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CINCO FORMAS ABERTAS 237 ye Nehru Place funcionou tao bem. Como nos tineis, seus vendedores geiPhones podem ser claramente ouvidos acima do zumbido dos corpos Fovimento € 40 trafeBO. oe Na historia das cidades, os “pregdes” dos vendedores de rua costumavam vyma ungao socidvelsOnica—afiadores de faca,vendedores de peixe, adores de carvdo, quase quarenta diferentes tipos de pregoes nas ruas ge vores — ate serem proibidos pela Lei da Policia Metropolitana, de 1864. antes opregoeiro de rua dava noticias ou entoava hinos, como registrou John. prion (em It Penseraso, verso 83). Fundamentalmente, 0 som dos sinos de igi regulava as pratica religiosas,deu lugar ao bater das horas partir gp séelo XIV, como forma de regular o processo de trabalho, dividindo 0 trabalho remunerado em unidades regulares de tempo. Essas badaladas de rel6gio eram mais fortes e de maior intensidade que os sinos da maioria das igrjasparoguiais, alcangando todaa cidade; porosidade das badaladas era o fomdo trabalho rotineirizado—invasivo inelutavel. Nao era um som sociavel. ‘Em suma, numa cidade fechada, a divisa prevalece; uma cidade aberta ontém mais fronteiras, Essas fronteras funcionam como membranas ce- Julares, com uma tensio dindmica entre porosidade e resisténcia. Epossivel driar membranas nos limites dos lugares, pela perfuragao de paredes, oen- alha das ruas ea modelagem de sons inteligiveis e sociaveis. pord' rogamento da mi IV. Incompletude — A concha ea forma-tipo or fim, imaginemos 0 Sr. Sudhir em casa, Ele me disse que a0 longo do tempo vinha construindo a casa da familia com os filhos, bloco de concreto pos bloco de concreto, na medida das possibilidades financeiras. Em pra ticamente todos os assentamentos de migrantes acontece algo semelhant os pobres se tornam seus proprios arquitetos. As moradias podem no passar de barracos de blocos de concreto com telhados de plistico ou chapa ondulada; com o tempo, se possivel, os moradores acrescentam telhados tuados, anelas envidracadas, talvez um segundo andar;a “arquitetura” 1 de longo folego. Em qualquer momento, contudo, esse tipo uma forma incompleta. a a2 CONSTRUIR E HABITAR Curbanismo tem muitoa aprender com a maneira como 0s muito pobres séo forcadosa trabalhar com formas incompletas Seria possiveltorna una forma incompleta deliberadamente, € ndo por necessidade, como no csy da familia do Sr. Sudhir? O que se ganharia? rode ser encontrada em Iquique, no Chile, una cidade do deserto cerca de 1.500 quilometros ao norte de Santiago, onde im familias haviam efetuado inicialmente uma ocupacio num lugar chamado Quinta Monroy. Os migrantes originais eram aimaras, grupo étnico disseminado pelo altiplano chileno-peruano-boliviano, inta Monroy era um talisma do futuro: a partir de lugares pequenos ‘este, imensos assentamentos de dezenas ou centenas de milhares de soas estao pipocando por toda a América Latina. ‘Ali,oarquitetochileno Alejandro Aravena langou um projeto deconstru- 1 de formas incompletas. Sua ideia basica era conceber a metade de uma boa casa, a ser entéo completada pelos habitantes com 0 proprio trabalho, ‘em ver de fornecer uma habitacao acabada. Na verséo da forma incompleta adotada em Iquique, metade do primeiro e do segundo andares das constru- 6es tem paredes, sendo dotada de instalagdes elétricas e encanamento. Essa infraestrutura é localizada no oitio da casa, e nao nas paredes divis6rias,com ‘o espaco ainda inacabado; este detalhe tecnico permite maxima flexibilidade no preenchimento do espaco. Outro elemento consiste em construir aescads de entrada fora da casa, de tal modo que, se se quiser, 0 primeiro ¢ 0 segundo andares poderao vir a formar habitagdes independentes: qualquer um deles pode ser alugado ou usado por diferentes geragdes de uma fami projeto de Aravena tratava a Quinta Monroy como um laborat6rio de teste da habitacao social. Em termos urbanisticos, as casas so agrupadas em retangulos formando os lados de uma praca comunitaria, versio chilena pobre dos terragos avarandados londrinos de Bloomsbury. Como Cerda, ‘Aravena pretende que eles crescam, tornando-se uma grelha constitutive ‘Aocontrario de Jane Jacobs, ele nao receia esse crescimento, mesmo quando comega em escala pequena; as terriveis condicdes de pobreza em seu pals requerem uma solugo em larga escala. Mais uma vez, contudo, ao contrério do ocorrido na cidade-jardim pré-fabricada de Lewis Mumford, essa solu- ‘A concha — Uma resposta p* cerca de cet CINCO