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FIALHO D'ALMEIDA PUBLICGAGAO D'INQUERITO A VIDA PORTUGUEZA N° 46 — 21 do Septembro de 1892 LIsBOA MONTEIRO & C8— EDITORES Run dow Rotrorattar, 7S, 1.8 REPRESENTANTR BXCLUBIVO PARA O BRAZIL. Awronto Manta Perrra — LIveemourbrroR G) aGd, Rive Augusla, bd a 54 Preco SO réis ? Fal MONTEIRO &G AGENCIA UNIVERSAL DE PUBLICACOES — Rua dos Retrozeiros, 75, 1.9 LISBOA IRA IAA ADD AA AD AR AAA AL Abel Botelho— Parnoroaia Socran.—I—O Ba- rdo de Lavas, 1 gross0 VOl.........00reeue «+. 18000 Alexandre Wereulano —O Monasticon. 3 ek é T °— Euric PresbylerO. vos... ‘ Tomo 1,° — Eurico o Preshy 1590) Alberto Pimentel —0 Romance do Romancista. Vina ve Castro Casterz0 Braxco. Um grosso vol, de 400 pag. illustrado com 68 grav., 2 800 —— Uina visita ao primeiro romancista portugues em 8. MUPUBL Ge BOA.) =e, Va oy ee ack Cae ae oe 200. Alves Mendes — Crenca e caracter. Discurso pro- nuneiado na festa das Dores, no templo «los Congre- endos; dg Porto. a vol. Mosk ede eee cae 300, Anner, de Brest (Dr. G.) —Guia das mies ¢ das amas. Obra premiada pela Sociedade protectora da Infancia de Paris, Traduzida pelo medico cirurgilo An- tonio Vieira Lopes. 1 vol... x 500 Anthero do Quental — 0s sonetos completos. Public. e pref. por J. P.O) raMartins,L y.br. 400 Cart. a 600 A Realeza de D. Miguel. Resposta a um Ii lo sr. Tho- maz Ribeiro, por Um legitimista. 1 vol 600 Beldemonio—Do Chiadoa §. Bento. Apontamentos de jornada de um lisbocta atrayez de Lisboa. 1 y, 500 Brochard (Dr.) — Guia das creancas nos banhos da mar, Versio portuguesa do medico cirurgiflo Antonio Vieira Lopes, 1 voles.) sc cces eva iat 100 ea Castello Branco—Cancioncird Ale- gre de poetas portuguezes © brazileiros, 2.8 ed , segui dow! Griticoe do Cancionciva, 8 vel: S00 —— Nareoticos. 2 yol...... 1000, —— Perfil’ do marques de Pombal. 1 yol, 7100 —— Seengs da hora final. Vraduzidas do ingles | ' eindag voli ee yer ee A inelaae Piatye FIALHO D'ALMEIDA OS GATOS PUBLICAGXO D'INQUERITO 4 VIDA PORTUGUEZA N.° 46— 2 de Septembro de 1809” SUMMARIO Os SYMBOLISTAS E DECADISTAS CA DE CASA; CONSTATAGAO DO CARACTER LITTERARIO PELO FAS~ CIAS, HEREDITARIEDADE, MEIO SOCIAL E EDUCA- GAO.— PROVA-SE A INCAPACIDADE DE SEREM OS PORTA-BANDEIRAS DA POESIA DECADISTA, E COMO A SUA OBRA NAO PASSA D'UMA IMITAQAO GROS- : SHIRA DOS FRANCEZES.— ARGUNENTO MACARRO~ NICO D'UM POEMA, E DISCUSSAO DAS BASOFIAS RE= VOLUCIONARIAS D’UM PoETA,— A Epiphania dos Licornes, ov conrricgdo p'uM Figaro QUE SE TORNOU Basiio.—Genio DA ASNEIRA E FACTU- OS GATOS RADE REPUTACOES PELO ESTROMBOTICO.— Ops~ CURIDADES E CHATEZAS NEPHELIBATAS. — Dong Briolanja sob as cér de mosto, Mats connecip, POR COMPLICADAS DECORAGOES DE LEGENDA Yr- LuA,—Bevieza Kirtan peste POEMA.—Evor- NIO NAS SUAS JUSTAS PROPORGOES. -— DANpysmo pokrico p'Ouiverta SOARES, E CARACTER MISTI- ricanor po Exame de consciencia » Paraiso Perdido.—IxvervEM UMA DAMA COM PIADA,— Cowo AOS VINTE ANNOS SE B MYSTICO, REVISTA DOS TRAVESTIS DO AUCTOR P'RA GALERIA — Soares, porta Latino.— NEcEssIDADES D’r= MOGAO NA POESIA; A LEL DE TYNDALL SOBRE 0 RYTHMO, E SENSIBILIDADES PECULIARES DE CADA ESTADO POETICO.—CoMO O$ YERSEJADORES MA- NUSEAM ARIMA RIcA.— QO QUE KE A RIMA RICA, SEU RAPEL DEPRESSOR NA POESIA PORTUGUEZA. — VERSOS SEM IDEIAS, £ GRANDILOQUO, PATO- GNomonico D’Ip1oT1A.— Nao tenteis comprehen- del-os, © QUE VAO PARA A CHARRUA.—KM CON= CLUSAO, Os symbolistas e decadistas c& de casa siio uns rapasinhos joviaes e bem portados, com a digestao facil, a alegria prompta, e 0 coragao sujeito a um tic-tac de que nenhu- ma commocao violenta altera o rythmo. A sua historia pregressa da-lhes um socego de vida e uma benignidade d’educagao e de leituras, que de férma alguma predispdem 4 nevropathia seus encephalos d'adolescen- tes. Isto se reconhece na maneira methodi- ca com que elles fazem ja, sendo tao novos, suas edigoes d’obras completas, no ideal de conforto burguez, forrado a papel, que todos teem da vida civica, na férma correcta de vestir e d’aparlar o cabello, e até na caleu- 4 0S GATOS lada artificiosidade com que aos yinte annos (a edade das grandes fomes de Verlaine, e das vagabundagens de