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Editora Quartier Latin do Brasil "Tel /fax: (85 11) 3101-5780 Rua Santo Amaro - 316 -loja- Bela Vista CEP 01315-000 - Sto Paulo - Brasil i Empresa brasileira, fundada em 20 de novembro de 2001 {1000S 05 DIREITOS RESERVADOS, Potida a repodo; tooo paca por quale cio rapes spade po sen rife, mcatiics fezrifios pogo ona | “hlttances Vinda a memorayioe/on a reroperaao total ou pci em como a into de } vung pe dost ora em gue skema ce prcesaneat edo Eas roi phase ‘Wht cusses pif da obs eas efor, A vila ds Grass amor pune rime 8h prigraes Chdigo Pena, com pena de rsdo em, busca €apreenso ‘Miche ders (a1 2 110 da Le 9610, de 1202198, Leidos Dios Autom) Pauto Crsar CONRADO Doutor em Dirito Tributério pela PUC/SP ‘Mestre em Dineito Tributéro pela PUC/SP Jui Federal em Sao Pao Profesor de Divito Tributirio e Procesual Tributirio do IBET ‘Profssor da PUC/SP Profesor da Fundagio Getti Vargas - FGV-GYLaw Processo TRIBUTARIO 3* edicao Atualizada com base no Novo Acordo Ortografico Editora Quartier Latin do Brasil 840 Paulo, inverno de 2012 ‘quartierlatin@quartierlatin.art-br ‘www.editoraquartierlatin.com.br 196 « Pavia Cesan Coxmano 9.3. PROCESSO JUDICIAL TRIBUTARIO 9.3.1, PROCESSO JUDICIAL EXACIONAL ‘A incluso de um dado processo tributario na classe dos exacionais depende, segundo opcao ja firmada, da prévia constatagaio de que 0 respectivo agente provocativo seria 0 Estado-fisco. Por exacional devemos entender, assim, 0 processo tributé- rio que, instaurado pelo Estado-fisco (sujeito ativo da obrigacéo tributéria), tende a efetivar, no plano fenoménico, 0 contetido da relagio juridica de direito material ja de antes constituida. Nesse conceito, ao que se percebe, nao se identifica a pers- pectiva de constituicdo da obrigasio tributiria, sendo apenas sua efetivacio — assim é, com efeito, uma vez dotada a Administra- io (Estado-fisco) do munus de, aplicando a lei de oficio', mancjar os instrumentos que 0 direito positivo the concede & guisa de constituir os fatos € relagbes de direito tributério Poderiamos dizer, numa certa optica, que a pritica, pelo Es tado-fisco, de atos tendentes & constituigao do fato juridico tri- butario e da cortelata obrigacdo enfeixaria um certo nivel de processualidade. De tal perspectiva, exsurgiria, entdo, a ideia de que, administrativamente, haveria processo exacional ~ vale dizer: processo instaurado por atividade do Estado-fisco Recusamos, entrementes, tal possibilidade: se processo ¢ rela- ¢do que deflui do fatojuridico confit, a pratica, pelo Estado-fisco, —_ supestva de Benvenutt (Do langarento: tora gral do ato, do proce mento e do process wibutri, p. 278-9 111 efimigdo de Seabra Fagundes para a atividade aéministrativa (0 controle dos nos adhninatratvos pelo Poder Jucictirio,p. 2-3) Processo THBUTARO « 197 dos atos pertinentes ao cto de postivagdo do direito tributério, no 0 caracterizaria Ao final, tornamos, entio, a afirmagao ja antes sugerida (4.1.2): o processo tributério exacional é, sempre, judicial, ser- vindo unicamente & efetivagao do contetido da obrigagio tribu- tria, que j4 se suporia desde antes constituida. E, por assim ser Gudicial), 0 instrumento que constitui o respectivo fato ju- ridico conflito serd, sempre, a petigdo inicial 9.3.1.1, EXECUCAO FISCAL 9.3.1.1... CONSIDERACOES INICIAIS A execugio fiscal é, por esséncia, a mais expressiva manifesta- ‘sdo da categoria que estamos a explorar: parte da prévia constitui- ‘cdo da obrigacao tributaria, avanca para a caracterizacao de pecu- liar forma de conflto (a omissao do contribuinte quanto a pratica de qualquer ato que tenda & suspensdo ou a extingao daquela ‘mesma obriga¢o), corporificando-se via petico inicial constitutiva do aludido fato (0 inadiraplemento do contribuinte). ‘Sua misao: permitir a veiculag4o de norma individual e con- creta que constitua 0 modo de efetivagao, no plano fenoménico, da obrigagao tributaria. , Seu pressuposto: a constituigdo da obrigacao tributiria. Nesse momento, duas adverténcias se interpdem, uma sobre a “missio” da execucdo fiscal, outra sobre seu “pressuposto”. 