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ui Cadernos da Escola de Comunicagéo ——-—-. ~ oe UNIBRASIL Artigo Corpo Docente Palavras-chave Hipermidia Comunidades de pratica Multimedia story , Comunicagao Keywords Hypermedia Communities of practice Multimedia story Comunication * Mestre em Tecnologia pelo PPGTEI/CEFET-PR, especialista em Didatica do Ensino Superior e licenciado em Musica. Professor das disciplinas de Novas Midias no curso de Jornalismo da Unibrasil e Comu- nicagdo Digital do curso de pés- graduagéo em Jornalismo Empresarial das : Faculdades Curitiba. Editor da Coluna Livre do Projeto Aprendiz, Atuou em diversos projetos de midia digital para Intemet, como a Revista Colabora - PUC/ RICESU, Universidace Corporativa - ISAE-FGVPR, Projeto Aprendiz- SP, entre outros, Numero 3 - Jan-Dez 2005 96s ul . o Artefatos de Conexao em o Comunidades de Pratica: a a . Ae Multimedia Story Q a Jorge Luiz Kimieck* G Resumo G As redes telemiticas ¢ as novas tecnologias da Infor, magio e Comunicagio tém alterado de modo significativo a“ forma com que as informagées sfo transmitidas atualmente.W Produtotes de pottais jomnalisticos, procurando delinear um(_t processo comunicacional baseado em hipermidia, buscam novos métodos que atendam este novo modelo informacional, Por outro lado, comunidades virtuais e comunidades de ps tica so estruturadas nos relacionamentos cotidianos, nas quais \_) novas formas de comunicagio configuram-se ao longo de(") seu tempo de existéncia. Neste contexto, surgem novas fot- , mas de conexio, preconizando mudangas significativas nas“ estruturas comunicacionais destas comunidades. Este artigo‘) procuta realizar uma reflexio de como as novas midias incor (5 poram-se ao jornalismo digital, na busca de uma interocugio ,- com as teorias sobre comunidades de pratica, tendo como foco os objetos de fronteira e suas relagdes de brokering por“ meio do desiga de histérias multimidia como attefato de cone- (C) xo entre grupos sociais. oO VW Abstract is ‘The telematics networks and the new technologies of the Information and Communication have modified in significant way the form with that the information are © transmitted currently. Producers of online content for () journalism, searching for to delineate a comunicational process « based in hypermedia, search new methods that take care of “7 this new informational model. On the other hand, virtual Vv oo ie) QO communities and communities of practice are Qsteuctutalized in the daily relationships, which forms of communication configure them throughout its time of existence. In this Oreontext, new forms appear of connection, praising significant changes in the Q)comunicationals structures of these Communities. The objective of this article is ° QNovas Midias e jornalismo digital 9 oO O A primeira iniciativa em jornalismo on- Tine tem como principal ator 0 jornal The New Dyer Times, na década de 70, implicando ape- nas em uma transposicio do contetido apre- sentado em meio impresso pata a Internet. CpDesde entio, ojornalismo digital vem seguin- do as tendéncias apresentadas pelas redes Dtelematicas ¢ pelas Novas ‘Tecnologias da In- Qformagio ¢ Comunicagio — NTIC. D Isto tem se configurado como dess- Offic para os produtores de material jornalistico para Internet de forma que o produto jotnalistico possua as caracteristicas de um Dambiente mididtico digital, ou seja, QDhipertextualidade, interatividade, C)multimidialidade, personalizagio, meméria, Cpitalizagio continua e acessibilidade. Q) __ Pensando-se na hipertextualidade, en- -contramos uma fiagmentacio do discurso presente como caractetistica nos textos publi- ODeados na Internet. A possibilidade de acessar Ovapidamente diferentes blocos de informagio através de Hinks traduz a dindmica do webjornalismo. Um mosaico de informagées Dpermite acesso a diferentes Angulos e percep- 97 to realize a reflection of as the new medias become incorporated it