FORMAS ABERTAS 239 jo deve envolver a propria populagao pobre na constituigéo do seu meio ‘mbiente. Ea légica social por trds dessa forma incompleta, traduzindo-se a maneita muito concreta, mais uma vez, na i internas ena localizagao das escadas, Aconcha é 0 tipo de construgao de projetos como o de Iquique. Ela se temmanifestado sob varias formas, no apenas como uma resposta As neces- sidades dos pobres: por exemplo, no terraco georgiano do século XVIII, ela assume a forma de uma caixa de sapato, voltando-se seus lados igualmente yraas pragas e ruas da cidade. Em termos estruturais, os terracos eram uma versio antiga dos lofts de hoje, sendo os pisos sustentados apenas por algu- mas colunase paredes estruturais internas de tijolo ou pedra, reduzidas a0 minimo. A caixa de sapato georgiana era um tipo de concha particularmente tom, poisas dimensdes eram suficientemente reduzidas para que as paredes frontais e posteriores de cada comodo da casa tivessem acesso direto luz natural e a ventilacao. Neste sentido, ela contrastava com as habitagdes do bardo Haussmann em Paris, de proporcées maiores, construidas em torno de escadas centrais imidas e escuras, com pouco acesso a luz e ao ar em muitos cmodos. Ao longo dos séculos, a concha georgiana evoluiu em suas fungdes, mesmo mantendo-se relativamente constante na forma, como no caso de Woburn Walk, concebida por Thomas Cubitt na década de 1820 que hoje abriga escritérios nos andares superiores, além de apartamentos residenciais. Os espacos abertos também podem funcionar como conchas. Na Primeira Guerra Mundial, uma praca monumental como Berkeley Square teve suas flores arrancadas e foi tomada por soldados feridos; na Segunda Guerra, as grades metélicas ao seu redor foram retiradas para ser ttansformadas em bombas; e depois da guerra a fun¢do voltou a evoluir, ‘njugando-se & natureza aberta e ao acesso protegido."" Em principio, os dias de hoje deviam ser a época do Triunfo da Concha. Gragas ao concreto e as vigas de aco de fabricacéo em massa, podemos Snsttuir prédios com gigantescas lajes dependendo minimamente de ‘olunas ou outras obstrugdes estruturais. As salas de negociacao e pregio nee de investimento encarnam 0 Triunfo da Concha, com fileiras ee ras de mesas de trabalho num espaco em que todo mundo pode mundo — se conseguissem tirar os olhos das hipnéticas telas. fraestrutura das paredes 260 CONSTRUIR E HABITAR De maneira ainda mais engenhosa.finas estruturas em concha podem hoje flutuar acima do piso. Os principios estruturals das conchas flutuantes foram estabelecidos pelo engenheiro russ® Vladimir Shukhoy, que erguew em Vyksa, em 1897, uma gigantesc? concha autossustentada de cobertura fe suportesinternos, ela podia ser destinada a qualquer uso, ‘A ciipula geodésica é a herdeira de Vyksa, sendo as cipulas construfdas por uma grade de triangulos entrelagados coberta poe uma capa protetora. Buckminster Fuller considerava que esse tipo de cipula, ao mesmo tempo superleve € superforte, podia ser: ampliado praticamente ao infinito; em seus momentos de maior excentricidade, ele alimentava a esperanga de cobrir ‘idades inteiras com clpulas geodésicas. De tamanho mais modesto, mas ainda assim enormes, clipulas geodésicas comoa Cipula Fukuoka, no Japio, permitem toda uma variedade de usos —comoa Ciipula do Milénio (que nao tritamente geodésica) criada por Richard Rogers em Londres em 199, s conchas criam formas cujas possibilidades nao se esgotam em qual- ‘A concha também cria curva; livre di configuracio especifica imposta no inicio. ‘dade no interior de um prédio, j4 que estruturalmente so poucas as rreiras fixas, O seu fazer convida a mais fazer. Assim como num prédio, ‘comunicagéo, as palavras representam conchas de significado. As palavras expressam de maneira incompleta o que as pessoas querem dizer. Mas quando deve chegar ao fim esse processo aberto? Quando é que 0 prédio pode ser considerado concluido, a comunicacao, efetuada? 