Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 10
Paulo de Barros Carvalho Professor Titular de ‘Diveto Tribudrio da PUC! SP, Coordenador do Programa de Pés sraduacao em Diveto da PUCSP, Professor de Légica Jurdicano Mezirado¢ Doworedo da PUCSP, Advogado Parecerta IPI - Comentarios sobre as Regras Gerais de Interpretagio da Tabela NBM/SH (TIPI/TAB) = Paulo de Bars Carvalho 1, Conhecimento - a Linguagem como Constitutiva da Realidade Decompondo-se 0 fentmeno do conhecimento, encontramos © dado da linguagem, sem 0 que 0 ceonhecimento nao se fixa nem se transmite, 14 existe ‘um quantum de conhecimeato na percepgio, mas ele se reaiza mesmo, na plenitude, no plano proposicio- nal e, portanto, com a intervengao da linguagem. “Conhecer", ainda que experimente mais de uma acepgio, significa “saber proposigbes sobre". Conhe- 0 determinado objeto na medida em que posso expe- bir enunciados sobre ele, de tal arte que o conhecimen- to, neste caso, se manifesta pela linguagem, mediante proposigdes descritivas ow indicativas Por outro lado, a cade momento se confirma a natureza da linguagem como constitutiva de nossa tealidade. Jé L. Wittgenstein afirmava, na proposicio 5.6, do “Tractatus Logico-Philosophicus”, que “os limites da minka linguagem sd0 os limites do mew ‘mundo, que, dito de outro modo, pode significar: ‘meu mundo vai até aonde for minha linguagem. E a experiéncia o comprova: olhando para uma folha de Taranjeia, um botfnico seria capaz de escrever Iaudas, relatando 2 “realidade” que v2, a0 passo que 0 leigo fiearialimitado a poucas linhas. Dirigindo o olhar para ‘uma tadiografia de pulmo, 0 médico poderia sacar riltiplas e importantes informagdes, enquanto 0 ad- Yogado, tanto no primeiro caso, como neste dltimo, verse-ia compelido a oferecer registos ligeiros superficais. Por seu turno, examinando um fragmento do Texto Constitucional brasileiro, um engenheiro rio lograria mais do que extrair u's mensagem adstrta 2 formula literal uilizada pelo legislador, enquanto 0 bachavel em Direto estaris em condigdes para desen- volver tama anélise ampla, contextual, trazendo & tona rrormas implieitas, identifiemndo valores © apontando principios que também nao tém forma expressa. Por ue uns tém acesso a esses campos e outros no? Por evista Dilton do DieetoTebutério nt 12 e oe alguns ingressam em certos seto- res do mundo, ao mesmo tempo em que outros se acham absolutamente impedidos de fazé-lo? A resposta é ‘uma s6: a realidade do botinico, com relagio & Botinica, é bem mais abran- gonte do que a de outros profissionais, ‘© mesmo ocorrendo com a realidade do médico, do engenheiro e do bache- rel em Direito. E que fator determinow aque essas realidades se expandissem, dilatando 0 domfnio dos respectivos conhecimentos? A linguagem ou a morada do ser, como proclamou Hei- degger. Por isso, 0 Iago que prende um termo a seu significado costuma apre~ sentar-se a nossos olhos como algo que nos € dado, um vinculo natural que conhecemos como elemento da realidade, Todavia, essa relagdo en- tre a palavra e a coisa & artificial. Quando aprendemos o nome de tum objeto, no aprendemos algo acer- cca da coisa, senllo sobre 0s costumes lingfsticos de certo grupo ou povo que fala o idioma em que este nome corresponde a este objeto. E corri- queiro afirmar-se que uma coisa tem ‘nome, contudo € mais rigoroso dizer {que nés € que temos um nome para essa coisa, Conclusio necesséria: no ha falar-se de nomes verdadeiros ou falsos. Hi, to somente, nomes acei- tos ou ue aceitos. E esta possibilida de de inventar nomes, por sua vez, também leva um nome: liberdade de estipulagdo (Guibourg). ‘Do mesmo modo, as classifica- ges, como as atribuigées de nomes para’ identificagto dos seres indivi- Guais, no sio coisas que esto na natureza, mas fatos culturais que, por isso mesmo, escapam da dualidade verdadeiras ou falsas. Guibourg, Ghigliani e Guarinoni no seu excelente Introduccion’ al co- nocimiento cientifico (Buenos Aires, Eudeba, 1985, pig. 37) asseveram, ccheios de convicgto: “Estas conside- raciones nos llevan a wna nueva con- clusién, més profunda que la ante- rior: al inventar nombres (o al aceptar Tos ya invertados) trazamos limites en la realidad, como se la cortéramos idealmente en trozos; y al asignar cada nombre constituimos (es decir identificamos, individualizamos, deli- ‘mitamos) el trozo que, segtin temos decidido, corresponderd a ese nom- bre Por esto a realidad se nos presen- ta ya cortada en trozos, como una pizza dividida en porciones, y no se nos ocurre que nosotros podriamos haber cortado nas porciones de otro tamaio o con otra forma’ (Os grifos so do autor) Decididamente, € também a lin- _guagem que nos dé os fatos do mundo fisieo e do social. Tércio Sampaio Ferraz Jr. enfatiza, portanto, a necessi- dade de distinguir fato ¢ evento, con- cluindo que “Faro” nido é pois algo cconcreto, sensivel, mas um elemento lingiiistico capaz de organizar wma siwagdo existencial como realidade” niroguco a0 Estudo do Direito - Atlas 1988, p. 253). Feita a observagao, verifica-se que © homem vai criando novos nomes © novos fatos, na conformidade de seus interesses ¢ de suas necessidades. Para 16s, basta “neve”, entretanto, para os esquimés, envolvidos por circunstin- cias bem diversas, impde-se a distin- ‘gdo entre as varias modalidades de neve". Néo se pode precisar o moti- Vo exato, mas os povos de cultura “s Revista Dialétiea de Dieta Tributério at 12 portuguesa houveram por bem, num determinado momento de sua evolu- ‘go historica, especificar @ palavra “Saudade”, diferentemente de outras culturas que a mantém inclufda em ‘conceitas mais gerais, como “nostal- gia", “tristeza” etc, Em portugues, ‘como em castelhano, temos “rel6gio” Cteloj"); j€ em ingles diseriminou-se “clock” para o relégio de parede © ““wateh” para o de bolso ou de pulso. E em francs, como anotam 0s autores argentinos citados, existe trés vocd- bulos distintos: “horloge” (de torre ou de parede), “pendule” (de mesa ou de é) e “montre” (de bolso ou de pulso). © esclarecimento das razdes de- terminantes dessas especificagbes & rmuitas vezes encontrado na Graméti- cca Histérica, disciplina incumbida de estudar as dindmicas que presidem a evolugao do idioma. Todavia, aquilo que se pode dizer € que as palavras que véo sendo criadas, ot aqueles vocdbulos j& conhecidos que passam 1 assumir novas acepées, tanto uns como outros incorporam-se a0 patti- ‘ménio lingtistico por forga de neces- sidades sociais. A Fisica tinha no éto- ‘mo a unidade irredutivel da matéria, ‘Assim que o interesse cientifico se acentuou, intensificando-se a pesqui- 5a que culminou com a possiilidade de decomposigio daquela partfcula, tomou-se imperiosa a expansio da Tinguagem para constituir a nova rea Iidade: eis 0 “préton”, o “neutron”, 0 “eletron”, Breve comparagio entre dicioné- rios de um mesmo idioma, editados em momentos hist6ricos diferentes, aponta para significative crescimento do niimero de palavras, assim na cha- mada “linguagem natural”, que nos discursos das vérias cincias. E a lin- guagem constituindo realidades no- vas e alargando as fronteiras do nos: $0 conhecimento. 