo da verdade de ‘sus premissas. Até éste ponto fizemos a exposicao salientando justificativas para ‘eonelusies. Vemos, agora, que esta & apenas uma. de varias Weis que os argumentos podem ter. De maneira amp, a (© OBJETO DA LOGICA 19 0s argumentos prestam-se para revelar as conclusdes que podem. s_dadas — sei ‘premissas verdadeiras, falsas ou duvidosas, Para efetuar a andlise légica, € conveniente apresentar os argumentos de um modo padronizado. Adotaremos a pratica de escrever as premissas em primeiro lugar e a conclusdo depois delas, identificando-a por meio do simbolo com a forma de ponta de seta ©) Todos 0s membros do corpo de jurados eram eleitores, Joio era membro do corpo de jurados. # Jodo era eleitor. Este argumento é Wegicamente correto. A nfio ser nos livros de Logica, ¢ dificil que os argumentos se apresentem dessa mancira padronizada, E necessério reconhecer os argumentos quando se apresentam na linguagem comum, pois éles no se encontram no meio da pagina e com a devida identificagao. Também € preciso reconhecer as premissas e a conclusio, porque € raro que se apresentem ja explicitamente separadas: no hd nenhuma obri gacdo de obedecer as prescriges feitas, e a pessoa que formula ‘um argumento, em linguagem comum, pode preferir, por quest6es de estilo, colocar a conclustio antes, depois ou mesmo entre as premissas. Retornando a0 nosso exemplo ¢, eis algums ‘bes perfeitamente lictas na maneira de apresenti-l 2 Tips ete oe a na ere te ae Se eae ee €), Joao era eletor poraue Soko ers membro do corpo de ji- Cane a a cia aa ae O-fato de que_se_esté apresentando um argumenta ¢ expresso, -comumente, por meio do emprégo de certas palavras ou cxpres- pes eo ecole any ; E sohden sue fase sole 6 ua sonulisie as aren vat 20 LOGICA formas verbais que sugerem necessidade, como “deve ter sido”, sip indicio de que a sentenca onde se encontram ¢ uma conclu=. Sio.. Essas formas indicam que a sentenga decorre necessaria- mente (isto é, dedutivamente) das premissas declaradas. Ha texpressOes que caracterizam o fato de uma sentenca estar sendo femprepada na qualidade de premissa; entre elas, “uma vez que “pois” e “porque”. As sentengas que seguem tais expresses sho premissas. A’ conclusio que se obtém a partir de tais premissas deve estar formulada logo a seguir. Expressbes que ‘caracterizam partes de um arguinento devem ser usadas quando (e somente quando) um argumento est sendo efetivamente apresentado. Se nio ha argumento, o emprégo dessas expresses desnorteador. Por exémplo, o leitor tem todo o dircito de esperar que uma sentenga precedida de “portanto” seja conse- ‘guencia de sentengas anteriormente formuladas. Quando se presenta um argumento importante deixar o fato expresso, indicando exatamente quais os enunciados que estio sendo to- ‘mados como premissas © qual é a conclusio. Antes de submeter. ivo da critica, o leitor deve estar seguro de hhayer identificado as premissas e a conclusio do argumento que ‘pretende analisar, s argumentos que encontramos na vida diria desviam-se, na grande maioria das vézes, da forma padronizada, noutro sentido, Quando um argumento é analisado, tédas as suas pre- missas devem ser explicitamente fornecidas. Hé argumentos, entretanto, que envolvem premissas Sbvias — tio dbvias que Seria pedante enuncié-las numa conversagio ou num trecho escrito em linguagem comum. J examinamos um caso de argumento com premissas omitidas. © argumento de Sherlock ‘Holmes, em trno do chapéu, era incompleto; tentamos completi- Jono exemplo a. Numa conversagao comum, 0 exemplo c poderia ser apresentado numa das formas seguintes, dependendo da premissa que se considerasse mais Obvi 12) Joio devia ser eleitor, pois estava no corpo de jurados. Jn) Jodo era eleitor, porque todos os membros do corpo cde