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17/02/2021 SEI/DPU - 4227774 - Recomendação - Assistência Jurídica

DEFENSORIA PÚBLICA-GERAL DA UNIÃO


SBS Quadra 2, Bloco H, Lote 14 - Bairro Asa Sul - CEP 70070-120 - Brasília - DF - http://www.dpu.gov.br/

RECOMENDAÇÃO Nº 4227774 - DPGU/DNDH

Ao Senhor

ROGÉRIO SCARABEL BARBOSA

Diretor-Presidente Substituto

Agência Nacional de Saúde Suplementar

Av. Augusto Severo, 84, Edifício Barão de Mauá, Glória, Sede

CEP 20021-040 Rio de Janeiro/RJ

rogerio.scarabel@ans.gov.br

(21) 2105-0092

Processo/SEI nº 08038.002895/2021-34

Direito à saúde. Assistência suplementar à saúde. Reajuste dos planos de


saúde em 2021. Cobrança retroativa do reajuste de 2020.
Recomenda a suspensão do reajuste dos planos de saúde em 2021 e das
cobranças retroativas dos reajustes referentes a 2020 no corrente ano, bem
como o reinício da discussão dos reajustes, com participação social.

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO (DPU), por meio do Defensor Público-Geral


Federal e do Defensor Nacional de Direitos Humanos, valendo-se de suas atribuições e com fundamento
no art. 4º, incisos II, X e XI, da Lei Complementar (LC) nº 80/1994,
CONSIDERANDO que a Defensoria Pública, nos termos do art. 134 da Constituição da
República, é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como
expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos
direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados;
CONSIDERANDO que a legitimidade da Defensoria Pública para a tutela coletiva foi
fortalecida na Lei Complementar nº 80/1994, que, alterada pela Lei Complementar nº 132/2009, prevê,
dentre as funções institucionais da Defensoria Pública, “promover ação civil pública e todas as espécies de
ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos
quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes” (art. 4º, incisos VII e
VIII, Lei Complementar nº 80/1994);
CONSIDERANDO o disposto no art. 4º, inciso II, da Lei Complementar nº 80/1994, o
qual elenca como objetivo da Defensoria Pública "promover, prioritariamente, a solução extrajudicial dos
litígios, visando à composição entre as pessoas em conflito de interesses, por meio de mediação,
conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de conflitos";

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CONSIDERANDO que a saúde é direito de todos e dever do Estado, conforme dispõe o


