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Luiz Mott PIAUI COLONIAL Populagdo, Economia e Sociedade 2*edigao TERESINA 2010 ‘olegd Grandes Testes -ol.6 PLuMet-2010 Cres Saree sti ra Dawrameciee Revise Rosa Pea. Matey 84 Grates Eda ‘ods esses reseragos De azote com abn 9610 ge 1910201806, nantisma parte ds ino pode Se Txoconda, rata, epronurs ‘Eraanafa num stems ce recupragzo de elormago cu Yarsmbs $09 {uae eemaou parm eerance ov mecinea sem preva cosenimers Aoanore do water, Ficha Catalogratica MIB Mot, Lue Pa loa psa ccna esac 28 Tees AL; FUNDAC,DETRAN, 2010, 2009 = (Cob tances Tos =a 8) 1 Pla = stra -2 Pai Eeonoma-I La os. To. Coleg. 00 -96122 Indie para Cage Sstematco 1 Pui Hise 122 2. Paul Enema suns 22 Dietas desta ein resevasas pl APL - Av Mave! ose, S800, Come, FUNDAC- raga Mareen Dodo, 816 - Cero, Teresa Pas Tolar: 5} 325-8060, 0 OETAAN: Anu Garr 2000, Tao -Teesna Pau Tear (66) 3216-2800 ‘ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS DIRETORIA Bisnio 2008/2009, Presidente 'MANFREDI MENDES DE CEROUEIRA Vice-Presidente FIDES ANGELICA DE CASTRO VELOSO MENDES OMMATL Secreto Gera HUMBERTO SOARES GUIMARAES Secretar REGINALDO MIRANDA DA SILVA 20 Secreto (TON MARI JOSE LUSTOSA TORRES Tesoureiro FRANCISCO HARDI FILHO Governador do Estado JOSE WELLINGTON BARROSO DE ARALUO DIAS. Vice-governador ‘SUMARIO WILSON NUNES MARTINS Secreto de Educagao e Cultura itv se bers sees ® Eronenma dace DESCRICAO DA CAPITANIA DE SAO JOSE D0 PIAUI (1772) SONIA TERRA FAZENDAS DE GADO 00 PIAUI (1697-1762) 15 eso 68000 8) 8 Mnehaaananes ESTRUTURA DEMOGRAFICA DAS FAZENDAS DE GADO D0 eens PIAUI-COLONIAL: UM CASO DE POVOAMENTO RURAL cane ® a ee O Ri do ETA ate ass ws CLL FAZENDAS DE GADO DO PIAUI COLONIAL 125 UNRESERARO PA ESOEVELARTA 18 ENCHSTNADUERONSEOFMUCONAL... 185 (0S iNDIOS E A PECUARIA NAS FAZENDAS DE GADO DO PIAUI COLONIAL an APRESENTAGAO 0 Professor Luiz Mott, ora vineulado a Universidade Federal da Bahia, pds se licenciar erm Ciencias Socials, pela Universidade de So Paulo (USP), partiu para um mestrado ‘em Etnologia (na Sorbonne) e doutorado em Antropologia (Unicamp), éando-se, ademais, a uma proveitosa pesquisa, Pesquisador arguto e competente,realizou pesquisas ro Arquivo Nacional (Rio de Janeiro) enos Arquivos Estaduais da Bahia, Sergipe ePiaul, nolnstituto Historica e Geografico Brasileiro, no Arquivo Histérico Ultramarino (Lisboa), Torre 0 Tombo e Biblioteca Nacional de Lisboa “Mais de 30 artigos publicou sobre temas do Nordeste —demografiahistérica, elagdes racials, inquisiao,escraviddo, economia, em revistas nacionais eestrangeiras. Dentre eles estdo aqui reunidos, todos versando sobre 0 Piaui colonial (Populag30:Economia-Sociedace}: 9) Descrigdo da Capitania de Sd José do Pau, 1772. Meméria de outoria do Ouvidor Anténio José de Morais Duro, que Mott descobriu em Lisboa, documento da mais alta volia para a compreensao da nossa istéria colonial; 'b) Fazenda de Gado do Piaui (1697-1762) Estrutura bemogréfice das Fazendas de Gado do Piaui Colonial e O ‘patrdo nao esté: anélise do absenteismo nas fazendas de ado do Piau Colonial, sBo trés artigos de interpretacdo das nossas fazendas ganandeiras, e n0s guais 0 autor faz “depura¢o historica”erevisiona entendimentos anteriores, esposedos por Caio Prado Junior, Celso Furtado e Nelson Werneck Sadré, dentre outros, sobre a ordem gerencial nas fazendas piauienses”; J Etno-Historia dos indios do Pau! Colonial e Os Indios e @ Peeuaria nas fazendas de gado do Plaui Colonial, ~ também revsionistas, evidenciam que ocontingente negro, nas nossas fazendas de criar estavo entre 48% e 55% da populace dos “retiros e curreis” 0 incola piouiense, em 1697, mostra Mestre Mott representava apenas 9% da mao {de obra empregada no pastoreio piouiense; 4) Por ultimo, Luiz Mott divulga carta de ume escrava dirigida 20 Governador do Pioui, “um rosario de queixos e lamentagaes”, datada de 1770 e que “seria @ mais antigo ‘manuscrito autogrofade por uma escrava’, no Brasil € confortador acentuar a atengao culdadosa de Lulz Mot 3 histdra plauiense, que ele reescreveu em alguns dos artigos aqui reunidos. €, portanto, providéncia do maior relevo cultural a publicagio agora, através do Projeto Portela, daqueles trabalhas, contribuindo, estamos convencidos, para estimular os nossos estudiosos. Afinal, em nossa historia, ainda “ha multe que ‘estudar,corrgire escrever. A messe é grande e os obreiras| tem sido poucos”. td de parabéns a Secret ‘Turismo do Piaui ia de Cultura, Desportos Teresina, 3 de janeiro de 1985 José Camillo éa Silveira Filho INTRODUGAG ‘Nesta obra esto reunidos sete artigos de nossa autoria publicados em lferentes revstashistricas e antropoldgicas fentre 05 anos 1976-1982. Em todos 6 leitor encontrara referencias inditas a manuscritos conservados sobretudo nas seguintes institu: Arquivo istérico Ultramarino (Lisboa), Insttute Histricae Geografco Basler, Arquiva do Ministerio as Relagbes Exterioresitamaraty e Arquivo Publicado Estado 0 Piaul (Casa Anisio Brito) Tratando-se de uma regio onde a unidade de conquistae povoamentofoiafazenda de gado,cristalizando-se toda a vida socioecondmica em derredor da pecudria fextensiva, qualquer estude sobre a historia do Piaui deve iniciar-se obrigatoriamente a partir dos currals de cratério, Esse fol nosso itinerario: "Fazendas de gaco do Piaui, 1697- 1782" foi nossa primeira incursio na historia sertaneja: ai 0 leitor encontrard informagaes de como eram as fazendas ganadeiras, sua localizacio 20 longo das ribeiras, funcionamento e composicio dos rebanhos. No artigo "Estrutura demografica das fazendas de gado do Piaui Colonial: um caso de povoamento rural centrifuga", acompanhamos diacronicamente a evolugao da mao de obra residente nas unidades pastors, privilegiando 2 andlise da composigio étnica e social dos “fagos” {unidades domicllares. Fo através do estudo de diferentes documentos {uantitativos, por exemplo, os bis de desobriga dos vgaos, dos mapas a populagio e das reldcdes nominais de habitantes, que fizemos duas significativas correces na historiografia sertangja. A primeira, de ordem gerencial das fazendas: de acordo com nossos mais lustres historadares| lecondmicos ~ de Capistrane de Abreu, Roberto Simonsen, aia Prado Jr. a Werneck Sodré e Celso Furtado ~ todas preconizaram que 2 empresa ganadeira no sertio se estruturou sob a geréncia de vaqueiros nao proprietaros, posto que a regra teria consistido estar o fazendeiro ausente do latifundio. Nossos dados documentais revelam indubitavelmente que o tao propalado “absenteismo” dos fazendeiros no passou de mero equivoco dos economistas: em 1772, apenas 11,4% das fazendas do Piaui tinham "senhorio ausente”, reduzindo-se para 6,9% os fazendeiros absenteistas em 1818, Nesta trilha de depuracio histérica abalisada e afiangada pela documentagao demogratica, particular atengdo conterimos 8s populac6es indigenas. No artigo "Ero- historia dos indios do Piau Colonial’, detalhamos a expresso qualitativa e quantitativa da utilizacio dos "tapuias” nas lies pastoris. E constatamos que mais uma vez os mesmos luminares de nossa historiografia “embaralharam 05 cacos" ao afirmarem que no sertdo pastorl pedominou o trabalho livre do indigena, arquitetando sem respaldo empirco uma pseudo-incompatibilidade entre a pecuacia extensiva e escravidio negra. Nossos dados demogréficos sio Incontestaveis: em 1687, os indios das fazendas representavam apenas 9% da mo de obra potencialmente empregada no pastoreio, caindo para 3,6% em 1762. Em contrapartida, nestas mesmas datas, os escravos negros imesticos representavam respectivamente 48% 55% da ‘populagso total residente etrabalhando nos retirosecurras, Eseravaria, diga-se en passont, que embora merecendo tratamento mais liberal do que © dominante do complexo canavieiroe na zona de mineraglo, nem por isso deixava de sofrer as crueidades inerentes a todo sistema eseravista, No artigo “Uma escrava do Piaul escreve uma carta.” (1770), 0 leitor encontraré 0 dramstico queixume da escrava-crioula Esperanga Garcia que dizia 20 Governador do Piaul: “Sou um colchio de pancadas!” Salvo erro, este 0 mais antigo manuscrito autogratado por uma escrava que se tem conhecimento na historia do Brasil "Descrigio da capitania de So José doPiaul”€o titulo do principal documento transcrito nesta coletanea, Trata-se de um Meméria de autoria do Ouvidor Anténia José de Morais Duro, sem sombra de divida, o texto mais completo, inteligente e informative que se escreveu sobre o Piaui durante o periodo colonial (1772). Sua descoberta em Portugal e divulgacéo constituem uma de nossas maiores alegrias na carrera de pesquisador, 'Nosso escopo ao reunir numa sé obra esses artigas publicados em diferentes revstas & somente um: faclitar 0 ‘8cess0 205 estudios0s da historia sertaneja,em particular do sertio do Piaul, de documentos e pistas que tornem mais produtvas e profundas as investgagSes sobre opassado desta regido t2o peculiar e prenhe de ensinamentos, onde a tenacidade, bravura ecoragem foram algum dos ingredientes fundamentais que tornaram possivel a vida em sociedade estes sertdes to indspitos. Pious, fia escondide no escrinio, do norte adustoe valent, onde os homens, fortes, herdom trdéncias do climo quente; onde a vida em gata ostento, sempre em vco exuberante, perfumes, cantare, fests, cariias de amor constant. (Wiaury: canto sertanejo, 1908) Salvador, 4 de dezembro de 1984 luis Mott ri E Mapa da capitania do Piaui (1760) DESCRIGAO DA CAPITANIA DE SAO JOSE DO PIAUI~ 1772" | Introdugao Malgrado a grande importancia que desempenhou «a Capitania do Piaui na qualidade de fornecedora de gado vacum e de sola para os principais centros de decisso econdmica do Brasi-Colénial’ nos uikimos anos, além das diversas pesquisas e publicagdo de Osilon Nunes’, pouca coisa tem sido feta de original, no sentido de esclarecer as principais tendancias e caracteristicas da sociedade piauiense nos primeiros séculos de sua historia. Dentre os trabalhos de sintese historica mais signficativos de que dispomos, esta em primeiro lugar a ainda insuperada agradece a Furdacio Gulbenkian a concesio a3 Boia de Etuaor que Ihe posebitayreaiea pesauises em Portuga BOKER, CA ie ce oro do ras. 0 Faw, Companhia Kators Nacional. Brasiian, v. 431, 1963, p. 262-289; PRADO IR, Cao, Formgso do Bros cntemparéneo, Sto Pao: Bsshense, 1957, 181207; FURTADO, Cesc. Formegdoecondmice do Brasil. 30 Paul, ‘ibieeaFundo Universal de Cultura, 989, 9. 70-77, ANTONIL A. CGaturae optencia do bros por svosdrgas mins. lo Ge lane: Consaino Nacional de Geogr, 1953, p. 93:10 Perauitor para hatra do Pou Teresi, mprensa Otel daEtag0, Cronotogia Mistérica do Estado do Pioui, desde os seus pimitvs tempos até a Prociomosbo do Replica em 1889 de autoria de F.A Pereira da Costa": trata-se de um levantamento de documentos realizado, sobretude, no Acquivo Publico do Estado do Para (Capitania 8 qual pertenceu 0 Piauf de 1695 até 1758), em que seu autor resume e transcreve os principals documentos e episddios relativos 8 Capitaniae Provincia do Pia. Trabalho exaustivo serio, constitui manancial de valor substantivo para todas as pesquisas que tenham tal regio nordestina como tema. Edicao rarae de dificil acesso, esta a merecer quem etome as fontes manuscrtas pesquisadas por Pereira da Costa a fim de realizar uma nova edicao critica e ampliada. Outro trabalho no menos importante, embora de cunho menos documental, & de autoria de J. M. Ferreira ¢' Alencastre'. Nesta obra, seu Autor trata especialmente dos seguintes temas: 2 cronologia dos principais acontecimentos da historia do Paul, os diferentes momentos. de sua ocupacio © colonizagSo, as duas figuras de maior destaque nos seus primérdios (Domingos Jorge Velho e Domingos Afonso Sertio},o problema dos grunosindigenas, 2 questdo das fazendas dos Jesuitas, seu sequestro passagem para 3 administracdo publica. Particular atenco é dedicada a descricio da base econdmica desta regis 1985, 4 2 ed, 1975; Domingos Jorge Vino attertosentoge bases, 118; Econama e fincas (Paw Colona). Teresina: Monogr: do Pau Series Histone, 1972; Os prmevros curr (orogratioe stor do PiauiSeiscenista, Teresina, Menogratla do Pau, 1972; 0 Devassamentoe congusta so Pi, Terenna, Monografie 0 Pau Strie mista, 1972; Pou sev povoomento¢ seu desenolimente Teresina, Monogrelias Go Pau Sere Hato, 1973, "ipogata do Joral de Reef, Perabo, 1509, * mewste do Instituto Histriza e Geasrfce Base, tomo ¥K. 10 sertaneja: as dificuldades da agricultura, aimporténcia da pecuatia, 2 organizaglo das fatendas de eriatério. Consta ‘ainda tal Meméria de uma sintese da evolugio demogrética desta rea, concluindo com a transcriagzo de varios documentos referentes a historia piauiense, entre os quais hade se destacar 0 Testamento de Domingos Afonso Sert30 (p. 140-150), peca de inestimavel valor no apenas para © estudo da estrutura fundidria sertaneja, mais igualmente para a histéria da Companhia de Jesus no Brasil, posto que 205 Jesuitas da Bahia coube zelar, como administradores, pelos enormeslatifUndios deixados em 1711 pela mafrense Domingos Afonso Sertio, ‘Além destes dois trabalhos basicos, que serviram, ads, como inspiragio e fonte para muitos outros estudos de aspects particulares da historia do Piau?, feliemente * Giz uma eiograiaresumida de igure trbatho que podem seri de fubscior para se estusar a historia €o Pau durante 9 Colonia « Impario: CASTELO BRANCO, MSL. Apontomentor biogrofcos de ‘guns powiesesiustes, Teresina, Tipogratia da imprensa, 1897, CASTELO-SRANCO (8), 0 Pou a terra, o omen, 2 mei. S30 Paulo, {ivan Quatro Ares, et 1970, CHAVES, Joaquim. iio no sO ‘hn 21963; ermes Notionolesd Elevoge dans Etat de Pau. Ro ge Janere. imprensa da Casa da Moedo, 1893; Limtes entre o Pol © Morgana, Documentos mandades uber por subscigie popula Teresina, Tp. da Piva, 1907: MARINNO, DG. claro dos fotendos raconai do Ftado do Pau fo ae Jone, Imprensa Ofc, 1698 MENDES, Sli, Proprio terra do Pau. Teresina, Pov 1928; MIRANDA, KA. Estudos provinces. $30 Paulo: Companhia Eeitor Nacional asians « 116, 1938, NEVES, A Aspectos do Pou Teresina Tiporais O Pow, 1525; PORTO. €}, Rater do ou Ro de Janeiro, Mimsténio de Edurags0 €Culera, 1955, MOTT, CRB exendes de gadod9 Pos! 1697-1762, kas Vl Spon Nocona dos rofezores Unverstaviae de Hater wl 1976,9 342369, MOTT, RB Lv esracturademog/ficedelashacendes de gonad de Pau! Coloniat-un caso de poblamient rural ceneifuga, Comunieagso the Scent Study of population, Mexico agosto 1977 (mimeo) pode contar 0 estudioso com outras fontes, além das. imanuscritas existentes nos Arquivos! que tratam dos séculos passados desta regio, Mal o Piaul acabava de ser descoberto © povoado, ja por al passava um arguto cobservador, o Padre Miguel de Carvalho: seu reato traz 0 titulo Descripgao do Certéo do Peauhy Remetida ao lime Fim’ Sr. Frei Francisco de Lima Bispo de Pernam’, datada de 2 de marco de 1697, Trata-se de uma relago dos principais acidentes goograticos desta regido, e o registro de 129 fazendas de gado que ai existiam, situadas nos diversos rios, ribeiras, riachos, lagoas e olhos d'sgua situados neste serio, Refere-se 0 citado sacerdote acertos, aspectos socioeconémicos desta nova capitania, dando para cada fazenda 0 nome de seu responsivel, o numero de negros,indios e mesticos dos dois sexos existentes em cada propriedade rural, assim como a distancia,em léguas, que separava uma fazenda da outra Jnosinicios do século Xvi de passagem pelo Piau ‘ex Governador do Maranhdo, Jodo de Maia da Gama, relata| sumariamente alguns aspectos no sé da territério que percorreu, come também informa a propésito do adiantamento de suas fazendas e povoarées”. Ainda neste século, outro documento merece particular aten¢o para a historia desta zona: € o Mapa Geogrdfico do Capitania do Pioui e parte das Adjacentest, de 1761, realizado pelo Engenheiro Jo30 Anténio Galucio, carta onde estio SENNES,€ As gueros nos Palmares. Brasiiona,v 127, 1938, 9. 370-39, OLIVEIRA MARTINS, FA, Um ters esquecso (Divo dn wager de regreso pore oteino, de Je da Maia da Gama, e de Inspecqio das Barat dos Ros do Maranhao e dts Captanias do Norte em 1728), Agéncia Geraldo Colin, soo, 1948, 2 p16. ‘aps plance manuscrtosrelatvo 40 Gras Colonia (2500-1822), initrd inter tamarat, nt 192 9" 193, registrados no s¢ 0s ros, ribeiras, iachos e demais cursos «aguas, como também as fazendiase sitios, vias e povoados desta Capitania Para 0 século XIX dispomes principalmente de trés referéncias: o Roteiro de Maranhao @ Goids pela Capitania do Piau? onde seu autor descreve varios aspectos do clima, solo, vias de comunicagio e a produglo do setor agro pecuario do Piaui; a Memériarelativa as capitanias do Piaui @ Maranhao", esrita por Francisco Xavier Machado (1810) onde encontramas além de informacées sobre as principals localidades do sertdo piauiense, suas dstancias e producdes, ‘minuciosas informacbes a proposito das fazendas daextinta Companhia de Jesus; efinalmente, os relatos de viagem de von Spix & von Martius", salvo erro, 0s Unicos viajantes saturalistas que palmilharam aquela regio, tendo deixado algumas paginas onde descrevem de maneira viva notadamente a regio de Oeiras, seus habitantes ‘ocupagbes. Cumpre referir que embora as memérias & relatos de viagem sobre o Piaul durante o periodo Colonial Io sejam t30 numerosos e prolios, 0 certo € que temos conhecimento da existéncia de abundante e rica documentacio inédita, conservada nos arquivos do Brasil e Portugal, ¢ que aguardam estudiosos que a divulgue e analise. Também nos Arquivos Histéricos do Piaul, Para e Maranho ha farto material relative & Capitania e Provincia {do Piaul Contudo, apenas no Arquivo Nacional, na Biblioteca Nacional e no Instituto Historico e Geogratico Brasileiro * Revista de institute Historica e Geogréfico Basie, tomo LX parte 1900. 60-262 (Autor anerima) Revista do sito Hate e GeogrofioBrsdero, tomo XV trea se, 0131 timeste 9 9663 VON SP, 6. 8 VON MARTI, C.F. Viogem pelo Bras Rio de Jane, Imprensa Nacional, 1938, p. 414423, {todos no Rio de Janeico}, encontramos farto e rico material manuscrito relative aos séculos XV e XDK que ndo mereceu ainda 0 devido tratamento”. Em Portugal, no Arquivo Histérico Ultramarino,além das onze “caixas” (indo de 1705, 131831} contendo exclusivamente documentacSo relativa a0 Piaul, temos conhecimenta ainda de centenas de outros documentos dispersos, quer nas “caixas” da Capitania do Grio-Pard, quer nas do Maranhio, isso sem falar noutro tanto de dados existente nos Cédices do Conselho Ultramarine e nos demais Arquivos tusitanos®. Foi exatamente no Arquivo Historico Ultramarino que tivernos 2 alegria de encontrar @ documento que @ seguir vamos transerever:@ Descrio da Copitania de Sdo José do Pau Trata-se de uma meméria manuscrita, datada de Oeiras aos 15dejunho de 1772, de autoria do Quvidor dacta Capitan, Ant6nio José de Morais Durdo. Trata-se de um texto inédito, pois no o encontramos citado nem por Odilon Nunes, Pereira da Costa, Ferreira’ Alencastre, tampouco por J 1 hora do Pau exetentee no Rede Taner e em Poruga ate © $stemaio nos Arguios naconaise estrangeies,e muito menos, pubiado, alm do taba de Perea da Cota lop. ct aualquer Geogrfico Powense, tm 1920. To Brio Histrco Uteomaing (Uisboa) M1 eas elativas 90 Pauicontende documentos das segunte ats Cama (1732-1750 (aia 2760-2763} Cana: (2766-177), Cana 4 (1773-1798, Cala 5 (2800-1873); Cana 6: (1705-1778); Cana 7: (1783 183th; Caea 8 (4745-1828), Cara 9 (17451798), Cac 10: (2770-1823; Caea 13 (17741798) alt dests Caines, Mi ainda no mesmo Aru out tanto de Codices qe atam do Plauies eus nimeros no ventana Gera dos Codes n 73, 8, 96, 103,193,116, 11, 138, 197195, “arquivo bstrce Uramating, Cina 3. Noberto de Sousa e Silva". A Unica referéncia a sua existéncia, salvo erro, fo feita por G. L. Santos Ferreira que interessado em desvendar a questdo dos limites do Piauicom 0s Estados limitrafes, esteve no comero do século atual em Portugal, consultou a referida Descrigdo, mas contentou-se fem transcrever no seu opasculo apenas uma pagina que tratava de desembocadura do Rio Parnaiba™ Sobre seu autor, Anténio José de Morais Duro, pouca coisa relatam os documentos, Sabemas que apds a partida do Governador do Piaui, Gongalo Lourengo Botelho de Castro para o Maranhio, 21° de janeiro de 1775, tomow posse do governo interino da Capitania, no dia seguinte, o Ouvidor Anténio José de Morais Durko, fazendo parte de uma junta composta pelo Tenente-Coronel Joio do Rego Castelo Branco, ofical militar da patente mats elavada e pelo vereador mais velho da Camara do Senado de Ociras, José Esteve Falco”. Outro documento que conseguimos encontrar referente a0 Or. Durdo é uma carta enviada pelo Governador do Maranhio, Joaquim de Mello e Povoas, 20 Marqués de Pombal, datada de 16 de outubro de 1775, onde felata as queinas que contra o Quvidor fanla 0 Alferes da Cavalaria Auxliar da cidade de Ceiras, Manoel Anténio Torres: diz que o Dr. 04 SOUSAE SUVA,1Mtnvestigobes sobre os recenseamentos do ‘opulacbe Geraldo imperial caso Provincia de ers, tenades desde os tempos colonics até hye Ri de one, 1878 Reltrio do vestigaizess que procedeu Guilherme ul dos Sntoe ‘espectoronSroviorqveinteressom expeceimente a0 Pe Usb09, “Tngraa ea Coopersta Mita 3903, p18 PEREIRA DACOSTA, opt. 9, Perera datenaire, op ct referee ‘tercere membro do Governo nee (p 8 Ha ‘Moveu divida sobre os pagamentos dos sods