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TEXTO-BASE Repensando a avaliagao da aprendizagem Leia as paginas 135 a 148 Vani Moreira Kenski 8 REPENSANDOAAVALIACAO DA APRENDIZAGEM Vani Moreira Kenski Retorno ao texto sobre avaliagiio da aprendizagem que eserevi hi mais de 15 anos. E com base nele, retomando as ideias ali apresentadas dialoando com elas, que quero trabalhar neste momento, Durante todo esse tempo muita coisa mudou, no mundo e na educagdo, Alteragdes estruturais, que se refletiram em nossas formas de pensar e agir, O desatio de retomar o fio dessa histéria neste momento é emocionante. E como reatar um didilogo com © pasado, lembrando 0 que pensava na época e como me vejo hoje diante de aprendizagem de nossos alunos. © mesmo grande desafio da fungio docente: av: 0 ato de avaliar e 0 cotidiano das pessoas O ato de avaliar esté presente em todos os momentos da vida humana. ‘Todos os dias somos obrigados a tomar decisdes baseadas em alguns poucos dados de que provisdrios das situagées que acontccem & nossa volta. A fusiio de pomos. Realizamos, mesmo sem pereeber, julgamentos Repensando adidética 195 pensamento ¢ agio nos encaminha para alguma decisdo: qual © melhor caminho a seguir, o que fazer, para onde ir ou sobre 0 que escolher, ‘Vivemos fazendo escolhas, sem um conhecimento mais aprofundado dla situagdio envolvida, Segundo Agnes Heller (1985, p. 44), (..) em breves lapsos de tempo somos obrigados a realizar atividades tio heterogéneas que niio poderfamos viver se nos empenhissemos em fazer com que nossa atividade dependesse de conceitos fundados cientificamente”. No entanto, esses velozes julgamentos provisérios, que orientam e definem nossos atos e nossas formas de viver o cotidl isentos e neutros, Eles nos ensinam, A repercussio da nova agao realizada, fruto de nossas ponderag des, orienta nosso aprendizado. O resultado positivo ou negativo de nosso desempenho nos faz refletir sobre a ago realizada e hos encaminha com mais seguranga para enfrentar novos desafios. A reflexdo sobre ago consolida nossas percepgdes e orienta nossas priticas, Ao fazer uma nova reeeita de bolo, ao eserever uma resenha sobre un novo livro, ao resolver um problema ou ao falar sobre um determinado assunto para um publico desconhecido, a pessoa busca dentro de si os elos com momentos anteriores que se aproximam da situaedo presente para definir sua aco, Em todos os momentos, mesmo inconscientemente, a pessoa se coloca com suas experiéneias, seus conhecimentos, suas patixdes, a maneira de ver 0 mundo e os valores com que avalia todas as coisas € todas as outras pessoas que, direta ou indiretamente, estiio envolvidas em cada situagiio. Mesmo assim, cada situacdo € uma nova situagtio. Somos sempre renovados, a partir de cada experiéncia, iano, néo so, em si, Emitimos conceitos e “pré-conceitos”. Fazemas escolhas, definimos prioridades. Tomamos decisOes para resolver situagdes pontuais e também as que vio orientar toda nossa vida, Dentro do possivel, eseathemos, por exemplo, as profissdes ¢ o tipo de trabalho que vamos fazer. Escolhemos, selecionamos e avaliamos os amigos e as demais pessoas. Estabelecemos critérios para definir o que ¢ bom, vilido, iil, necessdrio, o que vale ou nao a pena. A hora de parar e ade continuar, com nossos estudos, trabalhos, relacionamentos. Viver é estar permanentemente em tempo de avali ‘Mas 0 que € essa avaliacdo a que me refiro? E um momento de reflexio e de tomada de decisdes. A avaliago cotidiana exige permanente 196 PapirusEdtora resposta. Articulacio entre pensamento, ponderacio e aco. A avaliacao implica a existéncia de um processo anterior — do qual cada momento é resultante —e de um produto, um resultado que, dialeticamente, encaminha a pessoa para novos procedimentos. Essa tomada de decisio reflete muito mais do que a simples