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3 RUMO AO ABISMO ECONOMICO onhuen Congresso doe Estados Unidee j6 eunide. an examinar 0 est ddoda Unido, encontrou wna perspectiva mats agradive do que a de hoje [ou] A grande rigueza criada por nossa empresa e indistria, © poupada por nossa economia, eve a mais ampla distribuigdo entre nosso povo, € corre como um rio a servir a caridade e aos negécios do mundo. As demandas da existéncia passaram do padréo da necessidade para a rezido do luse. A produgdo que aumenta € consumida por uma crescente ddemanda interna um consércio exterior em expansdo. O pais pode enca~ rar o presente com sarisfagdo e prevero futuro com otinism. resideme Calvin Cole, Mensagern ao Congress, 4/12/1928 Depots da guerra, o desemprego tem sido 0 mais insdioso, 0 mais corro- sivo mal de nossa geragdo: € a doenca socal especfica da civilizagdo ‘cidental em nosso tempo. The Times, 201983 1 ‘Suponhamos que a Primeira Guerra Mundial tivesse sido apenas uma per~ turbagdo temporéria, apesar de catastréfica, numa economia e civilizagio fora isso estaveis, A economia teria entio voltado a alguma coisa parecida ao nor- imal apés afastar os detritos da guerra e daf seguido em frente. Mais ou menos como 0 Japo sepultou os 300 mil mortos do terremoto de 1923, limpou as ru- nas que deixaram 2 ou 3 milhes de desabrigados e reconstruiu a cidade como cera antes, porém um pouco mais prova de terremotos. Como teria sido 0 ‘mundo entreguerras nessas circunstancias? Nao sabemos, eno hé sentido em cespecular sobre o que nio aconteceu, ¢ quase certamente nao poderia ter acon- tecido, Mas a pergunta nao € inatil, porque nos ajuda a captar o profundo efei- to na hist6ria do século xx do colapso econdmico entre as guerras. 90 -_ Semele, com ceneza nto teria havido Miler. Quse cenamente no teria havido Roosevelt. E muito improvavel que o sistema sovdtico tivesse sido encarado como um sro rival econmico e una alterativa pssivel ao capita Tismo mundial. As conseqincias da crise econ6mica no mundo nio europe cu nio ocidental, comentadas em outa parte desta obra, foram patentemente iimpressionants, Em suma, o mundo da segunda meade do sé Xx €in- compreensvel se no entendermos o impacto docolapso econimico. Eo tema deste capitulo. ‘A Primeira Goer Maal devasou apenas pares do Velho Mundo, s0- bretudo na Europa, A revolugio mundial, 0 aspecto mais dramatico do colap- so da civilizagdo burguesa do século xix, espathou-se mais amplamente: do México & China e, em forma de movimentos de libertagio coloniis, do Magreb Indonésa. Contudo, seri fil encontrar partes do globo cujs cda- dos tivessem ficado distantes de ambos, notadamente os tstados Unidos da “América assim como grandes repies da Afric colonial centrale setentrional Mas a Primeita Gerra Munda foi seguida por um tipo de colaso verdad ramente mundial sentido pelo menos em fodos os lugares em que homens © mulheres se envolviam ou faziam uso de ransag6es impessoais de mercado. INa verdade, mesmo os orglhosos Eva, longe de serem um porto seguro das convulsdes de coninntes menos aforanados, 3 toraram 0 picento deste {ue foi o maior teremoto global medido na escala Richter dos historiadore econdmicos — a Grande Depressfo do entregueras. Em suna: ene a8 gUer- tas, a economia mundial capitlistapareceu desmoronar. Ninguém sabia exa- tamente como se podera ecupei-la 'AS operagbes de uma economia capitalisa jamais sfo saves, © ue tuagBes variada, mois vezes sever, fazem parte interal dessa forma de reger os assuntes do mundo. O chamado “cielo do comércio”, de expansio e aueds, ert conhecido de todo homem de negécios do século xix. Esperava-se Que se repetisse, com variagSes, a cada perfodo de sete a onze anos, Uma Beriodicidade um tanto mas extensa comesara chiar a atengao n0 fim do século XIX, quando observadores perceberam em retrospecto as inespe- radas perpecias das dcadas anernes. Un oom espeacolar, batedor revordes, de cerca de 1850 niios da década de 1870, fora sepido por vine € tantos anos de incertezas econdnicas (0s autores econdimicos, um tanto éenganadoramente, falaram numa Grande Depressio) depois por outra onda tuarcadamente secular de progresso 1a economia mull (ver A era do copi- tal, Aera dos impérios, capitulo 2)-No inicio da década de 1920, um econo- sista rss, N.D. Kondrtiey, que rs tare seria uma ds primes vitimas de Stalin, disceriw um pari de desenvolvimento econdmico a partir de ins de seulo xvi, através de uma sére de “ondas logis” de cingdena a sex Senta anos, embora nem ele nem ninguém mais consepuisse dar uma explica- 0 satinftria para esses movimentos, «estasticoscticos at mesmo nests 91 sem sua existéncia. Desde entfo, elas tomaram-se universalmente conhecidas na literatura especializada sob o nome de Kondratiev, que, por sinal, coneluiu nna época que a longa onda da economia mundial estava para terminar.