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Assédio Sexual: Quando é preciso dizer nao Ménica de Melo Diretora do Instituto Brasileiro de Advocacia Publica Procuradora do Estado de Sao Paulo A discuss&o sobre assédio sexual no Brasil veio inevitavelmente acompanhada de nossos componentes culturais. Muitos apressaram-se em dizer que vivemos num pais tropical, “caliente”, no qual as relagdes humanas s4o temperadas com mais afagos, sorrisos, contato fisico etc. E bom que se esclareca desde jd, que o assédio sexual ndo tem nada a ver com as manifestagées de alegria, de afeto e camaradagem que costumam caracterizar o brasileiro pelo mundo afora. O assédio sexual é uma conduta indesejada, desagradavel, perturbadora e extremamente prejudicial para a/o assediada/o e ndo podemos fingir que ndo existe, para proteger nosso jeito de ser e do qual tanto nos orgulhamos e gostamos. A protegao contra 0 assédio sexual faz parte do direito constitucional fundamental a uma vida live de violéncia, introduzido no sistema constitucional brasileiro pela Convengao Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violéncia contra a Mulher (Convengao de Belém do Para) ratificada pelo Brasil em 1995. De forma que o debate sobre 0 assédio sexual contra a mulher é realidade no Brasil, pelo menos, desde 1995 e a auséncia de regulamentagao obsta a devida e adequada proteg4o para sua vitima, deixando evidente a omissdo inconstitucional dos Poderes Publicos que, tendo o dever de agir, estéo omissos no tocante a essa questdo. Esclarecemos, desde j4, que tanto a mulher quanto o homem podem ser viiimas do assédio sexual por atos cometidos por pessoas de outro sexo ou ndo. E a necessaria e desejavel regulamentagao deve ser o mais ampla possivel para prever ambas as hipsteses, embora pesquisas comprovem que a mulher esta no grupo mais vulnerdvel. Portanto, uma legislagdo neste sentido viria a beneficiéa diretamente, bem como a toda sociedade, pois o assédio sexual, como uma das formas de violéncia contra a mulher, interfere em inumeras relagdes sociais - no trabalho, escola, familia - gerando ambientes de intensa confituosidade A violéncia contra a mulher abrange a violéncia fisica, sexual e psicolégica. A Convengao de Belém do Para, ao tratar da violéncia ocorrida na comunidade, cita como exemplo o estupro, 0 abuso sexual, a tortura, o trafico de mulheres, a prostituigao forgada, o seqliestro e o assédio sexual no local de trabalho, instituigdes educacionais, estabelecimentos de satide ou qualquer outro local. Sendo que o direito a uma vida livre de violéncia é um direito fundamental das mulheres na esfera publica e privada. Mas 0 que vem a ser o assédio sexual? Justamente pela falta do conceito legal e de suas implicag6es é que vem sendo dificutada a sua prevengdo, punigdo e erradicago no Brasil. O comportamento é velho conhecido de todos, mas carece de legislagao para gozar de eficacia social. Por falta de norma é que as pessoas assediadas acabam resolvendo seus conflitos a margem do direito e muitas vezes com sérios prejuizos para a(o) assediada(o). O assédio sexual tem sido visto basicamente como um problema nas relagdes de trabalho Nos Estados Unidos onde ja encontra legislagao propria é encarado como problema de discriminagdo sexual que viola o Titulo VII do Civil Rights Act of 1964. O assunto é tratado por um 6rgao administrativo especializado que é a Comissdo de kqualdade de Oportunidades no Emprego (Equal Employment Opportunity Commission - EEOC). O assédio sexual 6 definido por essa Comissdo e a Suprema Corte Americana confere status de lei federal a essas normas emanadas da Comissao A Comissao passou a definir 0 assédio sexual a partir de 1980 como avancos sexuais indesejados, pedidos de favores sexuais e outras condutas verbais ou fisicas de natureza sexual quando a submissdo ou rejeicdo a essas condutas afetam, explicita ou implicitamente, © emprego de alguém, interferem injustificadamente com o desempenho do trabalho ou criam um ambiente de trabalho hostil, ofensivo ou intimidativo. No Brasil, ha proposta de regulamentagao no anteprojeto de Cédigo Penal, que define o assédio como a conduta de exigir de alguém, direta ou indiretamente, prestagao de favor de natureza sexual, como condigdo para criar ou conservar direito ou para atender a pretensao da vilima, prevalecendo-se do cargo, ministério, profisséo ou qualquer outra situagdo de superioridade, com pena de trés meses a um ano e multa, J é um primeiro passo nessa discussdo, mas precisamos aprender a trabalhar com a prevengdo e com outras implicagdes de natureza civil, trabalhista e administrativa. Indice de Artigos - Direitos da Mulher - Abertura da home-page

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