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_—— - UNIVERSIDADE DE COIMBRA Boletim da Faculdade de Direito COIMBRA (Pe RECURSO A INTERPOR DO DESPACHO QUE MANDA ARQUIVAR UM PROCESSO CRIMINAL DESPACHO DE 12 Di JUNHO DE 1936 DO JUI/ DE DIREITO DE COIMBRA, SNR, DR. ALENANDRE ALVARES PEREIRA DE. ARAGAG Sumirio:— A anwapto 4 0 reeueo que cate do degpacho eat or wo er deitaaro 2 feto imputeso a0 argo, mance arquver 0 procs. 0 artigo 991° da Novisin reforma jeictdia et em inter vigor. COnfost ete ela pri elo ¢0 tiga 219 to ders Re J, de 18 de selombro de 1892 Sobe o presente recurso de ayravo, interposto do despa: cho que desateadera a pretensio do digno delegado do Minis- tério Pblico, de Ihe ser tomado termo de um recurso da mesma indole que pretendia interpor de outro despacho que, nao havendo recebido uma queixa por éle formulada, man- dara arquivar 0 proceso. Bis a questio, que gravita em torno do preceito consignado no artigo 24." do decreto a." 1, de 15 de setembro de 1892. Sou, como jamais deixei de ser, do parecer de que 0 recurso proprio é 0 de apelagao. E esta hoje quasi undnime jurisprudéncia; e, se em distinto sen- tido surge um ow outro aresto, nfo logra éste fazer voga. Inequivocamente 0 despacho que manda arquivar 0 feito poe tum decisivo remate a éste; ¢, sendo assim, basta atentar para fo que estatui on." r.° do artigo 993.° do Cédigo de processo civil, para que mais divides n8o anuviem o espirito de 280 JORISPRUDERCHA cRITICA quem julga e desde logo éste fique dominado pela conviesao de que o recurso préprio deveria haver sido 0 de apelagao Nao € admissivel perplexidade na espécie vertente, porque, como a paginas 611 do ano 5.° do Boletim da Faculdade de Dircito da Universidade de Coimbra, diz 0 Dr. Jost Aunsero pos Reis, no entendimento desta provisio da lei civil adjectiva . Efectivamente para mais do que para serem respeitados nio foram institufdos os recursos. E, se a talante das partes, pudessem indistintamente ser estes escolhidos, imperaria sem dilagio a confusdo © 0 caos, tornando-se tumultuério o processo, tanto mais que, como ao diante forcejarei por demonstrar, as consideragdes que venho expendendo assen- tam numa ainda ndo derrogada disposigao legal E' certo que 0 decreto do Supremo Tribunal de Justiga, de 13 de fevereiro de 1925, publicado a pagina 311 do 4: ano da Revista dos Tribunais, capitula de pouco claro e ex- presso 0 texto do citado artigo 24., désse aresto emergindo, por uma pretendida ambiguidade, a doutrina do arbitrio da RECURSO A INTERFOR. 231 parte na escotha do recurso. Mas, no conceito de um meu colega, formulado na 2.* coluna, in fine, de pagina 272 do 35.° ano da citada revista, as decisdes sO valem que vale~ fem as razdes que as fundamentam. E entre paréntesis releva advertit que na petigdo de agravo foi citado o local da Revista de Legislagao e de Jurisprudéncia, que insere éste acérdio,—e se aponta a Revista de Justica como comportando © Acérdado do Supremo Tribunal de Justign de 15 de feve- reiro de 1925, sem se aperceber 0 recorrente de que um & ‘outro constituem a mesma decisdo, que nesta tltima revista aparece com érro de data. Também é para notar que, tendo sido publicada esta decisdo no indicado local da Revista des Tribunais, a éste se ndo formula a minima alusio, tanto mais ‘que, em imediata seguida a éle, se bordam doutas considera- goes {que o agravante, que elaborou a sua petisao de agravo sem em defesa do sou asserto formular nenhum raciocinio, pretende reforsar aquele com alguma jurisprudéncia, —mas ‘Go precipitadamente 0 faz, que, havendo-se cingido enun- ciada na nota de pagina 312 do citado 43.