Artigo Sobre Bill Evans

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MURRAY, J. (Bi. 0 az de Bil Evans: fomagéo, influéncs, obra etl compositional fer Mus Belo Horizonte, 28,2013, 921-54 O Jazz de Bill Evans: formagao, influéncias, obras e estilo composicional J. William Murray (Towson University, Towson, EVA) jwillimmurray@comeastnet Traducio de Fausto Borém (UFMG, Belo Horizonte, MG) foorem@ufing.br Recumo: Estudo estlstico sobre @ misice do compositor epiarista norte-americano Bill Evans. Incui um contexto sobre 0s pianistas, compositores (erudtos e populares) ¢ o teérco do jazz George Russel, que marcaram sua formaga0 musical A andlise de 19 obras selecionadas de Bill Evans revela caracteristicas estiisticas relacionadas ao estilo/andamento, métrice, tonalidade, forme, duragéo,ritme harménico, linguagem harménica ¢ outras detalhes relevantes Palavras chave: ecletismo de Bill Evans; hibridisme em misica; miisica francesa ¢ jazz modal jazz; transformagao € improvisagie musical; influéncia entre misica erudita e popular. Bill Evans's jazz: background, influences, works and compositional style Abstract: Style study on the music of American composer and pianist Billy Evans. It includes a historical context on pianists, composers (bath popular and classical) and the jazz theorist George Russell who influenced hhis music. The analysis of 19 selected works of Bill Evans. reveals traits related to style/tempo, time signature, tonality form, length, hharmonie chord pace and harmonic language and some other relevant details Keywords: eclecticism of Bill Evans; hybridism in music; French music and modal jazz; music transformation and improvisation; influence betwveen classical and popular music. 1 = Introdugio Compositores de diversos estilo musicals sdo influenciados pelo sons que ouvem. Entre esses que de fato ressoam dentro deles, alguns elementos musicais aparecerdo em sua misica. Alem desta influéncia por meio do processo de escuta, elementos musicais de outros compositores so absorvidos ao se estudar uma obra, analisé-Ia ou transcrevé-la, Mais do. que isso, @ consciéncia sobre os procedimentos composicionsis © fundamentos tedricos ai envolvidos pode se refletir na miisica que o compositor influenciado escreve ou arranja Devido @ jungéo de todos esses fatores, ¢ de outros que no so pertinentes no escopa desse estudo, nao € muito facil determinar com preciséo a presenga de tum compositor na misica de outro. Entretanto, quase sempre 0s compositores sd0 capazes de nomesr alguns ‘names mais importantes dentre os que os influenciaram. No meu cas0, hé dois compositores: Bill Evans (1923- 11980] e Bly Strayhorn (1918-1987), cujas compasigdes particularmente ressoam em mim veja estudo estilistico PER MUSI Revita Academica de Misia ~ 28,256 p jal. ez, 2013 sabre 9 misica de Bill Strayhorn no niimero 29 de FerMusi, Mas porque sou atraid por esses compositores? Porque aprecio ouvi-les? Porque gosto de tocé-los a0 piano? Essas tém sido questes que procuro responder (MURRAY, 2011) Nesse estudo, proponho levantar as caracteisticas composicionais de Bill Evans, Para isso, considero apenas a: composigées de que apareceram legalmente publicadas, especialmente no Bill Evans Fake Book de Pascal WETZEL (2003), que traz 85 obras. Parte integral do repertirio do jazz, estas io misicas que o: amantes « estidiosos do género, como cu, ouviram ac longo dos anos. Fake books so também as fontes primérias para se tocar essas composigbes a0 piano que ressoam em mithies de pessoas. Evans no foi prolifico ¢ deixou cerca de 60 obras. Uma das lendas da histéria do jazz, ele se tornou mais conhecido por suas performances ao piano do que por Fecebdo em: 1ojo/z012 -Aprovade em: 0401/2015, 2 MURRAY, Jill. 0 z= de Bil ran: formago,ifuéacas, cba: eestib composicional. er Mus Belo Horizonte, 228, 2013, 921-34, suas composigées. Seu estilo pianistico influenciou muitos pianistas © certamente teve um impacto no modelo de som que valorizo € admiro. Entretanto, muito embora Evans tenha influenciado minha mancira de tocar, néo incluirei suas priticas de performance rng minha analise no presente artigo, me restringindo apenas aos seus aspectos composicionais, verificados em 19 obras selecionadas (veja Exs.1 € 2 abaixo). 2. A formagao de Bill Evans Considerado um dos pianistes de jazz mais importantes de todos os tempos, Bill Evans mudou 8 mancira de tocar piano no jazz, influenciando pisnistas como Herbie Hancok, Chick Corea, Keith Jarret, Hapton Hawes, Steve Khun, Alan Broadbent, Denny Zeitlin, Paul Bley, Michel Petrucciani © muitos outros. Gene Lees (FEATHER © GILTER, 1998, p.214) 0 considerou 9 maior influén pianistica de sua geragdo, especialmente pela sua nova abordagem da sonoridade da harmoni. Para James Lincoln COLLIER (1878, p.393), Evans representa a maior influéncia entre 05 pianistas desde @ década de 1960: “Evans mudou] # linguagem do piano no jazz moderno, incorporando procedimentos harmanios derivados dos impressionistas franceses, forjando um estilo coletivo conhecido pelo contraponto ao mesmo tempo ritmico © fluido" (TEACHOUT, 1998, p46) Quando 0 piarismo de Evans aparece cm uma diseusséo sobre jazz, duns questées que geralmente vem & tone sio seu estilo lirieo e sua abordagem harménie. Sua sonoridade inica tomou-se diferente do que predominava em um periodo no qual o bebop reinava. Mesmo hoje, Evans €eitado como um modelo pelos erticas de gravagdes de piano do jazz atual. E muito eomum o comentario no qual o pianista. que csté sendo aveliado mostreinflugncas de Bil Evans [Alguns dos trios de Bill Evans estdo entre os melhores trios de jazz de todos os tempos. Ele seus colegas de trio muderam a natureza desta formagio pera algo de fato eoletive, 20 eontrério de uma formagéo em Que se ouviam papéis bem delimitados pera o piano, 0 contrabaixa ea bateria. O que hoje se tornou algo mais eomum foi algo inteiramente novo na épeca em Que Evans eomesou a fazé-lo. ‘Além de grande pianiste, Evans também foi um grande compositor, embora muitos desconhecam esse fato, © que contribui para que nfo seja devidamente estudado ainda. Os livros, teses, dissertagées e artigos sobre Evans tem tratado mais de seu estilo de performance ¢ Improvisagéo, mas nao de seu estilo composicional O objetivo de uma composigao dejazz éprepararo palco para a improvisagao que se segue ao tema ¢, par isso, € sindnimo de improvisagaa ¢ nao de realizagao de nota: cseritas. Evans esereveu cangies como precursoras de improvisagées, mas ao mesmo tempo, acreditava firmemente que @ improvisago era _altamente dependente do que o tema original tinhe a dizer (EVANS EVANS, 2004). 