Download as pdf or txt
Download as pdf or txt
You are on page 1of 68

CADERNOS DE Ó PTICA O FTÁLMICA

MATERIAIS & TRTATMENTOS


CADERNOS DE ÓPTICA OFTÁLMICA

© Essilor International

Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Author
Dominique Meslin
Essilor Academy Europe

IF YOU WISH TO ORDER A PRINTED VERSION OF THIS FILE

Click Here

www.essiloracademy.eu

GENERAL CONDITIONS OF USE


of the
Essilor Academy Europe Publications
ESSILOR ACADEMY EUROPE ACADEMY EUROPE has developed a Publication called
“Materials & Treatments”

Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France
All rights reserved – Do not copy or distribute

(hereinafter the “Publication”)

1. The Publication and all its content is the property of ESSILOR may not use any trademark, service mark or other intellectual property
ACADEMY EUROPE, its affiliates, or other third parties holding the appearing in the Publication, or frame or incorporate into another
relevant right (“Licensors”) and is protected by copyright, trademark document or other medium any of the content of the Publication,
and other intellectual property laws. No right or licence can be granted without the prior written consent of ESSILOR ACADEMY EUROPE.
for any of the aforementioned elements without the written agreement
of ESSILOR ACADEMY EUROPE, its affiliates or Licensors. Although 6. The Licensee is not authorised to modify the Publication without
ESSILOR ACADEMY EUROPE makes the Publication information ESSILOR ACADEMY EUROPE’s prior written approval.
freely accessible, ESSILOR ACADEMY EUROPE does not intend to
give up its rights, or anyone else’s rights, to the Publication and any 7. The Licensee shall not copy nor translate in whole or in part the
materials appearing therein. content of the Publication without the express written consent of
ESSILOR ACADEMY EUROPE.
2. ESSILOR ACADEMY EUROPE accepts to grant a non exclusive,
non transferable license to use the Publication upon the General 8. The Licensee shall not remove any proprietary, copyright or
Conditions set forth hereinafter to the Licensee, provided that such trademark legend from the Publication.
Licensee has :
a. recorded its name, e-mail address and other personal details 9. As a condition for the use of the Publication, the Licensee war-
and rants to ESSILOR ACADEMY EUROPE that he/she will not use the
b. has hereby expressly accepted the present General Conditions Publication for any purpose that is unlawful or prohibited by these
of Use, as a condition precedent to downloading the Publication terms, conditions and notices.
on ESSILOR ACADEMY EUROPE web site.
10. The Publication is provided on an “As Is basis”:
3. The Licensee acknowledges that ownership of and title in and all a. The Licensee acknowledges that no representation or warranty,
intellectual property rights in the Publication are and shall remain in express or implied, is made by ESSILOR ACADEMY EUROPE
ESSILOR ACADEMY EUROPE its affiliates or Licensors. The Licensee with respect to the truth, accuracy, sufficiency, absence of de-
acquires only the right to use the Publication and does not acquire fect or infringement of third parties rights, completeness or
any ownership rights or title in or to the Publication and any materials reasonableness of the Information displayed in the Publication
appearing therein. b. If the Licensee is dissatisfied with any of the contents of the
Publication, or any of these terms of use, the Licensee’s sole
4. The reproduction or downloading of the Publication is authorised and exclusive remedy is to discontinue using the Publication.
solely for informational purpose in the context of personal and private
use; any reproduction and use of copies made for any other purpose 11. APPLICABLE LAW
is expressly prohibited. THESE GENERAL CONDITIONS OF USE ARE GOVERNED BY,
INTERPRETED AND CONSTRUED IN ACCORDANCE WITH THE
5. The Licensee may not reproduce the Publication or any part LAWS OF FRANCE, BY THE FRENCH COURTS ATTACHED TO THE
thereof without ESSILOR ACADEMY EUROPE’s consent. The Licensee PARIS COURT OF APPEAL.

ISBN 979-10-90678-27-9

9 791090 678279

Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Índice
Introdução

Índice
p.5

1 Espessura e Leveza
A Espessura p.6
1) Efeito do índice de refracção do material
2) Efeito da asferização das superfícies
3) Efeito da espessura de surfaçage
B Leveza p.8

Materiais Orgânicos e Minerais

MATERIAIS & TRATAMENTOS


A Materiais Orgânicos p.9
1) Materiais orgânicos de índice corrente
2) Materiais orgânicos de médio índice
3) Materiais orgânicos de alto índice e muito alto índice
B Materiais Minerais p.14
1) Materiais minerais standard
2) Materiais minerais de alto índice
Suplemento: Princípios da fabricação de lentes orgânicas e minerais p.15

2 Transparência e Durabilidade
A Cor Aparente do Material p.20
B Cromatismo do Material p.21
1) Cromatismo nas lentes oftálmicas p.21
2) Efeitos do cromatismo na visão p.22
C Tratamento de protecção aos riscos p.23
1) Princípios do tratamento de protecção aos riscos p.24
2) Aplicação dos tratamentos de protecção aos riscos p.25
Suplemento : Caracterização da abrasão-riscos,
historial dos tratamentos de protecção aos riscos,
medição e controlo da eficácia anti-abrasão p.26

D Tratamento Anti-Reflexos
1) Diferentes tipos de reflexão da luz e respectivos efeitos p.28
Suplemento : Benefícios visuais dos tratamentos anti-reflexos p.30

2) Princípios do tratamento anti-reflexos p.32


3) Caracterização e resultados dos tratamentos anti-reflexos p.33
Suplemento : O sistema colorimétrico L*, a*, b*; franjas de interferência
na superfície das lentes orgânicas de alto índice p.34

4) Aplicação dos tratamentos anti-reflexos p.36

E Tratamentos Anti-Sujidade e Anti-Poeira


1) Tratamento anti-sujidade p.37
2) Tratamento anti-poeira p.38
Suplemento : Tecnologia de fabrico dos tratamentos anti-reflexos,
anti-sujidade e anti-poeira p.39

3
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Índice
Índice

3 Resistência e Protecção
A Resistência aos Choques
1) Mecanismo de ruptura p.42
2) Normas de resistência aos choques p.43
B Protecção contra a Luz
1) Necessidade de protecção dos olhos contra as radiações solares p.45
2) Lentes filtrantes em geral p.46
Suplemento : Caracterização da Transmissão de uma lente oftálmica p.48
MATERIAIS & TRATAMENTOS

3) Lentes filtrantes de cor fixa p.50


a) Lentes solares
b) Lentes filtrantes dos UV e da luz azul
c) Lentes polarizadoras
d) Filtros especiais
Suplemento : Tecnologia de fabrico das lentes filtrantes
com transmissão fixa p.54

4) Lentes filtrantes de cor variável p.56


a) Princípio geral do fotocromatismo
b) Fotocromatismo de lentes orgânicas
Suplemento : Caracterização das propriedades
das lentes fotocromáticas p.58

b) Fotocromatismo de lentes orgânicas


c) Fotocromatismo de lentes minerais
Suplemento : Tecnologia de fabrico das lentes filtrantes
com transmissão variável p.61

4 Estética e Moda
A Curvaturas p.62

B Colorações p.63

C Reflexos p.63

Conclusão p.64

Anexo : Memorando acerca da natureza e estrutura da matéria p.65

4 3
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Introdução

Introdução
Os materiais e os tratamentos são os elementos constituintes fundamentais das lentes oftálmicas: asseguram a correcção
óptica e proporcionam conforto visual. Mais precisamente, os materiais em combinação com a geometria das superfícies
criam a função óptica da lente, e os tratamentos contribuem para o conforto visual por conferirem às lentes múltiplas
propriedades. Em conjunto, visam tornar as lentes correctoras quase imperceptíveis para os portadores.