112 Para que se verique,recessério 6 A fique, seria mais do que a 66 atuagio esata» aluagio do proprio contibuinte, At, relorcese, © porqué de o proc: ib admin te de 0 io ) poe ou tenta por seus bens em nome de terceirs; VI possu debitos scntos ou nao em Divide Atva, que somadc:ultrapas: Sem tinta por cento do sew patriménio conhecido, Vil allena bens ou ditetos som proceder 3 devida comunicacio ao érgdo dda Fazenda Publica compeiente, quando exigvel em vitude de fe: VI tem sua inscri¢do no cadasto de contnbuines dclarada inapta, pelo ‘rgdo fazendario: IX pratica outos atos que difcutem ou impegam a satisfagdo de crit,” "Art, 3", Para a concessao da medida cautelar fecal € essencial 1 prova literal da constituicio do crédito fisca Também na especial sede da medida cautelar fiscal, vé-se presente oposi- ‘gio semelhante aquela que lancamos quando analisévamos 0 at. 156 do Codigo Tributiio Nacional: *catsa” versus “velculo”. Com efeito, @ ar. 2° da Let of 8.397/92 aol, de sua part, as “causis” que incitam a concessio ‘da medida em pauta (desde que asociadas ao requiito do incito | do at. 3), fenquanto o art. 3°, inciso I, prescreve 0 veiculo inttodutor, no universo juridico, daquelas mesmas causas, Processo Taro » 208 Assim é, com efeito, nem tanto pelo conteudo de tais dis- positivos, sendio por obra do que prescreve o pardgrafo tnico do art. 1° da mesma lei: “O requerimento da medida cautelar, na hipétese dos incisos V; linea b, ¢ VI, doart. 2, independe da prévia constituigto do crédito tributirio.” Referido preceito, ao que se vé, ndo apenas excepciona a regra do art. 1°, caput (“O procedimento cautelar fiscal poderé ser instaurado ‘apés a consttuigao do cridito, inclusive no curso da execugto judicial da Divida Ativa da Unido, dos Estados, do Distrito Federal, dos Muni ipios e respectivas autarguias”), chegando a criar ficgdo verdadei- ramente autolitica: medida cautelar fiscal ¢ providéncia de {ndisponibilizagao patrimonial que, nos termos do art. 4°, ocor- -rerd “até 0 limite da satisfagdo da obrigagio” ~ se essa é a providén- cia € seu limite, como outorgé-la sem conhecer-se a obrigacto ‘ributéria? Mais: como conhecé-la (a obrigagio tributaria) sem -constitui-la? Impossivel, assim nos parece, restando inviavel, por isso mesmo, a outorga do provimento especifico do qual tratamos na forma do retro-transcrito pardgrafo tinico, ou seja, a revelia de prévia constituigdo da obrigagao tributaria. 9.3.1.3, EXECUGAO FISCAL E MEDIDA CAUTELAR FISCAL? 0 TEMPO DA COBRANCA TRIBUTARIA Por ocasiaio do item 4.4., deixamos assentado que a pro- cessualidade exacional opera-se no particular campo da “‘juris- digo judicial”, repetindo-se, nesse campo, a formagao da cha- mada “jurisdigio administrativa”” E assim € no por outro motivo sendo porque & Adminis- tracdo nao € dado conduzir processo (administrativo) por ela propria ativado: (i) o titular de pretensdo, a guisa de realizé-la, 206 « Pauio Cesax Conravo dermubando resisténcia que reputa indevida (representada pela inatividade do contribuinte, reitere-se), ou a formula (a preten- sio) ao proprio drgio do qual a resistencia