0 performer, compositor e educador de jazz Harold Danko diz que “Em neahum ligar podemns aprender mats sobre a lngeagem musical de Bil Ears do que nar sua: proprias composke: Fedemo: aprender come ele chegou ao comteido musical par Ine do processo de composigio..20 longo dos anc ele utilzoe war propria: composi: com veicub: para improvcapio 2 presente geragao pode seguir seus pasos investigando sua importante produgio como compositor” (WEIZEL 2003) Evans O estilo composicional é influenciado diretamente pela formagao da pessoa ¢a misica com que tem contato, 0 que foi o caso de Bill Evans. Nascido em Plainfield, New Jersey em 1922, Bill Evans comegou a estudar o pisna aos seis anos. Mais tarde, estudou também o violina € 8 flauta, mas sempre foi mais interessado no pisna (BIOGRAPHY RESOURCE CENTER, 2008). For volts dos cinco anos, Evans costumava ouvir as aulas de pisna de seu irmao Harry ¢ podia repetir 2 misica que cuvia Com isso, conseguiu ter suas préprias aulas ¢ psssou 4 praticar o pisno por até trés horas por dia, coma ebserva Peter PETTINGER, seu bidgrafo em How @ heart sings (1998, 1) 2 = Influéncias sobre Por volta dos sete anos, Evans comegou a tocer 0 violino. Embora nao fosse seu instrumento favorito, cesta experiéncia pode té-lo ajudado 9 desenvalver 0 estilo cantabileno piano pelo qual se tornou conhecido (PETTINGER, 1998, p.11). Nas notas da capa de seu disco Bill Evons: the complete Riverside Recordings, ele diz: *Acima de tudo, quero que minha misica cante deve passer aquela sensagéo maravilhosa do cantar” (WILLIAMS, 1984). Dos 6 as 13 anos, Bill Evans estudou 0 repertéria do piano erudito, mas sem consciéncia de como a misica era construids. Ganhou medalhas de ouro em competigdes tocando Mozart e Schubert. Desenvolveu © gosto por Delius, Debussy, Satie, Ravel, Grieg, Rachmaninoff e Chopin (SHADWICK, 2002, .50) Nessa época, continuou 2 desenvolver sua habilidsde de leitura & primeica vista tocando rigorosamente as nota: cseritas na paritura. Por volte das 12 anos, comegou 4 tocar, com seu irméo, numa bands para enssios de aulas de danga na escola. Ali comegou 2 descobrir 0 idioma do jszz, substituindo acordes para mudar a harmonia. Sus habilidade de leitura & primeira vista Ihe abriu muitas portas na regido de Plainfield. Nessa época também comegou 2 se interessar pelas formas, musicals € procedimentos composicionsis. Sozinho, passou a reduzir harmonicamente as composigies que Ihe interessava (PETTINGER, 1988, p.12-13) ‘Ao terminar 2 high school, Evans recebeu uma bolsa para estudar miisica no Southeustern Lousiana College, localizado @ 80 Km de New Orleans, passo que fai crucial na formagao do seu estilo. No inicio da década de 1940, 0 estilo bebop estava surgindo em Nova lorque, estilo MURRAY, J. (Bi. 0 az de Bil Evans: fomagéo, influéncs, obra etl compositional fer Mus Belo Horizonte, 28,2013, 921-54 a0 qual Evans no se expas, devide & sua idade. Ao se mmudar para longe de cata para estudar misia, Evans ficou reservado 0 sufitiente pars desenvolver um estilo nico, sem se deixar influenciar em demazia pelo bebop, cstilo que extava predominando nos grandes centro: do pis (PETTINGER, 1986, p.13) Na faculdade Southeastern Lousiana College, Evans se concentrou no repertrio erudito de piano, come mastra © programa de seu recital senior (Ex.1). Nessa época conviveu com ineluiu sonatas de Mozart e Beethoven, ‘bem come obras de Schumann, Rachmaninoff, Debussy, Ravel, Gershwin, Villa-Lobos, Khachsturian, Milhsud (PETTINGER, 1998, p.16), J. S. Bach, Chopin, Stravinsky Scriabin (BIOGRAPHY RESOURCE CENTER, 2008). ne Hunared Sixty-tinn Concert Southeastern Louisiana College: DEP AFTMENT OF FINE ARTS presente wmutiairevans (condita ort) SENIOR RECITAL ‘music auttoriom apr, WorstayApm 25, 1250 rea and Fugue 8 et binge. ach Capeesorpus 118 Mo 7 ahs Shoe ria pt Chopin Peta Katey Ne 2 Sonera Ne. Bago mato ‘Orchestra pers played by Rona Sete! Ext ~ Programa do recital senior de Bill Evans no Sautheastern Lousiana Collage (NETHERCUTT, 1989, 5). Seu estudo de miisica erudite foi amplo e dverso, © qual Ine permitiu desenvolver ume excelente téenics, o que ficou aparente em toda a sua carrira com jazzste. Mas sempre colocava essa bagagem a favor do conteido ‘musical € nunca come mero vituasisme. Tacar a misica de Bach, ele afrmava, Ihe permita ter mais contato com 6 teclado € controle sobre a sonoridade que o tornaria famoso (LYONS, 1985, p.226). Evans sempre foi adepta & ideia de teazer as técnicas da misice ocidental curopeia pars o jazz. Elementos de Bach, Chopin, Debussy e Ravel so perceptiveis na sua escrita (La VERNE, 1990, p.) No jazz, tormou-se habil na reutlzegao de sutilezas hharménicas de um leque variado de compositores: das ambiguidades tonais de Debussy ¢ Ravel até @ sutileza de Satie, das estranhezss de Scriabin até os acordes cspacializados de Barték, passando pele bitonalidade de Mithaud (SHADWICK, 1960, p64). As caracteristicas ¢ técnicas que aprendeu na misica cerudita se tornaram aparentes nas suas composigdes € performances. Em 1966, Evans ¢ seu irmio Harry prepararam um documentério sobre a natureza da misica, jazz ¢ improvisagio (EVANS © EVANS, 2004). Pare ele, o renascimento da misica dos séculos