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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

28/10/2020

Número:
Classe: HABEAS CORPUS CRIMINAL
Órgão julgador:
Última distribuição : 23/10/2020
Valor da causa:
Assuntos:
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita?
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
Decisão Decisão
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal

PROCESSO:
CLASSE: HABEAS CORPUS CRIMINAL
IMPETRANTE:
PACIENTE:
Advogado do(a) IMPETRANTE:
Advogado do(a) IMPETRANTE:
Advogado do(a) IMPETRANTE:
Advogado do(a) IMPETRANTE:
Advogado do(a) PACIENTE:

IMPETRADO:

DECISÃO

Trata-se de Habeas Corpus impetrado em favor de , com pedido de liminar, para


afastar instituições responsáveis pela repressão e investigação de condutas penais ligadas ao tráfico de drogas, inclusive da forma
transnacional, que se abstenham de promover quaisquer atos que atentem contra a liberdade física, bem como de apreender
materiais, insumos, ou mesmo destruí-los, inclusive quando no caminho entre sua residência e institutos de pesquisa de
aferimento da qualidade destes insumos e também durante o trajeto das sementes importadas, a fim de permitir o efetivo acesso e
exercício do direito à saúde e à dignidade humana do paciente.

Tece considerações acerca da competência da Justiça Federal para análise da demanda, considerando a
necessidade de importação das sementes.

Alerta quanto à necessidade de concessão de salvo-conduto, ante o periculum in mora e fumus boni iuris.

Alega necessidade clínica, prescrição médica e autorização administrativa de importação dada pela Anvisa para
compra do medicamento derivado do Cannabis Sativa (CBD TINCTURE USAHEMP), além do alto custo para importação da referida
medicação.

Assinado eletronicamente por: RODRIGO PARENTE PAIVA BENTEMULLER - 28/10/2020 16:26:02 Num. 363410889 - Pág. 1
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20102816260178900000358385242
Número do documento: 20102816260178900000358385242
Assevera que a o cultivo e colheita da planta em comento para fins medicinais não é criminalizada, além da
autorização pleiteada não se prestar a causar nenhuma ofensa a qualquer bem jurídico tutelado pela legislação. Argumenta proteger
bens jurídicos como o direito à saúde, à vida e à própria dignidade do paciente.

O requerente colacionou aos autos relatórios médicos (ids ) e a Autorização de Importação nº


, emitida pela Anvisa, por meio da qual foi autorizada excepcionalmente a importação de produtos derivados de Cannabis,
consubstanciado no produto CBD TINCTURE USAHEMP, inserto no id .

Vieram os autos conclusos.

É o relatório. Decido.

Primeiramente, conforme entendimento doutrinário, a possibilidade de deferimento liminar do pedido, em habeas


corpus, embora não exista previsão legal, “vem sendo admitida pela jurisprudência, em caráter excepcional, sempre que
presentes os requisitos das medidas cautelares em geral (fumus boni iuris e periculum in mora), por analogia com a previsão
existente em relação ao mandado de segurança” (GRINOVER, Ada Pellegrini. Recursos no processo penal: teoria geral dos recursos,
recursos em espécie, ações de impugnação, reclamações aos tribunais. 7 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. 294 p.).

Dessa forma, além da comprovação da verossimilhança das alegações deduzidas pela parte impetrante, o
deferimento do pedido liminar em sede de habeas corpus, como medida cautelar que é, exige a comprovação de perigo atual e de
risco de dano irreparável.

Neste sentido, já decidiu o STJ que “O habeas corpus é o remédio que tem por escopo evitar ou cessar a
violência ou coação à liberdade de locomoção, decorrente de ilegalidade, teratologia ou abuso de poder. 2. Como medida cautelar
excepcional, a concessão da liminar em habeas corpus, exige a comprovação de plano do periculum in mora e do fumus boni iuris ”.
(AgRg no HC 402.389/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 08/08/2017, DJe
17/08/2017).

Em outro giro, a Constituição Federal de 1988 traz a saúde no título destinado à ordem social, que tem como
objetivo o bem-estar e a justiça social.

No mesmo contexto, vale verificar o art. 6º, que estabelece como direitos sociais fundamentais a educação, a
saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.

Nessa esteira, no art. 196, a Constituição Federal de 1988 eleva a saúde como um direito de todos e dever do
Estado, que deverá ser garantida por meio de políticas sociais e econômicas que tenham como objetivo a redução do risco de
doença e com atos que a promovam, protejam ou recuperem-na.

Hodiernamente, há de se verificar que o conceito sobre saúde deve também abranger o completo bem-estar físico,
mental e social do homem, não somente como uma perspectiva de ausência de doença.