escolha pessoal, antes, reflete consideracdes estruturais ¢ histéricas da pessoa, Assumidas como werdades pontuais, cssas “avaliagdes” se alteram ou ndo, de acordo com as reagdes manifestadas pelas condigdes do ambiente ¢ do grupo social com o qual nos relacionamos, Ao fazer um juizo visando a qualquer tomada de decisio, colocamos em funcionamento o pensamento, os sentidk capacidade intelectual, nossas habilidades, sentimentos, paixdes, idcias ¢ idcologias. Nessas reflexdes esto implicitas no s6 nossas idiossincrasias, mas também os condicionamentos sociais, politicos, econdmicos, culturais e o contexto em que cada situagdo corre. NO: A escolha da profissio, por exemplo. Ser professor, Ndo & uma escolha do acaso, mas envolve muitas reflexdes © ponderagdes até a tomada de decisdio. Com base na avaliagio pessoal e social, escolhemos uma carreira entre tantas outras, Essa € uma decisio que vai se refletir nfio apenas na nossa prépria vida, mas na ce muitas outras pessoas: familia, amigos, futuros alunos... Nessa realidade profissional, novos juizos acontecem. Que tipo de professor pretendemos ser? Se a ope for a de ser um bom professor, cada um de nés — voe8 e eu — jé tem articulado em seu pensamento o que vem a ser isso. Acredito que, neste caso, por exemplo, vocé vai se esforgar permanentemente para alcangar € manter aquele comportamento ideal de perfeigio docente, que foi sendo construido intelectualmente (com base em todos os estudos ¢ leituras que voce ja fez sobre o tema), socialmente (nas relagdes. com professores que voce considerou bons) e mediante todas as demais varidveis que vao orientar a construgao dessa sua imagem de bom profissional, No entanto, para ser avaliado come bom professor, nilo dependemos apenas dle nossa visio idealizada ¢ de nossa autoavaliagdo, Muitas outras coisas vio estar em jogo. A avaliagdo do bom profissional depende ce varias condicdes e de critérios especficos que transcendem o préprio julgamento Ropensando adidatica 137 da pessoa envolvida, Nem sempre 0 julgamento que vocé faz de sew desempenho é semelhante as formas como seus colegas, chefes, alunos € familiares veem seu trabalho. Aspectos diferenciados, objetivos até divergentes, empatia ou oposigées de propésitos orientam o olhar eo jul gamento para identificar o que é bom ou nao no desempenho do “outro”, 0 pior em todo esse proceso € que nao ficam claros, para quem € avaliado, 0s critérios & as condigdes considerados por seus avaliadores para julgi-lo como bom ou mau profissional. Certamente, se as evidéncias consideradas na avaliagdo fossem explicitadas para a pessoa avaliada, cla teria melhores condigSes de explicar, se defender ou mesmo compreender 0 que é considerado pelos outros como seus pontos fortes e fracos. Avaliare ser avaliado como bom professor sao julgamentos baseados ei dticas, posigdes e opinides diferentes, mas dizem de seu desempenho. O olhar dos que avaliam vai estar voltado para as manifestagdes apresentadas por sua agdo, Sio avaliagdes que se refletem nio apenas em sua forma de aluar profissionalmente, mas em toda sua vida e na vida de todos os que, de alguma forma, forem marcados por sua presenca. Considerar-se e ser considerado como um bom professor aumenta sua autoestima, sua tisfagdo, e impulsiona sua vontade de ser cada dia methor. O professor é o profissional que tem como uma de suas competéncias a obrigagaio de emitir jufzos sobre 0 desempenho de muitos “outros”: os seus alunos. O seu julgamento sobre cada um de seus alunos reflete integralmente no desempenho de cada um, Tgnorando isso, 0 professor realiza a “avaliagéio” sem se preocupar com a perspectiva ¢ 0 esforgo do aluno, mas considerando apenas a maneira como © aluno corresponde as suas expectativas, cm relagio ao desempenho dele. O que € certo ou nao, 0 que o aluno sabe sobre determinado assunto, é avaliado com base na ética, na opinido e no posicionamento do docente, nem sempre muito claros para quem esta sendo avaliado, © que significa, por exemplo, o aluno tirar nota cinco (em dez) na prova construida pelo professor? Essa nota representa que 0 aluno nio estudou? Ou ndo entendeu parte do que foi pedido na prova? Ou a prova privilegiou algum aspecto especffico do contetido que 0 aluno nio entendeu bem? © que representa a nota desse aluno no contexto geral da turma? E das demais turmas da mesma série? 