XVlll © XIX seria o jazz, pois @ improvisagéo havia sido um procedimento comum para mestres como Bach, Mozart € Chopin. Ele lamentava que 9 improvisagao tivesse deseparecido medida que mais importancia foi dada & miisica escrite. Evans sentia que esses grandes compositores gostavam da liberdade da improvisagio € 1 sensagao de liberdade foi uma das razées pelas quais cle se inclinou para o lado do jazz, a0 invés de se tornar um pianista de concertos eruditos. Entretanto, nunca ‘abandonou suas raizes eruditas, Na mesma época em que Evans estudava @ misica dos grandes compositores no Southeastern Lousiana College, também tocava regularmente em New Orleans ¢ Viginiangas com seu trio chamado Casuals (SHADWICK, 2002, p.51). Tocava e escuteva uma misica basterte diferente da que aprendia na faculdade. Depois de servir a0, cexércto por trés anos eficar um ano em casa estudando, decidiu, em 1985, entrar para a MannesSchool of Musicem Nova lorque para estudar composigdo, pos sentia que no havia aprendido sindso sufciente. Nessa épocs, procurava também tocar jazz em todas as gigs possiveis. Assim, todo « tempo, Evans se expis realizava misica de um variado leque de tradigdes musicais que esta intimamente ligado ‘20 desenvolvimento de seu estilo pessoa Nao foram apenas os compositores eruditos que influenciaram sua performance € estilo composicional Como ouvinte inveterado, absorveu na sua musica muito daquilo que estava exposto no préprio mundo do jazz. Em uma entrevista para a revista francesa Jazz Times, ele disse: De Nat King’ Cole peg orto €a economia de Dave Brubeck, tum voting particular. de George Shearing tambem um voicing mac de out tipo: de Oscar Feteron,o ing poderco: de Ea Hines, ozentisoextritwa. Bed Fovell¢ completa, maz me=m> dele eu no pegaria tuo" (ODERSCHUK, 2001, p.148). A maior influéncia pianistica de jazz sobre Evans foi Nat King" Cole, por cujo pianisme, abordagem meladica, clareza, frescor de ideias € sonoridade se apsixonou (PETTINGER, 1998, p.15). Outro pianists que teve grande impacto sobre Evans foi Lennie Tristano. Embora fossem diferentes sob muitos aspectos, Evans se identificou com ‘2 abordagem ligica € construgdo sonora de Tristano Como cle, Evans precisava de uma base organizeda para estruturar sua misica, pois queria compreender teoricamente a estrutura de sua misica (Mc PARTLAND, 1978). Entre outros pianistas de jazz que influenciaram Evans esto Horace Silver ¢ Sonny Clark. Todos esses pianistas representam 9 ampla fonte na qual bebeu Evans. Mas ele aprendeu também com jazzistas néo- pianistas com os quase tocava ou escutava, como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Charlie Perker e Stan Getz (PETTINGER, 1998, p.18). Evans gostava de dizer que uma pessoa ¢ “influenciada por centenas de pessoas € 23 24 MURRAY, Jill. 0 z= de Bil ran: formago,ifuéacas, cba: eestib composicional. er Mus Belo Horizonte, 228, 2013, 921-34, coisas, que aparecem no seu trabalho. Se prender @ um apenas € ridiculo" (SHADWICK, 1960, p. 52) De fato, aprendeu com todos Outra grande influéncia sobre Evans foi George Russell ‘Apés se graduar no Southeastem Lousiana College € se mudar para Nova lorque, ele estudou e gravou com Russell, que havia deservolvido um trabaho tesrico chamado The Chromatic concept of tonal erganization for improvisation (for oll instruments). 0 canceito € baseado na convicgao de Russell de que 9 escala Lidia com seu quarto grau aumentado, como meio deimprovisagdo, é mais compativel coma tonalidade da escala maior do que @ prépria escola maior. 0 mundo melédico ¢ harménico de Russell foi rapidamente absorvido por Bill Evans (PETTINGER, 1938, 32). Esses conceitos comegam a aparecer regularmente ras compasigdes e improvisagies de Evans. Um exemplo € Time remembered, na qual todos os acordes maiores contem uma #11 (désima primeira aumentada},indicando a presenga da escala Lidia. Outro exemplo é Twelve tone tune two, na qual todos os acordes so maiores, com instrugées para o improvisador utilizar 0 modo Lidio em todos os acordes. Evans disse que Russell compunha pegas que soavam como improvisagaes e que, para compreendé- fas, era necessério compreender todos 0s elementos de sua teoria musical (PETTINGER, 1998, p32). Um dos objetivos de Evans era fazer com que sua misica soasse esponténea (EVANS cEVANS, 2004). Assim, o trabalho tedrico deRussell foi um dos pontos de partida para que Evans desenvolvesse sua ideas sobre fraseado, redugdo harménica € 0 papel do voice leading harménico que se tomou uma das marcas, registradas de sua performance ¢ estilo composicional (SHADWICK, 2002, p18) 4- A abordagem composicional de Bill Evans Embora tena composto muitas pesas © estudado composigao, Bill Evans néo se considerave um compositor profissional, mas um instrumentists que compunha. Em uma entrevista ao locutor de jazz canadense Ted O'Reilley cm agosto de 1980, disse que em certo momento de sua carrera de misice precisou resolver 0 corflito entre seguir 8 © caminho da composigao ou da performance. Embora gostasse de se dedicar seriamente & composigao, se sentia mais um instrumertista do que um compositor, porque no escrevia todos os dias (O'REILLY, 1991, p.11. ‘A maior parte de suas composigies pertence ao universo do jazz, especialmente para a formacao do tipico trio de jazz (piano, contrabaixo € batera). Assim, utilizava sues compasigdes como ponto de partida para improvisagies Na entrevista mencionads acima, Evans diz que as pegas cm stiles diversos que escreveu enquanto sluno em Manes nao funcionariam no contexte de seu estilo de performance porque no guardavam elementos necesséros & espontancidade de improvisacao. Como Evans compunha? Em uma entrevista em setembro de 1975, quando Don BACON (1984) Ihe perguntou se suas composigdes eram esponténeas ou se cle gastava hhoras no piano trabalhando-as, ele disse que ambos fos pressupostos estavam corretos. Por exemple, Pers scope € My Bells surgiram