Nas últimas décadas, quer os materiais quer os tratamentos sofreram profundas evoluções: os materiais orgânicos
substituíram os minerais, os tratamentos de protecção aos riscos e anti-reflexos generalizaram-se, e surgiram novos ma-
teriais e tratamentos.

Actualmente, as lentes oftálmicas têm uma estrutura muito complexa, pois resultam da sobreposição de um material e
de uma série de tratamentos, cada um dos quais correspondendo a uma necessidade específica: espessura mínima,
leveza, transparência, durabilidade, resistência, protecção, estética… Assim, uma lente oftálmica pode integrar cerca de
vinte camadas muito finas depositadas nas suas faces, convexa e côncava (Figura 1).

MATERIAIS & TRATAMENTOS


Materiais e tratamentos formam um todo indissociável: o material tem como função essencial assegurar a correcção
óptica, mas serve também de suporte aos diversos tratamentos. O estudo dos materiais é portanto inseparável do estudo
dos tratamentos e, inversamente, os tratamentos não podem ser estudados independentemente dos materiais aos quais
se associam. Por isso, «Materiais & Tratamentos» foram aqui reunidos num único caderno.

Com o objectivo de fornecer uma síntese estruturada, todas as noções apresentadas neste caderno são primeiro
abordadas do ponto de vista das necessidades do portador de lentes e os elementos técnicos são depois considerados
como respostas a tais necessidades. Assim, este caderno apresenta quatro partes:
I) Espessura e Leveza
II) Transparência e Durabilidade
III) Resistência e Protecção
IV) Estética e Moda
Em cada um destes pontos, descrevem-se primeiro as necessidades e expectativas dos portadores, e depois apresen-
tam-se as técnicas de concepção e fabrico aplicadas.

Este volume «Materiais & Tratamentos» da colecção dos «Cadernos de Óptica Oftálmica» tem por objectivo apresentar
de forma sintética as noções essenciais de composição e concepção interna das lentes. Constitui um convite para uma
viagem aliciante à essência das lentes oftálmicas.

Anti-sujidade

Anti-reflexos

Protecção
aos riscos

Anti-choque
© Essilor International

Coloração
(opcional)

Material

Figura 1: Estrutura de uma lente oftálmica.

5
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
1. Espessura e Leveza
Desde o início da existência de lentes oftálmicas, os fabricantes tentaram incessantemente tornar as lentes sempre mais finas e mais leves
para corresponder às expectativas dos portadores. Assim, os índices de refracção dos materiais tornaram-se mais elevados, as superfícies
Espessura

das lentes foram asferizadas, a surfaçage das lentes visou sempre a espessura mínima e, sobretudo, os pesados materiais minerais foram
e Leveza

substituídos por materiais orgânicos muito leves.


Efectivamente, para produzir lentes simultaneamente estéticas, porque finas, e confortáveis, porque leves, é necessário combinar muitos
parâmetros. Examinemos em detalhe os que reduzem a espessura e depois os que conferem leveza.

A Espessura
A espessura de uma lente resulta da combinação de diâmetro 65 mm, a utilização de um material de índice 1.6, em
3 factores: índice de refracção do material, asferização das vez de um material de índice 1.5, permite reduzir a espessura
superfícies e espessura de surfaçage. no bordo em 1,5 mm (7,5 mm versus 9,0 mm), com uma
espessura no centro idêntica. A asferização acrescenta uma
redução complementar de 0,4 mm e torna a lente ligeiramente
1. Efeito do índice de refracção do material mais plana. A surfaçage para espessura mínima permite ganhar
É o principal factor de redução da espessura de uma lente. Para ainda 0,8 mm (1,2 mm versus 2,0 mm). Globalmente, a redução
uma dada potência, quanto mais elevado o índice de refracção de espessura é de 2,7 mm (6,3 mm versus 9,0 mm), ou seja, de
do material, mais fina é a lente. Mais precisamente, quanto mais 30%.
alto o índice, maior a capacidade do material para desviar os
MATERIAIS & TRATAMENTOS

raios luminosos, menor a curvatura necessária da face convexa e


da face côncava para produzir uma dada potência óptica e, por
consequência, mais fina e plana é a lente.

Índice de refracção – definição


Caracteriza a velocidade de propagação da luz num meio
transparente relativamente à velocidade de propagação desta no
vácuo. Traduz, pois, a medida da capacidade de refracção dum meio
transparente, ou seja, da capacidade de desvio da luz no limite da
separação entre dois meios (dioptria). Portanto, fornece uma
avaliação da capacidade do material para produzir um efeito óptico.
O índice de refracção de um meio transparente é a razão
n=c/v
da velocidade de propagação da luz no vácuo (c) e da velocidade 1) Efeito do índice de refracção
de propagação da luz nesse meio (v).
Este índice é um número abstracto, sempre superior a 1, que
quantifica o poder de refracção do meio: quanto mais elevado
o índice de refracção, maior o desvio de um feixe luminoso ao
passar do ar para esse meio.
Os índices de refracção dos materiais utilizados em óptica
oftálmica variam entre 1.5, no caso de materiais mais
tradicionais, e 1.76 (matéria orgânica) ou 1.9 (matéria mineral),
no caso dos materiais mais recentes (ver quadro de materiais). 2) Efeito da asferização

2. Efeito da asferização das superfícies


A asferização das superfícies é um factor indirecto de redução
da espessura: permite produzir lentes mais planas e
consequentemente mais finas. Mais precisamente, a asferização
permite utilizar bases – ou curvaturas da face convexa – mais
planas, sem alteração das qualidades ópticas da lente.
No caso das lentes convexas, a flecha da face convexa
(ou seja, a sua «altura») torna-se assim menor e a espessura no 3) Efeito da espessura de surfaçage
© Essilor International

centro da lente pode ser ligeiramente reduzida por aproximação


da face côncava; além disso, o «achatamento» global da lente
reforça a impressão de redução da espessura. No caso das
lentes côncavas, naturalmente planas, o efeito da asferização na
espessura é menor mas ainda significativo.
Esta asferização «óptica» não deve ser confundida com a
asferização «geométrica», espécie de «abatimento» periférico por
vezes efectuado nos bordos das lentes de forte potência e que Figura 2a: Efeitos do índice de refracção (1), da asferização (2) e da
depende mais da geometria do que da óptica… espessura de surfaçage (3) no caso de uma lente com potência -6.00 D.