jurados eram‘eleitores “Tim ambos 0s casos ¢ facil determinar a premissa omitida. Tilo seria muito proficuo insistir na necessidade de apre- ‘os argumentos de modo complexo, sem premissas omitidas. ‘obsante, a premissa que deixa de ser formulada pode © OBJETO DA LOGICA 2 langar-nos em perigosas armadilhas. Embora_uma_premissa. P ; : ia_tolice expliciti-to, hi casos_e fentativa_de_completar_um_argumento, fazem-se_evidentes as étese ‘in_preciso admitir_a fim_de torné- to. Essa formulacio explicita das hip6teses 6, nfo raro, um dos mais importantes aspectos da _andlise ésica. Com efeito, trata-se de tamer A anilise I6gica do discurso abrange trés fases preliminares — que acabamos de examinar: 1, Os argumentos precisam ser reconhecidos como tais; ‘em particular, enunciados destituidos de apoio devem ser distinguidos de conclusdes de argumentos. 2. Deparando-se um argumento, & preciso ident suas premissas ¢ a sta conclisio. 3. Se 0 argumento & incompleto, é preciso tentar expli- citar as premissas omitidas. Depois que o argumento foi apresentadlo de maneira completa, ‘05 padres I6gicos podem ser aplicados com o fito de determinat a sua correcao. ar as 2. INFERENCIA Na seciio anterior examinamos os argumentos € afirmamos que a Légica pode ser empregada para analisé-los ¢ avalid-los. Essa é uma das importantes funcdes da Légica. Grande nimero_ de pessoas associa a Légica outra funcdo: concebe-a como algo que_se_relaciona com_o pensamento ¢ 0 raciocinio. Pensat © raciocinar €, em grande porcdo, inferir. Nesta seciio examina- remos 0 papel da Légica na inferéncia. Indmeras crencas e opinides que sustentamos — em vyerdade, boa parte dos nossos conhecimentos — dependem de inferéncias. O exemplo de Sherlock Holmes ilustra, de modo simples, €se fato. Holmes nfo viu que o proprietario do chapéu cra um intelectual; viu que o chapéu era grande e inferiu que (© proprietirio era um intelectual. J4 examinamos, na seo precedente, o argumento do detetive; examinaremos, agora, & " 2 Léaica inferéncia que éle fz. Holmes concluiu que 0 proprietério do ‘chapéu era um intelectual. Essa conclusio exprimia uma crenca fou uma opinido que o detetive sustentava. Enunciou a conclusio '0 Dr. Watson, Holmes havia chegado & conclusio em vir- fude da evidéncia disponivel. Quando solicitado a fazé-lo, éle ‘enunciou a evidéncia para a sua conclusio. Enunciando a evi- déncia e a conclusio, a pedido do amigo, apresentou um argu- mento. Antes de apresenti-lo, havia feito uma inferéncia que Ihe havia dado a conclusdo a partir da evidéncia. Ha um estreito paralclismo entre os argumentos e as infe- énci ‘argumentos como as inferéncias_abrangem Se ete a alain de Gini moda-lacioas- iferenca esta nisto: um argumento € uma enti dade lingiistica; uma inferéncia nao o é. i if, a conelusio de um_argumento é uma sentengi, A conclusio de uma inferéncia é uma opinigo, uma -erenga, ov coisa parecida. Tniciamos a nossa discussio da Logica tratando de sentengas, distinguindo as que estio ¢ as que nio to apoiadas em evidéncias. Sentencas devidamente apoiadas ‘io conclusdes de argumentos. © leitor poderia cogitar da possi bilidade de distinguir também as crencas © as opinides, sepa- rando-as em duas classes: as que estio © as que nfo estio apoiadas pelas evidéncias. H4, afinal, opinides ¢ crengas que recebem apoio de certas evidencias e hi outras destituidas désse apoio. Uma crenga ou opinio sustentada por certas evidéncias seria, entio, a conclusio de uma inferéncia, Desejando-se justficar uma crenca ou uma opinido, 6 neces- i vidncia_ que_pode_corrobord-a,_Num a “inferéncia, a pessoa que infere deve possuir a evidéncia, Dizer ss0a possui evidéncia é dizer que tem conhecimentos, ‘crengas, opinides de certo tipo. Holmes, por exemplo, sabia que © chapéu era