Castells, M. O Poder Da Identidade. Introdução PDF

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Manuel Castells O PODER DA IDENTIDADE Volume IL Tradugdo: Klauss Brandini Gerhardt PAZ E TERRA (© Manu! Castells © 1995, The Jans Hopkins University Press “Tealarido do original: The pony of identity C1P-Bras. Catalogagio-Na-Fonte {Sindieato Nacional dos Faitores de Livros, Rj, Brasil) ‘io Pauls Paz e Terr, 1999. Inch bibliografiaciniceremissivo Mp Castel, Menu, 1942 — : Ho Klaus Brin Goa O paler da ienidae / Manuel Coste; ado Klaus an — Sito Paulo : Paz ¢ Terra, 1999 — (hen dinformsio economia soi ear; :2) ‘Tradugio de: The power of identity Inch apindicese bibliografia. ISBN 85-219-0336-7 1, Governo represenativo ¢ representacio. 2 Autoritarismo. 3. Democracia, 1. Stepan, Aled I cpp 3218 ae DU 321.7 EDITORA PAZ E-TERRA SA. Rua do Triunfo, 177 (1212-010 — Sto Paulo-SP Tel: (1) 223-6522 ax: (O11) 223-6290 1999 Impresso no Bs / Print in Broil Prefacio or Ruth Correa Leite Cardoso ‘Vejo este livro como uma grande aventura, ¢ seu autor como um grande desbra vador. Levando uma bagagem pesada, com muita sociologis, bastante antropologia e ‘uma visto politica clara, Manuel Castells pariu para visitar 9 mundo. Tal como os Yigjantes antigos, obscrvou detalhes, interessou-se pelas diferengas e pelas peculiari- {ades, procurando um fio de meada que pudesse explicar 0 mundo pts-modemo ou 6s-industrial ou qualquer outro nome que se queira dar para as novidades do mundo slobalizado. O desafio ea compreender a diversidade de manifestagdes que se repo- tiam em muitos patses sem seriguais e que nem se sabe se poderiam ser classificadas como da mesma espécie © desafio era grande mas agora sabemos, lendo seus livros, que encontrou as pistas que procarava e com elas decifrou o mistério. Sua grande contribuigao foi ofe- recer uma explicagio abrangente, instigante, que renova a teoria da mudanga social ¢ ‘presenta uma visio totalizante que engloba as transformagbes teenol6gicas, a cultura easociedade Para atingir esse objetivo inovou também no campo da metodologia: o estudo de caso, a observagio participant ca preocupagdo com a comparago estavam sempre presentes (como na melhor tradigdo antropol6gica), mas sem esquecer que 0 objetivo era, ¢ 6, chegar a uma visio compressivaem que o geral nfo seja um empobrecimento o especifico. A diversidade & desafiante, mas alguns (entre os quais Castells) ainda acreditam que é preciso refletir sobre os contextos noves em que se desenrola a vida social para compreender os mecanismos de mudangas e, partindo dessas situaydes, ‘buscar um novo quadro te6rico para explicé-los No volume I desta série, Castells mostrou o efeito das imensas transforma 8s tecnolégicas, especialmente na rea da comunicagao, trazidas pelas éltimas ‘écadas. Ainda mantendo seu gosto pelo materalismo, ele parte dessa nova base ‘material para deserever o impacto da informatizagio sobre as culturas de todo 0 lobo, € apresenta o conceito de sociedaude em rede que resume as caracteristicas do mundo contemporineo globalizado. Sua definigdo esté na introdugdo do presente volume, onde lemos: Sumario Figuras Tabelas Quadros Agradecimentos Introdugio: Nosso mundo, nossa vida 1, Paraisos comunais: identidade e significado na sociedade em rede A.construgio da identidade. 