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Cond (Misne de. Ape ouase Qe ae aDabeee CP cate heat PREFACIO INTERESSANTISSIMO “Dans mon pays de fiel ét d'or fem suis la lo.” E, VERHAEREN Leitor: Esti fundado 0 Desvairismo. Este preficio, apesar de interessante, intl. Alguns dados. Nem todos. Sem conclusGes. Para {quem me aceita si \mbos. Os curiosos t em descol Quando sinto a impul pensar tudo o que meu incon: Penso depois: nao sé sat o que escrevi. Dai a razio deste Alids muito dif nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. Livro evidentemente impressionista, Ora, segundo modernos, erro grave 0 Impressionism. , para se apoiarem na calma iva de de Ingres, do Greco. Na im, os imagindrios africanos s desprezam Debussy, sm de todos os seus cefémeros, para apanhar Sou passadista, confesso. aspectos continger nele a humanidad: “Este Alcoréo nada mais € que uma embrulhada de sonhos confusos e incoerentes, Nao é mas criada pelo um homem que fe com algum sinal , como os antigos de mim o que disseram renga cabal entre a-se como profeta; ‘mais conveniente apresentar-me como louco. leu Sio Jodo Evangelista? Wale Whitman? Mallarmé? Verhaeren? Perto de dez anos metrifiquei, imei. Exemplo? ARTISTA, ppintor — Lionardo, ‘Meu anseio é, trazendo ao fundo pardo da vida, a cor da veneziana escola, de rosa © de ouro, por esmola, 4 quanto houver de penedia ou cardo. cexaltados com qu teus quadros e teus ar onde as Desgracas moram; de colorir sorrisos 8 dos que imprecam ou que choram! Os Sts. Laurindo de Brito, Martins Fontes, Paulo Setibal, embora nao tenham evidentemente a envergadura de Vicente de Carvalho ou de Francisca Jilia, publicam seus versos. E fazem muito ‘dia, como eles, publicar meus versos metrificados. Nao sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com 0 futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me ‘€ minha. Sabia da i que saisse. Tal foi cexisténcia do artigo e dei © esciindalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso, orgulho, is sair da res a0 lerem estas frases (poesia compreenderam logo. Creio ipossivel compreende pensamentos as 80 que um poeta pode queixar-se dos seus itores. No que estes se tornam condendveis é 2 em nio pensar que um autor que assina nio ‘esereve asnidades pelo simples prazer de cexperimentar tinta; e que, sob essa qualquer coisa por compreender.” Joio Epstein. Hi neste mundo um senhor chamado Zdislas Milner. to escreveu isto: “O fato duma Todo escritor acredita na valia do que escreve Si mostra é por vaidade. Si nio mostra € por vaidade também. Nio fujo do ridiculo. Tenho companheiros ilustres. lo € muitas vezes subjetivo. Independe ‘ou menor alvo de quem o sofre. Criamo-lo para quem fere nosso orgulho, ignorinc! de. Um pouco de teoria? Acredito que 0 subconsciente, acri ‘ou confuso, ctia frases que so versos int silabas, com 10, nascido no lo num pensamento claro acentuagio determinada, -ondenados da ro exemplo dele 22 AA inspiracio é fugaz, violenta. Qualquer impecilho a perturba e mesmo emudece. Arte, . i» Arte é mondar mais tarde o poema de repetig&es fastientas, de sentimentalidades rominticas, de pormenores ini inexpressivos. Que Arte nio seja porém limpar versos de exageros coloridos. Exagero: simbolo sempre novo da vida como do sonho. Por ele vida sonho se irmanam. E, consciente, nao é defeito, mas meio legitimo de expressio. “O vento senta no ombro das tuas velas!"" Shakespeare. Homero jé escrevera que a terta mugia debaixo dos pés de homens e cavalos. Mas voce deve saber que hi milhdes de exageros na obra dos mestres. ramente qualquer cara essenciale saliente deles, por meio de alteragées iticas das relagdes natura e dominadora”. © Sr. Luis Carlos, porém, reconheco que tem o direito de citar o mesmo etn defesa das suas “Colunas”” Ja raciocinou sobre o cham E pena. O belo horr ensao da orelha de certos fildsofos para jlo exercida, 1pos, pelo feio sobre os art + Atte = Poss venham dizer que o artista, reproduzindo o feio, ‘obra bela. Chamar de belo o que 6 porque esté expressado com 9 horrivel, fi comprazem, ingular encanto da 24 Permite criar todo um ambiente de realidades ideais onde sentimentos, seres ¢ coisas, belezas ¢ defcitos se apresentam na sua plenitude ‘que futur eni quem, quase perfilha a concepgio estética de Fichte. Fujamos da natureza! $6 assim a arte no se ressentird da ridicula fraqueza da fotografia... colorida Nio acho mais grasa nenhuma nisso da gente submeter comogées a um leito de Procusto para itmo conven ‘Mas no desenho baloigos dancatinos de redondilhas ¢ decassilabos. Acontece a comogio caber neles. Entram pois as vezes no cabaré ritmico dos meus versos. Nesta questo de ‘metros nio sou aliado; sou como a Argentina: enriquego-me. Sobre a ordem? Repugna-me, com efeito, o que M escolas jue descem uma escada de quatro degeass, chocindose lindamente, Existe uma ordem, inda mais alta, na fdria desencadeada dos elementos no Brasil obedecerd a Quem leciona histér , no consiste em estudar uma ordem que, cé Guerta do Paraguai antes do ilustre acaso de Pedro Alvares. Quem canta seu subconsciente seguir a ordem imprevista das comogdes, das associagdes de imagens, dos contactos exteriores, Acontece que o tema 3s vezes descaminha, Iso lirico clama dentro de nés como tutba Cada qual berre por sua vez; e quem forte, guarde-o para 0 Minhas reivindicagées? Liberdade. Uso dela; io abuso. Sei embridi-la nas minhas verdades iosas; porque verdades $33, no sio convencionais como a Arte, sio Tanto nio abuso! Nao pretendo obrigar ninguém a seguirsme. Costumo andar sozinho io, Homero, nio usaram rima. Virgilio, Homero, tém assonincias admirdveis, A lingua bra E possui o a poderosissimo. Uso palavras em liber ito que 0 meu copo € grande demais para ida bebo no copo dos outtos. Seria engracadissimo que a esta se dissesse: Si contri ovis engeoas, Quer we? ica esté muito mais atrasada que a misica. Esta abandono : do século 8, 0 regime da melodia quando muito oitavads, para enriquecer-se com of infinitos harmonia. A. com rara ‘até meados do século 19 francés, foi essencialmente melédica, Chamo de verso ‘melédico 0 mesmo que melodia musical: arabesco horizontal de vozes (sons) consecutivas, contendo pensament Ora, si em vez de imelédicos ho: Do Aredpago suprem fizermos que se sigam palavras sem ligagio imediata entre si: estas palavras, pelo fato mesmo de se nfo seguirem intelectual, gramaticalmente, se sobrepSem umas is outras, para a nossa sensagfo, formando, nao mais mel mas harmonias, Explico milhor: Harmonia: combinacio de sons simultineos. Exemplo: “Arroubos. . . Lutas. . . Setas. Cantigas. Povoar!. . .” Estas palavras no se ligam. Nio formam enumeracio. Cada uma é frase, periodo eliptico, nto e fica vibrando, 3 espera duma frase que the faca aa UE NAO VEM. * “Arroubos"; e, nas mesmas condigées, fazendo esquecer a primeica palavea, fica vibrando com ela. As outras vozes fazem 0 ‘mesmo. Assim: em vez de melodia (frase ical) temos acorde arpejado, harmonia, — 0 verso harménico. Mas, si isar SO palavras soltas, uso soltas: mesma sensacio de superposicio, if de palavras (notas) mas de frases 7 (melodias). Portanto: polifonia poética. em “Paulicéia desvairada” usam-se 0 50 melédico: Paulo é um palco de bailados russos”; 0 verso harménico: “Accaincalha. .. A Bolsa. .. As jogatinas...” 4 polifonia poe mesmo mais ve consecutives): “A engrenagem trepida. . . A bruma neva. Que tal? Nao se esqueya porém que outro viré destruir tudo isto que construt. Para ajuntar & teoria: 1s Os génios poéticos do passado conseguiram dar maior interesse a0 verso melédico, nio sé ctiando-o mais belo, como fazendo-o mais variado, mais comotivo, mais impre ‘mesmo conseguiram formar hi vezes ricas. Harmonias porém esporidicas. Provo incos 1 Hugo, ‘muita vez harménico, exclamou depois de ouvit © quarteto do Rigoletto: ‘“Fagam que possa combinar simultaneamente vérias frases © verio de . Encontro anedota em Galli, Estética Musical. Se non € vero. .. igerme da |, Antitese — genuina dissonincia. E si tio :08, sempre sentiram o grande encanto da dissonincia, de que fala G. Migot. 28 alham-se, tornam-se incompreensiveis. A fealizagio da harmonia poética efetua-se na inteligéncia. A compreensio das artes do tempo nunca € imediata, mas mediata. Na arte do tempo coordenamos atos de meméria consecutivos, que assimilamos num todo fi resultante de estados de consciéncia di a compreensio final, completa poesia, danga terminada. Victor Hugo errou querendo realizar objetivamente 0 que se realiza subjetivamente, dentro de nés. 42 Os reer niio admitirio a teoria. . responder-lhes com o “Sé-quem-ama” de Ou com os versos de Heine de que “Sé-quem-ama"’. Entretanto: si voc » reduzidas a palavra, nao se continuavai fazi » sem concordainci embora nascidas do sando a melodia enérgica ¢ larga do acontecimento. 