grande. Acreditava, além disso, que hé uma relago entre o tamanho dos chapéus e a capacidade intelectual. Tudo isso era parte de sua evidéncia. \ Inferir € uma atividade psicol6gica; consiste em obter_uma ‘conclustio_a_partir_da evidéncia, consiste_em chegar_a_certas. descrever ou explicar os processos 3s inferem, pensam _" (© OBJETO DA LOGICA 23 mente corretas € outras slo Idgicamente incorretas. Os padres légicos podem ser aplicados as inferéncias a fim de submeté-las a uma anilise critica. Pana * A er que subsiste entre a conclusio ¢ a evidencia de-que a conclusio € retirada. A conclusio deve ser formulada, ¢ assim também a issas de um argumento. Quando a conclusio é enuncia clase torna_conclusdo daquele argumento. A enunciacio da tal como ficou indicado na secdo anterior. Para “a_andlise 6gica néo importa sabe1 -completou a inferéncia atingiu a sua conclusio, Importa apenas uestdo de saber se a conclusio obtida é ou nio substanci ‘a inferéncia precisa ser enunciada; a0 ser enunciada, transforma- se_mum argumento. Isso € verdade, mesmo que a pessoa que infere enuncia a inferéncia para si mesma. Segundo o que jé ficou assentado na seco precedente, a correc I6gica de um argumento nfo depende da verdade das premissas. De forma inteiramente_andloga,_a_correcio.lésica icia_independe_da_verdade rides que so a sua evidencia, As crencas e opinides sObre_ que se assenta a conclusio de uma inferéncia podem sustentar essa ssim como € possivel, as ‘vézes, construir argumentos com premissas dabias ou sabida- mente falsas, também é possivel inferir com base em pressupostos duvidosos ou em pressupostos que se acredita sejam falsos. Por ‘exemplo, poderiamos inferir alguma coisa a partir da suposiga0 de quc iniamos passar duas scmanas uma fazenda © de que, nesse perfodo, 0 tempo seria instivel. Essa inferéncia poderia ser muito importante, se estivéssemos deliberando acérea da melhor maneira de aproveitar as férias, Inferéncins désse género rio requerem que acreditemos nas hipdteses levantadas; dese~ jamos, a0 contrério, avaliar as conseqliéncias que trariam se fossem verdadeiras O Ieitor_pode estar_ainda_em_dévida_quanto & limitagio: da Logica aos argumentos. E verdade, perguntard, que t6das as inferéncias podem ser traduzi finguagem? Nao existiriio, talvez, algumas crencas que dificilmente seremos a= ‘pazes de enunciar? Nao havera algum tipo de evidéncia ineapax de ser expresso em palavras? Serd impossivel que alguém, jus 24 LOGICA uma crenga apoiada em certa evidéncia, sem ser capaz de enun- ~. ciar a erenga ou a evidéncia em palavras? Isso, em_verdade, ~~) pode ocorrer. Nao obstante, & preciso examinar o assuinto com feria eautela, Imagine-se que 0 seguinte incidente tenha ocor- rido: = 1a) Holmes entrega 0 chapéa Watson ¢ Ihe pergunta 0 que poderia inferiacérea_ do. proprierio. Watson examina chapéu cuidadosamente e diz: “Algo acfrea do proprie- trio esté clara . tratando-se porém de luma daguelas facttas de seu espirito que nao podem ser fexpressas em palavias". Ocultando a impacigncia, ‘Hol- mes pergunta a Walson em que evidencia apdia "a. sua ‘conclusio, E Walson retruca: "Trata-se de uma inefavel ‘qualidade’ do chapéu — algo que eu nao poderia, de ‘modo algum, descrever" 0 incidente (que no ocorreu e que é, aliés, incompativel ‘com a personalidade do Dr. Watson) s6 traria a suspeita de que enhuma inferéncia havia sido feita, nenhuma conclustio fora btida © nenhuma evidéncia cxistia. Legitima ou nzo, esta claro ‘que a suspeita impede que qualquer pessoa, incluindo o Dr. Watson, submeta a alegada inferéncia a uma_andlise I6gica Esclarecido ésse_ponto. admitiremos que_a funcio mais notével da Légica ¢ a anilise de argumentos, lembrando que ¢ possivel See a ofertas depo de tansformielas em arguments. Isso quer dizer que hi uma estreita relagao entre a Légica ea “Jinguagem, Essa relagao serd frequentemente realcada na discus- so que s¢ segue. 