2 (0s paraisos do Senhor: fundamentalismo religioso e identidade cultural Umma versus Jahiliya: © fundamentalismo istamico .. Deus me salve! © fundamentalismo cristo norte-americano, [NagBes ¢ nacionalismos na era da globalizagio: comunidades, imaginadas ou imagens comunais? =) ut B lS 7 2 2 2D 30 37 44 As nagdes contra o Extad issolugo da Unido Sovidia eda Comunidade de Estados Impossfveis (Sojuc Nevogmoznykh Gosudarsty). Nagdes sem Estado: a Catalunya As nagbes da era da informagao 7 A desagregagio étnica: raga, classe e identidade na Sociedade em rede i Identidades teritoriais: a comunidad local Conelusio: as comunas culturais da era da informagio, 2. outra face da Terra: movimentos sociais contra a nova ordem global .. 49 © o n 8 184 9B « sumcio Globalizagio, informacionalizagdo e movimentos sociais .. 93 (0s zapatistas do México: o primeiro movimento de guerrilha informacional 7 Quem s0 0s zapatistas? 98 A estrutura de valores dos zapatistas:identidade, adversdros e objetivos .. 101 A estratégia de comunicagio dos zapatistas: a Internet ¢ a midi... 103, A relagdo contradit6ria entre movimento social e instituigio politica a 105 As armas contra a nova ordem mundial: a Milfcia Norte-Americana € 0 Movimento Patridtico dos anos 90 7 108 {As milicias e os patriotas: uma rede de informagdes de miiltiplos temas eo 12 As bandeiras dos patriotas 18 Quem so os patriotas? a i 1 [As milicias, os patriotase a sociedade norte-americana dos anos 90 122 123 (Os Lamas do Apocalipse: a Verdade Suprema do Japi0 ‘Asahara eo surgimento da Verdade Suprema nen 124 ‘Metodologia e erengas da Verdade Suprema 12 ‘A Verdade Suprema e a sociedade japonesa 0 significado das insureigdes contra a nova ordem global. Conclusio: 0 desafio & globalizagao 3. 0 “verdejar” do ser: 0 movimento ambientalista [A dissondncia eriativa do ambientalismo: uma tipologia O significado do “verdejar": questdes societais ¢ 0 desafio dos ecologists: 153 ( ambientalismo em ago: fazendo cabegas, domando o capital, cortejando o Estado, dangando conforme a midia 161 Justiga ambiental: a nova fronteira dos ecologistas 165 4, O fim do patriarcalismo: movimentos sociais, famflia e sexualidade na era da informagio 1 169 173 Accrise da familia patrarcal.. Sundio 7 As mulheres no mercado de trabalho. 191 poder da congregacio feminina: 0 Movimento Feminista 210 Feminismo americano: uma continuidade descontinua . 212 0 feminismo é global? 220 Feminismo: uma polifonia instigant.... sone 229 © poder do amor: movimentos de libertagto lesbiano e gay 238 Feminismo, lesbianismo e liberagdo sexual em Taipé 241 Espagos de liberdade: a comunidade gay de Sio Fran, 248, Resumo: identidade sexual e a familia patriareal 0.0 256 257 257 Familia, sexualidade e personalidade na crise do patriarealismo... A familia que encolheu drasticamenté nso {A reprodugo da figura matema em relagdo ndo-eproduio do patriarcalismo. : Identidade corporal: a (e)onstugao da sexuaidade Personalidades flexiveis em um mundo pés-patriarcl.. Seré.o fim do patriarcalismo? 264 an 275 277 287 5. Um Estado destitido de poder? A globalizagio ¢ o Estado.. 288 (0 niécieo transnacional das economias nacionais 288 Avaliapio estatistica da nova crise fiscal do Estado na economia global . 290 A slobalizago eo Estado do bemestar social. : 296 Redes globais de comunicacdo, audigncias locais, incentezas sobre regulamentagSes 298 303 306 311 ‘Um mando sem le... 0 Estado-Nagdo na era do multlateralismo 0 governo global e 0 super Estado-Nagiio Identidades, governos locais ¢ a desconstrugdo do Estado-Nagio, 3is A identficagdo do Estado .. 