198 Papirus Eitora E, mais importante ainda, o que representa essa nota no processo geral de avaliagiio da aprendizagem de cada aluno? De todos os alunos? 0 que o professor vai fazer considerando essa nota, todas as notas, para garantir 6 ideal de aprendizagem desse aluno, de todos os seus alunos? © que representa esse momento pontual na vida desse professor e desse aluno? Que alteragdes de rumo serdo necessiirias para se chegar a0 objetivo final da relag&io pedagégica estabelecida entre essas pessoas, ou seja, a garantia da melhor aprendizagem possivel? No cotidiano do bom professor, a avaliagio transcende a sala de aula e se instala como procedimento permanente de investi gagio. Avaliar 0 outro — 0 aluno, 0 aprendiz — é também avaliar-se e se abrir aos mesmos, questionamentos feitos aos seus alunos. Envolve um exercicio permanente ¢ uma averiguacdo constante. As pessoas mudam ¢, para ser sempre um bom professor, é preciso se adequar permanentemente as novas realidades, 408 novos alunos, as novas exigéncias educacionais. O ato de avaliar no cotidiane da sala de aula Ao assumirmos que 0 ato de avaliar se faz presente em todos os momentos da vida humana, estamos admitindo que ele também est presente em todos os momentos vividos em sala de aula, O dia a dia da sala de aula 6 um rico momento do cotidiano de cada uma das pessoas que ali se encontram, Na atualidade, a sala de aula ¢ um dos raros espagos onde as pessoas se encontram fisicamente presentes para realizarem atividades em comum e se ajudarem mutuamente a aprender. A avaliagdo se transforma, assim, em dindimica que orienta a pritica, Como processo de investigacdo permanente, (odas as atividades devem ser iscutidas, planejadas, executadas © servir de impulso para novas realizagées. O proceso avaliativo percorre como fio condutor e propulser cada um desses momentos de interagao professor-alunos ¢ contetidos a serem trabalhados pedagogicamente. Na interagdo proporcionada pelas atividades pedagdgicas, alunos e professores avaliam tudo e todos, permanentemente. Sio formulados juizos Repensando a didatica 199 provisGrios que orientam a tomada de decisdes e a defini¢io das tarefas atividades a serem realizadas, como a participago em um projeto, a melhor utilizagio do ambiente da sala de aula ou os questionamentos sobre determinado assunto, que podem resultar em varios desdobramentos de projetos e de pesquisas individuais ou coletivas. Essas definigées, julgamentos ¢ reorientagdes de percurso fazem parte de um pracesso que vai resultar, de alguma forma, no objetivo principal da agao do docente: a aprendizagem do aluno. Portanto, & preciso ter conseiéncia de que avaliar essa aprendizagem € uma ago que comega bem antes, no inicio da interac. didética, ¢ prossegue como energia circulante durante todo 0 proceso de aprendizagem. in Avaliar a aprendizagem. Mas que aprendizagem? Oaluno procura uma escola para aprender, Esse é o primeiro principio para a necessidade de haver escolas ¢ professores: garantir que os alunos aprendam o que ¢ definido social mente para a formago de bons profissionais € bons cidadaos. Socialmente, a escola legitima essa aprendizagem do aluno 0 emitir certifieados que definem seus desempenhos. Portanta, a escola funciona articulando os anseias pessoais dos alunos com as