° ano da Revista dos Tribunais (precisamente 0 local por éle no citado), 1uési por completo faz citagdes erradas. Mest, pars esta airmagto ndo ser havida em abvids, ‘estabelecer 0 confronto entre 0 que 0 agravante escreveu € ‘0 seguinte periodo da mesma nota ‘eNo entanto uma parte da jurisprudéncia..., ano 39-% iigina 329. PABIAté so cita 0 ano 34. da Ultima das citadas revistas, que 4 inteiramente omisso em tal sentido. Mas, fechando 0 paréntesis e reatando as reflexdes em ‘cuja seguida éle se abriv: (O mencionado aresto de 13 de fevercito de 1925 susci- tou por parte da ilustrada redaccio déste jornel de direito Jjustificados reparos traduzidos na aludida nota de pagina 312, ‘que, comegando por aventar o parecer de que enferma de ilegalidade a solusao do acérdao, e formulando de seguida a proposigdo de que indubitavelmente o recurso que compete Go despacho que manda arquivar 0 feito & 0 da apelasto, fenumera depois a jurisprudéncia que em redor do assunto ‘Se tem constituido, e conclui por ponderar que a 3.* cor- Luntspneosyers crlrica rente, isto é, a desposada pelos signatirios da decisto do Supremo Tribunal de Justiga, chega a ser subversiva dos prinefpios do processo. E desde ja por meu lado observarei que a série das locals, na dita nota indicados, em que se professa a doutrina a cuja ‘exposigfo estou procedende, acrescem a) Acérdéo da Relacdo da Parto de 19 de dexembso de 1922, publicado a pagina 238 do 42.° ano da Revista dos Tri- bunais, em que explicitamente se afirma serem estes princi- pios consagrados pela jurisprudéncia, com base segura na lei '») Citado Mantad dos recursos judiciais em 1° ins- tancia, da Ds. Eovak0o CaRvatvo, 2 pigina 1805 c) Nogaes do processo penal, do Dr. [oxo Prono vt Sovsa, § 523.% im fine, a pagina 160 ‘A éxte Gitimo nem sequer © assalram dlvides (tho pue- ris, por certo, se the afiguraram) acéres da indole do eecutso, pois, pela forma porque arrazoa, exibe a doutriaa como se jamais nesse sentido tal controversia se howvesse levantado. E' tempo de empreender a prometida demonstracio: A jurisprudéncia que se pode classificar de tradicional & a que, estribada no attigo gat." da Novissima Reforma Judi- cidfia, constitui a corrente de que € da apelagio e recurso que cade do despacho que manda arquivar 0 processo. Esta pravisia, que equivale a0 artigo 23° do decreto 1. 1, de 15 de setembro de 1802, pois so inteiramente idén- ticos os efeitos do despacho que decide nao ser proibido nem queligeado crime © facto imputado e os do que decreta a arquivagio dos autos—e mal se compreende que esta seja decretada sem que o juiz se assegure de que a lei nao inter- Siz © facto que se imputa~, declaradamente estabelece 0 recurso da apelacao. Os dois artigos conciliam-se ¢ completam-se, porque eu You ainda além de considerar como tradicional a jusispru- déncia que na hipdtese em questo tem como adequado 0 Fecurso de apelagio. © artigo 991." da Novissima Reforma Judiciéria, que anteriormente citei, esti em plena vigencia, visto que; s6 avendo estabelecido 0 artigo a4.° do decreto n.