3. Efeito da espessura de surfaçage


Um factor importante de redução da espessura de uma lente reside
nas possibilidades de surfaçage.
As condicionantes variam consideravelmente em função das
propriedades mecânicas do material – rigidez e solidez: a espessura
mínima no centro de uma lente côncava pode variar entre 1,0 mm
e mais de 2,0 mm, consoante o material e a potência; do mesmo
modo, a espessura mínima no bordo de uma lente convexa, no ponto
mais fino, pode variar entre menos de 0,5 mm e mais de 1,0 mm.

6
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Espessura
e Leveza
Identicamente, a redução da espessura no centro de uma lente Por outro lado, a espessura da lente varia também em função
com uma potência de +4.00 D e diâmetro 65 mm, obtida do tipo de montagem a efectuar:
devido ao material de índice 1.6, é de 0,6 mm; - para montagem em armação com aro completo, é
a redução complementar resultante da asferização é de 0,2 mm aconselhável uma espessura mínima no bordo de 0,8 mm por
e é acompanhada de uma significativa diminuição da curvatura causa da biselagem da lente;
da lente; finalmente, a surfaçage visando espessura mínima reduz
mais 0,5 mm. No total, a redução de espessura é de 1,3 mm - para uma montagem tipo «Nylor», a espessura mínima no
(4,1 mm versus 5,4 mm), ou seja, cerca de 25%. bordo necessária à ranhuragem da lente é de 1,6 mm no caso
da utilização de fio de nylon e de 2,2 mm para fio de metal;
- para montagem mediante perfuração, a espessura mínima

MATERIAIS & TRATAMENTOS


requerida nos pontos a perfurar é de 1,5 mm para uma lente em
policarbonato, 1,8 mm para uma lente de alto índice e 2,3 mm
para uma lente em CR39 tradicional. Note-se que estes são
valores mínimos a respeitar obrigatoriamente, e que geralmente
é aconselhável acrescentar-lhes 0,2 mm ou 0,3 mm.

Por fim, sendo a espessura relevante a das lentes cortadas, a escolha


da armação por parte do óptico e a optimização da espessura das
lentes por parte do fabricante são importantes. Para obter lentes
de espessura mínima, deve optar-se pela armação que minimizar o
diâmetro da lente necessário para a centragem, ou seja, a armação
deve ser pequena, de formato arredondado e com uma cota
próxima do valor da distância pupilar do portador. Por outro lado,
1) Efeito do índice de refracção as lentes devem ser «pré-calibradas», ou seja, devem ter uma
espessura calculada e minimizada em função do formato exacto da
armação e da centragem das lentes: esta técnica é particularmente
eficaz para reduzir a espessura das lentes convexas.

2) Efeito da asferização © Essilor International

3) Efeito da espessura de surfaçage


© Essilor International

Figura 3: Efeito da pré-calibragem na espessura das lentes.

Resumindo, a espessura de uma lente resulta da combinação de


vários factores: a utilização de um material de índice elevado permite
Figura 2b: Efeitos do índice de refracção (1), da asferização (2) e da
reduzir a espessura em vários milímetros, o recurso à asferização
espessura de surfaçage (3) no caso de uma lente com potência +4.00 D.
origina menos algumas décimas de milímetro, e a minimização da
espessura de surfaçage pode ainda retirar algumas décimas. No
total, entre uma lente esférica de índice 1.5 e uma lente asférica de
índice 1.74, a espessura é em média reduzida em cerca de 50%.
Utilizando um material de índice de refracção ainda mais elevado Por outro lado, uma selecção criteriosa da armação e a pré-
e superfícies asferizadas, é evidente que a redução de espessura calibragem das lentes têm efeito cumulativo em relação aos efeitos
será ainda mais significativa: com um índice 1.74, e em relação a precedentes e permitem uma redução suplementar de cerca de um
um índice 1.5, a redução será de 3,8 mm (5,2 mm versus 9,0 mm)
no caso da lente de -6.00 D, e de 2,7 mm (2,7 mm versus 5,4 mm) milímetro. Assim, a técnica e a experiência prática conjugadas do
no caso de +4.00 D, ou seja, uma redução de cerca de 50%. Além fabricante e do óptico permitem oferecer aos portadores lentes mais
disso, uma selecção criteriosa da armação e a pré-calibragem finas e portanto mais estéticas.
(precal) das lentes permitem também reduzir a espessura.

7
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Espessura
e Leveza

B Leveza
A leveza de uma lente resulta da combinação da sua espessura a) Materiais orgânicos:
e da leveza do material utilizado no seu fabrico. Mais Índice
Designação Constringência Filtração
precisamente, é a combinação do volume da lente e da Tipo
Comercial
de Refracção
(ve / vd)
Densidade
UV
(ne / nd)
densidade do material que determina o peso da lente.
O volume da lente depende da geometria das suas superfícies, Índice Corrente Orma® (Essilor) 1,502 / 1,500 58 / 58 1,32 355 nm
do formato e das dimensões do calibre da armação e da
espessura necessária para assegurar a robustez da lente e
Médio Índice Airwear® (Essilor) 1,591 / 1,586 31 / 31 1,20 385 nm
permitir a sua montagem (espessura mínima no centro das
lentes côncavas ou no bordo das lentes convexas). Ormix®/
MATERIAIS & TRATAMENTOS

Médio Índice 1,596 / 1,592 41 / 42 1,31 400 nm


(Essilor)
A densidade depende da natureza do material e da sua
composição química, e varia consideravelmente: desde 1,1 no
Stylis®
caso dos materiais orgânicos mais leves, até cerca de 4,0 no Alto Índice (Essilor)
1,665 / 1,660 32 / 32 1,36 400 nm
caso dos materiais minerais mais pesados (ver quadro de
materiais). Em geral, quanto mais elevado o índice de refracção Muito Lineis®
1,734 / 1,728 33 / 33 1,47 400 nm
de um material, maior é a sua densidade, porque o aumento Alto Índice (Essilor)
deste índice resulta da introdução de átomos pesados na
estrutura química do material.
b) Materiais minerais:
Portanto, obtêm-se lentes mais leves através de uma melhor
combinação da espessura da lente e da leveza do material, ou Designação Índice Constringência Filtração
Tipo de Refracção Densidade
seja, por meio da optimização simultânea da espessura (índice Comercial (ne / nd) (ve / vd) UV
de refracção + asferização + surfaçage) e da densidade.
Stigmal 15
Baixo Índice 1.525 / 1,523 59 / 59 2,61 330 nm
(Essilor)
Stigmal 16
Médio Índice 1,604 / 1,600 41 / 42 2,63 335 nm
(Essilor)

