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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MJ - POLÍCIA FEDERAL
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL NO RIO DE JANEIRO
SETOR DE INTELIGÊNCIA POLICIAL

RELATÓRIO PARCIAL
IPL n. º 2021.0011981 – SIP/SR/PF/RJ

INTRODUÇÃO:
CÓPIA
O presente inquérito foi instaurado no dia 19/02/2021, pelo Corregedor Regional,
em razão da apreensão de dois aparelhos celulares no interior do cômodo do alojamento
feminino da Delegacia de Dia (DELDIA – Delegacia de Plantão) desta Superintendência
Regional, onde o Deputado Federal DANIEL LUCIO DA SILVEIRA estava custodiado,
até o dia 18/02/2021, em virtude de mandado de prisão em flagrante, expedido pelo
Supremo Tribunal Federal.

A presente investigação tem como fundamento a necessidade de esclarecimento


acerca das circunstancias envolvendo a entrada, manutenção e uso dos aparelhos
celulares, por parte do Deputado Federal custodiado, no interior das dependências
daquela Delegacia (DELDIA), que excepcionalmente, foi utilizada como unidade de
custódia para DANIEL LUCIO DA SILVEIRA.

Os aparelhos foram apreendidos no dia 18/02/2021, por agentes deste Setor de


Inteligência Policial, após determinação do Superintendente Regional, para realização de
revista no cômodo utilizado para custódia do referido Deputado Federal.

DOS FATOS:
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Na noite do dia 16/02/2021, por determinação do Exmo. Ministro do Supremo


Tribunal Federal Alexandre de Moraes, o Deputado Federal DANIEL LUCIO DA
SIVEIRA foi preso em flagrante, em sua residência no Município de Petrópolis/RJ, e
conduzido para esta Superintendência Regional, tendo sido entregue e acautelado na
Delegacia de Plantão, a DELDIA, no início da madrugada do dia 17/02/2021.

Apesar desta Superintendência Regional não possuir local próprio e adequado


para a cautela provisória de preso por mais do que algumas horas, a DELDIA, de forma
improvisada e excepcional, foi utilizada, temporariamente, como estabelecimento
prisional, para a custódia do referido Deputado Federal, que ficara acautelado no cômodo
do alojamento feminino, já que a cela utilizada para presos provisórios não possui
banheiro nem estrutura para custódia de presos por muitas horas.

O croqui abaixo refere-se a estrutura da Delegacia de Dia e indica, com precisão,


o cômodo onde o Deputado Federal DANIEL LUCIO DA SILVEIRA ficou custodiado
(alojamento feminino), bem como a sala da recepção da Delegacia, que foi,
provisoriamente utilizada como sala de visitas, para aquele preso provisório.

O corredor principal refere-se ao trecho de deslocamento do Deputado Federal


custodiado, entre o cômodo do encarceramento e a sala de visitas (improvisada).
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No dia 18/02/2021, o Superintendente Regional determinou que fosse designada


uma equipe deste Setor de Inteligência Policial, para realização de revista no alojamento
feminino da DELDIA, cômodo que estava sendo utilizado para custódia do Deputado
Federal, conforme já mencionado.

A equipe iniciou a revista no cômodo por volta das 12:10h, tendo localizado e
arrecadado dois aparelhos celulares, escondidos no interior de uma mala com roupas do
Deputado Federal preso provisoriamente naquela Unidade.

Os dois aparelhos celulares estavam bloqueados e foram colocados no modo


avião, sendo, posteriormente, entregues para o Delegado de Plantão, o DPF Victor, que
efetivara a apreensão formal dos mesmos (auto de apreensão nos autos).

No momento da apreensão, o Deputado Federal chegou a abrir, por meio do face


id, um dos aparelhos, sob o argumento de que se tratavam de conversas privadas de
parlamentares, tendo mostrado para o declarante um grupo de whatsapp, que segundo o
Deputado, seria formado por parlamentares de seu partido. Não foi possível ler o conteúdo
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das conversas e nem mesmo confirmar se tratava-se de algum grupo formado, de fato, por
parlamentares. Foi então dito, pelo subscritor do presente que os aparelhos seriam
apreendidos de qualquer forma, já que simples presença deles em poder do custodiado
configurava, claramente, que algum crime havia sido cometido, para que os aparelhos
chegassem até ele e que, portanto, os aparelhos constituíam a materialidade delitiva do
fato criminoso.

O Deputado Federal, conforme relatado no depoimento do DPF Victor Cesar,


Delegado de Plantão na data da apreensão dos aparelhos, ainda chegou a reclamar
bastante do ato de apreensão fazendo alegações sem fundamento, chegando também a
desbloquear os aparelhos, na tentativa de mostrar que não haviam sido feitas ligações
naquela data.

Imagem dos aparelhos apreendidos, já sem as capas protetoras.


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Imagem da bolsa onde os aparelhos foram encontrados.

A audiência de custódia do Deputado foi realizada logo depois da revista e


apreensão dos aparelhos, então o Deputado Federal custodiado só foi ouvido em termo
de declarações, pelo DPF Victor César, acerca dos aparelhos telefônicos encontrados em
sua mala, após ao término da audiência.