Rimbaud atravéz de todos os acasos da bohemia mendicante das velhas cidades de Franga e d’Allemanha) elles buscam para propalar seus nomes uma estravagancia poelica que os ponha em foco nas esquinas da apathia litteraria da sua ge- ragao. Hereditariamente nada conteém tampou- co que lhes desequilibre a funcgao nervosa, ou n’elles sublinhe sequer laivos de vesania donde tarde ou cedo venha a brotar uma arte detraquée. Sio filhos de lentes, de me- dicos, de proprietarios, a quem os estudos profissionaes nao prejudicaram a saude e a descendencia, e que muito embora oc- cupando, ou tendo ocevpado, na vida scientifica ou burocratica, logares distin- ctos, comtudo evilaram sempre queimar a carcaga no auto-de-fé dos excessos de labor cerebral, que vicia a propagacao, e tanta vez faz pagar aos filhos as dividas physiologicas dos paes. Quem os encare de face, a san- gue frio, logo n’elles reconhece organismos de saude, de formato pequeno mas retezo, OS GATOS 5 caras symetricas, craneos de typo tranqui- lisador e olhar sereno, e maos tao cuidadas, dedos tao direitos, movimentos tao pouco desconnexos, impaciencias tao pouco adun- cas, que nao ha duvidar se esteja em pre- senga de seres integros, bem comidos e bem tratados, dintelligencias conspicuas, nao creadoras, sendo repetidoras, d’artistas emfim que embora aptos para fruir na arte uma maneira de ser propria, jamais conseguirao sahir da nobre mediania litteraria que o ta- lento menstrtia, mas onde raro o genio ma- cabro erriga a sua careta hiante de hypo- gripho. Tambem a sociedade e¢ o meio onde elles pairam, a geracao lilteraria onde elles se fi- zeram, nao podiam compelir-lhes 0 savoir faire de poetas para uma corrente d’inno- vadores nephelibatas, porquanto nem -essa sociedade, nem essa geragio, nem esse meio, limitados e tranquillos, da vida universilaria e provincial, podiam trabalhal-os por forma a desconjunclarem 0 justo equilibrio de fa- culdades que ja iodividualmente assignei ara os srs. Eugenio de Castro, Oliveira ad e Joao de Castro. 6 Os GATOS De feito, que sabem esses rapazdlas aos 20 annos, com mezadas de familia, cavaquei- Ta amena nas republicas escolasticas da alta, tricanas préstes, paysagens remangosas, lim- pidos ceus, horisontes musicaes, e por toda a parte promessas de fortuna e silhuctas de salgueiras e monumentos historicos, que as baladas do rio melancholisam, as guitarras € as trogas juvenescem d’um evohé de vida inberbe — que sabem elles da grande vida marlyrisante dos que no podem voar por ter de pdr todos os dias a panella ao ln- me, e dos que tendo-se feito um nome, re- bentam de martyrio ignorado para o-levarem intacto t¢ ao frontespicio d’um livro origi- nal ? Ingenuos como rapazinhos, bebedos de pelulantes amanbas como afilbados das on- dinas, sem necessidades de metal, acordan- do 4s manhas co’o habito fresco e a bocca sem saburras, nao sabendo se ha figado, nao sabendo se ha talhos, mercearias e pulhas ue a gente tem de subornar para ir viven- ©—ignorando por cima, os felizes, quan- tas humilbagdes custa aos trinta annos d’um homem fanado, a noite amor que uma OS GATOS 7 creatura gracil vende, a quem lh’a pede, em- bora na divina lingua d'um poeta grego ou florentino! — como podiam elles, esses sa- dios e esses mansos, ser os portadores das perversdes d’este final de literatura pessi- mista, eroto-mystica, inconfidente, epilepti- sada da dér de vivér, com desejos de morte eterrores da sepultura, vaidosa e pusilane, prégando o amér sem posse e violentando ao mesmo lempo a nalureza, nihilista e egors— ta, hamletica, impulsiva, escorrendo luz e escorrendo pederastia ?! Claro esta que todas as fontes da dormo- derna, incomprehendidas, todos os seus pro- fundos veios d’inspiragao lhes ficam, por esse facto, sonegados : raz0 porque a poe- sia dos srs. Castros e Soares nao podia deixar de ser o que é, uma imitagio dos defeitos grosseiros do decadismo, e uma caricatura ridicula das estravagancias a que alguns symbolistas malucos teem levado em Franga é na Belgica a arte de cantar. Nao 6 a acuidade evocativa de certas imagens e 8 08 GATOS vocabulos, nem a estranheza hysterica de certos estados de razaio ou d’alma