de repente na sua cabesa ¢ cle a: esbacou diretamente em uma folha pautada Outras vezes ele escrevia primeiro @ harmonia e, depois, a melodia, como foi o caso de Time remembered. As vezes, se assentava ao piane e trabalhava seguidamente, fazendo mudangas até ficar satisfeito, como acorreu com Turn cut the stars e Waltz for Debby. Evans desenvolveu um estilo particular, préprio, e eptou por rnéo modificé-lo apenas pela obrigagao de uma mudanca cstilistca. Miles Davis reinventou a si mesmo varias vezes, mas Evans no era assim. Gostava de continuar visjando ros caminhos que abr. Uma vez descaberts um trilha, ‘no buscava descobrir outros horizontes, mas compreende, refinar ¢ explorar seu trabalho dentro daquele estilo (SHADWICK, 2002 p78). Evans gostava de tocar e compor ‘aquilo que the desse prazer de ouvir. Em uma entrevista para Marian Me PARTLAND (1978) na Piano Jazz Series cle disse que fazia misice para se agradar ¢ aperfeigoar sua arte. Nao se preacupavs particularmente em se tornar popular. Se isso fosse acantecer, seria uma decorréncia de suas convigbes. Esta postura se refere tanto as suas composigies quanto s suas performances. McPartlend resume sus maneira de ser no mundo do jazz dizendo que cle “nadava contra a corrente’ Varios fatores so centrais para compreender as ccomposigdes de Evans. Em primero lugar, elas so muito lbgicas(PETTINGER, 1998, p.123).Embora muitos eventos ‘corram simultencamente em suss obras ¢ elas possam ‘transitar por muitos au todos os 12 centros tonais, sempre retornam a0 panto de partide. O cuvinte as percebe como obras tonsis ¢ certamente néo avont-garde, embora 4s estruturas harménicas dos acordes sejam quase sempre inesperadas. Isso ocorre principalmente devido 4 uma abordagem plancjada das estruturas musicas. Evans buscava uma compreenséo clara ¢ completa do arcabougo teérico do processo harminico de qualquer pega em que estivesse trabalhando (Me PARTLAND, 11978), Tornou-se famoso por estudar horas € horas as cstruturas harmanicas dos stondards do jazz que queria incluir no seu repertrio, Esta mesme atengao & harmonia cle também revela nas suas composigées. Evans precisava ser analitice para construir suas proprias obras (EVANS ‘EVANS, 2004). Uma pratice muito comum no jazz & ctiar uma nova melodia sobre uma progressao harménica de outro compositor. Embara compreendesse bem este conceite primordial enquanto pianists, Evans nunca utilizou esse recurso como compositor (REILLY, 1988, pv). Tudo em suas compasigaes € originale nico. 5 ~ O estilo composicional de Bill Evans Atabela no Ex.2 traz os titulas € os seguintes elementos das 19 obras instrumentais selecionadas de Bll Evans € analisadas no presente estudo: (1) titulo, (2) gravagao mais antiga da pega ou copyright, (3) esilofandamento, (4) metric, (5) tonalidade, (6) forma, ¢ (7) duragio. J t i a 3 3 = 5 a 5 i & 5 MURRAY, J. (a0 “uen |) 2p Sepeuotso|9s seSad gL sep so21seq soyuBuDpp 2 so|mp so Ulo> BI>qe] - 239 w (ea nv Toole | wsopweninrean | aoe) eae oF (s}epo3 AO1eN 90 tle opides Buss z796L dn,unyoim ws j}¢P03 (91 a AoIeWy od ble eptuapow 2zel ap este”, a6 ‘Aun Asa, 08 (oLJepo3 (8)3 (zeke (Zev J0URK Pd ole epesapow zze/ ap ese, el adbad Ajouy omy ay OP (sa (gly OIE 90 tip ‘opesapowi ~0,U37 9961 ‘Sumy 349 yno wang 7 Teer va Teor | epeapou wea at conse OP AOI 4 ay tip ‘Epeuapowl epejeg 826 wajaH 04 Bus 7 no a pupa ou et rao ma ee oan on uowsue a Tai etm auv ror We) omaapou on Baws toa Simaderws ewan ran 90 a cpap Ba we ry + ‘auny ewuoy sore 90 tle opespow Bums dp) esel acbo spay Be 3) p03 (rz )wiPzly dou) 9d / 4uayy [os tle ‘opeapow Buys 9961 (oA sy) 891) IID s0UR)\ Bd tip Opevapow s3nig 796 Anidaayuy ze s0uBW1 9a vib opesapow Bums dp esél ‘ausyoyung st aan] ewuoy AOI 9 WAL vip any uyg ay bios 8s6l anboyid3 ws (ozla (91a (ty sou 90. tip ‘opesapow Bums 6L6L aura NE ssseiua ap (rosea sp a9 5085) >oepeva, coven | cumurpienocing | ellen eu 26 MURRAY, Jill. 0 z= de Bil ran: formago,ifuéacas, cba: eestib composicional. er Mus Belo Horizonte, 228, 2013, 921-34, a tabela no Ex3 traz (1) 0 ritmo harménico de cada pega, (2) linguagem harmanica ¢ (3) um resumo de suas caracteristicas principas. ‘A colegio mais completa de partituras das compasigies de Bill Evans € © Bil Evans fake book (Ludlow Music), transctte e editado por Pascal WETZEL (2003) 2 partir das gravagées de Bill Evans. Este liv, que & utilizado aqui come fonte priméris, contem 85 cangies originais Juntamente com versies com letra de 16 delss. Durante sua carreira, apenas 52 dessas 86 cangées foram gravadas. ‘Ao editar as lead sheets Wetzel utilizou principalmente 1s lead sheets originais ou publicadas, mas recorreu s gravagies quando necessério, especialmente as gravagies mais recentes para mostrar 9 evolugdo de Bill Evans no tempo. Devido ao grande interesse de Bill Evans pelos detalhes harménicos, Wetzel foi bem mais preciso © detalhado do_que normalmente se vé nas lead sheets adicionando linhas de contraponto, codus e extensées de acordes, incluindo acordes de passagem e acordes alternativos. As tonalidades originais forma mantidas, embora 0 leitor deva saber que era pratica de Evans tocar ‘a mesma pega em outros tons, pois atransposigdo era uma de seus procedimentos musicais favoritos (WETZEL, 2003) Fitna naman 5 : ess ike amen Linguagem narnia Caractere: princpas eirsneaure ee ee Seo Crepte 19 « daSeydoA Esteque pore Forma lire Funkallero tpore | U-V= ‘Sub-segies a-a-b-a a Manor (nas frases“) 4 Mair nas tases 8) nteply pore | Progresdo de tues en Fa Menor Sem frases repaid: tare (Tebrean) | Moderato | Chl da Be Forma lire Jorbit(Uniessitsyou} pore. | Clreulo das Sas Contorno melddico destacado Tv1 Periscope ee Forma ire — cma eile eau mesos arate wre roma ie Fees so Ms aamiico Inceprtagao melee lire 5 T-V ein Forma are angar de stow-nperine | 2p | harmon cmgleca andamento TSncewenee Forma ie sepie Crepe Te 2 Tou 2 pore | ul df “sec Savine Tore | ERE ae Mar a ea Forma