the digital journalism, in the search of an intetlocution with the theories on communities of practice, having as focal point the boundary objects and its relations of brokering by means of design of multimedia stories as artefact of connection between social groups. Ges sobre um mesmo tema, (RIBAS, 2004). Neste viés, Lévy (1997) considera que, “Gu) 0 suporte digital permite novos tipos de hituras (¢ escritas) coletivas. Um continuum variado se estende assim entre a leitura individu. al de um texto preciso e a navegagiia em vastas redes digitais no interior das quais wm grande iimera de pessoas aot, aumenta, conecta os textos uns aos outros por meio de ligacées bipertestuais”. (LEVY,1997, p43} Santaella (2004) apresenta que, embora © termo “hipettexto” tenha aparecido mais tarde, o conceito foi concebido ha cinco dé- cadas, e aponta como seus idealizadores Vannevar Bush, Douglas Engelbart e Theodor Nelson, Bush, em 1945, descreveu o primei- 40 sistema hipermidia, chamado de memex, 0 qual tinha por fungio suplementar 2 memoria pessoal. Engelbart tentou, em 1963, implementar as idéias de Bush. Mas foi s6 na década de 70 que Theodor Nelson cunhou o termo “hipertexto”, para descrever um siste- ma de escrita no seqiiencial. Segundo Santaella (2004) “(...) nos sis- temas cibernéticos, o conceito de texto sofre mudangas substanciais, Embora um elemen- to textual possa ainda ser isolado, sistemas iq Cadernos da Escola de Comunicagao UNIBRASIL baseados em computador sao primordialmen- te interativos em vez de direcionais, abertos em vez de fixos. (ANTAELLA, 2004. p.93) A interatividade pressupée a acio “en- tre-entes”. Pard Lemos (1997) e Vittadini (1995) a interatividade estatia relacionada a0 contato interpessoal entre os entes. Ou seja, seria “wn tipo de comunicacién posible gracias a las potencialidades especificas de unas particulares configuraciones teenoligicas” (Vittadini, 1995, p.154 apud Mielniczuk, 2004). Morais (1998) aponta trés niveis de interatividade: no nivel um 0 usuario apenas encontra uma forma de entrar em contato com um responsivel:pelo produto, quer seja ele um sitio na Internet, um jornal, revista ou um jogo de videogame, para obter informagies ou fazer reclamacées sobre o produto. No caso das paginas da Web, perten- cem a este nivel as que, na verdade, funcio- fam apenas como “folders eletténicos” tra- zendo uma apresentagio ‘da instituicao, pes- sa ou produto que representam com algu- mas informages. Os niveis de interatividade e de utilizago dos recursos de multimidia sio baixissimos, resuimindo-se apenas a possibili- dade de navegacio niio linear oferecida pelo hipertexto ¢ de se entrar’em contato com 0 webmaster e/ou outtos responsaveis pelo material ali exposto através de e- mails. MORAIS, 1998) No nivel dois de intetatividade ha a possibilidade de personalizagio do produto € a utilizacao de recursos multimidia. Neste nivel estiio enquadrddos os sitios na Internet que oferecem mais do que apenas uma nave- gacio nfo-linear em suas paginas. Ndmero 3 - Jan-Dez 2005 i 980 Para se alcancar o nivel trés dew interatividade é necessdrio que haja um inter-(: cimbio de informagées entre usuitio/ pro» duto. Morais (1998) determina que “(..) stow aqueles em se pode patticipar ativamente da construgio do produto final, sendo possivel) interferir em seu contetido. (...) Trata-se sim de", ey permitir uma “conversa” entre, no caso da, Web, o site, 0 computador ¢ o usuitio duran te toda a navegacio. Além disso, deve ser! observada também a utilizagio dos recursos," multimidia da rede”. - Para Gosciola (2003), cada canal des comunicacio deve ter seu desenvolvimentoy” prdptio e, ao trabalhar o mesmo tema desen- volvido por outras midias, deve participar da unicidade da obra sem necessariamente ser um(_.) mero acompanhamento ou uma ilustragio, ou,” 2 seja, cada insergao, visual, sonora ou textual, nao deve se prestat meramente a acrescentar~~ uma informacio a