* 1, de t5 ECURSO A INTEROR 283 de setembro de 182, um prazo para a interpasigao do yecutso, e apenas tendo revogado 0 artigo 31.0 déste diplo- tna a legislaglo em contrario, sem es(@rgo se depreende que ‘com & publicagdo déste decreto Geava ein pe « provisda que estabelecera a indole do mesino recurso. © decreto outta coisa ndo teve em vista nade mals 67 fo que por mais dois dias protrair o prazo de ss que pasa i 00 es Cana asinado ea legtagao que 040 Aeavs fevoguda. reer nho estava derrogada inferese da propria oe- mentagia de que se serve o acérdao do Supremo Tribunal de Justiga de 19 de julho de 1907, publicado a pagina 340 da Revista dos Tribunais, ano 26. Pols, oe neste aresto, fiemado pelo inexcedivel juriscan- sulto que foi Piero Osorio, se reputa em pleno vigor, ¢ por- aan to revogads pelo decreto de 15 de setembro de 182, © artigo 96° da Novissima Reforma Judiciésia, sete nfo concorre para que foros de completa vigéncia se no conti- ram a0 citado artigo 991." ‘Forna-se mnister sdvertir que este aresto, erradamente dado pelo agravante como incerto 3 pagina 340 do 34° ano saya or vores ellada Revista dos ‘Tribunass, fo proferido sObre hipdtese distinta da actual, pois, 20 mesmo passo que este inicamente se cefere & qualidade do recurso @ interpor Ga decisio que, por nao haver por delitueso 0 facto porque se instaurou 6 processo, 0 manda arquivar— a decisto do Supre- tno Tribunal de Justiga, como aliis 4 primeira vista resulta do Confronto entre o seu contexto € 0 preceito consignado no artigo 996° da Novissima Reforma Judiciéria, alude & hipé- fese, que oma se nde verifica, de, incontroversamente se tm tando dum facto criminoso, 0 juiz ndo baver indiciado aque- les contra quem fra deduzido procedimento criminal ‘© aivo da questio que se debate € o artigo 34." do de- creto de 1892; 0 da que na decisdo do Supremo se debateu & como se canclui do voto de vencido no acdrdo por esta Tevogado, € que imedistamente a antecede, 0 artigo 23° deste diploma, ja-me licito divergir da douta Portanto (e neste ponto seja-me licito divergir da, anotasfo referida, exorada a pagina 512 do 43." ano da Renésta 284 stomisrenDRwets entnicy dos Tribunais, que acoima de ambigua e pouco precisa a Tedacsto do sobredito artigo 24.) nenbuma dbscuridade con tém 0 artigo 24.° do decreto n.* 1, de 15 de setembro de 18a @ue apenas amplia 0 prazo para apelacao decretada pelo artigo 991.* da Novissima Reforma Judiciaria. E nao se faca reparo no prazo para éste recurso, porque em muitos casos éle ¢ 0 por lei assinado (vejase por exemplo 0 artigo 87.° do vigente diploma acérca do inguitineto, de- relo_n.* 5411) para se interpor o recurso de apelagto. Pela Reforma ainda era menos tempo, porque eram sb trés dias Finalmente, que nao deixe de estar presente ao espirito do julgsdor 0 preceito consignado nos artigos 6° ¢ 7° da lei de 21 de julbo de 1899, que, posto que nao indiquem o recurso Préprio, nao podem, como pondo termo a causa, deixar de se referir a0 de apelasao. © artigo 24.* do decreto nr, de 15 de setembro de 1892, fo tinha necessidade de fixar « natureza do recurso, porque esta tava fzada no artigo opt.” dx. Novfssinn. Reforma E tempo de me quedar por aqui, com a conviegao de que logrei demonstrar a minha proposigio e com a consci cia de que agravo nao padecew 0 agravante. 12 de junho de 1026. (a) ALsxannar De AR«cio. SUMiWO:—1. Opinites a dostrine « da jritpradéncia sobre @ natureza do recurso lnierposto do despacho que manda” aguivar um proceso crime. 2. Aprecingfo dns its correnes domisantes2. A sclcko do detpecho 0s seus fondumentog. —4. O recurso discadg deve ser Je apelagho tho segundo « Novssing reir jadcsra, mas por lore do deerto my de 15 deselembro de 1892 edo Castigo do proctss , 0 que mostra que 0 artigo ggt.