de dos sargentos-mores da Cavolori etOrdenanco, que na conformidade dos suos potentes, se ies devia pagar 05 reditas da Cimare de Geis, que pelos ndo ter de ‘modo que chegasse pore aque satisforso, se ifcultou ‘20 mesmo Senado o pagamento do dito soldo" Com a intengode conseguir suficiente cadebal para pagar aos referidos sargentos-mores, Durdo solictou ao Senado que erigisse um novo contrato para os aguardentes: fo Senadio se recusa. A entdo passa 0 Ouvidor a perseguir os ficiais da Camara em particular a0 citado Alferes, que na ‘ocasiéo exercia 3 fungio de Tesourelro dos Ausentes, Em vista disso, pede o solicitante que sejam tomadas as devidas providéncias a fim de que se voltasse a reinar 2 tranqulidade”. Nao sabemos se por esta razdo, ou por que motive particular, a3 de dezembro de 1778, isto€, menos de 3 anos ‘aps assumir interinamente as rédeas do Governo da CCapitania, Anténio José de Morais Duro € suspenso de todas as fungdes publicas e enviado preso para 0 Maranhio a 17 do mesmo més, Infellemente nada mais sabemos a seu respeito Através da leltura desta sua Descriedo podemos concluir que certamente o Dr. Morais Durao devia ser homem cult, pois tanto sua argumentago como seu "institut Misti e Geogdic easier, Consetho Utramarin, Aa, TAL, Maranhgoe Pia 1775, 0,165 ¢ 3, PEREIRAOA COSTA 09 p95 Perea dMlencase op. ct tambo 12d ours datas pra a suspensio de Or Durée 2 de devembro de 1777 sendoremoido par Sao lus a 17 de dezembradeste mesmo sna. vvecabulério refletem elevada erudi¢io”. Homem de visz0, no se contenta em "descrever” a capitania da qual foi ‘Ouvidor: diagnostica far prognésticos,sugere remédios para (0s problemas que afetavam periciosamente tal regio ‘ADescrigdo da copitania de Séo José do Piouiconsta basicamente de duas unidades: uma série de 8 mapas estatsticos onde aparecem arrolados para cada povoasao da Capitania (cidade de Oeicas, vilas de Parnagua, Jeromenha, Valenca, Marv, Campo Maio, Paraiba), e um mapa resumo de toda a Capitania com os seguintesitens: ndmero de fogos, nimero de almas, homens, mulheres, faxendas e sitios. No que se refere 8 dvisio da populagso pela cor, as habitantes do Piaui sto distribuidos em 6 categorias: brancos, mulatas, mestigas, vermelhos, mamelucos e pretos. Ao divide a populagio em grupo de idade, Duréo estabelece novamente seis grupos: menos de 7 anos, de 7 a 14 anos, de 14.2 70 anos, de 70 90 anos, de 50 2 100 anos, de 100 2 120 anos, Encerra esta primeira Unidade um levantamento sobre 0 nimero de fazendas do Piaui que tinham senhorio cesidindo fora da Capitania: em Portugal, na Bahia, no Ceara, em Pernambuco © no Maranhao, ‘A segunda unidade da Descrigdo é complementar 3s, tabelas estatistcas: consta de duas ou mals folhas de texto em aque o Autor dscorre a respeito dos aspectos geograficos, socials, econdmicas, demograficos e criminals de cada um as vlas cuja populacdo foi sistematicamente apresentada ros supracitados mapas, Nido temos conhecimento de outro autor do século XVI que subsidise 2 pagulagso do Sas em tants ctegorias como fer Dutio a saber: brancos, pets, vermelnosindos de qualquer nga) el Antecede a analise dos agiomerados populacionais, uma série de informacdes @ propésito dos conceitos Utlizados na elaboragdo dos mapas estatisticos, sobre a localizacao da capitania, seus limites, clima, rios, etc, Na conclusio apresenta um resumo histérico relative 3 Conquista e colonizagio desta area sertaneia, tecendo consideragées sobre 0 maus costumes reinantes entre sua populacso, Seguramente que no fol 0 Ouvidor Duro quem primeiro recenseou a popuiagio e as propriedades da Capitania do Piaul: j4 nos referimos que em 1697 0 Pe. ‘Migue! de Carvalho levara 0 cabo tal empreendimento™ Alem das informagSes estatisticas oferecidas por este sacerdote, disnomos de outros datos relativos ao século XVIII; no ano de 1762, Lode Pereira Caldas, © primeiro Governador Geral do Piaui, baseando-se nos rois de ‘desobriga dos Vigarios de sua Capitania, elaborou um Resume de todas as pessoas livres ecativas, fogos,fazendas dda Cidode, Vilas eSertdes do Copitania de Sao José do Pious, informagées que aparecem citadas em muitos estudos consagradlos 8 historia do Plau, inclusive na principal obra relata aos censos demograficos que tiveram lugar no Basil nos perfodos pré e proto-estatisicos”.Ainda o século XVII ‘efere-se Sousa e Siva a dois outros censos levados a cabo no Pia: um em 1797 e outro, em 1798: infelizmente n3o fornece maiores detalhes,ollustre Estatistico, onde coletou tas informacées. Comparativamente a estatistica assinada pelo Governador Jodo Pereira Caldas (1762), a do Ouvidor Durdo NES, jp 370389. Secretaria de Estado das Relagbes Exterores, Arquivo Nintrico Inamaran, cata 267, mag 2, pata revela-se, sem divida, muita mats minuciosa e completa, ‘apesar de ter omitido um dado fundamental: contenta-se em subdiviir a populac30 pela cor, sem espeeificar qual 0 numero daqueles mesticos, mulatos, vermelhos, mamelucos e pretos, era escravo ou forro. Embora tenha 6 cuidado de iferenciar as fazendas dos sitios, Durdo deixa o leitor confuso, pois nio esclarece se no total dos fogos de cada lugar estdo incluidos os fogos das ditas fazendas e sitios. COutra ressalva: ao discriminar as idades, apresenta em ver dos tradicionals grupos de 10 em 10 anos, seis grupos que ‘embora se aproximando do chamado critéro “profssional extende o grupo dos “ativos” dos 14 a0s 70 anos, diferentemente do procedimento usual, que considera vvelhos” 20s individuos que ultrapassaram 2 casa dos 60 anos" Aliés, que valor analitico teria visto 0 Ouvidor Durso ‘em subdividir 0 grupo dos velhos em trés sub-grupos? Tals lacunas no desmerecem o valor insofismavel das informagoes quantitativase qualitativas prestadas nesta Descrigdo: dentre os "Resumos", "Memérias", “DescrigBes’, etc., do século XVIII consagradas ao Piaui e até agora conhecidas, esta de Antonio José de Morais Ourdo é sem lavida a mais completa, interessante e que mais luz trax sobre a vida socioeconBmica sertaneja. Tendo percorrido pessoalmente grande parte do tertitorio da Capitania, fembora tenha vindo de fora (o supracitado Alferes Torres informava que Dur3o era de Lisboa), ele discorda de certas informagdes prestadas pelos habitantes locais no que se fefere 3s distancia e area de Capitania.Discorda iualmente dos mapas de Volim (2) e de Galuclo, reputando-0s pouco evatos no tocante a hidrografia, * egunde Duro, sos se toma pela farenda ques uta enauanto Totendo se chama ade gad acum caval tas wgarmante Cura * MARCLIO, ML La Vile de S30 Paulo. Peuplement et Population. ee Embora reconhecendo a pobreza da Capitania, em parte devida a seu clima calidissimo,1d falta de chuvas regulaces,&insignificancia da maioria de seus cursos agua, a natureza arenosa elageada da maior partede seuterrtero, Duro néo titubeia em apontar como a principal causa de tal atraso, "3 nimio preguica de seus habitadores que Lunicamente se opraveitam do que a simples natureza produt, sem mais beneficios ou canseras..” Alids, este € um dos aspectos que amidde transparece nas ideias de Duro: o caréter indécile violento de seus habitantes, a repugnancia com que viam a ‘2gricultura, a super valorizagSo da atividade pastoril em detriment das demals. Ele consagrava varios trechos de sua Descri¢do aos problemas das fazendas de gado (muito fembora no se refira sequer uma ver as importantes fazendas dos jesuitas que se espalhavam por toda a Capitania}: perseguinde sempre a mesma argumenta¢so, isto &, que a Capitania estava repleta de individuos inativos, vadios, preguigosos, facinorosos, malfetores etc, ee utiliza se de fortes expressées para categorizar tal populago. Sua escricio dos agregadas é a mais viva e minuciosa de que temos noticia: salienta a existéncia de dois tipos de agregados, os que “algumas vezes servem como criador inerentes @s fomilios”, e outros “que nem server, nem aa Jamnilia se incluem, antes tém fogo separado, posto que dentro da mesma fatenda” Relata o estilo de vida desta gente, sua rusticidade, sua indisposigSo para qualquer outraatividade que nao seja Tigada a reses, os problemas e violéacias que sempre 530 antfices. Mostra, finalmente, que apesar de constituirem: se em verdadeiras “pestes da repuiblica” e desfalcarem as fazendas, sua presence ¢tolerada e mesmo protegida pelos latifundisrios, que através dos agregados “se fazem mais respeitados”” Para sanar tal calamidade social, além da criagSo de colénias nas terraslimitrofes com as Gentios, aproveitando tal populacio inquieta, Ouro sugere outras medidas corretivas de longo alcance, tais come a criag3o de mals freguesias pelo interior do Sert20, a fundacdo de escolas ajudariam, tanto pela cultura, como pela palmatoria, a abrandar os costumes de sua mocidade “que se perde sendo educada na mesma deslusao e ociosidade e mais vcios que (0s pais e parentes com publicidade praticam..” Sugere ainda {que nos confins do Piauicom 0 Ceara, onde no haviacerteza dos limites e jurisdigdes, vindo a ser, por esta razio 0 “principal covil de quantos eriminesas hd, tanto de uma como de outra copitania, mudando eles as extremas ou confundindo-as e veriando-as como ies faz conte, pora nd serem inquietados de nenhuma porte”, aconselha entdo que se estabelecesse af a determinacio dos passaportes de comarca para comarca, medida que certamente redundaria sen3o na eliminag30, ao menos no afastamento destes “demdnios encarnados, que ndo os curibocas, mesticas, cabras,cofus e mais catres de que aterra&tdo obundonte. Cumpre referir, & guisa de conclusio, que 30 transcrevermos os dados estatisticos desta Descricao, diversas veres nos deparamos com erros de aéicao, tanto ‘nos quadros relativosa Vilas, quanto no quadro geral. Assim confrontando os 7 quadros particulates com o gera,fo-nos possivel corrigir os resultados estatisticos. Destarte, os Mapas Estatisticos apresentados aqui aparecem dovidamente corrigidos. Atualizamos 2 ortografia embora tenha mantido, tanto que possivel, a pontuacio original. Os rnomes de lugar, rios e demals acidentes geograficos " Asemeshanga entre tis “aaregados 98 moradores os fzendas (de Pernambuco releridos po Talenate é mito rande, CL TOLLENARE (CF), Notas Domina, Salvador Uw Progresso Ea 2956, p 96-10 Paw ean -aparecem da mesma forma como.o Ouvidor DurBo escreveu Em duas ocasides no conseguimos deciffar a caligrafia do mesmo, pelo que representamos da seguinte forma: (..). ‘Anosso ver, a publicario ds Descri¢ao de capitanio de So José do Piau'é plenamente ustficada e recomendada ro apenas por tratar-se da principal memoria setecentista consagrada ao Piaui, enriquecendo:se grandemente as fontes para a sua historiografia, como também devido 3 sua riqueze de informasées, tanto qualitativas, como quant tatvas, fornece importantes subsidies para futuras| analises de demografia historica e de histéria social e econémica desta regi3o nordestina durante © periodo colonial MDocumento Descrigao da Capitan de Sao José do Piaui Vermeiho se chama na tera a todo indio de quatquer nogdlo que sejo; mameluco ao fiko de bronco e india; caful 20 {ilo de pretoe india mestico 00 que participa de branco,preto 2 indo; mulato a0 filo de bronco e preta; cabra ao filha de retoe mulata; curiboca ao filha de mesticae india: quando se nde podem bem distinguir pelas suas muitos misturas se explicam pela palavra mestico 0 que eu fare, comoreendendo rela os cobras e curiboces. Fazenda se chama a de gado vacum ou cavolar tas vulgarmentecurrais sitios e toma pela fozendo que se cultva, sendo separeda das de godo; pela qual razéo néo numerei os 1050s, engenhocos de agdcar que se acham dentro doquelas ‘porque seria isso multiplicar-ne fantasticamente o nimere; {95 ro¢as ou engenhacas astintas vao compreendidas debaixo da polovra sto Tem esta Capitonio 260 léguas de comprido desde 0 bborra do rio Pornaiba até os vertentes de uma serra que fico 13 éguasadiante do vila do Pornagos, crrendo de les:nordeste ‘20 0es-sudeste, segundo informacio dos mals praticos do pais orem eu me copocito, nda possa de comprimento de 200 lequas porque o tartuesa dos estradas abertas a0 acoso 0 representa de mavor extenso. Da mesma forma Ihe considera 80 léguas onde mais o é: supesto se entenda pelos mesmos praticas, passa muito de 800, ‘Assento que tonto @ Carta Geogréfica de Mons. Vom como a de Mons. Galcio tem pouco de ext, principalmente ‘quanto 6 irecd0 dos nbeiras, nd obstante ter 0 dt conferido {2 esta Copitonia pore a construgo da suo. Divide-se a mesma do do Maranhao pelo ro Parnoibo quase desde o seu nascimento até a sua bora; da do Cearé por uma matas que principiom junto. costa do mar, préximas 0 Vila do Pornoito, em diveitura@ Serre de Beapobe que cinge ‘quase esta Capitania ao nascente, cantinvando se vai diviind pela Ribeira de Jaguaribe, iacho e por outras matas, serras @ travessias com declinagdo pora 0 sul. Da de Pernambuco se ‘separa por umas serraris que continuam até o ro Preto, onde Confina com a de Jocobina, correndo de su pora sudoeste; da dos GolazespelasTeros Novas, incinando-se paras cabeceiras {de Pornaiba onde confina com o gentio Bérbaro sem lite £ a cima sadio, posto que calidssimo; mas os muitos bosques, lago0s e outros lugares lodinasos produzem muita se2%0 e malignas nos fins dos chuvos. Tombém se padece com frequléncia 0 queina do corrupsao a que chomam “bicho", ‘ausada do nimio color de um pais situado debaixa da zona térrida. As mais enfermidades so menos frequentes, mos Incurdve's, porque em todo este sertdo se ndo acha um médica ‘nem cirurido capa. A hipocondria, oescorbuto, a esmafovem ‘mais estragos do que se imagine, mas s80 desconhecidos. E Copitania pobre, mas desempenhado, Pouce fer, ‘G0 tanto or inluéncia da terra que pela maior part éarenasa elageodo, quanto pele niin prequica de seus habitadores que Lunicamente se oproveitam do que a simples naturezo produ, sem mais beneficios ou canseiras dees. HO muitas parogens Pau cal 2 eS excelentes para culture, mas desprezadas donde ver serem 05 rutos 40 terre, como sb0 0 mandioca, fei, milho, erro, ‘car em comparagao com as demois capitanias, totalmente Entre tontos ribeiras destos Capitonias, apenas sa0 perenosas a Gorguéa, 0 Pareim, a Parnarbo, olém de alguns ribeirs de pouca consideragao; os mais unicamente correm no tempo das chuvas 0 que no pois se chama “verde” 0 Parnaiba é navegdvel mais de 100 léguos pela terro adentro, pporém de canoas somente, porque as muitas cochoeiras que tem, impedem outra embarcagdo; oinda aquelas navegom com bastante trabalho e perigo pela causa dist, Cidade de Oetras Fica esta cidade no melo da Copitania;ésituada numa bia com inclinagde para 0 poente e cercada de montes. Daguela porte a banka o Ribeiro da Mouxe que deu o nome & povoagta enguanto vila; dele se bebe porque em a toda sua circunferéncia, nBo tem fonte alguma. No tem religio, Casos de Cémora,cadela, agougue, ferreito ou outro algurma ofcina piiblic. Servem de Cémara umas cosas térreas de barra e sobre ‘que corte tigi, A cadeia€colso indignissima sendo necessério estarem presos em troncos¢feros, para seguranga. A casa do ‘2s0ugue é olugade demals cosa nenhume. As casos da cidade todos sto térreas até 0 préprio patdcio do Governo. Tem uma ‘ua inteira, outra de uma s6 face, e metade de outra. Tudo 0 ‘mois so nomes sypostes;o de cidade verdodeiromente $6 020 ‘9 nome. Tem 0 Cémara pouca mais de 2005000 de renda e os ‘comeristas noda de propinas; mes daqui nascee repugnéncia com que servem, ndo abstante os prestigios de que ficom ‘gozando e ndo obstante chamarem-se regularmente os réprios vaqueiros par servirem de jizes e vereadores +o nesta cidade e todo seu distito uma sé freguesia na invocagdo de Nossa Senhoro do Vitoria: mas & extenso ddemaise por estacousa, impossibiitada da administragéo dos sacromentos. Exceto na cidade, tudo 0 mais morre sem eles. Passam-se anos sem se botizarem ox meninos e sem se sotisfozer 00s mots precetes eclesistcos, Todo 0 que morre ‘no campo se enterra junto das estradase os sufr0gios que se Ihe fozem, s80 05 oracdes de algum viandont pi. odia hover, anecessidade pede, haja mais frequesias ‘no compo, principalmente onde se acham jé eretas algumes copelas coma ¢ no Bocaina, junto & Reira do Itaim, no Inge ‘00 Fazenda do Beja, Ribeira do Canindé, no Brejo do Pioule no Nazoré, Fazenda dos Algodbes da mesma rbeira Tem a cidade unicomente 157 fogos, porque suposto nna mapa se vé 269, se deve entender porque sees juntam os de circunferéncia na distancia de uma féqua, Da mesma forma tem somente 692 almas, a; mais do no ata ccunferéncia, € ‘esta €0 melhor demonstrogdo de sua grandera Cuidam muitos habitantes deste pois em fugi do sociedade vivendo nas matos ebrenhas, onde se figurom mois livres e donde vem a falta de instrugdo que padecem, © 0 respirar tudo a bérbaro ¢ feroz. Verdede esta bem indicado pelos muitos e graves crimes que cometem principaimente de ‘morte e esisténcios. Nesta mesma cidade ndo ho uma aulo de ‘gramatica. Sé uma de escola € que fiz abrir quando aqui Cheguei. A mocidade se perde sendo educada ra mesmo desilusdoe aciosidade e mais vcios que os pase arentes com publcidade praticam. ‘é no dstrito desta cidode duas povoasées de indo: 105 ices aldeacios junto & Ribeire do itaim e apenas chegardo| hoje 0 60 individuos, ¢ os Guegués que se situarom em Sao Jogo de Sande dstante da mesma cidede &léquas para. porte norte echegam, entre grandes e pequenos, 252. Néo 0s met! nos mapas porque nia s6 nGo prometera aumento, mas nem ‘indo subsistem porque os Jaicés estdo quase extintos © 05 Guegués existiréo pelo metade do que eram quando se ‘aldeeram hoverd 12 ou 13 ones. Vierom de nove 424 Acrods ‘que endo acham ainda oldeados e as 3 juntas faze animero de 736 elmos. Séa uns e outros insepardveis do furto € bebedeira e geraimente de qualquer nozdo que sejam, nimiamente esipides, prequicosos, glutdes¢ligados 00s seus ritose superstigaes em um maior extremoy pegondo-as como contagio 90s mois moradores da Capitonia. 14 nela houve mais aldeias de que apenas hd memoria como diel folando dos Oroazes na Vila de Valenca (mapa 5) As prncipais riberas deste distrito sBo Pioul,Conind, RiachGo, Guoribos, Itim, Tolhada, Mouxo ¢ outras mais pequenes que se metem nestas. A Mouxa ea Tathedo correm edo ano; as mais quando chove somente. Quando o Canindé ‘entro no Parnaiba as tem recebido todas. 0 Piauifica ao su da cidode, 0 Mouxa ao poente, a5 mais para o nascente e norte ‘porem todos se metem no Caninde na forme dita, Vila do Parnagoa Fica a Vila do Parnagos ao oes-sudoeste dest cidade dista dela pouco mais de 90 Iégues. Tem unto a sium lago, com 5 leguas de cicunferéncia, € abundante de peixe € neo ‘muito nocivo 8 souide porque o atravessa 0 Rio Parairm que todo ana core. ‘Nao tem oficinas pblicas, como todos mais vilos da Copitania, e 9 mesmo se deve entender pelas rendas das Camaros, porque ndo tendo ters suas, cantratos ou forres, ‘nem verificade a graga que S. Mojestade a todos faz quando se criaram, de seis liguas de teré em pedo.0 cada uma, & claro Bo poderem ter renda nem aumento, réximo @ ume fozenda chameda do Mocambo, se acho tum sitio chamado Brejo, com 42 moradares, que fozem um ‘pove mais numeraso, que oprépria vila da qual dsto 12 féquas {20 mesmo rumo, mas nem nome tem de aldela, nem julz ou {Justiga, ao passo que se aumenta em cultura e negécio. Quando desto cidade se cominha pare a Vila do Pornagos fica @ exquerda entre as cabeceiras do Pioul e do Conimats, mas nadistrite daquela Vila, hd um sitio chamado “As Pimenteiras’, que terd, sequnde notice, 30 ov 40 léquas 4e extensdo; no centro do mesmo € constante se acharem ‘aldeedos numerasos indios 0 quem se dé o mesmo nome do ugor Muitos anos se conservaram pacficos, sem soir fora, nem causar dano elgum. Porém, de tempos a esta parte se tem ‘veriquado pratica}6 00 contréri, matanda efazendoextrogo nas fazendos mais préximas. Enquanto, porém se busco os de foro indo conquisté los por forga, com excessivos trabalhos dos moradores da Copitania,fintosviolentas de covals, dinheir, bose farinha, © grande despesa do Real Fazende, que nenhuma utilidade recebem destas conquistas, mais que novo estrogo das {fozendas que the cousom este nacivase initels habitantes, «quando se metem de poz, obrigados da necessdade e que ainda vencidos, Sempre vivem com violéncie, esperanda ocasida oportuna para se levantarem coma a experiéncia tem {frequentes vezes mostrodo, Porece serio mais utile menos ‘ustoso se domestcassem agueles, convidando-se mais com suavidade eartcio que com forga pare se evitor@irrepardvel rina que podem causor camo situados quase no coragao de uma Capitania, desacautelode © com pouca gente pora um ‘assafte repentino, Yoltemos vila, Tem esta unicamente 29 fogos, os dois que se acrescem 190 mapa so nos arrebaldes. Fico em planciee gaze melhores ores que esta cidade, pelo que se vive naquele distrito em ‘melhor sade, ese chego « mais avencade dade. Atuaimente tem trés homens, dos quais um tem 110 anes, outra 122, 0 terceiro, 120. 