narrativa, mas propiciar ao usuario diferentes leituras, novas experiéacia no ambicate multimidia. Assim, multimidialidade complementando a narra va webjomalistica explora, de maneisa plural, diferentes sentidos perceptivos. A petsonalizacio é outra caracteristi ca fundamental na concepgio das novas midias, por meio dela é possivel que 0 us rio tenha a possibilidade de escolher ¢, formatar 0 veiculo de acordo com sua preferéncias, desta forma, o sitio da Internet pode ter todo seu design reformulado e pet-("> sonalizado de acordo com 0 usuitio, tantor~ seu conteido quanto sua forma (cor, recur: sos, tipo e tamanho de fontes), possibilitando, também, receber informagées por e-mail direcionadas de acordo com seus interesses. Q A memétia é o principal diferencial das Quovas midias, pois através dela o usuario tem. ~acesso a informagées passadas, que constituem ‘uma base de dados, um repositério de infor- Onagées sistematizado, e, dependendo do nivel CQide sistematizacio, o usudtio tem virias possibili- Oades de “navegar” nestas informacies. D Pata Wenger (1998) existem dois tipos Code meméria, a seificativa ea pasticipativa. Pres- Ssupomos, a partir da sua abordagem, que a ‘memoria reificativa est diretamente relacio- Ynada com repositétios de informagio, docu- (Cimentagio, rastreamento de informagées e me- canismos de tecuperagio de dados. Por ou- Cy lado, 2 memoria partiipatva € consteuida a partir de encontros entre diferentes geragoes, Osistemas de aprendizagem, trajetdrias Qpuadigmaticas ¢ a pritica de contar hist6rias. Estes dois tipos de meméria funcionam como facilitadotes do processo de continuidade. @) Notamos que os dois tipos de memé- tia so utilizados em veiculos on-line, ou seja, (Qas bases de noticias anteriores, sistemas de Qbbusca no sitio e documentagées diversas fun- Q)cionam como meméria reificativa. Enquanto Cyne chats e fOrans cumprem o papel da me- ‘métia patticipativa. Isto faz com que o nivel Qide acessibilidade das informag@es jornalisticas Chestejam em um patamar mais elevado, consi- derando-se as facilidades que as bases de da- dos apresentam atualmente para a busca ¢ Qvapresentagio destas informagies. tN o A atualizacio continua est presente na O)grande maioria dos jornais on-line, atsavés das QD) breaking navs, também denominadas em alguns OPportais como “iltimas noticias” ou “noticias em tempo teal”, conectando 0 usuitio/leitor ditetamente 4 redacio ou ao repérter, que- o8099 99 brando barreiras fisicas e temporais no acom- panhamento de fatos noticiosos. Uma tendéncia que tem tomado conta de alguns portais de contetido jornalistico, como Heraldsun.com (Touching hearts: a story of ope and help in Nicaragua), Nytimes.com (Tivo tours of Magnolia), Los Angeles Times ~ Trag, entre ou- tros, é a narrativa através de uma técnica de- nominada multimedia story. Multimedia story — A narrativa em multimidia Uma “Multimedia story” ow “historia multimidia” é uma combinagio de texto, ima- gens fotograficas, ilustragdes, videoclipes, Audio e interatividade, conceitos atualmente aplicados na construcio de sitios na Internet, a partir de uma narrativa nfio-linear, de modo que a informagio em cada midia seja com- plementas ¢ nio-redundante. A nio-linearidade da construgio da narrativa permite que o usuésio (=receptor) possua a liberdade de escolhet quais caminhos seguir a pattir dos elementos apresentados na histéria multimidia. A niio-redundancia permite que os ele- mentos se complementem, ou seja, cada par- te da narrativa deve ser contada, ou melhor, apresentada em uma midia diferente. Podemos agregar outros elementos que auxiliam na narrativa, estabelecendo um deter- minado nivel de interatividade com o recep- tor, tais como féruns, chats, enquetes, acessos a bases de conhecimento que apresentem uma linha de tempo sobre a narrativa ou simples mente dnks a outros assuntos relacionados. a Cadernos da Escola de Comunicacaéo .