que os poetas das Horas, do Exame de consciencia eda Alma Posthuma mais, particularmen- te sugaram dos seus modelos francezes, que equivaleria isso a uma identificagio moral ab- soluta, cujo primeiro resultado seria sinceri- sara arte Welles té aos extremos d’uma auto- biographia ingenua e apaixonada.O que esses mogoilos com delicia copiam sao os trucs, as pochades meio arte, meio intrugice, os toni- troantes vocabulos de significado obscura, torcida, {6ra do seu lugar, o abuso das let- tras maiusculas, ea alleracio proposital em- fim de todas as regras poeticas que possam por a metrificagao ao abrigo das maluqueiras de rapazes.Em prosa como em poesia, 0 sym- bolismo d’elles nao consiste, como Banville diz, «em nunea ir 4 concepcao da ideia em si,» mas 6 uma serie d’omissdes, inversdes, deducgdes, que tiram a clareza 4 phrase, 4 ideta 0 seu declive limpido e synthetico, tor- nando a literatura n’uma especie de palim- pséste, meio obsceno, meio religioso, onde . © sentido ¢ incomprehensivel por Ihe falta- rem palavras pelo meio. Querem uma pro- os GATOS 9 va? Abi vae o argumento do livro Horas, do sr. Eugenio de Castro. : «Silva esoterica para os Raros apenas : abertas as eclusas, corvetas, como eathedraes flu- etuantes, seguindo invditos itenerarios por atlanticos yirgens ; aterrago ladrilhado de cipolino e agatha, por onde 0 Symbolo passeia, archi-episcopal, arrastando flamman- te simarra bordada de Suggestbes, que se alastra, oleo- sa e polychroma, nas lisonjas ; eeoncerto de adequadas musicas implorativas ou mo- rosas, raro estridentes ; complicadas decoragdes de legenda velha mantelan- do o pudor dos episodios simples 3 «preces d'um hereje arrependido, votos castos dum antigo libidinoso, pesadelos e irreligiosas hesitagdes d’um recente conyertido ; «Tal a obra que o poeta concebeu longe dos barba- ros, cujos inscientes apupos, — al nao é de esperar — nio logrario desvial-o do seu nobre € altivo desdem de nephelibata. ‘EB se Deus todo poderoso the der genio e saude, para breve novas colheitas.» Claro que isto nao é prosa, nem program- ma, nem argomento, nem coisa nenhuma ; é uma trapalhada sem nexo, que se acredila concebida longe dos barbaros, por ter sahi- do com certeza do hospital de Rithafolles. A par da eseriptura macarronica, ha n’esta silva p’ra raros, uma allivez de tal sanha in- sulsa, uma pretensao do provar do fino em 10 OS GATOS tanta maneira solérte, que nem Victor Hugo nem Junqueire jamais do alto dos seus mon- tes escreveram com tao chispantes raios, na taboa eterna, a Jei mosaica para 0 povo pros- ternado ao de redor. E nada menos do que uma poelica nova, do que um ideal novo, do que uma lingua, uma imaginacao, uma eu- phonia e um rythmo inteiramente ineditos e desconhecidos até hoje, o que alli se pro- mette—o todo sobrepujado do extasi ceno- bitico d’uma alma desilludida da carne, e que refugia em Deus o seu terror da perfi- dia humana. Entra-se no texto da obra, apdés d’estas estridulas promessas, e depara-se 0 seguinte. Na Epiphania dos Licornes (epi- phania dos licornes nao lembra ao diabo !) uma especie de ladainha em que as remi- niscencias d’oragdes d‘infancia ennastram has parvoices, e em que pedacos da Ave- Maria confinam com récuas e récuas de pa- lavras antigas, postas de proposito para bo- qui-abrir d’espanto o phi ciabo, e com imagens tiradas de leituras e factos de que 0 sr. Eugenio de Castro nem sempre altin- giu lucidamente a significacio. OS GATOS pai Kyrie eleison, Christe eleison, Lua deitada, marinheiro a pé, Lua deitada, marinheiro a pé, Kyrie eleison, Christe eleison. Hoje ha banzé. «© toda vestida de Ihama, ¢ Iuciolante de pedrarias, sempre em meio das sororaes polyphonias los burcelins, das nubelias gementes, das violas, sempre Insinuante e Cardeal entre os turibulos acce- 808, Derramadora de eucharisticas esmolas, Estrella dos Mareantes, das Orphandades e dos Presos, Consoladora dos que tombam do andaime T)a Illusdo, Santa Maria, Mae de Deus, auxiliae-me! «A minha Mocidade tem cabellos brancos : Sou 0 menino, que, uma noite, os Saltimbancos Roubaram, sou o Lis 4 janella d’um palacio em fogo, E a Noiya Lilial n'uma casa de jogo. «Que ¢ dog