2. a Linguagem do Direito que ‘estabelece a Chamada "Realidade Juridica” ‘Vale a proporcdo: @ linguagem natural esté para a realidade em que vivemos, assim como a linguagem do direito esté para a nossa realidade ju- ridica. Dito de outra maneira, da mes- ma forma que a linguagem natural constitui nosso mundo circundante, a que chamamos de sealidade, a lingua- ‘gem do direito cria 0 dominio do juri- ico, isto é 0 campo material das condutas intersubjetivas, dentro do qual nascem, vivem e morrem as rela (goes disciplinadas pelo direito. Se nico ha fato sem articulagao de linguagem, também inexistiré foto jurfdico sem a linguagem especifica que o relate como tal. S° empresta quantia em dinheiro para S", Acaso nio consiga o interes- sado expressar sua reivindicagio me- ante as provas que o direito presere- ve como ajustadas & espécie, vale di- er, faltando a linguagem juridica com- petente para narrar 0 acontecimento, nfo se poderd falar em fato juridico. Conserva sua natureza factual porque deserito em linguagem ordinéria, po- rém no aleanga a dignidade de’ fato juridico por auséncia da expressio Verbal adequada, Em hipéteses como essa costuma-se aludir & distingio en- te “verdade material” ¢ "verdade jurtdica”. (0 direito positive & vertido numa linguagem técnica, assim entendida toda aquels que se assenta no discurso natural, aproveitando, em quantidade consideravel, palavras © expresses de cunho determinado, pertinentes a0 Revista Disétles de Dirito Tebutiio nt 12 “ patriménio das comunicagdes cienti- ficas. Projeta-se sobre 0 campo do social, dizeiplinando os comportamen- 108 interpessoais com seus t188 (¢ s0- mente trés ~ lei do quarto exclutdo) operadores de6nticos (obrigat6rio, proibido e permitido), orientando as ‘condutas em direco aos valores que a sociedade quer ver implantados. Quan- to ao tipo é uma linguagem técnica, ‘mas sua fungi 6 eminentemente pres- critiva, ineidindo como um conjunto de ordens, de comandos, que buscam alterar comportamentos sociais, moti- vando seus destinatérios Jé a Cincia do Direito é um dis- curso descritivo de seu objeto, 0 dire to positive, Assume, portanto, a con- digdo de metalinguagem, pois suas proposigdes indicativas ou teoréticas se ocupam das proposigdes prescriti- ‘yas do direito posto. Sendo a metalin- guagem de cunho descritivo, seus valores légicos so os da Iégica aléti- cca: verdadeiro ¢ falso. Enguanto isso, como a linguagem-objeto (direito po- sitivo) tem fungSo preseritiva, suas valéncias sto as da I6gica dedntica vilida e néo-valida. Os mais moder- nos estudos sobre 0 direito solicitam atengio especial para este ponto, uma vez que “linguagem juridica” & pressio ambfgua, servindo para de- Signar tanto a prescnitiva de condutas (ireito positivo), quanto a descrtiva de normas (Ciéncia do Direito). Tra- tando-se de duas linguagens com di- menses sintéticas (ou légicas), se- minticas pragmiticas diferentes, a indistingdo se tora uma ameaga sem- pre perigosa, podendo levar ao equi- Em termos de acdo direta, € 2 linguagem do direito posto que cons- titui as realidades do mundo juridico, Mesmo quando mal aplicadas, as re- gras do direito operam em nome do ordenamento em vigor, recortando-se ‘0 mundo social na estrita conformida- de das determinagbes contidas nos seus comandos. E a velocidade das imatagées sociais, registradas pela lin- ‘guagem comum, pode ser acompa- hada de certo modo pelo sistema positive, na medida em que o legisla dor das normas gersis e abstratas, aque le que no direito brasileiro esti cre- denciado a inovar a ordem juridica, acolhe os fatos novos, juridicizando- 0, com o que promove a sustentagio do equilibrio entre as relagdes do di- reito ¢ 48 dos demais sub-sistemas do social (econémico, politico, religioso, social em sentido estrto etc). E desse ‘modo que 0 direito se mantém atuali- zado diante das modificagdes por que ppassa a sociedade: o legislador absor- ve as matérias novas, fazendo-as in- sgressar pela porta aberta das hipdteses normativas (Lourival Vilanova). Fis 0 fato meramente social adquirindo a dimensio de fato jutidico. Foi juridici- zado, na expressio empregada por Pontes de Miranda e, neste momento, constituiu-se uma situagao nova, am- pliando-se a realidade do direito pela ‘ago de sua linguagem propria. Com efeito, primordialmente, a realidage jurfdica € cunstituida pela linguagem do direito positivo, que ‘cumpre dessa maneira sua fungo pre- dominente: incidir sobre fatos, tpifi- cando-0s, © operar sobre condutas, regulando-as. De outra parte esté 0 discurso da Ciéncia do Direito, orga- nizado como sistema proposicional nomoempitico, de cardter teorético, para aiingir seus objetivos, consubs- tanciaéds em transmitir conhecimen: tos sobre o dizeito posto. Contudo em “ Revista Dialeien do ireito Telbutrio nt 12 Teoria da Linguagem se aprende que no existe linguagem “quimicamente pura’ (Irwing Copy), © que significa ‘admitir que a qualificagao das fungSes do discurso se faz por eritério de pre- ponderancia, de prevaléncia. Assim como na emisséo de uma ordem vai ‘um quantum de informagdo, a veic lagao de uma noticia pode passar es ‘milos que alterem a conduta, Insere- se precisamente af uma importante Fangio da Dogmtiea Juridica (Teércio Sampaio Ferraz Jr.). Ao descever 0 direito positivo, o cientista percebe ccortas distorgSes entre a realidade so- cial c a realidade juridica, ambas cons- tituidas pelas respectivas linguagens Cireunserevendo esses desvios e con- signando-os em sua obra, ele abre espago para que 0 aplicador da lei Gesempenhe sua tarefa com uma vi- G0 mais larga ¢ abrangente do siste- ma de que é érgio e também do meio social sobre que Vio incidir suas pro- vidéncias normativas. Nesse sentido, tem sido muito fecundo o papel da Dogmitica brasileira, colaborando para a correglo de abusos ov de im- ‘propriedades que a letra fria do direito posto acaba ensejando. De qualquer ‘modo, entretanto, o singelo apontar para os descompassos entre a lingua gem juridica © a linguagem social j& representa uma contribuigo efetiva da Ciéneia, pois rende espago a inicia- tivas de modificagio que 0 politico empreende, voltado & recomposigo do equilibrio que deve existir entre as duas realidades. Temos aqui a Dog- mética operando alteragdes no plano social. Indiretamente, dirio alguns, pois a interpretagio comretiva se faz sempre por intermédio de texto nor ‘mativo. Todavia, de uma forma répida e eficaz, Paralelamente, a doutrina vai defi- nindo, indicando conotagGes, suge- Tindo distingbes e propondo, median- te classificag6es, formas de melhor compreensio das discriminagSes ins- titufdas pela lei. Tudo isso vai expan- indo a realidad lingiistica do diei- to, que aumenta consideravelmente, sobre outorgar ao cientista um impor- tante papel social na construgio da linguagem juridica. ‘Vamos & um exemplo concreto: & evolugéo da temvia