expectativas da sociedade na formagio de cidadios intelectualmente competentes socialmente participativos. Nesse sentido, as atividades feitas em grupos, a distribuigdo dos alunos em turmas e todas as agdes coletivas realizadas no Ambito da escola visam mais do que simplesmente informar fornecer competéncias intelectuais, Nesce contexto, aprender significa dominar os conhecimentos sobre determinados assuntos e saber utilizar esses conhecimentos para os mais diversos objetivos ¢ nas mais variadas situagdes. Significa saber trabalhar individualmente © em grupos utilizando o conhecimento: como matéria- prima para novas realizagdes. Portanto, avaliar a aprendizagem significa mais do que conferir ow aferir o indice de respostas corretas dadas pelos alunos em relagao a questoes previamente definidas pelo professor-examinador. Avaliar a aprendizagem de cada aluno, de todos os alunos, é refletir permanentemente sobre as 140 Papirus Editora finalidades ¢ os objetivos do que vem sendo trabalhado, experimentado e vivenciado, no cotidiano das aulas, e as formas como cada aluno, cada grupo de alunos ¢ 0 professor ou os professores envolvidos vm atuando e contribuindo para a superagdo dos desafios de aprendizagem de todos. O ato de avaliar ¢ 0 projeto pedagogico da escola O processo de avaliagio das aprendizagens dos alunos tem de refletir iio apenas o exam dos contetidos trabalhados em sala de aula, mas aspectos mais abrangentes, ligados & formago do cidadio, Em vez de corresponder somente ao desempenho do aluno em uma determinada disciplina, 0 processo de avaliagio discente articula-se ao projeto pedagdgico da escola e aos objet is que se apresentam como mis ensino os educaciona Na atualidade, as instituigdes escolares de todos os niveis veem mais como sistemas isolados. A utilizagio das miltiplas formas de teragiio e comunicag’o, via tecnologias digitais de comunicagio ¢ informagao, amplia as reas de atuagao das escolas colocando-as em um plano de interedmbios e de cooperagiio internacional real, com instituigées educacionais, culturais e outras que st Essas novas possibilidades educacionais trazem desafios para a definigio do projeto pedagégico da escola, como, por exemplo, & necessidaele de reformulagao ¢ atualizagao permaneates dos curriculos, assim como a compatibilizacio dos contetidos entre as instituigdes parceiras. Forga a definig&o das esferas de influéncia e de articulagées entre as diferentes instituig6es e a necessidade de autonomia para que cada estabelecimento de ensino possa tomar decisées e definir procedimentos para © desenvolvimento de seus projetos educacionais em parcerias com outros estabelecimentos, nacionais e estrangeiros. Nesse complexo e veloz proceso de articulacio de valores, comportamentos, habilidades e conteddos a serem trabalhados pedagogicamente pelos professores ¢ alunos, torna-se de extrema responsabilidade definir os objetivos que funcionariio como guias para 0 proceso avaliativo. Ropensandoa didética 141 professor deve estar sempre se questionando sobre os abjetivos do trabalho que esta realizando com seus alunos. Se esses objetives correspondem nao apenas as diretrizes definidas coletivamente no projeto pedagogico, mas, principalmente, as expectativas, aos interesses € as necessidades educacionais dos alunos em um mundo em permanente transformagio, Uma educagio entendida como um processo que busque o fortalecimento das pessoas, visando ao autoconhecimento, ao posicionamento critico diante da realidade social e @ autonomia na busca do conhecimento, Que Ihes garanta o fortalecimento de suas identidades individual e grapal — ¢ a luta pela transformagao da sociedade para o oferecimento de maiores ¢ melhores condigdes de vida e bem-estar para todos, Nas atividades cotidianas em sala da aula, o bom professor vai se preocupar em ir além da