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TOPS es UU @AU/20) Pear Publicado do Instituto Brasileiro de Ciéncias Criminais le Red EDITORIAL, PACOTEANTICRIMEE LEI13.964/19 EM TEMPO DE CORONAVIRUS “Pour les gens riches, fe coronavius est une maladie comme une autre. Pour les gens pave, veut dre a mon” (Para as pessoas cas, 0 Coronainus 6 uma doen¢a como cura, Para as pessoas pobves, isso quer czor a morte) (Le Monde, 270820) Com esta frase impactante, mas realist, Carlos Augusto, morador do Morro do Alem, no Ri de Janeito, conwersou com 9 jornal frances no dia 22.0820. Ela mostra o estado da arte da pandemia do coronavinus no Brasil Pareoe que Se vive, de certa forma, as narrativas de Albert Camus, losé Saramago e, sobretido, Giovanni Boccaccio. O mundo, hoe gira em tomo das noticias sobre o Covid-19¢ espera pelo nimero de mortos e doentes como quem espera pela hora de encararo por. Uma trégua poderia vir com medidas governamentas intefigentes, que Ievassem em consideragSo a vida humana antes da economia, mas no foi assim. Enquanto © gover federal claudicava em contraitéias decaracoes, Ue olocavam em confit a area de salle com o presidente a republica, os governos estaduais municipaks cientes {de que as pessoas vivem @ morrem nos seus quintas, comecaram, de forma um tanto amadora pela inexperidncia, a dar as regras, dente eas 0 folamento social Com as determinagGes conftantes dos diferentes “governos” de uma ‘mesma replica, passou-se a viver ‘uma pandemia e um pandemério Joao Almeida Moreira, Dirio de Notices, 280320), Todos tiveram que permanecer em suas casas, ressalvados aqueles que trabalham em servigos essenciais. Dols problemas imediatamente se colocaram: fazer 05 mais pobres, em geral sem renda, sobreviver;e garantir que o| Covid-18, mais pela velocidade com a qual se transmite que pela prépriatransmissdo, contaminasse um numero menor de pessoas, de modo a que o sistema de sade pudesse tratélas adequadamente. Era 0 cendrio adequado ara vir uz a bataha que nunca calou: vida versus dinhelro, capital versus trabalho, rcos versus pobves, e assim por Gate. Veio& tna, também, como nao poderia deixar de sera discussao sobre o papel do Estado, sempre lembrado, rnessas hores para pagar a conta Diante dese quadro, 0 govemo federal, mals uma vez, comportou-se mal. De um lado, com um atrasoinexpiedvel, 56 em 2603.20 fez aprovar,na Camara dos Deputados, uma ajuda humanitria sos trabalhadores informals de RS £60000, sem que se soubesse como ria funcionar, como se todos pudessem espera. Depois, em visvel desprezo pela Vida humana, com apenas uma semana de solamento socal o presidente da replica, empurrado por empresaros ‘desprezivels igados a sua base pala, comagau a pregar ~ sendo saguldo por alguns poifcos e pouca genta do Povo - a volta 20 trabalho e ao convivio social, contra todas as incleagdes centficas, acomegar por aquelas da OMS, Estava aberta@ porta para a mals forte ameaca de contaminagSo. Arrsca-se ter um montante de contaminados que rninguém feve, nem os EUA que, seguindo dietrizes do presidente Tump, fo ao primeir lugar, no mundo, ro volume {Ge infectados, projetando-se um desastre. Esse modo de agit atabalhoado do governa federal reflete-se em todos os campas e mostra quéo despreparada & grande parte dos seus itegrantes, comecando pelo proprio presidente da republcae seus ministos. ISS, como nad odor dear de ser, aparece nas propostas que avangam dentre ela, o famoso “Pacote Anticrime’ um complaxo 4 refmas na legjls$0 do compo criminal de tl fers cnfsas, que se temeu del achar alg que niofsee Incansttucional Na Camara dos Deputados, um Grupo de Tiabalho fez tudo o que pide para dar a0 referido Pacote (ao qual so ‘agregou uma propostaproveniente de uma Comissio presidida pelo Ministro do STF Alexandre de Moraes) slguma dignidade juriéica e técnica. Do dif trabalho que teveresultou 0 pouco de proveitoso que, aprovado alle depois no Senado, veo luz como a Lel 13364, de 241219. 