das imunidedes trbutrias. Seu reconhecimento € fru- to de aturada elaborasio jurispruden- cial da Suprema Corte dos Estados Unidos da América do Norte, certr ‘mente inspirada pela doutrina do cons- titucionalismo ¢ da federagio. Quan: do de seu acolhimento entre n6s fal va-se em “isengio”, Nas relagdes rec procas, tanto Unio, como Estados, fram “sents” toda vez que a entida- de tributante fosse uma das unidades federadas ou fazenda da Unito. E Rui Barbosa esereveu: “Nos Estados Uni- dos, por exemplo, a Constimigdo néo se promuncia, de maneira alguma, negando & Unido o direlto de rributar ‘fervigas ow instituigOes estaduais. Nao hd contudo, principio ali mais solida- mente assentado que o da reciproci- dlade nesta isengdo tributdria, entre a Unido e os Estados. (“Comentarios & Constituiggo Brasileira” - Sao Paul 1932). Note-se que o grande Rui, tio cioso da preciséo vocabular, com 0 Figor que imprimia a todos os seus escritos, uilizoua voz “isengio", quan- do deveria empregar “imunidad Certamente que nfo teria sido pelo Gesconhecimento da palavra prépria ‘Acontece que a elaboracdo doutring- tia estava ainda em curso de formasio ¢ no havia se firmado como o termo Reviets Dislétea do Dirt Teibutsie nt 12 a escolhido para dar nome 4 figura do instituto constitucional. Anos depois foi consagrado, ganhando foros de unanimidade, 0 que no impede que ‘nosso constituinte, em momento de pouca inspiracao, tenha se equivoca- do em uma das oportunicades, aver- bando signo improprio pera mencio- n-lo. Isso, porém, néo se deve levar & conta, ficando entre os chamados “tro- egos do legislador”. Interessa assina- lar que, a despeito do mau uso que porventura se faca do vocibulo “isen- go", nem por isso viremes a confun- di-lo com “imunidade”. Trata-se de simbolo relativamente novo, produto do labor cientifico ¢, posteriormente, da atividade legislativa, que veio a acrescer a realidade juridica brasilei- ‘a, especificando-a num ponto hoje de ‘grande importincia para o sistema tt butério. 3. Realidade Social ¢ Realidade Juridica Hi, necessariamente, um interva~ lo entre a realidade social, constituida pela linguagem natural, e a realidade Juridica, constituida pela linguagem do direito positivo. Isso porque esta ‘ltima se constr6i a partir da primeira, assumindo a feigo de uma linguagem de segundo grav, com rigoroso pro- ccesso seletivo, seja na absorgao dos fatos que hospeda em suas hipéteses, seja pela agdo dedntica de seus oper ores, realizando 0 cédigo bindrio citoilicito. O espaco que se entrepde & inevitavel, consignando-p Pontes na distinglo "“suporte fiictica/suporte jue ridico”. Sendo os enunciados norma- tivos seletores de propriedades, neles estabelece 0 legislador (sentido ar plo) quais os aspectos do suporte fis co que ingressam e quais os que no ingressam (ficando irrelevantes) nos dominios do direito ‘Ora, reconhecer que 0 intervalo inevitével traz imediatamente a ques- to dos parimetros em que deve estar contida a distancia entre as duas lin- guagens, para que 0 direito positive cumpra seus fins, isto é, regule as condutas intersubjetivas no contexto social, orientando 0 fluxo das intera- {ges humanas na diregHo de certos valores que a sociedade ancla. Até que ponto a realidade jurfdica pode rmanter-se afastada da realidade social € tema que interessa & Sociologia Juri- dica, a Ciéncia Politica do Direito, & Filosofia do Direito (principalmente no capitulo da Axiologia) e também a outros segmentos cognoscentes do fenémeno juridico, entre cles o da Histéria do Direito, o da Psicologia Social e o da Antropologia Cultural do Direito. Mas, indiscutivelmente, 0 es- clarecimento dessa diivida interessa sobretudo & propria Dogmatica ou Ciéncia do Diteito em sentido estrito, nna medida em que diz respeito ao bom funcionamento do sistema, & sua efi- ccécia como corpo de regeas. Um orde- amento que ndo preveja certas situa ‘gBes; que contemple insuficientemen- te 0s fatos sociais; ndo pode pretender realizar os valores que se prope. Dai © esforgo de atualizacao das autorida des lefislativas, premidas pela pres- so popular, amparadas pela ligdo dos doutos, atentas nas manifestagoes do Poder Judiciério. Bo direito procuran- do acompanhar, a seu modo, a diné- mica ¢ palpitante velocidade das mu- tages sociais, adaptando-se &s novas circunstincias e mantendo, por esse meio, integtos seus objetivos fins. E cutioso notar que 0 direito posi- tivo, sendo, como & um subsistema ry Feviet Disitica de Dicito Tributvio nt 12 do sistema social total, mesmo que paralisado no campo da produgdo le- gislativa, equivale a dizer, ainda que suas normas gerais e abstratas perma necam imutaveis, sem qualquer atua- lizagio de forma, continua em movie mentagio, alterando-se, no tempo, 0 quadro de suas significagdes. O fend. ‘meno se explica por forga da maleabi- lidade dos planos semintica @ prag- mético de sua linguagem. A dimensio sintética, mais rigida e, portanto, resis tente a motagdes, mostra-se morosa € tardia. Modifica-se, mas pela dinimi- cca incessante dos outros dois angulos da concepedo semistica. Alias, foi por virtude de andlises propiciadas pela Ciéncia dos Signos que os juristas refizeram seus conceitos a propésito do tormentoso problema do fecha~ mento do sistema, Hoje, a resposta pode ser imediata: © ordenamento € Fechado, em termos sintaticos, mas aberto nos niveis semfintico e pragmé- tico, © que permite comprovagao no breve exame de algumas palavras bem conhecidas, como “adultério”, “try to”, “mulher honesta”, “matriméni clc., expresses do discurso jurfdico que experimentaram sensiveis altera- g0es semanticas, nos tempos atuais. 4. A Linguagem do Direito Positivo ¢ a Regra-Matriz dos ‘Tributos: Imposto sobre Produtos Industrializados Na tarefa de construgio da reali- dade juridica, servem-se as autorida- des constitufdas da fungdo lingiistica propria, qual seja a prescritiva de con- utas. “Todavia, a produgio das nor- mas de mais elevada hierarquia no sistema, que sio gerais e abstratas, esto confiadas 0s parlamentos, ca- sas legislativas de natural heteroge- nsidade, na medida em que se preten- dam democriticas e representativas Com isso, a despeito dos esforgos na tlaboragéo de uma tinguagem tecni- a, dotada da racionalidade suficiente para alingir padrdes satisfatérios de Ehcicia social, a verdade € que a men- sagem legislada quase sempre vemi penetrada de imperfeigées, com pro- Flemas de ordem sintéiea e seménti- ca, tomando muitas vezes dificil sua comprgensio pelos sujeitos destnats- Tios. E neste ponto que 2 Dogmética (Ciéncia do Direto em sentido estrito) campre papel de extrema relevincia, compondo os envnciados freqlente- mente dispersos em vérios compos le- gislativos, ajeitando-os na estrutira isgica compativele apontando as cor regoes semanticas que a leitura con- textual venha a sugerir. Com tais pon- deragdes, a comunieagio normativa fui mais facilmente do emissor a0 receptor, realizando 0S propésites da regulagao jurigica com mais clareza © determinagio ‘Lembrerno-nos de que as regras jjuridicas slo as signficagées que a Jeitura do texto desperta em nosso espititoe, nem sempre, coincidem com os dispositivos mediante os quais 0 Tegisladordistribui a matéria no compo escrito da lei, Advém daf que, muitas Neves, um tinico artigo nilo seja bas- ante para a compreensio da_norma, fem sua integridade exisencial. Vé-se 6 leitor, entao, na contingéncia de Consultar outros preceitos do. mesmo diploma e, até, 2 sai dele, fazendo ineursdes pelo sistema, A proposigéo aque da forma 2 regra do direit, como tnsina Lourival Vilanova, “€ uma es- tratura ldgica.Estrugurasinttico-gra- matical éa sentenga ou oragdo, modo expressional fréstico (de frase) da stn- Fevist Diliica de Dirt Tribetiio ot 12 “ tese conceptual que € @ norma. A norma néo é a oralidade ou a escritu- ra da linguagem, nem é 0 ato de ‘querer ou pensar ocorrente no sujeito emitente da norma, ou no sujeito re- ceptor da norma, nem & tampouco, a siuagéo objetiva que ela denota. A norma juridica é uma estrutura logi- co-sintética de significagio” (Norma Juridica ~ proposicio juridica, RDP n® 61, p. 16). E esta linha de raczenio que a Ciéncia do Direito Tributirio vem de- senvolvendo a concepcio da chama- da “regra-matriz de incidéncia”, es- quema légico que revele a presenga de um juizo condicional, em que se conjuga uma hipétese, suposto ou antecedente a um mandemento, uma conseqiigncia ou estatuigéo. Ajustando esse pensamento aos dominios do tributério, podemos. di- zer que so numerosos es postulados disciplinadores da atividade impositi- va do Estado, praticamente todos ins- critos, expressa ou de modo implicito, nna Constituigdo. Igualmente abundan- tes as regras tributérias que envolvem ‘2 institui¢ao do gravame, tomando possivel sua existéncia como instru- mento efetivo de desempenho do po- der politico, social e econdmico-fi- nanceiro. A’ proposigio deseritiva da norma é obra do cientista do Direito e se apresenta, de final, com @ compos- (ura propria dos juizos condicionais de que falamos, entreligando antece- dente e conseqiente pela cépula de- Ontica, 0 dever-ser que caracteriza a imputagdo juridico-normativa. Dentro desse arcabouzo, a hipéte- se trard a previsio de um fato de possivel ocorténcia, enquanto # con: seqigncia prescreverd a relaglo juri- dca que se vai instaurar, onde ¢ guan- do acontecer © evento cogitado no suposto normativo. A hipotese alude a tum fato ¢ a conseqiéncia prescreve os efeitos jaridicos que © acontecimento ird propagar, razio pela qual se fala aan descritor © prescrtor, 0 primeiro para designar 0 antecedents. normati- ‘vo e o segundo para indicar seu con seqiente. ‘A Dogmética modema insiste na tese de que, tanto no deseritor (hip6te- se), quanto no prescitor (conseqiién- cia), existem referéncias a critérios, aspectos, elementos ou dados identi cativos. Na hipdtese (descritor), have- remos de encontrar um eritério mate- rial (comportamento de uma pessoa), condicionado no tempo (critério tem- poral) e no espago (critério espacial. Ja na conseqiincia (presritor), depa- raremos com um criério pessoal (Si- jeito ative © sujeito passivo) © um critério quantitativo (base de eélculo ¢ aliquots). A conjungio desses dados indicativos nos oferece a possibilida- de de exibir, na sua plenitude, o mi cleo légico-estrutural da. proposigio normativa, Firmadas tas colocagbes, € opor- tuno relembrar que © resultado dessa tarefa compositiva haverd de ser a obtengio de um juizo hipotético, e que seus componentes se associam pelo yfnculo da imputacdo dedntica, Chegése, enfim & regra-matriz de in- cidéneia ou_proposigio-normativa- padrio. Em linguagem simbslica Di [ Cm (vtec). Ce. Ct} [Cp (Sap) . Cq (bexal) J } Explicago dos simbolos: “D" 6 0 deverser neutro, intepro- posicional, que outorga validade & nor ‘ma juridica, incidindo sobre o conecti- vo condicional para judicizar © vinca- Jo entre a hipétese & a consegigncia. | | i 50 Revita Diaiética de Direto Tebutiro ot 12 “[Cm (vee). Ce. Ct]" éahipbtese normativa, antecedente, suposto, pro- posigio hipstese ou descritor, em que “(.)" € 0 conectivo conjuntor, “Cr” & 0 critério material da hipstese, ni cleo da deserigio fictica; “y" & 0 verbo, sempre pessoal e de predica- ho incompleta; “c” é 0 complemento do verbo; “Ce” & critério espacial da hipotese, condicionante de espaco; “Ct” € eriério temporal da hipdtese, condieionante de tempo; “g” & 0 sim- bolo do conectivo condicional, inter- roposicional. “[ Cp (Sa+Sp) . Ca (bexal) J" €0 conseqliente normative, proposigo relacional, proposigdo tese ou preseti- tor, em que: “Cp” & 0 critério pessoal; “Sa" & 0 sujeito ativo da obrigacio, 0 credor, sujeito pretensor; “Sp” € 0 . Sujeito passivo, devedor, “Cq” € 0 critério quanttativo; “bo” 6 a base de céleulo ou base imponivel e “al” 6 a aliquota ‘Vamos, agora, preencher esse ar- ranjo sintético com a linguagem do direito positvo, naguilo que atina a0 imposto sobre produtos industrializa- dos, saturando as varidveis légicas com as constantes da legislagdo esp cifica, a partir da Lei n° 4.502164. Sio das as regras-matrizes do IPI: a que incide sobre a operagio de industrial zacio e aquel'outra que alcanga a importaglo de produtos industializa- dos do exterior, posto que nio mais pereute © tribuio’ na arrematagao de produtos industrializados levados a Teilio, como ocorreu outrora. Como medida de economia do pensamento, vamos cingir-nos & primeira delas, a mais versada, aids, no ambito da Dog- mitica ea que toca de perto ao interes- se da presente consulta. A hipétese serd: = Critério material: industrializar (verbo) produtos (complemento); ~ Critério espacial: qualquer lugar do territério nacional; = Crtério temporal: momento da saida do produto industralizado do estabelecimento industrial Bo consegiente: = Critério pessoal: 0 sujcito ativo & a Unido Federal e 0 sujet passivo & agoele que promoveu a operagio de industrializagao. ~ Critéria quanttativo: a base de céloulo é 0 valor da operagio pela ual 0 produto deixou 0 estabeleci- mento industrial, enguanto a aliquota seré aquela prevista na tabela do im- posto. Quero renovar a adverténcia se- gundo a qual o esquema da regra- mratriz de incidéncia tributsria € uma formula simplificadora, reduzindo, drasticamente, as dificuldades do fei- xe de enunciados que constituem figura impositiva. Obviamente, nfo cesgota as especulagdes que a Teitura do texto suscta, porquanto o legisls- dor lida com miltiplos dados da expe- Tiéneia, promovendo mutagdes que atingem 0 sujeto passivo, o tempo da ocorténcia factual, as condigbes de espago, a aliquotae as formas de men- surar o ncleo do acontecimento (base de céleulo). Essa gama de liberdade legislatva, conmudo, nfo pode ultra. passar 05 limites l6gicos que a regra- ‘matrZ. comporta, Se as mutaytcs che~ garem ao ponto de modificar 0s dados essenciais da hipétese ¢, indo além, imprimir alterap6es na base de céleu- lo, estaremos, certamente, diante de ouira figura tibutéria “Tratando-se de expediente inten- samente