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SUNS ASPECTOS DA POLITICA EXTERNA _ BRASILEIRA CONTEMPORANEA ‘disse que o Brasil é um “pais de contrastes”. De fato, 4reas. Nao sao, porém, contrastes es , parali- ser dolorosos e exigir superacao, como 0 atraso das desigualdades sociais; podem expressar diver- € caso, requererem estimulo, como a variedade cul- € que Os contrastes estao em movimento, alteram-se ptimeiro dever de quem pretende analis4-lo. fer Angulo que olhemos o Brasil, a marca inevi- , observamos, nos tiltimos anos, que a populacao ¢ 52 milhoes de habitantes em 1950 para mais de 150 s de hoje (crescemos praticamente duas vezes a ). Houve, paralelamente, um processo amplis- 6. Em 1940, a populacao urbana representa- ‘© hoje, 76%. As conseqiiéncias de mudancas de » profundas © de dificil manejo. Se olharmos emos que a industrializacio avanga em ritmo 50 anos, éramos uma economia agraria -praticamente se restringiam a produtos ava quase dois tercos da pauta). Hoje, te economia industrial do mundo em as reas, como a computagao ban- De outro lado, o crescimento nao nacoes de igual escala na drea iniqiidades e desequilibrios. 353, Digitalizado com CamScanner 08 Ultimos 50 anos, democracia de Digitalizado com CamScanner ja inten¢ao dar algumas indicacdes que podem aju- ponder a essas perguntas. Farei, inicialmente, uma Gio a certas caracteristicas permanentes do compor- diplomatic brasileiro; em seguida, passarei em r de forma sumaria, o modelo de politica externa que no periodo do bipolarismo e das rivalidades ideol6- ente, tocarei em alguns dos aspectos da politica nossos dias, indicando como se adaptou ao mundo a Fria. sirarei que, na atualidade, o Brasil enfrenta dois desafios de processos de transformacio simultineos e profundos © tem a ver com o fim da Guerra Fria, as novas tendén- ja mundial regidas pela globalizacdo e 0 mosaico novos temas da agenda internacional, como meio ‘direitos humanos, as transformacoes do multilateralismo em a agenda internacional contemporanea. do desafio nasce internamente. A democracia esta ada no Brasil e, com isso, estabelece-se uma nova mol- 0 processo de formulacao da politica externa. Como essos sincrénicos afetam a maneira como vemos os do comportamento diplomatico brasileiro gostaria de alinhar uma série de caracteristicas na do pais, sem pretender que esgotem o tema dam a uma descricao completa e abrangente azendo hoje em politica externa. Insisto: fica- slementos que poderiamos chamar comporta- diplomatico. ~ a ervacao diz respeito ao proprio interes- lomaticos despertam na cidadania. Em . Sao de tal ordem os problemas a sociais, seja a necessidade de sputa politica — que “tradicional- sido objeto de um debate “orga- ento, nos meios de comunica- 355 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner -sucedido de integracao, que data de 1991. Basicamen- yesforcos de aproximacao, regidos pela tecla do equili a cooperacao. m outro traco da diplomacia brasileira é a sua capacidade yandir e diversificar os lagos que nos unem ao mundo, do-se as dimensdes do pais (somos a décima eco. do mundo), a necessidade de uma presenca universal se ural ¢ indispensivel. Na verdade, somos um dos pou- em desenvolvimento com lacos realmente globais jes construidos diplomaticamente, induzicos, portan. is com , fomos capazes, nos Ultimos 50 anos, de estabelecer ‘ignificativos, nos planos bilateral e multilateral, com africanos, asiaticos e arabes. Noto que temos uma ) para a tolerancia e para a integracao étnica que, nesse da historia mundial, é exemplar € se torna possivel- trunfo diplomitico. io e Navegacao entre o Brasil © 0 Japio, e, ois, ocorre a chegada das primeiras levas de eses — est na base do denso relacionamento outros casos, como no da China, pais com o sofisticado programa de cooperagao espa- lomatica é estimulada pela busca de relacdes 0 dos graus de idealismo e pragmatismo da . E curioso que alguns analistas — ¢ lem- ¢ — quando examinam a pol dos EUA ternativas excludentes, uma a¢ao externa 5 morais e as op¢oes realistas fundadas no 0, o mesmo tipo de critica foi formula- especialmente na década de 1970, o de “terceiro-mundismo” ao que 357 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner agdes