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net/publication/268420463

CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA POR NITRATO NO PARQUE


ECOLOGICO DO TIETÊ -SÃO PAULO, BRASIL

Article · December 2002


DOI: 10.14295/ras.v16i1.1303

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2 authors, including:

Ricardo Hirata
University of São Paulo
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CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA POR NITRATO NO PARQUE
ECOLOGICO DO TIETÊ - SÃO PAULO, BRASIL

Claudia Varnier1 & Ricardo Hirata2

Abstract – The aim of this study is to investigate groundwater contamination caused by


septic tank which infiltrates domestic effluent into a sandy-alluvial unconfined aquifer at
Parque Ecológico do Tietê (São Paulo, Brasil).
The methodology used is based on chemical analysis of 58 shallow monitoring wells
(up to 3,9m deep) installed at 50x50m area. Some chemical parameters as nitrate, nitrite,
ammonium, chloride, ph, Eh, electric conductivity and dissolved oxygen have been
measured fortnightly using portable equipment. Major ions and nitrogen compounds
(organic-N, ammonia, ammonium, nitrite, nitrate) have been analyzed monthly.
This detailed monitoring program has allowed to identify three different geochemical
zones, according to predominance of nitrogen species: organic-N, ammonium and nitrate.
Following the groundwater flux, it is also possible to verify a decrease in the pH values.
From chloride concentration variation and electric conductivity, the dispersion of the plume
was calculated.
Rapid contaminant concentration variations have been attributed to the rapid aquifer
recharge that provokes deformation into the streamtubes geometry.

Palavras-chave - Nitrato, Tanque séptico, Água subterrânea, Brasil.

INTRODUÇÃO
O nitrato é o poluente de ocorrência mais freqüente nas águas subterrâneas. Em

concentrações superiores a 10mg/L NO3--N, pode causar metahemoglobinemia e câncer.

1
Mestranda do Instituto de Geociências–Universidade de São Paulo. Tel: (0XX11) 818-4052. E-mail:
clvarnier @hotmail com.
2
Professor do Instituto de Geociências–Universidade de São Paulo. Tel: (0XX11) 818-4230. E-mail:
rhirata@usp.br.
Rua do Lago, 562 – Cidade Universitária – São Paulo – S P. CEP 05508-900. Fax (0XX11) 818-4207
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Além do uso de fertilizantes agrícolas e criação de animais, os sistemas de saneamento in
situ, quer por tanques sépticos ou fossas rudimentares, constituem outra importante fonte
de nitrato nas águas subterrâneas.
No País, 40% da população utiliza fossas rudimentares ou não possui qualquer
sistema de saneamento que, na prática, se traduz na deposição inadequada dos efluentes
líquidos, muitas vezes diretamente no aqüífero (fossas negras escavadas até o nível
freático). Um agravante a este problema são as favelas, dada à grande densidade
populacional e grande concentração de fossas negras, muito próximas aos poços
cacimbas.
O problema da inter-relação fossa-poço não se restringe apenas às áreas faveladas.
Cerca de 20% da população do País utiliza poços próprios para seu abastecimento e
somente 35% está conectada devidamente à rede de esgoto.
Embora os estudos do comportamento e atenuação de nutrientes (nitrogênio e
fósforo) já datem de alguns anos, muitas questões ainda estão para serem respondidas,
sobretudo aquelas associadas à denitrificação (Gillham & Buris 1992, Wilhelm et al. 1994,
Hirata et al. 1997, Rudolph et al. 1997). Devido a esta forte dependência ambiental, o
clima tropical úmido apresenta particularidades que ainda não foram devidamente
estudadas.
A despeito da grande importância assinalada, estudos específicos da contaminação
de aqüíferos por nitrogênio são ainda bastante restritos no Brasil, sobretudo quando o
tema é enfocado com alto grau de detalhe.
O presente trabalho tem como principal objetivo, a caracterização da hidroquímica
do nitrogênio e seu impacto nas águas subterrâneas por fossa séptica através de 58
poços de monitoramento instalados numa área de aproximadamente 2500m2.

ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo localiza-se nas dependências do Parque Ecológico Tietê-
Engenheiro Goulart (PET-EG), zona leste do município de São Paulo (Figura 1). O PET-
EG foi criado em 1976, com a finalidade de preservar as várzeas do rio Tietê e combater,
juntamente com outras obras (barragens, retificação do rio, desassoreamento), as
enchentes na Região Metropolitana da Grande São Paulo.
O Casarão, atual Museu do Tietê, era a antiga residência do proprietário do sítio. O
prédio de dois pavimentos possui 4 banheiros e, conectado a este sistema, está também
o refeitório dos trabalhadores. Todo o esgoto proveniente destas duas edificações é
drenado para um sistema de tanque séptico. Este sistema consiste de dois tanques de

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concreto com dimensões de 1,5m de diâmetro por 1m de profundidade e que nunca foi
limpo desde a criação do PET. O primeiro recebe o efluente in natura e o transfere para o
segundo, através de tubo na sua porção superior. O segundo tanque permite a infiltração
do líquido no solo, através de aberturas em sua parede lateral. Os fundos dos dois
tanques são fechados.

Figura 1 – Localização da área de estudo.

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HIDROGEOLOGIA
O Casarão e as edificações que compõe a área de estudos estão situados na
planície do rio Tietê. Esta área de 2500m2 é bastante plana e as diferenças de topografia
não são maiores que 0,76m. Na área ocorre um aqüífero do tipo livre, que apresenta
heterogeneidade de sua condutividade hidráulica, tanto na sentido vertical como na
horizontal. Testes do tipo “slug” foram realizados na área e a condutividade hidráulica
horizontal média situou-se entre 10-5 a 10-7 m/s.
O aqüífero de porosidade primária está associado aos sedimentos quaternários do
aluvião do rio Tietê, apresentando uma espessura média de algumas dezenas de metros.
Sob este material encontram-se sedimentos terciários conectados hidraulicamente e
correlacionáveis à Bacia de São Paulo. A espessura média dos sedimentos na área é
maior que 100m, como atesta um poço tubular perfurado junto ao Casarão.
Os 58 poços de monitoramento com até 3,9m de profundidade atravessam as
coberturas aluviais quaternárias representadas por lentes de argila, silte e areia de cor
marrom claro a escuro intercaladas, e riqueza de material orgânico nos primeiros 0,5m.
Após 2m, são observadas areias finas não consolidadas de cor parda e amarela, mais
permeáveis. O material perfurado não tem mostrado camadas com características de
confinamento.
A recarga deste aqüífero ocorre em toda a sua zona aflorante e a descarga junto às
drenagens superficiais e lagos. Esta recarga é mais pronunciada nos meses úmidos
(dezembro a março). Através do levantamento topográfico de todos os poços e medições
periódicas dos níveis estáticos, foram confeccionados mapas potenciométricos mensais.
Estes mapas mostraram que, embora haja variações sazonais dos níveis estáticos entre
os meses secos e úmidos, as direções de fluxo são bastante similares. (Figuras 2 e 3).
As direções de fluxo do aqüífero são controladas pela topografia da área e lagos
artificiais e tem preferência para oeste, na direção do PET 11. O fluxo de água
subterrânea do aqüífero apresenta baixo gradiente hidráulico (0,02 a 0,07 m/m) com
dispersão das direções, devido às pequenas depressões e elevações no terreno.

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Figura 2 – Mapa potenciométrico referente ao mês de agosto de 1999.

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Figura 3 – Mapa potenciométrico referente ao mês de janeiro de 2000.

COLETA DE AMOSTRAS

A perfuração dos poços de monitoramento foi executada através de trado manual de


100mm de diâmetro acoplado a um sistema de haste com até 5m de comprimento.
Nestes furos foram instalados piezômetros constituídos de tubos de PVC, com seção
basal furada e envolvida com telas de bidim no último 0,5m. O espaço anular entre o tubo
e o furo foi preenchido com cascalho (pré-filtro tipo pérola) até cobrir a seção filtrante e
acima deste, um selo de bentonita. O restante do espaço foi preenchido com o material da
escavação. Em volta da boca do poço foi construída uma laje de proteção com tampa
metálica fechada com cadeado. Anterior a todas as amostragens, efetuou-se a limpeza
dos poços de monitoramento com o seu esgotamento através de bombeamento intensivo