Alto Índice Fit 40 (Essilor) 1,705 / 1,701 41 / 42 3,21 335 nm

Massa Volúmica e Densidade Relativa de um Muito Stigmal 18


1,807 / 1,802 34 / 35 3,65 330 nm
Alto Índice (Essilor)
material – definições:
Muito
A massa volúmica indica a quantidade de massa por unidade de 19 (BBGR) 1,892 / 1,885 30 / 30 3,99 340 nm
Alto Índice
volume de um material, e define-se como a relação entre massa
e volume, sendo geralmente expressa em gramas por centímetro Figura 4: Quadros dos principais materiais.
cúbico (g/cm³).
A densidade relativa de uma substância é a razão da sua massa
volúmica e da massa volúmica de outra substância considerada
padrão (a água, no caso dos sólidos e dos líquidos), e exprime-
se portanto por um número abstracto. Dado que a massa
volúmica da água é de 1 g/cm³, a densidade relativa apresenta
o mesmo valor numérico da massa volúmica.
A massa volúmica (ou a densidade absoluta) fornece uma
medida precisa do peso do material, mas permite apenas uma
avaliação aproximada do peso da lente. Portanto, não pode ser Resumindo, são os materiais que combinam um índice de
utilizada como único dado para comparar as lentes. Só o peso refracção elevado, uma fraca densidade e a possibilidade de
da lente cortada, combinação do seu volume exacto e da massa espessura reduzida de surfaçage que permitem produzir as
volúmica do material, permite uma comparação precisa e lentes mais finas e mais leves. Sob este aspecto, são os
pertinente. materiais orgânicos de índice elevado, e mais particularmente
o policarbonato, que actualmente oferecem a melhor solução.

8
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Materiais Orgânicos
e Minerais

Materiais Orgânicos
e Minerais
Para que a oferta corresponda sempre melhor à contínua procura de lentes finas e leves, a investigação no campo da química dos materiais tem sido
permanente, permitindo desenvolver a utilização de novas matérias e transformar profundamente, no espaço de apenas algumas décadas, a indústria
de óptica oftálmica. Sobretudo, foi possível reduzir em cerca de metade o peso e a espessura das lentes correctoras, para benefício dos portadores.
De seguida, indicam-se detalhadamente as características destes materiais.

A Materiais Orgânicos
Utilizados na óptica oftálmica desde os anos 60, os materiais As matérias termoplásticas têm a propriedade de amolecer sob
orgânicos (vulgarmente apelidados de «plásticos») conseguiram a acção do calor e de poder ser moldadas a quente ou por
suplantar progressivamente os materiais minerais (ou «vidros»), injecção. Dado que a transformação é mecânica e não química,
representando actualmente mais de 90% dos materiais usados esta é reversível, o que torna estes materiais recicláveis.
na produção de lentes. Além das suas qualidades naturais de Utilizadas em muitas indústrias, as matérias termoplásticas só

MATERIAIS & TRATAMENTOS


leveza e resistência aos choques, as dificuldades iniciais de foram aplicadas com sucesso no fabrico de lentes oftálmicas
desenvolvimento da sua utilização foram sucessivamente com o desenvolvimento do policarbonato.
ultrapassadas: a sua resistência aos riscos aumentou por meio
de vernizes endurecedores, a sua espessura reduziu-se devido
aos materiais com índice de refracção elevado, a fiabilidade dos
tratamentos anti-reflexos melhorou devido a novas tecnologias
de produção no vácuo, criaram-se versões fotocromáticas por
tratamento da superfície, etc. Presentemente, tornaram-se nos
materiais de referência da óptica oftálmica.

Os materiais orgânicos são geralmente divididos em dois


grupos:

- Matérias termoendurecidas
Produtos cuja transformação química, sob o efeito do calor, gera

© Essilor International
compostos macro-moleculares tridimensionais duros e rígidos.
Estas matérias são constituídas por cadeias moleculares
relativamente curtas e muito reactivas que se ligam quimicamente.
Sob o efeito do calor, produz-se uma reacção química, designada
«reticulação» ou «cozedura», que cria ligações rígidas entre todas
as moléculas presentes, para formar uma rede tridimensional; a
estrutura diz-se então «reticulada» e confere ao material
propriedades especiais de estabilidade química e de resistência Figura 5: Matérias «termoendurecidas» e matérias
mecânica. «termoplásticas».
A molécula de base ou «monómero» apresenta-se sob a forma
líquida e tem a propriedade de poder ser «polimerizada» sob a
acção do calor ou dos ultravioletas e/ou de um catalisador. Esta Certos materiais, mais recentes, combinam as características das
reacção de polimerização consiste no encadeamento de moléculas resinas termoendurecidas e das resinas termoplásticas.
idênticas do monómero. Dá-se assim origem a uma nova molécula,
polímero, com natureza, dimensão e propriedades diferentes: a
matéria passa do estado de monómero líquido ao de polímero
sólido. Esta é uma transformação química e portanto irreversível:
após aquecimento e polimerização do monómero, o material torna-
se duro, infusível, insolúvel, resistente aos choques e aos produtos
químicos, e dimensionalmente estável.
A maior parte dos materiais utilizados em óptica oftálmica
pertencem a este grupo das matérias termoendurecidas, a começar
pelo CR39®.

- Matérias termoplásticas
Matérias formadas pelo agrupamento de longas cadeias
moleculares lineares ou ligeiramente ramificadas e misturadas
mas não ligadas entre si. Só esta aglomeração e forças
intermoleculares fracas dão a estas matérias a aparência de
sólidas; não existe uma ligação química das cadeias moleculares.
A estrutura molecular mais livre confere a estas matérias
excelentes qualidades de resistência aos choques, pois as
cadeias moleculares podem deslocar-se umas em relação às
outras e absorver assim a energia dos choques.