* Tinha razfo. [No passado, ondas e ciclos, longos, médios e curtos,tinham sido aceitos por homens de negécios ¢ economistas mais ou menos como os fazendeiros aceitam o clima, que também tem seus altos ¢ baixos. Nada se podia fazer a respeito: criavam oportunidades ou problemas, podiam trazer a prosperidade ‘ou a bancarrota a individuos ou indiistrias, mas s6 0s socialistas que, como Karl Marx, acteditavam que o ciclo fazia parte de um processo pelo qual 0 capitalismo gerava o que acabariam por se revelar contradigées internas perdveis, achavam que elas punham em risco a existéncia do sistema econdmi- 0 como tal, Esperavase que 4 economia mundial continuasse crescendo avangando, como havia claramente feito, com excegio das stibitas e breves catéstrofes das depressées efclicas, por mais de um século. O que parecia ser novo na recente situagio era que, provavelmente pela primeira e até ali nica vez na histéria do capitalism, suas flutuagdes apresentavam perigo para 0 sis tema. E mais: em importantes aspectos, a curva secular de subida parecia inter- romper-se. ‘Ahistéria da economia mundial desde a Revolugdo Industrial tem sido de acelerado progress0 téenico, de continuo mas irregular crescimento econdmi- co, e de crescente “globalizagao”, ou seja, de uma diviséo mundial cada vez ‘mais elaborada e complexa de trabalho; uma rede cada vez maior de Auxos e interedmbios que ligam todas as partes da economia mundial ao sistema glo- bal. O progresso técnico continuou ¢ até se acelerou na Era da Catéstrofe, transformando e sendo transformado pela era de guerras mundiais. Embora na vida da maioria dos homens e mulheres as experiéncias econdmicas centrais da era tivessem sido cataclfsmicas, culminando na Grande Depressio de 1929- 33, o erescimento econdmico no cessou nessas décadas. Apenas diminuiu 0 ritmo. Na maior e mais rica economia da época, os BUA, a taxa média de cres~ Cimento do Hse per capita Us populayao entre 1913 ¢ 1938 foi apenas de wm ‘modesto 0,8% ao ano. A produgio industrial mundial cresceu pouco mais de 80% nos 25 anos apds 1913, ou cerca de metade da taxa de crescimento do quarto de século anterior (Rostow, 1978, p. 662). Como vamos ver (capitulo 19), © contraste com a era pOs-1945 ira ser ainda mais espetacular. Contudo, se tum ser de Marte estivesse observando as irregulares flutuages que os seres fhumanos experimentavam no solo, ele ou ela teria conclufdo que a economia mundial se achava em expansao continua (40 fat de boas previsies se haverem mostado posiveis com base nss “onda longa de Koncratiev — 0 que ao & mut comry em economia — convencev muitos historadores © ‘mesmo alguns economists de ue clas cont slguma verdad. embora ro safbaos ah 2 ‘com certeza sob um aspecto ela no se achava em expansio. ‘A globalizagio da economia dava sinais de que parara de avangar nos anos centreguerras. Por qualquer critério de medigao, a integraco da economia mun- dial estagnou ou regrediu, Os anos anteriores & guerra tinham sido 0 perfodo de maior migrago em massa na hist6ria registrada, mas esses fluxos depois secaram, ou foram represados pelas perturbagSes das guerras ¢ restrigdes poli- ticas. Durante os quinze anos que precederam 1914, quase 15 milhSes de pes- soas desembarcaram nos ua. Nos quinze anos seguintes, o fluxo diminuiu, para 5,5 milhées, ¢ durante a década de 1930 e a guerra, parou quase por com- pleto: menos de 750 mil pessoas entraram nos EuA (Historical Statistics 1, p. 105, tabela C 89-101). A migraglo ibérica, voltada principalmente para a ‘América Latina, caiu de 1,75 milhio na década de 191 1-20 para menos de 250 ‘mil na década de 1930. O comércio mundial recuperou-se das perturbagies dda guerra e da crise do pés-guermae subiu um pouco acima de 1913 no fim da ‘década de 1920, caindo novamente durante a depress, mas no fim da Era da Catstrofe (1948) ndo era significativamente maior em volume do que antes, da Primeira Guerra Mundial (Rostow, 1978, p. 669). Entre o infcio da década de 1890 ¢ 1913, havia mais que duplicado. Entre 1948 e 1971, iria quintupli- car, Essa estagnaglo é tanto mais surpreendente quando lembramos que a Primeira Guerra Mundial produziu um nimero substancial de novos pafses na Europa ¢ no Oriente Médio. Tantos quikimetros a mais de fronteiras de paises poderiam levar-nos a esperar um aumento automiitico no comércio entre estes Estados, uma vez. que transagdes comerciais antes feitas num mesmo pais (igamos, Austria: Hungria, ou Rissia) eram agora classificadas como interna cionais, Do mesmo modo, o trigico fluxo de refugiados do pés-guerra e da 6s-revolugio, cujos ndmeros jd se mediam em milhdes (ver capitulo 7), pode- ria Jevar-nos a esperar mais um crescimento que uma queda da migracao glo- bal. Durante a Grande Depressio, até mesmo 0 fluxo internacional de capital pareceu secar. Entre 1927 e 1933, os empréstimos interacionais cafram mais, de 90%. Por que essa estagnacio? Sugeriram-se vétios motivos, como por exem- plo que a maior das economias do nundo, a dos EUA, passara a ser praticamen- te auto-suficiemte, exceto pelo sup-imento de umas poueas matérias-primas; jamais dependera particularmente do comércio externo. Contudo, mesmo pat Ses que tinham sido comerciantes de peso, como a Gra-Bretanha e os Estados escandinavos, mostravam a mesma tendéncia, Os contempordneos concentra- vvam-se numa causa de alarme mais dbvia, ¢ com certeza quase tinham razdo. Cada Estado agora fazia 0 mais possfvel para proteger suas