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segundo as normas da USEPA (in Foster & Gomes 1989). A amostragem da água
subterrânea nos poços foi feita através de uma bomba peristáltica da marca Geopump II.
As amostras coletadas foram filtradas através de uma bomba a vácuo manual da
marca Nalgene e acondicionadas em frascos de polietileno, conservadas em geladeira de
plástico a 4oC e encaminhadas ao laboratório para análise química.
Alguns parâmetros químicos foram medidos quinzenalmente em campo com o uso
de equipamentos como o Rqflex-Plus (nitrato, nitrito, amônio) e Microquant (cloreto),
ambos da MERCK. Os métodos utilizados por estes equipamentos foram respectivamente
a reflectometria e colorimetria. Além destas espécies químicas foram também medidos
com a mesma freqüência, o nível estático, pH, Eh, condutividade elétrica, temperatura da
água e oxigênio dissolvido através de equipamentos da marca WTW.
Foram feitas também análises mensais em laboratório, para uma melhor
caracterização da pluma contaminante no tempo e espaço. Dois grupos de parâmetros
foram analisados segundo a conveniência e necessidade. O primeiro incluía os
compostos nitrogenados (nitrogênio total, nitrogênio orgânico, amônia, nitrito, nitrato) e o
segundo, além destes compostos, os íons maiores (cálcio, ferro, magnésio, potássio,
sódio, sulfato e cloreto). Estas análises foram feitas no laboratório CEIMIC em São Paulo.
Os procedimentos de preservação da amostra e metodologias analíticas adotados
obedeceram os critérios adotados pelo Standard Methods e USEPA.

RESULTADOS OBTIDOS
A variação no comportamento de diversos parâmetros físico-químicos bem como, o
nível estático foram observados no período de junho de 1998 a janeiro de 2000, através
de 22 etapas de campo.
Durante os meses de estiagem (abril a agosto) foram notados os maiores valores de
níveis estáticos (águas mais profundas), com recuperação nos meses mais chuvosos
(setembro a março). O valor médio durante a estiagem foi de 2,16m e durante as chuvas,
1,71m.
Independente das flutuações sazonais que fazem com que o nível médio do aqüífero
freático se eleve, existem variações rápidas (< 1 mês), devido às chuvas diárias. Estas
flutuações foram de até 0,93m em menos de 15 dias no PET 9 durante a estiagem, sendo
mais acentuadas na estação chuvosa, com uma variação de até 1,37m, como constatado
no PET 6, em menos de uma semana das chuvas.
Aparentemente existe uma rápida resposta do aqüífero para eventos de chuva. A
região onde se realiza o estudo, apresenta um conjunto de características propícias a

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uma recarga com grande aproveitamento da precipitação local que são: área plana, onde
o escorrimento superficial é bastante reduzido; solos bastante ricos em matéria orgânica e
sombreada por árvores, que mantém alta a umidade do solo durante o ano e níveis
estáticos não muito profundos.
Quanto à série nitrogenada, os compostos menos oxidados como nitrogênio
orgânico e amônio encontram-se próximos ao sistema séptico (PET 8, PET 37, PET29,
PET10, PET 34, PET 32) uma vez que, estes são estáveis em condições redutoras. A
medida em que se afasta da fonte ocorre uma diminuição na concentração destas
espécies e aumento gradativo na concentração relativa de nitrato (Figura 4). Os limites da
pluma são impostos pela dispersão e por prováveis processos de denitrificação.

Figura 4 – Perfil esquemático ilustrando as zonas dos diferentes


compostos nitrogenados na pluma.