319 ‘As crises contemporineas ds Estdos-Naco:o Estado mexican do PRI ¢ 0 governo federal das EUA nos anos 90 322 ‘A crise da democracia.. a Conclusio: a reconstrugio da democracia? NABTA, Chiapas, Tijuana ¢ os estertores do Estado do PRI...0sene322 © povo contra o Estado: a perda gradativa da legitimidade do governo federal €08 BUA svnininnnennn 334 Estrutura e processo na crise do Estado.. eee 345 Estado, Violéncia e Vigilancia: do “Grande Irmao” as “Inmizinhas” 348, A crise do Estado-Naglo e 2 teoria do Estado 352 Conelusfo: o Rei do Universo, Sun Tzu e a crise da democracia omnes 396 6.A polftica informacional ea crise da democracia 365 Introdugio: a politica da sociedade emu so 365 A midia como espago para a politica na era da informagao, soni 369 ‘A midia e a politica: a conextio dos cidadaos 369 A politica showbiz e 0 marketing politico: 0 modelo orte-aMETICANO nnn : son 3TH Estar a politica européia passando por um processo de “americanizayo"? . 381 © populismo eletrSnico da Bolivia: compadre Palenque e a chegada do dach'a Uri o 386 ‘A politica informacional em agio: a politica do escandalo 391 401 409 Conclusdo: A transformagio social na sociedade em rede 4I7 Apéndice Metodolégico.. 428 Resumo do indice dos Volumes Ie IIL 461 Bibliografia " so 863 {indice remissivo 491 21 4 42 43 44 45 46 47 480 4.80 49 4.10 Figuras Distribuigio geogréfica dos grupos patriotas nos EUA por miimero de grupos e campos de treinamento paramiltar nos estados norte- americanos, 1996... : si Curvas de sobrevivéncia dos casamentos na Itilia, Alemanha Ocidental e Suéeia: mes nascidas entre 1934-38 e entre 1949-53 ... 176 Evolugdo do niimero de primeiros casamentos em paises da Unio Buropéia a partir de 1960 i 178 lg Indices bratos de casamentos em paises selecionados sone 179 Proporcio (%) de mulheres (15 4 34 anos) cujo primeiro filho nasce antes do primeiro casamento, por raga ¢ etnia, nos Estados Unidos, 1960-89... ae 182 ‘Simese da taxa de fenitidade em paises europeus a partir de 1960... 188 Indice total de fertilidade e niimero de nascimentos nos Estados Unidos, 1920-90 aru a 189 ‘Aumento dos indices de emprego no setor de servigos ¢ da participagto ferinina, 1980-90 nna 194 Percentual de mulheres na forga de trabalho por tipo de fungao .. 197 Familias nos Estados Unidos em que as esposas participam da forga de trabalfo, 1960-90 ae as 198 Mulheres com empregos de meio expedient, por tipo de familia, em paises membros da Comunidade Européia, 1991 209 Inter-relagio dos diferentes aspectos da sexualidade voltada para pessoas do mesmo sexo 5 242 Manuel Castells O PODER DA IDENTIDADE Volume II Tradugdo: Klauss Brandini Gerhardt PAZ E TERRA 6 Avalesimesos Muitos colegas fizeram a leitura das primeiras versdes do volume todo, ou de capitulos especiicos, tecendo extensos comentérios e ajudando-me a corrigir alguns erros e amarrar as andlises, embora obviamente eu assum toda aresponsabilidade pelas interpretagGes finais. Gostaria de consignar meus agra- decimentos a: Ira Katznelson, [da Susser, Alain Touraine, Anthony Giddens, Martin Camoy, Stephen Cohen, Alejandra Moreno Toscano, Roberto Lasema, Femando Calderon, Rula Sadik, You-tien Hsing, Shujiro Yazawa, Chu-joe Hsia, Nancy Whitier, Barbara Epstein, David Hooson, Irene Castells, Eva Serra, ‘Tim Duane e Elsie Harper-Anderson. Gostaria também de agradecer especial- mente a John Davey, 0 diretor editorial da Blackwell, que contribuiu com sua vasta experiéncia e sugest&es bastante pertinentes sobre o contetido de muitas das principais segSes do volume. ‘Tudo isso quer dizer que, a exemplo dos outros volumes desta obra, 0 processo de desenvolvimento e redago das idéias trata-se, em grande medic, 8. cnn attiana anise, engencirae a salidhies dle wim esfuryaeoletiva, embe Uo ato de excrever Novembro de 1996 Berkeley, California O autor e os editores agradecem também a autorizagao concedida para a reprodugio do