economias de ameagas externas, ou seja, de uma economia mundial que estava visivelmente em apuros, ‘Tanto homens de negécios quanto governos tinham tido a esperanga que, p65 a perturbagdo tempordria da guerra mundial, a economia mundial de 93 alguma forma retomasse aos dias felizes de antes de 1914, que encaravam ‘como normais. E de fato 0 boom imediatamente ap6s a guerra, pelo menos nos paises nio perturbados por revolugdes € guerras civis, parccia promissor, embora as empresas e governos no vissem com bons olhos © poder enorme ‘mente fortalecido dos trabalhadores e dos sindicatos, o que parecia significar ‘6 aumento dos custos de produgZo, devido a saldrios maiores © menos horas de trabalho, Contudo, © reajuste mostrou-se mais dificil que o esperado. Os pregos ¢ 0 boom desmoronaram em 1929, Com isso © poder dos trabalhadores foi minado— 0 desemnprego britinico depois disso niio mais caiu muito abai- xo de 10%, ¢ 0s sindicatos perderam metade de seus membros nos doze anos seguintes — fazendo assim mais uma ver a balanga pender para o lado dos palrdes, mas a prosperidade continuou fugidia, ‘© mundo anglo-saxsnico, os paises neutros da época da guerra e 0 Japao, fizeram 0 que puderam para deflacionar, isto é, ordenar suas econoimias de acordo com os velhos ¢ firmes princfpios de moedas estiveis garantidas por finangas sdlidas ¢ 0 padrio ouro, que niio conseguira resistir As tensbes da guerra, E de fato foram mais ou menos bem-sucedidos nesse prop6sito entre 1922 e 1926, Contudo, a grande zona de derrota ¢ convulsdo, da Alemanha no Ocidemte & Russia soviética no Oriente, testemunhou um espetacular colapso do sistema monetatio, comparavel apenas ao que se deu em parte do mundo pés-comunista depois de 1989. No caso extremo —a Alemanha em 1923 — ‘.unidade monetiria foi reduzida a um milionésimo de milhio de seu valor de 1913, ou seja, na pritica o valor da moeda foi reduzido a zero. Mesmo nos. ‘casos menos extremos, as conseqiéncias foram drésticas. O av6 do autor, cuja apélice de seguro venceu durante a inflagdo austriaca,* gostava de contar a hist6ria de que sacou essa grande soma em moeda desvalorizada ¢ descobriu {que ela dava apenas para tomar um dringue em seu café favorito. Em suma, as poupangas privadas desapareceram,eriando um vacuo quase completo de capital ativo para as empresas, o que ajuda a explicar a dependén- cia maciga de empréstimos estrangeiros da economia alemil nos anos seguin: tes ¢ sua vulnora dade quanda vein » Nepressin. A sitagha na URS tam Ppouco era melhor, embora 0 desaparecimento. dis. poupangas privadas em forma monetira ni tvesse al as mesmas conscqineias econémicas ou poli- ticas. Quando a grande inflagio acabou, em 1922-3, devido& decisio dos go vernos de parar de imprimir papcl-moeda em quantdadesifimitadas e mudar a moeda, a8 pessoas na Alemanka que dependiam de rendas fxas poupangas foram aniquiladas, embora uma miniscula fragio do dinheiro tivesse sido salva na Pol6ni, Hungriae Austria, Contudo, pode-seimaginar 0 efeito trav (©) No seul xx, a im do gual a pagoscsta¥am muito mais baltas do que no comego sas pessoas se aostumaram de tl mado pregs estes ouem queda que a simples palava ina fa eo sufcente para daserevero que hoje chimamos de “hiperalagso" 4 initico da experigncia nas classes média € médiabaixa lois. bso deixou a uropa Central pronta para ofasismo, Os atficios para fazcr as populagdes se acostumarem a longos peiodos de patolsgica inflagao de pregos (por cxem- plo, pela “indexagio" de saliros © outrasrendas — a palvra foi usada pela primeira vez por volta de 1960) s6 foram inventados apés « Segunda Guerra Mundial * Em 1924, esses furcdes pésguerta se acalmaram, © pareceu possivel esperar um retomo ao que um presidente americano batizou de “normalismo" Houve realmente algo paecido com um retorno ao crescimento global, embo- ra alguns dos produtores de matérias-primas c alimentos, inclusive alguns fa- Zendeiros americanos, icassem incomodados com os pregos dos produos pri- iris, que voltaram cairp6s uma breve recuperago. Os loucos anos 20 m0 foram uma era de ouro ara os fazendeios dos EU. Além disso, 0 desemprego na maior parte da Europa Osidental permaneceu assomiboso , pelos padres pré-1914, patologicamente alto. E dificil lembrar que mesmo nos anos de boom da décadn de 1920 (1924-9) 0 desemprego ficou em média entre 10% e 12% na Gri-Brotanha, Semana e Suécia, © nada menos de 17% a 18% na Dinamarca ¢ na Noruega. $6 08 EUA, com uma méia de desemprego de 4%, eram uma economia realmente pleno vapor. Os dos fats indicam uma faqueza na eco- noma. A queda dos pregs dos produtosprimiros (que deixaram de car ai da mais pelo acimulo feito de estoqus cada vez. maiores) simplesmente de- monstrou que a demanda deles nfo conseguia acompanhar a capacidade de produgio, Tampouco devemas desdentar o fato de que 0 boom, como se de, foi em grande pare alimentado pelo enorme fluxo de capital internacional que invadiu os pases industriais naguees anos, em especial a Alemanha, $6 esse pals, que recebeu cerca de mctade de toda as exportagdes de capital do mu do em 1928, tomou emprestados entre 20 ¢ 30 wilhses de marcos, metade pro- vavelmente a