idos explendores dos Soes mortos ; noiva dos profanos em relyas de pastoral, vinhos cascatan- tes, hombros nymphaesy caravellas auriflamantes buscando chymericas Americas ? «Tive puniceo manto, que era, no chio, puniceo azeite ; Adaga temperada de Nuremberg, Em cujo punho uma saphira, entre opalas de leite, Era uma tulipa azul em Spitzberg. «Tive falcdes e falcoeiros, E nas de porphyro varandas De meu castello, arrabileiros Tocayam, resplendentes de opalandas ; Tive castello de granito, Granito rozeo de Syena, 12 OS GATOS Tive d’ambar do Egypto, E col descolhida pena ; . Tive leito de faia (tal Salomiie), sob cortinas D'anreos tissus, onde dormia adur Geado d’alyas popelinas E de bordaduras d’Assur ; Andes em seda alya de jaspe, De men eastello no atrio mudo Sobre as lisonjas de diaspe, reuian: tios de velludo ; Balsamyrrhando 0 manso ar, Em de cobre babylonicas cagoilas, Fumegavam rezinas de Madagascar, Do fogo entre as rninas cenoilas ; N'um celleiro ladrilhado de sardonia Tive tulhas de pedras raras : Turquezas do Cairo ¢ da Macedonia, Diamantes frigidos, sem taras, Peridotes, obsidianas, Rubis de Dgiamsechid, humidos de sinopla, Sueiras, esmeraldas de Juba, eymophanas, Rozicléres de Visapura, jacinthos de Constantinopla. «Os francezes levaram-me tudo: a adaga nuremberguéza, a taga d’am- bar do Egypto, 08 rubis de Dgiams- chid e as torquezas da Macedonia. Para spud o armisticio, para quando «Tive um parque cheio-de lagos £ de cegonhas brancas, como lythurgicas pratas, Poyoado de aromas vagos, De murmurancias de cascatas, E de figuras de basalto ; , em tanqne d’agatha, um hydro D’onyx eatats ae so z Uma girandola de vidro ; Pn ree OS GATOS E onde, soberbos como Nuncios, Com suas caudas d'oiro ardente, [am pase sob quincuncios De rhodode: ndros, lentamente, lentamente, lentamen- ter. . E mais além : « ..Da cidade do Mal'augmenta o estrepito Numa rubra hemoptysia o Sol decrepito, Golfeja sangue pelo ceo grisalho .. Thuribulo da tarde um lago fuma, E, na sua assumpgio, a Laa é uma s Branca Primeira Communhao n'wn Talho ! «Barbaros ; uma Voz de setim e branco chamou por mim. Todo ves- tido de linho, vou para a Torre do Coneeito Puro. Fui o Fraco e 0 Ne- i gligente eo Diamante de Goleonda i engastado em zineo: hoje sou © : Beato e 0 Mago. Nio tenteis com- prehender-me : no me comprehen- dericis. Fazei clangorar o olifante das Paixdes ruins. Serei surdo. E t vinda a hora muito esperada, do li- 2 yramento.» Hao-de concordar que o conjuncto é a mais nao disparatado, e que ha razdes para se contestar a mesma béa fé d’esta poesia. & Na diversidao dos generos litterarios, oceu- 3 pa o verso j4 um tao minuseulo logar que og nao valeriaa pena fazer passal-o d’arte aum 4 OS GATOS jogo de paciencia, e a uma habilidadesinha de serio. Porque, entendamo-nos. Se a tal Epiphania dos Licornes é 0 acto de contric- gao d’um antigo devasso (Fraco e Negli- gente) que tendo cedido ao peceado, conser- vou todavia, a alma luminosa (diamante de (roleonda engastado em zinco), tornando-se pelo arrependimento e exaltagao extatica em Maria, no Beato e no Mago que vai para a Torre do Conceituo Puro, surdo ao olifante das Paixdes Ruins, deve esse threno vir tres- passado todo da emogao do acto, e conter em si o reviramento psychologico que de- lerminou a conversao da alma do poela. E essa emogao onde estremece ? No Kyrie elei- son da lua deitada e do marinheiro a pé? Na confissio de que o sr. Castro seja a noi- va lilial n’uma casa de jogo? No puniceo manto que erano chao puniceo azeite ? Nos arrabileiros e nos andes em seda alva de jaspe ? Nas lisonjas de diaspe, no «fogo en- tre as «ruivas cenoilas» no «para quando o armislicio, para quando?» no hydro vomi- tando a girandola de vidro, ou na lua que lembra ao poeta uma primeira branca com- munhao n’um talho? OS GATOS 15 Pois nao se esté vendo que n’estes versos onde palavras de cathecismo se mistaram a confissdes de peccados nao commettidos, e a suggestio das imagens e eredos deriva d’um inconsciente folhear de livros de rezas efolhas de bonecos da coloriage franceza d’Epinal, nao se esta vendo que n’esta mi- chorfada falta completamente o sentimento, é nao ha