material apresentado ubaixo: Professor Ines Alberdi: figuras 4.2 ¢ 4.5. ‘The Economist: figuras 5.1 e 5.2, copyright © The Economist, Londres 1996. “The University of Texas Presse os respectivos autores: tabela 6.2, "A Corrup- ‘¢io na Politica e as Eleigbes Presidenciais, 1929-92" em Journal of Po- lies, volume 57:4 ‘The Southern Poverty Law Center, Alabama: figura 2.1, extrafda dos Progra- sas da Klanwateh/Miliia Task Force ‘The University of Chicago Press: figuras 4.10 ¢ 4.14 de E. 0. Laumann et al. The Social Organization of Sexuality: Sexual Practices‘in the United States (1994), copyright © 1994 de Edward O. Laumann, Robert. Mi= chael, CSG Enterprises, Inc., ¢ Stuart Michaels. Todos os dieitos reser- vvados, Westview Press, Inc. figura 4.1 de The New Role of Women: Family Forma- tion in Modern Socict‘es de Hans-Peter Blossfeld etal. (1995), copyright © 1995, Westview Press. Introdugdo: Nosso mundo, nossa vida them para o eéu, ha wn desejo premente pela manha que nasce diante de voets ‘A Historia, apesar de sua dor lancinante, jamais pode deivar de ser vvidas se enfientada eam eonasent dispensae se revi then va ds que ire date de voces Fagan com gue @ sano renaaga. Maya Angelou, “On the Pulse of Moning” Nosso mundo, ¢ nossa vida, vém sendo moldadas pelas tendéncias conflitantes da globalizagio ¢ da identidade. A revolugio da tecnologia da informagio ¢ a reestruturagao do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede -Essa sociedade é caracterizada pela globali zagdo das atividades econémicas decisivas do ponto de vista estratégico; por sua forma de organizagio em redes; pela flexibilidade ¢ instabilidade do em- prego ¢ a individualizagio da mao-de-obra. Por uma cultura de virtualidade real construfda a partir de um sistema de midia onipresente, interligado ¢ alta- mente diversificado. E pela transformago das bases materiais da vida — 0 tempo. o espago — mediante a criago de um espaco de fluxos e de um tempo intemporal como expresses das atividades ¢ elites dominantes. Essa nova forma de organizagio social, dentro de sua globalidade que penetra em todos os niveis da sociedade, esté sendo difundida em todo © mundo, do mesmo modo que o capitalismo industrial e seu inimigo univitelino, o estatisma in- dustrial, foram disseminados no século xx, abalando instituigdes, transfor- ‘mando culturas, criando riqueza e induzindo a pobreza, incitando a gandncia, 8 inovagio e a esperanga, ¢ ao mesmo tempo imponde o rigor ¢ instilando 0 desespero. Admirdvel ou néo, trata-se na verdade de um mundo novo. 6 Ino: Nowa mand, nose vie Entretanto, isso ndo é tudo. Juntamente com a revolugio tecnolégica, a transformagio do capitalismo e a derrocada do estatismo, vivenciamos no timo quarto do século o avango de expressdes poderosas de identidade coletiva ue desafiam a globalizago e o cosmopolitismo em fungao da singularidade cultural edo controle das pessoas sobre suas préprias vidas ¢ ambientes, Essas expresses encerram acepcdes miiltiplas, sio altamente diversificadas e se- ‘guem 0s contornos pertinentes a cada cultura, bem como as fontes hist6ricas da formagio de cada identidade. Incorporam movimentos de tendéncia ativa ‘oltados & transformagtio das relagdes humanas em seu nfvel mais bésico, como, por exemplo, o ferinismo e o ambientalismo. Mas incluem também ampla ga rma de movimentos reativos que cavam suas trincheiras de resisténcia em defe~ sa de Deus, da nagao, da etnia, da famflia, da regio, enfim, das eategorias fundamentais da existéncia humana milenar ora ameagada pelo ataque combi- nado e contraditério das Forgas tecnoeconémicas ¢ movimentos