curo prazo (Amdl,1944, p. 47; Kindelberger, 1973). Mais uma ‘7 isso deixou economia alem extremameint vulnervel, como ficou pr ‘ado quando o dinhcto americano foi tirado de crculagio aps 1929, Portanto, ni foi surpesa para ninzuém, com excecio dos especuladores de cidadezinkas americanas, cuja imazem se tornou conhecida do mundo oe denial nessa época através de Babbit (1920), do romancsta americano Sinclair Lewis, que a economia mundial ficasse de novo em apuros poucos anos ‘depois, A Intemacional Comunista tina de fato previsto outa crise econdmi «2 no auge do boom, esperando que ela — ou assim acreditavam, ou diziam acreditar seus porta-vores —levasse um novo lote de revolugbes, Na verda- de, produziu 0 contrério, a curto prazo, Contudo, 0 que ninguém esperava, pro- ‘ayelmente nem mesmo os revolucionérios em seus momentos mais confian- (4) Nos Balas e nos Estados biticos, os governos jamais pederam nteamente o contr Je da info, embora cla ives sito sé 95 tes, era.a extraordindria univeralidadee profundidade da crise que comegon, como mesmo nao historiadores saber, com a quebra da Bolsa de Nova York em 29 de outubro de 1929, Equvaleu a algo muito prximo do colapso da eco- homia mundial, que agora parecia panhada num cirulo viioso, onde cada {queda dos indicadores econémicos (fora © desemprego, que subia & altaras Sempre mais astrondmicas) reforgavao deelinio em todos 05 outros. Como observaram os adimirveis especialistas da Liga das NagOes,embo~ ra ninguém Ihes desse muita atengZo, uma dramitica recessio da econom industrial nort-americana logo contaminou outro nicleo industrial, a Alemania (Ohlin, 1931). A producio industrial americana eaiu cerca de um tergo entre 1929 € 1931, e @alem’ mais ou menos 0 mesmo, mas essas si0 médias suavizadas. Dessa forma, nos €UA, a Westinghouse, grande empresa de eletricidade, perdeu dois tergos de suas vendas ene 1929 ¢ 1933, enquanto Sua renda iguida eaiu 75% em dois anos (Schatz, 1983, p. 60). Howve uma crise na produ bisica, tanto de alimentos como de matriasprimas, poraue 09 pregos, nio mais mantidos pela formaco de estoques como antes, entrar fem queds livre. © prego dochi edo tego caiu dois trgos, oda seda brut trés guartos.Iss0 deixou prostrados — para citar apenas os nomes relacionados pela Liga das Nagdes em 1931 — Argentina, Austria, paises balenicos, Bolivia, Brasil, Chile, Colémbia, Cuba, Egito, Equador, Finlindia, Hungria, india, Malisia britinica, Mé > hotandesas (atval Indonésia), Nova Zelinaia, Paraguai, Pert, Uruguai e Venezuela, cujo comércio intemacional dependia em peso de uns poucos produtos primérios. Em suma, tomou a Depressio global no sentido literal ‘Aseconomias da Austria, Tchecoslovéquia, Grécia,Japlo, Poléniae Gra- Bretanha, bastante sensveis a abals ssmicos vindos do Ocidente (ou Orien- te, foram igualmenteabaladss. A indstria da sed japonesatipliara sua pro- digo em quinze ans para abstecero vasto mercado americano de meias de seda, que entio desapareceu temporariamente — 0 mesmo acontecendo com © mercado para os 90% de seda do Jao que iam para os EUA, Enguarto i880, f prego de ten grande prin primain da prego agricola japonesa, © ator, também despencou, como 0 Fez em todas as grandes zonas produtras de arroz do Sule Leste da Asia. Uma vez que 0 prego do trigo despencou ainda mais que 0 do aro, ficando mais barato que este, diz-se qve muitos orientais passaram de um para outro. Contudo,o boom de chapatis etaharins, se houve, Piorou a situagdo dos agricultores em pafses exportadores de atroz como Birminia, Indochina francesa e Sito (hoje Tailindi) (Latham, 1981, p. 178) (s agrcultorestentaram compensar os pregos em queda plantando e venden do mais safras, o que fez os pregosafundarem ainda mais Para os agricultores dependentes do mercado, sobretudo do mercado le exportagio, isso sigificou a rufna, a menos que pudessem rear para 0 tadi- tional dltimo reduto do camponés, a produgao de subsistincia, Isso de fato 96 ainda era possivel em grunde parte do mundo dependente, ¢ até onde a maio- Fla de africanos, asiticos do Sul e do Leste e latino-americanos ainda era cam- pponesa, isso sem divida os protegeu. O Brasil tomou-se um sfmbolo do des. perdicio do capitalismo e da seriedade da Depressi, pois seus cafeicultores fentaram em desespero impedir 0 colapso dos precos queimando café em vez, de carvio em suas locomotivas a vapor. (Entre dois tergos ¢ ts quartos do café vendido no mundo vinham desse pais.) Apesar disso, a Grande Depressio foi muito mais tolerével para os brasileiros ainda em sua grande maioria rurais que 0s cataclismos econdmicos da década de 1980; sobretudo porque as expectativas das pessoas pobres quanto a0 que podiam receber de uma econo- ‘mia ainda eram extremamente modestas, ‘Ainda assim, mesmo em paises camponeses coloniais as pessoas sofre- ram, como se pode perceber pela queda de cerca de dois tergos na importacio de agticar,farinha, peixe enlatado e arro7 na Costa do Ouro (hoje Gana), onde ‘© mercado de cacau (Fundado no campesinato) entrou em queda livre, para nfo falar no corte de 98% nas importagées de gim (Ohlin, 1931, p. 52) Para aqueles que, por defini¢do, ndo tinham controle