9
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Materiais Orgânicos
e Minerais

1. Materiais orgânicos
de índice corrente (1,48 ≤ n<1.5)
CR39®
Após várias tentativas infrutíferas de desenvolvimento de lentes
em matéria termoplástica (lentes Igard® em PMMA ou
Plexiglas®, em 1940) e em matéria termoendurecida (lentes
Orma® 500, em 1950), o CR39® (*) revelou ser o material
orgânico de eleição da óptica oftálmica.
O dietileno-glicol-bis(alilo-carbonato), conhecido como CR39®, é o
material de base utilizado no fabrico da maioria das lentes orgânicas.
MATERIAIS & TRATAMENTOS

Descoberto durante a 2ª guerra mundial pelos químicos da


Columbia Corporation (divisão da empresa americana PPG ou
Pittsburg Plate Glass), recebeu a designação de Columbia Resin nº
39 de uma série de monómeros estudados para a Força Aérea dos
EUA. Foi aplicado na produção de lentes correctoras em 1955-60
(pela LOR ou Lentilles Ophtalmiques Rationnelles, uma das empresas
na origem da Essilor), e permitiu o fabrico das lentes Orma® 1000
(de Organic Material, actualmente designadas simplesmente
Orma®), as primeiras lentes oftálmicas simultaneamente leves e
resistentes aos choques.
O CR39® é uma resina termoendurecida, ou seja, que se
apresenta sob a forma de monómero líquido que pode ser
depositado em moldes e endurecido (polimerizado)
por efeito da temperatura e de um catalisador.
O aperfeiçoamento e domínio do seu processo de fabrico
requereram muitos anos de investigação científica.
Para a óptica oftálmica, o CR39® oferece várias vantagens, na
origem do seu sucesso, em detrimento dos materiais minerais:
um índice de refracção de 1.5 (próximo do índice da lente
mineral tradicional), uma densidade de 1,32 (cerca de metade
da densidade da matéria mineral), uma constringência de 58-
59 (portanto um fraco cromatismo), uma grande resistência aos
choques, uma excelente transparência, múltiplas possibilidades
de coloração e uma diversidade de tratamentos. Apesar de
poder ser utilizado nu, o CR39® é sensível aos riscos, sendo
aconselhável um tratamento endurecedor das suas superfícies.
Além disso, o tratamento anti-reflexos do CR39® apresenta
desenvolvimentos técnicos muito avançados (ver Ponto 2 deste
caderno). Para os ópticos, o desbaste, o bisel e a montagem
deste material são muito fáceis.
© Essilor International

Figura 6: Molécula de CR39®.

(*) CR39® é uma marca registada da PPG Industries Ohio, Inc.

10
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Materiais Orgânicos
e Minerais
2. Materiais orgânicos O policarbonato apresenta vantagens que o tornam particularmente
interessante para a óptica oftálmica: uma excelente resistência aos
de médio índice (1.54 ≤ n<1.64) choques (a maior de todos os materiais da indústria oftálmica), um
índice de refracção elevado (ne = 1,591 / nd = 1,586), uma
Actualmente, os materiais orgânicos de índice elevado grande leveza (densidade = 1,20), a possibilidade de uma
apresentam um grande crescimento. Em relação ao CR39® surfaçage fina (espessura até 1,0 mm no centro das lentes
tradicional, permitem fabricar lentes mais finas e mais leves: de côncavas), uma protecção eficaz contra os ultravioletas (pela
um modo geral, têm densidade ligeiramente inferior (entre 1,20 inclusão de um aditivo que oferece uma filtragem UV de 385 nm)
e 1,32), cromatismo mais elevado (constringência entre 31 e e uma grande resistência ao calor (ponto de amolecimento – ou
42), maior sensibilidade ao calor, e oferecem melhor protecção transição vítrea Tg – superior a 140º C). Como todos os materiais
contra os ultravioletas. Mas são muito sensíveis aos riscos, e orgânicos de índice elevado, o policarbonato é sensível aos riscos
e deve ser revestido, obrigatoriamente, por um verniz de
portanto exigem um tratamento sistemático de endurecimento
protecção aos riscos. A sua constringência é relativamente fraca

MATERIAIS & TRATAMENTOS


das suas superfícies. O respectivo tratamento anti-reflexos é
(νe = 31, νd = 31), mas sem consequências para a grande
também especialmente recomendado. Estes materiais podem maioria das prescrições. Actualmente, as possibilidades de
ser coloridos ou tornar-se fotocromáticos geralmente mediante coloração e tratamento são semelhantes às dos outros materiais
a colocação de uma camada específica. orgânicos. Dado que o policarbonato é, por natureza, difícil de
A maior parte destes materiais orgânicos são matérias colorir na superfície, a coloração é essencialmente obtida por
«termoendurecidas», só o policarbonato é um «termoplástico». impregnação de um verniz aplicado na face côncava da lente, ou
Apresentamos primeiro este último e depois abordamos o grupo por acção dos UV sobre a sua superfície de forma a permitir a
dos termoendurecidos de índice elevado. difusão de corantes no seio da matéria. O tratamento anti-reflexos
é aplicado de forma análoga ao dos outros materiais orgânicos.
O corte e a montagem das lentes em policarbonato têm
Resinas termoplásticas: policarbonato particularidades: requerem um desbaste a seco, necessitam da
utilização de ciclos adaptados e do polimento dos bordos das
Utilizadas nos anos 50 para o fabrico das primeiras lentes lentes.
orgânicas, as matérias termoplásticas – como o PMMA ou
Plexiglas® – revelaram ser ouco resistentes à abrasão e foram
rapidamente suplantadas pelo CR39®. Depois de 1995 – 2000,
tiveram um novo crescimento com o desenvolvimento do
policarbonato, e mais particularmente do Airwear®.
O policarbonato é um material relativamente antigo – surgiu por
volta de 1955 – mas só foi realmente utilizado em óptica
oftálmica depois de 1990. Devido aos diversos
aperfeiçoamentos de que foi objecto – especialmente para
utilização na indústria dos CD (discos compactos) – o
policarbonato oferece uma qualidade óptica em tudo
comparável à dos outros materiais orgânicos. Do ponto de vista
© Essilor International

químico, pertence ao grupo dos poli ( carbonatos aromáticos):


é um polímero linear de estrutura amorfa cujo esqueleto
carbonado é constituído por uma sucessão de padrões
carbonato (-O-C=O-) e fenol (-C6H5OH). É geralmente produzido
pela seguinte reacção química designada «policondensação»:

Figura 8: Resina termoplástica: molécula de policarbonato.

CH3 CH3

n HO C OH C O C

CH3 CH3 O n

Figura 7: Policondensação do policarbonato

11
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Materiais Orgânicos
e Minerais

Resinas termoendurecidas a

A maior parte dos materiais orgânicos de índice elevado,


actualmente disponíveis, são resinas termoendurecidas. Para
aperfeiçoarem estes materiais, os químicos confrontam-se com
uma lei da física inevitável, que associa índice de refracção,
dispersão cromática e densidade do material: geralmente,
quanto mais elevado o índice de refracção, mais forte é a
dispersão cromática e mais pesado é o material. Assim, perante
um novo material, os químicos procuram sempre obter o melhor
compromisso entre estas 3 características, em combinação com
as outras propriedades essenciais, tais como a sensibilidade ao

© Essilor International
calor, a tendência para o amarelecimento, as possibilidades de
MATERIAIS & TRATAMENTOS

tratamento e a facilidade de desbaste, ranhuragem e perfuração.