~ UNTBRASIL Alguns sitios na Internet possuem tex- to, videoclipes, gréficos, ilustragdes, animacdes ¢ outros recursos multimidia, mas mesmo as- sim possuem uma estrutura narrativa linear, como os sitios da CNN, Washington Post, MSNBC, UOL, CBN, entre outros. As maté- tias ainda sao produzidas de forma linear, ou seja, ou em texto, ou em video, ou em audio. O texto geralmente é ilustrado com imagens. estiticas ¢ niio-interativas, como 0 que acon- tece em revistas ¢ jornais no meio impresso. Os videos sio ptoduzidos como uma sim- ples reprodugio do que vemos na televisio convencional ¢ 0 4udio como em radios, ou. seja, raramente encontramos uma integracio de video, audio, fotografias e grificos em uma mesma natrativa. Eatretanto, nem todas as histétias pos- suem elementos suficientes para a produgio de “histérias multimidia”, as melhotes sio as que possuem caracteristicas multidimensionais, ow seja, aquelas que incluem uma agio para um video, processos que possam ser ilustra- dos em graficos interativos, e imagens de cu- nho emocional pata fotografias. Estas histérias fazem parte de um am- plo contexto insetido no ciberespaco, em ambientes comunicacionais que se constituem em formas culturais ¢ socializadoras, os quais vém sendo denominados de comunidades virtuais (Rheingold 1993, apudSantaella, 2004), ‘ou seja, grupos de pessoas conectadas em uma base de interesses, afinidades e relacionamen- tos sociais, ao invés de conexées puramente acidentais ow geograficas. Dependendo de sua estrutura ¢ com- plexidade, estas comunidades viztuais podem vit a constituir comunidades de pritica. Numero 3 - Jan-Dez 2005 a 1000) oy Comunidades de Pratica: uma perspec’ tiva de relacionamento social QO ot Por constituirmos seres sociais, pode” mos afirmar que todos pertencemos a comu-\} nidades de pratica, ¢ nfo a apenas uma delas,” e sim a varias comunidades de pratica em di. versas situagdes de nosso cotidiano. Quando estamos no trabalho, em casa," em horatios de lazer ou na escola, estamos, pertencendo a comunidades de pritica dife~' tentes, ‘Tomemos como exemplo nosso tra) balho, convivemos diariamente com um dey tecminado grupo de pessoas, com as quais na> maioria das vezes passamos a maior parte do~ dia, que possuem um objetivo comum, umU! repertorio compartilhado ¢ com regras de”) convivéncia especificas, gerando um fluxo de", informag6es que culminam com o resultado” ou com o produto das atividades, desde que! todo © grupo esteja comprometido em en-~_) contrar solugGes criativas para os problemas; que se apresentam no cotidiano. Ao irmos para casa ou para a escolay”} encontramos outro grupo de pessoas com -» outros objetivos, outto repertério ¢ outras™ tegras de convivéncia e temos que aprender ab lidar da melhor maneira possivel com estat} dualidade, ou melhor, pluralidade de papéi que se nos impéem diante das diversas situa-~ Ges nas varias comunidades de pritica as quais~~ pertencemos, constituindo uma verdadeira\} constelagao de praticas. C oi Etieane Wenger, em seu livroW Communities of Practice: Learning, Meaning and) Identity vessalta que uma comunidade de pr tica nfo é apenas um agregado de pessoas definidas por algumas caracteristicas, pois OW itezmo comunidades de pritica nfo é um si- Qménimo para grupo, time ou rede. GUWENGER, 1998, p74)! oO Estas comunidades sio estabelecidas (1yPOE meio de relagdes e situagdes que envol- ‘vem pessoas no dia-a-dia e stio parte integral de nossa vivéncia didtia, que surgem informal- (Dmente e raramente possuem um foco explici- Or além de nao possuirem um nome especifi- Oo que as caracterize. : Para que uma comunidade de pritica oe estabeleca nfo hé a necessidade de uma “proximidade geografica significante, natural- imerite que esta proximidade auxilia, mas nao C)é imprescindivel. D De acordo com Wenger, pata que uma Qcomunidade de pratica se estabeleca, trés ca- Qyteristicas sao fundamentais, a saber: dominio — ou seja, o dominio de conhecimento que da Qos membros