ou acesso aos meios de produgdo (a menos que pudessem voltar para uma familia camponesa no interior), ou seja, os homens e mulheres contratados por salérios, a conseg cia bisica da Depressio foi o desempsego em escala inimagindvel e sem pre cedentes, e por mais tempo do que qualquer um ja experimentara. No pior perfodo da Depressio (1932-3), 22% a 23% da forga de trabalho britinica e belga, 245 da sueca, 27% da americana, 29% da austrfaca, 31% da noruegue- sa, 32% da dinamarquesa e nada menos que 449% da alem nifo tinha empire £0. E, 0 que é igualmente relevante, mesmo a recuperagio apés 1933 nio te- duziu 0 desemprego médio da década de 1930 abaixo de 16% a 17% na Gri Bretanha e Suécia ou 20% no resto da Escandinavia, © nico Estado ociden- tal que conseguiu eliminar o desemprego foi a Alemanha nazista entre 1933 e+ 1938. Nio houvera nada semelhante a essa catstrofe econémica na vida dos ttabalhadores até onde qualquer um pudesse lembrar. © aque tomava a situacao mais dramatica era que a previdéneia puthlien na forma de seguro social, inclusive austlio-desemprego, ou nio existia, como ‘Ros EUA, ou, pelos padres de fins do século xx, era parca, sobretudo para 0s esempregados a longo prazo. F por isso que a seguridade social sempre foi luma preocupagao t2o vital dos trabalhadores: protecio contra as terriveis in ‘certezas do desemprego (isto €, salirics), doenga ou acidente, eas terriveis cer- tezas de uma velhice sem ganhos, E por isso que os trabalhadores sonhavamn ‘em ver os filhos em empregos de salérios modestos, mas Seguros, e com apo- Sentadoria. Mesmo no pafs mais coberto por planos de seguro-desemprego ‘antes da Depressio (Gri-Bretanha), nenos de 60% da forga de trabalho esta- '¥a protegida por eles — e isso apenas porque a Gri-Bretanha desde 1920 tinha Sido obrigada a adaptar-se a0 desemprego em massa, Nas demas partes da ” gogo ecm icon Fa esate ee senso de cadsuofe edesrionagio cour pola Grande 98 cada vez mais altas para proteger seus mercados e moedas nacionais contra os furactes econdmicos mundi, sabendo muito bem que isso significava o des- ‘mantelamento do sistema mundial de comércio multilateral sobre o qual, acre ditavam, devia repousar a prosperidade do mundo, A pedra fundamental desse sistema, 0 chamado “status de nagio mais favorecida”, desapareceu de quase (60% de 510 acordos comerciais assinados entre 1931 e 1939, e, onde conti- ‘nuou, foi em geral numa forma limitada (Snyder, 1940).* Onde ira parar isso? Haveria uma safda do cfrculo vicioso? Examinaremos adiante as conseqincias politicas imediatas disso, 0 mais trégico episédio na hist6ria do capitalismo. Contudo, deve-se mencionar desde 4 sua mais significativa implicagao a longo prazo. Numa nica frase: a Grande Depressio destruiu o liberalismo econdmico por meio século. Em 1931-2, a Gri-Rretanha, Canads, toda a Escandinivia e o¢ EUA abandonaram 0 padrto fouro, sempre encarado como a base de trocas intemacionais estiveis, e em 1936 haviam-se juntado a eles os figis apaixonadas pelos lingotes, os belgas e hholandeses, e finalmente até mesmo os franceses.** Quase simbolicamente, @ Gri-Bretanha em 1931 abandonou o Livre Comércio, que fora tio fundamen- tal para a identidade econdmica briténica desde a década de 1840 quanto a Constituigio americana para a identidade politica dos EUA. A retirada britani- cca dos principios de transagGes livres numa tnica economia mundial dramati- ‘za. a corrida geral para a autoprote¢o na época. Mais especificamente, a Gran- de Depressio obrigou os governos ocidentais a dar as consideragdes sociais prioridade sobre as econdmicas em suas politicas de Estado. Os perigos impli- Citos em nio fazer isso — radicalizago da esquerda e, como a Alemanha e ‘outros paises agora o provavam, da direita — eram demasiado ameagadores. Assim. os govemos no mais protegeram a agricultura simplesmente com tarifas contra a competigio estrangeira, embora, onde o tinham feito antes, ferguessem barreiras tariférias ainda mais altas. Durante a Depressio, passaram 4 subsidis-la, assegurando pregos agricolas, comprando 0s excedentes. ou. agando aos agricultores para nao produzir, como nos EUA aps 1933. As ori- ‘ens dos bizarros paradoxos da “Politica Agricola Comum" da Comunidade Européia, através da qual, nas décadas de 1970 1980, minorias cada vez mais, exiguas de agricultores ameagaram levar a Comunidade & bancarrota com os. ‘ubstdios de que desfrutavam, remontam & Grande Depresséo. Quanto aos trabalhadores, apés a guerra o “pleno emprego”, ov seja, a eli (2) clusula de “nag mais favoreida” na verdade significa 0 oposto do que parece. ow Sein que 0 pacer comercial ser ratio nos mesos temo tea “nagio mas favored {sto €.nenhuma nagdo sers mais favorecida (62) Na forma clissca, um padrioourm dune de wna moda, como por exemple, 8 fda de um dolar o valor de um deteminado peso de oro, plo ql, se necessinio,o bance a ear, 9 minagio do desemprego em massa, ornov-se a pedra fundamental da politica ‘econdmica nos paises de capitalismo democratic reformado, cujo mais famo- S0 profeta e pionciro, embora nao o tnico, foi o economista britinico John “Maynard Keynes (1883-1946). 