emana (assim faz 0 contribuinte, em nivel de processo administrativo), ou a terceito (caso do proceso judicial); (ii) se a dirigisse a si mesmo, néo seria titular de “pretensdo”, no pelo menos juridicamente, eis que restaria ela (suposta “pretensdo”) insusceptivel de controle; (iii) “pretensao” & vocabulo que, quando extravasa as barreiras da linguagem ordinéria e invade o diteito, supe controlabilidade, ‘© que, por sua vez, supe oponibilidade a sujeito diverso daquele que a possui (a pretensio). Pois bem, quer isso significar, reafirmando-se o que la, naquela passagem, se consignou, que, conquanto “auto-suficiente” no que diz. coma producao da norma individual e concreta constitutiva da obrigacao tributaria, a Administragdo assim nao se poe quando © tema € litigiosidade defluente da inércia do contribuinte. Nesse sentido, as execugdes fiscais ndo seriam representati- vas de um modelo exacional de processualidade tributéria, mas sim a propria encarnagao de tal categoria — por isso falamos, pouco antes, em univocidade. Disso tiramos: tal categoria processual nao pode ser avalia- da a0 sabor, tinico, do direito processual, devendo sé-lo, tam- bém (¢ principalmente), sob a Sptica do direito administrativo. Explicamos: vista pelos olhos do direito processual, execu- do fiscal seria representacao, em tiltima razio, do denomina- do direito de agio, contraface do conceito de jurisdigio; como tal, vinculada estaria aos vetores da inércia e da disponibilidade, principios textualizados pelos arts. 2° ¢ 262 do Cédigo de Pro- cesso Civil e cujos efeitos explicam, sob certa coloracao, 0s conceitos de prescrigio e de seguranga juridica. Nesse sentido, dirse-ia: subsumido que esté a0 conceito de direito de agao, 0 proceso executivo fiscal deve ser manejado no tempo proprio Processo Taincranso «207 (prescrigio), pena de se o “perder” (aquele direito). Mais: o sistema faz disponivel o diteito de acao, para assim realizar o valor da estabilidade (seguranga juridica). Nao obstante claras, reiteramos que tais proposigdes derivam de um “olhar processual”’, a0 lado do qual repousa um'outra visio: frente a inatividade do contribuinte, que ndo impugna o crédito tributario nem o quita, 4 Administracdo nao sobra outra alternativa senfio dar seguimento a cadeira de positivacao do direito tributério, provocando o Estado-juiz via peti¢ao inicial executiva fiscal. Por outra: sob a optica do direito administrativo, a atividade processual do Fisco ¢ imperativa, jé nao mais dispositiva; “deve” ocorrer, nao se retendo ao campo das meras “possibilidades”” Do cotejo dessas duas ordens, ter-se-ia, entio, um aparente paradoxo, a ser resolvido pela interveniéncia da nocao de res- ponsabilidade funcional: se a cobranca do crédito tributario “deve” ocorrer e assim nao se poe, sendo colhida, por exemplo, pela prescrigao, em face dos agentes administrativos de cuja atividade dependia referida cobranga deve ser dirigida paralela investigagao tendente a apurar eventual responsabilidade, tni- ca forma de fazer verdadeira a premissa segundo a qual a co- branga do crédito tributdrio deve, e no simplesmente pode, ocorrer. Pois & exatamente nesse contexto que intercede a figura da medida cautelar fiscal, instrumento jé de antes aventado ¢ que pode e deve ser visto nesse contexto que aqui abrimos. Com efeito, como variavel do fendmeno da cautelaridade, a espécie em questao visaria & emissao de providéncia protetiva do resultado pratico do proceso de execucao fiscal - a saber, reitere-se, a indisponibilizagdo patrimonial. Agora, note-se: se 0 processo de execucdo fiscal, sob a Optica administrativa, néo