redutor das complexidades do imposto, seu emprego hé de ser Aeviet Dialétion de DicitoTributirio wt 12 t6pico, servindo para o estudo de situa- glo Jf consolidada, em que se pode indicar, com seguranga, as significa- Ges que iro substituir os s{mbolos das varidveis ou, ento, para ensejar uma visfo teorética da unidade de ppercussio juridica do gravame, uma vez que a regra-matriz € seu minimo normative. Nada obstante, sera sem- pre de extrema utilidade e de enorme preciso, possibilitando, logo no pri- meiro instante, o isolamento do bind- mio “hifbe”, que nos leva ao reconhe- cimento da natureza peculiar do tribu- to, Para finalizar a apologia dessa fer- ramenta metodol6gica, cabe assinalar que se tem mostrado utilissima no elucidamento de conflitos jurfdicos, exibindo, & luz do sol, as fronteiras em que © legislador & 0 aplicador das normas devem manter-se, para ndo fender 0 Texto Constitucional 7. O Bindmio "Hipétese de Incidéncia/Base de Céleulo”, na Regra-Matriz do IPI "Entre nés, o tipo tributério € defi- nido pela integracio Iégico-semanti- ca de dois fatores: hipétese de inci- déncia e base de célcvlo. Ao bindmio, 6 legislador constitucional outorgou a propriedade de diferencar as espécies ttibutérias entre si sendo também ope- rativo dentro das préprias subespé- cies, Adequadamente isolados os dois fatores, estaremos credenciados a die zer, sem hesitagbes, se um tnibuto & imposto, taxa ou contribuigo, bem como anunciar a modalidade de que se trata vulto constitucional desse prin- cfpio procede da redagio empregada no art. 154, I, figurando, desse modo, entre os implicitos. E cremos, tam- bbém, que a substituigo do disjuntor “ox” pelo conjuntor “e” se impoe por deerminagio de uma anélise sistems- tica mais arurada, Com relagSo a0 IPI, a hipétese de incid@neia da regra-matriz que faz agora os nossos cuidadas esta repre- sentada pela circunstincia de alguém vit a industralizar produtos, em qual- usr lugar do territ6rio nacional, com- sicerando-se acontecido 0 fato no ins tante em que os produtos industriali- zalos deixarem 0 estabelecimento. E a base de célculo escolhida pelo legis lador € 0 valor da operagio de que dezorver a saida, confirmando 0 crité= ric material do’antecedente normati- vo. Vé-se, por esse confronto, que a percussii do tributo se dé com a ativie dade de industrializagdo, pois a base imponivel, antes de armar-se para di- mensionar 0 acontecimento, tem pri- rmeiro que identificé-Io nos tragos jurt- dios de sua tipificacio legal. Além dessa fungio, que chamamos de com: parativa, a base de célculo cumpre duas outras: a fungio mensuradora, fem que comparece para medi as pro- pergdes reais do evento © a funcdo oljetiva, em que se agrega a aliquota para compor a especifica determina- gh da divida, ‘A fungio objetiva da base de cl culo requer invariavelmente a presen- ga de putro fator: a alfquota. Seja no que concerne a0 IPI ou 2 qualquer outra exagio, nfo pode haver base ‘mponivel ali onde nao houver alfquo- ta, entidade que se congrega & base pera oferecer a compostura numérica do debitum, produzinds o valor que pode ser exigido pelo sujeito ativo, em ccumprimento da obrigagtio que nas- cera pelo acontecimento do fato nor- mativamente descrito, Nao entra na configuragao tipolégica dos tributes, m2 Revista Diaitica da Direito Tributéio ot 12 cingidas que estio a0 binBmio hifbc, mas se apresenta como instramente imporante na realizagio de elevados designios consiticionais, como a di- retriz do respeito & capacidade conti- butiva e, por decorséncia, a imple mentagio da igualdade. E por manejé Ta dentro de certos limites que 0 lesis- lador evita os detrimentos do confisco © conduz a atividade tributéria por canis politicamente recomendéveis, tomando efetivos propésitos de bem estar socal e protegendo valores tmui- to caros & comumidade. E leito asse- verar que as aliguotas so elementos preciosos na realizagio dos objetivos fxtrfiscais do Estado, a0 manipular fs varias figuras impostivas Para 0 IP, a temitica das aliqutas ganha uma dimensio expressiva,ten- do em vista o mandamento constiti- cional da scletividade em fongio da tssoncialidade dos produtos. O cons- ttuinte outorgou ao legislador ordind- rio a possbilidade de dosar a carga trbutaria, em fungi de predicados de Ulidade atribuidos aos produtos, =~ undo 0 talante do préprio leislador infra-constituetonal, no estipalando criteio determinado a que est tltimo fieasse jungido. Aguilo que se extrai do art. 153, pacigrafo 3, € apenas que © imposto venha a ser “seltivo, em funglo da essenciaidade do produ- wo". Agora, de que modo chegar a esse resultado, postivando a orienta io, foi providéncia sobre a qual se bsteve o constitunte. Remanesce 0 valor, que hi de ser implaniado por tum dos meios cabiveis O conteddo semintico desse prin- cipio aponta para um processo © para tum valor. Enquanto processo,é forma de eleigSo, consciente © deliberada, promovida em determinado campo de objetos, ¢ conduzida por alguma dire triz racionalizadora. Mesmo quando, outro sentido, se fale em “sele;ao natural”, imagina-se uma forga supe- rior, absoluta, dotada de racionalida- de, e capaz de imprimir diregéo a0 processo de escolha. Mas a seletivida- de de que tratamos no é meramente tum esquema formal, que se esgote ‘com a propria realizagda, selecioran- do por selecionar. Esie procedimento cletivo hé de ser presidido pela esti- rmativa da essencialidade, vale dizer, quer a Constituigfo que 0s prodatos sejam classificados, tomando-se por base o teor da respectiva essenciaida- de. Aqui esté 0 valor (essencialidade) que a Constituigo indica, oferecendo © processo (seletividade) para obté-lo, Ea mensagem, ainda que lacénica, diz. mais, porquanto os produtos, de- pois de organizados pelo eritério axio- légico da essencialidade, ficario em correspondéncia com uma aliquota, ‘que seré tanto maior quanto menor 0 gran de utilidade que tais produtos venham a apresentar. Ha grandezas fem razio inversa, de tal sorte que, em se diminuindo o grau de essencialida- de, elevar-se-lo as aliquotas corres- pondentes Certo que hé problemas também seméinticos @ serem resolvidos, no que ‘concerne aos yocabulos “essenciali- dade” ¢ “utilidade”. Entretanto, bem podemos recordar a observagio de Af Ross, segundo a qual todas as palavras $80 vagas e potencialmente ambigiias, De fato, 0 cardter de utili- dade que se atribui aos produtos in- dustrializados € construgtio da experi- Encia cultural de cada povo, tomando- se como referéncia um intervalo de tempo considerado, O que é indispen- sével para uma sociedade pode nao evieta Dialties de Direto Tributiio nt 12 5 ser para outra, ou para ela mesma, em periodo subseqiiente. Ainda mais, entre as vérias camadas de uma sé comunidade social, 0 conceito de uti- Tidade, que chega 20s limites do seu campo de itradiagio significativa as- sumindo 0 timbre de imprescindiili dade (equivaleste nominal da méxi ‘ma essencalidase, atravessa modifi cagGes sensiveisretatando a mutante « instével