sociais trans- formacionais. Apanhada pelo turbilhio dessas tendéncias opostas, a existéncia do Estado-Nagio é questionada, arrastando para o epicentro da crise a propria nogio de democracia politica, postulado para a construgdo histérica de um. Estado-Nagiio soberano e representativo. Com certa freqiiéncia, a nova ¢ po- derosa midia tecnol6gica, tal como as redes mundiais de telecomunicagao interativa, 6 utilizada pelos contendores, ampliando ¢ acirrando o conflito em ‘casos em que, por exemplo, a Intemet se torna um instrumento de ambientalistas internacionais, zapatistas mexicanos ou, ainda, milicias norte-americanas, res- pondendo na mesma moeda as investidas da globalizagio computadorizada dos mercadios financeiros e de provessamento de dados. esse o mundo explorado no presente volume, que se concentra funda ‘mentalmente nos movimentos sociais ena politica, como resultante da interacio entre a globalizagao induzida pela tecnologia, o poder da identidade (em ter- ‘mos sexuais, eligiosos, nacionais, étnicos, teritoriais e sociobiol6gicos) ¢ as insttuigoes do Estado. Convidando 0 leitor a essa jomada intelectual pelas paisagens das lutas sociais e conflitos politicos contempordncos. iniciarei com algumas observagies que poderdo ajudé-lo a apreciar a viagem. Este ndo é um livro sobre outros livros, Portanto, néo discutirei as teorias cexistentes a respeito de cada t6pico nem citarei cada uma das posstveis Fontes, referentes hs questdes aqui apresentadas. De fato, seria pretensiosa a tentativa de abordar, ainda que superficialmente, todo o registro académico do leque de temas abordados nesta obra. As fontes ¢ autores utilizados em cada tépico representam materiais que julguei relevantes para a elaboragio das hipsteses, que proponho para cada tema, como também para 0 significado de taishipéte- ede: Nose mundo, nossa vis ” ses em uma teoria mais abrangente da transformacdo social na sociedade em rede. Aos leitores interessados em referéncias bibliografices e nas anélises critics de tais referéncias, sugiro a consulta as varias obras pertinentes que tratam das questies analisadas, © método que adotei busca transmitir a teoria por meio de andlises da pritica. por meio de sucessivas linhas de observagao dos movimentos sociais ‘em diversos contextos culturais einstitucionais. Dessa forma, a andlise empitica € adotada principalmente como recurso comunicativo ¢ como meio de disci- plinar meu discurso tedrico, isto €, de dificultar, se ndo inviabilizar, a afirma- ‘glo de algo que a agio coletiva submetida & observagio rejeitaria na pritica. Procurei, todavia, fornecer alguns elementos empiricos, dentro das limitagdes de espago deste volume, no intuito de tornar minha interpretagio plausivel, permitindo ao leitor tecer seus pr6prios julgamentos, Hii nesta obra uma deliberada obsessio pelo multiculturalismo, pela “var redura’” do planeta. considerando suas diversas manifestagies sociais e polfti- cas. Tal abordagem deriva de minha visio de que processo de globalizagio teenoecondmica que vern moldando nosso mundo esté sendo contestado e serd, em iitima andtise, transformado, a partir de uma multipicidade de fetores, de acordo com diferentes culturas, histérias € geografias. Assim, as incursdes, do ponto de vista temético, pelos Estados Unidos, Europa Ocidental, Réssia, ‘México, Bolivia, Isia, China ou Japa0, como fago neste volume, tém por fina- lidade especifica utilizar uma mesma estrutura de anélise para compreender processos sociais bastante distintos que, ndo obstante, estdo inter-relacionados quanto ao seu significado, Gostaria também, dentro