0 lima naa ta0 cai. ‘Asribeiras do Corimaté, Param, a Gorguea com nome de Geltaés que regom e fecundam bastantemente 0 dstito desta Vilo desdquam tades no Parnaibe, ineluides J no Gorguea esto junto Vila de Jeromenha. Gorguea ¢ Gelbaés 8tudoomesmo, parém enquonto est ribeira corre pelo dstrito 40 Parnages, passa com o nome de Geiboes, tomado de um sitio que banha € & povoada de bastantes forendas de gado vacum, entrondo ne de eromena,deixado aquele neme toma 0 de Gorguea que canserva até se sepultar no Parnaiba, ‘Amesma Gorguea, Pornoibo, Uruju'e Ria das Lontas, ‘nascem todos de uma mesma chopada que confronta quase com as Terras Novas, pertencentes @ Golazes, e suposto que { ee | ‘com bastante distncio um dos outres no seu nascimento. Vem todos com a seu cadebal aumentar o da Parnoiba, que do ‘mesma forma recebe o de todos os mais ribs ou ribeias desta Copitania, como sBo, Pau, Canindé, Pot, Sorobi, com os que estes se metem ecorrem de nascente para poente com pouca variedade. ‘Algumas fazendas deste aistritotém solinas, mas 0 sal é nacive & saide. A invocage da freguesia & de Nossa Sra, do Vila de Jeromenha fa stuad @Vilo de Jeromenha quase a0 poente desta cidade e dela dista pouco mais de 30 léguas. Quando se ominha para Parnagoa, fica a méo drei. Tem unicamente 5 {foaas; 08 18 que Ihe vem so na circunferéncia. NOo obstonte Ficor junto da Garguea, e sityado em lugar cémodo, nenhurn ‘oumento tem tide, como mostra 0 nimero de seus viinhos, havendo 11 anos que ¢ vila; o mesmo sucede ds mais, e como 2 respeito desto, rode tenho que notar, apontarel aqui a principal causa daquele defeito, ‘Além dos senhores dos fazendos ou seus feitores, voqueiros,fabricas€ mais pessoas que nelas mora, comouma 48 familia, hd outras multas a que chamam agregados sto {de duas formas: uns que em aigumas acasides server como ‘riador inerentes ds familias, outros que nem serve, nem no fornilia se incluem, antes tém fogo separado, posto que dentro ‘de mesma fozendo. Os primeiras, dado que maus, sao tolerdveis, mas os segundos, s80 péssimos e danosos em todo o sent. Disfarcam estes refinados vados, preguicosos,lodrées, Imotadores e pestes da republica a sua péssima conduta com OWwoHNSS aL ano svanazs cayisap nes 9 ebuayen 3p ein e194 94 anb sons LLt 99 oxqustag 21y 9 wewos 1 ofwereivon = eapon oonqucuiag 3 + ewegen 1 oupyon 80 wa wuo# o¥oNNS guano svaNszys eer ap esquiazag ay yest wewos ort me cor 20 € opts 0680 a o6=0L20 tert oxsiest 9a ee erec90 st Lepsouayy seonjewers seu season, seein seuela wewos soins soonjeuert sououen soon rove 3409 9p na 9 equa. 2p BNA es9U ey Nb SONS oy 85 ORtE 9SET 9E52 692 INOS 6 tt coe as tar OL seBuaEg BE PE EIZ £62 905 05 | eifow en05 ser ost ete o6e ua Ke onouepung for ae se oe mum cy oe mt oy oo pee abe gs uazes seosSag Sep OBEN Sua AP BA so 9 69 799 698 Test ESC wrewvos SSE HE sor see st op eantion fC St Sst Zor ese 79 equa ee svanaevs souanovy a WE BIZ BIE Ts elaogopeantiog owe een 28 0g sep ogsey eyuoworsy ap en aN or wewns 2 orweenon © eeaneN = eonqueurag us 1 wegen 0 ya ¥Ho4 OWOHNS w3Lan0 svONaVS ‘reat 9p osusatag 21y * wewos = oeyuesen on 1299 0N) = eonquewiog ua = ewesen we varus OWOHNIS WL 5no svaNsevs pect apesquazag ay ust wewos = o2t ne 90t 30 5 oor ae 05 20 we pret on mest aa oes time cag 9 capsouani szet ews o2t ne o0t 9 ® 670420 06 acai ot 0 zee pemecaa eet cepsounys ssoval wort set 9st 05 ore see See ert az ee sir 65 16 6 es wot ua wr soyiowien, sues wewos soonjewews s04jouon sobasens sore sours 53409 wewos ewe, seyounn sein sued \wewos soa soyuuan sSas01 seven sn09 om ot sous sap na 90187 oduie) 3p ehh e504 ey anb sONIS sepUOTES FORD 0s 6 oer soot test LP se cer B6e 159 68 ee wee 908 089 18 Br spr 95 wer Os et 6Be 02 608 Set Lest coe exe 98 BES EB 8 — 2 238 222 5S sep ote 6 65 ate oxeT ot zee soe u19 Gt uz Ete 98s svonazys sain swnw ‘sepuozey “seossea sep orSepou ‘OPEN ADELA, ost 8 0903 goss avon op aoa ep uo eqyeureg ep e198 3001 onans sory 089 9 eH wvnos sravie ons organs ein, eh ‘Ne Dezembro de 1774 Mila de Paraiba _ 26 1 e . am 2 cE g ' FAZENDAS DE GADO DO PIAUI (1697-1762)" Some eee beers: E i ga koe 5 i gioeaseea sleet teas! é Bese ees $ 3 2 22 2s ue no period Colonial ~ e mesmo até perto dos 2 . * nosso dias 0 Brasil era uma pais fundamental rural, & SQRae8a sagsaes assunto amplamente estudado e que farta bibliogratia | a * - sobejamante ocomprova zs Seesik . sail. Toda a estrutura de nosso soiedade colonial teve sua g gaeteei fbes base foro dos meios urbanes...Os portugueses G22585h 5225325 Instararam no Bast uma cwilzojdo de res reves a. . £ efetvomente nes propredodesristcas que toda @ sous 2 & 5 vido do Colonia se concent duront os secalosincios Esa | k 5 dla ocupogao evropei:osciodes si vitulmente, se z . fe ‘no de fat, simples dependéncia delos” § sainnw 2B z é a x omuncasSo presera no Sssode tos, aupe 80 a'2de 3 sanon 2 g Setembro de 1975 Go Ut Snpose Nacional dos Dolesares aoa 3 SCFlosota Cancase evs do Unversdase So al. 198 RES 7 Fonesa,Unettade 380 Pu, 1968, kas seo da 2 2 2HOLANDA, Serge Suarque de. Razes do Brasil, 2. Ro de ane a3E 8 Cann Opmpo 15688 Se tal fendmeno € verdadeiro no que tange as Capitanias que foram sedes 6s principals surtos econémicos, do passado, a “ditadura do ruralismo” torna-se muito mais roteria naquelas dreas interioranas que no participaram diretamente de tas cicios exportadores. A Capitania do Piaul oferece-nos otimo exemplo desta tendéncia centrifuga de povoamento, Descoberto por volta de 1674, 0 Piaui ¢ povoado de maneira diversa das demais Capitanias: seu solo é ‘conquistade partindo-se do interior (do Rio S80 Francisco) para 0 literal. Foi no vale do Rio Canindé que Domingos ‘Afonso Sertio, considerado como 0 descabridar destes sertoes’, funda varias fazendas de gado, sendo a mais Importance, ada aldeia do Cabrob, que em 1712 6 elevada 2 condigio de vila, recebendo 0 nome de Mochat, sendo instalada somente em 1717, ocasigo em que o Governador do Maranhio envia muitas familias para nova povoas3o, Inclusive um magote de 300 degredados, com a finalidade de promover seu desenvolimento’ Desde 05 seus primérdios foram as fazendas de gado {que definiram a forma de ocupacio do solo e a distribuicio dos colonizadores a longo do sertio piauiense:jé em 1697, ‘apenas um ano apés a eriagao de uma primeira freguesia, ‘contavam-se em 129.0 ndmero de fazendas de gado situadas nas margens de 33 sles, ribeiras, lagoas e olhos d'égua limiteofes com as terras dos gentios "PEREIRA UALENCASTR,Jné Martin Meméeia chalga, hstrea rogrephica da provincia do Pisuhy, Rewrsta do Institut Nstéico e Seogrfca tse, te YX, 1° Teste de 1857, 9.5. “PEREIRADA COSTA... Cronloga steric do Estado do Pout desde ts sus primitives tempos ete Praclamagto da Republica em 1889 Pernambuco, Teografia colorado Ree, 909, 9.6 * PEREIRA DA COSTA, opt. 28 ENNES, nest, Ae guerras nor Polmares Rio de Jane: Briana, 1938, 127, 370. BIBLIOTECA UE: n reaistzo G6! ota d9 7.04) 4B. for volta da metade dos Setecenos, de gordo coma infermocéo do Verio d principal iapiauiense, esperanca aque tas sertes se urbanitassem era ainda muito remota ‘Achassesituad esta freguesia de Nossa Senhora do vitéria no centro do sertéo do Proui; nB0 tem outro povoncae, vile ou higar mais que avila da Mocha, que consta de 60 moradores, pouco mais ou menos, epouco ou aenhuns permanentes, por serem os mais deles solteros ese hoje se acham neta, aman foxem viegem 0 que avulto nela $60 08 ofcias de justiga. Tem ircunviznhos alguns moradores na distancia de 1équo, ue trotam de algumas pequenas rogas de mandiocas, ‘milhos, arrozes, que nem a terra admite agriculture ‘abundante por mu’ seca no verdo.e nd hover com que regar,€por serem muitas as enchurredas no tempo do Jnverno. Como. mio parte dos fregueses so criodores, de gado vacum e cavolar © ndo podem comodamente ‘morer junta da vile, se achom dispersos por warios iachos, morondo com suas familias para com comodidode tatarem da criogao de seus godos.” Tentando corrigr esta tendéncia extremamente disperse que assumia o povoamento nesta érea situada entre 3 Capitanias do Maranhao ede Pernambucot,D. José lenvia| uma carta régia ao primeiro Governador do Piaui, 1030 Pereira Caldas, nos seguir es termos: Instituto stoi e Geogiico raster, Arg. 1.1.2, Ms. do Conelho Unramain. Relagdo ao Feauesta de Wosso Senhora do Vitdia do Vilo do Mocha, do set do Meu, do Bspado so Meranhaa, pelo gore nti ui Coutinno, 11 de abi. 1757, 502510) ‘age oan de 1799 tanto Cera come. Ra.Grande do Nore e Praia {aun parte 62 Capitan de Pernambuco, quando atraves de uma Canta Rega 617 deanera,o Ceara pasa ase 2 Capitana imitate Insta do Core Fortaler,Tpograta Star, 1896, p. 825-426, Tendo considerorto das grondes utiidades que hdo de resultar ao servigo de Deus meu, ¢ 00 bem comum de meus vassolos, dese reduzirem os sertées desta copitania « poveacées bem estabelecidas, pore ‘que a0 mesma tempo em que nelas se introdueit @ policia, loresca a agricultura e 0 comércio, com as vantegens que prometem a extensGoe fertilidade do pois. mandei resttur 20s indias 0 liberdade de suas pess00s, bens e comércio...ozendo-lhes reportic 05 terras competentes para sue lavouro e comércio nes distrites das vils € lugares que de nova deveis erigit nas afdelas que hoje tém, e no futuro tiverem os referidos indios, as quais denominareis com os nomes dos lugares evlas deste reno, sem aten¢do aos nomes birbaras que tém atuaimente, donde toda os ditas aldeias e lugares alinhamentas ea forma de governo civil que dever ter’ Dois anos mais tarde, recebe o mesmo Governador outra carta régia, esta mais explicita, na qual recebe a incubéncia de fundaroitovilas na novel Capitan: Eu, EI Rei. tendo considerara0 a0 muito que convém ‘20 servigo de Deus e a0 meu, e00 bem comum de meus vassolos desta Capitania, ue nel florescae seja bem ‘administra a justia, sem @ qual no hd estado que possa subsistir e atendendo que a necessdrio ‘observdncia das leis se ndo pode até agora conseguir para dela se clher aquele naispensave fruto que pela vastiddo da mesma Capitan, viendo seus habitontes, em grandes disténcias um dos outros, sem comunicagao, como inimigos 60 Sociedade civil e do comercio humano, padecendo assim os descimodos & * PEREIRA D”ALENCASTAE op, cit, Carta Résa de 29 de juo de 1758, % veto 10s despesas de irem buscor os magistrados a lugares ‘muito remotes e longinguos, de sorte que quando ‘chegom os despachos, vem tao tarde, ue no servindo pora remédios das queivas, hes tazem somente aruina dos cadebois, seguindo-se daguela dispersdo e separagao de familias internadas em lugares ermos € deserts, faltarem-thes os extimulas e os meios para se fozerem conhecidos na corte e para serem obiltados os que 0 merecerem, somo sucede nos vilas e cidades onde seus habitantes entram na governanca dela ese graduam com as cargos de juices € vereadores e com os mais empregos publicas e ‘crescendo a tude que até a propria eligiGe padece, ‘do 36 pela folta d administragdo dos sacramentos, ‘mas também pele da propagate do Santo Evangelho, em raxdo de que os indios que se ocham internados ‘nos mates, nGo encontrando outros abjetvos que nao sejam 0 de verem 95 crstdos quase no mesmo estado f fora do comunieagBe e do sociedade, corecem dos estimulos que treriam de fecidade em que vissem os habitantes das povoogses cvis e decorosas, ou para {fuairem poro els, ou pare procurarem vier igualmente {felzes em outros semelhantes,e hovendo tomado na ‘minha reo considerogéo e paternal providéncio todos 05 sobreditos motives, tenho resoluto que em cada uma dos oto frequesis que compreende este governo seja {fardoso ure vila”. Assim sendo, além da vila da Mocha que se torna Cidade e Sede da Capitania, seis outrasfreguesias ascendem 2 0 status de Vila: Campo Maior, Jeromenha, Marvao, Parnaiba, Paranagua e Valenca. Apesar de diversos moradores terem-se comprometido, quando da instituigso © PEREIRA D'ALENCASTRE, 9. cit. 152, arta Rigs 6e 18 juno ae1761 das novas vilas, em construir casas nas sedes das mesmas'! certo é que dez anos depois, tis localiéades permaneciam sem grande melhoria, isto é, despovoadas e insignificantes Fis 0 que relatava a este respeito 0 Ouvidor da Capitania no ano de 1772 ‘cidade do Mocha, com 157 fogos e 692 olmas, ndo tem reldgio, casos de Cémaro, codela, agougue ferreiro @ outra qualquer oficina publica. Servem de Cémara umas cosas térreas de barra sobre o que core litgio, As cadeia € coisa indignissima, senda necessirio ‘estarem os presos em trancose ferr0s, para segurango, Acasa do oraugue é alugado, e mais, coisa nentume, 4 cosas da cidade, todos séo térreos, até 0 proprio ppaldcio do Governa, Tem uma rua inter, outro de uma 56 face, © metade de outra. Tudo o que mais sd0 omes supostos; ode cidade, verdodeiromente, 56 g020 Se tal era a panorama “urbano" da principal cidade & capital da Capitania, coisa pior era de se esperar das vias restantes. Parnagud, com apenas 29 fogos ¢ 191 almas, no passula sequer uma ofcina publica (13); Jeromenha, situada 2 30 léguas da sede da Capitania apesar de encontrar em lugar cémodo, nenhum aumento tinha tido até entio, pois ‘apesar de ser vila ha onze anos, ndo possula na sua sede sero cinco residéncias. Valenca, por seu turna, encontrava-se: "650 numero das pesioas que havam se comptometido 2 instal rence nas nova vis: 10 em Pornaga, 15 em Jeromenna, 22 fm Marvio, 45 em Compo Mair, 58 na Parnaiba. Cl PEREIRA DILENCASTEE, ope, p70, oii de 9 de novernbo de 1782 "Arquivo torca Ultramating, Pil cana 3 Deserg8o do Coptonia de Séo José do Pow, de autora do Owe Antonio Jose de Morais Durao, de 152 juno de 1772, 113 No plor sitio de todo 0 seu aistrito: sem aguas, sem ppastos © outra alguma comodidade necesséria para ‘qualquer novo, Tem uma ermida de barra, mas ‘arruinada, Ndo tem cémaro, cadeia, afougue ou outro lguma oficna, efica numa baie terrvelonde se bebe de cocimbes. Tem nove viinhos". Marvio ainda ganha de Valenca no que se refere & infelcidade de seu nicho ecolégice: £Esta vila 6a por de toda o Copitania, porque se acho no sito mais eco. finebre da mesmo. Tem inicas ts 0805 ou moradores para melhor dizer, pois cinda que ‘aquelas s30 mais, nda tem inquilino olgum, Nem esperanco deixa destes aumentos, por the faltarem todos 05 principios condizentes, para os Campo Maior & vista pelo Ouvider Durdo, 0 autor desta descricio, com mais benevoléncia, Localizando-se numa espacosa e alegre campina, com 79 fogos © semelhiancas de povoacdo do Reina, inclusive, desafrontada dde matos. Dis que em redor havia muito povo, muita fazenda € bons sitios". & iltima vila é a de Parnaiba, situada a margem oriental de um braco do rio do mesmo nome. Segundo as palavras do citado Ouvidor, possuia- umaigrela de pecra de cantariaassaz magnifica, fazendo uma despesa de quase 200 mil cruzados, embora estivesse sem uso posto que descoberta, Diz que © principal negécio que se fazia nesta vila era o da matanca de gado. Como porém os "nse, ier, 5 idem, tem, 133 abstedouros estavam arrimados avila, grandes danos sofia ‘ populagdo com o fétido que causa osarigue derramado & ‘mais miidos de varios mithares de reses que se matavary no pequeno espaco de um até dois meses, corrompendo 0 are atraindo grande numero de moscas e savandijas” Certamente que as esperancas de D. José ao determinar a crias3o destasvlas no estavam se realizando ‘2 contento: ainda por muito tempo a populacao do Piaui va preferirconstruir suas moradias pelas brenhas e sertdes, © no ne perimetros das vilas e povoacoes* (ual seria razdo da preferéncia dos habitantes desta regio nordestina em fugir das vilas e cidades, e viver Aispersos pelo sert3o? Nao éafalta de populagao que explica 0 baixo indice de urbanizagao desta capitania, mas sim, 0 carater predominante extensivo e cisperso que assumiu ai 0 povoamento: ‘A Copitania do Piaué falta de povoasées formados;néo 1 falta de povoadores, que moram e vivem dspersos lem suas fazendas de gados, as quaisrequerem para sua oa eriagao grande extensbo de teras, De sorte que se 2s seus moredores que unissem em povos, bastariom para formar varias cidades evils” Desde o inicio, conforme jé dissemos, a forma de Cccupagao do solo piauiense se faz através das fazendas de ‘ado. Nos finais do século XVI grande parte desse territério era partlhado por do's patentados: 0 j8 citado Domingos ‘Afonso Sertdo e Francisco Dias DAvila, da chamada Casa da "rem, dem t.25 "NUNES, don. Pexgutes prea Mista do Pou. Teresina: Imprense (Ofeia do Estado do Pav, 1996, vo Lp 155, naa ss Torre. Possuiam diversas fazendas espalhadas nas beiras os principats cursos d'gua, fazendas estas que eram zeladas por vaqueiros ou camaradas, prepostos seus”. Aos habitantes da vila da Mocha pareceu que eram muitos srandes os danos causadas pela concentracao de to grandes latifindios nas mios de to poucos, de modo que através da Camara desta cidade, enviam no ano de 1743 uma representaco 20 Conselho Ultramarine dando parte de tal situagio calamitosa So extroordindrios os danos espirituise materias que tem havido atuolmenteexperimentam nesta Copitania, originados da sem razda e injustica com que os governaderes de Pernambuco nos principios do ‘pov0,ao doqueles sertdes derom por sesmarianeles & indevidamente, grandes uantidades de terros.otrés ou guotro pessoas porticulares, moradores na cidade da Bah, que cultivande algumas delos, dexaram a maior porte devolutes, sem consentrem o que pessoa olguma 2s povoesse, salvo quem as suas custas e com isco de ‘sas vidas as descobrssem e desvendassem do gentio “embora.a va urbana nso ehegsti st dezemolverno Pau ofato® ue alguns observadores de epoca julgavam que melhor seria ‘que ae erdaes fossem prejudicadas pela bainssima concetrarao Gemagrafies. A expleagte deste douto vant, nada 20 tempo da Coles, lo dea de ser eterions “A experénca tem mostado que (5 paises aptos para ia de ado, us 0 Pia todos abeton {chee de campings so por onde em menos tea sadhana © Geografco Brasil, toma XI. pate 1, 1900, p. 88 (impresso a Peimeira ver em 1814. Anrimo} komarer, Domingo Alone Set também chamado "Mafrens” possuia 30 fazendos de gato (e culo tonto de sos of), 2 que Persia aproximadmente27?leguas de cesar, 04263206 612 hectares de tera: I NUNES, Oslon. 0p». 178 HO bérbaro,constrangendo-thes depois thes pagarem der ‘mi és de rende por cade sitio em dado um ano.” ‘Além das enormes datas de terras obtidas em longa data, isto €, durante o século Xull, em pleno século XVII temos noticia que 0 Ouvidor do Piauidera posse a poderosa Casa da Torre de mais ura fabulosa propriedade que media 180km de comprimento, por 120km de largura,situada no vale do Crateds (23). Certamente com vistas a evitartais excessos que a 14 de outubro de 1748 é publicada uma provisio do Conselho Uitramarino delimitando o termo de 3 léguas de terras para sesmaria que de entio por diante se tivesse de conceder na Capitania do Pau. Embora limitadas as datas da terra, o certo € que vigorou na maioria dos casos, doagdes bastante generosas, © que levou ao distanciamento cada vez maior de uma fazenda da outra {As terrasdo Pie, informava um viojante do século XVI, ‘$60 reportidas 005 moradores em sesmarias ou datas de trés eguas, cua cultura consiste na criagae de gods, ‘mois vacum que cavolar. Cadauma das sesmarias forma uma fazendo, dexando-se um léguo para. diisbo de uma eoutra fazenda. Na dita léguo entram iguaimente (0s vitinhos @ procurar os seus gados, sem, cantudo, poderem nela levantor casos e cura PEREIRA DA COSTA, op. NUNES, Oton. Op. itp. 347-148 PEREIRA DALENCASTRE, op cit . 6 BOXER, CR. A aod de ovo do ‘Bras 343. S80 Paulo: rasan Companhs tra Nationa». 