condigio do relacionamen- to inter-homano Tudo isso nos leva 2 admitir esses sigaos com toda a lassi- dio de seu qucdro de possibilidades significativas, sabendo que o empre- go normative vai ser uma fungio da ‘deologia do legislador e, sobretado, de seus intérprees. Distribuir os pro- dutos industrilizados pelas escalas da tabela, sob inspiragio do primado da essencialidale é, decididamente, uma tomada de posigdo politico-ideo- Logica, sobre © qual nfo ha o que dliscutir, porquento nela se consubs- tancia 0 ato de vontade que o legisla- dor emite, ao produzir a matérialexis- lada. Contudo, para compreendé-la deverd 0 exegela sopesar dois pontos de efetiva impertincia: a) o processo seletivo formal, isto é, 0 mecanismo de disiribuigdo dos nomes dos produtos em classes ¢ subclasses (operagao classificatéria) € b) 0 substrato axio- gic que preside a organizaga vale dizer, 0 ertério da essencialida- de como valor, ou como fim, assim entendida a estinativa enguanto racio- hnalmente recothecida no motivo da conduta, 8, Classificar ¢ Expediente Légico Reordenador da Realidade ‘A Légica dos Predicados, ou L6- ‘gica dos Termes, como pensamos ser mais apropriado referir, compreende © estudo da composigio intema dos enunciados simples e, dentro deles, a andlise dos termos sujeito e predica do, da c6pula apofintica e dos quan- tificadores (universal e existencial). E fos nomes so palavras tomadas vo- fontariamente para designar os indivi- duos e seus aributos, num determina- do contexto de comunicaSo. Ao mes- mo tempo em que todos os nomes sio nomes de alguma coisa, real ou imagi- nia, nem todas as coisas tém nome privativo. Algumas reivindicam de- signagio distinta, em fungdo da sua individualidade, come acoutece com as pessoas e com certos lugares que se tomam famosos. Mas. hd objetos que no t€m nome préprio, de tal maneira que, se for preciso indicd-los, empre gam-se nomes gerais, aptos para abrangé-los em nimero indefinido. Com efeito, um nome geral € suscep- Uivel de ser aplicado, no mesmo senti- do, a um nimero indefinido de coisa. ‘Um nome geral denota uma classe de objetos que apresentam o mesmo atributo. Neste sentido, “atribudo” sig- nifiea a propriedade que certo objeto manifesta, € todo nome, cuja sigtfi ‘cagdo esté consttuida de aributos € em potencial, 0 nome de um miimero Indefinido de objetos. Portanto, todo nome, geral ow individual, cria uma classe ge objetas (de alguns objeto, coma ‘to geral, ou de apenas um, ‘como nos nomes préprios). Um nome geral € introduzido no discurso em face da necessidade de palavra que denote determinada classe de objetos de seus atributos peculiares. Defina- ‘mos, entio, classe como “a extensdo de wm conceito geral ou wm univer sal”, na ligho de Alber: Menne ¢“In- teoduceién a la Légica” ~ Eaitorial Gredos - Madrid - p. 140), lembrando 6 Revista Diaétics de Dieta Tributario nt 12 Revista Dialéties de Direto Tributsrio 12, 5 que © nome individual tem 0 condio de exaurir seu universo, sendo, por- tanto, também universal. Ou, final- mente, come a relagdo dos nomes de objetos que satisfazem @ fungao pro- posicional “fix)”. ‘Ao examinar a estrutura interna do ‘emunciado, a Légica dos Tetmos se ‘ocupa, além da defini¢lo, das opera- Bes de classificagio e de divisdo, Classificar 6 distribuir em classes; & dividir os termos segundo a ordem da extensio ou, para dizer de modo mais preciso, é separar os objetos em clas- ses de acordo com as semelhangas que entre eles existam, mantendo-os em posicdes firas e exatamente deter- minadas com relagéo as demais clas- ses. Os diversos grupos de uma classi- Ficagio recebem o nome de espécies de géneros, sendo que espécies desig- nam os grupos contidos em um grupo mais extenso, enguanto género € 0 grupo mais extenso que contém as espécies. A presenca de atributos ou caracteres que distinguem determina- da espécie de todas as demas espécies de um mesmo género denomina-se “diferenca’, 20 passo que “diferenga especifica” € © nome que se di a0 cconjunto das qualidades que se acres- centam ao género para a determina- colo da espécie, de tal modo que é licito enunciar: a espécie é igual ao género mais a diferenca especifica (E = G + De). Tomando o exemplo da linha curva, podemos classificé-la em cit- cunferéncia, elipse, pardbola, hipér- bole, espiral etc. Se adicionarmos 20 genero (linha curva) as diferengas peculiares a cada qual, teremos as espécies anunciadas. Obviamente que ‘as qualidades somente gerais nio se prestam a divisio do género em espé- cies. Com efeito, 0 género compreende a espécie. Disto decorre que 0 género denota mais que a espécie ou & predi- eado de urn nimera maior de indivi ‘duos, Em contraponto, a espécie deve ‘conotar mais que © género, pois além de conotar todos 0s atributos que o género conota, apresenta um plus d& Conotagio que &, justamente, a dife- renga ox diferenca espectfica. Dat porque estabelecer 0 significado de iferenga como aguilo que deve ser ‘adicionado & conotagdo do género, para completar a conotagao da espé: tie (Stuart Mi, ‘Nessa linha, os princfpios que de- vem dirigir a classificagdo, como pro- cedimento I6gico, informam que n&o hha nomes que sejam exclusivamente ‘generos ov apenas espécies. Tais pa- layras sio termos relatives, aplicados a certos predicados para explicar sua relagdio com dado sujeito. Desse modo, fa classe que aparece como género relativamente subclasse ou espécie que contém, pode ser, cla mesma, uma espécie em relago @ uma classe mais compreensiva (género superior), AS normas individuais ¢ concretas consubstanciam espécies de normas jjuridicas; todavia, formam o género ide que sio espécies as normas indivi- dduais e concretas veiculadas pelo Po- der Judiciério que, por sua vez, sio 0 ‘genero com relacio as individuais ¢ ‘concretas postas por sentencas. Toda classe 6 susceptivel de ser dividida em outras classes. E principio fundamental em Légica que a facul- dade de estabelecer classes é ilimitada fenquanto existir uma diferenga, pe- quena que seja, para ensejar a distin f¢20. O numero de classes possiveis or conseguinte, infinito; e existem, de fato, tantas classes quantos nomes, gerais © proprios. Porém, se examinar- ‘mos, uma a uma, as classes assim for- madas, como a dos coitratos ou das plantas, a classe das elementos qufmic ccs ou dos planetas, © se considerarmos fem que partcularidade os individuos de uma classe diferem das que 2 ela no pertencem, encontraremos sob esse 3s- pecto uma diferenca bastante nitida en- tre duas classes distintas. Por outro lado, 0 expediente clas- sificat6rio pode dar sentido artificial a uma palavra em decorréncia da neces- sidade técnica de uma ciéncia particu- lar. Isto porque cada género difere dos outros, no necessariamente por um 6 atributo, senio por nimero indefi- nido de attibutos. A taxa, por exern- plo, € espécie do género tributo, to- ‘mando-se como critério de distingao a circunstincia de sua hipétese de in déncia abrigar sempre uma atuagdo do Estado, efetiva ou potencial, referi- dda