0 resultado, porém, fo um mostrengo. 0 que é bom no & do ‘overmo: 6 que é do govern nao & Bom. Coma lembrou Patrick Nalana (CU, 093219) em analse precisa sobre a |tamitagao: Se o texto que Moro apresenfou no poder ser levado a sre pots sequer fo) acompanhado de justicativa = nem mesmo se observou alguna sstematica ou atongao as regras minumas do process legato em seu conteido, ‘send mais um apanhedo de tis puntivstas populist salpicadas a0 lee emviadas 30 Congresso -, 0 d3 Commssa0 ese poe mney do STF tampotco poser ago dro de a Anes epresatam aqua que ext de as toype na cénclapenar © pouco que se lowvou, na referida le, foram as aterages introduzidas pelo Grupo de Trabalho. Delas, destacam-se {85 reformas que insturam alguns institutes de processo penal e, dente eles, a assungao do Juiz das Garant, er {que pese seam importante, também, o chamade acordo de no persecug30, a impossiblidade do juz que conheceu {do contedde de provainadmissivel proferrsentenga ou acérdSo, as regras que asseguram a cadela de custédia assim como as regras que tentam rearranar as medidas cautelaes, mormente as qe dizem com a pivacao da liberdace Esse conjunto tent introdu2k, no processo penal basi, um atremado de sctema acusatéclo, do qual sintoma é 0 Dreceito do art 3A (copiado do art. 4, do PLS 186/03) "0 processo pen fos estutura acusatria, vedodss.3nciatva (ho jena fase de investigagaoo a substtacao da aluagao probatiria do cro de acusaga | tentatva & lowe ~ porque & na diregdo do sistema acusatio que se deve caminhar ~ mas, como mostra a Peta eet Ney eRe Te) experiencia de inimeras e desastradas reformas parciais, nada disso vinga quando a base do sistema segue Ingusitoral E brasileiro seguira assim, como jie como senor absolut (ov quase) do processo, mormente se no ;passarem as regras que a decisao do Ministo Luz Fu, do STF, suspendeu sie de, por uma lminar, com relator das des dretas de inconsttclonalidade 6.298, 6299, 6.300 e 6.305, Cam um pracessa penal assim, nada obsta QUE © juz prejuigue (embora ndo sejam todos que o fagam)e, depos, teste a sua deciséo no curso do processo para, 80 final sentenciar. No raro, tudo & previsvel O resto & ou pode ser t80 36 retdrica, como facilmente se percebe pelo {ogo de relatiizacse que Se tem fet, principaimente, em relagso & aplicacao dos principioseragras constitucionals 1 processo (quem sabe principalmente para a presungo de inocEncia€ o live convencimento), alm do manejo detetrio do as de nurlité sans grit 0 processo penal, como mecanismo de garantia do cidado conta oarbtio do Estado, est om ruinas. [Mté agora, como se vi, tatou-se das coisas boas. As runs, contudo, dizem com o resto da lee ndo é pouco. Ana, runea se viu, no pals, alguma let assistematica, puntvsta @ reaciondria. Nesse sentido, o gravissimo aumento fexponencial dos lapses de progressio sem qualquer estudo precedente de impacto no sistema carcerai, afigura= Sse como dispasitive que, prevsivelmente, Ievara a0 incremento do