transmisso de sua visio. particular sobre determinado contetido, Sua preocupagio ser a de estimular @ aluno a trabalhar com os conhecimentos disponiveis nos mais diferenciados meios, para superar desafios de forma critica e criativa. intenso uso das novas midias digitais altcra as relagdes interpessoais, e com o conhecimento. Este, disponivel nas grandes bases de dados informacionais, pode seracessadoa qualquer momento, por qualquer pessoa, independentemente de conhecimentos prévios para compreender o que esti sendo informado. A informaco acessada € matéria bruta que precisa ser trabalhada didaticamente nos ambientes educacionais. Nessa nova realidade, © professor nao é mais 0 provedor das informacdes, mas 0 articulador e o organizador das atividades, para que os alunos possam aproveitar ao maximo as informagées disponiveis e, nesses exercicios, irem além das informacoes, aprendendo, produzindo, construindo, criticando ¢ avaliando as informagies disponiveis Fm um mundo que muda rapidamente, 0 professor deve estar preparado para auxiliar seus alunos a fidkarem com estas inovegBes, a analisarem situagdes complexas e inesperadas; a desenvolverem sua criatividade; a utilizarem outros tipos ce “racionalidades”: a imaginagao criadora, a sonsibilidade ttl, visual ¢ auditiva, entre outras. (Kenski 1998) 142 PapirusEdtora Nesse novo contexto, 6 aluno ter participacio dindimiea na realizagio das situag6es propostas para sua aprendizagem e de seus companheiros. No esforgo para a realizagio de cada desafio, estario em jogo seus conhecimentos anteriormente adquiridos, sua experiéncia, seus sentimentos, seus valores, suas habilidades, suas competéncias, sua inspiragiio criadora ¢ tudo 0 mais que, de certa forma, todos devem usar ao elaborarem suas avaliagdes provis6rias na vida cotidiana, No caso espectfico da situagdo de ensino, todas essas energias sero orientadas para a superagto de desafios yoltados para a aquisigao © a produgdo de conhecimentes, valendo-se da imensa quantidade de informages disponiveis nas miltiplas midias digitais € nos espacos de informacdo da atualidade. abe aos professores, nesse contexto, maiores competéncias do que a simples transmissio do contetido a ser trabalhado nas situagdes de ensino, Ao contrério, seu papel, no ato de ensinar/aprender, é © de partilhar, com outros professores e estudantes, os recursos materiais ¢ informacionais de que dispdem para que, juntos, possam estabelecer alguma ordem, ainda que efémera, no meio de tantas informagées disponiveis. Estabelecer uma cartografia de saberes, valores, pensamentos ¢ atitudes a partir da qual possam instigar criticamente seus conhecimentos ¢ os de seus alunos, indo além, em busca do n A avaliagdo da aprendizagem em um projeto educativo As atividades desencadeadas no processo de aprendizagem nio so estanques nem isoladas. Elas fazem parte de um proceso continuo e devem ser avaliadas progressivamente, durante todo o tempo. © processo de avaliagio é parte integrante e substantiva do processo de ensino- aprendizagem. Ocorre cm todos os momentos, durante a realizagaie das atividades eriativas, dindmicase questionadoras, que necessitam de reflexio, pesquisa e frequentes tomadas de decisdes Assim, a avaliagdo da aprendizagem requer novas posturas do professor, alivo, participante e atento aos questionamentos e comportamentos dos alunos, Um professor responsével pelo estabelecimento de um clima Repensandoadidatica 143, favoriivel & participagiio de todos, com liberdade para que os alunos possam apresentar suas chividas, manifestar suas inquietagdes € incompreensoes, sugerir caminhos alternatives para a realizacio de atividades, comprometendo-se com sua prépria aprendizagem e com a de todos os demais participantes do processo. E nas relacées cotidianas estabelecidas entre professores e alunos que vai se