ao sujeito passive. Entretanto, ou- tra € a caracteristica segundo a qual, ppara as taxas, nio ha falar-se em com- ppeténcias privativas Realmente, no existem limites & liberdade de fazer classificagSes que, rno fundo, se consubstancia em sepa rar em classes, em grupos, formando subclasses, subdominios, subconjun- tos. Ao sujeito do conhecimento é reservado o direito de fundar a classe que the aprouver e segundo 2 particu- Jaridade que se mostrar mais conve- niente aos seus propésitos. Ressalve- mos, porém, que se a convenincia rética € motivo suficiente para auto- izar'as principais demarcagSes de nossos objetos, @ fortiori devemos estar atentos para a correcio do pro- cesso de circunscrigio, garantindo que 0s géneros e as espécies sejam, efeti- vamente, géneros e espécies. A operagio que nos permite dis tinguir as espécies de um género dado 6 4 divisio, assim entendido 0 expe- diente Wégico em virinde do qual a extensio do termo se distribui ema clas- ses, com base em critério tomado por fandamento da divisio. Mas, evite- mos 2 confusio entre dividir ¢ desin- tegrar. Quando afirmamos que “o ano tem doze meses" ou que “o livro cons- ta de 10 capitulos” estamos diante de procedimento chamado “desintegra- lo”, que pode ser reconhecido na medida em que os elementos desinte- ‘grados do todo no conservam seus tragos bésicos, niio sendo possivel, neles, perceber 0 contetido do concei- to desintegrado. Um capitulo do livro niio € 0 livro, assim como 0 m8s no é © ano. Em contranota, quando dize- mos que “seres vivos se divider em animais ¢ plantas”, tanto podemos predicar dos animais a condigio de seres vivos, quanto das plantas. Importa mencionar as regras que presidem a operagio de dividir que é, afinal de contas, 0 processo emprega- do para classificar os termos. A inob- servancia de tais preceitos provaca erros inevitéveis que maculam 0 racio- inio, comprometendo a manifesta- 40 do pensamento e prejudicando a Comunicago entre as pessoas. Sagjelas: 1) A divisio ha de ser proportionada, significando dizer que a extensio do termo divisivel hd de ser igual a soma das extensdes dos mem- bros da divisio, 2) Ha de fundamen- tar-se num Unico criti. 3) Os mem- bros da divisio devem excluir-re mu- twamente. 4) Deve fluir ininterrupta- mente, evitando aquilo que se chama “salto’na divisio” Cumpre advertir que a boa classi- ficagtio depende no s6 do processo 56 Revista ialtca do Dieta Tributirio nt 12 de bem dividir o termo, mas, antes disso, de elaborarmos uma definigéo ‘adequada de seu conceito. E definir € ‘operagéo Iégica demarcat6ria dos li- mites, das fronteiras, das Tindes que igolam o campo de irradiagao seman- tica de uma idéia, no¢o ou conccito. Com a definigd0, outorgamos & idéia sua qUididade, que hé de ser respeita- da do inicio ao fim do discurso. Ora, se dissemos e redissemos que nossa realidade € constituida pela lin- ‘guagem; que o mundo juridico se es- tabelece pela linguagem do direito; claro esti que as unidades desses sis- temas sfgnicos, em grande parte no- mes, gerais e proprios, so classes que cexprimem géneros ou espécies e, como tal, passiveis de distribuigdo em outras classes, segundo, evidentemente, as ditetrizes do critério-escolhido para a divisio. Com os recursos da classifi- ‘cago, © homem vai reordenando a realidade que 0 cerca, para aumenté- Ja ou para aprofundé-la consoante seus interesses e suas necessidades, numa atividade sem fim, que jamais alcanga ‘0 dominio total ¢ a abrangéncia plena. E salientamos esse carter reordena- dor porque assim como a classifica- do pressupde a existéncia de classe a ser distribuida em subclasses, 0 au- ‘mento ou aprofendamento da reali- dade, como algo constituido pela linguagem, antessupde também a afirmagao da propria realidade en- quanto tal. ‘A Légica reserva A temética da classificagio um capftulo inteiro, de- nominado Teoria das Classes, em'que se estuda o conceito de classe ¢ 0 quadro de suas propriedades gerais. Como disciplina autOnoma, foi etiada € desenvolvida pelo matemético ale- mo G. Cantor (1845/1918), receben- do, nesse setor do conhecimento, 9 nome de Teoria dos Conjuntos. Posto que todos os nomes sio clas ses de elementos, inclusive os noines individuais (domfnios ou conjuntes formados por um tinico objeto), nao 6 a comuinicagdo cotidiana, com sua Tinguagem livre e descomprometid, ‘mas a Matemitica, a Botinica, a Zoo- Jogia, a Sociologia, o Dircito e todas as demais ciéncias lidam, necesséria € insistentemente, com essas entidades Ali onde houver linguagem, natural ou técnica, cientifica ou filoséfica, haverd, certamente, classes © operi- {gdes entre classes, com o aparecimen- to de géneros, espécies © subespécies. sso, em qualquer das regides Onticas: seja_a dos objetos naturais ou dos ideais; a dos metafisicos ou dos cults rais, E frases como “o individuo x elemento do conjunto C”, “o objeto y pertence @ classe K” ou “o dominio D ‘contém como elemento o individuo 2, so expresses que denunciam a pre senga dessa categoria formal que, em linguagem simb6lica, escrevemos “x K(x est6 em K"). 9. © Sistema Harmonizado de Designagio e de Codifieagio de Mercadorias, a Nomenclatura Brasileira e a Tabela do Imposto sobre Produtos Industrializados (© Sistema Harmonizado de De- signagao e de Codificagio de Merca- dorias € conteiido aprovado Conven- go Internacional (Bruxelas, 14/06/ 83), & qual o Brasil aderia em 31/10 86, Como tal, é a base da Nomencla- tura Brasileira de Mercadorias que, por sua vez, € a fonte da implantacio da Tabela de Incidéneia do Imposto sobre Produtos Industrializados (PD. Silo, todas elas, classificagdes codifi- Revie Disétiea de Dicsito Tibusti nt 12 a cadas, isto é, expedientes artficiais que nos possibilitam repartir dado se- tor de objetos em subsetores espectfi- 0s, consoante determinado critério, fixando-se para cada classe nfo um home, mas um ndimero ou um e6digo alfanumérico. Revestindo 0 caréter artificial de todas as classificagbes, a que estrutura a tabela de incidéncia do IPI criou uma outra realidade, reordenando a até entio existente. Cada cédigo denota lum conjunto de mercadorias e, ideal- ‘mente, cada mercadoria tem um cédi- g0 a0 qual se subsume. Algumas, mesmo semelhantes, exigem ¢ rece: bem cédigos distintos Sistema Harmonizado, tal qual aprovado’ na Convengio Internacio- nal, opera com seis digitos, corres pondendo a posigdes e subposiches de mercadorias, mas a NBM/SH (TIPU TAB) sobrepée-se aquele sistema para acrescentar-Ihe matriz de subespécies, mediante a particularizago de itens ¢ de subitens. cédigo-posigio denota uma clas- se de mercadorias que apresentam 0 mesmo atributo e atributo & a proprie- dade que manifesta um dado objeto. Todo cédigo cuja significago esteja constituida de atributos ¢, em potencial, 6 cédigo de um mimero indefinido de mercadorias. Portanto, todo c6digo-po- sigdo cria uma classe de objetos. ‘Tomemos por exemplo a mascara utilizada na codificagio da tabela NBM/SH-TIPI: XXXX,YY.ZZz2! ‘Tres sto as divisdes: cédigo-posi- so “XXXX", eédigo subposigao SYY" e c6digo-item/subitem "ZZz2". Cada uma das letras representa um ndmero. Assim, considerando que 0 sistema numérico empregado seja 0 decimal ¢ tratando-se de varidveis numéticas, é licito concluir que: 1 - © cédigo-posigao “XXXX" pode apresentar variago combina- cional de 0000 até 9 999, isto 6, 10000 combiiagbes possiveis; 2 - 0 cédigo sub-posigio “YY” pode apresentar variagio combina- ional de 00 até 99, ou seja, 100 combinagées possiveis; € 3 - 0 cédigo-tenvsubitem “ZZz2” pode apresentar variagio combina cional de 0000 até 9.999, isto 6, 10000 combinagées possiveis Infere-se, ainda, da ordem das varidveis de grupo, 6 seguinte: 4 = 0 cédigo-posigio “XXXX" descreve 10 000 géneros possivels e cada um desses pode apresentar 100 espécies diferentes em relaglo a0 ¢6- digo-subposigéo “YY"; 5 = 0 cétigo subposigdo “YY”, que & espécie em relacio a * € género em funcdo do cédigoriteml subitem “ZZ22". Nesse sentido, 0 e6- digo-subposicéo “YY descreve até 100 g&neros distintos e cada um deles pode apresentar até 10 000 espécies iferentes em relagéo a0 cédigo Zin" 6 - Deduz-se que 0 e6digo-posi- cio “XXXX" € sempre varidvel de género; 0 cédigo-item/subitem “ZZz2" ¢ varie de eapcic em relagio ¢ "YY" € variével de subsespécie em relagéo a “XXXK"; 0 cédigo subposi- gio “YY” 6 varidvel de espécie em relagio a “XXXX" ¢ de género em relagéo a “ZZz2" De ver esté que a classificagio do Sistema Harmonizado se volta a0 ob- jetivo de oferecer um panorama gené- rico dos produtos. considerados na conformidade de critérios técnicos internacionais para atender &s exigén- 8 Revista Dilética de Dre Tebutrio ot 12 . ccias de uniformizagio do comércio entre as nagdes. Os varios paises sig- natérios da Convengio adotam-na, promovendo os acréscimos que a po- Fticatributéria de cada um sugerir, em termos de melhor adaptagio & realida- de nacional e aos juizos de valor que a5 circunstancias intemss venham a recomendar sobre a mulplicidade dos produtos classificados. Dito de outro todo, s¢ a distribuigdo das mercado- fias n0 Sistema Harmonizado da Con vvengdo tende & neutralidade axiol6gi- ca, preponderando, nitidamente, 0s cearacteres téenicos das virias unida- des, outro tanto néo se dé com 0 sistema da NBM/TIPI, aparelhado para classificar os produtos de acordo cor avaliagbes nacionais, em que a est rmativa espeeifica dos bens € sopesada fem fungao do papel que seu aprovei tamento representa para a sociedade brasileira, num dado momento histé- rico, Com a NBM/TIPI, operou-se um juste da tecnicidade classificatéria da tabela internacional ao ambiente do sistema normative brasileiro, adqui- rindo novo mati significative. A adi- ¢4o dos e6digos itenVsubitem demons- tra bem esse esforgo de legislador em promover um provesso de adaptagto ‘Que, introduzindo subclasses adici hais, aprofundou a conotagao das subposigées originais, depositando rnaquelas subclasses 05 valores ine- rentes as particularidades do nosso ordenamento positivo ‘Daf porque se aplicam as “Regras Gerais de Inverpretagio” da NBM/ SH (TIPVTAB) As posigies e subposi- Ges, isto é, aos seis primeiros digitos EXXKXYY", sendo gue as regras de nimeros. 1, 2,3, 4 ¢ 5 para o reconhe- Cimento da posigio "XXXX" e a regra de némero 6 para identificar-se a subposigdo “YY”. Bis 0 teor da regra de niimero 6: “A elassificago de mercadorias nas subposicdes de uma mesma posi (do é determinada para efeitos legais, pelos textos dessas subposigdes ¢ das Notas de subpasicdo respectivas, as- sim como ‘mutatis mutandis’ pelas Regras precedentes, entendendo-se que apenas so compardveis subpo- sigdes do mesmo nivel. Para os fins da presente Regra, as Notas de Secedo ¢ de Capitulo sao também aplicaveis, salvo disposides em contrdrio” Do digito 7 a0 digito 10, vale dizer, para 0 cédigo item/subitem “Zia2" a rogencia é a da Regra Geral Complementar (RGC) miimero 1, da NBMISH (TIPVTAB) “As regras gerais para interpreta- ‘gio do Sistema Harmonizado so igual- mente validas, ‘mutatis mutandis’, para determinar dentro de cada posigao ov subposigdo, o item aplicével e, dentro deste altimo, 0 subitem correspon- dente, entendendo-se que apenas so compardveis desdobramentos de mes- ‘mo nivel (um item com outro item, ou ‘um subitem com outro subitem)” LL. A Tabela de Incidéncia do IPI € sua Importincia para a Integracio da Regra-Matriz desse Imposto - Valores Juridicos que hio estar Presentes na sua Exegese ‘A tabela de incidéncia do IPI é segmento de linguagem prescritiva inserta, como vimos, no ordenamento juridico brasileiro, e que se destina a ‘oferecer elementos para a identifica- ‘glo dos produtos aleangados pela per- ussao do gravame, além de conferir- hes um valor percentual, a titulo de aliquota. Atwa, por conseguinte, no critério material da hipOtese normati- Review islétics de Direto Tribute nt 12 58 va, precisando 0 complemento do verbo, sobre completaro eritério quan- titativo da conseqiigneia, ao atribuir a percentagem correspondente ao bem tributado, Nada mais € necessério dizer para enaltecer-lhe a importincia, razzo pela gual teremos que tomar uma série de cuidados, sempre que o problema se site na compreensio da tabela. Ao interpreté-la, no podemos nos esque- cer de que é parte da regra-matriz de incidéncia do IPI, néo s6 por afetar- Ihe 0 critério material da hipétese, como também por concorrer com dado imprescindivel para a composiga0 do quantum devido, a0 estipular a gran- deza percentual que hi de ser conju gada a base de célculo. Por certo. enti, que os valores juridicos conce: bidos para presidir a instituigao desse imposto t&m que ser invocados com vyeeméncia, quando o assunto é discu- tir 0 espago que determinado produto ‘ocupa na configuragio da tabela ‘Antes de mais nada, porém, uma adverténcia que me parece oportuna: tratando-se de classificago produzi- dda na linguagem prescritiva do direi to, esté informada por critérios exclu sivamente juridicos. As diretrizes que corientam a distribuigdo das posicdes, subposigdes, itens ¢ subitens devem ser pesquisadas nos limites do ordena- mento positivo brasileiro, descaben- do falar-se em recursos de outras citn- clas, como expedientes tcnicos que justifiguem o alojamento das merca- dorias nos varios compartimentos da tabela. Isso no quer expressar, por Sbvio, que o interessado abandone ‘outros contetidos de significagao que sejam dteis para a determinagio da identidade do produto, Pretende sim- plesmente afirmar que 0 catélogo foi concebito, estruturado, organizado segundo estimativas de ordem juridi- a. A observagéo € stil porque um sistema de classificagio, como de que falamos, algo sobremaneira com plexo, em que as miliplas classes e subclasses $e cruzam e entretzcem, reivindicando a atengo do intérprete para 0 corteto isolamento do objeto procurado, ‘De cuir parte, € preciso repisar a sensivel diferenca que se estabelece entre o Sistema Harmonizado, enquan- to contetdo da Conveng&o’interna- cional de Broxelas, ¢ a tabela de inci-

You might also like