encarceramento em massa em dimensces ImprovisieisE certo que, ainda assim, o Grupo de Trabalho da Cmara alonuou a propasta orginal do Ministerio da Justiga, mas o texto aprorado, que aumenta 0s lapsos de progressio para até 70% da pena, tera consequéncis GUE ‘no foram sopesadas: (0s panalistae e panitenciarstas esto até agora atordoados, O volume de inconstituelonalidades & de tal monta que seta preciso imaginar aque que pudesse escapat de um contole efetivo nessa diego, Urge, portato, ciscutir 0 contetido da Le 13 984/19 organizar as medidas sérias, que possibilitem um controle serio @ efetivo de consttucionalidade, orcendo para que SIF tenha eonseiéncia de seu papal diante da Constiuigao da Republica. sso se faz de forma propcia neste Bolen, mostrando a preccupagso do ISCCRIM na deteseintransigente dda Consttuigio da Repiica e do regime democratico, Boe letra SE Publicagao do Instituto Brasileiro de Ciéncias Criminais NEEEER._ A Justiga Restaurativa e o Acordo de Nio Persecucéo Penal Guilherine Augusto Souza Godoy, Amanda Castro Machado @ Fabio Machado de Almeida Delmanto EFA La reforma al proceso penal chileno y el juez de garantia Eduard Gallardo Frias EEEEIA. As regras sobre a decisio do arquivamento do inquerito polical © que muda com a Lei 13.964/197 Jacinto Nelson de Miranda Coutinho e Ana Mar Limi Kamimura Murata EISEN. Isolamentoe a privacidade “téxiea” em tempos de pandemia: o sofrimento feminino* Ana Lucia Sabadell \EEEYA Juiz das Garantias: A onda democrética em meio & maré do punitivismo rasteiro LUvia Yuen Ngan Moscatel e Raul Abramo Ariano Er” Lelanticrime e reincidéncia: um flerte como direito penal do autor ‘Thiago Baldani Gomes De Fippo EEPPA_ReflexBes sobre os maleticios do isolamento do preso imposto pelo novo ROD. Femanda Carolina de Araujo langer, Eduardo Rezence Zucato Fo e Jodo Paulo Gomes Massaro IEEE Os impactos do pacote anticrime no Banco Nacional de Perfis Genéticos Nata Lucero Fras Tavares e Antonio Eduardo Ramires Santoro ‘SEP Juiz das garantiae: para acabar com faz-de-conta-que-existe-igualdade-cognitva.. ‘Aury Lopes Je Puiz Ritter ‘CORTES INTERNACIONAIS E SUAS DECISOES COMENTADAS Prisfo proviséria: recentes reformas e préximos pasos & luz do sistema interamericano de direitos humanos Thiago Nascimento dos Pets {time eepe ste ome dando Bolin Expo ari indi em md sm cepa ds arden Pca veel AJUSTICAR PERS ESTAU EO ACORDO D ECUCAO P RATIVA E NAO ENAL THE RESTORATIVE JUSTICE AND THE NON-PROSECUTION AGREEMENT Guilherme Augusto Souza Godoy Mose em rminlgia pla cla deCminlogi a Fauld do Det d Universidad co Pot Ps gaduagdoem Det onl Proceso Penal ne UAT em Dito Publea CEM PesusadaeWededu gasgdoyagmelcon Orci tere O000 00 740.97 Fabio Machado de Almeida Delmanto Neste em Processo Pena pela Faculdade de Dito da Universita de So Paulo. Meda, conliadorefacitadr de -stiga Restaura, Adogad, fabodemantoggmai.com (ri tps oridorg0000-0002-252-50nk Amanda Castro Machado Pés-graduand em Dieito Pico pela UCM Dire pesquisaora do Nicleo de em Diet nemacionaApicado pla Escola rales de usa de Atroploga do Dien da USP Acvogada (tei htpsoridorg/0000-0002-8728-0015 Atoraeos a regio ene dis instutos com apcagSo defida ‘econonerta no Sistema oo Justea Brac Por um lad, a asiea Restaura (qu tm sido apcada moor oo Sas mas ainda eens de incsio exgressa no Citgo de Precesso Penal (0) Por cut lad, 0 Acrdo de No Pesecuo Penal (ANP) defi ro recnie artigo 8A do CP. Buscanos, avs da evs tea, dona 2s ssidades