bre ee rama wm Harmonia comple Forma ie est Nou2pore | hte peas Improvbap solo Someteaerde alors emenars Tinererentees | pore | warmana comple Foxma ie Uso parcial eee ds as Cielo ss Tumanttiestas | pore evel Foxma ie Daninante secundrs v. Thetwolonypecl{ i pore ii-v Foxma ie Tetons oI cazpore. | Ramona sme verve Tou2pore | (separa do cetlo ds Ss Wop apore, | ActSe de AT Mae mode Uso aur mica rept Harmonia amples Forma ie Wore terdetay | tore. | Bato eramtin decendete Sepio repte I da Seqo A farmonia relevant ore intemas Sep Crepete 10 ¢ daSepioA Ex3 ~ Tabela com 0 ritmo harmanico, harmonia e resumo das principais caracteristicas das 19 pegas selecionadas de Bill Evans MURRAY, J. (Bi. 0 az de Bil Evans: fomagéo, influéncs, obra etl compositional fer Mus Belo Horizonte, 28,2013, 921-54 Embora tivesse uma técnica exemplar, Bill Evans nao 4 utiizava para impressionar o pilblico ou dar vazéo @ mero virtuosismo. Seu foco estava no conteido musical © na expressdo que pretendia comunicar (LEES, 1988, .148), Bos parte da misica que compunha era para suas proprias performances no para os outros tocarem Era considerado um mestre das valsas de jazz. As interpretagées de suas baladas eram lendérias. Embora tocasse blues, no era conhecido como pianista de blues ‘ou compositor influenciado por este genera. Isto pade ser comprovade na andlise de género de suss obras, como mostra a tabela no Ex Genero N de obras (55) Vata delazz 10 Balada 16 ‘Medium swing ‘Medium upswing Bes @ @ Fast swing a 2 7 Duis generes Ex4— Tabela com incidéncia de géneras nas composigdes instrumentais de Bill Evans. Seu foco entre os andamentos lento: © moderados abr cspago para. desenvalver caracteristicas que. prezave muito, como lirismo, sonotiade e variedade harménica Duss de suas pegas mais conhecides sao vals: Vey carly Waltz for Dotty. Duas outras das mais conhecidas so baladse: Time remembered ¢ Tum out the stars, cuja popularidade stesta a preferéncia de seu pablo por esse géncro. Jé as dvas pegas na forme do bluce so do inicio. de sus carecra (WETZEL, 2003, Discography, p.110) © pena: uma foi gravada, o que revela seu distanciamento deste género. Apenas trés pegas ~ Displacement, One for Helen e Fun ride ~ tem a notagio de fost wing, 0 que mostre um movimento contrrio a ume tendéncia abservads em muitos de seus contemporénees. ‘Ao compar, Evans gostava de user 2 métrica 3/4 “para articular o lado mais delicado e reflexivo de sua personalidade atistica’ (SHADWICK, 2002, p.174). E interessante notar que 2 maioria das valsas foi dediceda 4s mulheres que fizeram parte de sua vida, Evans também gostava de mudar a métrica no meio da misica, como ‘em Comrade Conrad, Five, Since we met © 34 Skidoo. A rmudanga na métrics 0 permitia mudar 8 stmosfere da misicssubitamente. Woltz for Debby é ume valsa de jazz, mas ele também a tocava e 8 gravou em 4/4 AA forma musical é um elemento crucial na improvisagao do jazz, especialmente para manter 0 grupo tocando junto ¢ coes0. Quando um grupo esté improvisando sem precisar ler @ partitura, 2 consciéncia da forma musical ajuda os masicos a se orientarem e interagirem. As formas ‘mais comuns em jazz sao o blues de 12 compassos ¢ duas outras formas comumente encontradas no Great American songbook of standards: AABA © ABAB, sendo que as sesaes Ac B tem 8 compasses cada. Em muitos standords, @ melodia e @ harmonia das Segies A permanecem as mesmas ou so muito semelhantes entre si ne esquema AABA. A mesma redundancia ocorre com a Segées A e B nna forma ABAB. No caso de Bill Evans, 2 maioria de suas cangées nao segue melodica ou harmonicamente e:sas formas tradicionais. Somente These things called changes, 4 qual toma emprestado come base os chord changes de What is this thing called love e, mesmo assim, no segue 2 forma AABA ao pé da letra, A forma de 32 compassos € também pouco provivel de ser encontrada entre as cangées de Bill Evans. Apenas 4 delas tem exatamente 32 compassos, mas nenhuma delas se conforma com 0s modelos tradicionais quanto 4 duragdo de cada segdo interna da forma, Nao hé uma duragao comum em suas composigées; elas variam de 12 ‘2 80 compassos. Quanto as segdes internas, muitas tém 16 compassos, mas esta extens#o no deve ser tomada como padréo, pois apenas 18 das pegas anslisedas apresentam esta caracteristica. De uma mancira eral, tem relagio forma, néo se observa um trago comum nas suas compasigdes, como atesta, de mancira mais detalhada, a tabela do Ex.2 acima Do ponts de vista da melodia, 48 das 55 cangies do fake book de Evans podem ser consideradas de forma lvee, uma vez que as melodias no se repetem a0 longo da composigéo. Naquclas em que parte da melodia é repetida, € muito improvivel que a melodia scjarepetida cam exatdio na segio seguinte. Por exemple, em i's hit tune, a forma € A (16c) B (16c} C (20c) na qual os 13 primeiros compassos de C slo os 13 primeiros campassos de A Se checarmos a existéncia de repetigio melidica nas segdes dentro das pegas, se observa pouca ou nenhuma repetigio de frases dentro das préprias segdes, Melodicamerte, cada nota esti press ou é dependente da harmonia, © que varia muito no caso de Bill Evans(PETTINGER , 1996, p.180). Na maioria das lead sheets que os misicos de jezz utilim, frases de 4 ou 8 compassos sd 8s mais comuns € suas improvisagées refletem estes padrées. Na sua performance, Evans pensa em frases meiores, de 32 compassos ou mais (LEES, 1998, p11). A forma livre de suas composigies reflete esta caracteristca Muitas vezes, € dificil identificar onde comegam ¢ onde terminam suas frases. Chuck ISRAELS (1985, p.112), um de seus contrabaixistas, diz que “suas frases comegam e terminam cada hors em um lugar, geralmente eruzam os limites entre uma sego ¢ outra. Em composigaes dejazz ¢, por conseguinte, improvisagées dejazz, a armadura de clave €uma bos indicagao de centro tonal ou modal de uma pega. A natureza melancélica observada em boa parte de sus mlsica sugere, em principio, ume grande utilizagao de tonalidades menores. a 28 MURRAY, Jill. 0 z= de Bil ran: formago,ifuéacas, cba: eestib composicional. er Mus Belo Horizonte, 228, 2013, 921-34, Centra tonal Tom menor Tom maior De 6 19 Re bemol Re Mi bemol Mi Fa Sel bemal Sal La bemol a Si bemel 2 Si Ex 5 ~ Tabela com tonalidades das composigdes de Bill Evans. Mas so apenas 14 em um total de mais de 60. Na sua entrevista a Marian Mc PARTLAND (1978), cle fala sobre duas de suas tonalidades preferidas: Lé Maior e Mi Maiar, ressaltando a ressonéncia de seus harménicos que Ihes & ccaracteristica. Mas ele parece se contradizer, uma vez que apenas uma pega, Remembering the Rain, € em La Maior ‘enenhuma é em Mi Maior!