3, DESCOBERTA E JUSTIFICAGAO Quando um enunciado é feito, duas questées importantes podem ser imediatamente colocadas; De que maneira chegou a 2. i$ s,_Seria um grave ‘ro confundi-las, e um érro pelo menos tao sério quanto ésse G-confundir as respostas, A primeira pergunta relaciona-se com _ & deseoberia; as circunstancias lembradas por cla formam o dda descoberta, A segunda relaciona-se com a justifi ‘ysitos que aqui se tornam relevantes cabem no contexto © oBJETO DA LOGICA 25 F essencial fazer a distingio entre contexto da descoberta € contexto da justificacdo quando esté em tela o apoio que a evidéncia pode oferecer a uma afirmacdo. A justificacd -assercdo é feita por meio de wm argumento, deve ser justificado € a conclusio do argumento. Este consiste ‘na eonclusio apontada ¢ na sua evidéncia corroboradora, devida- relaci ‘A descol i é accitacao. 'A distingfo entre descoberta e justificagio pode ser clara- mente ilustrada por meio do seguinte exemplo: 4) © sénio. matemético hindu Ramanujan (1887-1920) as- Stgurava. que a dewsa de Namakal o visitava em seus Sonkon, dando-The formulas mateméticas. Ao acordar, ano= tava as {Grmolas ¢ passava a verificé- Nao hé motivo para duvidar de que os sonhos eram, para Rama- nujan, fonte de inspiracio, viesse esta da deusa de Namakal ou de outras fontes mais naturais. Essas circunstincias nada tém a ver com a verdade das formulas. A justificacdo, por outro lado, relaciona-se com as demonstragdes — argumentos mate- ‘iticos — que eram, cm alguns casos, obtidas pelo matemético, mas cm estado de vigilia Outro exemplo que ilustra 0 mesmo ponto: 'b) Ha uma famosa estéria que se conta a propésito de Sit Tsaae Newton eda descoberta da lei da gravitagio. Se- undo essa estéria (provavelmente apéerifa), Newlon es- {aria sentado no jardim ¢ teria visto a maga cair a0 solo. ‘Teria tido, entio, de sdbito, a brifhante visio: os plané~ fas em suas trjst6rias, on objetos que eaem a0 solo, as mares — tudo estaria subordinado lei da. gravitagko ‘universal. ‘Trata-se, sem divida, de uma anedota curiosa a propésito da descoberta da teoria.” Ela néo tem, entretanto, nenhuma relagéo com a sua justificagao. i et ser resolvida mediante observacdes, experiment . fos — a justificacdo depende, em resum: capaz de corroborar_a teoria ¢ nai us one et revs 9 Subst imate Catiae? er? Ste a7 LOGICA Problemas de justificagéo so problemas de accitabilidade de enunciados, Recordando que a justificagio de um enunciado € um argumento, a justificacdo tem dois aspectos: a verdade das premissas ¢ a corre¢ao logica'do argumento. Como jé salientamos antes, os dois aspectos so independentes. Se conseguirmos revelar que um déles falha, a justficagio estaré destruida. Mos-. _trando que as premissas slo falsas ou duvidosas, teremos exibido i sao ado tado_a ima justiicacdo é ‘mostrar que a conclusio 6 Jalsa. Com efcito, pode haver outra justificagio, perfeitamente adequada. Ao mostrar que uma dada justificagao € inadequada mostra-se que ela nio oferece bons motives para dar como verdadeira a conclusio. Em tais ocasides, no hi razilo pata aceitar a conclusiio nem razio para rejeité-la; ‘nao hi, simplesmente, justificagao. & importante guardar ésse fato pata compreender as secdes seguintes déste livro. Examina- ‘emos Varios argumentos que ou tm premissas falsas ou sio Tigicamente incorretos. Nao se depreende, daf, que ésses argu- mentos tenham conclusdes falsas. Existe, no entanto, a justificagdo negativa. Em algumas ‘ocasides é possivel mostrar que um enunciado € falso. Como veremos depois, a reductio ad absurdum (secao 8) e 0 argumento contra o homem (seco 20) so casos tipicos. Justficagdes negativas, assim