Com este desiderato, o paciente pretende que o Estado não dificulte a importação de insumos para produção do
medicamento que lhe trará melhores condições a sua saúde, consistente no cultivo da semente da cannabis, com a finalidade única
e exclusiva para fins medicinal.

In casu, ante os relatórios médicos colacionados aos autos e diante da própria autorização expedida pela Anvisa
para importação de fármaco derivado da cannabis, entendo pela possibilidade de emitir salvo conduto em favor do paciente para que
as autoridades impetradas se abstenham de adotar quaisquer condutas que possam obstar o objetivo da mesma, qual seja, a

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importação e cultivo da planta de cannabis destinada ao tratamento de sua saúde.

A propósito, vale trazer o seguinte excerto do TRF 1ª Região:

“PENAL. REEXAME NECESSÁRIO. HABEAS CORPUS. PACIENTE. ACIDENTE. SEQUELAS. DORES


INSUPORTÁVEIS. TRATAMENTOS CONVENCIONAIS. INEFICÁCIA. CANABIDIOL. ANVISA. PERMISSÃO DE
IMPORTAÇÃO. MEDICAMENTOS INDUSTRIALIZADOS. CUSTO ELEVADO. TRATAMENTO ALTERNATIVO.
CANNABIS SATIVA. USO MEDICINAL. IMPORTAÇÃO DE SEMENTES. PLANTIO. COLHEITA. ÓLEO ESSENCIAL.
EXTRAÇÃO. VAPORIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE CRIME. SALVO-CONDUTO. 1. Desde
2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA autoriza a importação de produtos cujo princípio ativo é o
canabidiol, excluído da lista de substâncias proscritas da Portaria ANVISA 344/08 e incluído na lista de substâncias
controladas. 2. A Lei 11.343/06 não prevê qualquer situação de uso medicinal da cannabis sativa Lineu, proibindo, no caput do
art. 2º, em todo o território nacional, o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais po ssam
ser extraídas ou produzidas drogas. O parágrafo único do referido dispositivo, no entanto, mitiga essa rigidez, permitindo que a
União autorize o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins
medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização. 3. Paciente vítima de acidente ciclístico,
com dor crônica secundária e insuportável em razão da fratura do cotovelo esquerdo, constatada no próprio Juízo Federal
pelo magistrado sentenciante, além de neuropatia póstraumática do nervo ulnar esquerdo. Submetido a anos de tratamentos
convencionais ineficazes, e diante do extravagante custo de manutenção do tratamento com medicamentos importados, tem
ele direito a buscar alternativa na importação de sementes, plantio e colheita de cannabis sativa Lineu, para fins medicinais
exclusivos, sem sofrer as consequências penais da Lei 11.343/06.

4. Em casos tais, deve o Judiciário, até por uma questão de humanidade, proteger as premissas constitucionais de direito do
cidadão ao seu bem-estar, à própria saúde, à inviolabilidade do direito à vida e de respeito à dignidade de pessoa humana. 5.
Sentença mantida integralmente. Remessa necessária não provida. (Acórdão 1027562- 20.2019.4.01.3400. Remessa Ex
Offício (REO). Relator: Desembargador Federal Ney Bello. TRF 1ª Região. Órgão julgador: Terceira Turma: Data: 26/05/2020.
Publicação: 28/05/2020)”.

Em suma, no cotejo entre o direito à saúde e eventual persecução penal por tráfico de drogas, aquele deve
prevalecer, uma vez que há demonstração de melhora do quadro clínico do paciente deste HC, desde que respeitadas as devidas
prescrições médicas, salientando-se também o uso estritamente pessoal e intransferível, sendo proibida a sua entrega a terceiros,
doação, venda ou qualquer utilização diferente da indicada.

Pelo exposto, DEFIRO o pedido liminar para que as autoridades responsáveis pela repressão e investigação das
condutas penais ligadas ao tráfico de drogas, inclusive da forma transnacional, abstenham-se de promover quaisquer atos que
atentem contra a liberdade física, bem como de apreensão e/ou destruição dos materiais e insumos destinados ao tratamento da
saúde do paciente, tendo originado da cannabis como um dos elementos ou o principal, dentro dos limites da prescrição médica.

Intimem-se as autoridades coatoras para ciência e para apresentarem as informações que entenderem pertinentes,
no prazo de 5 (cinco) dias.

Após, dê-se vistas ao MPF para análise e parecer.

Por se tratar de habeas corpus, deve ser dispensada ao caso a urgência que o feito requer.

Oportunamente, voltem os autos para sentença.

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Mantenha-se o sigilo dos autos.

P.R.I.

Brasília/DF, (datado eletronicamente).

Rodrigo Parente Paiva Bentemuller

JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO DA 15ª VARA CRIMINAL DA SJDF

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