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REVISTA DO INST. ARCH. -B @ROGRy PREN: 65 QUARTO ANNO—~TOMO SEGUNDO JANEIRO DE 1867—=N: 14. Ss! Seasa@ ordinaria no dia i dé ageute de ise7 Presidencia: do Eam Sr. Conselheire Monsenhor Muniz Tavares ae A’s LL horas da manhi presentes os Sra: Drs. Aprigio Guimaraes, Joaquim Portella, -Soates ‘de Azevedo, Cunha Figueredo Junior, Gervazio Cam= pello, Witravio Pinto Bandeira, e os Sra. Padre Lino do Monte Carmello e major Salvador Henrique, abre- 80 a sessiio. O Sr. 2: Secretario dé leitura da acta da ante- cedente, que é approvada. O Sr. Secretario perpetuo, menciona 0 seguinte expediente : . Um officio do secretario da Presidencia, com- municando que fora autorisada a Thesouraria Provin- cial a pagar ao thesoureiro do Instituto a consigna— cio votada pela Assemblés Provincial para seu expe- diente.—Inteirado. Outro, do mesmo fazendo remessa de ordem.do Exm. Presidente da Provincia, do relatorio com que o Conselheiro Francisco de Paula da Silveira Lobo abrira a Assembléa Provincial no corrente anno.—— Mandowse archivar. Outro,da Camara Municipal, communicando que nomedraem acquiescencia ac pedido do Instituto, uma commissio composta dos rs. Vereadores Dr. Prae xedes Gomes de Souza Pitanga e Major Gustavo José do Rego, para quo de accordo com oengenheirocordea- dor da mesma Camara e a commissiio designada pelo 66 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOG. PERN, Instituto possam escolher as localidades, que mais con- venientes ¢ apropriadas forem, para a collocagio das estatuas que devem ser eregidas.—Inteirado, e que a commissao de trabalhes histericos ficasse entendida. Outro do socio effective Dr. Raposo de Almeida, communicando nio poder comparecer.—Inteirado. Outro do Rvm. Vigario Firmino José de Figue- redo, agradecendo a sua cleigio de socio correspon— dente.—Inteirado . O mesmo Sr. Secretario porpetuo menciona os seguintes offertas : Varios numeros de Durio de Pernambuco, pelo consocio Dr. Figueiréa. Differentes numeros dos seguintes petiodicos: Fuculdadee o Povo, Mercantil ¢ Opinitio Nacional; pelas respectivas redacgdes Vinte folhetos impressos da oragio funebre li- da pelo Vigario Firmino José de Figuerede. Uma copia do titulo 5- do cathalogo das Ordens Regias existentes no archivo da extincta provedoria de Pernambuco, com relagio a André Vidal de Ne- greiros, offertada pelo Sr. Mendonga Belém. Todas estas offertas sio recebidas com agrado ¢ mandam-se arehivar. Corre o escrutinio e sie approvados, socio hone- rario o Sr. Commendador Antonio Joaquim de Mel- loco Sr. Dr. Ezequiel Franco de Sa para socio correspondente . EB lido ¢ vai a imprimir para ser discutido o se- guinte parecer: « A commissiio de Redacgiio da Revista, tendo examinado a proposta do Sr. Dr. Amaro de Albu- querque no sentide de serem extinetas as mensalida- des dos socios effectivos, dobrando-se as joias dos que de futuro entrarem para o quadro, discorda de semelhante idéa, por entender que as joias futuras embora duplicadas nie chegarie para a mantenga do Institute, esea divida activa do Institute actualmente REVISTA DO INST. ARCH. B GEOGR. PERN. 67 & a causa daquella proposta, nada garante que essa divida niio resurja no futuro relativamente as joias. « A proposta pois importa uma graga para os socios remissos porque ao menos a sua divida nao continuard a erescer, e nada acautella quanto ao fu- ture. « Recife de1867.—~Dr. Aprigio Guimaraes.— Cunha Figueiredo Junior—Raposo. de Alneida. » Dada a palavra ao Sr. Major Salvador Henri- que, continua elle a leitura dos documentos histori- cos, ¢ estando a hora adiantada e terminada a leitura do Testamento de Vidal, fica adiada a leitura dos ou- tros documentos para a seguinte sessiio. O Sr. Presidente d& para ordem do dia da pro- xima sessiio, que deverd ter lugar no dia 16 do.cer- rente, trabalhos e pareceres de commissées, e conti- nuagio da leitura dos documentos historicos, pelo Sr. Major Salvador Henrique. Levanta-se a sessiio.— Moasenhor Francisco Mu- niz Tavares, Presidente. — José Soares de Azevedo, Secretario perpetuo. — Salvador Henrique de Albu- querque, 2° Secretario. Copia do testamente e codicilios de André Vidal de Negreiros a que se refere a acta supra. | Jesus, Maria e José. Em Nome de Deus eda Santissima Trindade, Padre, Filho e Espirito Santo, tres Pessoas e um sé Deus verdadeiro. Saibam quantos esta sedula, ultima e derradeira vontade vi- rem que, no anno do Naseimente de Nosso Senhor Jesus Christo, de mil seiscentos e setenta e oitoan- nos, aos quartorze dias do mez de Maio do dito an— no neste Recife, Capitania de Pernambuco, onde eu André Vidal de Negreiros do Conselho de Sua Alte- 4a, Fidalgo de Sua Casa, Commendador das Com- mendas de San Pedro do Sul,e da Ordem de Christo, Alcaide-mér das Villas de Marialva e Ocivas, Gover- nador e Capita General que fui dos reinos de Ango- Od REVISPA DOOINST, ARCH. EB GEOGR, PERN. la e do estado de Maranhio, e Governador daas ve~ zes da Capitania de Pernambuco e das mais do nor~ te, me acho de presente, estando em meu peifeite juizo e entendimento quo Deus me deu, com todos as cincos sentidos; ¢ por conhecera incertesa davi~ da e nao saber a hora em que Deus Nosso Senhor sera servido chamar-me, ordeno meu Testamente da maneira seguinte : Primeiramente encommendo a minha alma a Deus, que 2 creo e remie com sen sa i pedindo-lhe me perdoe os meus pe: s, e a Vir- gem Senhora Mai Sua. ¢ Rainha dos Anjos, sejn minha Advogada e intercessora com o seu Unigenito Filho, para que me dé perdio de todas as culpas ¢ offensas que contra Elle hei commettido ; ¢ o mes— mo pego ao Archanjo San Miguel eaos Santos Apes— tolos San Pedro e San Paulo ea Suntodo meu no—- me, ea todos os Santos ¢ Santas da Corte Celestial ; e protesto morrer e viver na Santa Fé Catholiea. co- mo verdadeiro Christo e filho seu. Declaro que, sou natural da Cidade da Parahi- ba, filho de legitimo matrimonio de Francisco Vidad natural da Cidade de Lisboa,e de Catharina Ferreira natural de Porto Santo; os quaes sio fallecidos da vida presente, ¢ que sou solteiro e nunca fui casado e nem fiz promessa de o ser. Declaro que, no tenho herdeira neuhum forga— do que haja de herdar minha fazenda ; pelo que ins- tituo por minha herdeira universal a minha alma, de todos os meus bens que se avharem me pertengam [i- quido monte , cumprindo-se em tudo as dotagdes que tenho feitoa minha Capella invocagdio Nossa Senhora do Desterro sita nos meus curraes, a qual duo e do- tei os bens nella declarados ; e dos que se acharem fora das ditas doagies, meus Testamenteiros dispo- Hio delles na forma que em meu ‘Testamento ordeno; porque minha ultima vontade é que inteiramente se gnarde as ditas doacies ¢ instituigio da Capella 3 ¢ - petyrenenaemenenattt REVISTA Do INST, ARCH. B GBOGR, PERN. 69 si necessario.6 para: sun. validade por eata..minha.al— tima vontade, confirmo tudo que nas ditas escripiu~ ras tenho posto;-© no.mais que parecer melhor.a:mens Testamenteiros que abaixonomeio ;_ 08 quaes'me fa- vio os mais suflragios que.aqui.nomear. A Declaro que, instituo por meus Testamenteiros aos Rvds. Padres Manoel. Vidal-de Negreirose An- donio de Souza Ferraz, Sacerdotesiglo: habito-de. San Pedro; e em sua ausencia a0 administrador da.Ca- pella que tenho institnido ; e em sua ausencia«ao Procurador da Santa Casa de Lisboa. a quem pego-e rogo pelo amor de Deus, queiram.aceitar serem meus ‘Testamentairos, aos quaes e a cada um-insolidum dou todo o poder que eai direito posse e. for mecessario, para dos ineus bens tomarem e-acedirem’ 0 queme— cessario for para o mew enterramento-e cumprimento dos meus legados ¢ paga das miuhas dividas::. Meu corpo serd sepultado na ininha Capella de Nossa Senhora do Desterro, sita_ nos meus, curmes, ou na minha do Engenho Novo.de Santo Antonio-de Goianna, com.o habite de Nossa, Senhora do. Monte do Carmo ¢ Sen Francisco por baixo do meu manto; com todas as Confrarias Sacordotaes e Religiosas que houverem, com o acempanhamento. dos Frades. do Carmo, pagande-se a todos e os mais gastos do. mea enterro, @ a todos os pobres que.me acempanharem; e se dirio tantas missas que .se.poderem: dizer .de corpo presente ; e me-fario a sepultura.ou enterrar da porta principal da Igreja,.da banda de deatre 3. e nio haja sermiéo de nenhuma maneira, de minha morte; porque nio tem que dizer de mim-cousa que bon seja, mais.que das muitas e grandes offensas.que tenho. feito a meu Deus.e Senhor. : Estando na: Parahiba, meu. corpo sera. enterra— dono Convento de Nossa Senhora «do Monte do.Car- mo, na sepultura onde esta enterrado.wew-paiFran- cisco Vidale minha irmi, Isabel Ferreira de desus 5 ¢ 70 REVISTA DO INST. ARCH. B QROGR. PERN. enterrando-me no dito Convento do Carmo, se Ihe da r& de esmola cincoenta mil réis. Declaro que, meus Testamenteiros me mandem dizer duas mile quatrocentas missas por minha alma, pelos Sacerdotese Religiosos que lhes parecer, a sa— ber : sefecentas & morte e paixito de meu Senhor Je- sus Christo, e guinhentas a honra das suas cinco cha- 888 ; drezentas a honra da Santissima ‘Trindade, e novecentas a honra dos nove mezes que a Virgem Santissima trouxe o seu bemdito Filho no seu sagra- do ventro. Declaro que, éenko cinco Engenhns, quatro dagoa com todas as terras, partidos, pastes, lenhas, escravos, cobres, bois e tudo o mais necessario 3 dous na Ca— pitaniada Parahiba da invocagio San Joao Baptista e Engenho Novo de Santo Antonio; e assim mais outro Engenho Novo de Santo Antonio em Goianna, @ o Engenho San Francisco na Varzea de Capibaribe de Pernambuco ; e assim mais um Molinote na ri- beira de Goianna, invocagio de Nossa Senhora da Conceigiio, que tenho arrendado ao Sargento maior Francisco CamelJo Valcassar, por cada anno guafro- centos mil réis, pagos em assucar pesto no Recife a como valer na praga. Declaro mais que, tenho vinte Curraes de gada acum com o8 escravos necessarios nestas terras em que se podem pér mais Curraes, as quaes comprei a Manoel Correia Pestana e a0 Dr. Semiiio de Lape~ nha, como consta das escripturas e titulos ; assim mais tenho as terras do Caricé que comprei aos Aran- jos, onde tenho eu mais Curraes com escravos e bois necessarios para serrarem caixdes o lavrarem manti- mentos para maneio dos Engenhos; assim mais te~ nho uma sorte de terras na ilha de Teriri_ em que te- nho uma rede com um mulato e quatro ou cinco pe- cas de escravos. _ Declaro que, além destes Curruaes deixei mais um junto a Ermida de Nossa Senhora que jhe dei REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN, 71 quando levantei, a dita Capella, para a fabrica da dita Igroja. Declaro que, tenho comprado na ribeira de Ma- manguape uma sorte de terras a0 Capitiéo Duarte Gomes da Silveira, em que tenho uma Serraria com escravos e bois. es Declaro que, tenho uns chiles no Recife, da handa ‘do mar, junto as casas de Antonio Ferreira Ra- bello, que comprei ao Capitio André Gomes Penna e a seu irmiio 0 Cheira-dinheiro, por alcunha;¢ assim mais uma sorte de terras na praia da Barreta que houve de Joao de Mendonga Furtado ; assim mais tres bragas de terra que comprei ao Alferes Francis- co Fernandes Beija ¢asua cunhada. Junto as ter— ras dos meus Curraes comprei uma sorte. de terras a Alvaro Teixeira de Mesquita 0 Mossambique, junto ao seu assude, em que esté um Curral de gado com seus eseravos, que dei ao Padre Manoel Vidal de Ne- gveiros, para seu patrimonio. . Tenho mais uma data de terras de dez legoas.em quadro na. Parahiba, dada pelo Conde de Atouguia, ec outras datas mais, que partem com ellas, que. me dou o Capitiio-mér que foi da Capitania da Parahiba Luiz Nunes de Carvalho. 