um senso de empreendimento Geomum e os mantém juntos. A comunidade — (jem busca dos interesses no seu dominio, os Cpymembros participam de arividades conjuntas Ye discusses, ajudam uns aos outros € com- \partilham informacées. Assim, eles formam Quma comunidade em tozno do seu dominio or constroem relacionamentos ¢, a prdfica — “uma comunidade de pritica nfio é simples- QDmente uma comunidade de interesses? seus Qmembros desenvolvem um repertério com- oO o oO 101 partilhado de recursos: experiéneias, historias, ferramentas, maneitas de resolver problemas recorzentes da pratica, ow seja uma pritica compartilhada. (WENGER, 1999. p.3) ‘As comunidades de pratica envolvem miiltiplos nfveis de participagiio - figura 1 - (WENGER, 1999). Pelo fato de que o envolvimento pode produzir aptendizagem de diferentes formas, as fronteiras de uma comunidade de pratica so mais flexiveis do que as das unidades organizacionais. Tipicas categorias de pertencimento ¢ participagio incluem um grupo nuclear — um pequeno grupo no qual a paixio ¢ o engajamento energizam a comunidade; adesdo completa — membros que sao reconhecidos como ptaticantes ¢ definem a comunidade; partiipagiio porifiriea — pessoas que pertencem & comunidade mas com menos engajamento eautoridade, talvez pelo fato de serem nova- tos ou porque eles nao tem muito compro- misso pessoal com a pritica; participapao #ransacional — pessoas de fora da comunidade que interagem com a comunidade ocasional- mente para receber ou prover um servico sem tornar-se um membro da comunidadg; e, por fim, acesso passivo — um grande néimero de pes- soas que tém acesso aos artefatos produzidos pela comunidade, como suas publicacées, seu website, ou suas ferramentas. "A community of practice is not just an aggregate of people defined by some characteristic. The term is not (Da synonym for group, team, or network”. WENGER, 1998, p. 74. } (CP) Entende-se por comunidade de interesses um grupo de pessoas que compartiham um interesse comm eestZio conectadas urmas 4s outras através de interesses € niio por meio do desenvolvimento de uma pritica 7 : esses d ‘Deomum ou do compartilhamento de uma determinada frea de conhecimento. i Cadernos da Escola de Comunicacgao —~- ae UNIBRASIL Figura 1 — Mivaie de participagio. As fronteiras etre as comunidades de pratica e suas conexdes Como discutimos anteriormente, per- tencemos.a varias comunidades de pratica a0 mesmo tempo, ,ou seja, pluripertencemos. Notamos, porém, que entre uma determina- da comunidade e outra existem fronteiras, definindo uma constelagio de comunidades de pritica. Wenger (1998) demonstra que existem conexGes que sustentam as relagGes entre as varias comunidades de pratica e nos apresen- ta dois tipos delas: 1. objetos de fronteira: artefatos, do- cumentos, termos, conceitos ¢ outtas formas de teificagio® em torno dos Paticipagds _Patticipagio Ferdisics —Transocianal , Aces# Fosnien quais as comunidades de pratica po dem organizar suas interconexdes; 2. brokering. conexbes fornecidas pela pessoas que introduzem elementos de! uma pritica em outra. (WENGER) 1998, p.105) ” Através destas duas formas de cone-~ xdes, as priticas influenciam umas as outzas, 6) as politicas de participagio e reificagio esten<" dem-se através de suas fronteitas. (WENGER, 1998, pp.105-106) = oO Segundo Wenger (1998), 0 rermo “obje-) to de fronteira” foi concebido pelo socidlogo. Leigh Star para descrever os objetos que servem'’ pata coordenar e organizar o fluxo de informa Ges entre diferentes comunidades de pritica. 