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Na proximidade da fossa, o ambiente redutor é mantido pelo rápido consumo de
oxigênio a partir da degradação de matéria orgânica. Compostos mais oxidados
aparecem quando o carbono é degradado e pelo contato com águas mais ricas em
oxigênio.
Outro comportamento observado foi a grande variação das concentrações da série
nitrogenada com o tempo e para o mesmo ponto. O mesmo acontece, por exemplo, com
o cloreto e condutividade elétrica onde a variação temporal sobrepassa àquelas
observadas para o espaço. O poço PET 3 por exemplo, apresentou uma variação na
concentração de nitrato de 167,7 mg/L em setembro de 1999 e 1,46mg/L em janeiro de
2000. Uma possível explicação para este comportamento tão errático poderia ser
motivado pela recarga e alteração no traçados dos tubos de fluxo capturados pelos poços
de monitoramento (Figura 5). A Figura 5 mostra que durante a estiagem os tubos de fluxo
tem origem à montante da zona de poços e apresenta gradientes mais suaves. Já na
época de chuvas, os tubos de fluxo que contém maiores concentrações de contaminantes
(advindos da fossa séptica), seriam deslocados para baixo pelos novos tubos de fluxos
que se formariam pela recarga, com águas não contaminadas.
As concentrações de cloreto, conforme o esperado, foram maiores nos poços
locados próximos à fossa, reduzindo-se com o distanciamento. Através dos resultados
obtidos (Figura 4), observa-se que a concentração de cloreto no PET37 é de 62 mg/L e no
PET11 é de 11,8 mg/L. Comparando estes valores observa-se que esta espécie sofre
uma redução de 81% na sua concentração. Sendo o cloreto um íon conservativo, esta
redução é atribuída a processos de dispersão hidráulica. O mesmo não acontece para a
série nitrogenada. O nitrogênio orgânico, por exemplo, sofreu uma redução de 98% na
sua concentração e isto indica que além da dispersão hidráulica, esta espécie foi
submetida a processos de nitrificação dando origem a compostos mais oxidados
Em relação à condutividade elétrica, esta apresentou uma boa relação com o
cloreto, pois indica a facilidade ou dificuldade com que a água transmite corrente elétrica.
O aumento destes valores na água subterrânea reflete a transferência dos constituintes
da fossa para o aqüífero. Assim como os demais parâmetros, os valores de condutividade
elétrica também variaram com o tempo e espaço, acompanhando a dinâmica de recarga e
chuvas.

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Figura 5 – Comportamento da pluma contaminante nos períodos de chuva e estiagem.

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CONCLUSÕES
Os resultados das análises físico-químicas em amostras de água nos poços de
monitoramento instalados indicaram contaminação por nitrato proveniente do sistema de
fossa séptica com valores acima do limite permitido por lei (45 mg/L NO3-). Todos os
parâmetros analisados apresentaram uma variação espacial e temporal em suas
concentrações em função dos efeitos da recarga e alteração no traçado dos tubos de
fluxo.
Através dos resultados obtidos foi possível definir um zoneamento da série
nitrogenada na pluma de contaminação, com predominância das formas reduzidas
(nitrogênio orgânico e amônio) próximas ao sistema séptico e das formas oxidadas em
locais mais distantes.
As rápidas variações das concentrações químicas de poluentes (menos de 15 dias)
em um mesmo poço permitem concluir que um programa de monitoração em aqüíferos
rasos e com rápida recarga deva ser conduzido com amostragens freqüentes, sob pena
de não se detectar as reais concentrações da pluma contaminante.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Foster, S. & Gomes, D. 1989. Groundwater quality monitoring. CEPIS, WHO/PAHO
Technical Paper. Lima, 105pp.
Gillham, R. & Buris, D. 1992. Recent developments impermeable in situ treatment walls for
remediation of contaminated groundwater. Subsurface Restoration Conference, 3,
International Conference on Groundwater Quality Research, Dallas, Texas.
Hirata, R.; Bastos, C.; Rocha, G. (coord) 1997. Mapa de vulnerabilidade das águas
subterrâneas no Estado de São Paulo. Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo.
95pp.
Rudolph, D.; Kachanoski, G; Wesenbeeck; I; Barton, D; Parkin, G; Hirata, R; Cey, E. 1997.
Partitioning of solutes from agricultural fields within the hydrologic system at two
sites in Southern Ontario and the subsequent impact on adjacent aquatic
ecossystems. Final Report. University of Waterloo. Waterloo. 734pp.
Wilhelm, S.; Schiff, S.; Cherry, J. 1994. Biogeochemical evolution of domestic waste in
septic systems: 1. Conceptual Model. Groundwater 32(6):905-916.

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AGRADECIMENTOS
Os autores expressam os seus agradecimentos à FAPESP (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo) pela concessão de auxílio a pesquisa (processo
97/6950-6) e fornecimento de bolsa de Mestrado (processo 98/10481-4) bem como, aos
funcionários do Parque Ecológico do Tietê e do Laboratório CEIMIC.

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