(Ex.8) Observando 0 Ex acima, poderiamas pensar que Dé Maior € sua tonaldade favorita, ou que a maforia de suas misieas & em Dé Maio ou, irda, que Dé Maior 2 tonalidade predominante cm suas improvisagies, Entretarte, a0 examinarmos de pero suas eompesgaes, vemos que sashamoniasrramente permanecem em um centro tonal ou, mesmo, em toneldades vinhes, Ulizer o tenmo centro tonal aqui € mais apropriado porque & dificil pereber uma clara mudanga de tonaidade na misice de Evans. £ mais facil pereeber uma mudanga de centro tonal. A armadura indica apenas um ponto de partda es vezes,o pono fina, pois € comum para tle acabar em outratonaidade. Por cxemplo, 0 primero acorde ¢ 8 tonalidade de Very enrly € D6 Maiot, mes 0 ittimo seorde da misica€Si Mair. 4 Time remembered também eomega em Dé Maior, mas termina em Dé meno. Assim, 0s centros tonsis primérios nas eomposigies de Bill Evans sio ifieis de serem determinados. Assim, a armadura de clave pode ser um elemento engenese, Quando as pessoas se perguntam sobre a misica de Evans, lume questo central & a existéncia de uma caracteristica hharmanica recorrente no seu estilo. Dois aspectos sao importantes nessa busca: o ritme harménico dos acordes (ou o nimero de mudangas de acordes por compasso) € 2 existéncia de padrdes harmanicos, como a progressao i-V-l ou. circulo das quintas Bill Evans era conhecido por gastar horas trabalhando 2 progresses harménicas para ter certeza de obter os voicings (condugao de linhas melédicas dentro das vozes dos acordes) desejados. As vozes intemas ¢ a condugéo de vozes eram fundamentais, caso quisesse imprimir um fluxo harménico mais rapido. A complexidade harménica de uma pega pode ser determinada observando-ce @ frequéncia de mudanga de seus acordes. A tabela do Ex mostra os padrées de mudanga de acordes nas misicas selecionadas de Evans em que isso ocorve claramente. Isto revela padrées comuns & maioria do repertério de jazz no Great American standard songbook. Nimero de ‘Acordes por compasso oaks 1 14 Tou2 14 2 2 Feud 2 x6 — Tabela com padries de mudanga de acordes nas miisicas de Bill Evans A principal diferenga entre a misica de Bill Evans € a de outros jazzistas reside na qualidade dos acordes € para onde ele se dirigem. Dois padries bastante comuns na literatura do jazz s8o 0 ii~V-I (ou i) ou ol~vi~ii-V = I (que sao progressies também chamadas de rhythm changesno meio jazzistico). Se 0 padrao ii-V-I aparece muito no repertério de jazz, ndo € um padrio que Bill Evans utiliza com frequéncia, se restringindo, no nosso aso, 45 misicas Bl’ hit tune, Tum out the stars ¢ The Two lonely people, 0 que revela uma utilizagéo menos frequente ainda na sua fase mais madura Dols procedimentos harménicos so frequentes no. seu estilo: utilizagao do circulo das S* © as dominantes secundérias, que aparecem extensivamente em 25 de suas composigées. Um bam exemple sao 05 sis primeiros compassos de Turn aut the stars cuja progressio harménica ‘8 seguir quase conclui um ciclo completo (x7). MURRAY, J. (Bi. 0 az de Bil Evans: fomagéo, influéncs, obra etl compositional fer Mus Belo Horizonte, 28,2013, 921-54 circulo das Sas Medium Ballad quase completo cl Bm7@s)-----+ ERGO Fu = by * Bn Dat + G79 G7 cne Bb? Aw? DT 6x7 ~ Circulo das 5* quase completo em Turn cut the stars de Bill Evans (exemplo musical elaborado 2 partir da lend sheet de WETZEL, 2008, p 80) Seu emprego frequentemente difere do padrae de circulo das 5 do padrdo ii~V -I Nao & sempre que s qualidade dos acordes seque o padréo tradicional (acorde menor | dominante / acorde maior), como acima. Outro exemplo aparece em Time remembered, no qual cade acorde dura tum compassa | Ams | Dmg | @m7 | Cm7 | Fms | (Outro exemple pode ser extraido dos 6-13-20 de Waltz for Debby, que tem a seguinte progresso [Am7 | Dm? | Gm7 C7 | Am? | Dm7 | Gm7 | C7 | Essasprogressées, retiradas de suas peas mais conhesidas representam bem os padrées do circulo das quintas no tradicionais de Evans. A utlizagao de dominantes secundérias € outro procedimento composicional caracteristico, essencial para que cle transite por diferentes centros tonais (Me PARTLAND, 1978). Very carly, sua primeira composigéo revela 2 importancia deste conceito na sua misica. Na sequencia de 16 acordes (um par compasso) da Segdo A deste pesa (na qual as dominantes secundérias estao_grifadas), hd cinco encadeamentos V" | (ou i), procedimento que aparece também em muitas outras miisicas de Evens | Cmaj7 | Bb2 | Ebmej7 | Ab7(#9) | Domaj7 | G7 | (Cmaj? | Bb9(05) /Dmaj7 (Am? /Fem7 LB7[b8) | Em7 [ Ab? | Domaj7 [ G+7 | Outro procedimento, a estruturago harménice pelo circulo das Sas também Ihe permite explorarrapidamente muitos centros tonais, nfo raro, passar pelos 12 centras ‘tonais. Dois exemplas de compasigdes em que Evans faz ‘todo este percurso sie Comrade Conrade Fun ride Mesmo que 2 fungdo dos acordes posse ser modificada ou, ainda, que ele acrescente diversas slteragées ou extensées [ou “tensses", como se diz no Brasil, s funge Dominante ~ Tonica com acordes em estado fundamental faz com que ‘2 misica soe claramente tonal e ndo 0 que um ambiente harmanico cheio de alteragaes poder sugeri.Apresenga das fundamentais dos acordes nos baixos sempre