como as positivas, pertencem ao contexto da justificagao. Também se acham nesse contexto as questdes que dizem respeito A adequabilidade das justificages. Denomina-se “ " 9 érro que consiste em tratar 5 problemas do contexto da descoberta no contexto da justifi- cagiio. Eo engano de supor que os fatbres_da_descoberta,_ou_ impri Por exemplo, ©) Os nazistas condenaram a teoria da relatividade porque © seu inventor, Finstein, era judeu. ‘Pike & um caso tipico de falécia genética. A nacionalidade ¢ a dg inventor de uma teoria sio relevantes, por certo, no io da descoberta. Os nazistas trataram da questio como se se ao contexto da justificacao. (© OBJETO DA LOGICA 27 ‘A falicia genética precisa, contudo, ser analisada com cautela, Como teremos oportunidade de ‘salientar (segoes 19 20), 0 argumento de autoridade e 0 argumento contra 0 homem admitem formas falazes, e 0 érro, muitas vézes, estd na esfera da falicia genética. A diferenca entre as formas corretas : srenca_en incorreias € a seguinte: itimant vel. que_hé_uma_correlacdo objetiva entre aquéles_aspectos da_des- coberta a verdade ou a falsidade da conclusio. O argumento sprceis, SE ee ‘casos, de uma_premissa adicional que enuncie a Correlagio objetiva existente. A faldcia genética, de outra parte, nat carcieriies da descobera-sem Tanda mentar, de algum modo, 0 seu tr transporte para o-contexto da -justificagio. istineo entre descoberta e justificacdo esta intimamente relaclonadn 4 dstinefo ene infergncia.e argumento. A atividade sicolégica desenvolvida na inferéncia é um processo_de_desco- Pere A pewon gue infere deve pensar na conclusio, o problema da descoberta, no entanto, no se esgota af. A pessoa deve, ‘ainda, descobrir a evidéncia e descobrit a relagio que existe entre a evidénciae a conclusio, A inferéncia é algumas vézes descrita como a transigio da ev aa conclusio, Se com isso se pretende dizer que pensar, raciocinar e inferic € partir de certa evidéncia dada e caminhar, a seguir, em nitidos pasos lbgicos, até a conclusio, entio a descrigto é certamente impre~ isa. Em primeiro lugar, nem sempre @ evidéncia é dada antes da conclusio, Ocorre, as vézes, que uma conclustio se apresenta do partida, procurando-se, depois, a evidéncia capaz de corro- bori-la ou refuti-la. Ocorre, também, as vézes, que a evidéncia disponivel & escassa, mas permite vislumbrar’ uma conclusio, devendo-se, a seguir, buscar novas evidéncias para completar a inferéncia.Mesmo que se disponha de evidéncias © delas se caminhe para a conclusfo, o pensamento nao segue uma tritha bem delineada c légica, A mente anda & solta, divaga, fantasias se intrometem, associagdes irrelevantes ocorrem, becos sem saida so percorridos. De algum modo, porém, a inferéncia se com= pleta, em certos casos, ¢ & possivel que a evidéncin este) relacionada com a conclusio. € de imterésse para a 77 ‘ram & conclusio. Deve estar evidente, agora, que a Légiea nio visa descrever ‘0s modos de pensar. Mas seria sua tarefa o estabelecimento de regras segundo as quais se deveria pensar? A Lézica nfo nos oferece um conjunto de regras para guiar-nos ao raciocinar, 20 resolver problemas ¢ ao obter conclusies? A Légica néio nos indica os passos a dar ao inferit? A resposta afirmativa a tais questées & muito comum. Diz-se, mesmo, aue as pessoas de raciocinio eficaz possuem um “espitito légico” e que raciocinam “gicamente”, bos podérs. deacon. Sua hablidade a0, inferir e chegar a_conclusdes_¢_notivel,_Nilo_obstante, a sua_| lade_nio unto. de_tegras_que_nortciam sea penmameno, Holmes € muito mais cpar de fze fern. cclas do que 0 seu amigo Watson, Holmes esti disposto a transmitir seus métodos a0 amigo, ¢ Watson € um homem inte- Pre ascites remas in Hdmet pom itando-o a realizar os mesmos feitos do defluem de fatdres