Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 67
Universidade hoje Anresentagdo de Machado de Assis — 7. Teieira ‘Allteratars bispano-americana — J. Joser ‘A eiilzagao betenstien — P. Petit ‘A literatarn grega — F Robert A religio grega — F. Robert ‘A psleotegia social — J. Moisonneave 0 inconscente —» 4-C. Filowx A cates Meraria — P, Brunel, D. Madelénat, J.-M. Gitksohn e D. Couty Sociologia do dreito — HL. Lésy-Bruht ‘As teorias da persomalidade — 5. Clopier-Valladon Literatura brasileira — 1, Stopagno Picehio Acerticn de arte — A, Richard ‘As primeiras civiizagées do Mediterraneo — J. Gabriet-Leroux ‘A economia dos Estados Unidas — P. George ‘A idea de eutturn — ¥. Hell Histéria da edueasio — R. Gal “istra dos Estados Unidos — &. Rémond Em preparasio ‘As empress japonesas — M, Yoskimori Descartes — G. Pascal ‘Os eatas — V. Kruta Universidade hoje HISTORIA DOS ESTADOS UNIDOS RenéRémond Martins Fontes Tivelo original: HISTOIRE DES ETATS-UNIS Publicado por: Presses Universitaires de France Copyright © Presses Universitaires de France, 1959 (Copyright @ Livraria Martins Fontes Editora ida., para eta traduclo If edigdo brasileira: agosto de 1989 Tradugdo: Alvaro Cabral Revisto de iradupho: Missue Morissawa ‘Revisio tipogrdfca: Mauricio Balthazar Leal e Claudia Caviechia Producto grifica: Geraldo Aives ‘Composicao: Ariel — Actes Griticas Capa ~ Projeto: ME ‘ArzeJinal; Moacie K. Matsusabi Todos os direitos para a lingua portuguesa reservados @ LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA. Rua Conseco Rainalho, 330/340 — Tel. 259.3677 01325 — Sao Paule — SP — Brasil indice CAPITULO 1 — As primeisas colénias (1607-1763) Analogs ponts comans, 9 CAPETULO I — A Independéncia (1763-1783) [LAs causas do rompineno, 13 MA Guera de tadependens 2 CAPITULO Ti — A Consti Unidas .... [Da fagenacso uniade — E pris voury, 28 1.0 nascent des paris, 37 fio dos Estados CAPITULO IV — 0 Oeste € a democracin "ume nova soiedade, si CAPITULO V — A eseravatura ea Guerra de Sevessio ... . CAPITULO VI — Industrialisme ¢ democracia, CAPITULO VII — Isolacionismo ¢ imperialismo CAPITULO Vill — © New Deal e 9 responstbi mundial... . i. CAPITULO IX — A superpotine Reagan ence Bibliografia:suméria 1s 2s 41 3 1 85 115 27 CAP{TULO I As primeiras colénias (1607-1763) Lugar e heranga da era colonial — Essa primeira fase 4a histori do povoamento europeu do terit6rio dos Esta- {0s Unidos de hoje, chamada de periodo colonial, muito provavelmente parecer aos eontempordneos do presidente [Reagan e da conquista do espaco to distante da realidade presente do pa quanto a Atenas de Pericles estd na Grecia hnodema, Se ela Ja no tem para nds outro interesse além ‘dos possivelsztrativos do exotismo au do pitoresco de seus David Crockett « historias de indios, seré de fato conve- riente desviar algumas destas paginas, que poderio fazer falta quando da descrigio dos Estados Unidos de hoje, para falar do que, om sltima instncia, € apenas a sua préshis- trig? Ceder a tal escripulo seria, no entanto, subestimar 4 importincia desse periodo em si mesmo e na seqiéncis da historia, ‘Sua daragio é aproximadamente a mesina de toda cxisténcia dos Estalos Unidos como sociedade politica or- ginizada. Desde a fundagdo de Jamestown. 