5 Tambem tenho, para a parte da Parahiba, uma. sorte de terras em Jurupiranga para gado que com— prei com o Engenho Novode Santo Antonio de Goian- na, que pertence a Capella. Declaro que, tenho na Cidade da Parahiba umas casas de sobradoe uns chaos juntos della, e uma pe- dreira com um forno de cal cem toda a terra que vai correndo até o rio da Parahiba. Declaro que, destes bons que possuo tenha. dado ¢ Vinculado a institnigio da Capella de Nossa Senho- ta do Desterro dos meus Curraes, onde me hei de recolher com alguns Sacerdotes, 0 Engenho Novo de Santo Antonio de Goianna, com todas as suas terras parte dos cobres, bois ¢ pogas de escravos, e tudo o 70 REVISTA DO INST. ARCH. FE GROGR, PERN. enterrando-me no dito Convento do Carmo, se the dax r de esmola cincoenta mil réis. Declaro que, meus Testamenteiros me mandem dizer duas mile quatrocentas missas por minha alma; pelos Sacerdotes e Religiosos que lhes parecer, a sa— ber : setecentas & morte e paixiio de meu Senhor Je- sus Christo, e guinhentasa honra das suas cinco cha- $8s ; drezentas a honra da Santissima Trindade, @ novecentas a honra dos nove mezes que a Virgem Santissima trouxe o seu bemdito Filho no seu sagra- do ventro. Declaro que, tenho cinco Engenhos, quatro dagoa com todas as terras, partidos, pastos, lenhas, escravos, cobres, bois e tudo'o mais necessario ; dous na Ca— pitaniada Parahiba da invocacio San Joao Baptista e Engenho Novo de Santo Antonio; e assim mais outro Engenho Novo de Santo Antonio em Goianna, ¢ o Engenho San Francisco na Varzea de Capibaribe de Pernambuco ; ¢ assim mais um Molinote na ri~ beira de Goianna, invocagiio de Nossa Senhora da Conceigio, que tenho arrendado ao Sargento maior Francisco Camello Valcassar, por cada anno guatro~ centos mil réis, pagos em assucar pesto no Recife a como valer na praga. Declaro mais que, tenho vinte Curraes de gad> vacum com 8 escravos necessarios nestas terras em «ue se podem pér mais Curraes, as quaes comprei a Manoel Correia Pestana ¢ ao Dr. Semiio de Lape- nha, como consta das escripturas e titulos ; assim mais tenho as terras do Caricé que comprei aos Arau- Jos, onde tenho eu mais Curraes com escravos e bois necessarios para serrarem caixdes ¢ lavrarem manti- mentos para maneio dos Engenhos; assim mais te- nho uma sorte de terras na ilha de Teriri_em que te- nho uma rede com um mulato € quatro ou cinco pe- gas de escravos. _ Declaro que, além destes Currunes deixei mais um junto a Ermida de Nossa Senhora que the dei REVISTA DO INST. ARCH. EB GEOGR. PERN, 71 quando levantei a dita Capella, para a fabrica da dita Igroja. Declaro que, tenho comprado na ribeira de Ma- manguape uma sorte de terras a0 Capitiio. Duarte Gomes da Silveira, em que tenho. uma Serraria com escravos e@ bois. Declaro que, tenho uns chaos no Recife, da banda ‘do mar, junto as casas de Antonio Ferreira Ra- bello, que comprei ao Capitio André Gomes Penna e a seu irmile 0 Cheira-dinheiro, por aleunha 3 Cassin mais uma sorte de terras na praia da Barreta que houye de Jofio de Mendonga Furtado ; assim mais tres bragas de terra que comprei ao Alferes Francis- co Fernandes Beija easua cunhada. Junto as ter- ras dos meus Curraes comprei uma sorte de terras a Alvaro Teixeira de Mesquita o Mossambique, junto ao seu assude, em que est4 um Curral de. gado com Scus oscravos, que dei ao Padre Manoel Vidal de Ne- §reiros, para seu patrimonio. Tenho mais uma data de terras de dez lagoas.em quadro na Parahiba, dada pelo Conde de Atouguia, ¢ outras datas mais, que partem com ellas, que.me deuo Capitio-mér que foi da Capitania da Parahiba Luiz Nunes de Carvalho. Tambem tenho, para a parte da Parahiba, uma sorte de terras em Jurupiranga para gado que com- prei com o Engenho Novode Santo Antonio de Goian- na, que pertence a Capella. Declaro que, tenho na Cidade da Parahiba umas casas de sobrado e uns chilos juntos della, e uma pe— dreira com um forno de cal com toda a terra que vai correndo até o rio da Parahiba. Declaro que, destes bons que possuo tenha.dado © Vineulado a instituigio da Capella de Nossa Senho- ta do Desterro dos meus Curraes, onde me hei de recolher com alguns Sacerdotes, 0 Engenho Novo de Santo Antonio de Goianna, com todas as suas terras parte des cobres, bois ¢ pegas de escravos, e tudo o fr, ARCH, E GEOG, PERN, REVISTA DO EN: mais pertencente ao dito Engenhos o ussim maisas terras do Carieé que comprei aes Araujes, onde nho uma Serraria e lavouras de rogas-conr todas as pegas de escravos, bois e carros ; e nssim mais the duei os vinte Curraes de gado vacum quo nos dimi+ tes de Terra Nova e ‘irité na Cupitania de Itamara- céiecrioda Parahiba, com todos os eseravos e terras em que se podem por mais Curraes, como tudyise acha nas eseripturas - ‘ Declare que, tanrbem tenho dado e deado adi~ ta Capella, o Engenho de San Jofio sito na Capita= nia da Parahiba com todas as terras, partides, eo» bres, eseravos ¢ bois, e tudo o mais. pertencente a elle, e agsim mais as terras de Mamanguape que cone prei retro aberto ao Capito Duarte Gomes da Silvei- ra, onde tenho uma Serraria com pecas e bois para maneio dos ditos Engenhos doados a Capella. Declaro que, tambem tenho doadc a dita Capel- la de Nossa Senhora do Desterro todos os chiios que tenho no Recife da handa do mar, junto as casas de Antonio Ferreiva Rabello, onde Maria Ferreira tem umas eazinhas com liecnea minha, que dei coma con digho de as desmachar todas as vezes que cu the or= denar ; onde se pode fazer muite boas moradas de casas e com suas-lojas para rendimentoe da dita Capella; ¢ de torlos estes bens tenho ja feito eserip~ tura, por ser esta.a minha ultima vontade. Declaro que, tenho dado a minha afithuda Ds Catharina Vidal de Negreivos o Kngenho de San Francisco sito nesta varzea de Capibaribe com todas as terras ¢ partides, cobres, bois e pegas, ¢ tudo.o mais pertencente a elle, como tambem as terras que comprei 20 Capitiio Antonio Cavalcanti de Albuquer- que, junto ao assude de Alvaro Teixeira ; oque tide The dou pelo amor de Deus, para bem de sen casa mento, assim por ser minha afilhada de baptismo, co mo pela ter erende 5 com as condicdes e chusulasna REVISTA DO INST. ARCH. & GEOGR. PERN. 73 riptura que lhe fiz. da doagio do dito-Engenho de in Franciseo. E declaro que, do dito Engenho deixei que de seus reditos se dessem dous mil cruzados ac Alferes Francisco de Freitas Vidal, pelo--amor. de Deus, os quaes se Ihe darfio ainda que D. Catharina Vidalde Vegreiros_niio case e nem seja Freiva, de qualquer sorte, ordeno aos meus Testamenteiros~lhe° deem dous mil eruzados dos rendimentos do dito. Engenho de San Francisco ; e no caso de que a dita D. Ca— tharina niio tome estado; porque tomando-o, ella ou seu marido lh’o satisfariio a duzentos mil réiz-em cada um anno, em assucar e como valer nesta praga do Re- cife. Declaro que, deixo de fora das escripturas que ionho feito da Capella de Nossa Senhora do Desterro, como da menina D. Catharina Vidal de Negreiros,-o Engenho Novo de Santo Antonio, dagoa; sito na Ca~ pitania da Parahiba, que comprei ao Capitio Duarte Gomes da Silveira a retro aberto; 0 qual Engenho deixo para pagar minhas dividase algumas _restitui~ des, que tudo, tanto de dividas como das- restitui~ ses deixo em uma memoria assignada por mim, na’ nuio dos meus Testamenteiros ; os quaes pagarao in— violavelmente com grande cuidado, para desencargo de minha alma. ¥ assim ordeno 4 meus Testamenteiros e a cada um per si possam vender o dito Engenho e mais per- tengas delle, para as ditas dividas referidas, na-ma- neira que atraz digo, niioo havendo eu vendido em minha vida; © no caso que niio haja comprador o ar- rendariio ou fariio o que-lhes parecer melhor, com tan- to que sejam pagas as minhas dividas e restitnigdes, para desencargo de minha alma. Declaro mais que, tenho um Molinote dainvoea- so Nossa Senhora da Conceicéo na Freguezia de Goianna junto aorio de Capibaribe, o qual tenho ar— rendado ao Sargento-mér Francisco Camello Valeas- a 74 REVISTA DO INST. ARCH, B GEOGR. PERN. sar; por guatrocentos mil réis. cada safra, que entra em mil seiscentos e setenta e oito, e acaba em seiscen— tos esetenta e nove por dous annos e um de despejo; e sé esta safra que agora acabou ha de pagar cin~ coenta atrobas de assucar brance ; e quando. for tempo de cobrar delle se-lhe levardo em conta dresen- tos ¢ oitenta mil réis que por mim pagou de custo-de uma caldeira ; e parao dito Engenho ihe tenho dado todos os cobres necessarios com s obrigagio deme os tornar a entregar no cabo do seu arrendamento, com o mesmo peso e consertados, como ihe os en- trego. . Deixo duzentos mil réisem cada um anno a Ma- thias Vidal de Negreiros, em quanto for vivo, 08 quaes Ihe deixo pelo amor de Deus, e por se achar creado em minha casa; os quaes duzentos mil réis, pagario meus Testamenteiros do rendimento do dito Molino- te Nossa Senhora da Conceigio. Deixoe ordenoao Padre Manoel Vidal de Ne~ greiros como meu Testamenteiro, pelo trabalho que ha de ter nas disposigdes dos meus legados, que to- me parasi duzentos mil réis em cada um anno, em quanto elle viver; do rendimento dodito Molinote da invocagio de Nossa Senhora da Conceigio;. 05 quaes duzentos mil réis, alem do seu trabalho lhe dei- xo pelo amor de Deus, pelo haver creado em minha casa; e por sua morte ede Mathias Vidal de Ne- greiros, passaré 0 dito Molinote & Capella que tenho instituido de Nossa Senhora do Desterro dos meus Curraes, para o administrador da mesma Capella repartir o rendimento delle, na forma em que ordeno na escriptura de instituigdo respectiva. é Declaro que, tenho em casa uma mulatinha por nome Violante, a qual forrei ¢ j4 lhe tenho passado.a carta de alforria ; sieu a nio casar antes de fallecer, ordeno aos meus Testamenteiros « casem com.um homem de bem, ¢ Ihe déem seis escravos do. gentio REVISTA DO INST. ARCH, E-GEOGR. PERN. 76 de Guiné, para seu dote, que dou pelo amer deDeus ¢ por se haver creado em minha casa. Ordeno 4 mous ‘Testamenteiros fagam logo a . Igreja de Nossa Senhora-do Desterro dos meus Cur~ raes, de pedra e cal com toda @ perfeigie, e todos.os dormitorios que forem necessarios: para os Sacerdo- tes que hiio de assistir, e casa para pobres-e romoiros; eoutro sim ordeno se fagam dormitories tedes que forem necessarios no Engenho Novo de Santo:Anto- nio de Goianna, por de tras da Igreja, para. alli se recolherem os Sacerdotes que estiverem na Igreja. de Nossa Senhora do Desterro, quando vierem abaixe. Declaro que, sendo caso que Deus faga de mim algama cousa antes de minha afilhada D. Catharina Vidal de Negreiros tomar estado; ordeno que meus Testamenteiros lhe déem todo o necessario. do rendi- mento do Engenho San Francisco, para seu susten— to e vestir, até o tomar, com toda a largueza; ese Deus a tomar para si antes de o fazer, meus Testa— menteiros lhe fario bem por sua alma, e darfo.a sua mii Isabel Rodrigues, quatro pegas dé escravos pelo amor de Deus e pelos bous servigos que tenho rece bide della, alem do negro Rodrigo Sapateiro, que the dei quando casou. A terra que tenho na Barreta, que comprei.a Jodo de Mendonca Furtado, deixo a minha afilhada, filha do Capitao Francisco Barreiros Pessoa por nome. Declaro que, tenho pago tudo quanto devia.a Se- bastiio Nunes Collares e a seus filhos, de todas as contas que tivemos até hoje. 2 que, Fr. Francisco Vidal ou da Mag- dalena, Religioso Carmelitano, que servie de Prior no Convento do Carmo da Villa de Olinda,-e agora esté servindo de Provincial de sua Religiio, é filho de Ignez Barroso, pessoa que era naquelle tempo casada com Gaspar Nunes ; © quando nasceu era ainda vivo 0 dito Gaspar Nunes, ¢ viveu ainda depois muitos annos, como consta das provagées que da Magesta— ny RE JA HQ INST, ARCH. R GEoGR. PREN, de Ihe mandasse tirar quando The fez mercé do ha- bito de Christo. dizendo na Provisiio que suppria nos impedimentos delle Frei Francisea Vidal, ser filho de mulher casazda; como consia tambem por um suma- rio de testemunhas que a teu requerimenta se tira rain ad perpeluam vet memoriam. Ox meus ‘Testa- menteirgs dario claresa de tudo, ¢ suppaste que se izia que elle era meu filho, nunea o tive por esse; ¢ que fora, nunca podia elle nem a Ordem herdar de mim, assim porser filho.adulterino como porque quat do elle naseeu, era eu Capitio de Infaniaria na Ci- dade da Bahia, e havia sido AlHeres ¢ Ajudante da mesmna Infantaria muitos annos ; além de eu ser no— bre e viver sempre a Lei da nobreza: mas por se haver creado em minha casa o dito Padre Frei Fran- cisco, ordeno a meus Testamenteirus lhe déem cem mil réis todos og annos, em quantu elle for vivo sé- mente; os quaes se Ihe pagario do rendimento do Engenho Novo de Santo Antonio da P: comprei ao Capiido Duarte Gomes da Silveira. Se meus Testamenteires metterem feitores-m6- res nos Curraes, sejam os mulatos meus escravos, por se nfo dar tanta partilha aos de fra, Declare que, sou Juiz perpetuo da Confraria de Nossa Senhora de Nazareth da Igreja que the fiz em Angola, a minha custa; nao s6 em vida mas ainda depois de morto, emquanto e¢ mundy durar. Ordeno 4 meus ‘Testamenteiros Ihe mandem fa- zer a festa todos os annos, pagando o que me couber dos gastos della, dando-lhe o nucessario, assim para seu ornate, como o que mais faltar; mandandy to- mar contas primeiro a quem correr com um Curral de gado vacum que lhe deixei 2 Senhora, com outro si- tio mais para se por outro Curral, verifieanda nia s6 © que rendeu e o que falta, como tambem o rendi- mento das esmolas que 14 se derem. Declaro que, devo a meu compadre o Covernador Toto Fernandes Vioira, uma tetra de conta ¢ cinenenta A DO INST. ARCH. B GEOGI. PERS, V7 nil réis, que passei em Angola ao Capiliio Pantaledo Rabello de Vasconcellos, a pagar a elle; e assim mais com nul réis que em Lishoa me deu por sua ordem Jeronymo de Oliveira Cardoso, que tudo faz a som— mae quantia de duzentos e cincoenta mil réiz se tem bido de mim o Governador Joao Fernandes Viei- 1 nove pegas de artilharia, de ferro de calibre seis, vito ¢ nove libras, que trouxe de Maranhiio,.as quaes me pedio para levar na sua Nao em que foi para An- gola; ¢ assim mais uma ancora muito grande para a dita Néo, que foi avaliada em quarenta mil réis ; e juntamente o frete de uma Sumava que mandoua Bahia a negocies seus ¢ da Cor Reeebi mais de cem mil réis em Lisboa, cousta for un recibo que me passou por duas viaso dito Je- rouymo de Oliveira Cardoso, que tenho em meu po- der. Meus Testamenteiros mandario avaliar a dita tilharia, ¢@o mais se ajustard a conta com o dito Senhor, para pagar o que dever. Sendo caso que, depois de pagar as minhas divi- das haja quem me faga algum debito, ordeno a meus Tesiamenteiros pouham a causa na miv de Deus, ov