0 inacabado ¢ 0 inacabdvel — Um proceso puro pode ser destrutivo. Muitas das alteragdes sofridas pela caixa de sapato do terraco georgiano ao Iongo do tempo degradaram o que originalmente era uma forma de severa beleza: lojas com luminosos de neon ea sinalizagao no nivel da rua acabam com uma certa simplicidade de outros tempos; nos andares superiores, 05 compartimentos sio apertados em cubiculos, com as janelas interceptadas por aparelhos de ar-condicionado. Da mesma forma, os espagos de muitos lofis em Nova York so deformados, e, para horror dos puristas em Xin- tiandi, Xangai, até os lofts reformados dos shikumen, ainda recentemente tao espacosos ¢ dignos do gosto mais esnobe, esto sucumbindo a uma nova geracio de jovens e mais pobres retalhadores e truncadores. CINCO FORMAS ABERTAS 21 ‘As regras basicas de forma precisam proteger contra essa deriva para -_em-forma, assim como UM processo puro na cité pode levar a um in- vel e desorientado fluxo de comunicagio, condenando-a a estimulos ne ntaneos. Temos aqui um dilema, Sea deriva é 0 inimigo, ainda assim _pdanga precisa ser possivel, aso contréioas pessoas estado meramente sr entando papéis preestabelecidos em lugares fixos: elas precisam da Terdade e dos meios de alterara forma esttica, “Nas belas-artes, 0 dilema se manifesta nesta palavra fatal: “Feito.” Fatal “feito” pode ser equiparado a “morto”. Rodin deixava registrado na Ficie das suas esculturas o problema da conclusao. Essas peles so cheias ras de cinzele pedacinhos de detalhes inacabados, para arairo olhar ‘asubstncia material das pe¢as, segundo escreveu Rainer Maria Rilke, a raalturaassstente no seu esto. O processo de criacao parece ter prosse- mento, mas escultor aprendeu quando parar,calculando quantas fendas cie de argila poderia suportar. Nenhum miisico léssico que trabalhe uma partitura pode saber com: clareza quando parar. Se pensasse: “Final- ne! A Sonata Hammerklavier agora esté como deveria ser”, por que haveria evoltarainterpretara pega? Um intérprete quer continuar tocando, para -a Hammerklavier sempre de uma outra forma e assim manter a misica zomisico também), Neste sentido, a performance é umaarte inacabavel. urbanismo aberto tenta resolver este problema com a criagéo de al ma-tipo — Uma forma-tipo é um pedago de ADN urbano que assume formas em diferentes circunstincias. Ela pode ser comparada mente, até mesmo na miisica aparentemente mais sem solu¢ao lade; nas variagdes de “Ferreiro harmonioso” de Handel, por m pequeno deslize harménico no fim da melodia original da 20 dade para brincar. Do mesmo modo, as formas-tipo abrem bano; os temas nao sao tao integrados, totalizados e “harmé- 28a CONSTRUIR E HABITAR Veja-se, por exemplo, a construgio do prosaico degrau de entrada ng casa. O “tema” é exposto no corpo humano, na altura a que a perna é fe. vantada de maneira confortavel para subir um degrau; a altura do degray & chamada de “espelho”. Em regra geral, os espelhos s40 mais baixos na construgao externa que na interna, tendo cerca de 110 milimetros do ladg de fora ¢ 150 milimetros no interior; os degraus nos quais se possa sentar, como na Piazza di Spagna em Roma, tém cerca de 150 milimetros de al. tura. Normalmente, numa escada, o comprimento horizontal do degray €0 dobro da altura do espelho. Um degrau externo precisa ter uma leve inclinagao para escorrimento de agua, evitando a formagao de bolsées de gelo em climas muito frios.” Dentro dessas limitagdes, muitas variagdes s4o possiveis — na largura dos degraus, no material de sua construcao ou em sua localiza¢ao —, pois a perna erguida nao funciona como uma escada rolante, sempre dando um passo inflexivel e previsivel mente. No projeto do Washington Mall, usamos muitas variagdes de largura, configurando degraus para se sentar junto aos degraus de caminhada, de maneiras contrastantes. O Washington Mall tradicionalmente era iluminado do alto; os degraus que propusemos eram eletrificados e iluminados do interior, com uma fileira de luzes de cristal liquido na jungio entre cada espelho e degrau. Esse prosaico design certamente nao proporciona uma experiéncia urbana equivalente a “Ham- merklavier”, mas é estruturado do mesmo modo: ha um conjunto basico de relacdes que admite variagdes na forma. As relagdes basicas sao defini- das — harmonicamente, na miisica, fisiologicamente, no corpo humano; 0 construtor/miisico cria variagdes dentro desses limites. ‘As formas-tipo podem ser tanto verbais quanto fisicas. Gaston Bachelard escreve que “a imagem poética é essencialmente suscetivel de variagdes’, © que significa que os tropos da metafora, da metonimia e da rima sio variagdes sobre um tema estrutural. Roland Barthes também fala de um “tepertério de imagens” ao alcance dos poetas. O trabalho de improvisare aplicar mudangas a uma imagem de base é para ele um trabalho que exige mais do poeta do que a criacao de uma imagem completamente nova. No universo da construgao, a forma-tipo esta aberta a substituigdes, além. de variagées. Um telhado de vigamento (unidos os dois lados do telhado por CINCO FORMAS