2 mais antiga ol6nia anglo-sax6aica do Novo Mundo (1607), até a Decta- ragdo de Independéneia (1776), transcotreram exatamente tantos anos quanto desta ditima data até o fim éa Segunda ‘Guerra Mundial (1945). Colocando esse mesmo dado fun- damental em outros trmos, s coastituicio das colGnins di de ahist6ria dessa repido do globo em dois periods ig © primeiro dos quais € o colonial, por vezesinjustamente nepligenciado, Seu conhecimento € importante para o da histéria dos Estados Unidos propriamente dita, ainda sob ‘um outro aspecto: ele a premuncia. O pas recebeu desse petiodo @ legado de uma populacio, de uma sociedade, de uma coonomia, de uma mentalidade, de uma parte de Suasinstituigdes politicas, de suas tradigdes jurcicaseinsti- tuigdes judicirias, também de alguns de seus problemas, 1 ‘como a questéo do negro, Impossivel compreender 0 desen- ‘volvimento da drvore sem se observar primeifo a semente langada A terra e suas primeiras germinagées. Ocupacao tardia-— A parte do fitoral americano que se estende aproximadamente da bafa de Fundy, a0 norte. até a foz do tio Savannah, ao sul, futuro bergo da grandeza americana, ingressou com atraso na hist6ria da colonizagio ‘européia do Novo Continente, muito depois da América Central e Meridional, e mesmo depois do vale do Sao Lou- rengo, Entre 0 Canada, reconhecido pelos franceses desde ‘meados do século XVI, e Fisrida, anexada pelos espanis ‘a.seu vasto império, a focalizagao dos futuros Estados Uni- dos lembra a de um sitio desprezado. Para esse prolongado ddesfavor existiam eausas naturais: o clima ora glacial ora ‘sufocante; uma costa geralmente indspita, pantanosa ¢ cor- tada por lagunas a0 sul, rochosa e juncada de arrecifes 20 norte, ndo propiciando 4 penetracdo para 0 interior nenhu- sma via compardvel ao Sio Lourengo ouao Mississipi; enfim, ‘uma floresta densa e cerrada, A regio tampouco possuia © que atrafa entao os exploradores: especiarias ou metais _preciosos. Seria necessario, para a colonizacéo, que homens fossem levados para Ié por outros interesses que no os me- ramente mereantis ou porque as outras regides jd estivessem ocupadas. Eletivamente, os primérdios da colonizacao coinci ram com a entrada em cena de uma nova poténcia colonial a Inglaterra, Nessa parte do mundo, como em todas as ou- ‘ras, 0s ingleses chegaram por dltimo, muito depois dos por- tugueses © dos espanhis, © mesmo apés os franceses: sua ‘vocagdo colonial deseahou-se tardiamente, no reinado de Elizabeth, Suas primeiras coldnias tém, com uma diferenga de escassos vinte anos, a mesma antighidade no norte ‘no sul: sir Walter Raleigh desembarcou na Virginia no final do século XVI, ¢ foi em 1620 que os 120 peregrinos, chega- dos das Provincias Unidas a bordo do famoso Mayflower, desembarcaram perto de Cape Cod e formaram 0 embriao) ide Massachusetts, O que nio se esperava era que, tendo largado com atraso na corrida as coldnias, desfavorecidos 2 sob todos 0s aspectos, eles levariam a melhor sobre seus concorrentes. Durante o século XVII, mediante guerra ou negociagio, os ingleses eliminaram um apés outro os enclax ves, vestigios de colonizagio estrangeira; holandeses na de- sembocadura do Hudson, suecos nas margens do Delaware. NNo final desse século, a Gra-Bretanha era senhora de toda a costa, Esse éxito imprevisivel explica-se em parte peta talidade do povoamento, suas qualidade naturais, sa po- ‘éncia numérica também. Um povoamento variado — O povoamento foi muito varindo sob todos os aspects, Numa compasigioétnca he terogénea. o nticleo principal contou com ingleses. escoce- ses galeces, nas chegaram também imigrantes das Provin- cias Unidas, da Sula, da Alemanka, da propria Franga, pois a revogagio do Edito de Nantes, em 1685, perou uma Corrente de emigragio protestante paraa América, A diver: Sidade de opinioes poltica ede crengasreligosas no cra menor, Todos os que fugiam ao dominio de uma facgao tivaloutinham razdes parame por sta f€desembarcavam tis margens do Potomac ov do Hudson, A historia polica ¢ religiosainglea do séeulo XVII inscreve-s¢ assim, por via de consequéncia, aa do povoamento