trsz, em ‘lgum ponto, a sensagéo de retorno ao centro tonal Time remembered € exemplar na mancira de Evans utilizar harmonias nao tradicionais. A pega utiliza ‘apenas acordes menores ¢ maiores, sem alteragdes ¢ sem exercer 2 fungie de dominante. Em jazz, a fungéo dominante é uma fungo basica, uma vez que €0 acorde que pode mais facilmente ser alterado © o mais facil de ser substituido, comum em procedimentos tipicos do estilo que permitem colorir, tensionar e relaxer. Time remembered praticamente uma aula de como utilizar, ria improvisagao, © modo Dérico em acordes menores € © modo Lidio em acardes maiares. Mesmo recorrendo ‘2 somente estes dois mados, Evans ainda consegue @ tensdo e relaxamento desejados. Chuck Israels afirma que as harmonias de Evans eram menos dependentes de acordes do que da “sobreposigdo de linhas contrapontisticas nas quais a fase de tenséo € relaxamento entre @ melodia € as vozes secundérias era sutilmente atenuada pelo seu controle do toque pianistico” (ISRAELS, 1985, p.110), Este comentério. se relaciona diretamente com os procedimentos de Evans na condugao de vozes, especialmente na distribuig&o das vozes interna. A progressio de acordes geralmente é bastante cromética, mas a tonalidade da misica esta sempre presente. 0 educador e pianista de jazz Tim MURPHY (2008), diz que a harmonia de Evans & sindnimo do baixo cifrado no mundo do jazz e que sempre traz surpresas Ge eo" MURRAY, Jill. 0 z= de Bil ran: formago,ifuéacas, cba: eestib composicional. er Mus Belo Horizonte, 228, 2013, 921-34, ‘A construgéo ritmica era tao importante quanto 2 construgie harménica para Evans. 0 deslocamento ritmico € a sobreposigio de ritmos binérios ou ternérios sobre a disposigdo dos acordes s6o particularmente relevantes na sua misica (Mc PARTLAND, 1978). 0 ceducador e saxofonista de jazz Jeff ANTONIUK (2008) relata uma conversa que teve com o reconhecido saxofonista de jazz Joe Lovano. Em certs ocasiéo, Lovano teve sensagdo de estar tocando atrasado em uma gig com Bill Evans, 0 que seria incomum para um misico tao experiente como ele. Sé depois compreendeu que Evans estava, na verdade, antecipando as mudangas de acordes antes mesmo das antecipagées tipicas do “e* [como em: um, dois, trés, quatro “e'.J, ou seja, antes mesmo da colcheia antes dos tempos fortes. Lovana nao estava de fato atrasado. Evans, na verdade, estava antecipando as mudangas de acordes para impactar os ritmos € a improvisagéo. Displacement, uma das composigdes de Evans, mostra claramente este conceito rno qual 8 mudangas de acordes ocorrem no tempo 4 90 invés do tempo 1 Outros tipos de deslocamentos ritmicos que ele utilizava ccorriam nas poliritmias ¢ sugestdo de métricas complexas. sses procedimentos comegam a aparecer em Peri'sscope|PETTINGER, 1998, p93], cuja escrita éem4/ 4mas tem a sensagao métrica de um temério 3 /4 (Ex). 0 conceito de altemar métricas pode ser observado em Five (que transite entre 4/4, 5/4 e 3/4) © que também ‘raz poliritmias diversas como § contra 2 ¢ 5 contra 3, rmostradas no Ex Ja em G waltz, ele utiliza 4 contra 3 ¢ 3 contra 2. Em ‘muitas outras pegas ele emprega ritmicas de 3 contra 2 cconjugadas com antecipagées do tempo forte. Evans foi um dos primeiros misicos de jazz @ compor se baseando em séries dodecaféncias. Conhecedor da obra de Schoenberg, ele escreveu duas pezas utilizando este coneeito: Twelve tone tune, conhecida como TTT. ¢ Twelve tone tune two, conhecida como TIT. Ele afirmou que © a inspiragdo para essas pegas foi apenas o desafio da escrita, pois néo utilizaria este conccito tendo o piibico fem mente. Queria apenas ampliar suas habilidades de compositor (SHADWICK, 2002, p.181). TTT. tem apenas 112 compassos € 36 notes. Cada apresentagao da série tem 1 duragao de apenas 4 compassos (Ex 10) ‘Ao harmonizar a série, ele utilizou ume harmonia isténica devido & dificuldade de improvisar sobre a série (La VERNE, 1950, p.8). Como diversos outros compositores pds-schoenberguianos, ele optou por flexbilizarstécnice serial, nda sequindo 2 regra segundo 4 qual nenhume nots poderia se repetide antes que a 7 By t cs ; c SS See8 = —= e 7 eis est Fe oe &x.8 — Escrta ternéria (3/4) dentro de métrica quateméria (4/4) em Pers scope de Bill Evans (exemplo musical claborado a partir da ead shect de WETZEL, 2003, p.53) (Medina ising 2= 08.92) >—— Het i Wit tat Lae FE Bin be x9 ~ Mudanga de métrce ¢ utilizagdo de poliritmias em Five de Bill Evans (exemplo musical eaborade 2 partir 48, lead sheet de WETZEL, 2003, p.18) MURRAY, J. (Bi. 0 az de Bil Evans: fomagéo, influéncs, obra etl compositional fer Mus Belo Horizonte, 28,2013, 921-54 aan? bey fae ahr”. ae i: ——— > th Se 7 [SS e Aw? Dre Ex 10 ~ Tema serial harmonizado de TTT (Twelve tone tune) de Bill Evans (exemplo musical elaborado a partir da lead ‘sheet de WETZEL, 2003, p 81). todas as notes da série fossem apresentadas. Também nao tentou evitar o conceit de tonalidade convencional para harmonizar 9 série. Ainda assim, improviser sobre as séries nessas pegas se mostrou uma tarefa bastente dificil (SHADWICK, 2002, p18!) Em TTT. Evans expandiu 0 conceito de emprego da série dodecafénica para 60 notas, que ocorrem ao longo de 12 compassos © que, depois, se repete, Desta vez, 1 harmonizagao foi diferente de TTT. no sentido de se utilizar todos os acordes maiores, 0 que resultou em um cencadeamento de 24 compassos para a improvisagao 1] F/Eb/Db/C/ Bb /Ab| Gb /B/ Bb/ A/ Ab/ IG/A/B [ce] C/D/ E/ Fe/ B/C) ce /D] o que também resutou em um desefio para os melhores improvisadores, mesmo em um andaments moderado (E11) Outra pega de Evans que revela a diversidade de seu estilo composicional & Fudgesicle built for four, eserta no inicio. de sua carrera. O tema tem o procedimento inicial de uma fuga a quatro vozes, com entradas do sujeito para volo (612), piano (E13), contrabaixo (Ex14) sax tenor (6«18]) Embora o tema seja complexo, @ improvisagao € feita normalmente sobre 0 