ABERTAS 263 1 solve o fandamental problems da deformagio, ue €a ten. on e00)tuadoacima afastr os dos de uma construgieéposive ene rum telhado de vigamento com madeira, metal ou plistico. J4 um. sono € ume formntpo to lexivel pois no € fc substtuir ples viteas por madeira ou papel’ us| a .a-tipo apresenta uma ligagao: algo frouxa entre forma fungao, mas Aly as dus esto associadas. No mundo da engenharia urbana, esa 2 oor vinculo &facultada pela redundancia nos sistemas de encana- frousido y i instalagoes elétricas. Providenciar mais que o necessério para penta ou NAS ae a soimediato significa que é possivel adaptar a construcio a. novas condicées. ve parlcularmente importante na transformagao de antigos prédios de eritris em apartamentos — como acontece atualmente em Wall Street, ‘ov York, eno Bund, em Xangat: os prédios mais facilmente transforméveis jam construidos com excedentese supérfluos, muitos canos, corredores € yoreesinternas nd estrutuais, pssibiitando ainstalaga de novos bane Fedomésticos, cozinhasesemelhantes, Umna infraestrutura sobrecarrezada, jssim, serve para facilitar 0 uso, a0 passo que construir apenas 0 que origi- salmente é necessério pode tornar a construcio tecnologicamente obsoletaa curtoprazo. Como.acontecia no caso das plataformas de atracagio de Mitchell, quanto mais sélida a adequacio, menor a flexibilidade, ‘Assim & quea forma-tipo difere da sua prima, a concha. A concha é vazias aforma-tipoé, por assim dizer, lesmallé dentro. Ha no interior um contetido queao mesmo tempo limita eestimula a mudanga. Uma forma-tipo também é diferente de um protétipo. A forma-tipo estabelece os termos para a pro- dugdo de uma familia de possiveis objetos — objetos a serem feitos ainda —, a0 passo que o prot6tipo jé existe em forma construida, como demonstracdo especifica do que pode ser feito. O problema das experiéncias de Bill Mitchell com carros sem motorista no Media Lab estava em certa medida no fato de ele pensar em termos de formas-tipo, e nao de prototipos; ele era capaz de explicar — até certo ponto, digamos assim ~ a relagio do hardware com © corpo humano, mas nao tinha como mostrar um exemplo real do que queria dizer. Ainda assim, 0 fato de pensar em termos de forma-tipo e nio de prototipo liberou sua imaginagao. O protétipo representa uma virada na selegdo dessas possibilidades, eliminando alternativas. a4 CONSTRUIR E HABITAR Muitas iniciativas de desenvolvimento urbano sio apresentadas ao pi, co como melhoramentos, mas aforma-tipoalerta para o equivoco de pensar ue as variagdes sejam invariavelmente determinadas pela busca de maiog qualidade. As variagoes sobre um tema nao aperfeigoam necessariamente © tema, Para tomar uma titinica analogia musical: com o tempo, Stradi. varius passou a fazer seus violoncelos de maneira ligeiramente diferente, experimentando com varios tipos de verniz (de formas que ainda hoje nig, entendemos exatamente), mas 0s Stradivarius tardios no sio melhores que 0 primeiros; sao apenas diferentes. Na vida cotidiana, a variagdo & com mais frequéncia determinada pela necessidade de vender novos produtos do que pelo desejo de qualidade do Homo faber —o que fica evidente para qualquer um que use programas de computacao cujas “atualizagdes” na verdade se degradam comas sucessivas versdes. Contra mudangas comerciais sem sentido como esta é que o ur. banista Gordon Cullen lutava, tendo por este motivo escolhido os usos de longo prazo do espago como determinantes das linhas de ago do design, Mas essa critica fundamentada da criagao de formas-tipo vai de encontro ao habitual conservadorismo da academia — 0 medo de fazer algo diferente embalado em conversa mole sobre auséncia de precedentes, nio mexer no que esté funcionando etc. Entre esses dois polos, como pode uma forma-tipo urbana ser determinada pela busca de qualidade? Barcelona estabelece a forma-tipo da sua grelha — Cento e cinquenta anos depois de Cerda ter estabelecido o plano-grelha de Barcelona, era necessé- rio repensé-lo. A cidade estava assoberbada de carros, em movimento ou estacionados; a poluigo que geravam nao era tio prejudicial quanto a de im ou Delhi, mas ainda assim danosa. Além disso, a obstrugdo das de Cerda com carros tinha espremido a sociabilidade nas esquinas quarteirdes. Acima de tudo, encolheu o espago verde de Barcelona. Na época de Cerda, ele era abundante; hoje, os 6,6 metros quadrados de rea verde por habitante da cidade pouco significam em comparagao com os 27 de Londres e os 87,5 de Amsterds (a