amcrcano: todas ‘as perturbagées de um periodo particularmente fértil em agitagdes de multiple oem concorreram para engrostar ‘eorrente de emigrasio. Apés os dissidents perseguidos pela reagdo anplicana,chegaram os cavalero, arstocratas vealistas cagatos pelos "cabegasredonas”, depois os pu- fitanos, bandos pla Restauragio,c os jacobitas, que prefe- firam expatnarse a reconhecero usurpador. As vicissitudes Gramaticas da historia inglesa interna acarretaram efeitos bencfios para a colonizagdobritinica. Essa emigsagio ove tm carter especfco que deixou una marca indelével na mentaldade americana, Puitanos ou catlics, os cmigr dos obedeccram a considcragdes religiosas; colocaram a i- berdade de cere de praticar seu cultoacima das vantages de carreira ¢ de seu bem-estar pessoal. Formado com o tempo de scessvas contrbuigSes ho- ‘mana, 0 povoamento do litralalanico do fturos Esta- 3 dos Unidos também foi descontinuo no espago: compu- ‘nha-se de colinias disseminadas de longe em longe, geral- mente na foz de um rio, nas margens de alguma bata, Esses nicleos populacionais, no comego bastante modes. tos, estendidos de norte a sul desde a fronteira canadense até 06 confins da Flérida espanhola, a0 longo de quase 2.000 km, separados uns dos outros por intervales que 2 colonizagao ainda ndo arrancara a floresta, a savana ou 405 {ndios, tornaramt-se pouco a pouco 0 centro de outras tantas coldnias independentes entre si, as quais tinham Londres por capital comum. Trés grupos de colénias — Ao cresverem, esas cot6nias individualizavam-se, sua originalidade adquiria contornos mais precisos. Esbocaram-se t€s grupos principais, diferen- ciados em suas atividades produtivas, em suas formas de sociedade politica, e até mesmo em seu estilo se vida. Basta fia clima para torné-las diferentes: ndo se espalhavam elas ‘a0 longo de 15° de latitude? As demais condigdes naturais também concorreram para tal dferenciagéo, O constraste ‘mais acentuado opunia o grupo mais setentrional ao das coldnias meridionais ¢ seria de extrema importéncia para © futuro, pois tazia consigo o germe do antagonismo entre © Norte € 0 Sul, cuja exacerbacdo levou a Guerra de Se grupo da Nova Inglaterra —No século XVIII, Nova Inglaterra, que agrupava quatro colbnias de dimensies desi- agusis — New Hampshire, Massachusetts, Connecticut ¢ Rhode Island —, apreseniava jé uma economia com um rau relativamente elevado de complexidade: além da agri- cultura. da pecudnia, haviaa pesca, o comérco, um comego ée indistria. 0 litoral rocheso, profusamente recortado, propiciava. criagéo de uma quanticade de bons portosnatu: rs; a proximidade das floresta faclitava aos estleiros a8- vais o fomecimento da madeira necessia;tripulagdes bem treinadas partiam todos os anos para proveitoses campanhas de pesca do bacalhiau, nos cardumes da Terra Nova, ou, 4 para mais longe, atrés das baleias. Zarpando de Newport ‘ou de Portsmouth, os naviosiam até as Antilhas, onde carre= gavam,infringindo 0 pacto colonial, o rum, ometagoe todos ‘6 produtos das ilhas, Enfim, pequenas oficinas tinham se fixado junto aos numerosos cursos fluviais que desciam das montanhas e planaltos do interior: eram moinhos, usinas de acicar, fébricas de papel, serrarias, que transformavam sumariamente os produtos da terra ou as contribuigdes do comércio. A combinacio dessas atividades variadas gcrava trabalho e proporcionava aprecidveis Iucros a uma popu lagio empreendedora, acostumada a ver no trabalho uma razio de vida e um dever, € no sucesso material, consagrado pela riqueza, um sinal de benevoléncia divina Povaaclas em sua maioria por puritanos, essas colénias foram aquelasem que o carsterreligioso