internacionais. A compreensio correta dos tos do sistema internacional — crucial para definir as reais de presenca diplomatica — a legitimidade pleitos e a coeréncia de suas acdes sao instrumentos os para uma “boa” politica externa. Uma superpotén- cometer erros de interpretagao de su: pe ilidades, Ultima instancia, sua posicao dependera de dife- forca, de sua capacidade de coercao. Para a diplo- a, a capacidade de persuasio é 0 principal recurso o internacional, e a persuasao depende, essencial- conhecimento da situacao, de sensibilidade em rela- de conviccao quanto aos argumentos e de Para apresenta-los. Aprofundando o tema, dir-se-ia itimidade, para o Brasil, teria duas dimensoes: a legiti- Sustenta as ages especificas e se exprime no uni- goes bilaterais e a legitimidade que se projeta no a internacional e se confunde com a legalidade . No primeiro caso, a resultante é um expressivo aces bilaterais, de sentido universal e fundada ade: a confianca do parceiro, a certeza de que os assumidos serao respeitados, é a chave do pro- tradicao principista, ou seja, de buscar agir ordo com normas internacionais, seja no plano da a defesa dos principios da nao-intervengio, da pais com ramificacdes comerciais diversificadas nentos econdmicos coercitivos — defen- nente que o ambiente econ6mico internacional >¢ regras estaveis, multilateralmente definidas, jlidade e eliminem as formas unilaterais, s especificas). brasileira na Guerra Fria pela distancia) as “comportamentais” da diplo- te da palestra procurara respon- 359 Digitalizado com CamScanner externa brasileira Digitalizado com CamScanner explicito com os EUA (se recusamos tropas ipamos, ativamente, da intervencao da Reptiblica ana em 1965, cortamos relacoes com Cuba em 1964 ‘uma opdao politica autodenominada de “pragmatismo » que, de uma certa maneira, era baseada em pre- ares 4 da Politica Externa Independente. Em 1960 e indos eram diversos, mas os argumentos eram afins. a internacional parecia impor. ‘Tentamos equilibrar alinhamento especifico, que nos aproximava de do Terceiro Mundo, com uma medida de leal- alores ocidentais (mesmo no perfodo autoritario, al- es da democracia sao formalmente mantidas). novas frentes de intercambio econdmico (vende- a paises arabes ¢ iniciamos uma agressiva politica de exportacio para a Africa), consolidamos e as relacdes com 0 mundo desenvolvido. clusio a que se chega é a de que as caracteristicas jo do pais no mundo eram Unicas € tinham de ser ‘uma diplomacia de feitio proprio. Nao tinhamos © como as demais poténcias médias, como a a o tinham. A acao externa desses dois paises nentes de rivalidade e conflito que as pecu- a nogdo clara de que éramos “diferentes”, de faces para o mundo, 0 que nos obrigava iplomaticas também diferentes (no final da ‘colega dizia que ramos 0 tnico pais que e informatica com os EUA € a ameaca de ftica da diferenca € a autonomia. De autonomia é um objetivo para qual- vu pais se declarara nao-auténomo. Mas é autonomia variam historica € espacial- sses e posicdes de n o, uma das posicoes inflexiveis de comércio com os paises a constrangedora com os 361 a Digitalizado com CamScanner © Setia a de manter eet Sobre. automatico (um nto do Acordo » mecnbaria manter A ra ar- em desenvolvi- ofereciamos Digitalizado com CamScanner inte na idéia de no-teciprocidade (os ricos tinham obriga- relac4o aos pobres) e de que as forcas do mercado “domesticadas” por instrumentos. negociados, fos- ordos de produtos de base ou mecanismos de assistén- ceira ou transferéncia de tecnologia, construindo-se, s pilares para um mundo mais justo e equilibrado. guns poucos elementos poderiam ser agregados a esse a o regime fosse autoritrio e fortemente contestado, sa externa obtinha um razoavel consenso interno, ¢ as tanto da direita (que nao admitiu que fossemos os a reconhecer a independéncia de Angola) quanto da que reclamava da discrepancia entre os pleitos por cena internacional e o agravamento das desigualda- icas no plano interno) — eram circunscritas e limi- de um acervo de relagoes bilaterais de amplo no indiquei, sao estabelecidos ou renovados vinculos es aficanos, amplia-se a presenca no Oriente Médio, e, os lagos com a América Latina ganham nova ‘os marcos bilaterais, a