Organizagao Mundial da Saiide esta- beleceu 9 metros quadrados per capita como minimo ideal). CINCO FORMAS ABERTAS, ce jecregatarasruas” tem em Barcelona um empecitho econdmi- codes? aca epresentada pelo turismo de massa na cidade, A quanti. amea ‘ naa jumenta dramaticamente todoanoesses vsitantes passa cow gewuristas irros em direcao aos grand. ‘ ae mente pelos balrro: *G40 405 Brandes pontos turisticos da bla, a Catedral as praas. Como os turistas de Veneza,outre ge {cada pelo turismo, os visitantes de Barcelona tomam maisdo. que anes Jo os servigos municipais, mas pouco contribuindo com impostos Lae os que usam. Em geral, a economia do turismo pouco gera p00 «de desdobramentos néo turisticos, como tampouco em termos er ra qualificada para os moradores de uma cidade, ser méqu, do prefeito ao barcelonés comum, surgiu um fortedesejode : sme o piblico de outra maneira. O quesetorna possivel seo quartei- vst giano for tratado como uma forma-tipo,e néo como uma forma fina, ofp éo seguinte:imaginemos uma pega da malhacerdiana,atualmente posta de nove quarteirdes pelos quais pedestrese trafego luem em tes ws horizontats etrés verticais; no seu lugar haverd um superquarteirio, vnasuperilles.0trafego vai fluir a0 redor do seu perimetro,eno interior do perquarteirdo as ts ruas horizontais e as trés verticas serdo entregues pedestres. A l6gica da iniciativa ndo € apenas a comodidade da vida livre {ecartoss0 que se pretende é quea concentrasio de atividades econémicas «esocializagdo nas esquinas se desfaca, pois as pessoas trio facilidade de z:eso aos lugares em todo o superquarteitao. Destinada a ter inicio no bairro onde Cerda residia, Eixample, esta reformulagao as vezes é apresentada como “Jane Jacobs em Barcelona” — sas equivocadamente; ndo ha nada de baixo para cima neste plano. Para fancionarem, 08 superquarteirdes precisam ser coordenados em mais ampla «scala: o trifego expulso do interior da superille precisa poder circular 20 ‘edor de cada perimetro, entrando na cidade como um todo, Uma supe- rille em Eixample tera cerca de 400 x 400 metros, contendo entre 5 mile 6 mil pessoas. Esta escala mais ampla é necesséria para que o sistema de tvansportes funcione; mantém minimo o niimero de énibus circulando na erille, mas ao mesmo tempo da a qualquer motador acesso a0s Gnibus suma distancia de apenas cinco minutos a pé. A esperanca € que, com 0 266 CONSTRUIR E HABITAR tempo futuras ampliagdes, as syperillesvenham a recuperar éteas verdes embora nio seja dito com todas as letras, 0 objetivo do plano ¢ criar ery Barcelona um novoespago piblico separado das orrentesturisticasao edyy dos monumentos piblicos. Esses planos exemplificam uma importante questao geral: as formas, -Aipo podem modernizar positivamente o cardter de um lugar aumentandg a sua forma, Assim como no ver € no analisar, também em sua ampliacie, as coisas podem se tornar mais diversificadas e complexas; afinal, ¢ assim que tem funcionado a evolugio de organismos pequenos para organismos grandes. No ambiente construido, todavia, a ampliacao vai de encontro a crenga de que os lugares pequenos tém mais carater que os grandes — crenea solidamente alicergada no fato de que a maioria das construcées de grande escala hoje em dia é marcada por grosseira uniformidade e neutralidade de carter. Em certos casos, como nas superilles de Barcelona, maior significa melhor qualidade. V. Multiplicidade — Planejar a semeadura Sr. Sudhir talvez parega agora a ponto de criar a cidade aberta. Mas nao poders fazé-lo se usar a palavra “a”. Nao existe um modelo de cidade aberta, Conchas e formas-tipo, fronteiras e marcos, espagos incompletos — tudo isto assume uma variedade de formas, segundo 0 modelo musical do tema com variagdes. A alta tecnologia da cidade inteligente também é aberta quando ‘coordena as complexidades em permanente mudanca, em ver de reduzi-las a.um tinico padrao de eficiéncia. O que se aplica & ville também se aplica a cité. Tipos diferentes de experiéncias nao se misturam socialmente; uma cité complexa mais se parece com uma mistura do que com uma combinacio, modo que ele poderia planejar “uma” cidade aberta, ao mesmo tempo em que seu vizinho vendendo piezinhos indianos poderia compor um lugar muito diferente usando as mesmas ferramentas formais. Esta sensata proposta é a chave para a ampliagio de uma forma aberta. Uma forma genérica como um mercado de rua é repetida em diferentes lugares e circunstancias pela cidade, e vao entao surgir diferentes tipos CINCO FORMAS ABERTAS 7 