tres Religiosos letrades de con © o que elles Julgarem se faga, ¢ seja da Iuaneira que fique a minha alna desencarregada € 0 eredor excuse de gastar dit nheiro com demandas, Declaro que, havendo alguma pessoa ou pessoas de qualquer estado on condigio que seja, a quem eu doixo algumas deixas, mesada ou esmolas, que se op- pouha a minha fazenda para me a tirar, ou for contra © que determino neste meu ‘Lestamento ; mando que Pesson ou pessoas que isto fizerem Ihe niéio deixo na- du, e desde logo Ihe tire tudo quanto Ihe deixar; ¢ meus ‘Lestumenteiros o darito assim execugao. Declaro que, de um resto que eu estava deven do, do partido que con.prei a Pedro Gomes Velho e a seus irmifos na Varzea onde chamam o hospital, fiz cuntas como Eserivio ¢ 'Thesoureire da Santa Casa 78 REVISTA DO INST. ARCH. B GEOGI. PERN. da Misericordia de Olinda, a quem o dito Pedro Go- mes Velho deixouseus bens, deixando tambem par- te delles a uma filha sua natural; e se achou ficar ainda devendo de resto a quantia do partido quatro= centos mil réiz 3 saber: duzentos e cincoenta mil réia, a Santa Casa, que logo paguei, ¢ cenfoe cincoenta mil réis, que o Provedor e mais Irmios da Mesa deixa- ram em minha milo, para casamento da Orphit filha de Pedro Gomes Velho, por conserto que fiz por niio haver demanda, com condigio que, se em algam tempo houvesse alguma duvida, ¢ se me pedisse es— sa quantia de dinheiro, a Misericordia ficasse obriga— da ame tirar a paz ea salvo, e pngar-me tudo que & mesma Santa Casa tiver recebido de mim ; como tu do consta do assento que se fez em Mesa, da quita— gao do Thesoureiro, Escrivio ¢ Irmiio da dita Mesa, que esté em meu poder, e estes ditos cento ecin— coenta mil réis, que ficaram em meu poder, paguei ja a dita Orpha, e os recebeu sen marido com quem o Provedor e Irmaos da Santa Casa a casariio. Deixo forros o crioulo Joao Ferreira e n sua mu- Ther Maria Penna ; Antonio mogambique, Domin- gas crioula, que creario a menina D. Catharina Vi- dal de Negreiros, e Antonica e seu marido Francisco Trombeta, Magdalena Isabel crioula, Catharina mu- Ther do mulato Barbosa ; meus Testamenteiros hes passariio a todos, suas cartas de alforria, e tambem deixo forro a Domingos mulato. A terra que tenho no rio do Arassngi, que com- prei aos Morenos, deixo tambem 2 Capella que tenho instituido . Deixo ameusobrinho Antonio Dourado Vidal, as Commendas que Sua Magestade me tem dado, assim ade San Pedro do Sul em que estou encartado, como as de mais que me tem feito merc@ e promessa; € assim mais meus servigos, e pegoa Sun Alteza que, atlendendo aos muitos © bons servigas que tenho fei- to a Corda de Portugal, Ihe faca todas estas mereés e REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 79 © queira honrar com outras muitas mais avantajadas; ce assin Ihe deixo mais qgus mil eruzados, que lhe pagariio da venda ou rendimento do Engenho Novo de Santo Antonio da Parahiba, que comprei a Duar- te Gomes da Silveira, em assucares aduzentos mil réis cada anno, e como valerna praga do Recife; e lhe deixo mais o meu espadim de prata. Deixo a metade da minha roupa branca a Arau- jo de Freitas, outra, metade a Pedro de Siqueira, e todos 03 meus vestidos e o mulecio com o leito, que o leve ¢ lhe corte erva para o seu cavallo. Deixo a minha prata e quatro coxins de damas- co, uma came. de damasco encarnado, uma alcatifa, uma colxa. para o ornato da Capella de Nossa Senho- ra do Desterro ; ¢ destas cousas se nao disfagam nun- ca os Administradores da mesma Capella, antes te— rio grande cuidado do uma e outra cousa. Declaro que, para cumprir meus legados ad cau- sas pias aqui declarados, e dare expediente ao que neste meu Testamento ordeno, torno a pedir aos Padres Manoel Vidal de Negreiros @ Antonio de Sou- za Ferraz, meus Testamenteiros acima nomeados, que por servigo de Deus e por me fazerem mercé, queiram aceitar serem meus. Testamenteires, como no principio deste Testamento pego, acs quaes c cada um insolidum dou todo o poder que em direito posso e for necessario, para de meus bens tomarem e venderem o que necessario for, para o meu enterra— mento ¢ cumprimento do meus legados e paga de mi- nhas dividas. Desto modo houve eu por acabado este Testa- mento, e esta éa ultima e verdadeira minha vonta— de ; erevogo o hei por revogados quaesquer outros Testamentos ou Codicillos que antes deste tenha fei- to, og quaes nfo quero que tenham forga ou vigor, c 86 este quero que valha; e pego o rogo as Justigas do Sua Alteza, assim ecclesiasticas como seculares, fagam cumprir ¢ guardar este meu Testamento, as— so REVISTA 14) INST. ARCH, B GROGR, PEIN. sime da maneira que nelle se eontem. que fiz ¢ assig- nei cam minha propria mato, sonido testemunhas as pessoas abaixo nomeadas, ¢ noem dia @ era acima.—-.ladré Vidal de Negre Declare que, tenho mai sorte de terras em Goianna, entre o Engenho de Jacaré ¢ terras de Joao Pacheco, ¢ que comprei lorenos, que tambem. deixo a Capella.-—André Vidal de Neqreiras, APPROVACAO iham quantos este publico instrumento de ap- provacio de Testamento ¢ ultima vontade virem que, no anno do Nascimento de Nozso Senhor Jesus Christo de mil sciscentos sctenta ¢ cite annas, aos quin- ze dias do mez de Maio do dito anno, nests ai de Santo Antonio do Recife, Termo Olinda, Capitania de Pernambuco, nas pousadas do Governador André Vidal de Negreiros, de Conselho de Sua Alteza, onde eu ‘Tabeiliio fui vindo ; © sen— do ahi perante mim apparecen o dito Governador André Vidal de Negreiros, gio, valente e cm todo sen perfeito juizo, ¢ entendimento, segundo o parecer de mim Tabellifio ¢ das testemunhas adiante nemendas, ena presenga das quaes,da sua mio a minha foram dadas es folhas de papel escriptas que acaba yam onde comecei esta approvacio, dizendo-ne era seu Testamento o ultima vontade, o qual eserevern por sua propria mio e 3 porlinto me pe= dia que lh'o approvasse ¢ que revogava outro qual= quer Testamento ou Codicillo que antes deste haja feito, porque £6 este queria tiv forca e vigor, & que pediae requeria a todas as Justicasde Sua Al- teza, assim eecl icas como seculares Ihe fizes- sem cumprir e guardar este Testamento ; 0 que vi— to por mim, ¢ por estar limpo, sem borre dura, vicioe entrelinhas, on cousa que duvida fuga, Jh’o aceiteie approvei e hei por approvado quanta em diveite deve REVISTA DU INST, ARCH. EB GEOG. PERN. $1 © posso, em razio «lo meu officio ; sendo presentes por testemunhas Themoteo da Silva, Gongalo Fer- reira da Costa, Belchior da Silva,o Alferes Domingos Marques, Antonio Carvalho da Silva, o Alferes Affon- so Pires ¢ Manoel Gomes Pereira, que todos assigna- ram com o dito Testador; eeu Antonio Soares, Tabel- lito Publico.do Judicial-e Notas-da Cidade do Olin- dia e seu Termo, Capitania de Pernambuco, por Sua Alteza que Deus Guarde cte.,e que este instramen— {o de approvagiio fiz e assignei de meus signaes pu— blico e raso seguintes em dito dia, mez e anno, era u supra. Tinha o signal publico. Em testemu- uhy de verdade—Antonto Soares. —André Vidal de -Vegreiros.—- Domingos Marques. —Craz da teste- munha—Affonso Pires.—Goncalo Ferreira da Costa. ~-Manoct Gomes Pereira.—Antontw Carvatho da Sil ea.—Themotco da Silea.—Belehior da Silva. Cumpra-se como nelle se contem. Engenho Novo e de Fevereiro 3 de 1680.—Cabral - PRIMEIRO CODICILLO, EM 9 DE JANEIRO DE 1680 Saibam quantos este publico instramento. vi-. tem, como no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo, de mil seiscentos o oitenta annos, aos nove dias do mez de Janeiro, eu o Governador André Vidalde Negreiros, estando em meu perfeito juizo e entendimonto que Nosso Senhor me deu; estando doente de cama de enfermidade que Nosso Senhor foi servido dar-me ; e temendo-mo da morte, e desejando por a minha alma em caminho da salvagao por no saber odia em que Deus me chamard para si; fugo este meu Codicillo e ultima voutade minha. ' Primeiramente, recommendo a minha alma a Santissima Trindade ea Virgem Sacratissima oa todos os Santos da Corte Celestial, particularmente ao Anjo da minha guarda, e ao Santo do meu nome, queirain por mim intercedor ¢ rogar a aa Senhor 82 REVISTA DO INST. ARCH, FE GEOOR, PERN, Jesus Christo, agora ¢ quando a minha alma deste corpo sahir ; porque como verdadeiro christéo, pro- testo viver ¢ morrer na Santa Fé Catholica, ¢ nesta Fé espero salvar minha alma. . Declaro que, supposto que no meu Testamento tenha instituido por meu ‘Testamenteiro em segundo lugar ao Padre Antonio de Souza Ferraz, por morte ou auzencia do Padre Manoel Vidul, quero e sou contente que seja o Padre Mathias | tidal meu Tes- tamenteiro em scu segundo lugar 3 € hilo quero que sejao Padre Antonio de Souza Ferraz; © esta én minha ultima vontade. . ; Declaro que, tenho um menino engeilado em minha casa por nome Pedro de Mattos, filho de um eriado meu por nome Thomaz de Mattos, 0 qual en— comendo a meus ‘Testamenteiros que o eriem con aquella doutrina e amor com que eu o fazin em mi- nha vida, ¢ tanto que for homem o mandariio orde~ nar; e quando nite possa ser Ihe duriio outro estado que elle quizer, e Ihe dario se’ pegas on assucar com que se comprem, ¢ tudo isto Ihe deixo pelo anor de Deus. Declaro que, deixo pelo amor de Dens a Pedro le Siqueira com arrobas de assucar branco para o.an- ho que vem, © que tudo the fago pelo haver creado em mitha easa, Declaro que, deixo aos Krades do Carmo do convento desta Goianna, por tempo de oito annos, cento e vinte arrobus de axsucar brauco, ns eunes ar- Tohas de assucar serio para ajuda das obrag da Igre- ja de Nossn Senhora do Carmo. Declaro que, deixo a Benta Cardoza, uma enixa de trinta arrobas de assuenr branco, por assim achar na minha consciencia que Ihe deve, e por quanto esta éa minha ultima vontade, do modo que tenho dite neste ineu Codicillo. Pego ¢ rogo a meus ‘Testamenteiros o Padre Mansel Vidal de Negreivas eo Padve Mathias Vidal REVISTA DO INST, ARCH. EB QEOGR. PERN. 53 de Negreiros, aos quacs e a cada un tnsolidum dou todoo poder que em direito posso e for necessario para. dos mous bens tomarem e acodirem © que ne- ario for parao mou enterramento e cumprimento de meus leyados ¢ paga de minhas dividas 3 @ como esta 6a minha ultima vontade, me assigno aqui, nes- te meu Engenho Novo de Goianna, aos nove dias do mez de Janeiro de mil seiscentos 0 oitenta anos. E tambom declaro que deixava a Eva do Rego, para a snfra que vem, pelo amor de Deus, uma caixa de assueur branco de trinta arrobas, —André Vidal de Negreiros.—-Lourengo Lopes de Mattos. APPROVACGAO Saibam quantos este publico instramente de approvagio de Codicillo, declaragio e ultima vonta— de virem que, sendo no anno do Nascimento de Nos- so Senhor Jesus Christo, de mil seiscentos e oitenta, ito8 nove dias do mez de Janeiro do dito anno, neste Engenho Novo, nas pousadas-do Governador André Vidal de Negrciros, aonde eu ‘Tabelliito fui-vindo,-¢ sendo ahi achei o Governador André Vidal de Ne- greiros doente em cama da doenga que Nosso Se- nhor foiservido dar-lhe, mas em todo seu perfeito juizo e entendimento, segundo 0 parecer de mim Ta- belliio e testemunhas, e ahi da sua mio a minha me foi dadoa sedulu e codicillo acina e atrds escripto que o Testador o mandira escrever pelo Licenciado Lourengo Lopes de Mattos, no qual se continha sua ultima vontade ; requerendo-me que ou Tabellido Ihe ‘ipprovasse seu codicillo; porque sendo Nosso Se— nhor servido de o levar para si, se cumprissee guar— dasse ; 0 qual manddra fazer para desencargo de sua consciencia ; 0 qual codicillo eu Tubolliio corri e nao uchei vicio ou emenda que duvida faga; a qual ap- provaciio comecei ao pé delle, onde estava assignado o dito Testador, eo Licenciado Lourengo Lopes como Ss REVISTA DO INST. ARCIL E GEOGR. PERN. testemunha; cestiescripto om pagina ec mein de pa- pel; o qual codicillo, disse o Testador, queria que por sua morte se cumprisse, como nelle se continba, o assim o pedia ¢ requeria as Justigus de Sua Alleza; . ¢ se outro codicillo houvesse feito antes deste, nito quer que valha, nem tenha forga, nem vigor 3 © pede aseus Testamenteiros o fagam cumprir e guardar, como nelle se contém. E eu Tabellito lh'o appro- vei chouve por approvado, quanto em dircito posso; assignando 0 dito ‘Testador com as testemunhas abai- xo tambem assignadas, que reconhego serem os pro— prios de que se trata, e a Testador o mesino; € eu Antonio Saraiva Ledio, que o escrevi ¢ assignei de meu publico signal. Em f¢ de verdade, Antomo Saraiva Leto.-—André Vidal de Negreiras.—Lou- rengo Lopes de Mattos.—Antonio da Stlva,.—Braz Dias Correia.—dJost: Pacheco de Azevcda.—doiio de Lima Oliveira .--Domingos de Vasconcelos. —Manoel de Almeidu da Fonseca. Cumpra-se como nelle se contem. Engenho Novo e de Fevereiro 3 de 1680.