era mais acentuado ‘e imprimira mais profundamente sua marca na fisionomia moral e na vida publica. Esses homens, que prefer patriar-se e correr os perigos de uma travessia perigosa a ‘ransigir com as imposigdes do principe ou aadmitir acomo- dagies com a Igreja estabelecida, estavam determinados a viver em conformidade com sua fé e a guiar por ela @ vida de suas pequenas comunidades, A religido governava ano sé a vida privada, familiar, mas também a vida publi- ‘ea, Nada mais distante do ideal de tolerincia universal defi- nido por Franklin Jefferson do que essassociedaces primi tivas, ciosamente devotadas 8 unidade da fé, perseguindo ‘quem no pensasse como a coletividade com o mesmo zelo ‘eo mesmo vigor dos que os haviam perseguido antes. Nessa ‘mentalidade, Estadoe Igreja encontravam-se estreitamente tunidos, © quem quer que se afastasse da [grcja excluta-se {nso facto da sociedade civil. A intolerdncia estendeu-se das crenigas aos costumes, arrogando-se a comunidade o dircito, de zelar pela estrita observancia das eis de Deus e dalgreja: uma regulamentago minuciosa (0 Codigo Azul) instaurou uma ordem moral rigorosa; os contraventores eram punidos impiedosamente: era a gpoca da caga is bruxas. Essa repres- so religiosa e moral difundiu em toda a sociedade um sem= ‘Dlante de austeridade: os mais nocentesdivertimentos pare- iam suspeitos; o tempo devia ser todo ele dedicado ao tra- 5 batho e aos grandes deveres da existenca. A religio presi- dia até as atvidades intelectuais, que nasceram na Nova Inglaterra mais cedo do que cm qualquer outa parte. A atividade econémica, a busca do Iuero, nao fariam mal 4 vida do esptito: foil que se fundaram os primeitos cole- sos, embrides das futuras universidades do Leste: a Har- ‘ard & de 1636, No comego, eram nstitugdes com Fins essen cialmentereligiosos:serviam & formagéo dos futuros minis- tros, Essa marca deizada pela religiéo nos primiros estabe- Tecimentos de ensino ndo desapareceu inteiramente dos Es- tados Unidos: mesmo sua politica externa inspira-se com ftequéncia, em seu moralsmo, nas mesmas consideragbes «que regiam essas pequenas comunidades. ‘A religiio exerceu influéncia também sobre a vida pol ‘ica. Bsses nao-conformista abrasaram em geralseitas deri vadas da Reforma calvinists. Dispensavam a existéncia de tum episcopado; seus ministros dependiam dos notéveis da comunidade; suas pequenas igrejas estavam habituadas a administrar-se livemente. Os habitantes transeriam para suas vidas de cidadios seus habitos de fis; diseutiam entre Sos interesses do burpo, tal como deliberavam em comum sobre os da Ipreja. Esse pacto celebrado pelos passagetos 60 Mayflower jd cstipulava expressamente a subordinacéo das referencias pessoas os nteresses da comumidade. AS- sim, as crengas religosas, a disciplina eclesdstica, adaptan- o inconscientemente priicas democraticas,ovientaram a sociedade da Nova Inglaterra para uma democracia de fato. [Nos agrupamentos que se constiutam em redor dos ports, nas encruzlhadas das esiradas, nas proximidades de peque- nas oficinas, nos mercadosruras, esenvolvia-se a vida mu- nicipal, ‘Alividade econémica diferenciada ¢ lucrativa,fndole religosa pitica demoertica,tradgdo intelectual, todas es- sas caractersticas da Nova Inglaterra consubstancaram-se ‘numa cidade: Boston, que contava com cerca de 20mil habi tantes em meados do século XVIII, Setentrional demas pa- ra poder pretender mais tarde guindar-se categoria de ea- pital dos Estados Unidos, Boston constitu plenamente a mettSpote da Nova Inglaterra. cujafisionomia moral ex- 6 pressava. Foi uma das primeiras cidades a pegar em armas pela independéncia 0 grupo do Sul — Em tudo distinto