0 argumento keynesiano em favor dos benefi- cios da eliminagdo permanente do desemprego em massa era tio econémico {quanto politico, Os keynesianos afirmavam, corrtamente, que a demanda a set ¢gerada pela nda de trabathadores com pleno emprego teria mas estimulan- te efeito nas economias em recessKo. Apesar disso, 0 motivo pelo qual esse meio de aumentar a demanda recebeu t20 urgente prioridade — 0 governo britinico empenhou-se nele mesmo antes do fim da Segunda Guerra Mun- dial — foi que se areditava que o desemprego em massa era politica e social- mente explosivo, como de fato mostra ser durante « Depresséo, Essa crenga trate forte que, quando mies anos depos voltou © desemprego em massa, f sobretudo durante a séria depressio no inicio da década de 1980, observado- res (incluindo este autor) tinham a centeza de que presenciavam agitagdes sociais,e fiaram surpresos quando isso ndo aconteceu (ver capitulo 14). Tss0 se deveu, em grande pare, a outa medida profiltica tomada duran- te, depois ¢ em conseqiéncia da Grande Depressio: a instalago de modernos sistemas previdencisrios. Como surpreender-se por terem os EU aprovado a Lei de Seguridade Social em 1935? Estamos de tal modo acostumados & pre~ ddomindncia de abrangentes sistemas de bem-estar nos Estados desenvolvidos do capitalism industrial — com algumas excegdes, como 0 Tapio, Suiga € UA — que esquecemos como havia poucos "Estados do Bem-estat” no sent ddo modemo antes da Segunda Guerra Mundial. Mesmo os pafses escandina- ‘vos apenas comegavam a desenvolvé-los. Na verdade, nem o termo Estado do Bem-estar (welfare sate) havia entrado em uso antes da década de 1940, (0 trauma da Grande Depressio fi realgado pelo fato de que um pats que rompera clamorosamente com o capitalismo pareceu imune a ela: 8 Unido Soviética, Enquanto 0 resto do mundo, ou pelo menos o capitalism liberal ocidental,estagnava, a URSS entrava numa indusralizagio ultre-répida e maci- 2 90b seus nov0s Planos Quinglenais. De 1929 a 1910, a produgho industri Sovietcatriplicou, no minimo dos minimos, Subiu de 5% dos produtos manu faturados do mundo em 1929 para 18% em 1938, enquanto no mesmo perfo- doa fatia conjunta dos #a, Grl-Bretanha e Franga cata de 59% para 52% do {otal do mundo. E mais, néo havia desemprego. Essas conquistas impressiona- ram mais 0s observadores estrangeinos de todas as ideologias, incluindo um pequeno mas influente fluro de turstas s6cio-econdmicos em Moscou em 1930-5, que 0 visivel primitivismo e inficiéncia da economia sovitica, ov @ implacabilidae e brutalidade da coletivizagio e repressio em massa de Stalin Pois o que cles tentavam compreender no era o fendmeno da URSS em si, mas © colapso de seu proprio sistema econdmico, a profundidade do fracasso do capitalismo ocidental. Qual era o segredo do sistema soviico? Podia-se 100 aprender alguma coisa com ele? Ecoando os Planos Quingilenais da uRss, “Plano” e “Planejamento” tomaram-se palavras da moda na politica. Os pa tidos social-democratas adotaram “‘planos”, como na Bélgica e Noruega. Sir Arthur Salter, funcionétio piblico britanico da maxima distinglo e respeitabi- lidade, © um pilar do establishment, escreveu um livro, Recovery [Recupe- ragio], para demonstrar que era essencial uma sociedade planejada, se o pais € 0 mundo queriam escapar do ciclo perverso da Grande Depressio, Outros servidores e funcionérios piblicos centristas britinicos estabeleceram uma assessoria de alto nivel chamada re (Political and Economic Planning —Pla- nejamento Politico e Econdmico). Jovens politicos conservadores como o futu- 10 primeiro-ministro Harold Macmillan (1894-1986) tomaram-se porta-vozes do “planejamento”. Até 05 nazistas plagiaram a idéia, quando Hitler introdu- ziu um “Plano Quadrienal” em 1933. (Por motivos que serio examinados no ‘préximo capitulo, o sucesso dos nazistas com a Depressi em 1933 teve menos FepercussSes internacionais.) 0 Porque economia capitals no funcionow ene as gueras? A situa nos EUA€ part esencal de qualquer resposta a esta pergunts Pls se era pos- sivelresponsabilizar a0 menos pacalmente as perurbaydes da Europa na uerae no pbs goers ou pelo menos nos pases beligerantes da Europ, pelos problemas eeondmicos al condos, os RUA nam estado muito distantes do Confit, emora por un co decsivo peiodotivessem se envolvdo nee Assim, longe de peurbar sua economia, a Primera Guerra Mundial, como a Segunda, beneficiov-os expetacularment, Em 1913, 08 Fun je haviam tor- ado a maior economia do mundo, prodzindo mais de um ego de sa prodi- G0 industial — pouco absixo do wal combinado de Alemanha, Gri-Bretanha © Franga. Em 1929, respondiam por mais de 42% da produgdo mundial total, Comparados com apenas pouso menos de 28% das ue potncias india curopéias(Hilgendt, 194, abel 1.14. F uma cftaespantosa. Concretamen- te, enquantoa produgdo de ago americana subiu ceea de um quarto entre 1913, € 1920, a produgho de ago do resto do mundo cai cera de um tergo (Rostov, 1978, p. 195, bela 1.33), Em sums, spdso fim da Primeira Guerra Mundial, 08 FUA cram em muitos aspects uma economia to intrnacionalmente dom ante quanto voltou a rorarse pea Segunda Guera Mundial Foi a Grande Depres ueineronpesenprsanent