—Cubral, SEGUNDO CODICILLO EM 27 pE JaNeErno pr 1680, nat Trindade Padre, Fi- Pessous ¢ um sé Deus ver- Em Nome da Santi lho, Espirito Santo, ‘Tres dadeiro. Saibam quantos este publico instrumento virem, como no anno do Nascimento de Nosso Senhor Je- sus Christo, de mil seiscentos ¢ oitenta annos, nos vinte e sete dias do mez de Janciro, eu André Vi- dal de Negreiros, estando em meu perfeito juizo ¢ en- tendimento, que Deus me deu, doente de cama; e desejando por minba alma no caminho da salvacio, por nio saber o que Deus Nosso Senhor quer fazer, ¢ quando seré servido de me levar para si, fico este meu Codicillo, na forma seeuinte, porque esta @ m uli ultima vontade. REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 85 Declaro que, tenho feito meu ‘Testamento e nelle instituo e nomeio por meus Testamenteiros no Padre Manoel Vidal de Negreiros, em primeiro lugar ;-e em segundo~ao Padre Antonio de Souza Ferraz ; porém depoie fiz um Codicille em que nomeio em se- gundo lugar no Licenciado Afathias Vidal de Ne- greiros por meu Testamenteiro, porque niio quero que 1.0 Padre Antonio de Souza Ferraz; e este primeiro Codicillo quero ¢ & minha ultima vontade que valha, porque nada ignoro delle, sé acressento neste por me esquecer, o que abaixo vai ordenado. ‘Tenho teito meu ‘Testamento, e mandado fazer escripturas de dongées de patrimonio ¢ dotes, e ten- do hibilitado 20 Padre Manoel Vidal de Negreiros, ea Mathias Vidal de Negreiros por meus Adminis— tradores de meus bens, Capellas e Recolhetas, para esta administragio tevho nomeado a maior parte dos inesmos bens, da maneira declarada em uma escrip- tura de doagiio a Nossa Senhora do Desterro, como consta da verba della ¢ do meu Testamento. E porque este Codicilloé minha ultima vonta- de, ratifico ¢ hei por approvado tudo quanto tenho mandado no meu solemne ‘Testamento; excepto 86 0 Padre Antonio de Souza Ferraz, que o nomeata por meu segundo Testamenteiro ; porque em seu lugar quero que seju Mathias Vidat de Negreiros ¢ nao o dito Padre Antonio de Souza Ferraz, 6 0 que de mais mando neste Codicillo e em outro que tenho feito. E sendo caso que para 0 cumprimento de todos faltem aos pmpeis que tenho feito @ mandado fazer, alguinas palavras ou palavra para sua perfeitn valida- dle, ns het par postas ¢ doclaradas, como si de cada uma tivera feito expressn mengiio. Declaro que, nomeio e instituo por meus Testa- menteiros de que peo pelo amor de Dous e por ser- vico a Virgem Senhora Nossa, e por me fuzerem mer- t@, a todos os Sts. Governadores de Pernambuco que so forem succedendo alternativamente em quanto sé REVISTA DO INST. ARH, BE GEOGR. PERN, o mundo durar:atodosos Srs. Capi s-maiores des. ta Capitania de Itamaracé; a todos os Sys. Capitiies- maiores da Capitania da Parabiba ; ¢ 1 todos os Srs. Bispos de Pernambuco, queiram ser meus Testa- ; eno Padre Manoel Vidal de Negreiros e X Vidal de Negreiros. ajudem a defender toda, a minha fazenda, procedendo contra todas as pessoas de qualquer qualidade, condigio ¢ estado que soja, que se queiram oppor contra ella, porque é muito li- vre e isenta, ¢ nao tem pesson alguma direito nella, porque nio tenho herdeiros nenhuns descendentes ou ascendentes ; ¢ por esta raziio deixoa minha al- ma por minha herdeira universal de todos 03 meus bens, como consta da verbae Testamento, Escriptu- rade doagiio de Nossa Senhora do Desterro, e Codi- cillos, porque os meus dons Testamenteiros deem @x- pediente a tudo que Thes ordenay ¢ a Vv. Ss. e Mereés pogo pelo amor de Deus, nao faltem com o seu adjutorio e faver, para o bem de minha alma. Eassin mais declaro que. se alumna pessoa de qualquer qualidade ¢ cond que seja, vier arman- do demandas, com alguns papeis que tenham o mea signal, os hei por nullos porque sito fulsos ; advertin- doqueo Padre Frei Francisco Vidal de Negreiros, Religioso de > Senhe o Carmo, the tenho da- do um papel de minha le mul eruzados cada anno, ta quantia, cem rit réis que lhe deixo todos os annos. E quando o mesmo Padre Frei Francisco Vidal de Negreiros ira oppor contra a minha fazen- da em algum: se the nito dara nada do que the deixo; e assim seré com todos 08 mais n quem deixo alzuma cousa da minha fazenda ; ¢€ como esta Ga minha ulfima vontade hei por fvito ¢acabado este Coficillo, o qual por no poder eserever, mandei fa- zer pelo Licenciado Lourengo Lopes de Mattes, e pedi ao Alf Domingos oncellos, diante do Tabelliio Agostinha Fe t Mello e das tes- REVISTA DO INST. ARCIL. B GHOGIL PERN. 87 temunhas abaixo. assignadas, «uizesse assignar por mim, pelo eu nito poder fazer. Assigno arogo do Governador o Sr. André Vi- dal do Negreiros, Domingos de Vasconcellos. APPROVACAO. Em Nome de DeusAmem. Saibam quantos este publico instrumento de approvagio de Codicillo, virem que, no anno do Nascimento de Nosso Senbor Jesus Christo de mil sciscentos e oitenta, aos vinte ce sete dins do mez de Janeiro do dito anno, neste Engenho Nevo invocagiic de Santo Antonio, Fregue- zia de Goianna ; Termo da Villa de Nossa Senhora da Conceigiio, Capitania de Itamaracé; nas casas de morada do Governador André Vidal de Negreiros, onde eu Tabellitio adiante nomeado foi vindo; es- tando ahi presente ante mim o Governador André Vidal de Negreiros, doente em sua cama de doen— sa que Deus Nosso Senhor foi servido dar-lhe, com todo 0 seu juizo e entendimento perfeito, segun- doo parecer de mim ‘fabelliio e das testemunhas ahaixo assignadas, por elle dito Testador me foi da— lo esta sedula de Codicillo, pedindo-me em presenga das mesmas testemunhas, Ihe approvasse ; 0 qual Codicillo esté escripto em duns Inudas e meia de pa- pel, ¢ pedi elle Testador a todas as pessoas 0 Justi- gas de Sua Alteza, tanto ecclesiasticns como secula— res que do dito Codicilio houvessem de tomar cu- nhecimento, a elle Ihe déem o fagam dar inteiro cum- primento, na forma que tem ordenado. Deélaro que bste Codicillo esta assignado por Domingos de Vas— concellos, que a rogo do Testador, assignou em pre— senga de mim Tabelliio e das testemunhas abaixo assignadas ; 0 qual Codicillo nao tem entrelinhas, hem cousa que duvida faga, ¢ eu Tabelliio o appro- Vei ¢ hei por approyado tanto quanto devo o posso. Im fée testemunho de verdade, o Tabcllizo Agostinka $8 RBVISTA DO INST. ARCH. B GEOGR. PERN. REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGK, PERN. 80 Ferreira de Mello. —Damingos de Vusconcellos.. == 5 José Pacheco de Azevedo. — Manoel Thomaz de Lima, —Lourenco de Freitas. —Lourengo Lopes de Mello. ~-Manvel de Sousa Reis.-- Joio de Lima.—Belekior das Neves, Manoel Gomes Lima. . Cumpra-se como nelle se contom. Engenhe Novo, de Fevereiro 2 de 1680.--Cabraé. ND: Sesto ordinaria no dia 16 de Agoste de 1867. Presidencia do Bum. Sy. Conselheivo Monsenhor Muniz Tavares, A's 11 horas da manhi presentes:es Srsz Dra. Aprigio Guimardes, Joaquim Portela, Sones de Azevedo, Amaro de Albuquerque, Raposo de Al- meida, Gervasio Campello, Seraphico e os Srs. tenen- te-coronel Pereira de Farias, Padre Lino do Monte Carmello, major Salvador Henrique, cicurgifio Ferrei- ra de Almeida; Guelphe de Lailhacar ¢ eapitiio An- tonio Brazilino, abre-se a sessiio. O Sr. 2: Secretario dé leitura da acta da antece- dente, que 6 approvada. O Sr. Secretario perpetuo dd conta do seguinte expediente : , : Um officio do Sr. Osmin Laporte; consul da Franga. n’esta cidade, convidando ao Institute para assistirao Te-Deum, que em commemoragio':do'an— niversario do Imperador dos Franceses devia ser. cantado no dia’ 15-do corrente na igreja do Paraizo, O Sr. Seeretario perpetuo declara que na ausencia do. Sr. Presidente fizera publicar um convite ac Instituto e que com effeito assistiram alguns de'seus socios a aquelle acto religioso:—-Inteirado.. © _, Outro do director do Gabinete Portugues de Leitura, convidando o Instituto para assistir'a festa de seu anniversario no mesmo dia’ 1d ‘do corrente} © mesmo Sr. Secretario- perpetuo- declara'que uma vommisstio do Instituto da qualfez parte, assisting aquelle acto, sendo que o Sr. Dr Nascimento Fei tosa, como orador-cumprimentoa’ aquella = se com um discurso analogo ao assumpto.—Intei rade, Outro do Sr. commendador Antonio Joaquin de Mello, agradecendo a sua eleigio de socio hono- 4 TERMO DA ABERTURA ss Aos trese dias do moz de Fevereiro de mil seis— centose oitenta annos, neste Engenho Novo, em pousadas do defunto Sr. Governador André Vidal de Negreiros, Freguezin de Geianna, Termo.da Villa de Nossa Senhora da Conceigic, Capitania de Itamara- ed, onde estava o Ouvidor desta mesma Capitania Jo&o de Albuquerque Cabral, commigo Tabelliiio sendo ahi, pelos Testameuteiros os Reverendos Pa~ dres Manoel Vidal de Negreiros e Mathias, foi reque- rido ao dito Ouvidor, em presenga de mim Tabellido, abrisse o Testamento ¢ Codicillos do dito defunto Sr. André Vidal de Negreiros;o que visto pelo dito Ouvi- dor eouvido seu requerimento,tomouodito Testaman- to e Codicillos em sua mio, e na presenga do Tabelliao abrio o Testamento e os dous Codicillos, ¢ os .achou limpos e sem borrées nem entrelinhas ; os quaes fo- ram numerados ¢ rubricados em doze meias folhas, donde comega este termo, Em fé e testemanho de verdade, mandou o dito Ouvidor fazer este termo.de abertura do dito Testamento e Codicillos, que assig— nou commigo Tabelliiio, hoje dia, mez e anno_atraz declarado.— Francisco Estacio—Tabelliiio que.o.es- crevi.—-Joito de Albuquerque Cabral, Ouvidor = Conego Franeiseo Estacio. ‘ 90 REVISTA DO INST. ARCH. E GhOGR. PERN. rario ¢ declarando que na sessiio de 16 do correnie; viria tomar assento.——Inteirado. nt ee Outro do Sr. Capitio Antonio Brazilino de Tiellanda Cavaleanti, agradecendo a sua eleigéo de socio correspondente.—Inteirado. 4 Em seguida o mesmo senhor menciona as segnin-.. tes offertas : y Varios numeros do Diario de Pernambuco, pelo consocio Dr, Figueirda. O primeiro numero do Apostolo da Verdade,os ns, 9e10 do Mercantil. os ns. lle 12 da Opinido iVa.ional ; pelas respectivas redacgies . Um folheto impresso contendo o regulamente do sello, organisado alphabeticamente e annota- do por seu autor o Sr. Francisco Auguste de Al- meida. Outro, contende uma exposigio ao publico pelo Sr. Dr. Juiz Municipal de Goianna Henrique Pe- reira de Lucena, Todas estas offertas siio recebidas com agrado e mandam-se archivar. . Vem a mesa una proposta para um socio cor respondente.—A’ comissiio de admissiio de socios. Constando acharem-se na ante-sala. os Sra: * consul da Franga Osmin Laporte e commendador Antonio Joaquim de Mello, o Sr. Presidente nomea os Srs. Drs. Cunha Figuerede Junior e Raposo de Almeida para comporem a commissao que os tem de conduzir; e sendo pela mesma conduzidos a sala das. sessdes tomam assento, lendo cada um por sua vex um discurso de agradecimente. i O Sr. Dr. Nascimento Feitosa como bradordo Instituto pronuncin um discurso no qual se congra- tula com os mesmos pela acquisigio de tio illustres membros . 0 Sr. Dr. Raposo de Almeida obtendo a pa- lavra relata a commissiio de trabalhos historicos ¢ archeologicos, lendo um relatorio sobre as ruinas da REVISTA DOINST. ARCH, & GHOGR. PERN o fortaleza do Arraiat novo do Bom Jesus, as quaes fo- vam encontradas 6 verifisadas pela mesma commissao. Finda a leitura o Sr. Presidente dirige algumas palavras de agradevimento’a cominiasio. O Sr. major ‘Salvador Henrique-em segiiida conelue a pare dos documentos que ‘offertéra em copias ao Instituto em nome do qual Th’e agrade Sr. Presidente. * q aed O mesmo Sr. Presidente dé para ofdeth do ainda proxima sessiio, que deverd ter Ingai no dia 29 do corrente, trabalhos e pareceres de commissées. Levanta-se a sessiio.—Monsenhor Franeiieo Muniz Tavares, Presidente. ~José Soares de Azeve- do, Secretario’ perpetno.—-Salvador Henrique de Al: buquerque, 2° Seeretario. ~ Relatorie e parecer a que se refere a acta supra, Senhores.——No patriotico e civilisador proposi- to, em que seacha. o Instituto, de predispor, deshas- far e ageitar os matoriaes da historia pernambueana, (ous sto os principaes empenhos, que especialmente fem prendido a sua attengite: 1+ depurar philosophi- camente os factos: 2° assignalar os lugares em que elles se deram. : BE com effeito, nao podia -ser outro’o gen syste- mae methodo de labutar nas minas ‘da historia; porque, apés a narragiio do successo, deriva-sé com toda a naturalidude ‘a sua locali i EES _, , ,O Instituo, neste louvavel einpenho ‘podia ‘ter J feito muito mais, porém a coneorrencia de esforgos de seus membros-naio tem sido feralmente tio dedi- cada e prestimosa ’ como cumiptin que’ fossa; @ os “cus recursos atiés favorecidos pelo corpo legislative ‘la provincia, no teem sido sufficientes part o citbal desempentio de sua missio, Entretanto 6 forca confessar, que o Tnstitatoak | uma cousa tem feito; e& que os seus esforcos nao a 92 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN, tem sido de todo estereis. ‘Tem-se j agitado em sew seio algumas questées de philosophia da historia, de critica, de archeologia e de topographia; e gragas 4 proverbial constancia de seu venorando presidente, ca assiduidade de alguns de sous socios, o Instituto vai marchando lento, mas seguro nas vias do sen destino patriotico. . Agora mesmo vai o Instituto prestar um impor- tante servigo ao futuro historiador, marcando ao certo qual a topographia, quala lecalidade da for— taleza do Novo Arraial do Bom Jesus; localidade essa que ja existia apagada na memoria dos contem- poraneos, ao ponto de nio haver quem podesse sa~ tisfazer a curiosidade do Sr. D. Pedro II, quando, em 1859 na sua viagem a esta cidade, tanto desejou pessoalmente reconhecer o lugar, que tinlia servido de principal baluarte da insurreigio pernambucana. eontra o dominio hollandez . Esta inenria pelas cousas da historia patria, niio ésécumplicidade de muitas das intelligencias illus~ tradas desta provincia.’ uma especie de fatalida- de entre os homens illustrados, importam-se mais com a historia da antiguidade, e com a de povos es- tranhos do que com a historia do paiz, que Deus lhes destinow para sua residencia no tempo; e com os factos momentosos das geragies, que os precede- ram na residencia desse mesmo paiz. Se porventura nos niio faltdra esta Jouvavel cu- riosidade, ou antes obrigacio moral de um pove civi lisado, de certo que os lugares, tio gloriosamente consagrados, pela historia, néio estariam por ahi apa- gados e esquecidos, de sorte que niio podenios assig- nalar ao estrangeiro muitas das localidades, em que se deram factos de heroico valor, nem nos é dado mais guardar e transmittir 4s geragdes futuras-as cingzas venerandus dos herées, que tanto obraram pe- in religifio, pela patria ¢ pela liberdade. : Na matcha lenta, mas segara e providencial, REVISTA DO INST. ARCH. EB GEOGR. PERN. 93 que leva o Instituto, trata elle de romir esta falta de presente, e pagar no passado, quanto é possivel pa~ gar-se j& agora, o fende postero de perenne reconhe- cimento. : 3 _ A-vossa commissiio, senhores, como uma das ar- terias deste corpo moral, nio se descuidard de secun- dar © empenhe do Institute, assim niio lhe faltem os indispensaveis meios de proseguir no seu proposito, Ultimamente procedeu ella u tres pesquizas to— pographicas e archeologicas, que foram coroadas de feliz successo, Visitou os restos da capellinha do Paraizo, que foi a erysalida d’onde sahiu o actual re~ colhimento da Gloria: pesquisou e achou vestigios do forte do principe Guilherme, nos Afogados; e deseobriu 4 vossa apreciagio, e 4 curiosidade publi- ca.as veliquias da fortaleza do Arraial Nove do Bom Jesus. Reservando para outra sessio de nossos traba- Thos relatar-vos o resultado de nossa diligencia em relagio & capellinha do Parnizo, e aos vestigios do forte do principe Guilherme, passamos desde jaa expor-vos o como visitamos e examinataos as ruinas da forteleza do novo arraial chamado do Bom-Jesus . O Castrioto Lusitano de Fr. Raphael de Jesus, um dos livros mais minuciosos e mais antigos, que tomas da lucta pernambucana contra o dominio ba— avo, é com effeito impertinente e quasi insupporta— vel no Seu estylo de enrevesadas antitheses, ena sua preconisagio pessoal de Jodo Fernandes Vieira: mas na piutura fiel das localidades, e na exposigio geral dos factos, 6 livro seguro, como tambem é livre se- guro para a apreciagio da primeira resistencia o apreciavel livro das Afemorias Diarias do Duarte de Albuquerque, conde-senhor de Pernambuco, ¢ mar— quez de Basto. Lise no dito Castriote Lusitano, a paginas 389 da primeira edigiio de 1679, o seguinte sobre a for- taleza ¢ Nove Arrainl do Bom-Jesus : a REVISTA DO INST, ARCH. E GEOGR. PERN. « Do remanecente de officines ¢ oldados se for- mou um grosso, que assistisse aos nossos governado- res, para darem soccorro a todas as partes, onde o pedisse a necessidade e a oceasiio, situados em pos- to conveniente, até que tivessem alojumento certo na fortaleza, que se havia de fazer. « Sobre a escolha de lugar para a situagiio da fer- taleza houve a mesma diversidade do pareceres, que unio o do Governador Jofo Fernandes Vieira, cujo voto foi seguido de todos, porque o formava a prati- ca do terreno e o cstude do juizo; era o mais contem- plative. Mostrou com evidentes razdes, que uma eminencia, que a natureza levantara pegada ao enge- nho, que se dizia do Bribio, uma legua do Arrecife, tinha todos os requisitos para assento da fortaleza; ¢ a maior razio da convenicncia era cortar a eleigio pelo particular da pessoa, que Votava, porque destraia fertilissimos ecanaviaes de tres engenhos seus. Unr estrangeiro perito na arte da fortificagio, deliniou a planta do edificio, coma grandeza e capacidade, que the pintou o desejo: em os ultimos de Setembro xe lhe poz a primeira mio. Para trabalhar na obra concorreu o governador com todos seus escravos; @ 4 sua imitagiio os moradores com todos os que ti- nham, que ajudades das companhias, deram principio ¢ fim 4 obra em tres inezes, tempo em que se fez e se aperfeigoou, com reparos, plata-formas, esplanadas, contra escarpas, pentes, cavas, trincheiras, paliga- das ¢ tudo o mais coneernente, ¢ proporcionade com a magestade da praga; e nio tiio bem acabada, que a olhava a arte com aduiragiio, e o odio com o reeeio. Oito pegas de bronze, que o inimigo nos deixou no Porto do Calvo se pozeram nella; com as quaes se deu a primeira salva em dia da Cireuncisio, do anno ile 1646, festejando o mysterio, que Ihe deu o nome de fortaleza de Bom Jesus; a cuja sombra os moras dores edificaram uma povoagiio, para a qual concor- revam de muitas partes, offieiaes meeanicos de todas. KEVISTA DO INST. ARCH. & GEOGH. PERN. 95 us artes, de que necessitava o servigo publico; ¢ formaram em pequeno campo um vistose Jugar, 80 qual deram o nome de Arraial Novo, a differenga do antigo, » Deste tito natural, veridico-e fiel enunciado, de— prehende-se, que a fortaleza do novo arraial da in— surreigio pernambucana contra o dominio hollandez, devia ficar na distancia de uma legua do Recife; ¢ come centro e apoio das estancins ou acampamentos das forgas de Henriques Dias, de Antonio Felippe Camariio, ¢ de outros cabos, que assediavam a fron- teira da praga, em que jA entito se achava encurrala- doo inimigo. Mas nas memorias historicus de Pernambuco por José Bernardo Fernandes Gama, lé-se sem a menor duvide ou reserva o seguinte : _, © E finalmente de toda a mais gente, que niio foi empregada nestes differentes servigos, formou Fernandes Vieira o corpo de reserva, destinado a Soccorret os pontos, que .soccorro demandassem, aeampando-se este corpo de reserva na povoagio. da Varzea, que continuou a ser o quartel general, entre- tanto que se levantava a fortaleza, que devia servir de pento de apoio, e de armazem de viveres, @ mu- nigdes. « Mas sobre a escolha de lugar, no qual esta for- taleza deveria ser levantada, houve a mesma diver— sidade de opinides, que se encontraram na occasiaio em que se traton do plano de campanha; porém prevalecendo desta vez tambem a opiniae de Toiio Fernandes Vieira, escolheu-se para se construir a fortaleza um monte, que ainda hoje se eleva duas leguas © meia ao O. 8. O. do Recife, e meia milha ao x i ova estrada de S. Antio. Este monte esté colocado: em terras do antigo engenho Tigipid, qu no tempo de Fernandes Vieira pi propriedsde de um falano de Bribéo; mas hoje Tigipié niio é mais enge- nha, e esté dividido em sitios, que tem diferentes 26 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN, possuidores. © monte escolhido por Fernandes Viei- ra para levantar a fortaleza chama-se actualmente Gargantio, ¢ ainda alicerces de grossos paredées pro- yam a existencia dessa fortificagio. Esta emizen— cia, na qual Fernandes Vieira levuntou a fortaleza, pertence hoje ao sitio Cavalleiro, do qual é proprieta- rio o Sr. coronel Francisco Casado Lima; é optima posigao militar, e offercce o mais pittoresco golpe de vista: Olinda, Recife, Afogados, Ponte do Uchda, Pogo da Panella, Monteiro, e Apipucos, dalli s¢ des— eobrem perfeitamente; ¢ com o auxilio de am oculo, um general nada tem 4 desejar para descortinar estes lugares. » Em vista desta notavel dissidencia, que se da- va entre 0 escriptor contemporaneo dos factos, e tio bem informado, como foi o benedictino Fr. Raphael de Jesus, ¢ 0 escriptor nosso contemporanco, que na qualidade de militar instruido, deveria ter estudado os pontos estrategicos da guerra hollundeza, corria ao Instituto o dever de interporo seu parecer, para nio continuar o scepticismo historico, e deixar aos vindouros uma difficuldade, que podia resolver-se em vista de um monumento archeologico, que nie pode- ra subsistir por muito tempo. Neste intuito a vossa commissio de trabalhos historicos e archeologicos, tomou a inciativa da veri- fieacio de tio flagrante contradigiie: ¢ procedeu ds necessarias diligencias. Em resultado tema mesma commissiio o grate prazer de poder communicar-vos, que niio péde mais pér-se em duvida a opinifio do auctor do Castrioto Lu- setano contra o auctor das Memorias historieas de Per= nambuco, por isso mesmo que verificamos occularmen- te, ¢ com toda a certeza topographica e archeologica, que a fortaleza do novo arraial de Bom Jesus esteve na planicie da Varzea, a uma legua do Recife, como: phael de Jesus; ¢ nio a duns leguas'e pid, como pretende Fernandes Gama. narra Fr, Ra meia em T REVISTA DO INST. ARCH. & GEOOR, PERN. 97 Diz elle, 6 verdade, com toda as ranca d 7 eas 8 es criptor de critico consciencioso, friblo teed for- taleza estivera no lugar, que hoje se chama Gargan— tio, dependencia do sitio chamado Cavalleire; e —— por ultimo, que até nesse mesmo local se veem ainda alicerces de - grosses pared vam a existencia da fortaleza. mee a Pro . ae Gama enganou-se deploravelmente neste particular, como se engana em outr i lugares de suas Memorias. e “ms rr Todos os escriptores que consultimos desd Vr. Raphael de Jesus até 0 moderno eserupoloso os criptor Nether, na sua apreciavel obra Les Hollan- daises au Brésil, concordam sem a mais leve disere~ pancia, em que o Arraial Novo do Bom Jesus, com a sua respectiva fortaleza, estava a uma legua de dis— tancia do Recife, ¢ como contro e apoio das estan— cis dos piquetes avangades, que semelhantes a um creseente de lua, apertavam o cérco da cidade desde o forte de Nazareth na freguezia do Cabo, atéa for— taleza de Santa Craz ou da Guarite, na villa de Olin- da, O primeiro escriptor, que sem dar raziio do seu dito, bape a fortaleza e arraial a duns ¢ mweia le- guas de distancia do Recife, igipi ue an cife, e em Tigipié, é Fernan- Nao 6 preciso ser versado na arte da / 3 guerra para r a © disparatado desta inverosimil ae "Se com effeito Joiio Fernandes Vieira tiv ; esse le- vantado a fortaleza em Tigipidé, como quer o autor em questio, terin commettide um erro flagrante de estrategia militar, porque de certo a fortaleza nio Prestaria para apoio e soccorro das estancias, como elfectivamente servia. No Tigipié serviria para, pro- Vocar 0 inimigo, ¢ espera-lo na campina; na Varzea Scrvia para o apertar e atacar; e outro niio era 0 pla~ het operagies, adoptado por Vieira e pelos demais 5 98 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. E’ verdade que o autor das Memorias historicus confessa, que fora levado a esta nova asseveragio la presenca de grossos alicerces, que ainda ali exis- tem, e que elle decidiu serem da fortaleza do Novo Arraial do Bom-Jesus. A commissiio nao despresou essa valiosa cir- cumstancia ; ¢ tratou dea avaliar devidamente; mas desse exame Veio no conhecimento pleno de que ex- ses alicerces de grossos paredées nfio siio restos da fortaleza deslocada e phantasiada por Fernandes Ga- ma; mas sim os restos de uma sutnptuosa casa de re- sidencia, que tinha Joiio Fernandes Vieira na sua fa- zenda de Tigipid, de que o sitio Cavalleiro fazia en— tio parte. Muitas pessoas antigas dio testemunho desta casa jd em ruinas; e entre essas pessoas ha ianda muitas, que desmancharam as respectivas pa- redes para conduzir os materiaes, afim de serem empregados, como effectivamente foram, na reeons— trucgiv da. igreja de Tigipié, e em diversas obras de engenhos ou sitios daquella localidade. Esta fazenda de Tigipié no era de um fulano Bribdéo como confunde oautor das Memorias historicas. Antes mesmo de rebentar a insurreigiio, j& élla pertencia a Jouo Fernandes Vieira, como se depre~ hende da propria historia, que menciona a circum- stancia de ter estado escondido nesta fazenda o heroi- co Antonio Dias Cardoso, quando chegou da Bahia, e antes de partir em direcgio a Tabocas, onde se po- de dizer, que foram suas as primeiras glorias dessa acgio memoravel ; como foi essa batalha o primeire golpe mortal dado no coragiio do dominio batavo. Consta, é verdade, da historia, que o terreno es colhido para novo arraial e fortaleza, pertencia com cffeito a um fulano Bribéo ; e que esse terreno, se~ gundo nossa conjectura, deveria estar encravado en- tre terras do engenhe chamado do Meio, e de terras do engenho chamado da Torre ; mas o de Tigipié nao padcee duvida que era propriedade do primeiro che- REVISTA DO INST. ARCH. B-GEOGR. PERN, 99 le da insureeigéo, © heroieo Jo%o Fernandes Vieira. Destruida, como nos parece que se-acha a-es— tranha @ nova opiniiio de Fernandes Gama,a_ vossa commissiio passa a {heer @-narrativa da diligencia, que onpregou para descobrir as ruinag do Novo Areaial do Bom Jesus. ' mproenre b informagao do nosso consocio, 0 Sr. capitic * Antonio Brazilino de Hollanda, quese eer commissito, elhe prestou bons ¢ valiosos servicos, di- tigimo—nos na tarde do dia 9 do corrente para o lugar de nossa diligencia. Seguindo ‘a estrada geral, chamada do Cachangi, chegdmos ao sitio chamado Retiro, que 6 um terre- no desmembrade do antigo e historico engeuho cha— mado da Torre. Quebrando entio a Viagem sobre a esquerda, ¢ percorrendo cousa de meia