foi o tipo de socie- dade consttuido pelas cinco coldnias meridionais, na outra extremidade. Do norte para o sul, eram elas: Maryland, ‘assim batizada em homenagem 2 Virgem Maria pelos caté- licos de Lorde Baltimore; a Virginia, que recebeu esse nome de sir Walter Raleigh, desejoso de fazer uma cortesia a sua ‘soberana, Elizabeth [, a "Rainha Virgem”; as duas Caroli- nas, do Norte e do Sul; ¢ a Ge6rgia, uma das witimas col0- nias fundadas, honrando & George I, rei da Inglaterra desde IT4. A superficie média de cada uma dessas colinias era nitidamente superior & das coldnias mais setentrionais, sem ‘que por isso fossem mais povoadas; pelo contririo, elas apresentavam uma densidade mais fraca, raras cidades € ‘alguns portos pouco ativos. Isso deveu-se ao fato de viverem uase exclusivamente da terra. Adotaram uma forma de ‘ocupagio ¢ exploragéo do solo muito diferente da que se verificou na Nova Inglaterra, mais concentrada € mais ex- tensiva: a plantation, com a ajuda da méo-de-obra negra importada da Africa ¢ que 0 tréfico negreiro renovava ¢ umentava continuamente. A partir do século XVIII, os ‘egros eram af mais numerosos do que as brancos, ¢ havia ‘mais escravos do que homens livres. Na falta de atividades ‘complementares, toda a vida dessas coldnias ¢ sua fiqueza ‘dependiam da colheita de alguns produtos adaptados a0 cli- ‘ma quente ¢ timido — tabaco. artoz, fadigo, mais tarde ‘0 algodio, cultivados em grandes extensdes. Produzindo ‘mais do que 0 necessério para consumo interno, os planta- ddores tinham de vender para 0 exterior: sua dependénc natural em relacio as condicoes atmosféricas € reforgada pela dependéncia comercial em relagéo aos compradorcs. ‘Ai germinava a fraqueza da economia, enquanto a cserava- tura tomava a sociedade vulnerdvel. Essa sociedade, aristo- critica em seus fondamentos e em seus gostos, era 0 mais, diferente possvel das sociedades democraticas da Nova In- slaterra: acima da massa de escravos reinava uma oligarqui ‘de plantadares que tinha a propriedade da terra, fazia-se 7 representar nas assembléias ¢ governava a colénia. Entre escravos e oligarcas, havia poueos elementos intermedia Fios. Cults, requintada, essa classe que descendia em parte dde cavaleiros e levava uma existéncia de nobreza rural, ‘ransplantou paraa América as manciras de vive da aristo- cracia europeia. Nessa sociedade hospitaleira que adorava teceber. que vivia prodigamente, que atribuia menos valor 0 dinheiro do que 20 uso que se podia fazer dele, a Europa cra mais transparente do que nos burgueses da Nova Ingla- tettae como que reencontrava nela um pedago de si mesma, grupo intermediério — Por muito distintos que fos- sem esses dois grupos de coldnias, suas diferengas nfo susci- taram nenhum problema no século XVII; elas ndo faziam parte de um conjunto. de um todo comum:; estavam simples- ‘mente justapostas. Nenhuma instituigéo’ comum conferia feito jurtdico & analogia de seus génevos de vida ou de suas aiividedes: a autonomia de cada colénia era total. A relagio entre a extens4o ¢ a populagio tornava impensivel teresses comuns, ascoldnias tam= ppouco alimentavam antagonismos. Por outro lado, esses dois grupos, aos quais atribuimos uma homogeneidade de que eles proprios ndo tinham consciéneia, estavam separa- dos um do outro por virias centenas de quilometros. Inter- posto a cles havia um tereeiro grupo de quatro colénias (Nova York, Nova Jersey, Delaware ¢ Pensilvdnia), que do se assemelhava a nenhum dos dois, embora possuisse talvez mais racos em comum como primeiro. E a parte me- nos homogénea, em virtude de suas origens ¢ de seu po- ‘yoamento: os vestigios da colonizagio holandesa (Nova York