construcao de Itaipu; no (0 Tratado de Cooperacao Amaz6nica). e, ha que se notar que essas acoes universalis- ‘externa sao apoiadas por um Estado que tem bre instrumentos de promocao econdmica ex- éditos 4 exportacao de bens e servi¢os, gran- tatais de trading, subsidios etc. Le o mundo pos-Guerra Fria nia pela participacao) significativa desses elementos deva ser insformagGes que estao ocorrendo no as de formulacao de politica exter- As caracteristicas comportamentais da primeira observagao a fazer é a de 363 Digitalizado com CamScanner iS Por motivos lim). tanto tematica quanto no mundo, ao fim da Guerra Fria is simplistas do que a de que uma “nova déncia ao Unipolaris- legeMOnico tinico (como instrumentos de Poder de 08 405 que realcavam 0 de- Digitalizado com CamScanner olvimento, uma dissociacao entre poder e or- ¢a e responsabilidade. No imediato pés-Guerra impressdo que se recolheu foi a de que esse sido diminuido. As poténcias tenderiam a controlar os mos multilaterais que geram legitimidade, e suas acoes ‘o estatuto da responsabilidade porque estariam se , tentando resolver crises regionais, Patrocinando humanitérias, atuando com base em resolugdes etc. De uma certa forma, em um segundo momen- Guerra Fria, dramatizado pela dificuldade em enca- se iugoslava, 0 otimismo do primeiro momento se idade poder-responsabilidade-eficacia fica em tudo porque 0 tiltimo dado da equacio nao al- cessos inevitdveis diante da complexidade dos desafios | situagao que abre uma nova brecha para a acio desenvolvimento, especialmente do Brasil. De condigao de pertencer a realidades diferenciadas tiva de que mesmo as boas “teses” nao condu- a € rapidamente as melhores solucdes — e, as- analistas, sobreestendeu suas funcdes, 0 pro- Como contribuir para aperfeigoar as “teses” & elemento de eficdcia (que, quando falha, po- legitimidade) passa a ser o desafio da diplo- , em regra, dos paises que pretendem ter uma | a se fragmentar, o que induz a diferentes 8, motivados por circunstdncias especificas de construgao de legitimidade. e servem para os problemas de segu- que se articulam em matéria de meio Os limites da agao da comunidade in- obedecem a regras tinicas. empos exigem um novo discurso do oferecer propostas e projetos vid- 365 Digitalizado com CamScanner ticipar do debate desafio da diplo- enfrentamos sao, na ismo. Temos nego- litas Areas e, apesar , €m muitos casos, yirtude de nossa Digitalizado com CamScanner 9 as solugées diplomiticas para esse complexo de s, como, alias, todas as Chancelarias do mundo, “no processo de interpretagio dos rumos da “nova desordem”, como queiram outros). Sabemos que da is “idéias certas” — dos rumos cional indicara os riscos e oportunidades para a leira nesse momento. Sabemos, também, que € i que a diplomacia sirva ao interesse publico e auxilie a ‘com que nos defrontamos. Como fazé-lo? endo apresentar em seguida um sumédrio de algumas € opcoes da diplomacia brasileira: acao de credenciais os diante de novos padrées de legitimidade e se droes de alinhamento estao superados, uma pri- é a de renovar as credenciais para participarmos, ifialv, das decisdes globais. Nao estamos, aqui, Di io ou de rats de ter idéias por ter idéias. A jileira soube manter, ao longo de sua historia idoso Tespeito ao principio. da realidade, Na poucos temas que nao nos afetam. As io, sobre meio ambiente, sobre direitos hu- de crises e conflitos, em medida variada, brasileiros. Por isso, a reflexao sobre a 1 sentido mais amplo e os instrumentos que ipar de sua construcdo — é um tema ne- la diplomatica brasileira. especificos da agenda e me restrin- legitimidade, que, como indiquei, € de atuagio diplomatica do Brasil. plexo debate sobre o modelo de ‘© mundo bipolar, as rivalidades Mas, algumas tendéncias sao cla- tema da nao-proliferacao, na de- | democracia, com a revitalizagao 367 Digitalizado com CamScanner letiva € dos organismos multi a, para os blocos, a i | Hoje, quando a rivalidac ar legitimidade dos pleitos « Se tornou bem mais comple. da maneira como cada por estar sempre ligado ao incias politicas, hoje 1 ticipacao nos negoc da composicao do de implementacao da Rio- ras regras” estado sendo nego- que o componente “corel: -gimes internacionais aos valores. Em