O aumento do índice de refracção de um material orgânico


obtém-se através de uma das duas técnicas seguintes:
- modificação da estrutura molecular de um material inicial
mediante, por exemplo, a introdução de estruturas aromáticas;
- inclusão de átomos pesados, tais como o enxofre, numa
molécula inicial. Registe-se que a introdução de átomos do tipo
metálico ou halogéneo, utilizada originalmente, foi abandonada b
por ser acompanhada de um forte amarelecimento dos
materiais.

Os primeiros materiais orgânicos de índice elevado surgiram na


década de 1980-90 e pertenciam ao grupo dos alílicos. O
aumento do índice de refracção era então obtido pela adição
de funções cíclicas – agrupamentos aromáticos de tipo
benzénico – no seio de uma molécula inicial de CR39®. Este
processo deu origem a um grupo de lentes de médio índice, n
de 1,54 a 1,57, com constringência compreendida entre 36 e

© Essilor International
43 e com densidade de 1,20 a 1,25. O material Ormex®
(ne=1,561 / nd=1,558, νe = 37 / νd = 37, d = 1,23) pertencia
a este grupo.

Esta primeira técnica só permitia um aumento limitado do índice


de refracção, e por isso os químicos estudaram o grupo dos
tio-uretanos e a química do enxofre.
A associação de funções tióis e de funções isocianatos permitiu
dar origem, a partir de 1990-2000, a materiais de índice de Figura 9: Resina termoendurecida de médio índice: exemplos de
refracção compreendido entre 1,58 e 1,61, com constringência moléculas de Ormex® (a) e de Ormil® (b).
variando entre 30 e 40 e com densidade de 1,30 a 1,40.
Materiais como o Ormil®, mais tarde substituído pelo Ormix®
1.60, são exemplos deste tipo.

12
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Materiais Orgânicos
e Minerais
3. Materiais orgânicos Resumindo, o aumento do índice de refracção dos materiais
orgânicos é obtido essencialmente pela introdução de átomos
de alto índice (1.64 ≤ n<1.74) e de enxofre no seio de diferentes grupos de moléculas. Assim,
muito alto índice (n ≥ 1.74) quanto maior a proporção de enxofre, maior o índice de
refracção do material, tal como é demonstrado no quadro de
composição química dos materiais abaixo apresentado.
Para obter um índice de refracção mais elevado, através da É a presença do enxofre na composição dos materiais orgânicos
química dos tio-uretanos, foram utilizados tióis mais ricos em
de índice elevado que explica o odor particular que se liberta
enxofre e sempre associados a funções isocianatos. Desta forma,
o índice de refracção pôde atingir 1,67 e desenvolveu-se o durante a biselagem das lentes.
material Stylis®1.67.
Note-se que, dada a sua particular composição química, os
materiais resultantes da química dos tio-uretanos (Ormix® e

MATERIAIS & TRATAMENTOS


Ormix® / Stylis® Lineis®
Stylis® 1.60 e 1.67) revelaram ser perfeitamente adequados Orma® Thin&Lite®
1,67 1,74
para a ranhuragem e a perfuração. 1,6
Carbono % 65 54 48 36
Por fim, para aumentar ainda mais o valor do índice de refracção,
Oxygénio % 25 8 10 1
os químicos estudaram a química dos episulfúreos, que permite
a introdução de átomos de enxofre em maior concentração. E Azoto % - 7 8 -
assim surgiram os materiais de índice de refracção muito elevado, Enxofre % - 24 29 58
n ≥1,74, tais como o Lineis® 1.74. No entanto, se por um lado Hidrogénio % 10 7 5 5
estes materiais permitem fabricar lentes extremamente finas, por
outro revelam ser mais sensíveis ao calor, mais quebráveis e Índice de Refracção 1,5 1,6 1,67 1,74
também mais difíceis de colorir.
Constringência 58 41 32 33
Densidade 1,32 1,31 1,36 1,47
a
Tg (temperatura
80°C 115°C 85°C 80°C
de transição vítrea)

Figura 11: Composição química dos materiais orgânicos.

A concepção de um novo material é um processo complexo, pois


deve ter como objectivo não só optimizar as suas características
fundamentais – índice de refracção, constringência e densidade –
mas também controlar todas as suas outras propriedades físico-
químicas: especialmente, a possibilidade de surfaçage (por meio da
tecnologia tradicional e da tecnologia digital), fotocromatismo,
© Essilor International

coloração, polarização, aplicação de tratamentos de protecção aos


riscos e anti-reflexos, e finalmente a possibilidade de desbaste,
ranhuragem, perfuração, entalhe para efeitos de montagem. É
evidente que, com a evolução dos conhecimentos técnicos e
científicos e os progressos da química, os materiais sofrem uma
constante evolução e optimização. Assim, a actividade de investigação
no campo da óptica oftálmica é em grande parte consagrada à
b química dos materiais, e os fabricantes de lentes oftálmicas são
portanto especialistas quer em óptica, quer em química!
© Essilor International

Figura 10: Resinas termoendurecidas de índice elevado e


muito elevado: a) Stylis® 1.67
b) Lineis® 1.74.

13
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Materiais Orgânicos
e Minerais

B Materiais Minerais
Durante vários séculos, desde as origens da óptica até meados Na realidade, o acréscimo do índice de refracção é
do século XX, as matérias minerais foram as únicas utilizadas em acompanhado de um aumento da densidade do material que
óptica oftálmica. Mas, no espaço de algumas décadas, foram anula o ganho em leveza devido à redução de espessura da
destronadas e substituídas pelas matérias orgânicas. lente. Por conseguinte, uma lente mineral, qualquer que seja o
seu índice de refracção, continua a ser pelo menos duas vezes
A matéria mineral é sólida e amorfa (ou seja, de estrutura não mais pesada que uma lente orgânica. Quanto à espessura, os
periódica), e é dura e quebrável à temperatura ambiente, mas novos materiais orgânicos de índice muito elevado permitem
fica em estado viscoso a alta temperatura. É obtida pela fusão fabricar lentes cuja espessura rivaliza com a das lentes minerais
MATERIAIS & TRATAMENTOS

a cerca de 1500º C de uma mistura de óxidos, tais como os de de alto índice clássicas (n = 1,7). Pelo contrário, no caso de
silício (o principal óxido utilizado, pois representa cerca de 65% correcções ópticas muito fortes, os materiais minerais de índice
do material), cálcio, sódio, potássio, chumbo, bário, titânio, muito elevado (n = 1,8 ou n = 1,9) mantêm inegavelmente a
lantânio, etc. A matéria mineral não tem uma estrutura química vantagem, em termos de espessura, em relação às lentes
regular e, por consequência, não possui um ponto de fusão orgânicas, tal não se verificando quanto ao peso.
nítido em que passa subitamente do estado sólido ao estado
líquido. Além disso, com a elevação da temperatura, o vidro
amolece e passa progressivamente do estado sólido ao estado
líquido, existindo um estado intermédio dito «vítreo»
caracterizado pela ausência de cristais. Esta particularidade
exclusiva permite trabalhar o material a quente e portanto
moldá-lo. Duas propriedades tornam-no interessante para a
óptica oftálmica: transmite a luz visível e a sua superfície pode
ser polida para se tornar transparente e não difusora.