é ‘mera contingéncia, sendo uma imposigao, e, mais, se a cautelar fiscal vem A luz para aquele (0 processo de execucao fiscal) prote- 208 « Pauto Cesaz Consavo ‘ger, 0 que se hé de concluir nao ¢ outra coisa, sendo que tal modelo processual acess6rio, firmados os respectivos requisi- tos, € t4o imperative como o respectivo principal (execugéo fiscal), repudiando-se, aqui, a aplicagdo de expressdes caracterizadoras de pretensa discricionariedade. Por outra: (i) a Administragio nao seria dado nenhum juizo de conveniéncia ou oportunidade sobre a efetiva cobranca do crédito tributario, devendo promové-la; (ii) de igual modo, Administragio nao € dado nenhum juizo de conveniéncia ou oportunidade sobre 0 aparelhamento das providéncias acauteladoras necessérias & protecio do crédito em vias de cobranga. Nessa linha de ideias, mais do que criar um modelo proces- sual, a Lei n° 8.397/92 institui um dever (mais um!) para a Administracao: de permanente vigilancia ¢ apuraso, junto a cada contribuinte, de eventual causa geradora de pedido cautelar fiscal, pena de permitir 0 indesejavel desencadeamento de tais eventos e, com isso, a igualmente indesejvel perturbacao da eficacia pratica do processo de execugao fiscal. E assim ressurge, a evidéncia logica, a mesma conclusio adre- de langada: se a cobranga do crédito tributério “deve” ocorrer e, no obstante isso, a mesma se frustra pela verificacao de evento gue poderia ter sido evitado a luz de uma medida cautelar fiscal, em face dos agentes administrativos de cuja atividade dependia referido processo deve ser dirigida paralela investigagao tenden- te a apurar eventual responsabilidade, tinica forma, mais uma ver, de fazer verdadeira a premissa segundo a qual a cobranga do crédito tributirio deve, e no simplesmente pode, oconer ~ dai porque afirmamos, linhas antes, que o tema da cautelar fiscal sobreleva- -Se no exato momento em que olhamos 0 processo de execugao fiscal sob 0 prisma administrativo, A par de tudo isso, acorre, agora, o dado pritico, no qual penetramos por meio de uma singela indagagao: a quantas anda a cobranga tribrutéria? Pocesso TasurAuo «209° Cientes de que toda investigagao pragmatica é, em direito, das mais drduas, induzindo temerdrios (porque precoces) juizos de “verdade/falsidade”, nao desejamos, aqui, outra coisa, se- ‘nao reduzir em linguagem pelo menos um dado, justamente 0 que, como a pergunta antes formulada, apresenta-se dbvio: a cobranga tributéria é cronologicamente descompassada, & me- dida que se refere a créditos remotamente constituidos, Nao sem razao: olhada sob a éptica processual, a cobranca tributaria é, como ja visto, corolario do direito de aco, exercitando-se se- gundo as nogdes de “direito de ago” /"prescrigio”: tendo cin- 0 anos para cobrar, 9 Fisco assim 0 faz ~ cobra no tempo do direito, mas muitas vezes fora do tempo da viabilidade factual, cir- cunstancia que, ainda no campo da facticidade, amesquinha 0 potencial pratico da execugio fiscal. E bem certo, admitamos, que problemas juridicos no direito se resolvem. Destarte, se a cobranga no tempo do direito ¢ cobran- 6a juridicamente viavel, nada ha a opor-se, em principio, quan- to 4 conduta do agente administrativo que nesses termos pro- cede. Sem prejuizo disso, desejavel que o problema seja enca- rado sob o viés sistémico: é elemento integrante do conceito geral com o qual vimos operando (“‘cobranga tributéria") a decantada cautelar fiscal; dela, portanto, no podemos descurar €, por isso, nela devemos nos concentrar 4 guisa de resolver 0 precitado confronto — direito (teoria) e pratica. Assim caminhando, devemos