248 ere do Moranhde 9 Gots op ct. 9.73 fsta tendéncia latifunciarsta da posse da terra tinha a nosso ver duas razBes de ser: nlo s6 respondia & cobi¢a ‘dos sesmeiros, desejosos de possuirem grandes glebas, mas também a necessidade intrinseca & prética de pecusria extensiva, posto que, como observouvon Spike von Martius, ‘Na ocasido da seca se torno necessério movimentor os bboiadas em grandes espasos, alternando pastos para ‘que elas cansigam achar copim seco e frutos (doi) 05, grondes proprietérios das grandes fazendas no ‘quererem ceder porgdo alguma de suas terras (para ‘moradia dos agregadas, por considerarem indis. pensdveis as grandes extensdes para atender@ claro do seu godo™. Infelizmente 0s documentos por nds pescuisados ppouco informam a respeito do tamanho das fazendas que existian no Pau espalhadas ao longo dos cursos agua. As numerosas doagées de fazendas, sitios e datas da terra conferidas pelo Governador do Grao-Para e Capitio Geral do Estado, durante toda a primeira metade do sécule XVII especificam apenas a locaizacao das doagbes em relacso 205 ros € lagoas, omitindo porém sua superficie, Tomando ‘como amostra 33 fazendas que pertenceram 3 Dorningos: ‘Afonso Sertlo, © que depois de sua morte passaram a ser administradas pelos regulares da Companhia de Jesus, podemos ter uma dea aproximada da superficie média das fazendas existentes no Piaul no século XVII “YON SPX 18 & VON MARTIUS, CFP. Viagem peo Broil Rio de PEREIRA OALENCASTRE. Opt, p 3235 Pela mudanca que hé no Paui tao sensivelnas estardes do tempo, até chega a foltor em muites partes 0 mesmo posto seco, e toda a extensto do terreno mutas vezes ‘Superticie das fazendas do Piau — século XVII (em léquas) comprimento | X-!largura | rea total requéncia ro fxl2 2 1 ‘nao bosto para que hejam lugores onde ele se conserve 1 xk 25 1 @ se mantenham 0s gados, 0 que faz com que os Box 2 sradores vivam pele maior parte disperses edistontes hfe tr8s, qutroe cinco leguas uns dos outros i ae i Se tomarmos como fonte a Dezcripeto do Certdo do tk) 2S ‘| Peouty, do Pe. Carvalho, termos para o final do século XVIlo 13 x | as A seguinte quado de distancia entre uma fazendae outa” 2 |x] 2 4 ; eee eee é Distancia em leguas de uma fazenda a outa (1697) 2 x 4 3 istncia de uma fazenda as adjacentes frequéncia BS 2 listancia de uma farenda as adjacentes requ 3x, 3 4 ant 2 2 xl 4 3 1-2 4 a ix' a4 2 ae a Se 1 202 2 2-3 ua 2-4 3 2-5 2 Através deste quadro notamos que muito embora 303 a desde 1697 a Coroa Portuguesa tvesse decretado que as 3-4 6 Sesmarias ndo poderiam ultrapassar a drea de 3 léguas de 3-5 2 comprimento por 1 de largura, 0 certo € que dessa Ista 33 3-6 1 fazendas, 29 possuiam superficie superior ac limite méximo 3-10 1 estabelecido por le eae a A razio da existencia das fazendas com areas tio an i dilatadas se expica, repetimos, pela maneira como tals Bay i terrenos eram ocupados: a custicidade do nivel tecnico dominante na pecusria e a rarefacio das pastagens nos periodos estivaisforgavam os proprietirios a desejareme nacessitarem grandes extensdes fundisrias. i Conforme abservava este arguto escritor a0 passar | "Rotera do Maren 0 Goi, 09. cP. 79 { pelo lat, ENNES, Ernest. op fp. 370389, et « ‘ais dados comprovam a avaliagdo feita pelo referido Pe, Carvalho que dizia estarem as fazendap de gado situadas ordinarlamente mais de duas léguas uma das outras™. J ‘em 1757, outro vigério da mesma freguesia (Nossa Senhora da Vitéria da Mocha}, fazia outros cdleulos: as beirodas dos riachos assistem os paroquianos, crigndo gados vacuns @ caveiares, dstontes uns 60s ‘outros trés, quotro, cinco, ses, sete, ito, dex e mais équas, por morarem junto dos possos que ficam nos tis nachos do tempo do inverno.” as 130 fazendas que naquels época arrolava esse Vidrio, em 25 esta especficada a distancia, havendo na matoria dos casos de 6 a 10 léguas uma e outta’ Certamente que nem todas as propriedades rurais ceristentes no Piaul eram latfindios. Havia propriedades menos extensas, situadas geralmente nosbrejose terras mais ‘mids, onde uma pequena parcela da populaga0 se dedicava 8 agricultura de subsisténcia. Muito embora os moradores 4o Piaui “se interessavam s6.na criagdo dos gados"™ Uma parte da populacdo sempre se dedicou as lides agricolas, Ja em 1697, referia 0 primeira vigario destes sertBes que nuns olhos dégue o que wulgarmente chamam “brejos” ros quots esta situado 0 Copitdo Mor dos Paulstas, Francisco Dias de Siquera, com um orraial de topuas, > ENNES, Ernesto. Op. cp. 370388. *\Relogbo do Frequesia de Nosse Senhora da Vit idem bem “Retiro do Morano Gots, op ct. 83. ‘em olgumas plantas de frinha, arro, milo, flies, {fratas, como s80 bananos, botatas..”* Todos 05 viajantes, memoralstas ehomens pablicos que escreveram sobre 0 Piaui na época Colonial s30 Lndnimes em referi-se a0 descaso com que os sertanejos tratavam esse tipo de trabalho. Duas seriam, segundo eles, 285 principals causas co desprezo que relegavam o setor agricola: a primeira de order ecolégica, ou seja, as mas condigdes climsticas, a auséncia de chuvas regulares, @ constancia das secas, a pobreza dos cursosdsgua, anatureza arenosa €lajeada da grande parte do terrterio, De um total de 33 cursos d'dguas assinalados pelo Pe. Carvalho em 1697, apenas 4 ribeiras eram perenes, de modo que todos os emais riachos, nascentes e mesmo lagoas, <6 possulam gua no tempo das chuvas, tempo este que segundo informava um reinol que descreveu a capitania, costumavam chamar euforicamente de “verde"™. Como desenvolver @ agricultura num lugar como aquele onde se situava avila de Valenca, que segundo este mesmo informante, “era 9 pior de todo 0 terrtério, sem éguas, sem postos e sem outra ‘alguma das comodidades necesserias para qualauer ova"? Por mais que o Governo insstisse em estimular 0 desenvolvimento agricola, 0 resultado sempre foi decepcionante. As tentativas realizadas por volta de 1798 visando a divulgac3o do uso do arado, redundaram em fracasso, pois segundo disseram os lavradores, apes terem experimentado este instrumento, constataram que seu uso era impraticavel, devido & natureza do solo quase todo EMM, Ernesto. opt. 379, * Desrigdo do Capitan de So Jost do Pa. de Moras Durao. op “igen, ibidem. 1.9 OOOO eee composto de caatingas, chapadas e matos, preferindo os agricultores mudarem de terreno quando este se esgotava, fem vee de utilizar 0 arado a fim de tentar revolver a terra e ‘continuar a plantar no mesme chao”. A segunda explicasa0 pelo descaso com que tratavam 9 agricultura esta na vantagem econdmiea e na exceléncia que os piavienses atribuiram & pecuaria, Com grande parte do seu teritério ‘caberto pelo rico capim mimoso™, apesar das limitacoes advindas da seca e da falta de aguadas, o certo é que a pecudria representava para esta zona sertaneja no s6 uma saida, mas um grande negécio. Tanto a Bahia, como © Maranhao, a primeira cultivando notadamente a cana e © furmo, 0 segundo, © algodio, precisavam durante séculos, da carne bovina do Piaui. Muito embora tais regides pudessem desenvolver sua prépria pecudria, era-thes mais interessante ocuparem suas terras e mo de obra com a lavoura comercial, sendo por conseguinte mais rentavel comprar dos sertdes do Piaui as boladas necessarias para 0 consumo interno. No Plaui ndo eram apenas os latiundidrios que preferiam a pecusria atraidos pelos lucros ‘que auferiam pela sua pratica em terras pouco propicias & ‘outta atividade; deserwolve-se também nesta drea como que ~ PEREIRA OALENCASTRE, op. cit, p67 "sDe aotdo com RENATO CASTELO BRANCO, O Pou: otera, 0 homem, ‘omet,Sio Pole: ewraria Quatro Arts, 1970, p41, "62%6das tras {4 Pau #80 earpor,eatingas ou chagacas certs de pasagens "PRADO IR Cao. Hatori Econdmica do Bros Se Faulo:rasiiense, “ei 1956, cop 8," peuusra #0 progresio do povoamente go nordeste™ FURTADO, Caso Formapdacondinca do Bas Sz Paul: undo de Cuitura, & ed, 1964, Cap. X, “ProjegSo 60 economia Seater specutrs” ESC, Mite. Hata econdmica do Bras pesguios ¢ ondses, Rio de lane, APEC, 1970, p. 185-388," economia do gato segund Anton e+ we uma “Ideologia pecuarista” que enaitecia a atividade csiadora, depreciando o amanho da tera. Entre a gente do pove notava-se Luma tat incinagao para trabalhar nas fazendos de gados que procura com empenhos ser nele ocupada, constituindo 0 sua motor felicidade em merecerem aigum dia © nome de voqueio. Vaquero, ciador ou homer de fazendo so ttulos honorificos entre eles e sindnimos com que se dlstingue aqueles, a cujo cargo {esto administragsoe economia das fazends". Inconformavam-se alguns com tamanha preferéncia « exclusivismo que conferiam os piauienses & pecuéria: 0 Ouvidor Morais Durdo assim se manifestava em sua Deserigdo ‘As negociagdes, manufaturas, trices © mois modos 4e florescer qualquer estado se reduzem aqui a esprezar tudo 0 que é oficio e trabalho, vivendo Uunicamente de gados e cavalos que os campos criam, dos frutos que 0 mato produz e de um pouco de ‘mandioca que omestrademente plantar. Consequéncia dessa extrema especializagso pastoril € 0 modus vivendi, inclusive a cultura material desta opulagao sertaneja. Conforme observou 0 arguto Pe. Coutinho, Comer estes homens sé carne de vaca, com latcinios © algum mel que tiram pelos pous. 4 carne * Rotere do Maronhto Golde, op. ct p88 *esrigde do Coptana de S30 sede Paw de Moras Duro, 0p. 38 rdinariamente se come assode porque ndo hd ponelos fem que secoza; bebem ogua de poras elagoas, sempre turva e mutto saitrade. Os ares sdo muito grossos e ppouca sodios. Desto sorte vivem estes miserdveis, homens, vestindo couros e parecendo topuias" Como dissemos, nem todos os iméveis rurais cexistentes no Piaut durante os séculos XVI e XVII eram latifindios, nem tampouco se dedicavam exclusivamente & cria¢do bovina. Havia propriedades menos extenses, {geralmente situadas nos brejase terras mais dmidas, onde plantavam-se géneros de subsisténcia, Enquanto que se Festringia© uso do terme fazenda aquelas propriedades onde se criava gado vacum e cavalar, sitios eram chamados terras onde se cultivava, sendo separadas das areas de criatério. Para © Ouvidor Ourd0 0 termo sitio abrangiaigualmente 3s rogas e engenhocas de agiicar® Na freguesia da Mocha, por exemplo, relatava seu vigdtio que cireunvizinhos @ vila viiam “alguns moradores na distincia de uma légua, que trata de algumas pequenas ro¢as de mandioca, milhos, arrozes"™. ‘Na feeguesia de Parnagud, por sua vez, referia seu paroco que na "ENN, Eeesta, opt 8373, " Descrtdi da Cantanic de S80 Jo do Pout de Marais Duo. op tit A 1. £ portant notr, como o ar gor dus ves © owidor burdo, ave apenos os gies once fe ulna separacamente 35 ‘endo sis, posta que embora em muita fzendas de cristéro também pudessern ser encontradas engenibocas © 10,85 de Imantntos ee as aro.ouna categria de fzendes poise sto * Reiagbe do Frege de Nossa Seahora do Vila do Mocha. it forenda chamada Jacaré, tem ume copela de Nossa Senhora da Conceigdo e capelio, com dex moradores ‘que vivem de suas ovouras. Mais adiante, @ 10 léguas de fazenda Ndimoso, tem um lugar chamodo Bre que terd quinze moradores, terra de rogas e fumos. De um total de 56 propriedades rurais arroladas em 1757 na freguesia da Mocha, 53 eram referidas como sendo fazonddas de gado, 3 como “terros de roca" De um total de 148 doacdes de terra feitas pelo Governadore Capitio General do Estado, entre 1728 81746, observamos que 99 sesmarias (mais de 66%) aparecem referidas como “sitios’, 19 como “fazenda” e 30 com denominagBes variegadas, tis com "data de terra’, “ugar”, “uma sorte de terras’ etc.” Do total de 81 propriedades rurais que passulam os Jesuitas no Piaul, € que foram confiscadas quando de sua expulsdo em 1760, 32 eram denominadas como fazendas de gado, 49 com sitios Até © momento dispomos de quatro informagées relativas ao numero total das propriedades ruras exstentes no Piaul durante os séculos XVI XVIl:infeliamente apenas numa estio arroladas separadamente 0s sitios de lavoura ‘istut Hetero e Geogr ratio Arg, 1.1.12 Ms doConslho| Utramarino,Relogdo do Freguesa de Nossa Senhora do Lramento tf Cosa Siva, 1757(H. $20 536), ‘*nelogae do Fregusia de Nossa Senhora da Vitiria da Macha, op, ‘© BEREIRA COSTA, opi, . 37 esequites. (tamarat), Lida. 267, mago 2 pasta 1. Reso de todos ox bens de ‘oire por tas secures que porsuram eadminitoram es Regulores {to Componna denaminada de Jesus nesta pion de 880 lose Go Paul, 25 enero de 1762 das fzendas de gado, de moti que ficamos em divida se Fazendas estos do Pia (1772) os outros totals este Inclidos tamer os sis ou referem-se unicamente as fazendas de criatério (48 a). Ce e z 2 : 4c esubrtio - oi Numero de fazendas de gado do Piaui Riach3o 10 4 Suares Fa 2 no total cua “ 2 1687 19 Tatts fe i 130 ‘oo Connee st 6 ie: ss Pau i im oe real 2 io 2.Parnagutesbibio : Comat is 5 Sendo a DescriodoCoptani de St Jos do Pa, abou: * i de autor do Oumdor Moras urdo.o docomentomas | Param 2 2 completo relativo a distribuigao das fazendas e sitios desta Total 60 a Captana, vejamos eno, bseandonos nle,o que seu» —«‘-efomenhwesuburio = # autor nos revela sobre este tema. Inicialmente i ee % ey transrewmasonimereeslssligiedetoiosorimoves | evagaPamaba |S 3 ruraisespalhaos pelo Plat além das vias com seus Sona = 3 suburbios ste ga drea de uma l6gus em crcuntereninda 4.valeng esubrbio ‘ 2 Sede), arrlamos as propriedades ruts do sto, sendo yale 4, , Gees local eterdo com nome do principal io ounibera | Samat ogy fa : exstete og, | ae a | Serene ; ro & | s.aandoesubicio B ‘Tals sdo as fontes para este quadro: | Cais. 15 use tn neon Pogos-Sshadr 8, foal = peeeaes — soos f 6.Campo Maioresuburbio 7 2 I Ro a pi ese ct sn cor 7, 5 tnonco Serta de tao das ete reves (tomar, Beira da Paraiba 8 a lata 267, mago 2, pasta 1. Poti da Ponte do Norte a a 1772: Descrigo de Copitania de Sdo Joss do Pau, do Ouvidor Anténio ae rf a a localidade n® de fazendas o® de sitios 7. Parnaiba e subirbio 7 19 Terma toda ry 28 Toto! 7 a QUADRO GERAL Ociras 12 103 Parnagua 60 u Jeromenha 69 46 Valenca 58 46 Marvo 39 50 Campo Maior 1 4 Parnaiba a a7 Tato! s7a 352 [través destes quadros notamos algumas tendéncias, importantes na caracterizacio das propriedades rurais do Piaui nas ditimas décadas do século XVII, a saber: 1 As fazendas de gado representavam 62,2 % do total das propriedades rurais, os sitios, 37,83. Malgrado a afirmacdo constantemente repetida por viajantes, memorialistas € historiadores de que 56 a pecusria vingava no Piaul, tanto ‘as doagdes das sesmarias, conforme vimos, como esta «statistic do Ouvidor Duréo, revelam que os sitios de lavoura feram bem mais numerasos do que se propalava. Os ‘documentos, no entretanto, no nos permitem saber muitos, detathes sobre tais sitios; ignoramos, por exempio, suas superficies, sua estrutura eorganizagao socioeconémica, etc 2. Apenas navilae distrito de Marvao é que vamos observar a superioridade do nimero de sitios 20 das fazendas; apesar de ser descrita como a “pior vile de toda a capitania, porque se.acha no sitio mais seco e funebre do mesma... pssuindo apenas uma ribeira mais considerével no seu distrto, que é ado Crateus"*, nao obstante tal quadro aparentemente tio pouco convidativo & agricutura, o mesimo narrador acusa uma superioridade de 12,4% do fazendas. 3. No que se refere a localizagi0 dos sitios e fazendas rotamos que, viade regra, as fazendas esto situadas fora do subirbio das vilas, sto é, 0 menos distantes uma légua fem circunferéncia das mesmas, isto com excecSo de Valenca ‘eCampo Maior, que inexplicavelmente constam com tendo 47 fazendas, respectwamente, situadas dentro do proprio ‘sublrbio do vilarejo. Os sitios, por sua vez, tendem a situarem-se mais perto das sedes “urbanas’.35,7% dos sitios dd Piauiestavam localzados dentro da circuneréncia de uma legua em derredor das vias da capitan. A uniea vila que no possula nem sitio, nem fazenda no seu “suburbio” era a de Parnagua, isto talvez pelo fato de ter "junto a si um lago com 5 leguas de circunferéncia"* Etamoém Parnagus a localidade que possula 0 maior numero de estabelecimentos dedicados & agrcultura: 103, (ou seja, 303% do total dos sitios da Capitania; em contrapartida, era a freguesia possuidora do menor niimero de fazendas dedicadas & pecuaria: apenas 11 estabelecimentos jsividade 20 eriatorio de gado imera de sitios face ao de consagravam-se com e) vacum e cavalar. 14 dissemos anteriormente que um dos principais problemas que enfrentavam os povoadores do Piaui era a falta de cursos d'agua perenes: foi exatamente em vista de se garantirem o abastecimento regular e constante deste precioso liquide que os moradores tinham como pratica * Deserta da Capitan de SBo Jere do Pav op. 8.18 Sigeminem. solleitar doagdes de terra junto ea beira de tas ios perenes Tanto as relagéies nominais de todos os moradores da Capitan feitas pelos Vigarias, assint como a Descrgto do (Ouvidor Durdo tiveram como critério na enumeracio das fazendas e sitios, sua localizacao 8 beira ou ac longo dos principals cursos fluviais. A este respeito, els © que refere Pereira d'Alencastre, 0 ilustrado autor da Memdria Chronoldgic, Histrica€ Corographica da Provincia do Piauby {As fozendas de gado acum esto situadas sobretudo ‘as fralde de varios olhos daqua que delas noscem. Para que 10 sertdo uma fozendo meresa o nome de boa, deve ser primeiro bem provido de équa, porque sendo 0 Piaul suleito @ secas, como todos 0 oltos Sertdes do Brasil, as fozendes faltas de agua sd0 primeiras que ficam despovoadas de seus gados" Para as fazendassituadas dstantes dos cursos fluviais perenes, asolugio era levar 0 gado a beber “em agoas & outros dguas conservadas em tangues feitos por industria {dos habitantes, com muito trabalho e moléstia"™ Escolhidos o lugar para a instalacSo da nova fazenda, certficando-se da existnc'a de boas aguadas, construlese fem primeiro lugar um curral onde pudessem ser abrigados osbezerros logo que nascidos. As demaisinstalacbes visham como temo e 05 pregressos da criagao. Boxer diz que 0 primeiro cuidado 2 se trazer o gado para uma nova propriedade era habitui-lo 4 novel localidade evitando-se desta forma que os animals se perdessem ouse extraviassem no meio do mato ou nas fazendas circunvizinhas®. NEo era aencatre, op. 9.68 “Relay do Preguesia de Novia Senhora do Livromenta do Barman, ope BOXER. CR, op op. 246, To wet dificilimaginarmosas dficuldades que deviam de enfrentar ‘9snovos colonos ao chegarem no Pia, vindos do Maranhio, trazendo consigo 200,300 e até 600 reses de uma s6-ver™. Embora o termo curral, segundo Durdo, fosse @ maneira como vulgarmente se chamava as fazendas de gado do Piaul, hé quem afirme o contrario: que o curral, ou ‘melhor, os curras eram apenas uma parte das fazendas: Em cada fazenda devem hover pelo menos 3 curais, aque tomam diversos nomes conforme 0 servico que prestam. Chamom curta de vagueiads aquele em que se recebe 0 gado que tem de ser vendido, onde se tra oleitee onde se foro rol de portetas;curralde apartar ‘oem que se ecebe todo 0 gado indstintomente para 120 depois ser dstibuido pelas aferentes comodogses: curral de benefcio onde serecolhem os garrotes para serem ferrados ¢ para se fazer as partilhas dos vogueiros*| Outro autor, o qual diz ter com toda a miudeza Indagado in Joco de um vaqueiro antigo a respeito do funcionamento das fazendas de gado, cefere-se aos retiros como sendo o estabelecimento maior que compreendia inclusive os curals: “Retiro & uma certo porgéo de terras rer da Costa op 93, nformagio de de fevered 1727 peseng8e do Capitan de Sia so48 do Pou... 4 ere dence op ct, 9. 69 “astigamente, nas fatendas de evar do Mordeste, Ievantova se primetramente una casa risa de parades de tip ecobertura de has sgues. Para este mister preferianse a palms da carnauba, tuto abundantes na regio. Os cura anda invodusom cantenat Ge cabecas, ram aramaos com trons de sores datos sobre forquihss,frmando losangos ou quadesteros nas proxmidader da 252" GOULART, sé Ali, Brie Boe do cour, Mode lane, sober GRO, 1965, p22, contiguas 6 mesmo fazenda onde hé currois eos necessérios reparativas para tratar as crias nes acasides em que é preciso separd-las das mas": Antonil, por sua ver, embora use indistintamente os termos curral fazenda, parece, segundo a interpretacio de A, Canabrava, considerar o curral como uma parte da fazenda, local onde se reunia 0 gado uma ve2 por ano, nara sua partilha. Casos havia de que uma dnicafazenda de gado possuia varios curras* Fundarfazenda ndo era, na maioria dos casos, tarefa f4cll. Domingos Afonso Sertéo,o maisimportante fazendeiro gue ja teve 0 Piaui em toda sua historia, diz em seu {estamento que suas fazendas estavam situadas “em terras ue descobri e povsei com grande rsco de minha pessoa e consideravel despeso, com adjutéro dos sécios”” Reclamando contra os senhores absente'stas que exigiam aluguel de suas terras, os moradores da Mocha siziam que foram necessérios muitos gastos e perigos para se conseguir novas terras, sendo numeroso & violento 0 gentio que habitave naquelas areas ainda nao exploradas" Temos mesmo noticia que na zona chamada “Catingas Gerais” ~ regldo de Valenca ~ devido & existéncia do mato continuado e inferior, ea falta d'agua, varias tentativas foram feitas no time quartel do século XVI para se tentar ocupar talespaco, porém sempre redundaram em fracasso, devendo MACHADO, Francie Xaver emia lati ds Capitnis do Pla fe Maranhio (1810) Revista do Instituto Matsa © Geogrhco bras, tomo XM, 184, 38 seen 1, 18 teste. 58 “ANTONIL Jodo AntniaRndeeos, Cato e opulence do es (3713), ‘So Paulo: Companhia Edtora Nacional 2. ed. inraduga0 € ‘ocsbulvia por a Canabrava,p 123,307 «seguines, » poverasthieessre, op, Testamento de Domingos Aone Serta, Descbrdor do Pau, 9. 