unc¢gado nem perversidade, e tudo 6 feito de cdr para fazer o incauto dar cavaco ? Por ventura a superabundancia de descripti- vos, com sens embutidos estapafurdios de quincuncios, licornes e olifantes, nao thes incutiu jaa suspgita de que o poeta procura meter no livro, co'a maior somma de brilho, amenor somma possivel de pensamento ? Es- ta poesia da-me a impressao d’uns meninos de fraldinhas humidas, a quem a ama en- sinou mal as oracdes, que elles inda por ci- ma deformam em versos errados, euidando rejuvenescer com isso a lei de Deus. Fica entendido entanto que nao ¢ o deca- dismo que eu vergasto—todaa firma d’arte 16 OS GATOS é viavel e fecunda, desde que seja a expres- sio sincera d’um momento da vida — mas certos decadistas francezes demasiado pre- ciosos para serem os portadores d’alguma ideia-mae, e os seus macaqueadores de Por- tugal, demasiado infantis para que 0 sorri- 80 publico lhes nao sublinhe galhofeiramente as farfalhadas. Porque eu ja disse; a deca- dencia dos srs. Castro e Soares nao lhes esti no espirilo, na.lassidio enervada, na saciedade, na maladie équivoque, ou na prégacdo da inutilidade de tudo, como no soneto de Verlaine que atraz citei, e que é toda a antopsia d’uma geragio. A deca- dencia esta simples e puerilmente em certos rebuseados de forma, vicios d’estructura grammatical, e obscuridades de glossario, que s&0 0 que os mestres francezes teem de mais ridiculo e de peor. La vem por exem- plo na Epiphania dos Licornes, 0 verso es- trebuchando em metros diyersos, a fingir que deita sangue pela bocea de haver feito a volta do mundo de todos os ideaes ; lAvem, entrecortando series de quadras, onde as ri- mas alternam geralmente, pequenos periodos em prosa pretendendo imitar os famosos t OS GATOS versos livres que a Rimbaud foram suggeri- dos pela «prosa poelica ou rythmada> de Maria Krysinska, meio termo entre 0 verso ea prosa, e que mais parecem rubrica no poema do sr. Eugenio de Castro, do que propriamente litteratura, acerescendo que nem teem estranho, nem originalidade, nem prestimo; ea par do catholicismo mystico que nao é de modo nenhum factor d’escola adstricto ao decadismo, mas um caso parti- cular de Verlaine que os poetas de cd trasladaram para a sua copia, n’uma garo- tada deploravel d'irrespeito; a par d'umas exhibigdes de passado orgiaco, inteiramente posticas, e onde nao ha amargura, nem blas- phemia, nem saudade, porque nao existiu, esse passado, apercebe a gente nos poelas, mencionadamente no sr. Eugenio de Castro, outra velleidade ainda, a do instrumentismo, que 6 como ja disse uma tendencia para fa- zer poesia provocando emogoes nao com o sentido das palavras, que por fim ¢ abolido, mas com effeitos de sonoridade na maneira de combinar as syllabas, identificando assim a poesia 4 musica, isto 6, liquidando d’uma vez co’a poesia, o que deixa realmente os OS GATOS etas n’uma apathia para e simples de reis fe crelinos. O poemeto da Dona Briolanja, especie de tryptico em parelhas de yersos, onde se fi- gora uma dama aguardando, ajaezada de ri- quezas, o cleito, que alfim a leva 4 bengao nupcial, é no livro do sr. Castro um deseri- plivo de cor mais coherente, e que mao gra- do o preciosismo da talha, todavia se rece- be com uma porcio de curiosidade enterne- cida, prevenido como se é pelo poeta, 4 por- ta do poema, de como este seja «complicadas decoracdes de legenda velha mantelando o pudor dos episodios simples.» «Dona Briolanja vai com snas aias Sob as cér de mésto vesperaes olayas. Vae com suas ais, leva fino leque, Cauda de vyelludo pallido de Utrecht. Leyva broche aonde sangra uma See Pende-lhe da cinta sonora escarcella. Leva anneis de cobre com ayenturinas, Brincos de sueiras, manto de agnelinas, Dona Briolanja vac com suas aias Sob as cér de mésto vesperaes olayas... Da a impressio de ter sido inspirado Os GATOS 19 n’uma illuminura, barbaro e ritual como el- la, e ressequido e osseo sob’as pompas das cores @ a arlificiosa decoragao das palavras dos chronicons. «Toda, toda branca, toda em seda branca, Sua cauda é lacteo tanque que se estanca. Vae ajoelhar-se o branco par noival N’um de rica Ihama rico sitial. Gemem os psalterios, gemem as