No seu depoimento, o Deputado Federal DANIEL LUCIO DA SILVEIRA disse:

“QUE está custodiado na Delegacia de Dia da Polícia Federal desde a madrugada


do dia 17/02/2021, por força de decisão do STF, nos autos do Inquérito Policial nº
4.781; QUE quando foi custodiado nesta unidade, pela sua condição de Deputado
Federal, com mandato vigente, foi colocado em um quarto, com banheiro privativo,
uma vez que não havia, nesta unidade, outro local adequado a atender sua condição
de parlamentar; QUE durante sua prisão o declarante não teve acesso ao seu celular,
assim como também não teve quando foi colocado no quarto onde ficou custodiado;
QUE na data de ontem, recebeu a visita de parlamentares, advogados e pessoas
próximas e com quem tinha necessidade de falar; QUE durante a sua prisão e o dia
de ontem, foi um dia atípico, muito tumultuado e com várias lideranças de seu
partido querendo fazer contato, bem como havia uma reunião de líderes que
decidiram sobre o seu destino; QUE diante deste quadro atípico e por não ter feito
ainda contato com ninguém, ou seja, não tinha feito uso do seu direito constitucional
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de telefonar para sua família, apesar de ter tomado ciência de que poderia exerce-
lo, solicitou a um dos presentes na sala, que naquele momento estava lhe visitando,
o seu celular que estava na posse de um deles; QUE isso ocorreu por volta das
14:00h, aproximadamente; QUE certamente este fato deve estar registrado nas
câmeras da Delegacia de Dia, pois reparou que haviam várias no seu interior; QUE
então lhe foi autorizado pela autoridade policial, que fizesse uma ligação, esta que
foi para sua mãe, pessoa idosa, doente e que estava muito preocupada com o
declarante; QUE também consultou o grupo de WhatsApp, de parlamentares da sua
base política, a fim de ver se havia alguma novidade sobre a movimentação na
Câmara quanto a sua prisão; QUE haviam muitas pessoas na sala e neste momento,
como de costume, colocou os seus celulares no bolso e permaneceu com eles; QUE
não tinha qualquer intenção de burlar as regras, até porque após a ligação
permitida, não houve qualquer outra, ou seja, qualquer contato com pessoas fora da
unidade Policial; QUE espontâneamente abre mão do seu sigilo telefônico para que
possam verificar que realmente o declarante não efetuou qualquer ligação após
aquela autorizada; QUE sua intenção, mas que a ligação que fez, era acompanhar o
andamento e movimentação do seu grupo político; QUE nenhum Policial Federal ou
qualquer ourto servidor público facilitou ou permitiu que o decarante permanecesse
com seu celular enquanto custodiado na sede da Polícia Federal; QUE o que houve,
como já dito, foi a autorização da autoridade a policial para que o declarante fizesse
uma ligação; QUE precisou dos seus celulares porque não tem de cabeça os números
que iria ligar, precisando então acessar sua agenda; QUE não descumpriu nenhuma
norma ou praticou ilícito, já que todas as normas foram quebradas pela Suprema
Corte; QUE esta é a sua opinição.”

O Deputado Federal “abriu mão de seu sigilo telefônico”, entretanto, se negou a


fornecer as senhas de acesso dos aparelhos apreendidos. Apesar do Deputado afirmar que
um de seus visitantes, cujo nome não declinara, foi o responsável por lhe entregar os
aparelhos celulares, por volta das 14h do dia 17/02/2021, a análise das imagens, conforme
será exposto mais adiante, revelou ser inverídica essa assertiva, bem como a de que ainda
não havia feito contato com ninguém, para informar sobre a sua prisão. A comunicação
foi feita, na data de sua prisão.
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Há, por questões de segurança orgânica, câmeras de vigilância instaladas na


entrada desta Superintendência e em alguns locais no interior da Delegacia de Dia, a
DELDIA. Algumas delas estão instaladas em áreas de grande importância para a presente
apuração:

1- No corredor de circulação, que liga o alojamento feminino (local utilizado como


custódia excepcional para o Deputado DANIEL LUCIO DA SILVEIRA) à
recepção da Delegacia (que está fora de uso, já que a entrada oficial da Delegacia
fica por dentro do pátio do estacionamento, e que foi utilizada, excepcionalmente
como sala de visitas, durante a custódia do Deputado Federal);
2- Na própria recepção, que foi utilizada para o recebimento de visitas, por parte do
Deputado Federal custodiado.

Cabe esclarecer, conforme ressaltado na Informação de n.º 006-21, da lavra do


APF Zaneti e já acostada nos autos, que o acionamento da gravação das imagens se dá
por sensor de movimento presente nos locais onde as câmeras estão instaladas.

Foi determinado, pelo subscritor do presente que fosse feita a preservação e


análise das imagens das câmeras de vigilância, referentes a área de custódia do Deputado
Federal DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA, que englobou o cômodo da custódia
propriamente dita (alojamento feminino, que não possui câmeras em seu interior), o
corredor principal (que possuí uma câmera) e a sala da recepção (que foi utilizada, a partir
da manhã do dia 17/02/2021, por decisão do Delegado Plantonista da DELDIA, como
sala de visitas, a qual possui câmeras instaladas em seu interior).