assentir que a cobranga efetua- da no tempo que o direito proclama s6 é juridicamente viavel acaso a hipétese com a qual se estiver operando nao seja daque- las que enseje a formulacao de pedido cautelar. Reitere-se: quan- do o sistema introduz, em seu ventre, a figura da cautelar fiscal, cria para a Administragio o encargo de apurar, junto a cada con- tribuinte, eventual causa geradora de prejuizo para a eficacia pra- tica do processo de execugao fiscal 210 = Pauto CesaR Connano Se € certo, assim, que 0 Fisco dispoe de “tempo juridico” ra- zoavelmente largo para exercitar 0 direito de acao de execucao fiscal, néio € menos correto que a gesto de tal tempo & de ser criteriosa, orientando-se pelos mesmos vetores que, no direito positivo, funcionam como requisitos para a concessao da medida cautelar fiscal. Virtuosa, tal providéncia, retira-nos do sempre desquerido campo das subjetividades, permitindo que a cobranca tibutaria oriente-se, cronologicamente, nao apenas pelo tempo absoluto da prescricéo, mas também pelo tempo relativo do ris- co de lesdo a efetividade da pretensio executiva. Ao final, 0 que concluimos é que a medida cautelar fiscal, ins- trumento de infima aplicagao prética, deveria, no minimo, balizar a conduta do agente administrativo responsével pela cobranca tri- butitia, servindo os respectivos requisitos como objetivo critério de definigio do momento mais adequado para a deflagragao da cobranga tributéria: conquanto juridicamente viavel, a execugdo fiscal proposta no prazo prescricional pode, do ponto de vista pré- tico, quedar comprometida pelo descuido em relagao A verifica- a0 das condicées que habilitavam a paralela formulagao de pedi- do de medida cautelar fiscal, reaflorando, assim e mesmo que no tempo do direito se esteja, a questio atinente a responsabilidade funcional dos que gerenciam a indigitada atividade de cobranca. 9.3.1.4. DECRETABILIDADE EX OFFICIO DA PRESCRIGAO EM NIVEL DE. EXECUGAO FISCAL Prescrigdo é tema que, em matéria tributaria, refoge aos pardmetros usualmente outorgados pelos demais setores do direito, Com efeito, prescreve o art. 156, inciso V, do Cédigo Tribu- tério Nacional que o fendmeno em pauta ¢ implicativo de resul- tado anélogo ao da decadéncia, qualificando-o, o fato juridico da prescrigéo, como causa extintiva do crédito tributdrio. Proceso TRAUTANO +211 Nao é esse, sabemos, 0 tratamento ordinariamente atribui- do ao tema: identifica-se na prescrigao, de regra, uma causa de extingao do direito de agao, incapaz de fulminar o direito de fundo (material). Seja como for, reitere-se: a matéria, em nivel tributério, é des- tinatdria de tratamento proprio, 0 que nos autoriza a concluir, ratificando a proposicao inicial, que prescrigao e decadéncia, no especifico setor em foco, constituem modalidades que ope- ram num mesmo nivel. Por outra: prescrigtio e decadéncia — conceitos que, em ni- vel te6rico geral, sao por sua eficacia diferencados ~ em direito tributério tm o mesmo ténus. Indevida, por isso, a tomada, sem qualquer reparo, do regi- me juridico geral da prescrigao se 0 que se quer é aplicé-la no particular campo tributario. J4 dai impor-sevia, assim temos, a negativa da tese-base se- gundo a qual prescrico (tributaria) nao se decreta ex officio!” : recuperada a premissa de que, sob a dptica eficacial, andlogas apresentam-se prescri¢ao (tributaria) e decadéncia (igualmente tributaria) - operando, ambas, como causas de extinedo dos cré- ditos daquele jaez -, imperativo admitir 0 atingimento, nos dois casos, do dircito de fundo, circunstancia que justifica sua de- cretagio ex officio, numa e noutra situagao, pela autoridade para tanto competente!