violas, Brilham as Castlas, brilham as Estdélas. Ciriaes de prata luzem sobre o altar, Thuribulos d’oiro dangam pelo ar. E o Bispo arrastando sua rubra capa Langa aos dois esposos a bengado do Papa-» Hemos de confessar que isto é bonito, com kyries de ladainha e rythmos de ballada; mas sem phantastico, d'um estranho posti- ¢0 e feilo de proposito para entarrecer a in- genuidade dos leitores, e éo que me re- volta! Sempre porém que o sr. Bugenio de Castro se resolve a abandonar as esquisitices de glossario e as comparagdes de matoide em de- manda de celebreira, o poeta quefica é d’uma 20 OS GATOS infinita graca requintada, jungindo aos mo- dernismos mais acres, arcaismos cheios de sabor de livros velhos, velhos estofos, velhos paixos relevos, por onde aqui e alem bru- xuleia um estrosinho de candido namorado. E’ este, me parece, o Eugenio que registra- rao para a historia do preciosismo lyrico contemporaneo, 0s bibliophilos solicitos de minusculo, e ahi figurara no primeiro soclo o nome do meu amigo, a quem os compul- sadores censurarao ter sido um dos mais incorrigiveis mistificadores da sua grei. Procuro depois nos livros do sr, Oliveira Soares, caracteristicas, sigdos com que descri- minar a sua poesia entre as dos Castros, e 4 proporgao que o leio desvanece-se-me 0 intento de o por em oratorio como patrono d’'uma arte original. Porque tudo nos versos Welle se funde em dandysmo e artificio, e 4 parte uma estravagancia agradavel de certos detalhes postes de proposilo para o brouhaha das gentes candidas, nenhuma coisa mais ca- pla a minha alma, des’que a emogao eslé au- OS GATOS 21 sente e a sinceridade 6 ponto controverso. Exame de consciencia e Paraiso Perdido sio as duas especies de smoking d'uma paixao experimental, mandadas fazer ao lalhe de cinta e hombros d'uma alma ironiea, por um costureiro de certa habilidade. O poeta cor- lou-0s, provou-os, vesliu-os, eachando que Ihe ficavam bem, ja nao quer d’outros. Livros modelados pelos de meditagdes dos antigos ascelas, onde em vez de Jesus uma mulher, € cada meditacao repetindo as lithanias an- teriores por outras palayras, muilas. lettras maiusculas e alzuma impertinencia, Uerta dama que os Jeu, diz lembrar-lhe Soa- res um rapaz que depois d’um namoro infeliz, ficdsse tonto. E’ formular a obsessao do poeta em forma de chasco, mas verdade que se‘ndo chega a fazer d’esse amor, por aquelles livros, uma ideia 14 muito in- teressante. Em primeiro logar a figura da dama nao sahe nitidamente das muilissimas raridades que o poeta confusa e aristoerati- camente lhe attribue. Mesmo considerando esse vullo apenas como synthese do femini- no elerno condensado, as coisas que 0. sr. Oliveira Soares divulga d'elle, das suas maos, 22 oS GATOS dos seus vestidos, da sua belleza e da sua raga, so tio vagas e externas que nao ha meio de descobrir por sob os veus da mumia © principio intelligente que despertou no sr. Oliveira Soares tao grande amor. Ora preci- samente esse principio 6 que daria o fer- mento dramatico do livro, nao exclusivamen- te por si, mas nas cambiantes psychicas que a sua affectividade acordasse no espirito do cantor. Em segundo logar, des’que no Bxa- me de consciencia e Paraiso Perdido a alma ella esta ausente, o poeta, esfriado da exa- cerbacio que no homem amante causa sempre o farisco da mulher amada, em vez d’accusar nos seus versos os ardores d’uma imaginacao viril, ebria de vida, o que faz é alirar novenas para o vacuo, psalmo- diar misereres sobre o cadaver d’uma paro- dia de paixao; e n’este conjuncto de ladai- nhas monotonas, d’uma religiosidade chei- rando ainda aos desinfectantes da fronteira, n’este breviario da insensibilidade gommo- sa, travestida de levita, julgou o auctor ter dado a nota do irreparavel moder- no, que desestriba 0 amor do «contacto das mucosas», tio s6mente admittindo nu- OS GATOS 23 peias d’almas, ¢ enlevos mysticos semelhan- tes aos que fr. Thomé de Jesus tinha pela Virgem, nas suas noites de monge mutila- do. A impressio que me produzem os ver- sos do sr. Oliveira Soares 6 a d’um disci- pulo do Conservatorio fazendo as suas pro- vas de gala de joelhos aos pés d’um mane- quim. A dicgao é talvez elegante, a figura distincla, a voz de boa agua: poréma cada passo reflecte-se-lhe no jogo 0 manequim que elle invectiva, de sorte que nao ha meio d'abstrabir o actor, da peca declamada. 