imilha,-en- contrdmos as ruinas de terra da antiga, historica ¢ gloriosa fortaleza do Arraial Novo do Bom Jesus. Pareceré estranho dizermos ruinas de terra quando a idéa de ruinas prende-se sempre a destro- gos de pedras ou tijolo; mas eflectivamente as rai— nas salientes, que ainda guardam a sun forma primi- tiva de fortaleza, sio offectivamente do terra. _, Bsta preciosa reliquia archeologica acha-se no sitio, geralmente conhecido por sitio do Forte, que aie pertence ao Br. major Thomaz Cavalcanti da oiveira Lins, que o herdou e i Hollanda Cavaleanti. aan ae __ Alinda se conservam de pé tres bastides, tendo sida desmanchado © quarto para se construir a casa de vivenda do proprietario; ainda existem bom pro~ aunciadas, duas escarpas, a do sule a de leste; ain- da ahi existe o largo fosso que ciroumdava a fortale - za; ainda se observa o antigo leito do Capibaribe, de cujas agoas se enchiam os fossos ; ainda seve ‘nal tapada e bem no contro da quadra a funda ca— cimba de agoa potavel : ainda finalmente se destin- eue 20 longe uma erescida orla de matto, por onde ee 100 REVISTA DO INST. ARCH, E GEOG, PERN, era o fosso exterior, que guardava e abrigava a po~ voagio 4 sombra da fortaleza. | Todos estes vestigios, que o decorrer de duzen- tes e vinte um annos, nao tem porido apigarde-teda, sio come um epithaphio geroglifico, que attestas este presente de profunda indifferenga, que houve n’outros tempos e nesta mesina terra, que pizamos, uma geragiio heroica de pernambucanes ; ¢ que ani- mada da fidelidade do amor da terra natal, ede cin- me de sua liberdade, travou uma lata titaneca con~ tra a heresia lutherana, e contra o dominio batave; e que essa gerago pugnando pelo altar e pela patria, obrou prodigios de valor, e por fim veneeu ; porque toda a causa santa e jusia vence sempre, embora mesmo pareca vencida. Se até aqui a mio destruidora de mais de dous seculos niio conseguio ainda apagar os restos desse theatro de passadas glorias ; se a enchada do lavra- dor néo péde ainda de todo desmanchar a forma ar- tistica dessa okra de terra; é de presumir que em breves annos 0 tempo faca deeapparecer todos esses vistigios, comoo mesmo tempo ja os tinha feito es- queeides, ao ponto de ser hoje uma verdadeira des- eoberta essa especie de ossada da antiga fortaleza, que ainda ali fomos encontrar. Por isso a commissiio niio hesita em propor~vos, que o instituto mande ali levantar uma modesta co- lumna de tijole argamagado; e que na base dessa mesma columna se esculpa a seguinte inscripgiio: « Aqui se levantou em 1646 a fortaleza do Novo Arraial do Bom Jesus. Em 1867, 0 Instituto Archeologico ¢ Geographico Pernambucano verificou o lugar com toda a authenticidade; ¢ mandou levan- tar esta memoria. O presente honra e glorifica aos benemeritos do passado. » Lembra mais a commissiio que o alto da colum— na seja coroado com uma cruz de ferro. Desta forma, senhores, quando o viandante REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN, 101 perpassar pela estrada geral, e descobir a meia milha de distancia, © por entre og solitarios coqueires 0 ¢i- mo deste modesto monumento, ha de por certo no- bremente orgulhar~se por pizar uma. terra, que foi theatro de verdadeiro heroismo de religiao e amor da patria; e embora esse mesmo viandante fique descontente do presente, niio deixara de Pagar um tributo de admiragao aos herées do passado. E esta admiragio 6 j4 agora a unica moeda, que The podemos pagar—; nds os herdeiros da terra ca— tholica @ livre, que elles resgataram a prego de mui- tos sacrificios, de muitas vidas. Tal 6, senhores, o nosso parecer; resolvei-o como entenderdes em vossa sabedoriae no ‘Vosso es— Pirito religioso e patriotico. Recife 12 de agosto de 1867.—F, Rapozo de Almeida, yelator—~Padre Lino do Monie Carmello Luna— Salvador Hlenvique de Albuquerque. Documentos a que se refere a acta supra ZT ESORIPTURA DE REVOGAGAO EM 9 DE 630, JANEIRO DET DA Ko- MEAGKO DO PADRE ANTONIO DE SOUZA FERRAZ, QUE HAVIA FEITO ANDRE VIDAL DE NEGREIROS, PARA SEGUNDO ADMINIS- TRADOR DA CAPELLA DE ITAMBR, Em nome de Deus Amen. Saibam quantos este publico instrumento de escriptura ou declaragio © TeVogacio de pessoa com nomeacio de outra, so— bre uma instituigao de Capella, ou como em direito para sua validade melhor nome e lugar haja e dizer-se possa, virem que, no anno do Nascimente de Nosso Senhor Jesus Christo de mil seis centos e oitenta, 20s nove dias do mez de Janeiro do dite anno, nes- ta Fazenda do Engenho novo, Freguezia de Goian— na, Termo da Villa de Nossa Senhora da Conceigéo, Capitania de Ttamaracd, nos aposentos do Governa. dor André Vidal de Negreives, aonde ou Tabeliio, See 102 REVISTA DO INST. ARCH, E GEOG, PERN. ao diante nomeado fui vindo ; e sendo ahi appareceu o referido Governador, e por elle foi dito perante mim e das testemunhas ao diante nomeadas que, elle havia instituido para servigo de Deus e bene- ficio de gua alma, uma Capella do invocagiio de Nos- sn Senhora do Desterro, nos limites desta Capita- nia, a qual havia dotado com muitas partes de sua fazenda, ¢ declardra por administrador della ao Li- eonciado Padre Manoel Vidal de Negreiros, Sacer dote do habito de San Pedro, para lograr a dita ad- ministragio em sua vida, ¢ que por sua morte fosse segundo administrador o Pudre Antonio de Souza Ferraz, para em sua vida lograr a segunda adminis- tragio; porém que depois de feita esta segunda no- meacio, como instituidor della havia considerado junto com causas e razdes que lhe occorriam para poder desfazer esta segunda eleigio do dito Padre Antonio de Souza Ferraz, as quaes causas ficavam no secreto de sua modestia, com o respeito devido ao seu caraster, sem offensa nem de sua pessoa, nem outra cousa alguma mais, que por sua condigio e genero, por ella nio se poderia conservar com os mais na recoleta; porque quer muita quietagioe socego nella, ¢ nio por outra cousa; pois é elle am Sacerdote muito honrado e de muito bom procedi- mento e vida, como a todos consta; transferindo esta segunda nomeacio de Administrador da referi- da Capella por morte do Padre Manoel Vidal de Negreiros, na pessor do Padre Mathias Vidal de Negreivos, ¢ sendo caso que 0 Padre Manoel Vidal de Negreiros, morra, sem estar de missa o Padre Mathias Vidal de Negreiros; iré este continuando com a sua administracie, com obrigagiio de por Cura na dita Capella de Nossa Senhora do Desterro, até se elle ordenar parao poder ser; ¢ por morte do dite Padre Mathias Vidal de Negreiros, elegeré en- tre os mais Sacerdotes pessoa que sirva de Admi- nistrador e Cara, na forma que se contém na insti~ REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN, 103 tuigdo que tem feito a referida Capella; -e esta re- solugio elle Administrador e instituidor quer que se cumpra com todos os mais pontos ¢ clausulas, fran— quezas ¢ mais particulares..que na dita instituigio se relatam 3 por qtanto della somente niio innova mais, que, a dita eleigiio do Padre Antonio de Souza Ferraz, para transferir no dito Padre Mathias Vidal de Negreiros, ¢ niio em outra cousa mais, porquante é sua vontade que se cumpra. dita instituigao, ¢ os Administradores a administrem com o eneargo que lhes deixa, porque aisto nfio ha invocagdo algama nem é sua intengiio faze-lo sen&o na eleigio referida E por esta maneira disse que havia por feito este instrumento de que se tiraria copia para andar an - nexa é dita instituigio ¢ para fazer este pedido; e cu Tabelliio como pessoa publica estipulei e aceitei em nome dos ausentes a quem a favor delles tocar possa, @ trasladar o traslndo necessario; sendo a tudo presentes as testemunhas abaixo que todas as- signaram com o instituidor e outorgante; e eu An— tonio Saraiva Leio, Tabelliie do publico judicial e notas que 0 escrevi. —André Vidal de Negreiros.— Manoct de Macedo.—-Joxé Pacheco de Azevedo.—-Do- mingos de Vasconcellos.—Manoel de Almeida Fonseca. It CARTA REGIA DE 6 DE JANEIRO DE 1681, APPRO’ N VANDO A RLEVA- GRO DA CAPELLA DEITAMBE A CaTHEG u! SEPARADA DE GOIANNA. Se tee Lu Principe como Regente e Governador dos Reinos de Portugal e Algarves, do Mestrado, Cavailaria ¢ Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo. Faco saber que, havendo consideracdo -ao que Se me representou por parte de André Vidal de We- greros, em razio de se lhe haver-por boa a. creagh que o Reverendo Bispo de Perntinbuod fez da Ga: pella de Nossa Senhora do Desterro em Parochia, sita no districto do rio de Itambé, Freguezia de Lot REVISTA DO INST. ARCH. BE GEOGR, PERN. Goianna, Termo da Villa de Ttamaracd, e tambem haver por boa a apresentagio que o mesmo Bispo lhe concedeu da dita Igreja, para elle e seus successores e admiuistradores que forem da dita Capella; e visto © que, me apresentou resposta do Procurador Geral da Ordem, hnvendo respeito 4 muita utilidade ¢ con- solagio que reeebe o povo daquelle districto em te- rem Parocho que lhe administre os Sacraments ; a larga fazenda com que o dito André Vidal dotou esta Capella, e niio ter duvida o Vigario da Matriz de Goianna, de cuja Freguezia se dividio esta nova: Hei por bem ¢ me préz haver por boa a creagio que o Bispo fez da dita Parochia, sem embargo de que para isto devia haver faculdade minha; e outro sim: Hei por bem que elle dito André Vidal de Negretros e seus successores, Administradores que forem da dita Capella, possam nomear esta Igreja em sujeitos eapazes, com declaragao que os moradares serio obri- gados a tirar carta de apresentagio por mim assigna- da no meu Tribunal da Mesa da Consciencia e Or- dens, dentro de um anno depois de nomeados; e nes- ta forma lhe concedo o Padroado da dita Igreja, em cuja concessiio nullamente se intromettee 0 Reverendo Bispo; porquanto a Mim sémente, como Mestre da dita Ordem pertence o Padroado das Igrejas e con- cessio delles em todas as conquistas destes Reinos; eo dito André Vidal de Negreiros e os seus successo- res serio obrigados a pagar ao Vigario desta nova Parochia e trazer a Igreja bem ornamentada; tudo na forma da escriptura ¢ doagao da dita Capella. Esta valeré como Carta, posto que sem effeito haja de durar mais de um anno, sein embargo de qualquer Proviséio, ou Regimento em contrario, e se cumprira sendo passada pela Chancellaria da Ordem. ~——Antonio de Oliveira de Carvalho, a fez em Lisboa, aos 6 de Janeiro de 1681. Princrre. REVISTA DO INST. ARCH. E GEOG. PERN. 165 TT INFO Macho DU PROVEDOR DE AUSENTES, CAPELLAS KE RESIDUOS DA CIDADE DA PABATIBA, Eat 11 DE ABRIL DE 1751, SOBRE A ADMINISTRAGAODA CAPELLA DS tTeMBs QUE OTADRE MANOEL PERREIRA, REQUERIA. Senkor. — O Governador’ que fot da Capitania de Pernambuco André Vidal de Negreiros, instituio uma Capella por invocagio Nossa Senhora do Des- terro de Itambé, como consta desde folhias 2’até fo- Ihas 9, @ nomeando para Administrador o Padre Manoel Vidal de Negreiros, ¢ por sua morte ou au- cencin o Padre Antonio de Souza Ferruz, ambos Sa- eerdates do habito de San-Pedro, como se vé da no- neagito a folhas 4; © fallecendo o dito Padre nomea- do em segundo lugar, deelara que, os Sacerdotes que existirem na dita Capella entre si elegerio a ¥o- tos um dos ditos Sacerdotes para Administrador, como se vé a folhas cinco; e ainda no easo que no haja mais que um Sacerdote unico, este servird de Administrador da dita Capella; e fallecendo o dito Administrador e nfo ficando outro Sacerdote na dita Capella para oceupar a referida administragio sem que aquelle Administrador tenha lugar de nomear outro, que para isso Ihe concede faculdade ; elle doa- dor nestes termos queria e era eontente que, corra com a dita administragiio a Santa Casa da Misericor- dia de Lisboa, como se vé a folhas 6 ; ordenando que o Rvm. Bispo tome contas ao Administrador de tres cm tres annos e proceda contra o mesmo na forma ‘jue entender ser conveniente ; folhas sete e ito. O dito instituidor André Vidal de Negreiros, re- vegou depois a nomeagio que havia feito do Padre slutonio de Souzu Ferraz para segundo Administra- dor, nomeando em lugar deste ao Padre Mathias Vie dal de Negréivas, com a obrigagdo de por Cura na dita Capella de Nossa Senhora do Desterro de Itam- hé, até elle se ordonar de missa, para o poder ser; e por morte do dite se clegera entre os mais Sacerdo. 