2? Reificaclo: tratar (uma abstragio) substancialmente como existéncia, ou como um objeto material concreto. Etimologicamente, termo significa “making into a thing” (WENGER, 1998, p.58). Ndmero 3 - Jan-Dez 2005 O Qo Qo —__Emnosso cotidiano constantemente lida- 10s com artefatos que nos conectam de varias Qn qu Cyne a comunidades de pritica as quais no mos parte. Podemos citar, como exemplo, Obs bose organs que cizculam entre diversos depar- (Qhamentos de uma instituigéo — considerando-se ida departamento como uma comunidade de cee =, 08 House Organs sic um axtefato padeo- ‘hizado que conectam uma comunidade de priti- Cha’ outra através de uma informacio reificada. Oo Isto no implica que somente um arte- Chat on uma informagio codificada seja um Copbjeto de fronteira. Wenger (1998) cita como CF remplo uma floresta, a qual pode ser consi- “derada um objeto de fronteira, onde cami- chhantes, interesses de lenhadores, Qhmbientalistas, biélogos, ¢ proprietatios uni- rficam seus pontos de vista ¢ buscam maneiras Cf coordens-los. (WENGER, 1998. p. 197) Star citado por Wenger (1998) apresen- ag quatro caracteristicas que permitem artefa- os agitem como objetos de fronteita: 1. Modularidade. cada perspectiva pode estar presente a uma patte especifica do objeto de fronteira, encontramos como exemplo de modularidade 0 jornal, 0 qual é uma colecio heterogénea de ar- tigos que atendem os interesses especi- ficos de cada leitor; 2. Abstraéo. todos os pontos de vista sio apresentados ao mesmo tempo. pela climinagio das caracteristicas que sio especificas para cada perspectiva, por exemplo, um mapa simplificado de um terreno apresentando apenas as catacteristicas de distancia e elevagdo; D9A8990G9000090009900 103 3. Acomodagie. um. objeto de fronteita combina-se com varias atividades; 4, Padromizagao: a informagao contida em um objeto de fronteira est. em uma forma pré-estabelecida de modo que cada setor ou departamento ou segio sabe como lidar com ele localmente (como um questionario que especifica como fornecer determinadas informa- Bes através da resposta a certas ques- t6es). (WENGER, 1998. p. 107) Segundo Wenger (1998), artefatos sio objetos de fronteira e deve ser projetados pela sua caracteristica de participacio mais do que a de seu uso. Conectar comunidades de pritica envolve compteensio de suas prati- cas, € 0 getenciamento de fronteitas torna-se uma tarefa fundamental para seu design. (WENGER, 1998. p. 108) Jao brokering é uma caractetistica co-” mum das relagées de uma comunidade de pratica com o mundo exterior. Os brokers esto habilitados a fazer novas conexdes enire comunidades de pritica, permitindo coordenagio, abrindo novas possibilidades para seus propésitos. Wenger (1998) afirma que o trabalho de brokering é complexo, pois envolve pro- cessos de tradugio, coordenacio ¢ alinha- mento entre varios pontos de vista, reque- tendo transparéncia para influenciar o de- senvolvimento de uma pratica, mobilizan- do atengao e direcionando conflitos de in- teresse, Também requer a habilidade de conectar praticas para facilitar suas transa- ges e provocar aprendizagem pela intro- i Cadernos da Escola de Comunicacado UNIBRASIL, dugio de elementos.de uma pratica em ou- tra. (WENGER, 1998. p.109) Assim, o: brokering fornece uma cone- xio participativa, pois o broker utiliza sua ex- periéncia de pluripertencimento e as oportu- nidades de negociacio, inerentes na participa- do, pata conectar praticas, Multimedia story como conexdes em comunidades de pratica A partir do referencial abordado so- bre comunidades de pritica, podemos esta~ belecer estratégias para o design de “histérias multimidia”, permitindo que estes artefatos fancionem como objetos de fronteira, facili- tando a conexiio entre comunidades de de- terminada constelacio. Segundo Santaella (2004), “(...) 0 ciberespaco se apropria promiscuamente de todas as linguagens pré-existentes: a narra- tiva textual, a enciclopédia, os quadrinhos, ‘os desenhos animados, a atte do ventrilo- quo e das marionetes, o teatro, o filme, a danga, a arquitétura, o design urbano, etc”. F continua “(...) essa reconfiguracio da lin- guagem é responsével por uma otdem sim- bélica especifica que afeta nossa constitui- Ao como stijeitos culturais ¢ os lagos soci- ais que estabelecemos”. (SAN'TAELLA, Licia. 