0 catholicismo é tambem outra mistificagao em voga neste grupo, e despega-se-lhe dos vergos apenas raspada a crosla exterior. Frizei a insociabilidade entre as caracteristi- cas dos temperamentos litterarios contempo- raneos*, e nos nossos nephelibatas vemol-a revestir um typo d’'insolencia que é 0 exa- gero do orgulho infantil ao apropriar senti- mentos que nao peza. De feito, nado tendo os tres poetas de quem fallo, signal algum do genio degenerativo, decorrendo-lhes a vi- da placida e o ambiente intellective pouco — 1 Gatos, n.° 43, pag. 20. bg OS GATOS hostil, escrevendo elles livros mediocres e sendo apenas uns nenrasthenicos simu- lados, aquella insociabilidade nao pode ser senao resultado do mimo, e por forma alguma consciencia da auctoria d’uma obra incom- prehendida e superior. Existe n’elles, vé-se, determinada porém por moveis pueris; € existindo, como harmonisal-a ent’o com o sentimento religioso, desde que a religiao é um sociomorphismo cosmico, com a socia- bilidade por Jaco aglutinativo do homem 4s forcas do universo, ao universo depois, e ao seu principio ? A origem de toda a religiao 6 0 desejo ; sem necessidades nao haveria deuzes, e co- mo as potencias de quem dependemos se chamam divindades, incloiu o artista entre as mais prestigiosas, a mulher. Porém a mulher fonte da vida, yaso das geragdes, fecunda no riso como no amplexo —jamais a virgem perpetua, a solteirona recusando 0 flanco 4 perpetuidade das ragas, symbolo esteril da invalidez dos seres tresviados do papel para que a natureza os foi formando, enovar o culto morbido dos ascetas 4 fe- mea intangivel, 4 femea insexaal, mesmo 4 pis OS GATOS 25 sob perfumarias de dandysmo e o docel d’um ideal d'amor transfigurado, alem de me parecer uma monstruosidade indigna de homens validos, nem sequer para o caso subjeito tressua o encanto da penitencia, porquanto os nephelibatas do men conto sao gozadores da vida até 4 olheira, earespeito de crengas, bau! bau! trogariam Jesus se elle voltasse. Emfim o mysticismo do sr. Oliveira Soares ainda podia ser um embuste sem raiz senti- mental n’um coracdo com sopros d’agonia, e a sua obra poetica permanecer bella ape- zar d'isso, perfeita e plastica como um baixo relevo historiado ao deredor d’um typo d’in- sensivel. Infelizmente nem esse consolo fica no enxoval do noivo mystico, cujos lithanias por vezes se estafam em cireumloquios fas- tidiosos, e levam a excentricidade a porem em rima os latins do Palito metrico: «...Et floridus Hymons. virtutis,4 Causa lactitiae Juyentutis, Sinus duleissimus salutis...» Pela physiologia se sabe que a lingua rythmica do verso, cujo fim ¢ exprimir emo- 26 OS GATOS ces antes de tudo, lem a mesma emogao por causa prima. Tudo em nds se rythmisa sob a influencia de sentimentos dominado- res: rythmisa-se 0 gesto, rythmisa-se a v6z, rythmisa-se 0 pensamento, porque a diffu- sao nervosa espargindo a excitagao mental travez dos membros, confirmaaleide Tyn- dall e Spencer, segundo a qual toda a agi- tagao é transformada em movimento ondula- torio regular. A cada estado de sensibilidade deve entao corresponder uma véz do espirito poeticoem accao — versos pallidos quando a emoeao é nulla, cheios de harmonia quan- do o sentimento é forte e caloroso, ' e estas impressdes pela lei do conlagic sympathico voam do verso, promovendo estados d’alma identicos entre 0 poeta e 0 seu Ieitor. Nos versejadores fatigados ou insensiveis, a emo- go que é impossivel produzir pelo senti- ménto, tentam suppril-a por via d’excitantes e arlificios (0 papel das especiarias nas comi- das sem sustancia nem lempero) e vem 0 caso dos nephelibatas explorando a enfase, os 1«On pourrait définir le vers ideal: la forme gui end & prendre toute pensée émue.» M. Gurav. OS GATOS 7 epithetos estrombolicos, as imagens archi- destemperadas, ¢ a intrujice da incompre- hensibilidade e das lettras maiusculas a que me vim referindo mais atraz. Entre estes apperitivos destaca principalmente a rima rica, ja explorada