344 0s interessados voltar sem mais circunstancia de seu descoberto". No que se refere 20s tipos de terrenos aproveitivels para a criagdo, distinguia-se no Piaut principalmente duas categorias de pastos: 0s do agreste e 0s do capim mimoso, sendo este ultimo 0 de melhor qualidade © que por ‘canseguinte maior rendimento dava aos fazendetros*: Nas fozendas de pasto agreste, 300 vacas produzem 130 bezerros, senda que as que parem em um ano, ‘esconsam o ano seguinte: nas fozendas chomadas de ‘mimoso, em que 0 pasto & bastante suculento, 300 vvagas produzem 250 bezerr0s anualmente ist 6, sem Interrupgao. O que se diz acerca do gado vacum é ‘extensivo ao cavalar® lnfelismente ado conseguimos encontrar nos Arquivos nenhum inventdrio setencentista que nos informasse arespeito do numero de animais existentes nas fazendas piauienses. Antonil diz existirem currais no Nordeste com 200 até 1,000 eabegas de gado vacum, de tal modo que quando se reunia todo 0 gado dos virios currais {de ura mesma fazenda, estes chegavam a representar de 6.00 até 20,00 cabecas"* Na alta de dados globais sobre todas as fazendas do Piaui, tomaremos como amostra as 31 fazendas que foram dde Domingos AMonso Sertdo e que, conforme ja dissemos, etre do Capitan de S50 sore do Pu, 09 et. 9. © Segundo A.A. Miands Estudos plauenses, $0 Plo: Compenhis Etora Nacional Briana vol. 16, 1998, p-182,“ecapim mimes, tater a melhor forage amercana, sem divi ator de iguera " PEREIPA DALENCASTRE, opt 9.65. “aniTonit opt 309 pertenceram em seguida, até 0 ano de 1760 aos Regulares, dda Compania de Jesus, sendo em segyida assumidas pela administragSo governamental®. Numero de bois e vacas por fazenda (século XVII) nde cabecas frequéncia até 100 8 1001 2 2000 8 2001 a 3000 10 3001 a 4009 5 5000 1 5000 1 A fazenda que possuia o menor rebanho vacum possula 100 cabecas. Eraa chamada fazenda Cache, situada ra Inspeccdo do Piaui, com a superficie de 2.5 leguas em quad. Apropriedade possuidora do maior numero de reses era 2 fazenda do Castelo, com 6,000 cabecas distribuidas em 4 léguas quadradas, Difcié saber qual a drea meédia de pasto necesséria e disponivel para cada cabeca de animal, em se tratando de drea de caatinga ou de mimoso. Aparentemente no ha uma correlagao direta entre © numero de léguas das veferidas fazendas eo niimero de cabecas efetivamente possuidas. Assim, por exemplo, enguanto que na Fazenda do Julido, a mais extensa da Inspecso do Piaul, com 70 léguas em quadra haviasemente 1.200 reses, na supractada Farenda do Castelo, com apenas 4 léguas em quadro, pastavam 6.000 animais, havendo coutras duas fazendas com 4 léguas de extenso que possuiam uma 4.000 animals, eoutra, 2.500". * PEREIRA 0” ALENCASTRE, op. tp. 52. seguints, “como dssemos sures, em mutt laendt alm da rag de bos 0 fato de uma fazenda ser possuidora de multas léguas de terra ndo significa necessariamente que toda sua textensSo fosse aproveitavel eaproveitada de facto, quer para co pastoreio, quer para a lavoura, (© gado bovino criado no Piaut pertencia & chamada raga “neoibérica’, recebendo localmente a denominacao de aracé, caracu ou laranjo™. Von Spix e Von Martius descreveram-no com as seguintes palavras: O gado bovino é grande © bem formado, distinguindo-se pelos chifres compridos e pela diversidade de colorido’** Segundo varios autores tanto do passado, como do presente, 0 gado oriundo das fazendas situadas em regido mais timida e habituado ao capim mimoso, era o mais corpulento e 0 que melhor preco conseguia tanto dentro ‘com fora da Capitania, muito embora por ser maisdelicado ‘esensivel era que mais morria nos caminhos seguidos pelas| bolads do Paul que iam para a Bahia ou para o Maranhio" Segundo 0s célculos de um experiente conhecedor da pecusria setecentsta, uma fazenda no seu estado florescente, néo pode arwelmente produzir mais de 800 até 1.000 crias. fem nimet inferior 20 gado bone Tas airs eam eados ma oma fade de serirem 305 vaqueos no paste etransprte {as boindas Em 2782, por exemplo, enquanto que 9s bovino® Fepresertavam, nas exis faxendas dos Jesus, 50.670 cabecss, bs cavalose Bestar atinaiom apenas 2.870 unidages PEREIRA DALENCASTAE, op-et, p. 55). Algumos fazendas se dedicwam eclusvamente a craia de cavalares (as como 2s farendas 30 Soqueito Cazes, Epcos), outros erbora pomuinda bret bovinos,comportavan tambem algumasdeznas de cavaiesebestas. 1926.30, “VON SP 8 von Marts, opi, p38, NUNES, Osten ope, p 199-200 estos, pelo céleulo que tem feito a longa experiénco, 1nd0 se pode extra mois do que wma boiada de 250 0u 4300 bois (dedusinde 0s dieimos e 0 quarto que é estipgndio do voqueiro). As vacas, que pouco excedem normimero, conservarnse sempre para. maltiplicasao, sustento e mais despesas que se fozem nas mesmas fazendos”™. Embora contanto com boas pastagens do capim rmimoso que, segundo especialistas no assunto, trata-se talvez da melhor forrageira americana’, virios fatores limitavarn © maior desenvolvimento da pecuaria no sertéo piauiense. Morcegos, insetos ongas e cobras, ervas ‘todas as fazendas de Domingos Afonso Seto, que no ano de 1782 ossuam um total de SU. cabegas de gacovacUm @ gue hese ‘eso ano foram dela trades 7 bonds, perfacendo ure teal de 1958 Srimas.constatamos ave ou ayalag do crescmento vegetative do ‘ete esertor 200,03 produ em eda, or ao, 87, 2now ‘ann estava cota, cuenta em vex de enviar eglaet ods 2 5uapredugso de gvotes pra a Gana, boa pare dela germanecis ‘av proprstazendsu inka auto fm que desconhecemos Sopondo ce que ar vacas contin a rnetade carbon permanente 0 Que io provivel pos confrme wes, a rake ea consesaer eat fazendas apenas as femess e alguns povces toes reprodutores, cenvande-se os grfotes ar lord Captania~taisvacas daa und Brodugio anual de apronmadamente 13.258 bererrs, dor qua ‘envaidesos amos, aquara eaperdas tanto scent, come aqules, {otazariam porta de 4.293 protest nos leva aconcus que o 1954 armas que eletvamente sam as supractadasfaendos, reprevetariamagens 855% do tal de amas qve poteneaimente oderiam dele ee extrados Confi:Arguve Hstreo Uamarine, Pau cana 4, Olio digi sos Governadoresinterinos, de 27 de ‘eterbrode 1786; Cara 7, Const de Martina de Mele Casto 30 fea ezpeto do qe atr com os oud da ftendse dos Preser tos MIRANDA, A A.opct,p 142 venenosas, etc, ausavam grandes perdas 0s rebanhos” Yon Spix e Vor Martius falam que notadamente na época fem que falta as chuvas, grandes epidemiasinfestavam os bovinos, morrendo rapidamente grandes quantidades de 0 gado era geralmente criado soit: como nfo havia cercas dividindo as fazendas umas das outras, e existindo consuetudinariamente uma légua de terra de uso comum, entre as mesmas™, sucedia certamente que os animais de ‘uma proprietario Se misturassem com as dos vizinhos. A, imaneira dese evita tals perdase descarrinhos era oumarcar com ferto quente o dorso de todos os animals, ou entao fazer certos talhos numa das orelhas dos mesmos, de rmaneira a distinguir as reses das diferentes fazendas, Nas fazendas dos Jesultas, por exemplo, duas marcas eram utilizadas distinguindo dois conjuntos de propriedades: 06 animais pertencentes @ chamada “Capela Grande” eram, ferrados com 0 sinal 2: ¢ 05 da "Capela Pequena”, com 0 sina: Variavam bastante ao longo do ano, os trabalhos lexigidos pela criacio bovina. A descrigao feita por Von Spix fe Von Martius lustra muito bem o efeitos das variagdes, sazonais na organizacdo do trabalho pastor Depende a criagao do god nessas regises exclusiva ‘mente do chuva. Seno fim de dezembroentraro tempo ® Yon Spix Von Martius, op. 9. 18, tera do Maronhe © Gait, opt. 78 (que foram das azendas pertoncentes 3 Capela Grange © Capel Fequena’, dS de abide 1772, Em deversas-Relagées" aparece que estas marcas representam as letras Sisto 6, Societs Jesu ee dos dquas,alcango até os fins de Fevereiro apogeu de suo abundancia, e comeca ebtdo o diminuir de intensidade até fins de abril. Enchem-se de équa hhaquelaestagdo os numerives ogudes ecovas, terra fomolece e o pasta eresce luxuriante. Ourante exte tempo as vacas que como toda © ado, vivem nocampo, so tocadas pare os cercados onde passam os noites, para serem mungigas de manhé e preparorem-se 05 ‘queljos. Do més de meio em dionte, deixamse de novo 1s vacas no pesto. Por vezes acontece passar omés de {fevereiro sem chuva, e torna-se entBo impossivel 2 producde de queijas, porque o queijo néo chega alcancar @ quentidede e gordura necesséria © 05 ‘manados, 0 ndo serem algumas vaces para a servga doméstico,precisom ficar sempre nos pastos™ Outre observador, Pereira dAlencastre, assim deserevia cielo anual dos pecuaristas do Piaul: (5 meses de rovembro e dezembro fim de verdo) so {5 épocas mais abundantes de produsdo. Fozem-se as voqueliades dugs vezes no ano nas fozendas de grande ragga, e sto sucede nas meses de janeiro e junho, Porém nas pequenos fozendas, uma sa vez. Os meses 4e janeiro. junho sd0.0 tempo mais feliz do fazendeiro ‘mois dvertde pare os vaqueiros que se empenham ‘em provar muita pericia no exercicio de suas funcaes. Iuesses meses se fozem também as vaquejadas do gado ‘grande, que tem de ser remetido para as feiras ou vendido nos porteiras dos currais 00s negociantes ambuiantes”” Antes de encertar estas paginas, velamos 0 que 05 documentos nos ensinam a respeito do valor representado pelo gado bovine no decorrer do século XVIl. ” PERE DRLENCAS ope 9 68 tue Segundo 0s peritos da época, um boi “gordo e capar de matalotagem” pesava entre 9 € 12 arrobas ao sair da porteira do curral™: no caso de ser transportado, ou melhor ‘comboiado para a Bahia, a longa caminhada de mais de 22 leguas, fazia-0 perder muito peso. N3o <6 a: boiadas che- gavam desfalcadas (vérios animals ou se extraviavam ou morriam pelo caminho}, como os animais que conseguiam chegar 3 feira de Capoame, tinham perdido 8s vezes até 1/3 de seu peso ao iniciarajornada de uma captania para outra”. Uma arroba de carne bovina custava no acougue da vila da Mocha, em 1727, 80 réis®, passando a valer, entre 1752 e 1754, aproximadamente 200 réis", De acordo com 4s Posturas e Taxas estabelecidas pela Cimara do Senado da Vila de Campo Maiar, tals eram, em 1764, os precos saximes dos anima Prego maximo dos tovings (1764) -Lyaca grande e gorda 15500 1 vaca inferior 1$200 {boi grande e gordo, capaz de matalotagem 18920 boiote 18600 "PEREIRA ORLENCASTRE, op cit 80, " Arquivo Wstonco Ultamarin, Pi, Cala, Relais de todos os boiedos saidas as Fzerdosconfcodes a eulares do Comoenhia de fess, envodos 9 fora de Copeame ro Bah, de 1770 1788, datas do 206 uo de 3788, "arquivo Historica Ulvamarno, inl, Can 1, Informa de Antnio Marques Cordoso a reszett ta marchantera da Vio do Macho, de 23 ae setembro. 01727 " Arquivo Historica Utramarno, Pini Cala 6, Peso de diferentes Bites feces do Paw, 17521754 de Compo Moser, de 28 de agosto de 176. stalin de ovosencotte Se, com pequenas modicagbes,reprodiziasigualmente em Peres 33 Costa, op cit 79. Na Bahia, na feira de Capoame, o principal mercado de pecusria piauiense, 0 preco dos arkmais no parece ter aumentado gradativamente ao longo de quase dois decénios: tomando como exemplo as 34 boiadas das fazendas que foram dos Jesuitas, pertencentes apenas & Inspecgo de Nossa Senhora de Nazaré, temos os seguintes dads: entre 1770 e 1788 foram enviagos 9.711 bois para a Bahia, Destes, quando os vaquelros e tangedores vendiam ‘alguns pelo caminho, seu preso importou em média, 15914, Na fera de Capoame, no entretanto, os animaistiveram seu valor oscilante entre 38000 e 43500, sendo seu valor médio, 38641, As vacas, por sua e2 foram geralmente vendidasentce 2300 e 48700, apresentando o valor médio de 38094" Salvo erro, ultima bolada enviada 3 Bahia partindo destas fazendas fol ado ano de 1788, pois os administradores das fazendas reais deci¢iram a partir de 1789 que era mais rentavel aos cofres da metrépole vender as reses a quem as 4quizesse por conta propria se encarregar de revendé-las na Capoame, em vez de continuar a pratica herdada ainda do ‘tempo dos lesuitas, de os préprios vaqueiras e tangerinos das fazendas comboiarem 0s animais"*. Assim sendo, nos meacos de 1789, vendiam-se nas porteiras das fazendas da Inspecslo de Santo Indcio do Canindé, bois dos pastos mimosos, a 3$000, os dos pastos agrestes, 2 25600; na Inspeegae de Sio Jodo do Piaul seu valor fo, indistintamente, de 2$800, enquanto que os animals procedentes da Aequio Histérico Uramarno, Pia, Cava 4 Mapes de todos ox Copstanio desde oanade 1770 ote 1788incksive Ide marco de 1789 (Gado do: lest do Pal dando parca atengao a esac ‘ue vem azsinada pelos trés membros da Junta Goveroativa J Copies, lou 8 da Sha, Jo Paula Dini elo Parca dia ise bom. inspecgdo de Nossa Senhora do Nazaré foram arrematados 20 valor de 25500 cada um' Nao temos noticia de que o Piau' se fizesse, como na itha grande de Joannes (Marajo) as chamadas “caga 20 boi, fem que vaqueiros e pedes armados de espingardas, perseguiam as reses selvagens criadas no mato, abatendo. asin /oco, tendo, apenas o trabalho de tirarapele do couro, posto quea carne possuia pouco valor comercial. Von Spix Von Martius falam que havia muita abundancia e fartura e gado no Piaul quando por Ia perambularam; contam mesmo que era praxe levar-se & porta do viajante que passasse por aqueles sertdes, um belo boi, uilizando-se © forasteio de sua carne, muito ou pouco, a seu bel prazer” Se compararmos os pregos do gado bovino com outros géneros corrente no Piaui, notaremos que efetivamente a principal fonte de rendas desta capitania tanto dos particulares, como também dos cofres publicas™ tinha baiea cotagio no mercado interno. Entee 2752-1754, ug. uma arroba de carne de vaca custava no Piaui, $200 ¥6is, ou sea, aproximadamente $013 réis cada quilo. Trés ‘vos de gana custavam pouco mais que um quilade carne; com 0 valor que se pagava a um queijo flamengo ou a um chapéu “muito ordindrio”, podia-se comprar o equivalente 2 73 quilos de carne bovina. Um par de meias de seda ordinaria vali o exorbitante preco de 4$000, ou seja, quase " arto istic Uramarine Pau Cand 7 Consulta de Martinho de elie Costra oo Re 9 rexpet do que fase cm oe bolndos do Fosendos dos Proscas leu, de? de jane de 1790, sibioteca Nacional, Seqso de Manusentos, (32-178, Carta 48 Franesco oo Sta Castro nformanda sore as fends de gade dos extnosjesuts de tha de Aaa, Pes, 29 de deembro 481866, 8 YONSPDX& VON MARTIUS, op 6 447, "A respete dos dizimos de gado vacum, consute-se a lst das arrecadaies de eda ua db vis ene 08 anos de 179% 1804, 0 PERLIRA DALENCASTRE op. cit» 70-71 a mesma quantia que se pagatia por dois bois dos mais {gordos e corpulentos" ' Por volta de 1764, vemos que pelo prego de umavaca gorda e grande podia-se comprar 5 galinhas, ou 5 patos, ou 2 perus, ou 3 frascos de aguardente comum, Se se tratasse de aguardente de boa qualidade, trocava-se 2 vacas das ‘melhores, por 2frascos e meio de tal bebida. DoisFre'os de cavalo ou dois pares de esporas valiam mais do que um boiate. Era preciso 0 equivalente o valor de duas vacas das ‘melhores para se mandar fazer uma porta de uma casa, vind esta acompanhada de seu portal (batente). Em se tratando de confeccdo de um vestido, caso 0 tecido fosse ordinario, 0 oficial alfaiate cobrava 0 equivalente a duas vacas; caso {osse um vestido de veludo, ou de seda, ai entio seu feitio representava 0 tanto quanto vallam 3 vacas das melhores. Um par de bota ‘final, “o que era um boi, para quem tinka Sboiadas"? tava mais de que 2 vacas inferiores” © arquwo Histérieo Uramaring, Pla, Caixa 6, Prog de ifrentes 9éeros e fazendas do Plot, 1782-1754 {fe campo Morar, de 24 de agora de 1768, ESTRUTURA DEMOGRAFICA DAS FAZENDAS DE GADO 00 PIAUI-COLONIAL: UM CASO DE POVOAMENTO RURAL CENTRIFUGO™ “cuidom os habitants do Piout em fugir da sociedade vivendo nos motos e brenhas onde se figuram mos vres € donde vem afolta de instruc de que padecem, eo resirar tudo oborbaro fear Fstda5was eo desamgara semhaver ‘quemaspovoe, sem orifices paras obras necessris, sem (uvidor Ouro, Pai, 1792 (0 Praui,considerado durante o periodo colonial, como ‘ocurtal eo agougue do Brasil” apresenta em sua evolucao demogrsfica alguns aspectos sui generis se comparados com as demais regises brasieiras, notadamente com as areas viinhas do Nordeste acucareiro. Assim, partindo de duas listas nominais de habitantes ~ a primeira detada de 1697, Comuniagioaprezentada&Conferénca Geral da Uni Internaclona para Este Ceniico da Poplag20~ Mico, 8 13 de agosto de 1977 ‘eradago & Fundagso © Gulbenkian 2 balsa que que me permity ‘ealetar este material nos arqunos de Portugal 3 Fundacdo, Ford que tem subvencionade minhas pesqusas na campo dot Estudos Populacionas, Unido Internacional para o Eetudo Cento 33 Populaio pela bola de vag eextaca, possibiltando me parent do Congress nterraconal da Unido no Mex. "uma relagio samara dos principals abalhos tence o Pau come tema: PEREIRA DACOSTA, FA. Cronloga Mistriea do Estado de Pou, desde os eus primitives vempos ate a proclamagee da Repibica em 1889, Tiposrafa do orral de ele, Perambuce, 1908; PEREIRA DALENCASTAE, JM. Memdri cranolgic hatca © corogr Provincia do Pio, Revit do Institute Hitrca Geogrtco Brae tomo X6, 1° Tameste, 1857, p. 5-165, MUNES, Osan. SUmula do Fm coma +89 a mais antiga relagdo de habitantes conhecida do Brasil ea segunda, de 1762, pretendemos neste artigo deserever & analisar basicamente dois temas: 1. Aforma de ocupagio e povoamento do Piaui nos séculos Xvi e xu 2. Acomposicdo demogrsfica das unidades de povoamento. Este trabalho far parte de uma pesquisa mais ampla que pretende analisar diacronicamente a histéria social © econdmica do sertdo pecuarista’ 1 A forma de ocupagao e poveamento do Piaui nos séculos Xvlie Xv 0 Brasil|d possuia quase dois séculos de historia, era maior produtor de acicar do mundo, €o tertiteria de mais cde 250,000 km’ hoje representado pelo Estado do Piau (oito| vezes a superficie da Bélgica) n3o tinha ainda sido conquistade pelos colonizadores. € somente em 1674, que © portugues Domingo Afonso Sertio entra pelos sertdes, usta do Bou Rio de nero: Edkors Arte Nova, 1975, Economie € nance aol}, Teresina, Monografia 60 Pu, Sere ister, 1872; 0s prmeroscuros[eogratiae etna Go Pauicescortistal Teresina, Wonograta do Pau Serie Hatorie, 1972; Ogevassamentd ‘econguite do Pou Teresina, Monagraha do Pa, Sere Histone, 1972; CASTELD BRANCO, RO Pew, a tera, @ home, o me. Sis Paulo Urana Quatis tes, 197; MIRANDA, AA. todos piovenses, So Paulo: Ca Etora Nocona, 1938, PORTO, CE eter do Pav fio de lane, Minsteie de Eavcagioe Cura 1955; Mote, LAB. Fozendos ce gad de Pie (1697-1762 Aras do Sep6n0 Nona os Professors Universrion de storia, 1976, 9.383369, Deuorgo ‘i Coptoma de Sao Joe do Pau 1772, Revstode Wists [As has gras destas pesquisasachar-se dlineadas em Nordeste ‘peaua¢8e economia’ socedede, Mensiro do uv Nacional one ‘ih. 6,9. 38, Populagdo © economia: comporisde e evolcdo emegrafca ds forendes de 9 stor do Pou 1597-1772, « Bos ‘urras do Povia fer de Capoame no Baha: 1770-1788. acima do rie So Francisco e “descobre e povoa oPiaul, com grande risco de sua pessoa e consideravel despesa, com 0 adjutério de sécios". Os risco a que se refere o descobridor cram representados, sobretudo, pela presenga de indmeras tribos indigenas que, perseguidas no ltorat pelos senhores de engenho tanto do Sul (Bahia e Pernambuco) como do Norte (Maranho}, reencontram nas margens dos ros piauienses um pouco de tranqullidade perdida com a chegada dos brancos. Eram grupos indigenas agressivos, comedores de carne humana, considerados como “os mais bravos e guerreiros que se acham no Brasil” ‘Aconquista e povoamento do Piaul e de outras zonas ridas do Nordeste fol motivada, sobretudo, pela expansio dda economia agucaret cavalar nio s6 como alimento basico da populagio livre & escrava, mas, sobretudo, como transporte e forca motriz dos tengeninos de agicar’.Com as grandes expansio dos canavials| no século XVIl, a ctiagao de gado nas proximidades dos. tengenhos representava uma concor‘éncia indesejvel agro industria agucareira na medida em que desvia terras, capital fe mio de obra da principal e mais lucrativa atividade, a fabricacdo de agicar’. Dessa forma, a conquista de novas| dependente do gado bovine € * CARVALHO, Pe, Miguel, Dscrg80 do set80 do Pru emetise 20 tn ‘ud Sr BresserafnFroncicade Lima pode Pernameuco (1697, InENNES, & As guerras nos Pommores Ro. fanero, Basiiana 1” “dem, bide, p 387-388. “hgceita o enhor de enganno, no 19 de muitos esraves, come de ‘muitos bois © evalos, tanto paras avagern das erase plantagBes Soscons, como part penasssimolaboraterie do engenho, eorma ‘gue o que no tem para mae de 80 de cada um destes gneros, no séeulo NV Salvador. Rap, 1963, vol p= 2 «or carta Rega deta de 170, pris acriagBodegados menos te 0 foguas da conta maritima, tentando-se desta forma entar que a zonas até entdo desprezadas pela cana impés-se como uma condi¢do para a continuidade e ampliagao da principal cultura agricola nordestina’ Em 3674, Domingos Afonso Sertdo conquistava Praticamente metade do territério do Piaul, de modo que, 20 retornar & Bahia, onde tinha residéncia, deixa atras de si 30 fazendas de gado administradas por vaqueiros de sua confianga. A fazenda de gado, por conseguinte, fo o germe do povoamento desta regido, constituindo a partir dai 0 modelo dominante de ocupacio do territério.Aproliferagao das fazendas se deve ndo apenas a regular demanda de gado por parte dos milhares de engenhos do Nordeste agucareita, mas, sobretudo, a partir do século XVIIl, 8 crescente importacio de boiadas pela rica © puiante regio aurifera as Minas Gerais’. Eis como cresceu impressionantemente ©ntimero de estabelecimentos ruras no primeiro século da historia desta regiao’ pecuiia compere com a principal cultura exporter, 9 cana de 2GuEa CH SIMONSEN, RC. Het econdmica do Bree. Broan, Sobre agrojeg da economia agucareir, conser: FURTADO, Caio, Formorio econdmica do Brat us de ans Fund de Cla, 1968, JR. Cao, Hsia ecandnica do Bros. Sbo Pao: Brsiense, 1986, itl ,"Apecuare oorogreso de povozmento no Nordeste * BUESCU, Mircea, Hstvaecondmica do Bros. Re de Inet: Ape 1970 6.188, BOXER, CA. Aa de Our ao Bro Paul: rasan, %. 