™, 123 © tema desafia, na atualidade, novas perspectivas, estabelecidas pelo advento da Lei 1? 11,280/2006, diploma que intoduz, no at. 219 do Cadigo de Processo Civil, 0 novel parigafo, assim vazado: “O juz pronuncard, de ofcio, a prescrigéo.” 124 No conceito de auloridade competente, entenemos incluidos 0 agente administrative, bem assim Poder judiciirie, cada qual operando dento pectivos procedimento efou processes, 212 « Pauto CisaR Conravo 9.3.1.5. PRESCRIGAO INTERCORRENTE EM FXECUCAO FISCAL Nao é de hoje que o tema da prescrigao intercorrente nos processos de execuco fiscal vem sendo suscitado: as preten- sdes em tais processos de fato sempre comportaram 0 exame do fendmeno prescricional sob duplice perspectiva ~ a pri- meira, do mesmo timbre da que se vé para todos os demais tipos processuais, atua em relagio a0 momento de provoca- 40 do Estado-juiz; a segunda (justamente a que é predicada pela nogao de intercorréncia), atua em relag4o ao momento de outorga da tutela jurisdicional (no caso, a executiva). Natural que assim seja, com efeito. Execugao é, em nosso sistema, a tinica forma processual cuja tutela ndo se constitui como fim (do ponto de vista cronolégico) do processo, sento como ato intercorrente: confere-se-a no decorrer do processo, mediante uma série de atos, no mais das vezes canalizados a expropriagaio do patriménio do devedor. Como ato final do pro- cesso (de execusio), 0 que se vé, portanto, nao é a tutela exe- cutiva propriamente dita, seno um ato (sentenga) de contei- do puramente homologatério, tendente a encerrar, ¢ téo ape- nas encerrar, a cadeia processual. Ocorre que a tutela executiva (cuja outorga se da, repita-se, intercorrentemente) tem a sua concessdo subordinada a duas condigdes inexoraveis: primeiro, a preliminar citagao do deve- dor, segundo, a localizagao de patriménio de possivel expropria- ao. A falta de uma e/ou outra de tais condigées, frustrada res- tard a outorga da tutela executiva (intercorrente), ficando preju- dicada, ademais, a producao do ato finalizador do processo (sen- tenca chancelando a satisfagao do credor). Ai esta, precisamen- te, a base légica da ideia de prescrigao intercorrente: no plano das execugbes, 0 Estado-juiz. tem que ser provocado no prazo por lei estabelecido (prescricao propriamente dita); mas néo sé: em tal plano, as condigdes necessérias & outorga da correlata Processo Taipuranio «= 213, tutela (informagdes acerca do paradeiro do devedor e de seu patriménio) tem que ser oferecidas no tempo apropriado, pena de se frustrar sua conferéncia (da referida tutela), quedando 0 rocesso em aberto ad infinitum — resultado repudiado pelo va- lor que por detrés da nogao de prescri¢ao atua (seguranca juri- dica). Por outra: se a outorga das tutelas executivas nao é atri- buicao estatal que dependa unicamente da provocacio do inte- ressado ~ exigindo, mais ainda, o fornecimento dos elementos- -informagées, por aquele mesmo interessado, que a viabilizem -, imperativo que desdobrada reste, para tais processos (de execu- $0), a ideia de prescricio. Profligamos, com tudo isso, a tese de que a prescrigao intercorrente é fendmeno inerente a natureza dos processos exe- cutivos, funcionando como corolério inexoravel da nocao de seguranea juridica para tais modalidades — assim como 0 € 0 conceito de prescricio (propriamente dita) para todos os de- ‘mais tipos processuais. Conclusao disso: seu reconhecimento independe da exis- téncia de enunciado prescritivo que a preveja com foros de especificidade, bastando, antes disso, que 0 correspondente fato implicador