pelo romantismo, e cada vez mais em voga para mascarar crelini- sacdes de pensamento. Scientificamente a rima nao passa do meio de tornar sensivel o fecho do verso; tem na poesia um papel portanto limitado, embora poetas d’ella se valham como dos aleatruzes d@uma néra, para lhe sorver pelos furos a inspiragao. Se fazendo-a exhorbitar d’esta medida, admitlirmos a escamoteacgio da rima rica, iremos dar a um pormenor rela- livamente banal da poesia, valores que sé podem deslumbrar ouyidos rudes, e assim terd retrocedido a arte, de quatro seculos, a0 tempo em que o publico ainda physiologi- camente inhabil para a percepgao do hiatus, se comprazia na repeligao dos mesmos sons acompanhada de differenca de sentidos. A poesia ficara pois reduzida, co’a rima rica, como Banville diz, a «uma serie de harmo- niosos calembtirs», e caleula-se 0 que fica- sal a 28 Os GATOS ria della abatendo da pougaissima impor- tancia que ji tem no nosso seculo, a deses- tima em que necessariamente cahird se os poetas liquidarem exclusivamunte em rima- dores. Por desgraca é esta a tendencia qua- zi geral dos porluguezes, e 0 primeiro si- gnal de decomposi¢ao d’uma reviviscencia em que ha dez annos muitas pessoas che- garam a ter [é. Os effeitos depressores da rima rica, ou substituigao da ideia por aventuras conti- gentes do mero encontro dos sons, esmiu- ¢ar-se-hao melhor pensando no seguinte : 4.*—nos poelas a exagerada procura da rima yem a tocar com o tempo as raias da mania, e d’esse instante nao verao elles no verso mais que pretextos para jogos mala- bares. Consequencias : a impossibilidade re- mota ou proxima de desdobrar rigorosa e lo~ gicamente o fio do pensamento; desordens psychicas vedando ao artista todos as leis d’associagio d'ideias; dispersio das facul- dades creadores, perda do sentimento. da cor e da proporgao, e esgoto final por um processo mechanico ou glu-glu continuo de palavras cantantes, medeante o qual a poe- OS GATOS 29 sia acabara por se tornar n’uma esgalhada d'estravagantes bugigangas. Oaristos, Horas, Exame de Consciencia, Alma Posthuma, Bi- blia' do Sonho, S6, Livro d’Aglais, ete., to- dos os modernos estado cheios d’estas ape- lintradas tafularias, signaes de miseria es~ tanque com que os mendigos doidos embru- Ihados na coberta da cama julgam fazer-se passar por imperadores. 2.'—eliminada do verso, pelo escamoteio da rima rica, a ex- pressao concisa e lapidar do pensamento, nao 36 0 poeta desaprende de pensar, como de fallar: 0 pensamento incha, diz Guyau, e distende-se 0 palanfrorio de verso em ver- so, té-deparar a rima exolica que se procu- ra. Gomecam entao os saltus mortaes na cor- da da metaphora e da periphrase, os inci- dentes deslocando a nilidez das linhas mies da composicaio, 0 relay paper do pitoresco em galopados d’estravagancia atravez dos cerebros vasios. A’s bypertrophias de linguagem succede o adelgacamento da ideia e a aniquilagio gradual do sentimento. Poeta morto em con- clusao. 0 proprio aziatismo da rima acaba por Ihes reduzir e empobrecer 0 vocabula- 30 oS GATOS rio, que ¢ ja por fim um moinho de musica trazendo ao ouvido do Jeitor os mesmos so- los. Querem exemplos ? Vao aos chamados poelas tropicaes, e ali encontrarao rimas de ial maneira uniformes, que noladas duas ou tres, adevinham-se logo as oulras, n’uma invariavel successao de zig-zagues. Desnorteados em plena charneca arida d’uma arte sem ideaes, nem seivas, nem phi- losophia nem encanto, d’uma arte que elles pao crearam nem senliram, esses rapazes quando a consciencia os saccode n’um vis- lumbre mais lucido, langando-lbes em ros- to a estupida farga a que se prestam, esses rapazes para esconder a titubiagao apodam- nos de barbaros, dag-se attitudes mysterio- sas, chamarrados de tilulos agagantes. Nao tentei comprehender-me; nao me comprehen~ derieis ! & 0 caso é que o publico embatuca e nao tem coragem para lhes chamar char- lalaes. Bem ao contrario, é n’esse momento que a erilica porlugueza comega a achal-os re- volucionarios e verdadeiramente originaes. Veda-hhes a paralysia psychica lucidez verbal para um conceito? Aos alinhaves de phra-

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