dos de rua. Medellin oferece um ative exemplo desse tipo de v0.08 planejadoresencomendaram biblotecas para vérios air neh da cidade especificando tetos de custos e padrdes minimos de ania deixaram que as comunidades ¢ os arquitetos decidissem st mente como seria cada biblioteca. O resultado é que estruturas hes uss de mans mut diets alguns fam cn ein ica noitalgumase deinama cranes es alumas parece bibitess ado ostas,coma splocos negros de Giancarlo Mazzanti, inovam completamente. poisento batizo aqui esta tecnica de “planejamento de semeadura”. Se |} voce fosse fazendeiro, imediatamente entenderia que tipo de planejamento | se, mas infeliamente passou tempo demais sentado em cafés, Na fa- de familia, a sua versio rural teria percebido que a mesma semente, ferentes circunstancias quanto a 4gua, aos ventos e ao solo, se ufrentesclbnias de plantas, algumas denas na folnagem mas com | poucas lores ou frutos, outras colbnias com relativamente poucas plantas, | mas cada uma delas crescendo com vigor. Uma aplicagao de inseticida tera determinada consequéncia para o crescimento das colénias, ao passo ue oestrume bovino.. voce nem precisa se levantar da mess do café para entender. As sementes serve como formas-tipo cujas manifestagdes — as plantas —_mudam de cardter em diferentes circunstancias. Hoje em diaas cidades néo sio cultivadas. Em vez disso, esto sujeitasa planos-mestre. A planta adulta€tratada como 0 plano. Talvez alguns dos seus detalhes possam ser alterados — um ou dois andares adicionados a determinado prédio aqui, um piso tén aadaptacdo a condigdes diferentes, mas ess2 P ane omnia inicialmente incompletaeirealizada — uma semente ~ teré tempo de crescer nas cercanias. O plano-mestre divide uma cidade num lacionam logicamente sistema fechado em que cada lugar e fungio se res ‘mais uma ver, ignoraa realidade rural de que -ntes vao competi pela égua, softer reciproco: uma fazenda planejamento urban0, por exemplo, quando renda emeadaem di reo estendido mais um metroali, para oda chega tarde demas: s6 com outros lugares — 0 que, diferentes colonias das mesmas seme mutagdes com o tempo ou morrer pelo contato tem uma ecologia antes dindmica que estitica. No quando as coisas fazem o que nao deveriam fazer — 268 CONSTRUIR E HABITAR as pessoas ignoram determinado ponto de Onibus € acorrem todas parg tum outro a apenas uma centena de metros de distancia —, 0 planejador. ~mestre, com seus mapas precisos € racionais de distribuigao da popula. «Ho edo trifego, pode achar que o plano-mestre fracassou, a0 passo que, se pensasse como um fazendeiro, saberia que é assim que a colonizacig, funciona: como ocorre com o tempo, estd em agao algo imprevisivel e nig, totalmente controlavel. Uma perturbagio aniloga em proporcées menores é encontrada na coreografia dos movimentos no interior de um prédio. Consultores de planejamento do espago contratados a peso de ouro estabelecem, ao estilo Google Maps, os caminhos a serem tomados para evitar o congestionamento ‘€ manter as pessoas em movimento; € os planos sao entao transgredidos por “linhas de desejo”, que sdo as maneiras como as pessoas de fato utilizam os prédios. Os empregados podem buscar um caminho que os conduza perto do patrao (“olhe s6 para mim, estou trabalhando até tarde!”) ou de uma colega sexy com quem o fldneur gostaria de sair —e nenhum desses desejos estava nos planos do planejamento-mestre. Em vez de planejar 0 todo, 0 planejamento de semeadura busca criar “bolsdes de ordem” em termos de istemas abertos. A esséncia do planejamento de semeadura é especificar minimamente como a forma se relaciona com a fungao; 0 que abre espaco. para o maximo de variacao e inovagio. O bardo Haussmann — e depois dele Albert Speer, e depois dele Robert Moses — fazia planos-mestre voluntariosos, ignorando os desejos e as, necessidades de cada um. Mas 0 grande vicio do planejamento-mestre de cima para baixo nao é 0 mesmo que tentar enxergar a cidade em grande escala, Outra forma de pensamento em grande escala surgiu como reagio € forca destruidora de lugares do livre mercado. Era como Mumford e ou- tros fabianos imaginavam contrabalangar os planos-mestre: como no caso da cidade-jardim, eles se destinavam a proporcionar a todos acesso a boa habitacao, empregos ¢ servicos puiblicos, Com 0 tempo, como assinalou 0 estudioso de legislagao urbana Gerald Frug, essas aspiragdes desapareceram do debate consciente e das deliberacdes. O motivo desse comportamento de reagao indignada entre os progressistas é em