como a sua_aguda curiosidade, a sua_grande inteligéncia, a sua fértl imaginagao, seus podéres de percepcio, a grande massa de infor- Bete ee Co ee eS Nes oe junto de regras pode substituir essas capacidades, Se_existissem regras para inferir, cl ym_regras_para descobrit. Na reilidade, 0 pensamento efeivo exige um constante {go de imaginacao e de pensamento. Prender-se a regras rigidas ‘ou a métodos bem delineados equivale a bloquear o pensamento, AS idéias mais frutiferas sio, com freqiiéncia, justamente aquelas ‘que as regras seriam incapazes de sugerir. £ claro que as pessoas podem melhorar as suas capacidades de raciocinio pela educacio, através da pritica, mediante um treinamento intensivo; isso tudo, Pporém, estd longe de ser equivalente & adogdo de um conjunto de regras de pensamento. Seja como for, ao discutitmos as fespecificas regras da Légica veremos que elas no poderiam ser fngaradas como adequados métodos de pensar. As regras da Tgblsk, $c fossem accitas como orientadoras dos modos de j Aransformar-se-iam numa verdadeira camisa-de-forga. (© OBJETO DA LOGICA pres yensamento — _ésses_problemas. § sc ‘A Légica_nio_nos_di essas questdes cubem no Ambito_da desco- s_enljo, paid que ser métodos de critica para avaliagio coerente das inferéncias. E_nesse_ sentido, talvez, que_a Logica est_qualificada_para -nos_de_que_mo smos_pe “omple inferéncia, é possivel transformé-la_num argumento, ¢ a Logica ‘pode ser utilizada a fim de detcrminar se © argumento € correto A Lética nao nos ensina_como_inferir;_ indica-1 jue inferéncias_podemos aceiiar. Procede ilbgicamente Para poder apreciar o valor dos metodos légicos, é preciso ter esperangas realistas quanto ao scu uso. Quem espera que um martelo possa efetuar o trabalho de uma chave de fenda esta fadado a sofrer grandes desilusoes; quem sabe servir-se de um martelo conhece a sua utilidade. A’ Légice interessa-se pela -jusficacio, nito_pela_descoberta, A_Lézica_fornese_metodos. ‘para_a andlise do discurso, e essa anilise é indispensivel para ‘exprimir de modo inteligivel o pensamento c para a boa compre- ensiio_daquilo que se comunica e se aprende,_ 4, ARGUMENTOS DEDUTIVOS E INDUTIVOS, © que acabamos de dizer aplica-se a qualquer tipo de argumento. Chegou 0 momento de separar os argumentos em duas grandes classes: os dedutivos © 0s induivos. Tanto uns como outros admitem formas corretas e incorretas. Eis alguns exemplos corretos: 4) dedutivo: Todo mamifero tem um_ coragio. ‘Todos 08 cavalos sio mamiferos. 4 Todos os cavalos tém um coragio. b). indutivo: Todos 0s cavalos que foram observados tinham coragio. 1 Todos os cavalos 18m corags0, Hi certas caracteristicas basicas que distinguem o§ argue mentos deduivos ¢ indutves. Faremos also a duns devine caracteristicas. — ‘a Logica? A Légica oferece- |) be Sy 1 Se tas promis ‘o_verdadeiras, @ con- slusio deve set verda ‘lusso 6 provavelmente Seira, Verdadeira, mas mio recersiriamente verda ein ‘A conelusio encerra in- formagio que nio esta- ‘va, nem implicitamente, ras premissas. ‘Téda_a informa contesdo fatual da con- ‘lusio. jé estava, pelo menos." implicitamente, as premissas. Caracteristica 1. A ‘inica mancira de tomar falsa a con- ‘lusio de a (em outras palavras, a Gnica circunstincia possivel sm que o fato de todos os cavalos possuirem coracio seria falso) ‘efia admitie que ow nem todos os cavalos so mamiferos ou nem todos os mamiferos tm coracio. p mmclustio de a fosse falsa, uma_ou as duas_premissas “ue a conclusio dea fosse falsa, uma_ou_as_duas_premissas. ‘eriam que ser falsas. Se as duas premissas sio verdadeiras, a -gonclusdo deve ser verdadeira. De outra parte, em 6, € perfeita- ‘mente possivel que a premissa seja verdadeira, e que a conclusao seja falsa, Isso aconteceria, por exemplo, se, no futuro, se