1. Materiais minerais standard


A matéria mineral de índice 1.5 é a tradicionalmente usada em
óptica oftálmica e a mais antiga. É constituída por
60-70% de óxido de silício e, no restante, por diversos
componentes, tais como os óxidos de cálcio, sódio ou boro. O
vidro de índice 1.6 é o material mineral standard: este índice de
refracção mais elevado é obtido por adição de uma fracção
significativa de óxido de titânio.
Habitualmente, os materiais minerais são classificados, segundo
a sua composição química, em 2 categorias:
- materiais «sodocálcicos» que contêm sódio e cálcio em
proporções significativas – os materiais tradicionais da óptica.
O respectivo índice de refracção é um pouco mais elevado
(ne = 1,525 / nd = 1,523) e a dispersão cromática é fraca
(constringência de cerca de 60);
- materiais «borossilicatos» com forte teor de boro: materiais
usados no fabrico das lentes fotocromáticas e das lentes minerais de
médio índice (ne = 1,604 / nd = 1,600)

2. Materiais minerais de alto


índice
Os produtores de vidro procuram aumentar, desde sempre, o
índice de refracção dos materiais para reduzir a espessura das
lentes, e simultaneamente manter um fraco nível de cromatismo.
Para tal, introduzem átomos de metais ou areias raras (chumbo,
titânio, lantânio, etc.) na composição do material. Foi assim que
surgiram, por volta de 1975, as lentes de titânio com índice 1.7
e constringência 41, depois, por volta de 1990, as lentes de
lantânio com índice 1.8 e constringência 34, e finalmente, por
volta de 1995, as lentes de nióbio com índice 1.9 e
constringência 30. Estes materiais permitem produzir lentes
cada vez mais finas, mas sem uma redução significativa do
respectivo peso.

14
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento

Suplemento
Princípios da Fabricação de Lentes
A fabricação de lentes oftálmicas é feita de 2 formas:
- fabricação em «série», de grandes volumes das lentes «acabadas» mais consumidas (unifocais esféricas e asféricas) (lentes de stock), e de
blocos «semi-acabadas» (patelas) – blocos espessos em que a face convexa está acabada e a face côncava será finalizada posteriormente
por encomenda (ver Figura 12);
- fabricação em função da «prescrição» (lentes de receituário):
• ou a partir de uma patela: a operação consiste em acabar a face côncava da lente conforme a correcção óptica do paciente, e em
aplicar na lente os diversos tratamentos de superfície pretendidos (coloração, protecção aos riscos, anti-reflexos, anti-sujidade, etc.);
• ou por acabamento directo das 2 faces da lente ou por polimerização directa, seguido(a) das diferentes operações de
tratamento das superfícies.
A produção em «série» é feita em grande escala em fábricas industriais (cerca de 2/3 das lentes), e a produção em função da «prescrição»
é realizada à unidade em laboratórios de acabamento (1/3 das lentes).

MATERIAIS & TRATAMENTOS


O número de combinações possíveis – correcções ópticas, materiais e tratamentos – é muito elevado (geralmente avaliado em mais de
5 mil milhões!), o que torna a organização do fabrico de lentes muito complexa. Uma das grandes técnicas da indústria de óptica oftálmica
é a gestão de uma cadeia logística de produção muito sofisticada, que permite fabricar lentes «diferentes» em grande escala (são produzidas
cerca de mil milhões de lentes, por ano, a nível mundial)!
FÁBRICA

FÁBRICA
LENTE ACABADA PATELA (BLOCO SEMI-ACABADO)

(COLORAÇÃO) PROTECÇÃO-RISCOS ANTI-REFLEXOS


LABORATÓRIO
STOCK

SURFAÇAGE
(DESBASTE E POLIMENTO)

(COLORAÇÃO) PROTECÇÃO-RISCOS ANTI-REFLEXOS


OFICINA ÓPTICA

OFICINA ÓPTICA

CORTE
© Essilor International
ÓPTICO

ÓPTICO

MONTAGEM

Figura 12: Princípios gerais da fabricação das lentes.

15
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Suplemento

A) Princípios da Fabricação de Lentes Orgânicas


1. Fabricação em «série»
O modo de fabricação difere consideravelmente consoante o tipo de resina utilizada, termoendurecida ou termoplástica. Assim, resumimos
as duas técnicas seguidamente.

Resinas termoendurecidas Resinas termoplásticas

Considere-se o exemplo do CR39. O monómero é fornecido sob Usemos como exemplo o policarbonato: o material de base é já
a forma líquida pela indústria química, e depois passa pelas um polímero, e apresenta-se sob a forma de grânulos cuja pureza
seguintes fases de fabrico: foi adaptada à indústria óptica. Estes grânulos são amolecidos e
- preparação do monómero: filtração, eliminação de gases, fundidos por aquecimento, para serem injectados em moldes
MATERIAIS & TRATAMENTOS

adição de um catalisador e junção de aditivos; com a forma das lentes.