342 Companhia Eitora Nacional, ap." acon Eis a fortes que nos serviram na elaboragio deste quaro:- 1674 Testamento de Oomingor Afonea Sets, Revita do Istituto Hitonco e Geogvafeo Brescia, tomo Xk, 1807, p. 140 es - 1697 Pe Migue de Carine, Desenedo do sertdo de Pel op et 1730 Rocha itaesSoutmney, pie Rover, 09 ct 9,283; £762 Resume de todos as pessos Ives ecatvas, jogos, fazendes do cide, ios sertbes da captor de S30 Jose do Put. Arquivo Hatsrica da Secretaria ce stad das Relays Eserires, tamara Lata 267 Mage Numero de fazendas de gad do Piaui: 1674-172 ane 1 de fazendas de gado 1674 30 1697 129 1730 400 82 536 im, S78 Tals fazendas, segundo a Carta régia de 7 de derembro de 1697, no deviam ultrapassar 3 leguas de ‘comprimenta por 1 légua de largura, contudo, na pratca, ‘observamos que grande niimero das propriedades rurais piauienses ultrapassava de muito @ maximo legal. De uma ‘amostra de 33 das primeiras fazendas existentes no Piaul no século XVIl, 29 possuiar superficie superior ao limite regular exstindo uma propriedade no vale do Crateus que possuia a incrivel érea de 30 leguas de comprimento por 20 leguas de largure (21.6000 kr’), o equivalente a duas vezes 2 superficie do Libano" ‘Aexisténcia de fazendas ndo extensas se expica nao 56 pelas proprias limitagBes ecolégicas regionals como. também pelo baixo nivel técnico da pecuaria tradicional Possuindo 0 Piaui um tipico lima tropical de savana, com 82% de seu territdrio com attitudes inferiores a 600m., com vegetaao predominantemente xerdfila, apresentando uma temperatura média anual de 24", com baixissima pluviosidade © poucos cursos d’sgua perenes, sucede nas 2 pacate 1: «1772 Deserg@o do Captona de SBo Jose do Pio Cured toni ove de Moras Ouro, quostorcoUramating (CANABRAYA lice A grande propriedade rr in Histon gerade EuzesS0bratiora, tom, v2, Ste Pave Musi Europe do Uv, 1960, p.102, Mott, LR. 1976, op itp. 351-252 ‘ocasibes de estio que as pastagens se escasseiam, devendo 0 rebanho set transferigo constantenfente para grandes ‘espagos, alternando pastos para que os animais consigam ‘encontrar alimento verde". A prética da pecuiria extensiva fez com que 05 latifiindios além de gigantescos, se istanciassem enormemente uns dos outros. is como um vigirio do Piauldescrevia o povoamento estes series em 1757: "Nas beiradas dos riachos assistem (05 paroquianos criando gados vacuns e cavalares, dstantes uns dos outros de 3 a mais de 10éguas, por morarem junto ddos pogos (égua) que ficam nos tas riachos no tempo do inverno... Acha-se situada esta freguesia de Nossa Senhora da Vitéria no centro do Sert5o do Piaui: ndo tem outra povoacio, vila ou lugar mais que avila da Mocha, que consta de 60 moradores, pouce mais ou menos, ¢ pouco ou nenhuns permanentes, por serem o mals deles solteros, © se hoje se acham nela, amanh fazem viagem eo que avulta| nela sio os oficias de Justiga. Tem circunvizinhos alguns moradores nadstdncia de um légua, que tratam de algumas pequenas ragas de mandiocas, milhos, arrozes que nem a terra admite agricultura abundante, por mui seca no tempo do verdo, e no haver com que regar, e por serern muitas as tenchurradas no tempo do inverno. Como a maior parte do {reguesessdo criadores de gado vacume cavalare no podem comodamente morar junto da vila, se acham dispersos por varies riachos, morando com suas familias para com comodidade tratarem da criacdo de seus gados” VON SPIK 18. & VON MARTIUS, CEP. Viogem pelo ras io de Janel: marensa Navona, 1938, p 419-420. innttutoHstorcoe Geog fico Baie, Ar 2.1.22, Me. do Conelno Sramerino, Relacio 4 Freguesa de Nossa Senora da tora da Vila do Moche do Serta do Pou’ do Bsaade do Maranh2o, plo Vierio Arn Lule Coutinho, 13 de abr ge 1757, 1502320, Querendo corrigir esta tendéncia extremamente dispersa e rarefeita que assumia 0 povoamento nesta zona pastor 0 Rei de Portugal tentando evita que tais habitantes “vivam em grande distancia uns ds outros, sem comunicagao, ‘como inimigos da sociedade civil e do comércio humana” determina, em 1762, que em cada uma das sete freguesias enxistentes no Pui, fosse fundada uma vila. NBo obstante 0 tom solene © bombastico das Cartas régias ¢ 0 entusiasmo ‘patente da populacdo que se comprometi a mudar para as ullasrecém instituidas',o certo éque dez anos apés acriac30 das vilas, tals povoages continuavam despovoadas & insignficantes. Prova disto € o éiminuto ndmero dos fogos existentes nas povoardes piavienses no ano de sua elevacSo a0 status de vila e 10 anos apds.* Numero de fogos das vilas do Piaui 1762-1772 vila 1762 um as (capital 270 17 Valenca 39 8 Paranagud 3a 2 Campo Maior Pr 73 Marvao 9 3 Jeromenha 16 5 Parnaba a 8 Total 42 360 carta Réga de 19 de juno de 2961, n Perea encase, ope. iso numero das pessoas que maviam compromstide a instalarem ‘esidncias nas nove was 10 em Paranagu, 15 em Getomenhe, 23 fem Maruio, 45 em Campo Mor, $9'na Farnaiba Cf Perea ‘aleneasre, opt, p70, aici de 9 de ovembro de 1902 Resume de 060s os pessoas ares ecotias 4762 op cite Cesrgho de coptonias de 550 lore do Pau (1772) 09 ct u variaram os crtérios de arrolamento dos dois ensores, ou de fato a populagso dasiantigas povoagses| decresceram passados dez anos apos sua elevagao ao status de vila, O certo é que se tratavam de infimos nilcieos populacionais, com quase nada que pudesse ser ‘aracterizado como propriamente “urbano”. Eis como era 2 Capital da Capitania dez anos apés sua elevacio a cidade: “Mocha, com 157 fogos e 692 almas no tem religio, casas de Camara, cadeia, arougue, ferreiro ou outra qualquer oficina pibica, Servem de cémaras umas casas terreas © sobre aque corre litigia Acadeia é coisa indignissima, sendo necessario estarem os presos em troncos e ferros, para seguranca. A casa de acougue ¢ alugada e de mais, coisa nnenhuma. As casas da cidade, tadas so térreas,atéo préprio palécio da governo, Tem uma rua intera, cutra de uma s6 face, e metade de outra. Tudo o mais S40 nomes supos ode cidade, verdadeiramente, s6 goza o nome” Se tal era 0 panorama “urbano” da capital do Piau, ‘que dizer das demais las, sobretudo, das rés menores,com ‘apenas nave, cinco e ts fogos cada uma? No ano de 1772, existe no Piaui 3034 fogos, de modo que os 360 fogos “urbanos” representavam apenas 11,8% do total dos domicilios desta Capitania. Os 88,2% fogos restantes estavam distribuidos entre 930 propriedades rurais, das quais 578 eram apontadas com fozendas de gado 1° 352 como sitios de lavoura. A populagdo total do Piaui era de 19.191 habitantes ~ aproximadamente 0,13 habitantes por Km’ dos quais 2.724, ito é, 14,19 viviam nas vilas ou ros seus suburbios, os restantes 16.867 (85,93) moravam dispersos na zona rurat, Como se ve, tratava-se de um nitido caso de povoamento ural, disperso e rarefeto, as vilas nao passando de pequenos centras palitico-administrativos Descrigo do Captona de Bo José do Pau, op ct dependentes do universo pastari. Assim sendo, a fazenda de gado e secundariamente os sitios emergem como a principal unidade de povoamento e pecusriaextensiva como 2 atividade econdmica dominante. A ocupag30 de novos territérios conquistados aos indios se fazia através da instalagio de novas fazendas: “Levantada uma casa coberta pela maior parte de palha feitos uns currase introduzidos uns gados, esto povoados tres Iéguas de terrae estabelecida uma fazenda..”"" dia um viajante que passou pelo Piaui no século XVIIL. Este outro observader também do mesmo século, resume admiravelmente a forma dominante de ‘cuparao do teritsrio piauiense:"Acapitania do Paul falta de novoagses formadas, nao ha falta de povoadores, que moram e viver dispersos em as suas fazendas de gado, as uais requerem para sua boa criacéo, grande extens3o de tetras, De sorte que se 05 seus moradores se unissem em ov0s, bastariam para formar varias cidades e vila... 2 A composigao demografica das unidades de povoamento Diz a tradicSo oral que as fazendas do Piaul tiveram, como semente original de seus rebanhas, trés novilhas & um novilhote". Felizmente que pars 0 estudo da populagio humana destas fazendas podemos nos basear mais do que na tradido oral: apenas 23 anos aps a conquista destes sertées, em 1697, o primeira vigétio da terra, oPadre Miguel “oteiro do Maranhio e Goids pea Capitan do Pui Andie). estado insta Hstoreoe geogrofice Brose, tomo pate 1.1800,» 85 " InstittoMistério e Geogréico Beasevo, Codie 1.2.3, Maranho conqustado dlesus Cristo Croa de Petaga els relgoses de omponhiade ess, pelore Bento da Fonseca, 187, 1275276, dd ©. Nunes, 1975, op et p94 NUNES, Oop. ct, 3.27 de Carvalho escreve a DezripgB0 do Certdo do Peauhy, CComposigao da populagao do Piau: 1697 frato de quatro anos de continuasviaggns e vstas a todas as partes habitadas, Dio sacerdotenaintrodusS0:“NBo hd fazenda nomeada nesta descrigdo que eu no tena visto e anéado.." Recenseamento, portant, dos mas fidedignos. Contava 0 Piaui, em 1687, com um total de 129 farendas de gado, as quai se distribuiam ao longo de quase ToL 428 (100%) uma rintena ders, agoaselhos gus. Asim nformava 0 primeiro cronista desta regido: “Compde-se o Paui de fozendas de gados, sem malores moradores. Esto situadas omens poss wots a fazendas em varios riachos dstantes umas das outras et ea ere eran cordinariamente mais de 2 léguas. £m cada uma vivem um Quanto 20 sexo Homens 398 (90.9%) Mulheres 40. (9.1%) tenemiswmoicomumnereteroleemania:e | mum a Gini 7 Shs) a ‘comum se acha um homem branco s6"" fedios, 36 (9%) 23 (57.5%) 39 (13.5%) Eis, de maneira sintética, qual era a composi¢ao TOTAL 398 (200%) 40 (100%) 438 (100%) «pe, Carano M. 1938, op ot © dem bide, p. 387 Na sua Descrido 0 F. Carvalho, sevind o costume vecentta, ‘Quanto condi urseo-scia) ‘rng 0 terma “negra” como sinimo be esraV,rservando 3 sila "reo" procs negrortwen ho desrever3a8eN69 58,8 omens Muberes Total tavecer do rac da ranger, pr exemple, tertualnerte: Lies 196 (49.28) 33 625K) 229 G23) ctmumnep ip 38) comosb os menos dose XMaoes Eseravs 202 (50.8%) (275%) 208 (07,7) probe veri os ingen, pode segue eb otras" TOL — 398 1008) 40 (200%) 438 (10%) {enham sido alados alguns etravos nao pete, cus nds Contudo, 0 texto da Pe. Carvano suscta ume vida quanto 3 Sscrawiagio des indios poi se sb 0 apeativo de “nero” es inclldos tambern 1 “gentioe do terra, por gue rato teria 6 Giangas 10 (2.2m) imisionsio aro'ado alguns skicolas como “nds, “tapuias” ou Advitos 428 (97.8%) ‘olumine"? $9 uma pesgusa mals aprofundada era navas fstes primarins poder desvendar estes pontos que ifelamente o flocument asnado pele lesuita Cvvatho no sca ‘Quanto 3 age Tor 438 (00%) Estes quadras evidenciam uma populagéo excepcional em varios aspectos estruturas: frente pigneira de homens vaqueiros, num meio ainda muito hostile austero onde sé hava lugar para trabalho masculino, inexistindo um miimo de seguranga e conforto para se oferecer a eventuais dependentes {mulheres eeriancas). € uma “sociedade” com reduridissima vida social: predominio quase exclusivo de homens, existindo apenas §casaisconstituidos e unicamente 420 ciangas. No que serefere a distribuigdo destes moradores ras 129 fazendas, temos como padrdo mais comum, 3 presenca de vaqueiro branco (arrendatario de senhores absentelstas) acompanhado de 1 ou 2 escravos negros: 48% das fazendas do Piaui apresentavam esta composi¢30 celerentar. Nas demais unidades residenciais, varios encontrar desde a situagia mais simples em que um moredar branco viva sozinho (3 fazendas), ou de dois brancos viverem sem mais ninguém, observando um total de 42 variagdes de organizagio residencal, cepresentadas pela diferente presenca das demais categorias étnico-sociais, a saber; além dos brancos e escravos negros, Indios e mestisos de ciferentes fenétipos. Este quadro mostra a distribuigdo 6os habitantes or domiciiosfazendas: Numero de moradores por fogos\tazendas: 1697 n® de moradores requancia de fogos 1 3 Fy 3 St 4 2 5 4 6 6 7 3 2 1 3 toral 123 Através deste quadro vemos que 70,5% dos fogos Possuiam de 1 a 3 moradores, sendo que 98,4% dos domictios abrigavam até 7 individuos, incluindo-se neste total os escravos. A residéncia possuidora de maior nimero de pessoas estava na Fazenda Mocaita:além do fazendeiro e de um arrendatério, viviam 4 Indios, 1 mulato e dois escravos negros: ao todo 13 pessoas, Do total de 129 fazendas, 126 (97,6%) possuiram ao ‘menos um morador branco (vaqueiro ou proprietario). Os ‘escravos negros aparecem em 109 unidades residenciais (84,49), sendo que os Indios (incluindo-se mulheres € Criangas) estdo presentes em apenas 30 fazendas(23,2%), As mulheres embora fossem em niimero de 40 (criangas inclusive}, residiam em apenas 24 fazendas (28.6%); destas, 18 abrigavam apenas uma representante do sexo feminino.e 6 mais de uma mulher. Tae excepcionalapresenca eum casal branco nesta “frente pioneira™, que, dentre as 40 mulheres existentes nas fazendas, apenas uma supostamente branca, que tem seu nome revelade: “Na farenda Belo Jardim de Santa Cruz esté nela Domingos de ‘Aguiar com sua mulher, Maria Cabral: &0tinico branco que hd casado nesta nova frequesia..Dista do fazenda seguinte 3 éguas’..* Fis como 0 Pe. Carvalho descreve 0 estilo de vida austero e cheio de privagies a que se submetiam tais vvaqueiros, impelidos para os sertbes distantes & busca de Para uma earacterzaco sociale da conceta de“Yrente poeta! nsulte-se: MARTINS | Souza Fene ener: contbuigsopara uns vacterzaio socioldgle, Caderno do Centro de Estos furas Urbanos, a 51972, p102-112, MONBELG, P Panniers tplonteus, ars brave Armand Coin, 1952; WAIREL, Ls ones plone Basil evista bose de geogrf, 2no #4 our, 195, 380-417, Pe: Carat, M1938, ofc, p39, Pas cabal «101 melhores pastagens para seus rebanhos que um dia seriam vendidos na distant feira da Capoame, nq Bahia: “Comem estes homens s6 care de vaca com latcino ealgum mel que tiram pelos pous. A carne ordinariamente se come assada, porque ndo ha panela em que se cozo; bebem gua de pozos ‘elagoas, sempre turbae muito assalitrada. Os ores so muito {g70ss0s © pouco sadios. Desto sorte viver estes miserdvers homens, vestindo cours ¢ parecendo topuias."" Como se desenvalveu a populacso do Piaul? Eis sua evolugio demografica durante o primelto século de sua historia Populagaa do Piaut 1697-1799 ano populacio 1697 338 1762 12.748 wn 338 uw 26.094 1799 si Certamente que os 438 habitantes incials do Piaui, contando com apenas 40 representantes do sexo feminino 1fo.se multilicariam a al ponto que apds 65 anos perfariam lum total de 12.744 individuos. O erescimento demogrstico do Piaui, portanto, nas primeiras décadas que seguem a “PE CARVALNO, 1938, on, 373. ™ tis as fonts nas quai se base este ava: 1687: CARVALHO, M1938, onc. 370389. 1182: Resuma de todos pessoas nee cats.» 06. 1772: Deseng80 do Copan de Sd Jose oo Pu 09. ch. 1757: Ivestigosdo sobre a recenseamentos do popule geal do psa e de codo provincia de pets tertados desde os colomers ate hoje IN. de Sousa esha, Rode ane, 1670, 2-37 1799: bem conquista, se deve mais 3 chegada de imigrantes do que 20 crescimento vegetative das primeiras familias dos colonizadores ou 4 incorporacio de contingentes opulacionais autdctones (amerindios).Diferente do que ‘corceu, por exemplo, noextremo meridional do Brasil, onde 2 Coroa Portuguesa patrocinou uma corrente Imigratéria vinda dos Acores a fim de povoar os campos do Rio Grande do Sul, Piaui nunca mereceu qualquer atencao overnamental na sentido de trazerimigrantes estrangelros| para os seus sertdes, Nem sequer houve imigrac30 esponténea de estrangeiros:o clima excessivamente quente, a aridex de grande parte de seu territério, 0 espectro Constante das secas periddicas, tudo iso estava longe de Constituir 0 eldorado buscado pelos imigrantes europeus. Assim sendo, a imigragao para o Pia, notadamente nas primeiras décadas do século XVII, provém do préprio| Brasil: da zona agucareira nordestina, Se 0 século XVII fora particularmente benéfico para a agroinddtria da cana, 0 século XVII se inicis provocando sérios problemas para 0 setor exportador A concorréncia do agicar das Antihas faz com que o preco do produto sofra uma bala no mercado internacional, levando & bancarrota grande numero de senhores de engenhoda nordeste brasileiro, e& decadéncia, significativa porgdo de area agucareira, “A estagnacdio do produgéo asucareira ndo criou a necessidade de emigrasao do excedente da popularée livre formado pelo crescimento vegetativo desta. Ndo havendo ocupasao adequada na regido agucareira para todo. incremento da populagéo live, arte desta era atraida pela fronteica mével do interior criatério. Dessa forma, quanto menos favordves fossem as tot de desbriga do tito da eguesia da Nossa Senhora da Vitra da cidade de Oni’, Paore Dion Jose de Agar, 29 de maio de 1762, hrguivo Hiterico Utramsena, Caxa 3. Come desde 1758 0 Marques de Pombalprbe»excrevidso dos indlos do Pau ona neste Rol oratvosaparecem especiales aperarcomo eave" ‘onettudos apenas por negro, mulstor,cebras ete, excetvando-s ‘este namero grinon Arespeto cs legslgioreltva semancoago 05 indios ef. Perea ed Costs, ope aN0V9 de 23/1)1737 FURTADO, op ct. p. 7575 acta do governador Jo Perera Caldas, 3a Mnstro do Ulvamat, 25 Utiizando a mesma amostra das fazendas de 1762, constatamos que os escraves representavam 45,8% da populagio rural, estando presentes em 67,8%dos domiclos. Ora, se no final do século XVll para todo Brasil calcula-se que cativos representavam aproximadamente 38,6% da populagdo total do império", concluiremas que o trabalho escravo também foi fartamente empregadona zona pastori Tais dados igualmente obrigam-nos a rever o papel da escravid3o na atividade criatéria, pois até entdo ilustres historiadores econémicos como Caio Prados, Celso Furtado, Roberto Simonsen e outros" foram undnimes em afirmar que “a extrema disperséo inerente 0 postoreio tarnou incompativel 0 escravismo |..)", “o trobolho & em regra livre. Nestes territérios imensos, pouco povoades ¢ sem autoridedes, é dificil monter a necesséria vigilincia sobre trabalhadores escrovosi..."!, Nossos dados evidenciam exatamente 0 contrério: que desde 0 inicio e a0 menos durante todos setecentos, a pecusria piauiense dependeu suastantivamente da mao de obra escrava negra e mestica Embora existindo lugar para o trabalho livre, inclusive indigena, o escravo negro sempre foi uma presenca importante e indispensavel nas fazendas de criatério, superior a0 abraco indigena, quica mesmo a0 braco livre. Tomando como panto de referéncia a "Relac3o dos Rols de Desobriga” da freguesia de Nossa Senhora da Vitéria a Mocha, vejamos a seguir como se apresentava aestrutura demogrsfica das fazendas piavienses no ano de 1762. Tal "ALDEN, Daur The population of roan the late eighteen century a eliminary sted, Hispanic American Htorial Revie 1953, p42, D> ETRONE, Tres As eas de ciao de ga, In Mstrlo gral do histor nove do Bree ares autores, Seo Paulo: raise, 2965. sa Relagdo” inventaria 162 unidades agropastoris (30% da propriedade rural da Capitania), cobrindo um total de 302 ogos (quase 20% dos domiclios da zbna rural}, ros quais, viviam 2.406 pessoas (18,8% da populacdo total). Trata-se, portanto, de amostra quantitativamente assaz significative ‘e que cobre a area de colonizaglo mais antiga. Tal era a distribuigao das fazendas na principal freguesia do Piaul, tomando como ponto de referéncia sua localizaglo junto aos cursos d'agua mais caudalosos: Localzagao das fazendas na Frequesia da Mocha: 1762 ‘stuagiageogréfica nde fzendas nt defogor n? de pessoae Canindé cima 20 (24K) 22 (73%) 29 (12.185) bea domaim 49 (30.2%) 115 (380%) BAL (350%) Ribera do Piaui 63 (389K) 97 (321%) 785 (32.74) Canindé abavo 13 2 (76%) 233 (97%) Ribera do Parnaba 17 45 (150%) 253. 105%) Total 162 (100.0%) 202 (100.0%) 2.406 (100.0%) Uma das vantagens desta amostra é que de certa {forma recorta de Norte a0 Sul oteritriopiauiense, cobrindo suas diversas reas ecolégicas. A maior concentracdo de {fogos e pessoas nas fazendias de diferentes areas explica-se pelo maior desenvolvimento da agricultura nas beiras de certos rios, notadamente na Ribeira do Piaul e do Itaim. Como sugere este quadro, havia diversas fazendas que possuiam maisde uma residéncia, Vejamos, entio, a seguir, a distribuigio dos fogos por estabelecimento rural: Numero de fogos por tazendas: 1762 1n® de fogos frequencia 13 2 10 5 B 3 1 eros através desta tabela, que 70% das fazendas plauienses possuiam apenas um domicilio. Embora os documentos ndo estabelecam por que em certas éreas predominavam fazendas com duas ou mais residéncias, poderiamos levantar algumas hipéteses: certas fazendas possuiam mais de um domiciio como estratégia detensiva contra a ameaga dos sitvicolas circunvzinhs; cu entdo, zonas ‘mais propieias & lavoura, como dissemos anteriormente, atrairiam mais moradores, ou ainda fazendeiros com rebanho muito grande, nas zonas de melhores pastagens receberiam de bom grado “moradores de condicio" & ‘apregados" a fim de ajudarem nos cuidades dos animals Alias, esta parece sera opiniéo do arguto observador Ouvidor| Duro, quando diz que nas fazendas, ou seus feitores, vqueiras,escravas.e mais pessoas que nelas moram como uma s6 familia, hé muitos outras que chamam agregades, e so de duas formas: uns que em algumas ‘ocasibes servem coma criadores inerentes ds familias, outros que nem servem, nem na familia se incluem, antes tém fogo separado, posto que dentro do mesma fazendo” lam dos senkorios + pesergd0 do Coptonia de S80 086 do Pius, op. CChama a atencao no quadro acima a existéncia de uma propriedade rural com nada menos que 40 fogos: tata se da “fazenda da Canavieira’, na Ribelra do Itaim. Se de fato havia plantagBes de cana emtal estabelecimento, como sugere seu topenimo que justficasse a presenca de tantos moradores, é dado que os documentos infelizmente omitem. ‘Ao todo viviam nesta fazenda 152 pessoas (3,8 habitantes| por casa) entre livres e escravos, populagao que reunida ultrapassava um niimero as seis vilas estentes no Piaui, apenas a capital apresentando um maior numero de fogos. \ejamos a seguir como se compunnam os fogos nas fazendas piauienses. 0 quadro abaiwo refere-se 20 namero de pessoas por residéncia, Lembramos que os escravos também estdo computades no nimerototal de domiciiares. Numero de pessoas por fogos: 1762 nit de pessoas frequéncia nt de pessoas frequéncia 1 9 v 6 26 18 3 3 3 19 3 4 2 20 1 5 322 2 3 6 23 2 2 7 21 23 i 8 20 24 9 a 30 10 13 31 rn 5 32 1 2 7 33 1 B 20 36 a rs 4 ry 1 15 4 16 6 Total 2405 302 ‘Como se vé, 0 arranjo residencial mais repetido é 0 ‘que congregava 3 pessoas (14,2%), sendo que 43,45 Gos fogos: possuiam de 1 2 § moradores, 32,5% de & @ 10; de 11 a 20, 39.9% de 21 a 30, 2,6%; de 31 a 40, e 1,3% com mais de 40.03%. 