2004. p.125) Neste prisma, as histérias multimidia representam uma sintese das possibilida- des de comunicagio no ciberespago, agre- gando as nagrativas textuais as outras lin- guagens pré-existentes, conforme aponta Numero 3 - Jan-Dez 2005 =~ Santaella (2004). Ditecionando nosso olhar 4s comuni-\ dades de pritica, verificamos que as histérias— multimidia podem auxiliar os processos de(” conexio entre comunidades, seja reforgand os dominios de conhecimento, no~ compartilhamento de informagées ou na’ construgio de um sepertétio compartithadc pelos membros de determinadas comunida, des de pritica. e Como as comunidades de pritica eng) volvem nxiltiplos niveis de participagio po-, demos roteisizar as hist6tias multimidia de? modo a estruturar um eixo que transpass¢ todos seus nivels, estimulande novas trajet« id tias dentro de determinada comunidade ou por outro lado, roteirizar de modo que as in--~ formacées contidas na narrativa possam fan-— cionar como brokering, fornecendo conexdes_ que introduzam elementos informacionais de”; uma pritica a outra, fortalecendo proceso, = de aprendizagem entre as comunidades, = Para ptojetar uma histéria sulting de modo que ela se configure como um arte fato funcione como um objeto de fronteira,~“ devemos ter em mente as caracteristicas pro4_, prias dos objetos de frontcira apontadas an" tetiormente, quais sejam: modularidade, abs- > ttagiio, acomodagio € padronizacio. Y c Relacionando a estrutura da histéria~. multimidia a de objetos de fronteira temos: u Uma histéria multimidia pode apropti-; ar-se, em seu design, de caracteristicas pontuais de outtos attefatos, buscando uma convergén- cia de midias, e, a partir de sua seesroutacioy incrementar significativamente seus niveis dew: interatividade e, consequentemente, seu poten: 105 (ital de commnicagio, como podemos obser- var no gréfico abaixo. oO 8 QUADRO 1 ~MULTIMEDIA STORY ¢ OBJETO DE FRONTERA a Histeria meultimidia oO Gain ia taney) Objete de fromedrs oO Havthva compleuienia ¢ tiowdundante, | Modulentaae ~ | Cada snidia possul parte da svarmmtive de Cade perepactiva pods estar presente 4uume pare DLinndo 4 complemented, erpaedicn do objeto, o Niveis de intavativideds, Linhae da tempo. Abstrario 9 Q)] Fasting anidias em convergincis Acomodsro 9 Conesito usexfhienddp rae pei is Y produgdo deation | . Cl astoiemet, Padonizagio ° oO Na sua roteirizagio podemos utilizar partir de uma pés-producio, adequé-los a Qdimagens estaticas geralmente aplicadas nos _ nartativa nio-lineat e hipermidiatica da his- Chjornais ¢ revistas, as imagens gerndas para tia mmultimidia, para aplicago em veicu- Oievisio, © dudio gerdo pars 0 radio ¢, a los como na Internet ¢ oa TV Interativa.* Oo oO Oo 0 oO Oo Oo Oo oO Q oO oO Oo oO Figura 2—Rebagdos entre slamentor doe artefelor oO io) ; 2 a Cadernos da Escola de Comunicacao - UNIBRASIL © contetido a ser explorado neste modo de nattativa devert ser adequado & fansio que © attefato id desempenhar, ou seja, no caso de conexio entre comunidades de pratica, devere- mos tet em mente os objetivos ¢ interesses das comunidades, facilitando suas transagdes comunicacionais, introduzindo elementos de aprendizagem de uma pritica em outta, aqui denominaremos esta funcao de “exo-conexio”. O 106- a) LS Por outro lado, caso o artefato tenha come”) fanelo facta 0 processo de aprendizagem ex determinada comunidade de pritica, deveri s projetado de forma a atender aos niveis de parti cipagio da comunidade, extraindo contetidos acc um ¢ inserindo em outro, propiciando, assim, exploracao de novas trajetérias dentro da comu- nidade em questio, Esta fungio estar sendo de. nominada como “endo-conexio”. Ce Aarapss aor Moaynntda oti esters FOO “Cueriabase © S sarge socal COCO Figura 3 Multimedia Stary camo exo-canexio Apresentaremos, a seguir, a titulo de exemplo, um roteiro de historia multimidia. ‘Trata-se da reportagem multimidia ‘The Dancing Racks of Death Valley” de Jane Ellen Stevens.