encadeamento harmanico, Uma questo sobre o estilo composicional de Evans & perceber como se desenvolveu a0 longo de sua carccira, Muitos aspectos das técnicas que aparccem em Veryearly, cserita enquanto ele ainda era aluno da Southeastem Louisiana College, aparecem em diversas composigies de sua fase madura, Entretanto, dais aspectos se tornam cada vez mais refinados e frequentes: as progressées observadas nas vozes internas € ume abordagem mais sofisticada da construgie ritmica ¢ seus deslocamentos, Todas as composigies de Evens mostram sua habilidade de percorrer bem 0 caminho planejado €, a0 mesmo ‘tempo, obter grande variedade de técnicas composicionais, Em geral, suas obras exibem grande unidade, pois séo construides a partir de elementos basicos, como um pedal, tum acorde estrutural, um padrdo rtmico, um motivo de 3 ou 4notas, uma mudanga de andamento, uma relagéo entre tonalidades aparentemente distantes, series dodecaféncias, entre outros. Eresuitam sempre desafiadoras interessantes «© complexas. Ao longo de toda sua vide, seu conceito de harmoria foi sendo graduslmente construido. Cada desenvolvimento preparava o terreno para um novo asso, como afirma seu biégrafo Peter PETTINGER (1998, p.174} te mondo exzenciamente harmBico fi eeriqueido gor pate: (que se movem itera ¢ externamente, comentaros ¢ colorido: tna rota que comeya como uma nota de passagem cromtica se "ransfer para dents do acorde,o qual emerge come pate de um now voicing. evolugéo acompanhou até asa monte Ao dizer que:"..toda misica éroméntice...oromantismo com disciplina €0 mais bonte tipo debeleza"(TEACHOUT, 11998, p.47], Evans sintetizou seu estilo composiciona. Essa disciplina, ue intimamenteligava suas compasigies 4 sua mancira de improviser talvez tenha contribuido pars o fato de que muito pouces delas se tornaram composigdes que so tocadas por outros artistas de jazz (BIOGRAPHY RESCURCE CENTER, 2008), Embora 2 grande maioria de suas obras tenha melodiasinteressantes,&sua hharmonia o que realmente a distingue, e que se reverte ‘em desafios para o: que se propée e tacé-la.Parece haver 'S eo" MURRAY, J (Bil. 0 azz de Bil ran: formago infuénca, obras Medium up swing « série estilo composional. Fer Mus Belo Horizonte, n28, 2013, p21-34 Fraseaito entre séries série Ex - ITTT. (Twelve tone tune two) de Bill Evans, com musical claborado @ partir da Medium up swing = ca. 192 Violao ef 4 ocorréncias da série em duas frases ascendentes (exemplo lead sheet de WETZEL, 2008, p 82) x12 Entrada de violéo com o tema em (exemplo musical elaborado 2 parti cutra razio ainda mais forte do que @ complexidade para o fato de ouvirmos tao pouco a misica de Evans: 2 maioria dos miisicos de jazz néo gosta de tocar as notas come estio escrtas. E esta prética no combina com ratureza dos temas de suas composigies, que tém um grande sentido de completude melédica, harménica © ritmica, o que levou Sean PETRAHN (1931, p.11) a dizer: Ninguém pecka madara iia ota ox scone na ange de ill tse desta sas compezipe. oct madara um acon em uma sonata de Beethoven cu na: “impvagses" de Earl? Dwi. E presto uma grande humidade para beara musica de Bill Ean: pomue oct prcta debs coarsornha: voc deve dear seu eg9 bonged iastument etc como esta ert, ‘ fugato de Fudgesicle built forfour de Bill Evans ir da leod sheet de WETZEL, 2008, p.23) Eddie Gomez, que foi contrabaixista de Bill Evans por onze anos, fala sobre seu colega: “Bill Evans era articulado, decidido, gentil, majestoso, engragado © sempre’ nos apoiava. Seu objetivo era fazer uma misica que equilibrasse paixdo e intelecto, que falasse 0 coragéo” (PETTINGER , 1995, p.246). Bill Evans € considerado um dos pianistas mais influentes na histéria do jazz, mas seu papel como compositor ainda nao foi bem avaliado, Espera-se que outros estudos sobre sua obra contribuam para que ocupe seu verdadeiro lugar. 0 lugar de um pianista extraordinério que foi também um compositor extraordinario MURRAY, J. (Bi. 0 az de Bil Evans: fomagéo, influéncs, obra etl compositional fer Mus Belo Horizonte, 28,2013, 921-54 {Guero} ea Se be por eet tr Piano - £213 ~ Entrada do piano com o tema em fugato de Fudgesiclebult for fourde Bill Evans (exemple musical laborado @ partir da lead sheet de WETZEL, 2003, p.23) Contrabaixo < E14 Entrada do contrabaixo com o tema em fugato de Fudgescle built forfour de Bill Evans (exemplo musical claborado a partir da lead sheet de WETZEL, 2003, p.23) eam) te 6x18 - Entrada do sax tenor com o tema em fugato de Fudgesicle built for fourde Bill Evans (exemplo musical elaborado a partir da lead sheet de WETZEL, 2003, p.24). oC eo’ MURRAY, Jill. 0 z= de Bil ran: formago,ifuéacas, cba: eestib composicional. er Mus Belo Horizonte, 228, 2013, 921-34, Referéncias ANTONIUK, Jeff Entrevista pessoal de Jeff Antonivk 2 Bill Murray 8 de Novembro, 2008. BACON, Den. Interview with Bill Evans. In: Letter From Evans vS.n.2, winter, 1994. p-17-21 BIOGRAPHY RESOURCE CENTER. 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Como performer, atua na regido de Baltimore como solista € ranjador para grupos de jazz Gravou suas abras em dois CDs Billy's tauch e Moving Cn Atualmente, é Presidente da Baltimore Chamber Jazz Society ce membro diretor da Towson University Foundation, University System of Maryland Foundation ¢ Center Stage Theater. Fausto Borém é Professor Titular da UFMG, onde criou o Mestrado ea Revista Per Musi Pesquisador do CNPq desde 1984, publicou dois livros, tréscapitulos delivro, dezenas de artigos sobre praticas de performance e suasinterfaces [composigao, analise, musicologia, etnomusicologia da misica popular e educagao musical) em periédicos nacionais e interacionais, dezenas de edigdes de partituras € recitais nos principais eventos nacionais ¢ internacionais de contrabaixo. Recebeu diversos prémios no Brasil eno exterior como solsta,tebrico, compositor e professor.

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