ne- Digitalizado com CamScanner ca Nos biénios 1988-89 & 1993-94 € estamos as operagdes de paz da onu!, 6 didlogo com ica (como se vé pelo significativo intercam- rivel presidencial nos tiltimos trés anos), criagao de um ambiente de paz, de supera- S € mesmo de inovacio nas Tegras sobre nao- exemplo significativo da atitude brasileira é ca que alcancamos nas telacdes com a Argenti- qual empreendemos um importante programa 0 nuclear e promovemos algumas emendas no lolco de modo a permitir que tenha plena vi- ca Latina. Atuamos decisivamente Para a conci- © 0 Equador. de autonomia que cultivavamos na década | uma atitude de extrema cautela em telacao as hacionais tomadas nessa area. Recedvamos que duzir a regimes internacionais que dificultassem lugdes de desenvolvimento, congelassem si €, finalmente, abrissem espago para criagoes de que adotamos na Rio-92 € exemplifi- chamei de autonomia pela via da participacio. r desde os primeiros momentos, para da conferéncia, ligando a temitica el, O equilibrio das resolucoes € ito ao empenho brasileiro. para a em matéria de direitos da Conferéncia de Vie- lasse EM SuCeSSO. 369 1 Digitalizado com CamScanner tegras de intercimbio ento sempre foram 10, de vantagens risco de decli- Digitalizado com CamScanner s de presen¢a mais importante do comércio bra- ia internacional. De qualquer maneira, com- € as regras constituem uma “superestrutura” no ‘se dd a competicao. E, hoje, os agentes econd- tém a clara nocio de que, para obter ganhos ia internacional, o passo inicial e necessirio é aceitar a 'igao € O Constrangimento das leis do mer- des utdpicas estao banidas dos processos econd- de reformas generosas da ordem internacio- ypassados (€ a negociacio politica que ordena o amos, porém, a tese de que o desenvolvi- o € um tema inescapavel da agenda interna- © apoio que ofereco 2 iniciativa de combinar, nas , a “agenda para a paz” com uma “agenda para ”. Uma nao existe sem a outra. © ponto: a diplomacia deve estar alerta para as concretas de projecao de interesses econdmicos. que, diferentemente da década de 1970, o ins- e dispde o Estado é mais modesto e, ainda lidades de subsidios e outros artificios estao s internacionais (ou por press6es bilaterais) competir” para as empresas nacionais. E se enquadra 0 esforco brasileiro de conso- significa, essencialmente, uma plataforma competitiva para os nossos produtos no al. Um segundo movimento, recentemente cl ampliar 0 processo de liberalizacao a a América do Sul com o lancamento de il com o Chile e a Bolivia e, agora, com o movimento, iniciado em Miami, dezembro de 1994, seria de maior s ampla, estendendo o processo de E a resposta brasileira aos izacdo que, em boa medi- i Digitalizado com CamScanner Asia; e, em meno; -devemos estar aten- tros espacos econd- blocos. Alias, para forma que preval | multilateralismo uni- sf de aproximagio quando o momento te papel “defensivo’ ‘com a manutencio para que possa sabemos que, em Digitalizado com CamScanner sobre 0 desempenho internacional diversas frentes de atuacao revela uma diplo- mas, ea. sintoni eae com as mu- de projecao internacional. Da mesma forma, dificuldades sociais obrigam a diplomacia a 6rio de ages 0 problema da imagem, de reve- a sua complexidade. Para os leitores de jornal son clusao apressada é a de que o pais se resume arias e a tragédias sociais. por suas condicdes internas, coleciona uma de “atragao” altamente significativos para a 0 internacional. Lembro alguns: um parque amplo, a presenga tradicional do investi- ima mentalidade empresarial moderna em dinamico e expressivo e, do Angulo ‘conflitos énicos e um sistema politico que € ctiatividade diante de crises complexas. em “trunfos” nao é automatica. complexo para a agao diplomatica. sublinhar que o aprendizado demo- 1eira positiva, ao processo de formu- est4 mais aberta e explora cao freqiiente e abrangente Digitalizado com CamScanner ens da formulacio de ja que as resultantes sociais mais profun. icar clara é a de que o Pais Atica, para resolver seus o, de satide, de garantias or do sistema politico temos ilusdes sobre a uma nova ordem, guis- tores, muitos dos quais a de direitos huma- Digitalizado com CamScanner

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