de ular de ambos os initio, nmeadanene acerca 4a posse eonexo ene els pre un mer resto no Sistema Pea Verfcamns o tts qo, histo e as rics ambos cs isis que sequam om ovelue com procauges na Sstoma dei rai Coma anal d quests plémicasazea do ANPP bem como da devi calla "a apcago da JR, slumbrames 2 pssiidad de bons rsutadesdosdo ‘que se utzer bons provedimetos, Palos chr: Resour Acro de Np Pees Pn Stena essa (© presente artigot tem a fnaidade de analsar 9 possbildade de aplicagio da Justica Restaurativa (IR) no novo Acord de Néo Persacugse Penal (ANPP), previsio no at 2-A do CPP, futo a Lei 13984/20102 De inicio, cabe ressaltar que a Lei 13964/2019 - a chamada “Lei ‘Antcrime’- tem inegivel cater inquisitorial com reerudescimento, indistargavel no tratamanto conferido ao acusado e ao condenado, ‘Aguns exemples disso sic © aumento das hipéteses de legitima defesa‘o agravamento dos requisitos do ivramento condicional* ‘© aumento das hipsteses de suspensio do prazo prescricional* ABSTRACT \We wil discuss he relationship between two institutes with recent defined application inthe Brazilian Judicial Sytem. On the one hand, Restorative Justica (RD, which has akeady boon apped abroad and in Bra, but sill pending the iteralincusion inthe CCP. On the other hand the Non Prosecution Agreement (NPA) defined inthe recently article 2A othe CCP. We so0k though iteature revi o identity the possi of uso of oth institutes namely about the possible connection between them. fora beter result inthe Cina Sytem, We verted the status qu, the history 2nd the rtm ofboth nsttutes, which continue to evlve with precautions in th Braiian Judicial System, With the analysis of conrverial issues about NPA, 2s well asthe de caution inthe application ofthe Rl, we glimpse ‘the possibilty of good resus provided that good proceduos are used Keywords Restore sti NanProsecutin Ageement Aisa Sten, © endurecimento das reqras de progressio de regime prisional?” dnire auras alteragées de vis inegavelmente punitivista, Os valores que nertzaram a olaboragso da “Lei Antirime” nio se coadunam, absolutamente, com o3 valores da JR. Enquanto rnaquela buscs-s, a todo custo, a pune do autor do crime, com [Pougussima ou nenhuma atengSo pare as necessidades da vitima fe do autor na JR'0 objetivo 6 2 restauragao dos danos causados pelo delito, com a responsabilzagac® do infrator e aumento do protagonismo da vilima, sobcetudo através do didlogo © busca de lum consenso, tude num procedimento que nao 6 obrigatéri, mas, veel voluntaio. ‘Assim, no obstante os valores que nortearam 3 criaglo de “Lei ‘Antcrime” e da JR serem diametralmente opostos, o ANPP previsto no art. 28-A do CPP, apesar de apresentarinimeros problemas dianto de possivels vilagdes de garantas constitucionals? abre as, portas para a aplicagSo conereta da JR no processo penal brasileiro, uma ve2 que possibllta a participagdoetetivada vimana ealzaga do ANPP, melhorendo as chances de sua efetividade eeficscia ‘Como se sabe, desde 0 advento da Lei 9090/95, alguns paradigmas da ustiga penal tém sida quebradas (como 0 cas0 do principio da, ‘obrigatoriadade da aco penal o que se dau gragas ao surgimento, da justia consensual (no punitvista) no processo penal brasileira, ‘A justiga consensual entre nds iniciou-se com Lei 9099/95, {que previ os insttutos da composiggo cle da transagso penal {ambos para os deltos de menor potencial ofensivo%), bem como da suspensio condicional do process." Outro exempla