dos limites de meus co- nhecimentos ¢ experiéncia, de romper com a abordagem etnocéntrica ainda predominante em boa parte da produsao intelectual na rea de ciéncias sociais, justamente no momento em que nossas sociedades se interconectaram global- mente ¢ tornaram-s¢ culturalmente inter-relacionadas, ‘Cabem aqui algumas palavras sobre teoria A teoriasociolégica subjacente a esta obra se encontra diluida, para conveniéncia do letor, na apresentagio dos temas em cada capitulo, Esté também mesclada, tanto quanto possivel, & andlise empirica. Somente em circunsténcias inevitéveis conduzirei o leitor a uma breve incursio na teoria, uma vez que, no meu entender, a teoria social cconsiste em uma ferramenta para a compreensio do mundo, ¢ no num instru- mento de auto-satisfagio intelectual. Na conclusio do presente volume, bus- carei sintetizar a andlise de maneira mais formal esistemética, atando os virios fios tecidos ao longo de cada capitulo. Contudo, uma vez que a obra esti vol- tada & andlise de movimentos sociais e que ha grande controvérsia quanto 20 20 Ingo: Nowe mundo, nse va significado desse conceito, apresento desde jé minha definigao de movimen- tos sociais: so agdes coletivas com um determinado propésito cujo resultado, tanto em caso de sucesso como de fracasso, transforma os valores e institui- gBes da sociedade. Considerando que niio ha percepgdo de hist6ria alheia & histéria que percebemos, do ponto de vista analtico, nfo existem movimentos sociais “bons” ou “maus”, progressistas ou retrOgrados. Sao eles reflexos do que somos, caminhos de nossa transformagao, uma vez que a transformaga0 pode levar a uma gama variada de parafsos, de infernos ou de infernos pa- radisfacos, Nao se trata de observacdo meramente incidental, visto que os pro- ccess0s de transformagio social em nosso mundo nao raro tomam forma de fanatismo e violéncia que no costumamos associar a mudanga social positiva, No obstante a tudo isso, este € nosso mundo, isto somos nés, em nossa con- traditéria pluralidade, e é isto que temos de compreender, se for absolutamen- te necessério enfrenti-lo e superé-1o. Quanto ao significado de isto e de nd, convido-os a desvendé-lo pela leitura do que segue Notas 1. ema deslamado no dia da posse do presidente dos Estados Unidos, 22 de janeiro de 1993 Parafsos comunais: identidade e significado na sociedade em rede A capital ea prix d Montnta Zhong: fenplandestem or pals es porta: Floresta ejardns srines nla delicioo pete: Css ogldecs complemen O palcio pride ¢ magne Eifion e paves da cura de com andres Sales enratas morass eames Gongs estos risoam melodisomente Astor lang onas Limp epriiadon, fpeeenasrentedeec Somos respesore eves na adorgdo Glonfcar sercos na race Em noses feroraes siphees, cada um besa eerie feidade, Ear brboes en sbjedes Nido npona a ste doer, Todos ert sbmetis co nose domi. Hong Xiuquan FForam essas as palavras do “Conto Imperial de Mil Palavras”, de autoria de Hong Xiuquan, mentor ¢ profeta da Rebelido Taiping. apds estabelecer seu reino celestial em Nanjing em 1853.' O objetivo da revolta de Taiping Tao (Caminho da Grande Paz) era criat um reino comunal, fundamentalista neo- cristio na China. Por mais de uma década, o reino foi organizado segundo a revelagio da Biblia que Hong Xiuquan, como ele proprio afirmava, recebera de seu irmiio mais velho, Jesus Cristo, apés haver sido convertido ao cristia- rnismo por missionérios evangélicos, Entre 1845 e 1864, as preces, os ensina- ‘mentos ¢ os exércitos de Hong abalaram toda a China, ¢ 0 mundo, pois

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