‘ G Y SS Vetificamos no roteiro que todos os elementos sio complementares, evitando as- sim, a redundancia nas informagées apresen-(_ tadas. Abaixo, temos a seqiténcia do storyboard” criado para este projeto. * ATV intetativa encontra-se em processo de desenvolvimento no Brasil, eamitam ainda discusses nos meios cientificos e politicos brasileiros quanto aos padres técnicos a serem adotados, Numero 3 - Jan-Dez 2005 Lo oO ~ 107 Figura d~Mubisedie story samo ando-coneyio | Sete da gis ernie Sr Racor erie eye cam | ecient or Figusa 5 Roteico Mulimedia 999909990990099090909999909009900939 O "The dancing rocks of death valley - http://journalism.berkeley.edu/multimedia/rocks/. 2 © roteito apresentado neste artigo foi claborado a partir das informagdes contidas em herp:// © journalism. berkeley.edu/multimedia/course/storyboarding/#boards. i Cadernos da Escola de Comunicacdo ——--———---——--- ae UNIBRASIL > ut Figuia d - Storyboard storyboard acima apresenta: 1, Home page — Foto em plano de fundo da Dra. Paula Messina e as ro- chas em Racetrack Playa, com um teaser de abertura e quatro links para as paginas internas. 2. Bio - Dra. Paula Messina em plano de fundo ao texto, suas motivagdes € seus trabalhos em video, o dia de uma pesquisadora high-tech em fotos cap- turadas a partir de quadros isolados de videos e pequenos textos. 3. The Quest — Histéxico da pesquisa e suas aplicagdes em texto, como a Dra, Paula Messina realiza sua pesqui- sa em video, ¢ teoria em texto ¢ fotos, se possivel, 4, Racetrack Playa — Histotico em tex- to, mapas do Death Valley, ¢ fotos da Numero 3 - Jan-Dez 2005 ---—-—— playa, talvez dos guardas do argue’ em patrulha, C 5, Rocks — Graficos do website da Dra, \' Paula Messina, ¢ uso de blocos de tex-C) to para explicar em maiores detalhes (~) de como as rochas se movem. Talvez algumas tochas para mostrat suas tri- Ihas, fotos, griificos do website da Dra. C} Paula Messina. Oo A pattir de uma andlise dos roteiros ¢ ‘“” do artefato em questio, verificamos que ele —’ atende is duas fungGes (exo e endo-conexdes), pois a comunidade de pratica da qual perten- oO ce a Dra. Paula Messina, ou seja, gedlogos pesquisadores, a0 acessi-lo, conseguem infor- —~ mages que contribuem com a aprendizagem C! da comunidade, estimulando trajet6rias em seu interior, na busca de acesso a outros niveis de ,— participagio, caracterizando sua fungio de “~ ‘ @pndo-conexio. Por outro lado, outras comu- idades de pratica, como uma escola, por fexemplo, pode ter acesso as informagées da Cheética da geologia de campo e aplicalas em Qhuas aulas de geografia, caracterizando, assim, ©} fungio de exo-conexio, Q CConsideragées finais @ ——Vimos que as novas tecnologias de Cinformagio ¢ comunicagéo tém contribut lo significativamente com a ctiagio de no- was formas de natrativas, e que no Ambito QO. 4o jornalismo digital surge a “multimedia Oo Referéncias Bibliograficas oO 109 story”, ou “histéria multimidia”. Percebe- mos que, ao alinharmos conceitos sobre co- munidades de pratica com o design € roteirizagio destas histétias, podemos con- ceber artefatos que fortalegam as relagées entre comunidades de pritica (exo-cone- xfio), ou um artefato que funcione como conexiio interna entre os nfveis de partici- pacio (endo-conexio), 0 que promove uma maior dinamica em seu interior, movimen- “tando suas trajetérias e, consequentemente, contribuindo com um maior nivel de aprea- dizagem, na busca incessante da consolida- cio de suas praticas. Ml OSCIOLA, Vicente. Rofeire para as Novas Midias: da game é TV Tnterativa Sao Paulo: SENAC, 2003 KIMIECK, Jorge Luiz. Consolidapao de Comunidades de Pritica: um estudo de caso no Prolnfo. Dissertagio de lesttado, PPGTE-CEFETPR. 2002 QPEMOS, André (1997). Iz MIELNICZUK, Luciana. Consideragées sobre interatividade no contexto das novas wnidias. Avtigo. Facom-UFBA, 2004 Ornetigo, Facom-UFBA, 1997, GLBVY, Pierre. O que é virtual? 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