dar a aprendizagem. As informagées obtidas nas m: diversificadas fontes - dentro e fora do ambiente de aprendizagem — precisam ser dispostas, apresentadas, discutidas e trabalhadas pelo grupo de alunos e professores para alcangarem novos objetivos de aprendizagem. Nessa relagdo dindmica de levantamento de informagées, de discussao, critica, reelaboracio e construcao de novos conhecimentos, em que professor ¢ alunos participam de todo 0 proceso, no hd sentido para uma forma de avaliagdo que no seja processual e da qual todos os cnvolvidos nao participem ativamente. A interagdo entre todos propicia condigdes de auto © heteroavaliagdes, assim como a necessidade de permanente avaliago do préprio processo de ensino-aprendizagem, © professor deve procurar obscrvar e verificar o desempenho e a aprendizagem dos alunos no apenas por meio de uma prova ou um teste apresentado ao final do curso ou de cada unidade. Nao é também pela solicitagiio de pesquisas, resenhas ou monografias descontextualizadas do processo desencadeado pela disciplina que vai se aferir a aprendizagem dos alunos. As atividades individuais ou grupais, sejam elas testes, pesquisas, buscas, sfnteses ou qualquer outro procedimento similar, s6 se apresentam com sua forga, colaborando para a aprendizagem, quando seus resultados silo apresentados, debatidos, questionados ¢ (re)trabalhados no coletivo formado pelo grupo de alunos e professor. Parceiros na dinamica da sala de aula, ou em qualquer outro ambiente de aprendizagem, professores e alunos devem participar de todo 0 processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, de avaliagao. Nesses processos se incluem ndo apenas as avaliagdes das aprendizagens dos alunos, mas as condigdes existentes para que elas possam ser estimuladas, Assim, slo avaliadas as propostas tedrico-metodolégicas de ensino, 0 acesso ¢ a 144 PapirusEditora adequagio dos meios disponfveis para que as atividades possam ser realizadas (sejam eles livros, filmes, computadores, Internet, como também as possibilidades de uso de laboratérios, as visitas, entrevistas com especialistas etc.) de acordo com as especificidades do contetido e dos objetivos educacionais em questo. No caso especifico de cursos de formagdo de professores ¢ em todos os cursos de atualizacio de docentes — avaliadores de tantos outros alunos —, os objetivos imento teérico sobre o assunto, Torna-se da maior importincia que se multipliquem as ocasides de os alunos se situarem de diferentes maneiras como avaliadores de si mesmos ¢ dos outros, Nesses cursos 0 exercicio da autoavaliagao deve ser uma pritica comum a todas as disciplinas. FE. na reflexdo intensiva sobre sua propria pritica e seu desempenho e no estimulo para a explicitagio e 0 confronto de suas avaliagéies com as dos demais alunos ¢ professores (conhecendo, inclusive, os critérios de julgamento utilizados por todos), que o aluno- professor e/ou o futuro professor vao se apropriando da complexidade do julgamento avaliativo. fio além do conhe O essencial nao é que o aluno chegue a um consenso sobre seu desempenho ou o desempenho dos demais participantes que ele também avaliou e que esse consenso seja definido por uma nota ou mengio. O importante & que o aluno compreenda a multiplicidade de fatores que envolvem um processo decisdrio como a avaliagéio. Que esses resultados possam ser utilizados para reorientar 0 proceso de ensino-aprendizagem, definindo 0 que pode ser methorado, 0 que deve ser mantido ou o que precisa ser excluiclo, A possibilidade que 0 aluno tem de envolvimento com a prépria avaliagdo de seu desempenho ¢ dos demais colegas, do processo e de todas, asdemais condigdes estabelecidas para a aprendizagem, vai ser contribuigao decisiva para sua formagio como avaliador, ago inerente A sua fungio de professor. Nesse caminho, é importante