* SO en- traria em vigor quando essa formalidade processual se efectivasse, 0 que nunca veil a suceder ‘Além disso, 0 confronto do artigo gt." com 0 artigo gyo.”, onde expressamente se fala em juiri de promincia, mostra que ambos éstes artigos e ainda ‘0 seguinte supunham para vigorar a ratificacdo da promtincia. Por isso com razdo ensinava Dias Frresina: «Sern embargo do disposto nos artigos 991.” © 992.", em- quanto estiver suspensa a ratificagao da prontincia, & sempre de agravo de peticdo ou instrumento, qual no caso couber {art. 995. € 996." § 1.°) 0 recurso do despacho, quer indicie, quer ndo indicie, gualquer que seja o seu fundamento...»" Se tivéssemos, portanto, de derimir a questio controvertida pela Novissima reforma judiciaria, 0 artigo a invacar seria 0 996.° € 0 recurso a interpor 0 de agravo. E precisamente com éste fundamento se defenden jé esta tiltima opiniao. * 1 Novis refer Juiclni encode, pag. 268. No mesmo sentido eserevea 0 profersor DIAS DA SILVA que: = parte do act. 9902 « 08 ars. 91. 9922, 993° 995." nfo teem hoje apiapho, porque sopiem ereieasho da pro ‘inci, ¢ este esta suspensas, Procesoe Pela, chs ¢ comer Proceso cr minal (1903), ag. 809. *DeLgADO DE CARYAHHO, ob. et m0 1 Ph 145, note 22 suntsrRoDBxctn cRimica 4, Nao penso, porém, que possa invocar-se actualmente a éste respeito aquele diploma legal. E’ ao decreto de 1892 que temos de recorrer. Diz o artigo 25.” déste decreto que «nos proces- sos crimes, além da apelacdo e do recurso de revista, havera agravo de petico, nos mesmos termos que em matéria civel ¢ agravo do auto do processo nos mes- mos casos do artigo 1008.° do Cédigo do processo civil». Por isso, é a lei processual civil que nos orienta sdbre qual a natureza do recurso a interpor, haven do a éste respeito inteiro paralelismo em matéria civel e criminal. Ora, em face do artigo 993.° n.* 1.° do Codigo de processo civil, deve apelar-se ¢ no agravarse das sentencas e despachos que puzerem termo a causa. E, como 0 despacho que manda arquivar o pro- cesso pie termo & causa, o recurso que déle se inter~ ponha tem de ser o de apelayao. Esta interpretacdo explica a redaceac do artigo que de outro modo se nao compreenderia. Na verdade, se 0 artigo 096.” da Novissima refor- ma judicidria nao tivesse sido revogado pelo artigo 25.° do decreto de 1892, na parte em que mandava interpor agravo do despacho que arquivasse 0 pro- cesso, seria inuitil 0 artigo 24.°, porque o prazo da interposigdo estabelecido neste artigo ¢ 0 mesmo do recurso permitido no artigo 996.° e a forma de julga~ mento prescrita é igualmente a mesma por ser a dos agravos. Por isso, é forcoso concluir que se supés e bem que 0 artigo 996.° da Novissima reforma féra revo gado pelo artigo 23.” do decreto e que, portanto, Tecurso discutido era o de apelagao, 24 RECURSO A INTERPOR 2 Mas, como se quis manter o prazo anterior para a ‘sua interposigao, mais curto que o normal das ape- lacées, expressamente se dispds neste sentido no artigo 24." Se neste-artigo se nao denominou expressamente © recurso, € porque o artigo anterior impiicitamente © qualificava. Além disso, se 0 artigo 24.° quisesse considerar tal recurso como agravo nao seria necessério falar no prazo da sua interposicao—porque a estabele- cida foi a dos agravos e nao precisaria de se referir A forma do seu julgamento porque preceituou que fosse dos agravos. Bastaria dizer muito simplesmente que 0 recurso a interpor do despacho que manda arquivar 0 pro- cesso era o de agravo Afastando-me um pouco dos fundamentos invo- cados pelo douto despacho acima transcrito, onde largamente e cuidadosamente se procurou elucidar a questo, chego portanto & mesma conclusio que me parece a tinica legal. Be1zza pos SANTos.

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