se verifique, a saber, a inércia do interessando (exequente), por tempo igual ou superior ao da prescrigao (pro- priamente dita), no que diz. com a prestagao, em favor do Esta- do-juiz, dos elementos-informagdes necessérios & consecucdo dos atos executivos indispenséveis ao aperfeigoamento da respectiva tutela (citasio/penhora). Outra conclusao: prescrigao intercorrente é causa de extingdo da obriga¢ao tributaria cuja decretacao se poe desde sempre vidvel independentemente de provocagao do interes- sado, Submete-se, usando outro falar, a0 mesmissimo regime aplicavel a prescri¢4o propriamente dita (do qué tratamos no item imediatamente anterior, de nimero 9.3.1.4.). 214 = Pavio Cesax Consano Nao obstante isso, em sua atual diccio, a Lei n° 6.830/80, contempla especifica solucao para as situagGes de “travamento” do ciclo processual em virtude da nao localizagao do devedor €/ou de bens susceptiveis de penhora. Nesse sentido, 0 seu art. 40 ¢ paragrafos, inclusive 0 4°, introduzido pela Lei n° 11.051/2004: “Ar. 40, O Juiz suspenderé o curso da execugio, enquanto no for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair 4 penhora,¢, nesses casos, nd comred o prazo de pescigio. 1% Suspenso o curso da execupto, serd aberta vista dos autes a0 representante judicial da Fazenda Pibtica, § 2% Decomido o prazo méximo de I (um) ano, sem que soja ocalizado 0 devedor ou encontrados bens penhoréveis, 0 Juiz ondenaré 0 arquivamento dos autos. {3° Bncontrados que sea, a qualquer compo, odevedor ous bs sero desanuivads os ates pare presenta da xe $4% Seda decisio que ordenar 0 arquivamentotiver decorritoo _prazo prescrcional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Piibica, ‘poder, de ofcio, reconhecer a prescrigao intercorrente e deceté- sla de imediato,” ‘Ao que se vé, 0 quadro normativo pertinente as execugdes fiscais s0 faz corroborar o quanto alhures se fixou: de um lado, proclama a figura da prescrigo intercorrente; de outro, reafirma a sua submissao ao regime de decretagao ex officio. A par disso, possivel seria objetar, dizendo-se que a decre- tabilidade ex officio da prescricio intercorrente s6 se mostra- ria viavel a partir da vigéncia da lei que a introduziu no sis- tema, pena de se atribuir, fazendo-se doutra forma, indese- javel retro-operatividade a tal preceito (0 novo pardgrafo 4° do art. 40). Processo Twimvthtuo « 215, A tal objeco, outras duas, todavia, poderiam ser postas, consequéncia, em ultima razo, do quanto j4 exposto nos itens precedentes: em primeiro lugar, relembre-se, prescrigao intercorrente € fenémeno que transcende a literalidade do di- reito positivo; em segundo, sua decretagao, quando o tema de fundo € de carater tributirio, ¢ perfeitamente possivel indepen- dentemente de provocacao. Todavia, ainda que desprezadas fossem tais premissas, ne- cessrio convir que a norma trazida pela indigitada Lei n° 11.051/2004, por nao disciplinar o fendmeno da prescricio, tampouco sua forma intercorrente, nao se vé dotada de carter material, sendo de foros processuais: sua fungao vinculada esta- tia, nesses termos, a explicitacdo do regime (processual) de de- cretagao a que se submete o referido fenémeno (da prescricao intercorrente) ~ conclusto que a0 mesmo tempo que repele qual- quer discussao sobre a necessidade de veiculagao do tema por lei complementar, autoriza a imediata aplicagao da norma a todos 08 casos que em seu arquétipo se encaixam. Nao fosse assim, alids, algo de “surreal” ocorreria. Tome-se, deveras, as seguintes premissas: (nao localizado 0 executado de um dado processo, dei- xa-se de 0 citar, nao se operando, por