106 REVISTA Do INST. ARCH. & @voGR. PERN, tes pessoa que sirva de Administrador férma que’se eontinha na institnigho que tink na dite Capella, come se vé-na escriptura a folhas Este segundo womeado Mathias Vidal de gretros n&o se ordenou de inissa, ¢ entrando na admi- nistragio da dita Ospella, nfo satisfez os encargos ¢ obrigagdes della, dissipou prodigamente os bens da mestia; pelo que o Rvm. Bispo D. Frei José Fialho procedéy contra elle na forma de instituigio a folhas oito, 0 privon da administragios assignando-the aL gumas terras c alguns escravos park seu sustento, por ser filko natural do instituider ; pondo na dita Ca- pella um Clerigo que a administrasse que fol o Padre José Gomes Pacheco, o qual se ausentou da Capella _ deixando a sua administragio; e a0 depois o Rym. Bispo actual pbz por Administrador o Padre Marcos — © qual chamou para sua companhia € fez sociedade, pelo que se diz, com o Capitio Manoel Thomé’ da Fonseca Boto, que o Supplicante chama intrazo e que hayerd seis aunos que 6 morto; e na adminis. tragiio. da dita Capella se acha de presente o Padre Francisco Lopes Barros, gic o Rvm. Bispo actual permittio e tem approvado. Fallecendo Mathias Vidal, nomeot ao Steppli- cante Manoel Ferreira, Cura, para Administrador da dita Capella, como se vé no seu testamento a fo— Jhas trinta e cinco; pelo que pede a Vossa Magesta- de seja mettido de posse da mesma Capella; e poste que o seu requerimento possa ser admissivel, conttn- do parece que deve primeiramente ser ouvido e con- vencido pelos meios ordinarios e competentes 0 pos- suidor e Administrador da dita Capella Padre Fran- cisco Lopes Bairoz, que tem approvado o Rym. Bisp actual, no que Vossa, Magestade mandard o que {03 servido. Goianna 16 de Abril de 1751-0 Prove: dor de Ausentes, Capellas e¢ Residuos da Cidade da Parabiba, José Ferreira Gil. . Recife -~ Typographia do Jornal do Recife —— 1869. QUARTO ANNO--TOMO SEGUNDO ABRIL DE 1867-—N. 15. 90° Sessiio ordinaria no din 49 de Agoute de 1667, segs Presidencia do Exm. Sr. Conselheiro Monsenhor Muniz Tavares. ‘A’s 11 horas da manhi, presentes os Srs. Drs. Soares de Azevedo, Rapozo de Almeida, Cunha Fi- zueredo Junior, Cicero Peregrino e os Srs. Padre Line do Monte Carmello, major Salvador Henrique, eo socio correspondente Antonio Braziline de Hol- landa Cavaleanti, abre-so a sessiio. cedente, que & approvada. : O Sr.Secretario perpetuo menciona oseguinte expediente: Um officio do socio effective Dr. Ayres de Al- buquerque Gama, offertando ao Instituto tres exem- plares dos Annaes da Assembléa Provneial no: vor- rente anno. —Inteirado e que se archivasse a of- forta. : O mesmo Sr. Seeretario perpetuo d& conta das seguintes offertas : + Varios numeros do Diario de Pernambuco, pelo consocio Dr. Figueiréa. Dous numeros: do Mercantil, eum da Opiniao Nacional, pelas respectivas redacgdes. i Duas balas de pegas, encontradas no. sitio do Reducto om Santo Amaro, pelo seu proprietario e offertadas pelo Sr. Manoel Fos Soares de Avelar Junior, ic : REVISTA DO INST. ARCH. .£ GEOGR. TERN. LOT, OSr. 2 Secretario da leitura da acta da ante. - 108 REVISTA DO INST. ARCH, £ GROGR. PERN. Outra, encontrada no lugar da fortaleza do Ar= raial Novo, pelo proprietario daquelle sitio o Sr. Te- nente-coronel Thomaz Cavalcanti da Silveira Ling, Todas estas ofertas siio reeehidas com agrado e mandanvse archivar. Vem 4 mesae é remettida & commissio reapec- tiva uma proposta para admissio de socios honora— ries. Entra em discussie 0 parecer adiado da com- missiio de Redacciio da Revista, sobre a proposta do Sr. Dr. Amaro de Albuquerque, relativamente a suppressiio das _mensalidades dos socios elfectivos; e terminada a discussiio, 6 o parecer approvado, sen— do regeitada a proposta. O Sr. Dr. Rapozo de Almeida faz a leiturado seguinte parecer, que é approvado. « A commissiio de trabalhos historicos e archeo- logicos, quando visitou as ruinas da fortaleza do Ar- raial Novo do Bom Jesus, demorou-se mui pouco tempo na pesquiza a que procedeu; e por isso 6 fa— cilde ver que nio pde entrar no detido exame que exigia um assumpto to interessante. » « O resultado do rapide exame que fez dessas preciosas reliquias archeologicas, j4 0 consignou no relatorio e parecer que offereceu ao Instituto na ses- silo passada, mas vem agora ao seu conhecimento, que ainda Ihe resta bastante a explorar na propria localidade. Ainda alli existem umas ruinas mais cologsaes, que talvez sejam a do engenho do fulano Bribéo de que falla a historia; ¢ tudo isto nao visto 6 exami- nado pela commissito, porque, além de nilo lhe bas- tar o tempo nfo foi na occasiao informada destas im- portantes noticias. Como é sabido tres eram as fortalezas que am- paravam as estancias ou postes avangados dos inde- pendentes contra o Recife; a da Barreta, a do Ar- raialeada Bateria. Achados ¢ verificados estes tres REVISTA DO-INST. ARCH, E GEOGR. PERN. 109 poutos do theatro das operagies, julga a commissiio, que o Instituto prestaria um bom servigo ao futuro historiador. Ora a fortaleza do Arraial-Novo j4 se acha verificada, ‘@ péde marear-se.com toda a confian- Gt nos mappas: as da Bateria eda Barreta tem a commissio as mais bem fundadas esperangas de vo-las poder marcar em uma de nossas proximas ses- s0e€s. « Para este fim requer a commissio: « + Que seja convidado o nosso prestimoso con- socio o Sr. Dr. Gervasio Campello a aggregarse & commiasio, afim de prestar-lhe os bons servigos de sua instrucgo especial. « 2+ Que seja authorisado o nosso thesoureiro.a satisfazer as indispensaveis despezas com 0 exame supplementar do Arraial Novo, das localidades.da Barreta e Baterias, da descarnacio da muralha so— bre que esté levantado o frontespicio da Igreja do Pilar e com o exame da matriz da Varzea e suas tradigdes. Sala das sessdes do Thistituto Archeologico, 29 de Agosto de 1867.—Francisco Manoel Raposo de Alneida .—Salvador Henrique de Albuquerque.—Pa- dre Lino do Monte Carmello Lana. » E' lida e approvada « seguinte proposta: « Proponho que se authorise a commissiio de tra- balhos historicos e archeologicos para dar andamento 20s da erecgie da columna proposta, no lugar do Ar- taial Novo, junto dos vestigios que ainda restam da fortaleza do Bom Jesus; sendo o nosso socio o Sr. Dr. Gervasio Campello, como engenheiro, ineumbido de dar o riseo da mesma columna e de organisar 0 respective orgamento, e que depois de apprevado pe- lo Instituto seja convidado o proprietario daquelle Sitio Sr. tenente-coronel Thomaz Cavalcanti da Sil— veira Lins para presidir a execugao daquelles traba~ phos, segundo o seu patriotico e generoso offereci— mento. Bee eee eee cee 110 REVISTA DO INST, ARCIL. E GEOG, PERN. « Sala das sessées do Instituto, 29 de Agosto de 1867.—Salvador Henrique de Albuquerque. » O Sr. Dr. Rapozo de Almeida declara que o n. 8 da Revista Trimensai do Insitiuio, acha-se em composicao, e que nestes quinze dias estard impres~ so e distribuido. O mesmo Sr. Dr. Rapozo de Almeida obtendo a palavra leu a primeira parte da sua memoria sobre a introducgiio, permanencia c extincgio da compa- nhia de Jesus em Pernambuco. Nesta primeira parte mostrou que a companhia fora introduzida em 1551 pelo Padre Manoel da No- brega, ainstancias do donatario Duarte Coelho e mais moradores principaes de Olinda: que em 1568 estabelecora o provincial Luiz da Gri as primeiras classes de ensino: e que em 1576 fora definitivamen- te creado 0 collegio por ordem de El-Rei D. Sebastiao e como donativa perpetuo de 4008000 annuaes, Na segunda parte promette o Sr. Dr. Rapozo de Almeida tractar da permanencia ¢ extinegio da com— panhia de Jesus com a exhibigio de documentos ra~ ros ¢ ineditos . A memoria, além das citagdes da chronica e de cartas do Padre Nobrega; é escripta segundo a phi- losophia da historia. Achando-se a hora adiantada fica adiada a lei- tora. © Sr. Presidente da para a ordem do dia da proxima sessio, que devera ter lugar no dia 12 de Setembro vindouro, trabalhos e pareceres de commis- sées, © continuagio da leitura da memoria do Sr. Dr. Raposo de Almeida. Levanta-se a sessiio.~- Monsenhor Franetsco Muniz Tavares, Presidente .-- José Soares de Azeve- do, Seeretario perpetuo.--Salvador Henrique de Al- buquerque, 2° Secretario. REVISTA DO INST. ARCH. BE GKOGH, PBRN. lil 9 Sessito ordinaria no dia 12 de Setembro de 186%, Presidencia do. Exm. Sr. Conselheiro Monsenhor * Muniz Tavares. A’s LI horas da manhii presentes os Sr. Drs. Joaquim Portella, Nascimeuto Feitosa, Rapozo de Almeida, Cunha Figueredo Junior e 05 Srs.- Padre Lino do Monte Carmello Luna, major Salvador Hen- Tique, e 0 socio honorario Commendador Antonio Joaquim de Mello, abre-se a sessio, : O Sr. 2 Secretario dé leitura da acta da ante~ cedente, que & approvada. O mesmo senhor no impedimento do Sr. Seereta- tio perpetuo dé conta do seguinte exp2diente: Um officio do Sr. Secretario perpetuo commu— nicando que por doente deixava de comparecer.—In- teirado. Outro do Sr. Osmin Laporte, communicando que niio tom comparecido as sessdes do Instituto por se achar doente, e em seguida agradecendoao Sr. Dr. Aprigio Guimaraes, a traducgio de seu diseurso de recepgio.-—Inteirado. Em seguida © mesmo Sr. 2° Seeretario mencio- na as seguintes offertas: , « Varios numeros do Diario de Pernambuco, pelo cansocio Dr. Figueirda. Dous numeros do Mercantil, um da Opinitio Na- cional @ Ls da Revista: Mensal do Gremio Scientifico, pelas respectivas redacgdes. Todas estas offertas siio recebidas com agrado ¢ mandam-se archivar. Vem 4 mesa a seguinte proposta: .__« Proponho que seja nomeada uma commise&o de cinco membros inclusive o orador e 0 secretario per~ petuo do Instituto para rever os estatutos e propor as reformas que julgar conveniente. * « Sala das sessdes do Instituto, 12de Setem— 112 REVISTA DO INST. ARCH. B GBOG, PERN. bro de 1867.—WSalvador Henrque de Albuquerque. » — Vai a imprimir, E' lido um parecer da commissiio de admissiio de socios approvando os Srs. Conselheiro José Bento da‘Cunha Figueredo e conego Francisco José Tavares da Gama para socies honorarios e para correspon- dentes o Sr. Coronel Francisco José da Costa Barros. Corre 0 escrutinio e sio approvados os mesmos senhores. O Sr. Dr. Rapozo de Almeida, obteado a pa- lavra continda a leitura de sua memoria sobre o esta- belecimento, permanencia e extinegio dos Jesuitas em Pernambuco, onde além dos factos historicos apurados pela critica e pelo exame e confrontagiio de valiosos documentos, abunda o mesmo senhor nes- ta segunda e terceira parte de sua memoria em diver- sas consideragdes philosophicas . Finda a leitura, o Sr. Presidente dirige-he al- gumas palavras de agradecimento sendo cumprimen- tado pelos demais socios presentes * Dada a palavra ao Sr. Commendador Antonio Joaquim de Mello, faz a leitura de um trabalho sen, com o titulo de Reflewies sobre a memoria do Sr. Co~ nego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, denomina- da Luiz do Rego ¢ a Posteridade, e achando-se a hora adiantada fica adiada a leitura. O Sr. Dr. Nascimento Feitosa obtendo a pa~ lavea faz algumas consideragies, as quaes siio res— pondidas pelo Sr. major Salvador Henrique, em re- sultado do que o Instituto resolve authorisar ao Sr: Thesoureiro a pagar‘a importancia do quadro para 68 retratos dos socios fundadores do Instituto. Em seguida o Sr. Padre Lino do Monte ins- creve-se para lér na proxima sessio uma memo- ria sobre a authenticidade do lugar chamado Bo- queiriio. & Ets trabalts iniy toi tevolvide per seu autor. REVISTA DO INST, ARCH. E GEOGR, PERN. 118 O Sr. Dr. Rapozo de Almeida, inscreve-se para, ler em tempo opportune quatro miemorias: A 1* sobreo Arraial Novo do Bom Jesus, man— dado construir por Joao Fernandes Vieira. A 2 sobre o real do Bom Jesus ordenado por Mathias de Albuquerque, ‘ A 3" sobre a introduecio de diversas ordensre— ligiosas em Pernambuco, das casas que fundaram e do seu estado actual. A 48 sobre og principaes herdes da lucta contra os hollandezes e refutagao de uma passagemda His— toria do Brazil do Sr. Warnhagem, relativa a Joao Fernandes Vieira. O Sr. Presidente d& para ordem do-dia da pro~ xima sessiio que dever& ter lugar no dia 26.do cor— rente, trabalhos e pareceres de commissdes o conti- nuagio da leitura do trabalho do Sr. Commendador Antonio Joaquim de Mello. _ _Levantese a sessiio.—Afonsenhor Francisco Mu- niz Tavares, Presidente .~José Soares de Azevedo, Secretario perpetuo.~—Salvador Henrique de Albu- querque, 2° Secretario . 92) Sessiio ordinaria no dia 26 de Setembro de 1867 Presidencia do Exm. Sr. Consetheiro Monsenhor Muniz Tavares. A’s 11 horas da manha presentes os Srs. Drs. Joaquim Portella, Soares de Azevedo, Cunha: Fi- gueredo Junior, Gervasio Campello, Raposo de -Al- hieida e os Srs. Pade Lino do Monte Carmella; ma- Jor Salvador Henrique, 0 socio honorario commen-— dador Antonio Joaquim de Mello eo corresponden - te cirurgido: Ferreira de Almeida, abre-se a seasio. 0 Sr. 2- Secretario dé leitura da acta da antece- dente que é approvada. . O Sr. Seeretario perpetuo da conta do seguinte *xpediente: lit REVISTA DO INST. ARCH. E GEOG, PERN, Um ollicio do Sr. Osmin Laporte, socio effeeti<” vo communicando, que ainda nio lhe é possivel com- parecer 4 sessio por nao th'o permittirem’ os seus continuados soffrimentos.—-Inteirado. O mesmo Sr. Secretario perpetuo dé conta das seguintes offertas: Varios numeres do Liario de Pernambuco, pelo consocio Dr. Vigueirén. Sgt Dous numeros da Opinide Nacional e dous do Afercantil, pelas reszectivas redacgies. Ambas estas offertas siio recebidas com agrado e mandam-se archivar. Vem 4 mesa uma proposta para admissio de socios correspondentes.—~A’ commissio respectiva. 0 Sr. Dr. Rapozo de Almeida relatando a coms missiio de trabalhos historicos ¢ archeologicos com- munica que a mesma commissio tem visilade e exa- minado alguns lu ard em uma das proximas s\ Dada a palavr: Joaquim de Mello, finda elle a leitura de seu traba- tho, sendo cumprimentado pelo Sr. Presidente e mais membros presentes Achando-se a hora adiantada, o Sr. Presidente declara adiada para a proxima sessio a leitura da memoria do Sr. Padre Lino do Monte Carmello, so- bre a authenticidade do lugar chemado Bogueirao nos montes Guararapes. O mesmo Sr. Presidente dé para ordem do dia da proxima reuniio que deveré ter lugar no dia 10 de Outubro vindouro, trabathos ¢ pareceres de com- missées. Levanta-se a sessiio. — Monsenkor Francisco Muniz Tavares, Presidente .