chamava-se originalmente Nova Amsterda) ¢ da pre~ senga sueca (no Delaware) coaviviam com os imigrantes das has Brithnicas. A Pensivénia, uma coldnia muito origi- nal, que leva 0 nome de seu fundador, Wiliam Penn, foi povoada pelos quakers. Sua capital, Filadélfia, caja nome ‘exprimie a virtude que os amigos tém por regra, era amaior émaisadmirad cage norte-americont se urbanismo ere ‘muito avangado, mesmo em comparagao com a Euroy nv som oi G30 hablar, wom Soca ms _que um burgo, com trés ou quatro vezes menos residentes, js fazia figura de pequena capital. A singularidade de seus costumes, o tratamento informal, o uso constante de cha- 1péu, a simplicidade do vestuério, a beleza des jovens qua- kkers.atraiam a cutiosidade ¢ eclipsavam no espirito dos via- jantes qualidades menos estranhas: a reputagao de virtude, ‘9 eserdpulo de honestidade nos negocios que nio entravou ‘seu sucesso comercial. “A diversidade do povoamento dessas col6nias permitia vaticinar que a imigracio seria uma constante da hist6ria dos Estados Unidos. Sua posigio central, a meio caminho ‘da Nova Inglaterra e do Sul, como no ponto de partida {das principais vias de penetracio para o Oeste. conferiarthes tama posigao de arbitrio: foi localizagao destinada de ate- mio &s capitais federais, a asilos provisGrios do Congresso ‘continental e depois sede definitiva do governo federal; foi também paleo ¢ alvo dos combates ferozes entre nortistas e sulistas, Mas, de momento, Norte ¢ Sul sequer sonhavam combater-se Analogias ¢ pontos comuns ‘Com essas diferencasem sua economia, na composigio dda sociedade e nos costumes, as treze col6nias tinham entre si, no entanto, algum parentesco: as origens semethantes, ‘© pavoamento, a dependéncia comum da Coroa, certas tra- digoes politicas, inclusive a do parlamentarismo britanico, ‘suas instituigSes politicas. Eram dotadas de consttuigdes: ‘a primeira foi redigida para a Virginia em 1609. Sob formas, juridicas variadas (colOnias da Coroa, govemnos proprieté- 10s, colGnias com carta constitucional outorgada), em qua- se todas se encontravam mecanismos funcionando de ma- ncira semelhante: um governador que representava a Co- ‘0a, geralmente escolhido entre as familias mais antigas da colénia, uma assembleia cleita pelos proprictirios para re- presentar os colonos. Esbocava-se entre eles uma distribui- ‘glo de poderes de acordo com 0 modelo fomecido pela Cvoluglo constitucional inglesa: era a assembléia que votava 9 © imposto e estava estabelecido que 0 governador neces- sitava da anuéncia dela para levantar tributos, Nessas as- sembléias recrutadas uma sociedade bastante rextrita, abastada, culta, formava-se uma elite politica, uma pritica ddos negscios piblicos, uma maneira de pensar comum. Es- sas analogias, entretanto, no eram suficientemente fortes para por si s6 inspirarem nas col6nias 0 sentimento de uma personulidade comum e de uma identidade de destino. © perigo indigena— A luta contra os inimigos comuns teve muito mais ito: primeiro, o francés e 0 indio, em seguida.o inglés. O Continent, de fato, no era absoluta- mente virgem. O indigena, que foi obstinadamente chama- do de “indio" em consequéncia do equivocn geografico ini cial dos primeiros descobridores, era oinimigo natural. Foi Tutando contra ele que os primeiros colonospisaram na terra americana: o exemple de um Wiliam Penn, que quis frmar um contrato na forma da lei com os nativos ¢ comprar Ines © terttétio, nao fez escola, Em seguida, as povoagoes man- tiveram-se em estado de aerta permanente, a fim de preve nir eontra-ofensivas ameasadores. A coabitacéo das das ragas era virtualmente impossivel: seus modos de vida eram

You might also like