depa- se um cavalo sem coragio. O fato de nfo se ter, até o -ptssente, observado_nenhum cavalo sem coragéo € um indicio ‘tém corac&o: nesse tipo de argumento, ta de conclusio, dando-Ihe, porém, certo Caracteristica II. Quando a conclusio de a assevera que todos os cavalos tém coracao, diz alguma coisa que, em verdade, haavia sido dita nas premissas. A primeira premissa afirma que todos os mamiferos tém coragio, ¢ isso inclui todos os cavalos, ‘como se atesta na segunda premissa. O argumento, como todos. os argumentos dedutivos corretos, enuncia de modo explicito ou. ‘eformula a informagio que jé estava_nas_premissas. E por ‘tsie_motivo que os argumentos dedutivos também satisfazem a ‘gondigllo da caracterfstica I. A conclusiio deve ser_verdadeira ‘quando as premissas so verdadeiras porque a conclusio, a rigor, issas so verdadei jue a conclusio, a ri i emissa do eee (© OBJETO DA LOGICA 31 argumento indutivo b refere-se apenas aos cavalos ja observados, E a_cav: a ‘a0_passo qus_a_conclusio se refere a cavalos que ainda nio foram observados. A conclusao, nesse caso, enuncia al lguma coisa, que_ultrapassa a informacéo contida na_premissa. E justamente pela_premissa — que a conelusio pode ser falsa, mesmo que a verdadeira. O contetido_adicional _da_conclusa -pode ser falso, tornando a conclusio, como um todo, falsa tam- ém._Argumentos dedutivos € argumentos indutivos atendem a finalidades diversas. O argumento dedutivo destina-se a deixar licito 0 contetido das premissas, o argumento indutivo des- tina-se a ampliar o alcance de nossos conhecimentos. Em virtude das caracteristicas mencionadas, um argumento dedutivo ou € inteiramente conclusivo ou é inteiramente no conclusivo: nao ha gradagdes intermediérias. Se um argumento dedutivo é ldgicamente correto, as premissas sustentam de modo completo a conclusio; em outras palavras, a conclusio nio pode ser falsa quando as premissas sao verdadeiras. Se um argumento dedutivo € ldgicamente incorreto, as premissas nao sustentam, de modo algum, a conclusio. Os argumentos indutivos, por sua vvez, admitem graus de forea, dependendo de quanto as premissas podem sustentar a conclusio. Em resumo, o$ argumentos indu- livas_aumentam_o_contetido_das_premissas, com sacrificio da necessidade,_ ao _passo_que os argumentos dedutivos atingem a i tificando_a_ampliagio do conteddo. s exemplos a e b ilustram as propriedades basicas dos argumentos dedutivos ¢ indutivos e salientam as importantes diferengas que hi entre éles. As citadas caracteristicas permitem a classificagdo de argumentos muito menos triviais, ©) A relagio que hé entre generalizcio cientifica e a evidéncia observacional sustentadora é de tipo indutivo, Assim, por exemplo, de acérdo com a primelra lei de Kepler, rbita de Marte € uma clipse, A evidéncia cbservacional para essa Tei consiste em varias observagoes isoladas, destinadas a determinar a posigdo do planeta, A lei referee 2 posiio do planéta, tena sido okervada ‘ou no, “Em particular, futuro de Marte seri el pasado, antes de ser ‘também ern elit, ¢- que 0 ‘movimento ¢ elitico mesmo quando @ plantts lo pode ser observado, em virtude de ondiGes almoxtériens det ei a ‘claro 0 que ilo pode, ° vig ‘Uma das razdes fundamenta oristicas dos argumentos dedutivos c indutivos & deixar LOGICA favoriveis. Esti claro que a lei (a conclusio) tem con. {Rigo muito mais amplo do que o dos enunciados que Ueserevern as posighes observadas (as premissas)* ‘Argumentos matemiticos so dedutivor. Exemplos fami- ‘gumodem ‘ser recolhides da Geometria Euclidian do bane, que todo mundo estuda no ginésio. Na Geome Plefeoremas io. demonsttados a parlir de axiomas ¢ post Russ "O metodo de demonstragio € deduzir os teoremas Conctusbes) dos axioms e postulados (premissas). 