certa medida uma questéo da relagao do “grande” com 0 “bom”, O tipo de planejamento-mestre bem- CINCO FORMAS ABERTAS 7) on resentado por Mumford parte do princfpio de que todos ge ua ie estivel e equilibrada. Desse pressuposto se segue a da cidade. ira concteta a0 planejamento de semeadura em busca dale exidade é a convicgdo de que os lugares devem ter uma "ade visual lara Nos circulos do planejamento, esta crenca deve-se ’ kevin Lynch, ointelectual resident entre os urbanstas do MIT pean ates da criagio do Media Lab. Lynch pregava a jungio das formas da cidade em imagens claras € fixas. Sua argumentacao se baseava puna pesqusnespectica. “The Image of the City [A imagem da cidade] surgiu ‘tas com moradores de Boston sobre como se relacionavam com ambiente construido; ele concluiu que as pessoas pensam em termos de vases instante fotogréficos sobre como se parece a sua “casa” cargos lugares da cidade importantes para las. Lynch mostrou que as pessoas fazer mapas mentais de toda a cidade interligando fotos mentais re suas cenas. Sua abordagem enfaizavaalegibilidade como valor social sostivo: quanto mais definido for um lugar, mais alguém seré capaz de centr “Este € 0 meu bairro” ou “E aqui o meu lugar’.” ‘ pano de fundo dessa teseeraaconvicrdo do paisagista do século XVIII deque cada pedago de terra temum cariterlocal distinto em matéria de solo, svoclima e outros elementos da mesma ordem, que devem ser revelados zelo jatdineiro no modo como esculpe a terra ea cultiva — & 0 genius loci. Jysiva de plantas nativas derivou dessa crenga no O culto da utilizagao excl cardterdistintivo dos lugares. Na Gra-Bretanha rural, isto fazia sentido por iadas em sua topografiae serem as paisagens das ilhas britanicas téo vari seulima; 20 quilémetros podem assinalaradiferenca entre dois gen Ick completamente diferentes. Mais uma ver, tatase de conhecimento rural, semelhante a conhecimento do fazendeiro sobre germinagdo das mesmas sementes em diferentes coldnias. Mas Lynch se valeu do genius loct para reduzir 0 alcance do design urbano. ‘A medida que avangava, seu trabalho se fa tos. A geometria vio a substitu as representagdes foogréficas Lynch se convencen de que os habitats humanos slo construidos a partir de quatr> formas geométricas basicas: a linha, o circulo, 0 fractal ¢ 0 ortogonal. ye Feito? Mya barrel dade € COMP deenttev wzia em termos mais abstra- 70) CONSTRUIR E HABITAR ‘A maneira como essas formas sio habitadas tornou-se menos importenys que a maneira como os elementos sio dispostos, em cinco lugares bas, da cidade: caminhos, bairros, limites, nédulos ¢ marcos, Ele se aferroy 5 convicgio com que havia comegado, sustentando que o design urbang, deve estar voltado para a obtengio de um padrio claro, uma imagem leg, tuma identidade que faga uso dessas geometrias — exatamente 0 oposi, do cultivo de “dificuldades, ambiguidades e complexidades” almejado por Robert Venturi.* Do ponto de vista social, hé uma grande objegao. “E como se parece ‘uma comunidade afro-americana”facilmente evolui para E onde os negros devem ficar”, Mesmo em ambientes mais benignos, digamos, um bairro hab. tado por poloneses, como podera o urbanista esclarecer a identidade visualy Seria possivel reformar a fachada da igreja catdica locals proteger os aluguéis no clube Vars6via-em-Londres local; autorizar a instalagao de barraquinhas de venda de kielbasa e outras guloseimas polonesas propiciadoras de ataques cardiacos. Mas também vivem por ali alguns migrantes galeses, eaté judeus de origem britinica. O esclarecimento das imagens de uma identidade co. munitéria torna invisivel a presenga desses grupos minoritarios. O queé um Perigo na ville também é um perigo psicologicamente: a convicgao de que se tem uma autoimagem-mestre, uma identidade dominante, como negro, latino-americano, gay ou britanico, encolhe a riqueza multifacetada do self Ja uma ville fazendo uso de elementos abertos que entao sio planejados como semeadura viré a parecer uma colagem. Esta analogia é rica. Ao es- crever seu livro Collage City, Colin Rowe e Fred Koetter se basearam numa forma nao artistica de colagem, o cavalete no qual séries de dados sobre um lugar ou situacdo séo dispostas em camadas, umas sobre as outras. 