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LEITURAS Fungo Fraterna,ivroor ‘ganizado por Maria Rita Kehl, € ‘composto por artigos de dife- rentes autores, sendo o resul- tado do trabalho de um grupo de psicanalistas brasiloiros, ‘empenhados na discussao teo- rica que problematiza a funcao patema @ introduz a funcao do somelhante, tanto no que diz respeito & constitug’o subjetl- vva quanto & formago do lago social, AsreflexGes sobre esse tema foram apresentacas no | ‘Congreso Latino-Americano dos Estados Gerais da Psica- rélise em novembrode 1992, na dade de S80 Paulo, ‘O.conceito de fungaofra- terna nasce no bojo dos Impasses da contempora- neldade. E discussio corrente nos meios psicanaliticos a suposigdo de que estariamos ‘nos defrontando na atualidade ‘com a derrocada da fungéo pa texna, Essa constatagao,traria ‘conseqUéncias nefastas tanto do ponto de vista da consti- tuigsio do sujelto quanto do acto civilzatsrio, amearado de desintegragao pela perversao dos lagos socials, Na introdugéo ao livro, Maria Rita Kehl esclarece ao 'eitor que emprega a expresso {ungao fraterna por dues razBes Importantes: 0 termo fungdo Fraternidade: destino possivel para o mal-estar inevitavel Resenha de Maria Rita Kehl (org.), Fungao Fraterna, Rio de Janeiro, Relume Dumara, 2000, 244 p. diz respeito 20 carter neces ‘rio da participagéo do seme lhante no processo de consti- tuigo do sujelto ea palavra fa toma oi empregada com 0 pro- pésito de trazer de volta ao debate psicanalitico aidéia de Tratria. Ida esta que, segundo la, ficou relegada a um lugar *quase maidito” devido as as sociagdes estabelecidas entre ‘massa efratra, aparirdo texto de Freud Psicologia das Mas- ‘sas 0 Andlise do Eue ainda en- tre fratria e criminalidade, no texto Totem e Tabu. Torna-se importante sal eniar, aul, que a autora esta- belece uma diferenca entre Igualdade e fratetnidade pa- amarcar que “a condigao fun- damental da convivéncia frater- nna éasemelhanca na diferen- a" (p.32). ‘Ao examinar a fungao do limo na constituigdo do sujei- to, aauloraretoma olugar dos irmaos na teoria psicananalit- ‘ca —, lembrando-nos que em Freud osirméosrivalizam entre si pela amor dos pais, a0 qual almejam com exclusividade, Na teorizagao lacaniana o aspecto determinante dos ciimes eda Fivaidade entre irmaos 6 aiden- tificagao, 0 que coloca 0 outro ‘semethante come rival em rela (980 & prépria imagem narcisica dosujelto. ara fundamentar 0 con- cceito de fungao fraterma, a au- {ora apoia-e prncipalmentenos textos onde Lacan teoriza 0 ‘complexo fraterno o estagio do espelho. Nesta perspectiva a fungao fratema se refere & entrada do outro semelhante, tencamado primeiramente pelos, limos, no campo narcisico da ctianga e que contribul para a estruturagao do eu, Essa intruséo do semelhante, sogun- do Maria Rita Kehl, contronta 0 ‘pequeno sujeitohumano coma ‘méxima semelhangae aineviti- vel dferenga’ (p. 36), pormitin- 164 LEITURAS do uma reelaboragdo da rela~ (¢40 especular que arranca Co sufeto dailusto alienante de ‘que pode ser idéntico a0 eu ide al, Desse modo, opera-se um deslocamento do ideal pa- ‘temo, langando o sujeito em ai- regao a outras possibilidades: Identficatorias. Maria Rita Kehl conside- raaadolesoénciaum momento privilegiado para as formagoes fraternas, Os lagos de amizade cumplicidade estabelecidos nese periodo permitem aos ladolescentes compartlharem ‘experiéncias através das quais, uestionam verdades absoiutas, Assim, relativizam o poder da palavra paterna eas verdades veiculadas como inquestioné- vols pela cultura, possibiltando a criagSo de novas formas de linguagem efou fatos sociais ‘autora marca ainda uma iferenga entre afungo do se- melhante na constituigao do eu a partcipagao da trata na constuigé da funcdo patema, Diferenga esta, que vai se afr ‘mando aolleitorno decorrer dos artigos. Cada um dos autores retoma o mito freudiano descri- loem Totem e Tabu, para lem- brar-nos que a Lei simbdiica sé se instaura a partir do assassi- nto, perpetrado pelos ims, ‘contra. pai da horda primitiva, © desamparo @ a culpa sgerados pelo crime cometido intensifica os lagos fralemos levando 0s mos ainstituirem © pacto ciulizatério, Ao trans- ‘redir ale arbitraria do desejo 0 palltirdnico, os iemios eriam uma outralei, desencarnadae 8 qual todos esto submetidos, Aledo tabu do incesto, que ao ‘mesmo tempo intertaogozoe permite o prazer,exige de cada lum 0 compromisso de renunci= ara.uma parte da propria satis- fagao pulsional em troca dos baneficios da convivencia em sociedade, Deste ponto de vis- ta, S80 05 mos que fundam a {ungao paterna e sustentam a lei simbdtica, profbindo-se ago- raoque antes desejavam, Por- tanto, fazer operar a fungao paterna é trabalho dos iméios. ‘Actlago de um ideal co- letivo, representante simbélico dopalmorto, possbilita aos r= ‘maos confrontarem-se com suas diferengas, ‘Aimportancia de teorizar ‘a fungao fratema reside na pos- sibldade de ampliacao de um campo identiicatério horizontal que desioca o sujeito daidenti- ficagao ao ideal paterno, sem ‘no entanto menosprezéva, Essa horizontalidade pro- picia que os sujeitos se re- conheram nas suas semelhan- a8 e diferengas @ constituam Outros ideais, num movimen- to permanente de recriagao

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