A análise das imagens, feita pelo APF Zaneti e consubstanciada nas Informações
Policiais de números 005, 006 e 007-21, todas acostadas aos autos, revelou a seguinte
cronologia de fatos:
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1- Por volta das 01:31h da madrugada, o Deputado Federal DANIEL LÚCIO DA


SILVEIRA é apresentado ao Delegado Plantonista, o DPF Monteiro, pelo DPF
Bruno Simões, chefe da DRE, que integrou a equipe responsável pela prisão;

2- Pouco tempo depois, às 01:34h, o Deputado Federal é encaminhado, por agente


da DELDIA, até o cômodo do alojamento feminino, utilizado,
extraordinariamente, como local de custódia para o preso com prerrogativa
funcional;

3- Logo após o seu recolhimento no cômodo do alojamento feminino da DELDIA,


por volta das 02:02h, o Deputado Federal recebe a visita de sua advogada, que
conversou, reservadamente com ele, no quarto onde ele ficou, efetivamente,
custodiado (alojamento feminino). As imagens revelam que o DPF Monteiro
solicitou à advogada que deixasse sua bolsa e seu celular, os quais foram
colocados em cima do balcão da recepção da Delegacia;

4- Durante o período transcorrido entre a apresentação do preso na DELDIA e a


chegada da advogada, apareceram dois assessores do Deputado Federal, os
investigados PABLO DIEGO PEREIRA DA SILVA e MÁRIO SÉRGIO DE
SOUZA, os quais não tiveram acesso ao custodiado, naquela madrugada, mas
pediram para pernoitar na sala da recepção, onde aguardariam para poder
conversar com o Deputado na manhã do dia seguinte;

5- Desde o momento em que é conduzido para o alojamento feminino (o qual teria


ficado trancado, segundo o DPF Monteiro, Delegado Plantonista) até às 08:03h
da manhã do dia 17/02/2021, o Deputado Federal custodiado não saiu do cômodo,
tendo apenas recebido alimentação, por uma única vez, durante a madrugada. Tal
fato foi confirmado pela análise das imagens do corredor;
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6- Na saída, por volta das 02:51h, a advogada pegou os seus pertences, na sala da
recepção, e conversou um pouco com os assessores do Deputado federal, que
estavam no local, PABLO DIEGO PEREIRA DA SILVA e MÁRIO SÉRGIO DE
SOUZA;

7- O assessor MÁRIO SÉRGIO DE SOUZA passou a noite acordado, na sala da


recepção da DELDIA, aguardando o dia seguinte, para conversar com o Deputado
Federal custodiado. O assessor PABLO DIEGO PEREIRA DA SILVA e outros
três, que chegaram logo depois dos dois primeiros, deixaram as dependências da
DELDIA por volta das 04:39h. No seu depoimento, PABLO disse que retornou
para Petrópolis durante a madrugada, para pegar roupas para o Deputado Federal
custodiado;

8- As imagens do assessor MÁRIO SÉRGIO DE SOUZA, durante a madrugada do


dia 17/02/2021 na sala da recepção, revelaram que, pelo menos, um dos aparelhos
apreendidos no dia 18/02/2021 em poder do Deputado Federal, estava com aquele
assessor (MARIO), desde a prisão do Deputado e foi mantido em seu poder (do
assessor durante toda a madrugada do dia 17/02/2021). Esse aparelho celular, que
pertencia ao Deputado, foi colocado por ele, às 06:17h da manhã, em cima de uma
cadeira, ao lado dele (MARIO), como se o aparelho pertencesse a ele (imagens
constantes na página 03 da Informação 006/21, acostada nos autos);

9- Na manhã do dia 17/02/2021, quando seu advogado ANDRÉ BENIGNO RIOS


chega para visita-lo, por volta das 07:47h (imagem constante na página 04 da
Informação 006/21, acostada nos autos), o custodiado é retirado do cômodo
utilizado para a custódia e encaminhado por um agente para a sala da recepção,
que passou, por decisão da equipe que estava assumindo o plantão naquele dia, a
ser utilizada para recebimento de visita, por parte do preso (imagens constantes
na página 05 da Informação 006/21, acostada nos autos). Até esse momento, os
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aparelhos celulares ainda não haviam sido repassados para o Deputado Federal
custodiado;

10- A audiência do Deputado Federal custodiado com o seu advogado, ANDRÉ


BENIGNO RIOS, que não foi presenciada pelos agentes da DELDIA, em razão
do sigilo profissional, iniciou-se por volta das 08:04h na sala da recepção
desativada da DELDIA, onde já aguardava também o assessor parlamentar,
MÁRIO SÉRGIO, que passara a noite inteira no local (imagens constantes na
página 06 da Informação 006/21, acostada nos autos). Logo no início da audiência
com o advogado, o assessor MÁRIO SÉRGIO já entrega os aparelhos para o
Deputado Federal custodiado (imagens constantes na página 06 e 07 da
Informação 006/21, acostada nos autos). A audiência do Deputado com seu
advogado terminou por volta das 09:44h da manhã, sendo que, por volta das
08:21h, outros dois assessores do Deputado Federal chegaram na DELDIA, o
PABLO DIEGO e outro, os quais foram encaminhados para o mesmo cômodo, na
recepção (imagens constantes nas páginas 09 e 10 da Informação 006/21, acostada
nos autos);