es uso ‘Alm disso guerra nfo apenas reforgou sua posigio como maior predor industrial do mundo, como os tsfomou no malar eed do mundo, Os brite ncos haviam perdido cerea de um quarto de seus investimentosglobais durante a guerra, sobretudo 0s aplicados os EUA, os quis tiveram de vender para com- 101 prar suprimentos de guerra; os franceses perderam mais ou menos metade dos deles,em grande parte devido &s revolugBes ¢ colaps0s na Europa. Enguanto isso fos americanos, que tinham comesado a guerra como um pafs devedor, termina ram-na como 0 principal credor internacional, Como os Ea concentraram suas ‘operages na Europa e no hemisfério ocidental (os britinicos ainda eram de longe ‘0s maiores investidores na Asia Africa), seu impacto na Europa foi decisivo. [Em suma, ndo hi explicago para a crise econdmica mundial sem 0s EUA, Eles eram, afinal, tanto 0 primeiro pais exportador do mundo na década de 1920 quanto, depois da Gra-Bretanha, o primeiro pais importador. Importavam quase 40% de todas as exportagdes de matsrias-primas e alimentos dos quin- ze paises mais comerciais, um fato que ajuda muito a explicar 0 desastroso impacto da Depressio nos produtores de trigo, algodio, agar, borracha, seda, enhre, estanho # café (Lary. 1943. pp. 28-9), Pelo mesmo motivo, toma ram-se a principal vitima da Depress2o. Se suas importagdes cairam em 70% entre 1929 e 1932, suas exportagies cafram na mesma taxa, O comércio mun- dial teve uma queda de quase um tergo entre 1929 e 1939, mas as exportagses, ‘americanas despencaram para quase a metade. Isso no pretende subestimar as raizes exclusivamente européias do pro- blema, em grande parte de origem politica. Na conferéncia de paz de Versalhes (1919), haviam-se imposto pagamentos imensos mas indefinidos & Alemanha, ‘como “reparages” pelo custo da guerra e 0s danos causados as poténcias vito- riosas. Como justificativa, inserira-se uma clusula no tratado de paz fazendo da Alemanha a sinica responsivel pela guerra (a chamada cléusula da “culpa de guerra”), a qual, além de historicamente duvidosa, revelou-se um presente para o nacionalismo alemio, A quantia que a Alemanha teria de pagar perma- neceu vaga, como um compromisso entre a posigdo dos Eus, que propunham. fixar os pagamentos da Alemanha segundo a capacidade de pagar do pais, € a dos outros aliados — sobretudo os franceses — que insistiam em recuperar todos os custos da guerra, O objetivo real destes, ou pelo menos da Franga. era ‘manter a Alemanha fraca e ter um meio de poder pressioné-la. Em 1921, a soma foi fixada em 122 bilhes de marcos ouro, ou Eeja, 33 bikes de délares na época, o que todo mundo sabia ser uma fantasia. ‘As “reparages” levaram a intermindveis debates, crises periddicas acordos sob os auspicios umericanos, pois 0s BUA, para 0 desprazer de seus ex- aliados, queriam relacionar a questdo da divida alema com eles & das dividas deles com Washington, Estas eram quase to absurdas quanto as somas exigi- ‘das dos alemies, que equivaliam a uma vez e meia todo o produto nacional bruto do pats em 1929; as dividas britanicas com os Eva equivaliam & metade do produto nacional bruto da Gri-Bretanha; as dividas francesas a dois tergos (Hill, 1988, pp. 15-6). Um “Plano Dawes”, em 1924, na verdade fixou uma soma para a Alemanha pagar anualmente; um “Plano Young”, em 1929, modi ficou o esquema de pagamento ¢, incidentalmente, estabeleceu o Banco de 102 Acordos Intemacionais em Basiléia (Sua), a primeira das instituigdes finan- ceiras internacionais que iriam se muliplicar apés a Segunda Guerra Mundial (No momento em que eserevo, ele ainda esté em funcionamento,) Para fins Driticos, todos os pagamentos, alemdes e aliados, cessaram em 1932. $6 a Finlandia terminou de pagar suas dividas de guerra com os EUA, ‘Sem querer esmiugar muito, duas questOes estavam em causa. Primeir, havia a questao posta pelo jovem John Maynard Keynes, que escreveu uma erf- tica selvagem & conferéncia de Versalhes, da qual participou como membro subalterno da delegacio britinica: The economic consequences of the peace [As conseqiiéncias econdmicas da paz] (1920). Sem uma restauragdo da econo: alema, argumentava, seria impossivel a restauragdo de uma civilizagio e econo- ‘mia liberais estveis na Europa. A politica francesa de manter a Aleman fraca para sua “seguranca"” era contraprodutiva. Na verdade, os franceses estavam fra- cos demais para impor sua politica, mesmo quando ocuparam por breve perio- do 0 coragao industrial da Alemanha ocidental em 1923, com a desculpa de que os alemdes se recusavam a pagar, Acabaram tendo de tolerar uma politica de “realizagao” alema apés 1924, que fortaleceu a economia alema. Mas, segundo, havia a questdo de como seriam pagas as reparagdes, Os que desejavam manter ‘Alemanha fraca queriam dinheiro vivo, em vez de (como seria racional) bens dda produgio corrente, ou pelo menos parte da renda das exportagces alemis, luma vez que isso teria fortalecido a economia alema contra seus competidores, Na verdade, obrigaram a Alemanba a recorrer a pesados empréstimos, de forma {que as reparagdes que foram pagas vieram dos empréstimos macigos (america- nos). Para seus rivais de