de justiga consensual penal é a colaboragso premiada, ou soja, um “negocio juico processual e meio de obtencio de provat® pelo qual o jui2 poders(/) concede o perdi judica i) reduaie em até 2/3, (dois tergos) 2 pena privativa de liberdade ou (i) substitu-la por restitva de dirltos” Em 2015, soguindo a tendéncia mundial de ‘utocomposicse dos confltosesolugse dalégica das controvérsias, surge a Lei da Mediagao (Le! 13140, de 266.2016), com previsio de ‘cricas © regras para que um terceiroimparcial (mediador), som poder deciséro, escohido e aceito voluntariamente pelas partes, ossa auxiiar¢ estimular 3 solugdo consensual da controvérsia™ Yale lembrar que 0 novo Cédigo de Processo Civil (CPC) prev que 0 juiz, assim que receber a petigéo inci © no sendo 0 280 de improcedéncia liminar do pedido, designars audiéncia de conciiagéo e mediagSo (ar. 334), sendo fundamental 0 papel {dos novos Centros Judciaros de Solugao de Confitos e Cidadania, {(CEIUSO) espalhados pelss Comarcas do Brasil 0s quais podem stusr tanlo na fase pre-processual quanto na fase processus inclusive perante 0s Tibunas. Pois bem, dante de todo esse atual censrio, que estimula & ‘utocompasicso dos confltes, tanto na érea penal quanto na dea Civ, 2 Justga Restaurativa (JR) surge como um novo paradigm, um revo olhar para o fendmeno do crime e do process, contratio ‘20 que se pratica na chamada Justigaretributwa, modelo que ainda, vigora em nosso sistema, Embora 0s fundamentos da JR sejom ancestras, via de regra, as praticas antecedem, em muito, a teria © os registos, os autores geralmente fram como marco de sua origem 0 ano de 1874, no Canada, tendo surgido diante de necessiades praticas para solueionar ease de adlescentes infatores (ZEHR, 2014; ACHUTT 2016), € depois fol se consagrando em outros pases, tals como ‘Australia, Nova Zelindia® BoigicaM* Estados Unidos © Canad” AJR, enfim, procura fomecer uma lente altrnativa para pensar ‘sobre crime ejustga, com uma vsso cversa da denominada lustiga, retibutiva (ZEHR, 2014 SCURO, 2007).€ importante ressaltar que a JR no se limita a intragdes praticadas por adlescentes oua crimes, ‘de menor ou médio potencial tensive, prevstos na Lei 9099/95, mas tem aplicagso em todo e qualquer tipo de crime ou ofensa, ‘ainda que graves ou praticados mediante viléncia ou grave ameaga, Em virude do avango dos estudos da eriminologia ertica, em 1290, € com a chamada "crminologia da integraga0' 0 convite da JR ¢ para que se olhe @ crime como “um acontecimento global {que nao diz respeito somente 4 pessoa do iniator, sendo “um fenémeno complexo! de mitiplas causas © consaquéncias, que cexige o desenvolvimento de um pensamento diferente daquele que vem sendo praticado na Justiga retributva isto 6, um "nove elhar integrative" (ZEHR, 2014, Peta ince yey ene: ‘Nesse nove contaxto, 0 contro do se buscar, a todo custo, a puniggo do autor do delto, aimeja-se a sus responsabliza¢a0, ‘com foco,sobretudo, no atendimento das necessidades da vita (vg, a reparago dos danas), mas também sem dasmerecer a5 necessidades do autor do delito e de todos os que de alguma forma foram afetados pelo evento danoso, seam eles familiares, ‘ou mesmo a prépria comunidade. Ao contréio do que ocome na Justigaretbutia, em que a viima praticamentaé ignorada, sendo ‘muitas vezes ouvida apenas para fazer prova contra 0 acusado, na JR pretende-sea abertura do dilogo, com a efetva participacio da \tima e de todos os envotvidos. Na JR, busca-se a comoreenséo {do que ocorreu, como ocorreu, por que ocoreu, e como podemos, restaurar 08 danes oflundos da prética doltiva, Como apoio dos faciitadores © uso de tcicas especcas, na JR, todos os Prtcipantes do processo tom a possiblidade de se manifesta limemente, dizer como se sentem e o que precisam, permitindo-se lingir resultados restauratvosjamals Imaginados na lustiga penal twadicional. entre as _pritcas restaurativas existentes, destacam-se os, Processos Circulares para resolugio de confitos™ as Conferéncias, Famniiares® ea MediacSo entre Viima, Ofensor e Comunidade?® [No Brasi, embora ainda de apicago timida, 2 JR € uma realidad {que vem se dasenvolvend a cada di, Em 2016,0 Conselho Nacional de Justia (CN), baseado nas recomendagées da ONU para fins de implantagso da JR nos Estados membros edit 2 Resolugio 225, que dispoe sobre a Polica Nacional de Justiga Restauratva, ‘no mbito do Poder ludiciio, No TISP, a implementagso da JB nas varas da infancia € da juventude encontre-se regulamentada tanto 1a Corregedotia Geral de Justiga?® quanto no Conselo Superior da “Magisvetura® A Resolugao 225 também insituiu 0 Comité Gestor de JR através do CN) (at 27). Em 2018, 0 CN), considerando ().0 ‘aumente acelead da taxa de eneareeramentoi)oraconhacimenta pelo STF na ADPF 247 de que o sistema penitencirio nacional se fencontra em ‘estado de coisas inconstitucional (i) 0 Acordo de Cooperagéo Técnica 6/2015, celebrado entre o CN) e o Ministéio da lustig, edtou a Resolugo 288, que estabeleceu como politica institucional do Poder Judicisio @ promogéo © aphcacSo de “altematvas.penais; com enfoque restaurativa, em subsiuigso ' privagdo de liberdade, Dentre essas ‘alternatives ponais! fencontram-se: as penas restitivas de direitos, a transagio penal © ‘2 suspansio condlonal do pracesso; a suspensao condiclonal da, pena pivativa de lberdade; a coneliagSo, mediagioe técnicas de justigarestaurativa; 2s medidas cautelaes diversas da pisso; ea medidas protetvas de urgéncia _Embora jd existam algumes inicatvas legislativas no Brasil acerca da JR, que, por exemple, se tornau politica piblica municipal em ‘Santoa/SP So Vieente/SP e Santa Mara/RS3* como forma da solugso de confitos em escolas publics ena administragdo pablica, ‘© embora também ja exsta previsso legal para sua aplicagéo em ceasosque ervolvemn menotesinfatores” além deprojetos deel para incusso da JR no Codigo de Processo Penal (CPP)3"a aplcacéo da JR no processo penal brasileira, apesar de fortemente estimulads pelo CNJ, como visa, & ainda bastante reduzida, sobretudo em \irtude da falta Ge previsdo na legislagdo penal \ottando 20 novo ANPP provisto no at. 28-A do CPP, trazido pola Lei 13964/2019, embora 0 nove Instituto presente indmeros problemas de natureza consttucional - como @ 0 caso das, ‘controveridas exgéncia de confssao e aplicacio de condigoes que mals se afiguram como verdadelras penas sem processo.* sendo critieade pela doutrnae, come dito abjetode agi declaratéra do inconsttucionalidade perante 0 STF, vislumbramos a possibilidade conereta de aplicagao da JR durante a realizagao do ANPP. Todavia,para que tal ocora,¢ necessétio mudar a mentaidede dos = Te} ‘operadores do dito, migrando-se de um sistoma punitvsta para um sistema restaurativo, Diante disso, cumpre-nos analisar qual seria 9 momento em que @ JR poderiainteragi com 0 ANPP. Segundo artigo 28-A,o acordoe feito ene o promotor eo investigado mediante algumas condigses, das quais destacamos (2 reparagao