11- Durante a audiência com o seu advogado, tanto o Deputado Federal quanto os
seus assessores são flagrados manipulados celulares, inclusive, os apreendidos no
dia 18/02/2021, no cômodo da custódia;

12- Por volta das 08:22h, o APF Aversa entra na sala e adverte os visitantes sobre a
proibição do uso de aparelhos celulares naquele local. Após esse fato, os presentes
colocaram os aparelhos na bancada da sala, voltando a manipulá-los, algum tempo
depois, de forma mais discreta. Por volta das 08:23h, o Deputado Federal
DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA é flagrado pelas câmeras colocando um dos
aparelhos, que lhe foram entregues pelo assessor MÁRIO SÉRGIO, embaixo da
sua perna, de forma a ocultá-lo (imagens constantes nas páginas 11 e 12 da
Informação 006/21, acostada nos autos). Às 09:40h, um dos celulares é devolvido
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para o Deputado Federal custodiado, pelo assessor PABLO, e em seguida o preso


o coloca, novamente, em baixo de sua perna e, logo em seguida, (imagens
constantes nas páginas 15, 16 e 17 da Informação 006/21, acostada nos autos) no
bolso traseiro de sua calça. Após essa manobra, de forma dissimulada, o Deputado
Federal custodiado, pega na bancada da recepção o carregador do aparelho e
também o coloca no bolso traseiro de sua calça. Às 09:45h, a audiência com o
advogado termina e o Deputado federal retorna para o cômodo utilizado
provisoriamente como custódia, com um dos aparelhos no bolso traseiro de sua
calça. O segundo aparelho ficou em poder do assessor DIEGO (imagens
constantes nas páginas 19 e 20 da Informação 006/21, acostada nos autos);

13- Ainda no dia 17/02/2021, por volta das 14:44h, o advogado ANDRÉ BENIGNO,
novamente, tem acesso ao preso, desta vez, no interior do cômodo da custódia. Às
15:07h, os dois saem do cômodo e se dirigem para a recepção, onde dois visitantes
os aguardavam. Esta nova audiência durou até as 16:13h, não havendo
manipulação de aparelhos celulares flagrada pelas imagens, conforme exposto na
página 21 da Informação 006/21, acostada nos autos;

14- Por volta das 16:47h, o Deputado Federal custodiado recebeu, novamente a visita
de seu advogado ANDRÉ BENIGNO RIOS e, naquela ocasião, também da
Deputada Federal Fabiana de Souza, que foi flagrada nas imagens entrando com
seu aparelho celular de forma dissimulada (imagens constantes nas páginas 22 e
23 da Informação 006/21, acostada nos autos). Durante essa audiência, com o
advogado ANDRÉ BENIGNO RIOS e a Deputada Federal Fabiana de Souza, o
custodiado recebeu, das mãos de um dos seus assessores, ainda não perfeitamente
qualificado, o seu segundo aparelho celular, por volta das 18:08h. as imagens
constantes nas páginas 25, 26 e 27 da Informação 006/21, acostada nos autos.
Revelam que, desta vez, o Deputado Federal escondeu o aparelho celular dentro
da calça. Pouco tempo depois, a audiência com o advogado se encerrou e o
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Deputado Federal entrou na sala do Delegado plantonista, seguido, logo depois,


pela Deputada federal Fabiana de Souza;

15- Por volta das 18:32h, o mesmo assessor responsável pela entrega do segundo
aparelho celular, chega na sala do Delegado Plantonista, onde estava o Deputado,
com o que pareceu ser comida, e ambos se dirigem até o cômodo do alojamento
feminino. Dois minutos depois, retornam para a sala do Delegado Plantonista,
onde já se encontrava também a Deputada Federal Fabiana de Souza;

16- No final da noite, às 19:58h, chega na DELDIA, o advogado MAURÍZIO


RODRIGUES SPINELLI, que passa aproximadamente dois minutos com seu
cliente no cômodo onde estava acautelado e deixa a Delegacia, na companhia da
Deputada Federal Fabiana de Souza. Por último, o assessor PABLO DIEGO
retorna à DELDIA e tem novo acesso ao Deputado federal no período de 20:06h
a 20:11h, no cômodo onde ele estava acautelado (alojamento feminino).

Acredita-se que o assessor do Deputado Federal DANIEL LÚCIO DA


SILVEIRA, responsável pela entrega do segundo aparelho celular, às 18:08h (imagens
constantes na página 25 da Informação 006/21, acostada nos autos), possa ser a pessoa de
RAFAEL FERNANDO RAMOS, conforme consta na Informação de n. º 007/21, também
acostada aos autos.

O restante das imagens captadas, desde a entrada do segundo aparelho celular, na


noite do dia 17/02/2021, foi submetido à mesma análise, pelos agentes desta Setor de
Inteligência e não foram identificadas imagens de relevância para o fato criminoso em
apuração no presente procedimento, ou seja, a entrada e manutenção dos aparelhos no
cômodo da custódia provisória do Deputado Federal DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA.

Apesar da relevante precariedade da custódia, que foi realizada de maneira


excepcionalíssima e sem muito tempo para planejamento, já que esta Superintendência
tomou conhecimento do mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal na
noite do dia 17/02/2021, as imagens analisadas não deixam dúvidas que houve um conluio
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entre o Deputado Federal custodiado e seus assessores, para a promoção da entrada dos
aparelhos no cômodo restrito à custódia do Deputado Federal.