— José Soures de Azeve- do, Secretario perpetuo.—Salnadar Henrique de Al- buquerque, 2° Seeretario . S * Nao foram devalvidar pelo seu nutor as reflowtice sabre a Memoria de Sr, Conego Binticita, dennuinars taviz pa Reae i & bostntitea ne REVISTA DO INST. AROH. H.GEOaR. PERN. 115 93! Some ordinarig, no dia 10 de Outabre de 1667. " Presidencia do zm. Sr. Oonsetheiro Monsenhor Muniz Tavares. As 11 horas da manhi presentes os Srs. 7 Joaquim Portella, Soares de Azevedo, Canha Figue. redo Junior, Rapozo de Almeida, Gervasio Campello, e 0s Srs. Padre Lino do Monte Carmello, major Sal. vador Henrique e 0 socio correspondente Ferréira de Almeida, abre-se a sessifo. ; O Sr. 2° Secretario dé leitura da acta da ante- certente gues approvada. r. Seeretario tuo d&-« in- tas of perpetuo dé conta das Seguin: Varios numeros do Diario de P, consocio Dr. Figuoirda, ame , On, 18 da Opinio Nacional, pela respectiva redacgiio. ' Ambas estas offertas so recebidas com agrado e mandam-se archivar. ‘ E' lido um parecer da commissao de admissio de socios approvando os Srs. Drs, Gabriel Soares Rapozo da Camara, José Vicente Duarte Brandio, Antonio’ Vicente do Nascimento Feitoza Filho, e 0 Sr. Barfio de Utinga, para socios correspondentes . Corre o eserutinio @ sito approvados os mesmos senhores. : _O Sr. Secretario Perpetuo aprosenta o balange de receita e despeza, verificado no trimestre de Julho a Sctembro.A’commisso de fundos e orgamentos. | Came a Felavre, ao Sr. Padre Lino do Monte ello faz elle a leitura de s i authenticidade do lugar chamado.B, sdiekdo nee ace tes Guararapes, finda a. qual o, Sr. “Presidente diri- ge-lhe algumas.palavras de agradecimento, sendo cunprimentado pelos demais socios presentes. 0 Sr. Dr. Rapozo de Almeida, insereve-se pata z RTI TR TTT TRC eee LES ON LT TE IR 116 —- REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN. ler na proxima scssio uma memoria historica ¢ cri- tica sobre a fundagiio do recolhimente da Gloria, na qual se mostra que o Deiio Araujo Gondim, nifo fora o verdadeiro fandador. O Sr. Presidente d& para ordem do dia da pro- xima sessiio que deverd ter lugar no dia 24 do cor- rente, trabalhos ¢ pareceres de commissdes. Levanta-so a sessio.-—Monsenhor Francisco Muniz Tavares, Presidente.—-José Soares de Azeve- do, Secretario perpetuo.—Salvador Henrique de Al- buguerque, 2° Secretario. Memoria sobre a verificacte do lugar chamado Boqueiraé nos montes Guararapes, & que 86 re- fere aacta supra. As digcussécs sobre qualquer ponto historico, siio sempre uteis, e¢ sobremancira proveitosas, Siio ellas como um estimulo poderoso para se descobrir a verdade eclypsada pelo indifferentismo criminoso, ou por uma ignorancia deseulpavel. ‘As discussdes, pois, excitam o espirito curioso e dedicado & historia de seu paiz, 4 estudos aturados, 4 meditagoes profundas ¢ 4 investigagdes minuciosas. Dellas se colhem vantagens grandiosas ; procede 0 conhecimento de muitas preciosidades archeologicas esparsas por mios destruidoras ou occultas no bara~ tro do esquecimento ; dellas resulta ainda a veraci— dade de um ponto historico pouco apreciado, ¢ final- mente por meio de uma discussio calma e reflectida se pdde chegar ao alcance de muitas verdades histori- cas, ¢ firmar com o sello da authenticidade o sitio ou localidade aonde existiram monumentos gigantes¢os, soberbos obeliscos, ou que nellas se obraram faganhas bellicas, prodigios de valor ; mas que hoje com o per- passar dos tempos esses lugares de gloriosas tradigdes, se tornaram para os vindouros desconhecidos, duvi- dosos ¢ as vezes contravertidos. Sen PR Rr a ag ee REVISTA bO INST, ARCH. B QEOGR, PERN. = 117 ‘Tendo nds colhido os dados que nos pareceu suf- ficientes para elaborar uma memoria acerca dog mon- tes Guararapes e a fundagio da igreja alli ergui pela gratidio militar em honra da Virgem dos Pra~ zeves ; trabalho este que ja ia bastante adiantado, e no qual necessariamente teriamos de passagem, to- car no lugar conhecido pelo nome——Bogueirao, —po- sigio vantajosa naquelles montes, aonde a intrepidex ¢ denodo dos nossos guerreiros subiram de ponto, na batalha dos Guararapes com os hollandezes, no amo de 1648 ; suspendemos a penna quando onvimos ° nosso amigo e collega o Sr. Dr. Francisco Manoel Rapozo de Almeida, ler em sessiio deste Instituto, uma memoria sobre a authenticidade do monte das Taboeas, referindo-se aos Guararapes dizer : que, 0 boqueir@o cra uma entrada que havia_no monte co nhecido hoje com o nome do-~delegrapho,—ou que en- (re as barreiras do mesmo monte ficava o lugar do bo- queiran. Pedimos venia ao nosso amigo e coll discordar de sua opinifio, pois que, ‘do esis cated, que fizemos, e das pesquizas reiteradas a que pro- cedemos no lugar citado, viemos ao conhecimento do contrario. - Pessoalmente nos dirigimos por mais de duas Yezes, aos montes Guararapes, lugar fecundo de tra— digdes mui gloriosas, e munido das obras historicas, Castrioto Lusitano, Roberto Southey, Portugal Res~ fawrado e Warnhagem ; com os olhos fitos naquellas montanhas, percorrendo suas encostas, ¢ ainda mais esclarecide com as informagies, que solicitamos de pessoas do lugar, de idade avangada, passamos a cxaminar, afim de verificar, qual fora o lugar que chamavam—bogueirao, Primeiramente é de summa utilidade lembrar ue os Guararapes comprehendem tres montes divi- didos ¢ separados por grotas e mattos: o 1: esté collocado ao Jado do norte e chamavam barreiras, © REVISTA DO INST. ARCH. E GROG, PERN. 118 depois denominaram, por monte do i viride de ter o General de Pernambuco Lis @ e- go Barreto, mandado no anno de 1817, ahi collocar igualsignal decommunicagio, para transmittir noticias da villa do Cabo ao Recife : este monte extende stax abas para a campina do Jordio que the fica ao norte. 2 monte 6 o que tem a frente para o poente, e chamam-—-Oitizeiro (em virtude de algumas arvo— res de fructo oitiz, que nelle existiam) o qual vai discambando suas encostas para as varzeas do enge- nho Guararapes. é O 3- & o que fica mais proximo da estrada geral que segue para a villa do Cabo e olha para o naseente, em cuja eminencia, para o lado do poente, se vé ergui- daa igreja de Nossa Senhora dos Prazeres: em frente deste monte est& hoje edificada a casa daestagio da via ferra. ae Tratando agora do assumpto de que nos occu mos daremos uma ideia do que era o irdo no tempo hollandez ; segundo descrevem os historiado- res ; apresentaremos o resultado das pesquizag e exames a que procedemos no lugar, pelas quaes che- gamos 20 conhecimento da authenticidade do referi- do boqueirto ; tocaremos na mobilidade, ou direcgie, que tomara o exercito libertador para os montes Gua- rarapes, bemcomono plano da batalha alli adopta— do ; finalmente descreveremos a mudanga ou perspec- tiva, que hoje apresenta o lugar do referido boguewéo. I Segundoo que dizem os Lexicographos,—-boguer- rio niio & outra cousa seniio uma quebrada aberta com grande bocca em muro, vala, ou qualquer za; grande bocca de rio, ou serra, =e © bogueirdo, que havia no monte Guararapes 10 tempo da guerra hollandeza, e conhecido assim pelos aguerridos generaes, era a entrada estreita, ou gat iW REVISTA DO INST, ARCH, EB GEOGR, PERN. ganta quese encontrava nomonte, que olhw 0 nascente ; isto 6 uma fskite berfcceweee medal de uma lagoa, que the ficava em frente, e © so- pé da montanha, que apreséntava um desfiladeiro ; faxa esta que estreita no comego ia alargande pro- porcionalmente, eontende pouce tais ou menos de largura uns cem 08. Fi IE a aes O Castrioto Iusitano, eseripto por Fr. Raphael de Jesus, no anno de 1679, denteve 0 bait te seguinte forma: « O ultimo destes.montes, sahindo delles para o mar assents o pé sobre um meio ¢iron— lo de terra ch& pela parte dovsul, que tambem 0 cer- ca pelo mar (pela terra fica unido a outros. montes) cingido pela parte da campins deum dilatado alaga- digo, causado dé uma lngoa que lhe a4 principio, for- mando-se uma faxa de terra solida que teré da lar~ gura pouco mais de cem passos, entre o alagadico e o monte, paraa qual se entra por-um boqueitao que formou @ natureza entre a e uma lingoa de mat- to que desce do dito monte. Pela dita-bocoa entrou a nossa gente, é se alojou naquella faxa de terra com as commodidades’e fortificagdes, que lhes dava, o si- tio nfo sendo a menor, o ficar escondida aos olhos do flamengo, porque s6‘dos montes nos podia descebrir.» O conde de Ericeira, na sua obra—Poriugal Res- ‘aurado—escripta em 1750, ¢ impress em Lisboa no seguinte anno, trata do boqueirao deste modo: « Mar- chou o exercito para os montes Guararapes, nome que na lingoa dos gentios quer dizer estrepito de gol- pe, originando-se do ruido que fazem ‘as agoas doin- verno pelas cavidades daquelle sitio. : « Fica. tres quartos de legoa apartade do mar, duas.do Forte da Barreta onde os hollandezes esta~ vam alojados'e distava tres dos quarteis que a nossa gente occupava. Pa a, « Pela parte do mar se estende. uma’ eampina rasa, porém quasi toda intransitavel a respeito das aguas que a cobriam, @ 86 ao pé dos montes corre uma / ees 120 REVISTA DO INST. ARCH, E GBOG, PERN, faxa de terra firme com cem passos de distancia.na — largura, ficando nos dous lados em um a povoagito de Muribeca, em outro uma lagoa. » Roberto Southey na sua Historia do Brazil fal- lando da batalha dos Guararapes assim se exprime a respeito do begueirao : « Estendem-se as abas desta serra (Guararapes) até tres milhas de distancia. do mar, sendo plano ¢ pantanoso o espago intermedia- vio ; daqui vio os montes erguendo-se gradualmente. a grande altura, dirivando o nome do bramir das suas torrentes. Onde a serrania mais se aproxima do mar, passa o unico caminho por uma tira de terra firme de uns cem passos de largura entre o sopé dos citeiros, ¢ um tremedal extenso, situagio notavel- mente semelhante ao passo das Termopylas ; ¢ a em- trada para este desfiladeiro é entre um lago, que for- ma o pantanal, e um bosque, que vem descendo das montanhas. » O Sr. Francisco Adolpho de Warnhagem na sua Historia Geral do Brazil, diz: « que 0 boqueirao era ou 0 passo, ou éspecie de isthmo, que fica tres legoas ao sul do Recife, entre os montes Guararapes e os ala gados do mar.» . No correr de mais de dous seculos 0 boguetrao assim descripto, nio pdde ostentar hoje a mesma pers- pectiva de entao ; todavia, quem sahir da casa da estagao da via ferrea, do lugar dos Prazeres, depara logo o monte, de que fallam os historiadores; vé ogran- de desfiladeiro, que forma um meio circulo pata o la- do do sul em seguimento da estrada geral de Muri- beca. Em frente deste monte, que olha para o nascen- te, ainda est bem visivel uma lagoa, se hem que em pequena eseala,a qual outr’ora estendendo-se denorte asul ia encontrar-se com o rio do Praia, que lhe fica do lado do sul, espraiava suas torrentes por toda planicie, queacireundava, tornando-se um lamagal intransitavel naquelles tempos. Entre o sop REVISTA DO INST, ARCH. & GEOGR. PERN. 121 ladcira e 0 tremedal se distingue a faxa ou tira de ter- ra firme de mais de cem passos aonde hoje existem plantagécs e pequenas casas de campo. tira de terra sendo estreita no comego do lado do norte, vai proporcionalmente alargando-se parao sul. Em fren- te da entrada para a réferida taxa de terra encontra- sea grande campina, que fica do norte, a qual ainda hoje conserva o nome primitive da bafalha, ho- je povoado, e beneficiado pelo trabalho do itor. Na epochs da invasio hollandeza os aguerridos generaes do exercito libertador, seguindo paraos montes Guararapes, procuraram o lugar que chama— vam bogueirio, como um baluarte, um antemural inexpugnayel, para ahi acamparem ‘suas tropas, por- que era justamente 0 boguetrdo uma entrada estreita entre o tremedal de uma lagoa, e o sopé da ladeira ; entrada esta que naquelles tempos era a unica ‘para o monte aonde pretendiam combater, e por isso Ro- herto Southy, 2 comparou ao passo das Thermopylas, © comparou bem, porquanto, segundo Bouillet, no seu Diccionario universal de Historia e Geographic, as Thermopylas era uma passagem entre’ o desfiladei- ro do monte Eta, ¢ a costa do golphe Maliaqui, na Grecia, a qual fechava a entrada desta pela parte da Thewalia ; esta passagem, que era inexpuguavel, tor- nou-se celebre pela heroica resistencia de Leonidas primeiro Rei de Sparta, no anno ‘de 480 antes ‘de Jesus Christo, e com a derrota de Autischo, 0 gran- de, batido pelos Romanos no anno de 191.” Para dar uma ideia ainda mais‘clara, 0 Sr. War- nhagem assemelhou o Joqueirao aum isthmo, para bem assignalar olugar emqueo mesmo existio. Ora, conhe- cendo-se pelo nome deisthmo a faxa estreita de terra, entre dous mares, ou a tira de’terra, que commu- nica uma peninsula, com outra terra firine; 0 bo- queirao de que se trata, sendo uma faxa'de terra es— lreita'entre o lamacal de uma lagoa, ¢ o desfiladeire

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