art. 196 da Constituição da República, e que a execução das ações e dos serviços de saúde pode ser feita
diretamente pelo Estado e por pessoas físicas e jurídicas de direito privado, conforme art. 197 da mesma
Constituição, o que habilita a coexistência do sistema público e da assistência suplementar à saúde;
CONSIDERANDO que as instituições privadas de saúde participam, portanto, de forma
complementar ao Sistema Único de Saúde, ampliando a prestação do (essencial) serviço de saúde às
pessoas no Brasil;
CONSIDERANDO que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), nos termos
da Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, tem por finalidade "promover a defesa do interesse público na
assistência suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas relações com
prestadores e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das ações de saúde no País" (art. 3º);
CONSIDERANDO as competências da ANS, inscritas no art. 4º da mesma Lei nº
9.961, de 28 de janeiro de 2000;
CONSIDERANDO a situação de pandemia que o mundo hoje vive em face da Covid-
19, a qual é caracterizado por rápida e fácil contaminação, o que levou à Declaração de Emergência em
Saúde Pública de Importância Internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 30 de janeiro
de 2020 e a recomendação de distanciamento social e de quarentena pela mesma Organização;
CONSIDERANDO a decretação de Emergência em Saúde Pública de Importância
Internacional pela Organização Mundial da Saúde (ESPIN), por meio da Portaria nº 188/2020 do
Ministério da Saúde;
CONSIDERANDO os enormes retrocessos de índole socioeconômica decorrentes da
pandemia, dada a recessão econômica atrelada ao aumento do desemprego e à queda na renda da
população, situação que ainda poderá se estender por meses;
CONSIDERANDO que os reajustes dos planos de saúde ficaram suspensos nos últimos
quatro meses de 2020, por força do Comunicado nº 85/ANS, de 31 de agosto de 2020, no desiderato de
mitigar os efeitos causados pela ESPIN;
CONSIDERANDO, no entanto, a manutenção, pela ANS, dos reajustes dos planos de
saúde para o ano de 2021 no patamar de 8,14%, o que onera ainda mais o acesso à saúde suplementar, em
um quadro de deterioração econômica;
CONSIDERANDO que, não apenas isso, foi decidida a cobrança do retroativo do
aumento dos planos de saúde, conforme Comunicado nº 87/ANS, de 26 de novembro de 2020, que dispôs
que “os valores relativos à suspensão dos reajustes deverão ser diluídos em 12 (doze) parcelas iguais e
sucessivas, de janeiro de 2021 a dezembro de 2021”;
CONSIDERANDO que, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (IDEC), realizadas com base no Painel de Precificação dessa ANS (e, portanto,
conservadoras), o aumento efetivamente sofrido foi, no mínimo de 12,21% para planos individuais, sem
reajuste anual e sem alteração de faixa etária, itens que, se computados, fazem o aumento se elevar para
34,99%;
CONSIDERANDO que, conforme as mesmas projeções, foram detectados aumentos de
quase 50% no valor das mensalidades nos planos coletivos empresariais (49,71%) e coletivos por adesão
(49,87%), quando presente reajuste anual e reajuste da faixa etária;
CONSIDERANDO que os reajustes aparentemente não refletem a necessidade de
manter a sustentabilidade econômica das operadoras de planos de saúde, que, segundo informações do
IDEC, estariam apresentando bom desempenho financeiro;
CONSIDERANDO que o reajuste de 2021 e a cobrança retroativa dos ajustes de 2020,
causando aumentos reais tão significativos, podem representar dificuldade de acesso aos planos de saúde
privados em razão de limitações orçamentárias da população, a fazer mais pessoas dependerem,
exclusivamente, do Sistema Único de Saúde, já sobremaneira sobrecarregado,

RECOMENDA à Agência Nacional de Saúde Suplementar, por meio de seu Presidente,


que, no prazo de 5 dias úteis, à vista da urgência da matéria, tome as medidas necessárias, inclusive
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expedição/revogação de normativos e/ou comunicados internos, para o fim de:


(a) suspender o reajuste dos planos de saúde em 2021;
(b) suspender a realização das cobranças retroativas dos reajustes referentes a 2020 no
corrente ano, com o imediato ressarcimento dos valores que tenham sido eventualmente cobrado dos
beneficiários a título de reajuste de 2020; e
(c) reiniciar a discussão a respeito da necessidade e do percentual de reajuste dos planos
de saúde em 2020 e 2021, com ampla participação social, sobretudo das Defensorias Públicas e das
entidades representativas/proteção dos consumidores.

Apesar do caráter não vinculativo da Recomendação, destaca-se que o presente


instrumento (a) é relevante meio extrajudicial de prevenção de ações judiciais, (b) torna inequívoca a
demonstração da consciência da(s) ilicitude(s) apontada(s); (c) constitui em mora o destinatário quanto às
providências recomendadas (art. 397, parágrafo único, do Código Civil); e (d) constitui elemento
probatório em ações judiciais.
ADVERTE-SE que a presente Recomendação não esgota a atuação da Defensoria
Pública da União sobre o tema, não excluindo futuras Recomendações ou outras iniciativas cuja atuação
seja pertinente ao seu objeto, inclusive a adoção de medidas judiciais para assegurar o cumprimento da
presente Recomendação.
SALIENTA-SE que a Defensoria Pública da União mantém-se aberta ao diálogo e à
construção de soluções para a questão ora posta.
Assim, e com base no art. 44, inciso X, da Lei Complementar nº 80/1994, REQUISITA-
SE que, no prazo de 5 dias após o recebimento, seja informado sobre o acatamento ou não da presente
Recomendação, por meio de mensagem eletrônica ao endereço de e-mail gabinete.dndh@dpu.def.br.
A DPU está à disposição por meio do endereço de e-mail acima ou pelo telefone 61
3318-7625.

Brasília, na data da assinatura eletrônica.

DANIEL DE MACEDO ALVES PEREIRA


Defensor Público-Geral Federal

ATANASIO DARCY LUCERO JÚNIOR


Defensor Nacional de Direitos Humanos
08038.002895/2021-34 4227774v24

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