Momento da entrega dos aparelhos, pelo assessor MARIO, na frente do advogado ANDRÉ
BENIGNO. Fato ocorrido, no dia 17/02/2021, por volta das 9:05h, na recepção da DELDIA,
utilizada, naquela ocasião, como sala de visitas, para o custodiado.

A imagem acima revela, inclusive, o primeiro momento no qual o Deputado


Federal custodiado teve acesso aos seus aparelhos, que ficaram com os seus assessores,
quando foi cumprida a sua prisão, na noite do dia 16/02/2021.

Os assessores PABLO DIEGO PEREIRA DA SILVA e MÁRIO SÉRGIO DE


SOUZA (sendo que o primeiro ocupa também a função de chefia de gabinete do Deputado
Federal custodiado), visitantes frequentes do Deputados, nas mais de 40 horas que esteve
custodiado na DELDIA, prestaram depoimento no dia 22/02/2021.

PABLO DIEGO PEREIRA DA SILVA declarou que:


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“QUE o presente termo de declarações está sendo lavrado fora do sistema Epol, pois
por problemas técnicos, o Sistema está indisponível, na presente data; QUE o
declarante foi informado que figura como investigado, no presente procedimento e,
portanto, tem o direito a permanecer em silêncio; QUE o declarante trabalha com o
Deputado Federal DANIEL LUCIO DA SILVEIRA, ocupando o cargo de chefe de
gabinete; QUE PERGUNTADO se esteve nesta Superintendência Regional todos os
dias nos quais o Deputado Federal esteve custodiado; QUE PERGUNTADO se teve
acesso ao Deputado Federal todos os dias, RESPONDEU QUE sim; QUE
PERGUNTADO se chegou a trazer algum objeto de fora, para o Deputado Federal
DANIEL LUCIO, RESPONDEU que só trouxe roupa e comida para ele; QUE
PERGUNTADO se as roupas e comidas foram revistadas pelos agentes,
RESPONDEU QUE sim, que foram; QUE PERGUNTADO se sofreu revista pessoal
pelos agentes, RESPONDEU QUE sim; QUE PERGUNTADO se o declarante
trouxe aos aparelhos celulares para o Deputado Federal, RESPONDEU QUE não é
que os celulares vieram com ele, desde a sua prisão; QUE PERGUNTADO se tinha
conhecimento de que o Deputado Federal foi revistado, quando foi apresentado na
DELDIA, RESPONDEU QUE não; QUE, neste momento, lhe foram mostrados dois
prints de imagens extraídas da câmera de vigilância da DELDIA, referentes à sala
da recepção, que foi usada como sala de visitas, no dia 17/02/2021; QUE lhe foi
PERGUNTADO quem são as pessoas nas imagens, tendo RESPONDIDO QUE são
o MÁRIO assessor, o advogado ANDRÉ RIOS e o Deputado Federal; QUE
PERGUNTADO se ANDRÉ RIOS é advogado do Deputado Federal, RESPONDEU
QUE sim; QUE PERGUNTADO se recorda-se do momento no qual o assessor
MÁRIO foi flagrado, pelas câmeras de vigilância entregando dois aparelhos
celulares para o Deputado Federal, RESPONDEU QUE não se recorda; QUE
PERGUNTADO quem era a outra pessoa que não aparece no print da imagem, mas
que estava na sala, RESPONDEU QUE acha que era o assessor RAFAEL; QUE
PERGUNTADO se o Deputado Federal pediu para o declarante ou para o outro
assessor lhe entregar os celulares, RESPONDEU QUE ele pediu apenas para fazer
uma ligação; QUE PERGUNTADO o porquê do Deputado Federal não ter realizado
nenhuma ligação e ter colocado o celular no bolso, RESPONDEU QUE não se
recorda desse fato; QUE lhe foi perguntado como os celulares podem ter sido
passados do assessor MÁRIO, para o Deputado, se nas imagens é o assessor quem
os entrega para o Deputado, RESPONDEU QUE não sabe dizer; QUE foi o
declarante quem retornou em Itaipava, na madrugada na qual o Deputado Federal
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foi preso, e voltou na manhã do dia seguinte, para o Rio de Janeiro, com as roupas
dele; QUE o assessor MARIO ficou aqui, aguardando; QUE PERGUNTADO,
novamente, se, quando esteve em Itaipava, não pegou os aparelhos para o Deputado,
RESPONDEU QUE não; QUE PERGUNTADO se recorda-se de alguma
intervenção, no dia 17/02/2021, de um agente da DELDIA, advertindo-os sobre a
proibição de uso de celulares na sala de visitas, RESPONDEU QUE não se recorda;
QUE deseja consignar que se recordou do que o agente falou; QUE o agente os
advertiu que, caso precisassem atender o telefone, teriam que sair da Delegacia e
atender a ligação do lado de fora; QUE PERGUNTADO se algum agente autorizou
o Deputado Federal a fazer uso do celular, RESPONDEU QUE não sabe dizer; QUE
a única informação que tem é que ele foi autorizado a fazer uma ligação.”