que os estudantes participem da construgao de uma proposta de avaliago (ou pelo menos tenham conhecimento dela) com o conjunto de evidéncias, por meio da qual serio observados seus desempenhos na disciplina conjunto revisével, tempordrio e diferenciado de critérios para a avaliagio Essas ewidéncias formam um Repensando adidatica 145 do desempenho dos alunos na realizagio das atividades propostas na disciplina. Tendo claro em que perspectiva esté sendo observado e 0 que se espera de seu desempenho, 0 aluno tera (todos os alunos terdio) melhores condigGes de mostrar seus conhecimentos e suas habilidades. Em prinefpio, 0 ponto de partida para a criagio de uma proposta de avaliagdo deve ser tarefa do professor, que vai orienté-la de acordo com os objetivos gerais do projeto pedagégico e os objetives especificos de sua disciplina nesse contexto, Nao sendo uma proposta fechada, & medida que © processo for se desenvolvendo, ela pode ser alterada, com a colaborac dos alunos. ‘lunos Uma das preocupages na apresentagao desses indicadores aos 6 tomar claras para eles as formas perante as quais deveriio s: em suas aprendizagens, reduzindo a ansiedade cas expect aos “Fantasmas da. avaliagao”, r avaliados as em relagao Essas formas de trabalhar com a avaliagdo nao excluem ¢ nem impedem a conotacdo subjetiva que est presente também em todas as demais formas de avaliagio, mesmo nas que sio tradicionalmente chamadas de provas ou testes “objetivos”. Como procedimento, nao vio levar a diferengas significativas se forem utilizadas unicamente com o intuito de atribuir notas para o desempenho dos alunos, pelo professor, Para que esse instrumento possa colaborar em um processo de avaliagdo preocupado em oferecer maiores e melhores condicdes ¢ oportunidades de aprendizagem aos alunos, € preciso que ele seja pensado como uma contribuigdo, um desvelamento das regras e das formas individuais e subjetivas com que 0 professor hormalmente avalia alunos que, em muitos casos, cle nem conhece, esquecendo que eles também sao pessoas. Como nos diz Chantal Cambronne (1987, pp. 39-40), “...) avaliamos © aluno hoje com os controles, as notas, os Consethos de Classe (...) € esquecemos os seus tempos mortos, os momentos de depressaio, os bloqueios € 08 “estalos’, seu amadurecimento (...) esqueeemos que, como nés, ele é uma pessoa, uma pessoa total, com suas inquietagdes e dores, seus entusiasmos ¢ suas fugas, seus bons ¢ maus dias. Nés julgamos, felicitamos, condenamos (...) € eu participo de tudo isso, como os companheiros, Mas isto ndo me agrada, E eu sofa, E isto me desgasta..” 146 PapirusEditora ‘A avaliago s6 encontra sentido no proceso amplo da educagio quando € pensada, planejada e executada tendo como objetivo auxiliar essas pessoas, sejam elas professores efou alunos, a aprender mais e melhor, a reorientar seus caminhos, suas formas de estudar e de lidar com os conhecimentos, esclarecendo e apresentando as fragilidades e potencialidades de cada um em relagao a determinado tipo de conhecimento. ‘Como indicios, as muitas formas de avaliagdo precisam ser compreendidas, analisadas, explicitadas ¢ delimitadas em sua visio parcial sobre o julgamento do desempenho e da aprendizagem do “outro”. A avaliagao da aprendizagem precisa ser permanentemente avaliada. Referéncias bibliogrdficas is raisonnable...”. Cahiers Pédagogiques, ‘CAMBR ONNE, Chantal (1987). “Sij n® 256, Paris, pp. 39-40. HELLER, Agnes (1985). Ocoridiano e a hist6ria. 2 ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, p44. KENSKL, Vani M. (1998). “A profissio do preofessor em um mundo em rede: Exigéncias de hoje, tendéncias e construgo do amanbi, Professores, o futuro hoje”. Revista Tecnologia Educacional, vol.26,n’ 143, Rio de Janeiro: ABT/ Senac. Ropensando adidatica 147,

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