0 guru desse tipo de procedimento era Edward Tufte, designer grafico que foi pioneiro do mostrador imaginoso de dados estatisticos. Rowe e Koetter aplicaram a técnica do cavalete comecando com um mapa de rua bem fa- miliar;a camada seguinte podia mostrar densidades habitacionais, e depois empregos do tempo durante o dia, e em seguida durante a noite. O proble- ma, aqui, é que a imagem grafica se torna de dificil compreensio & medida que camadas vao sendo adicionadas — exatamente o problema oposto da clareza simples das geometrias de Lynch ou do alvo com que Park e Burgess A _psentago aca, De mana gral 0 cvaletes funconam 0 ; te sags se uma imager se ajusta claramente na forma e nas cores as ion Te ei abaino — e precisumente ess careza no ea como Rowe and i jen psderavar que as iad funciona. less fastaramcom Koettel 19.20 CINCO FORMAS ABERTAS m proprio método.?” ‘ georges Braque podia ter fornecido outro modelo para visualizar uma dade complexa, de forma ee e semeada. A honra de ter “inventado” a calagem com frequéncia é atribuida a Braque e Picasso, emboraa aplicagao S masupefici plana de diversas fitas, pedacos de jornal, cartéesde danca, “ees, rabos de coelho etc, remonte as painésdelebrancas domést- vento usados pelas familias no século XIX. Em 1912, Braque e Picasso trrsformaram essa aconchegante arte doméstica em grande ate, Braque fio primero, cortando pedagos de papel de parede imitando carvalho ¢ ries colando desenhos a carvo. O principio da colagem aqui é antes de proaimidade que de sobreposico, como acontece no cavalet. Por enatizar oslimites e chamar a atengao para os contrastes, esse tipo de arte “Ie”: per- cebemos que algo especial estd acontecendo, exatamente como possivel no som poroso bem-feito. As colagens tridimensionaiseitas por Joseph Cornell «dao mais um passo, representando claramente a ambiguidade. Ele enchia caixas de madeira, por exemplo, com passarinhos empalhados pousados na snesma prateleira que vidros de aspirina e agulhas de costurar. Um pardal empalhado parece estar lendo o rétulo de um vidro de aspirina Bayer. As caixas sio impressionantes justamente porque essa proximidade poderia significar algo — ou nada. Em termos filoséficos, 0 contraste entre formas de colagem e @ imagem extremamente definida manifestou-se numa amistosa correspondéncia ha um século entre John Dewey e Benedetto Croce, que acreditava em formas ideais. Para Dewey, as trocas ¢ interagdes entre pessoas geram formas do tipo colagem, produzindo limites e proximidades verbais, mal-entendidos e entendimentos compartilhados;a linguagem de escritores como James Joyce e Gertrude Stein, contempordneos de Dewey, é feta de colagens literarias. Esta complexidade é 0 motivo (como vimos no Capitulo 6 sobre 0 tos da auséncia de fricgio) de ser tao importante para Dewey que as pessoas tra- balhem com a resisténcia, aprendendo com ela em vez de refred-ta. Jé para m CONSTRUIR E HABITAR Croce, uma forma tem uma esséneia independente, nao importandy uss e ambiente. proximidade interessante, mas ndo importante par Croce: ele considera a colagem “um medo da forma”. As quatro formas geométricas eos cinco lugares bisicos de Lynch antes Ihe despertarian interesse por eclarecer a esséncia de uma cidade do que por represen, 2 Seus uma simplificagio." Em sura, uma vlleabertaémarcad por cinco formas que permite yg acité se torne complexa. O espago publico promoveatividadessincrénic Ee privilegiaa fronteira em detrimento da civisa, com o objetivo de tongs porosas as rlagdes entre as partes da cidade, Marca a cidade de maneiag modestas, usando materiais simples e situando marcos arbitrariamente Para chamar a atengio para lugares indiferentes. Usa formas-tipo em sua construgao para criar uma versio urbana do tema e variagGes da musica, Por fim, por meio do planejamento de semeadura, os préprios temas onde situar escolas, habitagdes, lojas ou parques — podem desenvolver-g independentemente da cidade, proporcionando uma imagem complexa dg todo urbano. Uma ville aberta evitara os pecados da repeticio e da forma éstética; vai criar condigoes materiais para o aprofundamento e a solidif- cacao da experiéncia da vida coletiva, Sr. Sudhir nao é um artista moderno nem um fildsofo. Seu interesse pela colagem seria, imagino, o interesse de alguém tentando entender para onde ir quando for obrigado a deixar Nehru Place, como provavelmente aconteceré, Eleestaria em busca de uma localizasio para o seu negécio que estivesse conectada com 0 resto da cidade, trazendo-Ihe clientes de toda Parte, mas por uma conexao irregular, deixando-o livre para promover seu negécio sem se sujeitar a controles centrais. A cidade ‘que lhe poderia servir nessa busca seria estruturada por cinco formas abertas, s

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