MÁRIO SÉRGIO DE SOUZA, por sua vez, declarou que:

“QUE deseja prestar depoimento assim mesmo; QUE o declarante é assessor do


Deputado Federal DANIEL LUCIO DA SILVEIRA; QUE o declarante
acompanhou na estrada, junto com o assessor PABLO, chefe de gabinete, as viaturas
da Polícia Federal, com as equipes responsáveis pela prisão, na madrugada do dia
16 para o dia 17/02/2021; QUE o carro, no qual se deslocaram de Petrópolis para o
Rio de Janeiro, é do chefe de gabinete, PABLO; QUE o declarante passou toda a
madrugada nesta Superintendência, tendo saído no final da manhã do dia
17/02/2021; QUE o declarante não esteve nesta Superintendência, visitando o
Deputado no dia 18/02/2021; QUE PERGUNTADO se foi o declarante que ficou com
os telefones celulares do Deputado Federal, na noite em que foi preso; QUE
PERGUNTADO se o declarante também faz uso desses aparelhos, RESPONDEU
QUE não, que são aparelhos telefônicos de uso exclusivo da Deputado, mas como ele
foi preso e custodiado, os deixou com o declarante; QUE o Deputado chegou a deixar
a senha de acesso ao Iphone, anotada num pedação de papel, para o caso deles
(assessores) precisassem pegar algum contato na agenda; QUE PERGUNTADO
quem é o responsável pelas postagens feitas no perfil de Twitter do Deputado
Federal DANIEL LUCIO DA SILVAIRA, RESPONDEU QUE o assessor de
comunicação do gabinete tem acesso a todas as senhas de acesso dos perfis de redes
sociais do Deputado; QUE na madrugada na qual o Deputado foi preso, os dois
aparelhos dele ficaram com o declarante, que permaneceu na recepção da DELDIA;
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QUE PERGUNTADO o porquê de ter passado os telefones celulares para o


Deputado Federal, RESPONDEU QUE não se recorda da situação e que o
declarante havia deixado os telefones, ao seu lado, numa cadeira, até de manhã;
QUE, neste momento, lhe foram mostrados dois prints de imagens extraídas da
câmera de vigilância da DELDIA, referentes à sala da recepção, que foi usada como
sala de visitas, no dia 17/02/2021; QUE o declarante se reconhece nas imagens e
afirma que apenas passou o aparelho para o Deputado, para que ele pudesse fazer
uma ligação; QUE PERGUNTADO se algum policial chegou a autorizar o
declarante a passar os aparelhos telefônicos para o Deputado ou se algum policial
deixou o Deputado falar nos aparelhos que estavam com o declarante,
RESPONDEU QUE não e quem nem mesmo se recorda direito dessa situação; QUE
se recorda que, quando trocou a equipe de plantão, na manhã do dia 17/02/2021, o
declarante e os demais visitantes do Deputado Federal foram orientados por um dos
policiais da equipe a não usar o telefone naquele espaço, na receptação da Delegacia
e disse que, caso precisassem fazer ligação, teriam que sair da Delegacia; QUE,
novamente, PERGUNTADO sobre o ato do declarante em passar o celular para o
Deputado, RESPONDEU que não se recorda, mesmo com os prints das imagens,
mas que pode dizer que os aparelhos ficaram com o declarante a noite inteira, sobre
uma cadeira que estava ao seu lado; QUE a pessoa de terno, que aparece na imagem,
é o Advogado do Deputado Federal, o Dr. ANDRÉ RIOS; QUE PERGUNTADO
quais são os dois terminais utilizados pelo Deputado Federal, RESPONDEU que são
24 98854-6792 e 24 99853-4824; QUE PERGUNTADO se receberam alguma
orientação sobre a alimentação do Deputado Federal, RESPONDEU QUE foi dito
que poderiam levar alimentação, pois a Policia não forneceria; QUE, inclusive,
deseja esclarecer que a refeição recebida na madrugada do dia 16 para o dia
17/02/2021, apesar de aparecer numa embalagem de pizza se tratava frango
empanado com batata frita, que foi pedido por outro assessor, de prenome
RAFAEL, no aplicativo do Ifood ; QUE PERGUNTADO se ainda possuía a senha
de acesso de um dos aparelhos, que ficaram com o declarante, no dia da prisão,
RESPONDEU QUE não, que jogou o papel fora e que não chegou a acessar o
aparelho.”

Ambos foram cientificados que estavam sendo ouvidos como investigados, tendo
em vista que a análise prévia das imagens já indicava a participação de ambos na entrega
dos aparelhos, para o Deputado Federal DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA, ainda na
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manhã do dia 17/02/2021, conforme já mencionado. Mesmo assim, os dois decidiram


apresentar suas versões dos fatos.

Ambos negaram terem sido os responsáveis pela entrega dos aparelhos,


apresentando, no entanto, versões contraditórias entre eles, em especial, após terem sido
mostradas imagens extraídas do vídeo gravado pelas câmeras de vigilância da DELDIA,
na manhã do dia 17/02/2021.

Fotografia extraída do vídeo da câmera de vigilância da recepção (utilizada como sala


de visitas).