consequéncia, sua integraco a relaco processual; (ii) _paralisado, sem qualquer pronunciamento do res- pectivo exequente, fica tal processo de execugao suspenso por tempo superior ao prazo de prescri- 40 legalmente estipulado, operando-se, com isso € em tese, a nogdo de prescricdo intercorrente. ‘Uma tini inferéncia, vistas tais premissas, seria possivel: entender a prescrigao intercorrente como causa de extineao “decretével”, para casos anteriores 4 Lei n° 11.051/2004, ape- 216+ Pavto Cesar Cowrano ‘as por provocacao do interessado seria 0 mesmo que negar sua existéncia (da prescrigdo intercorrente) antes do advento de tal lei ~ se, em situagées que tais, o que implica a suspen- sao do processo (causa remota de geracdo da nogéo de pres- crigao intercorrente) é a nao localizagao do executado, exigir- se a pratica de ato provocacao seria o mesmo que exigir 0 factual-mente inexigivel; seria, por outra, como que dizer: a prescricao intercorrente s6 pode ser decretada se um certo sujeito que nao esta no processo a alegar, sendo inexoravel que, justamente por ali nao estar referido sujeito, iniciado res- tou 0 “processo” ensejador da prescrigao intercorrente! Talvez por isso mesmo tenha o indigitado diploma normativo estabelecido, quando da introdug%io do. novo para- grafo 4°, a necessidade, para fins de decretacao ex officio da prescrigao intercorrente, de prévia ouvida do exequente, nun- a do proprio executado: toma em conta o legislador, nesse Particular, a Sbvia premissa de que, mesmo nao sendo univer- sais, casos hd em que a origem ultima da prescrigao intercor- rente diz. com a nao-localizacao (e consequente nao integracao a0 processo) do executado. 9.3.2. PROCESO JUDICIAL ANTIEXACIONAL Em raciocinio oposto ao que desenvolvemos na abertura do item 9.3.1., registramos, aqui, que a categorizacdo de um dado rocesso como antiexacional depende da constatacao de que 0 respectivo agente provocativo ¢ 0 contribuinte: antiexacional é, pois, o processo tributario que, instaurado pelo contribuinte \ujeito passivo da obrigagao tributaria), tende a obstar, de al- gum modo, o desenvolvimento do ciclo de positivagio do di- reito tributdrio, ora preventiva, ora repressivamente, Proceso TaITARo «217 9.3.2.1. PROCESSOS PREVENTIVOS |. “ACAO” DECLARATORIA DE INEXISTENCIA DE RELACAO JURIDICO-TRIEUTARIA, 9.3.24 Concercdo usuat, Por “aco” declaratéria entende-se, via de regra, aquela em que 0 pedido do autor gira em torno exclusivamente da elimina- $40 de afirmada incerteza quanto a (in)existéncia de um vinculo Juridico, buscando-se, por isso mesmo, a declarapdo (dai o nome da propria categoria) de que ele (vinculo) existe ou nio (tudo conforme o pedido do autor). Especificamente as declaratrias de inexisténcia de relagho juridico-tributéria nao fugiriam, em tese, desse padrio, razio Pela qual poderiamos afirmar, fortes na éptica convencional, que {ais “agdes” visariam a obtengio de provimento (senterca) que reconhecesse inexistente uma certa obrigaeao tributéria!™: 9.3.2.1.1.2. RECONSTRUINDO 0 CONCETTO DE “AAO” DECLARATORIA DE INEXISTENCIA DE RELACKO JURIDICO-TRIBUTAREA, ‘Tomada em consideracao a circunstancia de a obrigacao tri- butiria ser constituida mediante a edicao de especifica nor- ‘ma individual e concreta (langamento ou “autolan¢amento”), cum- Pre aceitar que a sentenca a ser editada na decantada “agtio” 125 “A acfo requerendo provimento declratvio em matéiawibutéia tom cabr ‘mento quando presente estado de incerteza em relag30 ao contribute pot forca de exigénciafscat (Cleide Previtali Cals, O proceso tbr p. 392),

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