do dano ou a restitigo da, ‘isa 8 vtima (inciso I); © i) outta condina0 estabelecda pelo MP (porém no espaciieada pala ll) (Inesa V). Pois bem, & com base nesses dols inclsos que veriicamos a possbldade concreta de -aplicagdo na JA ne ANP. ‘Quanto 20 inciso | acreditamos que a aplicagio de prticas restaurativas durante 2 realzagao do ANPP pode servi para fealment, reparar 0s danos, atingindo-se, com isso, 8 vontade do lagislador. i880 porque, segundo a visio da JR, a"reparagso de dano™ ndo se Imita @ uma reparagso exclusivamente pecuniétia, {como detinide nos artigos 63 @ 387 1V de CPP), sendo mais ampla, € abrangente, de forma a contemplar uma verdadeira reparagéo do dano social ou mesmo das relagGes socials, com vies integral inclusive dos dans psicolégico © emocional dacorrentes da pratica do crime. Com iss, aimeja-se ating a harmonizagao entre 0 autor, 2 vitima e demais envalvdos, com 0 objetivo de restaurar 0 convivio Social © eletivs pacifeagso dos teiscionamentos, conform ‘equiperagso dsposta no ar. 2, Vill da Resokugao 228/CNI™ ono far. 13 de Resolugao 18/2014 do CNP Embora a Iki preveja que a. vitima somente sera intimada da hhomologago do acordo, nao ha qualquer dbice para que 2 vima ‘sejaantos convidada a participar da ealzago do ANPP, apicando- se af as prétcas restauratvas. Pelo contrtio, como visto, em {decorrencia das Resolugdes do CN) (225 e 288), entendemos que © juiz em toda lberdade e autonomia para aplicar a JR durante o "ANPP, tornando, quem sabe, mais efiionta@ oficaz 0 acordo, tudo em atendimento da vontadetitna do legislador. Com isso, 20 invés de se realizar um acordo apenas formal, de reparapao meramente Pecunia dos danos, sem maior significado para a vtima e para ‘0s demais envolvidos (ofensor e demas atingidos, como familares, ‘e comunidade}, acredita-ce que a aplcagao da JR no ANPP traré, resultados restaurativos mais signfcatvos, 0 que se coaduna petfeitamente com a atual Poltica Nacional de Justiga estaurativa ro &mbito do Poder luicitro,prvista na Resolugo 225 do CN. (0 inciso V do art. 28-A, por sua vez traz outa importante janela para a apicagao da JR no ANPP. O referido dispositive prevé que deniva a8 condigsee ajustadas no acordo, 0 ivestigado dovers ceumprit, por prazo determinado, ‘outta condigéo indicada pelo * Derente do que cea nos ELA, nde o scodo de ro perscugSo perl rem prsscaten sgreomart (NEA) = feo ene uma apenas gor dou Euh coo Cupartaverto de ui (00) au a Comssic de res ‘ans (carte art Exchange Conmison SEC) ~ = una pesca [trea ou fees ave erent urs restogse cma ou cil edeoerde de homggacso jude et18904/2019 daple que ages ehemsogarse So ‘eee Be ae pert pra 9x competnea coh de gran (CPP [yes 1) que esperenl plo crac da pabaae da vesting 4 Sia pa ahaa ds reo ios (CHECKER 202 Comisie Especl de lusiga Fesioustia do OAB/SP cada stones 33 ‘Srna 927 Vgane Pear de Clan Cartel esaete Ans Sa ‘Sched geolvea (se pede) Ln Feanao Bra de Soros Aiona ap ium + a ond do chaode to A “+ Alegimadeesapassouaabange a pstese do agente de seguanca publi (ue repel aesaio au sco de aressap 8 va mania een duane 3 Facade ce rt 3 pray umn ce Odgo Para «Rito io oba/ 20 aeteerny noe requnse pars 9 cose ao mer endonl prea 463 de Cage Pea uta do Minit Peta icer er Nier Ministerio Publica, desde que proporcional e compativel com a infragdo penal! Ora, acteditamos que, para a realzaeso do ANPP, 0 [Ninistéio Publico eo iz poderao convdaroinvestigado,avtima e ‘demais envoNvidos no crime