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Habeas Corpus #596603
Habeas Corpus #596603
603 - SP (2020/0170612-1)
RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
DOUGLAS SCHAUERHUBER NUNES - SP332595
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : JOAO FAUSTINO NETO (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
RELATÓRIO
EMENTA
II. Contextualização
Há anos são perceptíveis, em um segmento da jurisdição criminal,
os reflexos de uma postura judicial que, sob o afirmado escudo da garantia da
independência e da liberdade de julgar, reproduz política estatal que se poderia,
não sem exagero, qualificar como desumana, desigual, seletiva e
preconceituosa. Tal orientação, que se forjou ao longo das últimas décadas, parte
da premissa equivocada de que não há outro caminho, para o autor de qualquer
das modalidades do crime de tráfico – nomeadamente daquele considerado pelo
legislador como de menor gravidade –, que não o seu encarceramento.
Em julgamento anterior (Sessão Ordinária da Sexta Turma, de
4/8/2020), ao emitir voto no Habeas Corpus nº 500.080-SP, relatado pelo Ministro
Sebastião Reis Júnior, referi-me, apenas para exemplificar, a três casos – HC
579.936, HC 573.724 e RESP 1.837.798 – decididos por mim,
monocraticamente, mas que se reproduzem às centenas a cada mês, nos
escaninhos deste Tribunal Superior, todos eles marcados por circunstâncias
idênticas, a saber:
I. os três processos referiam-se a apreensão de pequena
quantidade de droga, os acusados eram primários e portadores
de bons antecedentes e não havia prova de envolvimento dos réus
com atividade ou organização criminosa;
II. os réus permaneceram presos preventivamente, foram
condenados à pena mínima, em regime inicial fechado, e
negada a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos;
III. os três casos eram oriundos do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, que manteve a condenação dos
sentenciados, inclusive quanto ao regime de pena (fechado) e
à não substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos;
IV. nos três casos o STJ concedeu ordem de habeas corpus
ou deu provimento ao REsp, para permitir aos sentenciados
cumprirem a pena em regime inicial aberto e a substituir a
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos; e assim
o fez porque, na esteira da jurisprudência pacificada, tanto do STJ
quanto do STF, a hipótese é juridicamente classificada como
tráfico privilegiado de drogas, que não possui caráter assemelhado
a crime hediondo.