meados da década de 1920, sso parecia tera vantagem extra de fazer a Alemanha incorrer em profunda divida, em vez de expandi suas cexportagdes para equilibrar sua balanga extema. E de fato as importagées ale- mis subiram as alturas. Contudo, todo 0 atranjo, como jé vimos, deixou tanto a ‘Alemanha quanto 4 Europa extremamente sensiveis a0 declinio dos emprést ngs americanos, que comegou mesmo antes da crise ¢ a suspensio completa de cempréstimos americanos apo a crise de Wall Street em 1929, Todo 0 castelo de ccartas de roparagSes dasmnaronou durante a Depress. A evea altura 0 fim dos ‘pagamentos ndo teve efeitos positives sobre a Alemanha ou a economia mun- dial, porque esta tinha desabado con sistema integrado, © mesmo acontecen- do, em 1931-3, com todos os acordos para pagamentos intemacionais, Contudo, as perturbagGes complicagies politicas do tempo da guerra e {do pés-guerra na Europa s6 em parte explicam a severidade do colapso econd- ‘ico entreguerras. Em termos econtmicos, podemos vé-lo de dois modos, primeiro vé basicamente um impressionante e crescente desequilibrio ‘na economia intemacional, devido 3 assimetria de desenvolvimento entre 0s EVA € o resto do mundo. O sistema mundial, pode-se argumentar, nio funcio- nou porque, ao contririo da Gra-Breianha, que fora o centro antes de 1914, os EVA ndlo precisavam muito do resto do mundo, ¢ portanto, outra vez ao contri: 103 rio da Gré-Bretanha, que sabia que o sistema de pagamentos mundiais se apoiava na libra esterlina ¢ cuidava para que ela permanecesse estavel, 08 EUA ‘io se preocuparam em agir como estabilizador global. Nao precisavam muito cdo mundo porque, apés a Primeira Guerra Mundial, tinham de importar menos, capital, trabalho ¢ (em termos relativos) produtos do que nunca — com exce- co de algumas matérias-primas. Suas exportagbes, embora internacionalmen- te importantes — Hollywood praticamente monopolizou o mercado de cinema intemacional —, davam uma contribuigo muito menor & renda nacional que em qualquer outro pais industrial. Pode-se discutir até onde foi signific: essa retirada, por assim dizer, dos EUA da economia mundial. Contudo, fica claro que essa explicagiio da Depressio foi uma das que influenciaram Wa- shington nos anos de guerra para assumir a responsabilidade pela estabilidade ‘mundial apés 1945 (Kindloberger, 1973) ‘A segunda perspectiva da Depressio se fixa na nio-geragio, pela econo- ‘mia mundial, de demanda suficiente para uma expanso duradoura. As funda- ‘gdes da prosperidade da década de 1920, como vimos, eram fracas, mesmo nos UA, onde a agricultura jé se achava praticamente em depressdo, ¢ 0s sarios em dinheiro, ao contrrio do mito da grande era do jazz, no estavam subindo, mas na verdade estagnaram nos tkimos anos loucos do boom (Historical Statistics of the USA, t, p. 164, tabela D722-727). O que acontecia, como muitas vezes acontece nos booms de mercads livres, era que, com os salirios ficando para tras, 0s lucros eresceram desproporcionalmente, ¢ os présperos obtiveram uma fata maior do bolo nacional, Mas como a demanda da massa nao podia acom- panhar a produtividade em répido crescimento do sistema industrial nos gran- des dias de Henry Ford, 0 resultado foi superprodugao e especulagdo. Iss0, por ‘sua vez, provocou 0 colapso, Também aqui, quaisquer que sejam as discusses centre historiadores e economistas, que ainda hoje debatem a questio, os contem- pornos com forte interesse em polticas de governo ficaram profundamente impressionados com a fraqueza da demanda; inclusive John Maynard Keynes. ‘Quaiido veio © colapso, claro que este foi muito mais dristico mos FUA porque a lenta expanso da demanda fora fortalecida por meio de uma enorme ‘expanstio de crédito 20 consumidor. (Leitores que se lembram do fim da déea- da de 1980 talvez reconhegam 0 cenirio.) Os bancos, ja atingidos pelo boom speculative imobilirio que, com a tradicional alianga entre otimistas auto- iludidos e a erescente picaretagem financeira,* chegara ao auge alguns anos ‘antes do Grande Crash, estavam sobrecarregados de dividas no saldadas, recusavam novos empréstimos para habitagdo e refinanciamento para 0s exis ds evan (+) No por nada a dada de 1920 ado psicélogo Emile Coe (1857-1926), que pop lavizoa ate sugesto otimista através do slogan consastementerepetdo: “Todo di, em todes ‘os aspects eso feando cada ver melhor” 104 lentes. 1ss0 no os impediu de estourar aos milhares.* quando (em 1933) qua- se metade das hipotecas domésticas americana ficaram em atraso mil pro- priedades por dia eram executadas (Miles eta, 1991, p. 108). $6 0s compra- dores de automéveis deviam 1,4 milhio de um total de endividamento pessoal de 6.5 mithdes em empréstimos de curtoe médio prazo (Ziebura, 1990, p. 49) ‘© que tomava a economia tio mais vulnerdvel a esse boom de crédito era que ‘os consumidores no usavam seus empréstimos para comprar os bens de con- sumo tradicionais, que mantém corpo e alma juntos, e t&m portanto muito poua variago: alimentos, roupas e coisas semethantes. Por mais pabre que Seja, no se pode reduzirabaixo de um certo ponto a prépria demanda de pro-

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