a participarem de patios rstauratvas texistentes na Comarca, om 0 fim de se chegar, quem sabe, 2 um ‘bom acordo restaurativo.E verdade que a partcipagao & sempre voluntia no podendo nunca ser obrigatéia Por outro lado dante da forte recomendagao do CN em prol da aplicagao da JR no Brasil entendemos que esta é uma oportunidade muito interessante para 0 emprego da JR no processo penal brasileiro, @ 0 condita ode © deve ser feito nesse sentido, cabendo aos interessados a ‘2ceitagdo ou néo. Caso nio haja acsitagéo, o ANPP pode sequir ‘ormaimente, sendo, da realizado apenas entre 0 Ministério Pico 0 investigado, sequindo-se para o juz apenas para homologacso,, ‘sendo somente ala vtima intimada. ra se a aplicagso da JR no Brasil encontra total apoio do CN, que or sua vez embascu-se em Resolupdes da ONU, 2 ponto de ter Sido reconhecida como uma Poltica Nacional no ambito do Poder Judiciio, nao se deve negarestorgos 8 efetva apicagso da JR no processo penal basi E preciso atentar para que no ocona uma bansizagio do novo instuto, 2 exempio do-que ccore com a transaca0 penal © 2 Suspensio condicional da processo, em que 0 acusado, mutes ewe, comprece a eudintas coletivas, sem a presence do liz do Minster Pablo, e, na presenga de serventuis, se ita 2 “assnar um papel desperdigando-se oportunidade nica de Solar ab prtlease concatos da IR no proceso penal brasieto. Algs, nada impede, e tudo recomends, que os juzes apliquem 2 JR também nas audiéncias de transogao penal © suspensso Condicional do. processo, conferindo-se maior eetvidade & Significado a esses acords pena. E bem verdade que toda mudanga causa certo desconorto © perpleridade acs operadores do Diet. Toda, € jstamente desta forma que os avangos ocorem no sista de jstiga penal brasileiro, aexempo do que sucedeu por ocasio do advent da Lel 4080/85 dos penos atematvas, das medidas cautelrescversos a prisao, da auciénca de custidia, dente outras signifcativas alteragesleiativs sendofodas madangas que no inet tive resstncia porém, depois, from acets pela comunidod uric © aos Tunas Eo que se espera que ocorta em breve, coma Justiga Restaurativa ‘no Ambo no provesse penal brasileira, ‘he nous hiptacesimpedtvas da precaiio ers peas no a 16 {& Cig Fr cron antag Gry orton rove pnt ‘peta fu suspentge) ca plese encarta se © poo onan Mocorerds cutecindaoo are pene " Rewari does pans ery om ees pri oad Fal, cere cua ses a. 2), 1 Eiimperanie resaarque a espensabliacio dle, em wis aspaces, a pig, por exe. treuare aqua fute de um ome abet, ‘acon em cue ar stnulss stores dos pris nesta ate Ute econo a confit (eto & oe quo vl por vercamere, pana somkstosfendepunb. ~ + Bieac epecos Go note at 2-8 do CP tram su consttucnalade ‘Queso porte 0 STF Corfe Ao Decors de eorttuconalse {BOWER ur totale Roca Stee don Avon * Carlos o at 6 da Lei 2000/95, conser nage pana ce man rl cles os contaxenes pease os ces 9 gue fe conie ans masa na superar (ar) anon cuales cu nso maka = Exrioma cam fuses 00/08 * Ura 3 Adatal 250 cam edu dap el 3984/20, repossess cp gn ea ee pe ore peer ieeeerees fans evo ore cncsad conan aaat eee FEN madi preemies acre etcaraine Tt usm Tee Tee ae REFERENCIAS ACHUTTL Dane. N=tin stunt © Abolsonmo Pena conmigo pa nov med de acta de ction no Sah 3 So Pade Sas BRATHWAITE, John Restrave toe and Resprsve Regusion Now Yor (nfo Uns res 2002 CHECKER Menique AL 12964/2019 wx concede So parscuSo paral {GTA Dienonnel om

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