PABLO DIEGO chegou a dizer que o próprio Deputado Federal teria entrado na
custódia com os dois aparelhos, na noite de sua prisão em flagrante, o que ficou constato
ser inverídico já que as imagens comprovam que os aparelhos estavam na posse dos
assessores e foram repassados por eles, durante duas audiências, de caráter sigiloso, com
o advogado ANDRÉ BENIGNO, ocorridas na manhã e na tarde do dia seguinte
(17/02/2021).

As imagens também revelaram que o próprio Deputado Federal custodiado teve


participação fundamental no ingresso dos aparelhos celulares apreendidos, no cômodo
onde ficara custodiado, já que fora ele mesmo quem escondera os telefones no bolso de
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sua calça, na primeira ocasião, e dentro da calça, na segunda oportunidade, aproveitando-


se de audiências privadas com seu advogado.

O advogado ANDRÉ BENIGNO RIOS, que assistia o Deputado Federal, nos dois
momentos em que os aparelhos foram entregues a ele e dissimulados pelo próprio, para
que pudesse levá-los para o interior do cômodo de custódia, também foi intimado, mas
não compareceu na data marcada, dia 22/02/2021.

Foram realizadas oitivas também dos Delegados chefes das três equipes de
plantão, pelas quais o custodiado passou, desde a madrugada do dia 17 até o final da tarde
do dia 19/02/2021, quando, finalmente foi transferido para o Batalhão Especial Prisional
da PMERJ. Além deles foram ouvidos três agentes, que atuaram na equipe do DPF
Alfredo e aparecem nas imagens analisadas, por realizarem ações intervencionais quanto
ao uso de aparelhos celulares na sala utilizada como “sala de visitas” (no dia em que a
passagem dos aparelhos para o Deputado Federal ocorreu), e outros assuntos, bem como
o Delegado Regional Executivo desta Superintendência, o DPF João Luiz.

Cabe ressaltar que, a partir dos depoimentos dos Delegados chefes das equipes de
plantão da DELDIA, foi possível constatar que, na madrugada de apresentação do
custodiado, pela equipe responsável pela prisão, na Delegacia de Dia, o chefe da equipe,
o DPF Monteiro, optou por utilizar o próprio cômodo da custódia (alojamento feminino),
que fora vistoriado previamente por eles, para que o custodiado pudesse receber a sua
advogada, que compareceu na Unidade, logo depois da chegada do preso. Nas demais
equipes de plantão, devido à ausência de câmeras de vigilância dentro do alojamento (por
razões de privacidade dos agentes que utilizam o espaço do alojamento), optou-se pela
realização das visitas no ambiente da recepção, que está fora de uso (já que a entrada
oficial da Delegacia está situada na porta de acesso ao estacionamento). O DPF Victor,
inclusive, esclareceu que, durante o seu plantão, houve uma manutenção, previamente
programada, na sala da recepção da DELDIA, então tomou a decisão de fazer uso de sua
própria sala, para as visitas ao Deputado Federal DANIEL DA SILVEIRA.
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Os depoimentos dos policiais esclareceram a metodologia de custódia,


excepcionalmente, estabelecida para o Deputado Federal, bem como pontuaram a falta de
estrutura daquela Unidade, a DELDIA, para a realização de custódia de preso mais
delongada, ou seja, que ultrapassem um plantão de 24 horas.

Foi esclarecido pelos policiais que o cômodo utilizado para custódia se tratava do
alojamento feminino, em razão da existência do banheiro privativo, tendo que ser
rapidamente adaptado, ainda na noite do dia 16/02/2021 (somente após a prisão do
Deputado Federal, a equipe de plantão, tomou conhecimento de que o preso seria
apresentado naquela Unidade), para servir de carceragem provisória. Também foi relatada
a ausência de revista pessoal nos assessores, advogados e parlamentares, que visitaram o
Deputado Federal (pela ausência de detectores de metais na Delegacia), assim como a
ausência de um protocolo predefinido para custódia de presos naquela Unidade, situação
excepcionalíssima.

No entanto, a existência das câmeras no local improvisado para recebimento das


visitas, a sala de recepção da Delegacia (que não é utilizada para tal finalidade), foi
fundamental para elucidação dos fatos objeto de apuração no presente, ou seja, a forma
como os dois aparelhos telefônicos entraram no cômodo onde o Deputado Federal
DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA estava acautelado.

DO DIREITO E CONCLUSÃO:

Os dispositivos legais, objetos da presente investigação, são:

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de


cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio
ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007).

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.


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Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a


entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar,
sem autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº
12.012, de 2009).

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº


12.012, de 2009).

Os depoimentos colhidos e a análise das imagens das câmeras de vigilância da


Delegacia de Plantão (DELDIA), realizados até o presente momento da investigação, não
são suficientes para indicar o envolvimento intencional (doloso) de Policiais daquela
Unidade (DELDIA) no ingresso ou manutenção dos aparelhos celulares no interior
daquela Unidade. Os analistas não encontraram, até o presente momento, nenhuma
imagem que comprove ou indique, claramente, que os Policiais da equipe de custódia do
dia 17/02/2021, ou do dia 18/02/2021, tinham ou tiveram conhecimento da entrada e do
uso dos aparelhos celulares, por parte do Deputado Federal DANIEL LUCIO DA
SILVEIRA, na posse de quem os aparelhos foram encontrados e arrecadados pelos
policiais deste Setor (por volta das 12:10h, do dia 18/02/2021).