0 ndmero médio de pessoas por fogos, que em 1697 era de 3,3, passa nesta amostra de 1762 27,9, sendo que, de acorde com Mapa Geral do Piaul deste mesmo ano, havia luma média de 6,2 habitantes por fogos, em toda a captania, rmantendo-se praticamente a mesma média 6,3 no ano de 1772". Interessante notar a vatiagio da numero de domic ldrios em se tratando de diferentes zonas: em 1772, na zona “urbana” (sede e subsrbio), via em média 4,7 habitantes or damiclo, enquanto que na zona rural seu numero sobe para 7,9, tendo sua explicagao certamente pela maior presenga de eseravos nas fazendas do quenas casas dos wildos. As categorias “escravo de ganho” e “escravo doméstico” tao frequentes nas maiores cidades do Brasil-Colbnial neste idéntico periodo, dever ser muito rarasnesta sociedade com organizagdo econdmica e social t30 rstca. A grande massa ceserava concentrava-se, portanto, nas propriedades ruais Numero de escravos por fogos: 1762 1° de escravos n® de fogos 1 2 a 15 cy 20 hn 5 10 a5 3 esc Caparo de S00 José do Pou Numero de escravos por fogos: 1762 (cont) 8 de eseravos ntlde fogos u s 2 B 14 45 19 2 2s 29 total: 1.102 202 os 302 fogos do Distrito da Mocha, 202 (66,9%) ossuiam cativos, sendo que das 162 fazendas, 146 ontavam com eseravos, o que representa mais de 90% das propriedades rurais da drea, No inicio da colonizacSo do Piavi, das 129 fazendas ntes, 109 (84,4%) possuiam escravos, sendo que 68,7 destas contava de 1 a 2 cativos. A fazenda possuidora do maior numero de escravos contava com 6 negros. Em 1762, © panorama se diversificava: 63,1% das fazendas possuiam de 15 escravos; 26.9%, de 6 a 10; 6,5% de 11a 15 ¢ finalmente, 3,5% mais de 26 escravos. A fazenda possuicora ddo maior niimero de escravariacontava com 29 individuos, sendo 17 homens e 12 mulheres. Situacio bem diversa da bservada na zona agucareira, onde um engenho regulat possula em média 50 escravos, havendo varios deles cam mais de “duzentas pecas” como ensinava o Mestre Antoni Nesta época, conforme dissemos anteriormente, os escravos representavam 45,8% da populagao distrital. Dos 1.102 escravos das fazendas, 706 eram do sexa masculino (64%), “ANTONI A Ctr eopuria do rai! Ga, Ei. Nacanal 8.140, explicando-se tio alta relagdo de masculinidade pelo fato de a pecusria, atividade econémica dominante, acupar exclusivamente mao de obra masculina. Como em muitas fazendas além do criatério de bovinos e cavalares, desenvolvia-se igualmente uma agricultura de auto: subsisténcia~ "Togas e engenhos", conforme se expressa 0 Ouvidor Duro, certamente que 0 trabalho agricola devia ser em grande parte confiado as escravas. Vejamos a seguir ual era a estrutura dos grupos domésticos nos 302 fogos| das 162 fazendas no sertio do Piaui Composigao dos domicilios do Piaui 1762 Damier salto 50%) 2) vo, viva 1 bealatsna 2 €) estado cul desconhecido 5 Teta ° 2. Domicitios sem estrutura foro 23.8) fescrive fescrave toa *)coresidentesagarentadas a 1) covesientes do aparentados oe @ Total - nin 3. Domiciios com fomilosimpes (503%) 2) asl sem hos no» | 0 1 csal sem hos outros 1 ow | 5 ‘jeasal com flhos wo |e 4} csal com nos ¢ outros 9 woe | vdwo com hos outros a 3 « {viva com hos e outros - 6 6 fg) mde soteva com fihose outros 5 1 6 )paisotteiccom fihose outros |? 3 5 i otro no aparentado c/eaals/ Mo 2 fae! j) seer no aparentad cleasal fos 3 ee 1 soteira com mae e outros 3 a 3 Tora ek as 4. Domicios com familias extensas (6790) a}ascendente ayo 6 b)descendentes 4 a 2 eolatera 2 2 Total 5 18 20 5. Domi com fmiios mips (16.2%) 2] nileosecundiriodescendente— — ? 7 bj nile secundéra ro apareneado 11 3 38 )nileo sec. desc.emiclesnéoapar. 1 1 {nile secundaro n2oaparentsdo ‘efamila extense dese = s 5 Tex n 18 2 Conforme revela este quadtro, 0s domicitios com apenas um morador sia raros (394) e, com excerao de dois, (0 demais locaizam-se em fazendas onde ha mais fogos. Quatro dos fogos solitarios esto na grande fazenda da Canavieira,na Ribera do aim. Se vverisoladamente mesmo ‘num povoado ou cent’o urbano representa forma residencial rara e exceptional, certamente que viver sozinho numa fazenda de gado, dstante do resto do mundo varias horas de caminhada a pé ou a cavalo, constitula situaggo ainda mais excepcional e impraticdvel. Lembremos que mesmo nos. primeiros anos de conquista, quando o Piaui no era mais do que uma “frente pioneira” de vaqueiras, quando 70% das fazendas de gado possuiam apenas de 1 a 3 pessoas, 05 ‘moradores isolados também ja eram raros: apenas 3 casos, Se a pecuéria extensiva, de um lado determinou a ocupagie do territério de forma dispersa e rarefeita, Impedindo consequentemente o desenvolvimento de ncleos urbanos, por autro lado, provocou ineremento de tum tipo particular de organizacdo residencial: os domiciios sem estrutura familiar. Enquanto que em outras regides do ‘mundo 0s fogos sem grupos familiares representam de 2 a 6% dos arranjos domicliares”, consttuindo apenas 2,59 dos, fogos de Curitiba no século XVIII, no Piaui Colonial, em 22,8% das casas viviam pessoas sem nenhuma relagdo. parental. © arranjo mais frequente destes fogos sem ‘estrutura familar era o de um ou mais homens (brancos ou de cor, solteiras em sua maior parte, secundados por um ‘ou mais escravos. Geraimente os chefes destes fogos eram vaqueiros e criadores. Tal fazenda, assim como alguns escrevos, eram em muitos casos propriedade de um senhor absenteista que pagava tradicionalmente a tais iministradores um bezerro de cada quatro que nasciam, Costume praticado desde os tempos remotos dos primeiras| curtais, referido como existente no século XVIlle em vigor {ainda em nossos dias". Os demais moradores de taisfog0s, tanto homens quanto mulheres eram, na sua maior parte, agregados ou camaradas, que compartilhavam os outros trabathos com os vaqueiros, administradores e com a Digno de nota é a existéncia de 13 fazendas onde viviam apenas escravos. Situaedo impar nas sociedades escravocratas e que ja se delineava desde 0 iniclo da implantac3o da pecuaria nestes sert&es: em 1697, na fazenda das Eguas, “hd um negra, escravo do Capitdo Domingos Afonso Sertéo, senor da dita fozenda. E negro de conta, sem branco (e dé conta) da fazenda a sev senhor..”™. Na amostra de 1762, nas 13 fazendas culos LASLETY, Peter Household ond fomily in post time, Cambridge University Press, 1972.85, “SONI )MIIM.& populeedo do vila de Curitiba segundo a lstas nominativas de habitontes: 1765-1785. Tese de Mestrad, Universdoge Federal 30 Parana, 2978 “CARVALHO, Mop ct .373:ANDRADE, ManoelC A terrae ohomem ‘no Nordeste S50 Paulo: Brasbense, 1963, "CARVALHO, Pe-M. opt. 38 Snicos habitantes eram escravos, viviam 109 cativos, $8 homens, @ 51 mulheres, sendo que a fazdnda da Boa Vista, com dois individuos, era a que possuia o menor nimero de cativos, enquanto que no Brejo de Santo Inacio vvia a maior porclo de escravos sem a presenca de branco ou senhor: 14 negros, sendo & do sexo masculino e & do feminino, 'A presenca destas fazendas onde os escravos eram livres de seus senhores e senhores de si, assim como a existéncia de mais quatro propriedades onde, embora havend gente lire (de co‘), 0s escravos sho arrolados como cabega de fogos, taissituagBes obrigam-nos a recolocar 0 problema da relagdo senhor-escravo nesta area do Nordeste brasieito. Mesmo havendo no Piaul lias como no testo do pals, ressténcia e revolta por parte da escravaria contra 3 servidio®, parece que as condigées e relagées de trabalho, assim como as perspectivas de aforia eram muito melhores ra zona da pecusria do que nos engenhos de agicar.A vida do escravo vaqueiro, montado a cavalo, vagueando e vvaquejando longe do cureal de seu senor, livre do olho e da chibata do feito, recebendo como alimentagao diivia em media Tkg. de carne e 1/2 kg de farinha® por cento que em ppouca coisa diferiam tai escravos dos demais trabalhadores lives, camaradas, agregados e vaquelros, companhe'ros no ‘mesmo labutar AA grande proximidade fisica dos brancos com os cescravos = em 1687, 1/t dos fogos do Plaul era habitado por um homem branco © um escravo, sendo que em mais de um 1/3 das fazendas 0 nlimero de negros era superior aos * A 11 de novembro de 1760, por exemplo, 0 Governador do Pau nomeia a Manos do Espirt Sarto, cat30 do mato co dst de Wilda Macha, a inde esting 05 dversos mocambos « quilomboe ‘denegros updos que exstem no Osteo; apd Perera da Costs op "PEREIRA OA COSTA, 0. ct dos brancos ~a existOncia de grande numero de vaqueiros « agregados de cor empregados pelos donos das fazendas| para administrar em seu lugar a propriedade, tals fatos, @ 10550 ver, contribuiram para relativizar as distanciae que tanto separavam noutras areas do Brasil os escravos do restante da populacio. A principal disingSo socal no Piaui colonial parecia basear-se mais na relagao livre-escravo, do que senhor-esvravo. Nao temos noticia doutra parte do Brasil onde “brancos, mulatos e pretos, por costume ‘antiquissimo, tem a mesma estimagao, uns e outros se tratando com @ reciproca igualdade, sendo rara a pessoa (que se separa deste ridiculo sistem porque se sequirem 0 contréro, expdem suas vidas... Como na maior parte das areas do mundo, também 10 Piaui colonial os domiciios com familia conjugal sao os mais numerosos: $0,3% dos fogos de antanho entravam nesta categoria. Os casais sem fils representam 21,5% dos. omicilios, cifra bastante alta se levarmos em conta que, segundo Celso Furtado, “as condicdes de trabalho e a alimentagdo na pecuariaeram tais que propiciavam um forte crescimento vegetativo de sua prépria forga de trabalho” Comoinfelizmente a "Relagdo do Rol de Desobriga” que nos serve de amostra néo fornece informacées sobre aidade de tals casais, ndo sabemos qual a porcentagem dos que de fato nunca tiveram flhos e quais 05 que possulam filhos mortos, ausentes ou morando noutra habitagio. Os casais com filhos $80 4,7% menos numerosos do que 05 conubios sem filhos, taxa que parece refltirseguramente uma alta mortalidade infantil Carta do Governador1P Caldas 20 Minit do Utama, de 25 de FURIAOD,C op ct 2.79, Os filhos aparecem em 116 fogos, ou seja, em 38.4% das casas, neste nlimero incluindo-setos filhos de vidvos @ vidvas, pals e mies solteiras, casais constituindo familias, simples, extensas e miltiplas. O quad absixo refere-se a0 ruimera de descendentes destas diferentes categoras Numero de fihos: 1762 A de flhos frequéncia 1 35 2 2% 3 16 4 3 a 3 ota 16 Tals niimeros reforcam os resultados de recentes pesquisas que se opéem 2 tradicional afirmacio de historiadores esocidlogos a respeito do tamanho eextens30 da familia brasileira de antanho. Exemplos de diferentes z0nas socloecondmicas revelam que de fato 0 padrso mais ‘comum de arganizagio familiar no Brasil foi ano "familia sgrande” de tipo patriarcal dos engenhos pernambucanos descrita por Gilberto Freire e retomada por Anténio CSndido e outros", mas a pequena unidade familiar, ‘compost de poucos filhos, nenhum ou poucos escravos, um ‘U outro agregado na maior parte dos casos ndo parentes*. “EREIRE, Gilberto. se grandee seneola formato famisa bret Soboregime de econ patrarca Ro devaneia Ma & Simic, 12934; ANDIDO, Antonia. The bronion forty, ln MATH yna Tra. People and instictions Gaton Rove, 1946 “S MARCIUD, Maria Kuna. Cescimentodemegrico# evolu ogra Doula, feve de Lure Docéne'a, Universidade do S¥0 Paul, 1978, 0 reduzido numero de filhos decarre, a nosso ver, mais de alta taxa de mortalidade do que da praticasistemética de controle de nataidade. Ao menos no Pia, diferentemente. do que se observou em outras cidades do Brasil col6nia®, tudo far crer que 05 recém-nascidos de mies solteiras ou dde mes que por um outro motivo nde tinham condicdes de crid-os, aramente eram abandonads nas portas das casas alhelas: nos 302 fogos que nos server de amostra duas «tanga so referidas como “enjeltado" ~ na mesma époea, fa cidade de So Paulo, de 392 fogos existentes na area ‘urbana, 46 (11,75) acolhiam criangase jovens “expostos”* As distancias enormes entre uma fazenda e outra, a ificuldade de se manter secreto ou andnimo o nascimento de uma nova crianga, ou entdo, uma diferente ideologia quanto & concep¢3o € a criagSo de flhos, sejam talver os fatores que expliquem a gouca presenca de "enjeitados nesta sociedade pastoril, Quem sabe se a abundincia de leite nas fazendas de gado ndo funcionasse inclusive como tum fator favoravel que tornava a criagio de fihos mais fécil (0u menos problemstica do que em autras zonas “urbanas” onde ainda hoje em dia a obtencZo de leite,alimento raro.e caro, constitu problema des mais graves para quem tem ctianga 6e col. Do total de 116 ilhos, 3 (15,394 foram apontados como “menores’, ndo havendo outra referéncia & conics Tendences et stuctutesdesmnagesdos|acaptsinesie de Sio Paulo 11765) selon Ws ates nominatves nabiantes”, in CHistoire ‘auonttotive a Bree de 1800 2 1930 Pare ENS, 2971, 121-183 >MARCIUO, ML Lovie de 500 Paula Pevplement et putin Rouen, faculties et sinces humaines 2968, SWA, Mara B. Nite, rn 21 novembre 2976, 1250855, SUV, MBN op ct, p 1260. Oooo eens etiria deste segmento”, Infelizmente ounico dado referente 220 grupo infantil de que dispomos ¢ 0 Mapa geral da populogée da Cpitania do Piaui no ano de 1772: segundo o ouvidor Durso, as criangas de 0 a 7 anos representavam 17,3% da populagio total, sendo que 14,1% dos individuos lentravana faixaetaria dos 720s 14 anos. Assim sendo, 31,43 dos habitantes do Piau manifestavam idade inferior 2 15 anos, taxa a nosso ver relativamente alta e que reflete uma opulagio em crescimento. Segundo a mesma forte, as causa mortis mals comuns, nestes sert6es, eram: $€230, febres malignas, escorbuto, hipocondria, corrupedo, asm. “Aasmoisinfermidades io menos frequentes, mas incurdvels, porque, em todo este sertdo se ndo acha um médico nem cieurgiéo copor”™. (0s domictios com familia extenso representam 6,7% dos fogs estudados, sendo que o padro mais comum desta categoria € viver um ou dois sobrinhos junto com seus tos, com ou sem primas. Em menor numero s30 0s casos de familias extensas ascendentes, 0s quals estdo representados exclusivamente por sogras, ocorrende ainda dois fogos onde Viviam parentes colaterais cunhados). 0 niimero medio de ‘moradares nos fogos de familia extensa era 13,3, média um ppouca mais alta do que a encontrada na totalidade dos fogos rurais do Piaui no mesmo ano (7,9), Estes numeros evidenciam que 0 conceito de “familia extensa” no é sindnimo de “familia grande”, pois entre 0s fogos deste tipo Miohslugaresra pote de questeRoldeDesobrig” enka omitdo| ‘9 nome dat crangas menos, pos, de acotdo cam a “Const Prmeire do Aesbepado da aha devino Visi enomerar odor 0 moradoresde cas case espeiianda ncasode “eter merotes que ino chegam ide da puberdade"(S184),Inflamente ainda 30 CSspomos de dados que suoquem a exstenca de tanto canals erm those nimero to imino de erangas menores « peer de Captanias de S30 096 do Pou, op ct havia familias com apenas 3 individuos, como é 0 caso da Fazenda de Barra’, na Ribelra do Piaul, que possul apenas trés moradores: José daSilva, casado; AntOnia Ferreira, sua mulher e Martinho, sobrinho. Neste coma nos demais casos de familias extensas, ndo ha evideacia que possibilitem identificar qual era 0 tio deste sobrinho, se o marido ov a mulher, posto que as pessoas no Brasil antigo raramente. ‘apresentavam os mesmos sobrenomes de seus ascendentes. 0 colaterais. A residéncia neo-local representa, portant, 0 ppadro mais comum de organizac3o domiciiar dos novos casais; 05 poucos casos encontrados de familias extensas fevidenciam mais uma vez a falta de fundamento empirico| para as generalizacGes referentes ao predominio da fara de tipo patrarcal no Brasil Colonial Quanto as fomilias maitiplas (16,2%), natamos quatro arranjos domiciliares: 0 mais frequente éo que numa mesma casa viviam casais no aparentados: 24 fogos abrigavam dois casais, 8 fogos, t2s casas e 4 fogos, quatro casais. Como distribulam entre si o espago cesidencial é particular que infelizmente a documentago omite: 0 costume nordestino de se dormir em rede, inclusive a cexistencia de redes maiores “de casal”, certamente que {aciltaria a acomodacio de tantoscasals sob um unico tet Inceressante notar que havia uma maior tend&ncia de casais “de cor” compartiharem o mesmo domiciio do que os casais| brancos, 0 que vale dizer, casais mais pobres tendiam mais ‘a subdliviir a mesma casa do que casais de melhor posigao ‘Aconcentragdo demais de uma familia simples numa mesma residéncia se explica em parte pela dificuldade de ‘se construirem navas moradias nos limites das fazendas, pols "9s proprietérios dos grandes fazendas nao querem ceder _porcio alqumade suas teras por cosiderarem incispensiveis 1 grandes extensdes para atender & criagdo de gado. Sé raramente os chamados agregades, em geral pretosforros ou mulatos, constroem aqui e acolé, na vastidao desse dominio pequenas morados ou quintes... Tolver no exista pais algum opulento de dons naturais com to poucas casos de moradias como aqui", Parece que os atifindies tinham svasraxdes em obstaculiza a proiferagdo de novas moradias, nas suas propriedades, pots 0s novos agregados “além de ‘ecuparem com suas morados os melhores sitios, os fontes ‘ov aguads, com os necesséirias comunicagées, como os cdes que criam e cacadas que fazem, ofugentam os gados para partes remotas e fazendas diversas] “observava um autor anénimo que passou pelo Piaui nos meados dos setecentos”°. Na maior parte dos domicilios com Familias ‘miltiplas viviam casas sem filhos. S80 7 0s fogos com nuicleo secundsrio descendente: com excegao de um, todos os demas S80 05 Unicos fogos de suas respectivas fazendas. Tal padrdo residencial parece predominar nas familias mais abastadas ou ilustres, pois além de brancos, todos possuem escravos (eno geral, mais cativos do que a media dos demais domicilios). Das 5 mulheres do Distrito da Mocha que aparecem referidas com © apode de "Dona", duas esto entre os lares com familia multiple de nicleo secundario descendente: & o caso da fazenda de Gado Brabo", onde morava José Pereira de Aradjo com Dona Maria Eugénia de Araujo, ea Fazenda da ‘Onca, de propriedade da viiva Dona Maria Josefa Ribeiro Soares © Lltimo caso de familias miltiplas vivendo no ‘mesmo domiciio comounha-se de trés ou mais casais nda aparentados, sendo que um deles culdava de um parente “VON SPH 8 VON MARTIUS. op cit p 419-420. " Roeira do Morano. Gots possando pelo Pau opt. p79. ‘em linha descendent (sobrinho ou sobrinha). Tas familias ‘ocupam as inicas casas das respectivasfazendas onde viver, de medo que taissobrinhos certamente provinham de outras| fazendas ou de outras regibes, Uma palavta a guisa de conclusdo: limitados pelo tema da sesso onde este trabalho foi apresentado, ‘deixamos propositadamente para outro momento aanslise eo aprofundamento da relacdo entre o tamanho-estrutura os grupos domésticos com o(s) modots) de produyao existente(s) nesta zona pastoril do Nordeste brasileiro. Mesmo levando em consideragao a especificidade desta formaco econémico-social de tipo pastor, sobretudo, no {que tange 8 utlizacso de mao de obra escrava e agregada, concordamos com A.V. Chaynoy quando diz: "Qualquer que seja 0 fotor determinante da organizogdo do unidade ecanémica camponesa que cansideremos dominante, por muito valor que atribuames @ influéncia do mercado, & extenstio da terra utilizével ou & disponibilidade dos meios de produgBo e4fertlidode natural, devemos reconhecer que mao de obra é 0 elemento tecnicomente organizatvo dt ‘qualquer processo de produgdo...0tamanho ea compasicdo 4a familio exercerdo suo influéncia na organizacao da Lunidade ecanémica, no apenas quantitative mas também qualizativomente..)