52 Bilac, Tarde, € harmonia poética. estilo novo do livro. Descobriu, para a lingua brasileira, a harmonia poéti s dele ‘empregada raramente. genialmente, na cena O det € 0 chio, a fauna péssaro, a pedra © 0 fcoria aos meus amigos. Recebo ‘novembro, da revista “Esprit ‘minkas,andas neste. Prefacio ido “O fendmeno denomina simulta. fisioigica”. Epstein or exemplo; ¢, entre nds, mais ou menos, 0 Sr. Amadeu Amaral. Tenho a felicidade de eacrever ‘meus milhores.versos. Milhor do que isso nao osso fazer: st momento bondosamente concede 10 colaborar nos poemas, “A linguagem ad forma dubitativa que 0 mérmore no admit. Renan. Vocé esti reparando de que maneira costumo andar sozinho. , a Inteligéncia, de toda e obscuridade na terrinha pi Litismo sofre mais uma vi descoberta por Freud, qu Censura. Sou cor da vacina obtiga denominou rabandista! E contritio a lei Parece que sou todo instinto. .. Nao é verdade. Hi no meu livro, e nio me desagrada, tendéncia 31 propunsiadamcate intlcralisa, Que quer voo8? Consigo passar minhas sedas sem pa direitos. Mas € psicologicamente imposstvel livrar-me das injegdes e dos tnicos, A gramitica apareceu depois de organizadas as Ninguas. Acontece que meu inconsciente nio sabe da existéncia de gramética E organizadas. E como Dom contrabandista Vocé perceberd com facilidade que si na minha poesia a gramatica as vezes & desprezada, graves insultos nio sofre neste preficio interessantissimo, Preficio: rojio do meu eu superior. Versos: paisagem do meu eu profundo. Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque, nio alterando o resultado, dime uma ortogratia, estas palavras freqiientam-me o livra nio é porque pense com elas escrever moderno, mas >. porque sendo meu livro moderno, elas tém nele sua Fazio de ser temas eternos, passiveis de afeigoai modernidade: universo, patria, amor ¢ a presenga-dos-ausentes, ex-gozo-amargo-de- infelizes. Nio quis também tentar primitivismo vesgo insincero. Somos na realidade os primitivos 32 O-passado é ligio para se meditar, nfo para reproduzir. “E tu che sé costi, anima viva, Pirtiti da cotes son morti.”” Por muitos anos procureime a mim mesmo. Achei. Agora no me digam que ando a procura idade, porque jd descobri onde ela tence-me, é minha. 1as no senti". Os meus amigos... duma ver que sentiam, mas nao Evidentemente meu livro é bom. Escritor de nome disse dos meus amigos ¢ de mim que ou éramos génios ou bestas. Acho que tem razio, Sentimos, tanto eu como meus amigos, © anscio do farol. Si'f6ssemos tio carneiros a ponto de termos escola coletiva certo 0 “Farolismo”. Nosso dest ‘extrema-esquerda em que nos colocamos nio permite meio-termo. Si génios: indicaremos 0 nauftagios por evitar ‘caminho a seguir; best Canto da minha maneira. Que me importa si me io entendem? Nao tenho forgas bastant Para me universalizar? Paciéncia, Como 0 alaide que const selvagem da cidade. Como o homem pr cantarei a principio s6. Mas canto é agente simpatico: faz renascer na alma dum outro predisposto ou apenas sinceramente cutioso livre, 0 algum, alguma que se embalario rtaria dos meus versos. Nesse Anfiio moreno e caixa-d’éculos, as pedras se redinam em muralhas & magia do meu cantar. E dentro dessas muralhas esconderemos nossa tribo. teorias que conti nenhuma. Quando ese rio pensei em nada dist ranto porém que chorei, que cantei, que ri, que berrei... Eu vivo! lis versos nio se escrevem ps de colhos mudos. Versos cantai choram-se. Quem nio souber Paisagem n° 1. Quem nio soul Ode Teia ir nao leia Repugna-me dar for como eu tem essa chave. E esti acabada a escola poética “Desvaitismo”. 34 Préximo livro fundarei outra. E nio quers discfpulos. Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum $6, Poderia ter citado Gorch Fock. Evitava 0 Preficio Interessantissimo. “Toda cangio de liberdade vem do cércere.”

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