Apesar de se tratar de uma Delegacia, a DELDIA, naquela ocasião, entre a


madrugada do dia 17 e o final da tarde do dia 18/02/2021, excepcionalmente, fora,
indubitavelmente, utilizada como estabelecimento prisional, para a custódia provisória do
Deputado Federal DANIEL LUCIO DA SILVEIRA, perfazendo-se o elemento objetivo
do tipo penal previsto no artigo 349-A do Código Penal.

As imagens das câmeras de vigilância instaladas na DELDIA e em seu perímetro,


que foram devidamente analisadas pelo APF Zaneti, com o auxílio de outros policias
deste mesmo Setor (Informações Policiais acostadas nos autos), não deixam dúvidas
acerca da autoria da entrada e entrega dos aparelhos celulares apreendidos para o
custodiado DANIEL LUCIO DA SILVEIRA, ocorridas no dia 17/02/2021, por volta das
09:05h e das 18:08h, sendo a manhã e a tarde seguintes a sua prisão em flagrante.

Isso é, as imagens captadas deixam evidente que os aparelhos lhe foram entregues
pelos seus assessores MARIO SÉRGIO DE SOUZA, PABLO DIEGO PEREIRA DA
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SILVA e outro ainda não perfeitamente qualificado, mas provavelmente se tratando de


RAFAEL FERNANDO RAMOS (Informação Policial de n. º 007/21, acostada nos
autos), os quais, provavelmente, se aproveitaram da presença, de comum acordo com ele
ou não, do advogado ANDRÉ BENIGNO RIOS na sala de visitas, para fazer a entrega
dos aparelhos.

As imagens revelam, claramente, que o advogado ANDRÉ BENIGNO RIOS viu,


nas duas ocasiões, os aparelhos sendo entregues para o Deputado preso provisoriamente,
sendo certo que a sua presença na visita a torna uma audiência privada com o cliente
custodiado, ou seja, a garantia do sigilo da conversa entre o advogado e o cliente,
possivelmente, foi utilizado pelos assessores do Deputado, para entrada e entrega dos
aparelhos.

Ocorre que as imagens também deixam evidente a participação do próprio


Deputado Federal DANIEL LUCIO DA SILVEIRA, na conduta descrita no artigo 349-
A do Código Penal, especificamente no núcleo do verbo “promover”, já que o custodiado
recebe os aparelhos das mãos de seus assessores, sendo um deles o responsável pela
cautela dos mesmos, e os esconde em sua calça, antes de retornar para o alojamento, onde
estava preso, de forma a cuidar para que nenhum policial o visse, no intuito claro de
ocultar a guarda dos telefones até o local da custódia definitiva (alojamento feminino).
Ficou explícito que houve um conluio entre o Deputado custodiado e seus assessores, que
ficaram com a posse dos aparelhos, quando da prisão do parlamentar.

Tendo em vista a constatação de participação nos atos criminosos investigados de


sujeito com foro por prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal, o Deputado
Federal que se encontrava custodiado na DELDIA, cabe consignar que o subscritor do
presente não mais possui atribuição para prosseguimento da investigação, devendo,
portanto, encaminhar os autos, no estado em que se encontra, para o Supremo Tribunal
Federal, para que, caso entenda pela efetiva participação do Deputado Federal, prossiga
na condução do procedimento investigatório, que, nesse caso, seria convertido para
Inquérito Judicial.
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Cabe ainda registrar que os dois aparelhos telefônicos apreendidos no presente


inquérito policial foram, por determinação do Exmo. Ministro do Supremo Tribunal
Federal Alexandre de Moraes, por meio de decisão proferida nos autos do INQUÉRITO
4.781 DISTRITO FEDERAL, encaminhados ao Instituto Nacional de Criminalística, em
Brasília, no dia 22/02/2021, para perícia de desbloqueio e extração conteúdo, com
posterior remessa do laudo diretamente para o Supremo Tribunal Federal. Os referidos
aparelhos, portanto, não acompanharão o presente inquérito policial.

Os arquivos das imagens registradas pelas câmeras de vigilância da DELDIA, que


constituem elemento de prova fundamental na presente investigação, foram gravados em
mídia própria (HD externo, em razão do tamanho dos arquivos) e seguirão anexos ao
presente procedimento. Não foi realizada revisão das imagens, em razão da constatação
inequívoca de ausência de atribuição para prosseguimento na condução da investigação.

Cópias integrais do presente inquérito e das imagens gravadas também serão


encaminhadas à Corregedoria Regional, para apreciação do bojo do procedimento de
natureza disciplinar de atribuição daquele órgão correcional.

Dessa forma, encaminho o presente inquérito policial, para apreciação e


conhecimento do Corregedor Regional, solicitando, posterior remessa ao Superintendente
Regional, a fim de formalizar o encaminhamento ao egrégio Supremo Tribunal Federal.

Rio de Janeiro, 01 de março de 2021.

_______________________________
Jaime Candido da Silva Junior
Delegado de Polícia Federal
Chefe do SIP/SR/PF/RJ

___________________________
Marcelo André Côrtes Villela
Delegado de Polícia Federal
Chefe do NAI/COR/SR/PF/RJ

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