* “ CHAYANOW, A Lo orgonitacion des unisedaecondmicacompesina {eno aires: Eicones Nueva Vion, 1974p. 47-38, PATRAO NAO ESTA: ANALISE DO ABSENTEISMO NAS FAZENDAS DE GADO DO PIAU! COLONIAL” (tho do dono ¢ gue engordo 0 god (Oitado popular do Serio) ‘A questo da mio de obra nas fazendas de gado do sertio nordestino até 0 presente s6 tem sido alvo de interpretapdes falsas, fantasiosas, sendo rocambolescas. Todos 0s nassos mais ihstres historiadores econémicos ~ de Roberto Simonsen, Caio Prado ir. a Werneck Sodré e Celso Furtado —repetiram o mesmo erro de Capristano de Abreu: sem nenhuma evidéncia empiric divulgaram queno sertia pecuarista predominou o trabalho livre do indio, posto que escravo negro, montado a cavalo, inevitavelmentefugiria, onde a incompatiblidade existente entre a pecuiia e @ escravidio. Coube-nos o privlégio de, pela primeira vez, corgi tal inverdade; em 1977 escreviamos: *Nossos dados evidenciam que desde o inicio © a0 menos durante tado os setecentos, a pecusrio piauiense dependeu substantiva- mente do mao de obra escrava negra e mestica. Embora existindo lugar para o trabalho livre, inclusive indigena, 0 escravo negro sempre foi uma presenca importante € indispensével nas fozendas de gado. superior ao broco Indigeno, quigé mesmo ao brogo livre” (39:1202.) Gorender um ano apés ratifica e amplia geograficamente nossa descoberta (13:415}, 0 mesmo ocorrendé com Galzza em seu estudo sobre a pecuéria na Parnaiba (12:76) (© que & mais surpreendente nesta questéo é que 0 proprio Capristano esteve perto da verdade ~ quanto predominancia do eseravismo na pecuaria - pois constatou ter havido mais escravo no sertio do que no agreste (1:221). Em ver de aprofundar esta pista, mergulhando nos: papéis velhos, virou-hes as costas com anatema: chamou essa reaidade de “anomalia. ‘Comeco este artigo fazendo mea culpa. Ao escolher seutitulo, confesso que deixei-meinfluenciar pelos mesos. Hlustres historiadores econémicos cujas opinides eu descartara anteriormente. Visto a carapuca: delxel-me sedusie pelo magister dixit. Os documentos, porém, me chamaram em tempo realidade. Também quanto a questo do absenteismo, verdade seja ta, até agora nossos manuats| de histérla econémica sé tém repatido pré-nosdes. “Idolos”, como diria Durkheim (9:16), imagens invertidas “de cabeca para baixo", como diria Marx (17:21) Para ser mais correto, o titulo deste artigo deveria Ser 0 contrtio: O patrdo estd presente! Andlise do pseudo- absentelsmo nas fazendas de gado do Piaui colonial. Este set, portanto, o conteddo deste trabalho: 1. Rever a bibliografia referente 3 questo do absenteis 2, Langando mio de dois corpus estatsticos inéctos referentes 8s propriedades rurais do Piaui (1772-1838), mostrar que eram reduzidissimas a5 fazendas cujos proprietarios estavam ausentes. Como o trabatho de conduzr os gados pelos compos € brenhas é um des maisduros trabalhos aque oshomens {Joram condenados pelo naturez, pera sustentarb0 de suas vides, princplaron’ os mals fortes @ abuso de suas {forcas para obrigar os outros @ ue Ihe cultvassem os suas tera. (AZEVEDO COUTINHO, 1808). aro foie autor que ae escrever sobre as proprieddes rurais do serto nordestino nao se referisse a figura do proprietirio ausente. Eis alguns deles: Euclides da Cunha: “Ao contrdrio do estancieiro do Sul, 0s fozendeiros dos sertées vive no itoral, ange dos dilatados dominios que nunca viu és vezes, Herdaram vetho vicio histérico. Como os opulentos sesmeiras da cotdnia, usufruem parasitariamente as rendas das suas terras, sem visas fxas" (7:12), Calo Prado Jinior: “O que prevatece na pecuéria éo grande proprietdrio absentelsta, senhor ds vexes de dezenas e fazendas, que vive nos centras do literal, cujo contacto Linico com suas propriedades consiste em receber-hes 05 rendimentos’ (26:187). Mauricio Vinhas: “A moioria dos latfundiérios no vive nas fazendas estas sao dirigidas por seus ‘administradores, arrendatdrias ou empreiteiros, 0 que contribul para imprimir aos tatifundios o cardter ‘antiecondmico e anti-social” (28:87), José Norberto Macedo: “0 senhor de terras e de gados na regida do méaio S, Francisco é em geral um habitante das cidodes marginais, vendo mais nos pequenos centros urbanas do que propriamente nas fozendas”.(16:47} Jacob Gorender: "No Nordeste e no Rio Grande do Sul 0 dominio da economia pecudria se concentra em mdos de um punhado de grandes criadares, proprietarios de vérias fozendos e ttulares de sesmarias de dezenos de léquas. No Nordeste, esses grandes proprietdrios eram absenteistos, pois entregavam os currais 6 administragdo dos vaqueiros e aforovam boa porte dos seus latifndios”.(13:412), ‘Além destes, também falam do absenteismo Alberto passos Guimarées (15: 62/185), José Alipio Goulart (13): 18) Ernest Feder (11:85). Quanto 20 Piau/em particular, Carlos E Porto diz que desde 0s primérdios “comecava.a se esbocar 2 grande luta entre o obscuro povoador e o titular das sesmarias, entre o posseiro obstinado, cujo nome a historia fesqueceu, e€ 0 sesmeito dono das terras, habitantes das cidadest...| magnatas que no pensariam em participar co 4rduo trabalho de povoamento, todo ele entregue a0 posseiro anGnimo”.(27:63-68). O piauiense Odilon Nunes, ‘© principal pesquisador da histéria desta regido, também divulga essa mesma ilagio: “Ricos sesmeiros, senhores de _arande prestigios,viviam em Salvador e Olinda’. (25:72), Com base nas afirmacbes desta dezena de autores, ro haveria o que discutir na pecuaria sertaneja prevaleceu fazendeiro absenteista. Contudo, nenhum destes escitores se refere a0 numero das propriedades cujos donos estavam ausentes. As duas dnicas estatstcas sobre o absentelsmo se referem 205 nossos dias: E, Feder, baseando-se nos dados do CIOA, aie que aproximadamente 50% dos latifindios no Brasil So administrados por pregosto dos proprietérios (11:85); Mauricio Vinhas, por seu tuzno, afirma que “hoje vivem em suas fazendas ou nas suas proximidedes, apenos 1 entre 5 ozendeiros~nas propriededes de rea de 3milha.~enquanto que nas fazendos de 5 mil ha pora cima, apenas 1 entre 8 {fazendeiros” (28:39), Para o perioda colonial, até agora, n50 se conhece nenhuma estatstica. Comesamos por enumerar a5 fazendas de gado existentes no Pia entre 1674 @ 1818, £3 fones que nos saeuram na elaborario deste qr: Inca Wistonco e Geegdfce Bro, toma ¥X, 9.1408 SS. 1697: Deseripdo do sero do Fiaui2938. Pe Miguel 3 Cano. a +1730, Rocha Pita Southey, 2pud Boxer R, 1963. 4idode de cure do {rap So Pale rasan, me 341, p 253 11762: Resume de todas os pessoas lives ecatvas, fos, arenes, leaden, vite © serées do Captaia de 530 Jose do Pau, Quo Fazendas de gado do Piaul 1674-1818 frequéncia 20 ao srypat 7992450 © ano de 1674 € considerade 0 inicio da conquista, o Piaui; Domingos Afonso Sert8o, apés ter desbaratado grande quantidade de indios, “descobriu e povoou estas terras com grande risco de sua pessoa e consideravel espesa, com 0 adjutério de sécios””. Retornando para a Bahia, onde residia, deixou atras de si 30 fazendas de gado administradas por vaqueiros de sua confianga. Metade das terras do Piaul eram de Domingos Sert30, 2 outra de seu companheiro de entrada, Francisco Dias Davila (da “Casa da Torre"), ambos com ttulos de propriedades autorgados pela coroa.) "1772: Desig da Capitana de S30 Jove do Paw. (OwidorAntrio Jose de Morals Dur2o} Mat, tu 8. 8.1977. Desengdo oa Captana {5 Jost do Pau, Revita de Mitra, 122543574 ‘1818 Relacz das fazendsscompreendiae nos Disristos do Pa 37 10/1818, Arquivo Pubic do Estado do Pat Livio 31 Pe. Miguel de analho, anc.» 362. ' propbsita do ocupao do tetra piauenseconsute-se don Nunes, & Castelo Branco, Carlos Eugenia Porta, todos ctados na bibograi Pavan» Em 1697, 23 anos apés a conquista, © missionério Padre Miguel de Carvalhot escreve urp relato minucioso sobre esta regido: Dezcrip¢do do Certd0 do Peauhy’, fruto {de quatro anos de andangas por todas as ribelras ¢ vales desta novel capitania. Diz ele: "Compée-se o Piaui de 129 fazendas de gado, sem mais moradores. Esto situadas a5 fazendas em vitios riachos, distantes umas das outras ‘ordinariamente mais de duas léguas. Em cada uma vive um hhomem (oranco} com um negro (escravo}, e em algumnas se acham mais escravas e também mais brancos, mas no comum se acha um homem branco $6". (10:373}, Desde total de 129 fazendas, em apenas 6 hi referéncia explicita que seu proprietario residia na propriedade, € 0 caso da "Fazenda Sambambaya', no rlacho ddas Guaribas: “Estd nela Aleixo de Barros Gaivdo, com um indioe senhor da fazends, oAlfere Francisco Bezerra Correia, com trés tapuias, (10: 376). Aduas léguas desta encontrava se a fazenda Bogueltlo: “Esténela Joao de Sousa, com dois rnegros eo senhor fazenda, o Capitdo Alexandre Rebello de Sepillveda, com uma cabocla”. (10-376). Em outras quatro propriedades, também se indica 0 nome de seus proprietarios residentes: na Fazenda Corrente morava seu proprietatio 0 Alferes Cristovlo Alves de Palma; na fazenda Mocaité, 0 Capitdo José Garcia Paz; no Sitio de Caterina, [André Gomes da Costa e, na Fazenda Tranqueira, 0 Alferes| Silvestre da Costa Gomes de Abreu. Acrescente-se a estas mais seis fazendas que provavelmente eram geridas por seus proprietirios, posto que quatro de seus ttulares ostentam “ Araspaito dete méslonsni, autor ds Orso do sertB0 do Pu, rio ns consenso quanto 20 seu vetaadevo sobrenome os Ee’ ‘arvatno’, Gorender camo “Couto”, Odson Nunes como Costnho” apatente de “Capitio" e dois de “Aieres, titulo geralmente apanagio de quem era senhor e no mero vaqueito. Estes dados nos indicam, portanto, que, em 1697, ‘apenas 12 fazendas do Piaul eram zeladas por seus préprios donos. Quer dizer: 80% das fazendas restantes tinham proprietarios absenteistas, Ausentes os titulares, estas fazendas ou eram arrendadas a terceios & raz80 de 105000 de foro por ano’ fu eram entregues pelos latifundidrios 8 vaqueiros de sua confianca, que deviam zelar pelo seu rebanho, sendo remunerados pelo tradicional sistema de “quarta” ~ "de 4 cabegas que criam, Ines toca uma, conforme as palavras do arguto Pe, Miguel de Carvalho (10:373). A fazenda, ogado.e muitas vezes também os escravos, tudo era posse do fazendeiro, que transferia © culdado destes bens a seus vaqueira,ctiador ou agregado,” Os informes do Pe. Miguel evidenciam claramente que, no inicio da atividade ganadeira, o senhor estava ‘ausente, A rudeza da vida nesta novel capitania onde seus moradores s30 descritos como "homens miseraveis vestindo couros e parecendo tapuias" (10,373); 0 perigo constante dos ataques dos muitos ingios, apontades coma "os mais braves e guerreiros que se achoram na Brasit (10:373); as dificuldades homéricas de comunicacao nesta regio rida f cheia de serros, todos esses elementos devem ter contribuide fortemente para que os primeiros proprietatios “inimeios so 0s avtores anos © madernos que km se rferido de formas de pagamento«akguel na pecusranorestina, ene eles 0 proprio Pe. Ntgue! de Carvalho, Anton 2713), Gorender, Mame! Arespeito da derentes categoria sco roissonasententes peausna serine, consulte-se a Desrao do Coptona de 8 se do Paul do Ouvdor Our (1772), onde ha excelente nara da gore die fazendas do Piaui preferssem entregar as dores do oficio a seus vaqueiros ou rendeiros, continuando a viver em suas cidades originais - como fizeram 05 dois primeiros conquistadores destes sertdes ‘Um século apés a conquista ~ e dat por diante, a situagdo se revela completamente diversa daqueles tempos pioneiros -, a populagio aumenta e se equilibra, surgem algumas vlas e povoagdes, a malar parte dos indios estava Fedduzida em miss6es, 3s comunicagGes com ovtrascapitanias se tornam mais frequentes, rapidas e seguras. Em 1772, 0 Cuvidor Antanio José de Morais Durdo escreve a Descrico 4a Capitania de Sao José do Piaul, sem dtvida, a principal memoria referente a esta regido sertaneja. De acordo com ‘este documento, oPiaui contava entdo com 19,192 pessoas, distribuidas num total de 3.034 fogos. Ao todo existiam 931 propriedades rurais, sendo 579 fazendas de gado, 352 sitios de lavourat, Em sua rinuciosa estatistica de cada uma das 7 vilase distritos, e Quvidor Durdo, além de indicar 0 ndmmero de fogos, almas, divisio segundo 0 sexo, numero de propriedadesruras, gruposetarioseracais, presta-nos uma informagSo crucial: "Fazendas que tém senhorio fora da Capitania’~ isto é, 0 ndmero das fazendas que tinham proprietirios absenteistas, dstrito por distito, Quarenta e seis anos apés este censo, um outro documento permitiv-nos vislumarar o mesmo fenbmeno: fem 1818 0 Governador do Piaul ordenou que sefizesse um levantamento nominal de todas as propriedades rurais ¢a Capitania: "Relac3o das Fazendas e seus possuidores" documento que indica o nome dos proprietaros, nome das * Segundo 0 wir Burk, “Fazenda se chama ade edo, vocum ou Cay, tar vulgatmente coro, Sos se toma pela fazenda que Catia, Sendo separodas das de gado", Completa informando ave incu na categoria doe “sos” ae Rogas « engenhocas de agiear= fezendas, sua localizagdo, extensio em Iéguas, atividades esenvolvidas (pecusria, avoura, engenho), o numero de escravos e a residéncia do dono. ‘Assim sendo, dispomos de duasestatsticas bastante fidedignas ~ posto que foram obtidas mediante levantamento nominal em cada uma das sete freguesias do Piaui ~ que nos informam com preciso: 1, 0 nimero total das propriedades rurais da Capitania: 2.0 numero das Dropriedades cujos senhorios residiam fora da fazenda. No ‘quadro a seguir sintetizamos as informaces contidasnestes, dois censos supracitados. Fazendas do Piaul (1772-1818) [nt de prosiedades atsenteiemo ~_porcentagens Dawes am asie fam aie a7 181s cis 28S 67856 198% 65K Pormess = 77k) SB Ga OM Jecomenha | x5 339 | «6 © 20| Saw Sax Valengs 10845978 IH. am Mario x73 | a | aan se Campo Maier] 140 6708S 4a Sm Pormaba 128268 | 3,26 | 79K 8.7K Toto! sa1_ 2460 | 107370 | 114K 6.0% Este quadro nos permite as seguintes conclusdes: 1. AS propriedades rurais fazendas de gado e sitios de lavoura) cresceram entre 1772 e 1818 na razdo de 2,6, crescimento que se explica pela conauista de novas dreasterrtorias até ent30 ocupadas pelo “gentio bravo™ e pelo retalhamento de antigos latifndios através da partilha por heranga ou por venda, "Sobre a questo de conquita dos terttéiosinigenas ncaitania do Pau. consaite-seOs indies peeudra nas farendos de gad do Pou! lon!" e enografa dor inde: do Pou, ambos de men auto 2. Com excegio de Oeiras, capital da Capitania, que passou por um franco processo ge concentragio fundidria, em todas as demas freguesias observou se flagrante erescimento do auimero de estabelec mentos rurais, chegando nalgumas paréquias aumentar nlimero das fazendas em 4,4 (Valenga) © 4,7 (Campo Maior 3. No que tange ao absentelémo, observamos que em 1772, no total de 931 propriedades, 107 tinham senhorioresidindo fora da Capitania —isto€, 11,4% {os fazendeiros do Piaui eram absentelstas. Nos 46 anos subsequentes, 0 absentelsmo cresce na razdo de 1,6 quer dizer, em 1818 havia no Piaui 170 fazendas com senhorio ausente, representando, portanto, 6,9% da totalidade dos estabelecimentos rurais desta regi. Se nos primérdios da colonizagio ~ 1697 — 90% das fazendas de gado tinham proprietaros absenteistas,nossos, ddados no deixar divida de que a partir dos meados do século XV o absenteismo era exceco na estruturafundiaria do Piaui 11,45 em 1772, apenas 6,9% em 1818. O erro da maior parte dos nossos historiadores econdmicos foi seneralizar para todo o periodo colonial e imperial uma fealidade que restringiu-se claramente apenas 8s primeiras décadas de atividade ganadeira.” Arquivos Pesquisodos 1. Arquivo Histérico Ultramarino (Lisbos) 2. Arquivo Pablico do Estado do Piaul 3. Arquivo do Ministério do das Relacdes Exteriores (itamarati, 8). per estas duastases na pecurie "Capistrano de Abreu chegoua pee ‘cearense,porem ses segues deuaram de expe. e+ Lae Mon REFERENCIAS ‘ABREU, Capistrano de. 1963. Capitulos de histéra colonial (1500-1800) & Os caminhios antigos e 0 povoamento do Brosil. Universidade de Brastia, 1963, ANDRADE, Manoel Correia A terra eo homem no Nordeste. S40 Paulo: Brasilense, 1963, ANTONIL, André Joao, Cultura e opuléncia do Brasil. S80 Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1966. BOXER, C.R. A dade de ouro do Brasil So Paulo: Brasiiana,v. 341, 1969, COSTA, FA. 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Uma das primeiras constatacdes que o pesquisador dde nossa historia faz, ap6s realizar prolongadas pesquisas nos arquivos tanto nacionais como estrange! quase total de documentos que tatem use refiram 20 sexo feminine. Embora sendo as mulheres em geral, to rumerosas quanto 6s homens, o certo & que apenas muito raramente o estudioso deparacom um documento que trate de algum problema especifico de uma mulher especifica ou das mulheres em geral de uma localidade, seja uma freguesia, uma vila ou uma capitania. Os arquivos esta povoados de requerimentos, absixa-assinados, oficios, petigBes, processos, etc, quase imvariavelmente assinados por homens. Mesmo que tratem de problemas envolvendo alguma representante do sexo feminino, geralmente s50 0s homens que servem de ponte entre a mulherinteressada & a autoridade competente, seja 0 padre, o uiz,odelegado, 0 chefe da instrucio publica, et ‘A descoberta no Arquiva Plblico do Estado do Piaul cde uma carta manuscrita por uma escrava representa algo dduplamente insite: primeiro por se tratar de ume mulher ‘que “ousa”se drigir por escrito diretamente 20 Governadar da Capitania, segundo, por se tratar de uma escrava. Numa a” sociedade em que o dominio da escrita restringiase via de regra 4 pequena parcela da populagso masculina e secundariamente acertas representantes das camadas mals abastadas, em nimero muito reduzido (basta confrantat,em qualquer capitania o nirmero de escolas de primeiras letras para meninos e para as donzelas para se constatar quao) diminutas eram as mulheres que cursavam as instituigBes de ensino}, nesta sociedade predominantemente letrada e fortemente marcada pelo machismo, a existéncia de uma mulher escrava alfabetizads sugere-nos quem sabe um aspecto peculiar que assumiu a escravid3o na zona pecuarista do sertdo do Paul Tal suposigio nasceu em nossa mente & medida que pesquisivamos a documentacao relativa a escravidio no referido arquivo piauiense: encontramos documentos que se referiam a escravos que possuiam bois, cavalos, que deixaram heranga ao morer, {ue deviam pagar gizimos pelos animais que possuiam, que enviavam algumas cabecas de gado para serem vendidas em distantes feiras de animais. Escravos que requeriam 30 Governador contra algum proprieticia mais ganancioso & usurpador, declarando textualmente “quando o Senhor prou 0 escravo, no comprou o que ele possula ‘Assim sendo, embora pretenda utilizar num préximo trabalho sobre mao de obra nas fazendas de gado do Piaui Colonia esta carta da escrava ESPERANCA GARCIA, daca a raridade e preciosidade deste documento, divuigo-o de maneirs avulsa, deixando para o futuro a analise do seu significado sociolégico. Contentar-me-el por ora em transcrever a referida carta, anotando alguns esclareci mentos para sua melhor compreensio. Conforme dissemos, esta missiva 6 dirigid 20 Governador do Piaul e datada de 6 de setembro de 1770. Eis 0 seu conteido ips hitters frqivo Pico de Estado do Pal, Doe. nB0 clas. Regueriment 40 “Eu Sou hua escravade VS dadministragdo do Cop." Anto® Vieira de Couto, cazada. Desde que o Cap." pPLa fol ‘administra. g. me trou da Fazd® dos algedors, onde vevia comeumorido, paro ser cozinheira da sua caze, onde nella ‘paso m mal A primeira hé a. hé grandes troveadas de pancadas enhum Filho meu sendo bud cian q Ihe fer estrair sangue pila boca, em min no pogo esplicor q Sou hu colcham de ppancadas, tantog cahy hud ver do Sobrado abacho peiad; por mezericordia de Ds esCapei AA segunda estou eu e mais minhas parceiras por confecar ates annos. € hud crionga minha e duas meis por Batizer. ello & Peco a VS pello amor de Ds. edo Sew Valim” ponha aos olhos em mim ordinondo digo mandar a Porcurador que mande p. 0 Faz” aonde elle me trou po eu vier com meu marid e Batizar minha Filho de VSa, sua escrava Esperanga garcia” Esperanga Garcia era uma escrava pertencente auma das fazendas reais que foram incorporadas 8 Coroa quando dda expulsio dos padres jesuitas. Eram tais propriedades _administradas por ciadores ou vaqueiros, que deviam zelar pelos rebanhos, pela escravaria e pelos apetrechos empregados na atividade agropastoril, Uma destas propriedades era chamada Farenda dos Algodées, que Juntamente com outras estancias fara parte da Inspecgao de Nazaré, Na sede desta inspec¢io viva, conforme ensina 2 escrava, 0 capitio Anténio Vieira de Coute, o qual retira Esperanca Garcia de sua fazenda original (a dos Algodoes), fazendo-a cozinheira na Inspeccao de Nazaré. Acompanhando 0 manuscrito de Esperanga Garcia, havia outro documento que esclarece alguns pontos sobre esta questo: infelizmente ndo énem datado nem assinado, mas pelo teor e seu conteddo, tudo faz crer tratar-se de alguém que escreveu em nome dos escravos desta inspesao. ‘Conta que dou VSa. da residénca de Nazaré, que procurador 0 Capitée Antonio Vieira do Couto: ele) trou uma escrave chamada Esperance, casada, da {forendo dos Algodées e néo tem concedido tempo ‘algum para ditairfarer vida com seu morido, vendo ‘pertada com varios castigos tem fugido por varias vezes e 0 dito Capitdo tem posto tao timida a dita em forma uma quinta feira dev tonto bordoada com ‘um pau e com ela no chao o depois jurou que havia de amarrar dita escrava se arretirou com dois filhos, um nas bracos, de 7 meses e outro de 3 anes: até o presente ndo tem tido notcio dela e tem feito umes correias para castigar e diz que veio para ensinar os ditos escravos. Tem mastrodo como os escrovos tém cexperimentado que tem clamado contra o dito procurador até que foi ouvido da intercessao de V. Se. veio uma portaria até o fazenda da Serriaho e como tem um padrinho que orou para 0 dito Procuradornéo teve (realizesio) do seu mau instinto, em forma que aperta os ctos escravos (que) no tém ddescanso, Todos as noites trabolham sem descanso ‘algum, sendo preto velhoe se fora moso, tudo podia 1 sua mocidade suportar. Como no sustento do dito, ‘muito mat que ndo come forinha que a fazenda for, porque serve para ajuntar com a que o dite procuredor for para seu negécio, do que pedindo licenga o intercessor de V.S0., nde quiz consentir em forma alguma do que contra a ardem, dizendo que era dos seus escravas. Que estorva os dts escravos para 0 seu servico em socar mamana, em desmanchar mandiaca e outro servigo. Ate tirau ‘algumas escravas para fiar algaddo e diz, como no ‘ano passado, que era para trabalharem) na fezenda @ fer redes pora seu negicio e ndo tem dade ‘cumprimento alguma na sua obrigagéo, néo tem

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