0 Kgtedo da dedogio.garante que 0s teoremas devem ser Tdaveivos se. suo verdadeleos os axiomas © postulndos. ages sxcmplos atestam, de passagem, que 08 argumentos Gaitivos mem. sempre slo trivial. Embora 0 conteddo {dos teoremas ja estela fixado nos axiomas ¢ postulades, Eee conteudo esta longe de ser dbvio. E verdadeiramente fluminadora a tarefa de tornar explicito © conteddo de faxiomas © postulados, que nos levaram a realgar as ‘les se pode esperar. .A deducdo, em particular. € © onteddo da conclusao_de_um_argumento Wo cofteto ja est nas premissas. Um argumento dedutivo tanto, ser logicamente correto se a sua_conclusio wer conteudo. que exceda o das premissas. Vale a pena aplicar fs consideragoes que acabamos de fazer a dois exemplos extre- mamente importantes. René Descartes, (1596-1680), por muitos considerado, © losofia moderna, perturbava-se bastante we incerteras’ daquilo que se conside~ my ‘conkecido. Visando remediar a situagio, tentou fear a sea, sistema’ filosofico em algumas, verdades a eeiscins edusindo elas wma grande vatiedade de pemeailgncias de" longo-alcance. Em suas Mediapdes Grocura, com muito esfOreo, mostrar, que, a, proposivio Peeaon fogo existo™ mio. € passivel de. ddvida. Depois, hers a inumeras conclusoes acérea da existéncia de Deus, Sa Rtaureca e existéncia de objetos materiais e do basico Guatino entre 0 fisico. eo mental, £ muito fécil ima- iat ue Descartes tentou deduzir tOdas essas conseaién Fibs daqucla. sua Unica premissa; uma, deducao dsse gt see te entanto, nunes.poderia ser ldgicamente correia, Bole’ o'gontetido das conclusdes excede, em muito, © da ue rn et Ren ke es tt a le ee (© OBJETO DA LOGICA 33 premissa, A mengs que Descartes haja cometido, graves PreadosIégicos, le deve ter usado premissas_adicio Berentio deve ter aplicado raciocinios nao-dedutivos — ou fmbas as coisas. A simples consideragdo que aqui fazemos, Geve servir para salientar que a interpretacio inicialmente {moginada € provavelmente errOnea e que © argumento de Descartes requer andlise mais minuciosa. J) Um dos mais profundos e renitentes problemas da Filo- sofia Moral € 0. de justifiar os juizos de valor. 0 filosofo inglés David Hume (1711-1776) peresbeu que no possiveljustificar juizos de valor deduzindo-os exclusiva- fmente de juizos de foto, Diz éle: “Em todos os sistemas imorais. que encontrel, percsbi que o autor raciocina, a principio, da maneira habitual, estabelecendo a existéncia Ue um deus ou fixando algumas observagoes acérea do Comportamento.humano, Subitamente, para minha sur- frésa, o-abtor deixa de uni as proposigoes om os # © Tiao.% para passar a empregar os deve ¢ no deve. A tmudanga €, as ¥ezes, imiperceptivel, mas tem conseqién- Gas do grande aleance, 0 deve © 0 ndo deve’ exprimem felagdes novas e seria de esperar que f6ssem observadas € icadas; € seria de esperar, a0 mesmo tempo, que se “Gpresentasse uma razio para fazer isso que 6 quase impos- hel coneeber, ou seja para deduzir as novas relagies a pair de outras que sio’ completamente diferentes."§ © Ieitor jf deve ter notado, acertadamente, que qualquer ‘argumento indutivo pode ser transformado em argumento dedu- tivo mediante acréscimo de uma ou mais premissas. E tentador, portanto, considerar as indugdes como dedusdes incompletas, em Vez de considerd-las como um tipo totalmente diverso ¢ impor~ tante de argumento. Nao se deve ceder a essa tentagao. Mesmo. jumento indutivo possa transformar-se, me fque-qualguet argumento indutivo possa transformar-se, mediante ‘Sureime de premissas, num argumento dedulivo, as premissas isa ec'a nn O li tr no tipo. de argumento, obicr conclusdes acérea do futuro com base sa_experiencia_passada_€ presents, 6 David Hume, A Trae of Haman Nate, Liv 3. Primera Pare, SeGh f

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