- montagem dos moldes: compostos por duas paredes circulares, A tecnologia consiste em fluidificar o material por aumento da
em vidro ou em metal, reunidas por apoio numa junta circular fechada temperatura, e em fazê-lo penetrar em moldes de metal ou de
por um gancho metálico, ou por aplicação de uma fita adesiva; vidro. Um parafuso de extrusão opera a plastificação do material
- enchimento: o espaço vazio criado entre as duas paredes do no cilindro de injecção, e simultaneamente exerce a função de
molde é preenchido pelo monómero líquido; êmbolo, empurrando a matéria quente, através de diversos
- polimerização: os moldes cheios são colocados em estufas e canais, para a cavidade dos moldes. Depois da injecção e após
submetidos, durante várias horas, a um ciclo de temperaturas – ou, um período de tempo para arrefecimento, os moldes são
para certas matérias, submetidos a uma radiação ultravioleta de abertos e libertam as lentes.
alguns minutos – que provoca o endurecimento progressivo da Assim, a fabricação implica diversas operações:
resina; - preparação do material: limpeza e secagem dos grânulos
- remoção do molde: a junta ou a fita adesiva são removidas e com ar quente, e enchimento da prensa;
as paredes do molde são separadas para libertar a lente. - regulação da prensa: colocação dos moldes, regulação da
pressão do líquido, da temperatura do molde, do tempo de injecção
Este processo é também utilizado na produção em série de lentes e de arrefecimento, do aquecimento da matéria (a cerca de 300º C);
«acabadas» e blocos «semi-acabados», mudando apenas a forma do - injecção: moldagem sob pressão do material fundido;
molde e a duração da polimerização consoante se trate de umas ou - arrefecimento: solidificação do material conduzida através
de outros. Os princípios da fabricação são os mesmos, na globalidade, dos moldes;
para a maioria dos materiais orgânicos termoendurecidos utilizados - remoção do molde: por abertura da prensa e do bloco de
em óptica oftálmica. suporte dos moldes.
Esta tecnologia permite fabricar lentes com qualquer geometria, em
função da forma dos moldes inseridos na prensa de injecção. As lentes
são «acabadas», estando prontas a receber tratamento, ou «semi-
acabadas»,constituindo as patelas, para posterior surfaçage das
respectivas faces côncavas, antes da aplicação dos diferentes
tratamentos de superfície.
© Essilor International

© Essilor International

Figura 13: Produção em «série» de lentes orgânicas de resina Figura 14: Produção em «série» de lentes orgânicas de resina
termoendurecida. termoplástica.

16
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento

Suplemento
2. Fabricação em função da
«prescrição»

Surfaçage tradicional

Realizada em laboratórios de acabamento de lentes, a surfaçage

© Essilor International
tradicional consiste em trabalhar mecanicamente a face côncava do
bloco semi-acabado (patela -previamente produzida em série) para se
obter a potência requerida. Este processo de fabrico tem várias etapas:

- protecção e blocagem da patela: protecção da face convexa

MATERIAIS & TRATAMENTOS


com película aderente e colocação de um disco-suporte de metal
fundido, que servirá para segurar a patela durante as restantes
etapas; Figura 15 a: Surfaçage tradicional – desbaste.

- corte por fresagem da patela, de acordo com o diâmetro necessário


para a lente;

- desbaste: fresagem em espiral da face côncava da patela;


no final desta operação, a lente tem o formato quase definitivo,
mas a sua superfície é ainda muito áspera;

- alisamento: regularização da superfície por rotação de um


instrumento cortante (esta operação era tradicionalmente
realizada por fricção de um instrumento moldador revestido de
um forro abrasivo). Após o alisamento, a lente possui exactamente
a espessura e os raios de curvatura desejados; nesta fase, a
superfície da lente, embora lisa, não está ainda polida;

© Essilor International
- polimento: por meio de fricção de molde, com curvas
complementares às da face côncava da lente, revestido por um feltro
e pulverizado com um líquido de polimento contendo um abrasivo
muito fino. Esta operação dá à lente a transparência definitiva.

A surfaçage tradicional, utilizada desde há muitos anos, requer Figura 15 b: Surfaçage tradicional – alisamento.
um importante conjunto de instrumentos e só permite gerar
superfícies côncavas de geometria simples, esféricas ou tóricas.
© Essilor International

Figura 15 c: Surfaçage tradicional – polimento fino.

17
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Suplemento

Surfaçage Digital (DS - Digital Surfacing)


Recentemente desenvolvida, a surfaçage digital – ou surfaçage
directa – é essencialmente utilizada para produzir superfícies
côncavas complexas, mas também se podem gerar superfícies
de geometria simples. Este tipo de surfaçage consiste em
trabalhar a superfície côncava da lente «ponto por ponto», por
meio de uma máquina de comando numérico, que gere as
posições relativas da lente e do instrumento em acção, a três
dimensões e com extrema precisão. Em relação à surfaçage
tradicional anteriormente descrita:

© Essilor International
- as operações de blocagem e corte da patela são idênticas;
- o trabalho subsequente tem 2 fases: desbaste por fresagem
de modo análogo à surfaçage tradicional, e acabamento, por
rotação, com um instrumento específico de diamante (ver Figura
MATERIAIS & TRATAMENTOS

16a). Estas operações, realizadas por uma mesma máquina com


dois instrumentos diferentes, são muito semelhantes na sua
Figura 16 a: Surfaçage digital – desbaste (acabamento). essência às efectuadas na surfaçage tradicional. Mas, a utilização
na fase de acabamento de um comando nitidamente mais
preciso da posição da lente e do instrumento, associado às
qualidades de corte de uma ponta de diamante, permite garantir
simultaneamente uma excelente geometria e um estado quase
transparente da superfície côncava;
- o polimento fino é efectuado, tal como na surfaçage tradicional,
por fricção da lente numa superfície macia pulverizada com um
líquido abrasivo muito fino, mas por meio de instrumentos
específicos da surfaçage digital, simultaneamente rígidos e flexíveis
(ver Figura 16b), que permitem polir a superfície sem a deformar, ou
seja, torná-la perfeitamente transparente respeitando a geometria
gerada na operação de acabamento.
© Essilor International

Com aplicação recente no fabrico de lentes de receituário, a


surfaçage digital oferece imensas possibilidades de produção
de superfícies ópticas complexas. Permite a optimização
óptica das lentes para cada prescrição e uma personalização
Figura 16 b: Surfaçage digital – polimento fino. crescente em função das necessidades individuais dos
portadores: por exemplo, tendo em conta as características
da armação, a posição do centro de rotação do olho, o
comportamento olhos – cabeça, etc. Para a óptica oftálmica,
a surfaçage digital representa um vasto campo de investigação
e abre amplas perspectivas de novos desenvolvimentos.
Não é o simples recurso à surfaçage digital que torna a lente
mais eficaz, mas a adequação e a precisão da utilização desta
nova tecnologia. Não basta que uma lente seja produzida por
surfaçage digital para oferecer forçosamente melhor
qualidade óptica; pelo contrário, uma concepção óptica ou
um processo de fabrico mal dominados podem resultar em
designs ópticos pouco eficazes, apesar da utilização da nova
tecnologia.

Após realização da surfaçage, a lente poderá receber os


tratamentos de superfície. As operações de tratamento serão
referidas mais adiante.

18
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento

Suplemento
B) Princípios da Fabricação de Lentes Minerais
Qualquer que seja o tipo de matéria, a fabricação de uma lente lente firmemente fixa, é posta em contacto com um molde
mineral consiste numa surfaçage da face convexa e da face côncava revestido de um forro abrasivo, cujo raio de curvatura é
de uma patela de vidro mineral fornecida pela indústria vidreira. Esta exactamente o da lente a produzir. A lente e o instrumento são
patela é produzida por moldagem do vidro ainda incandescente, à pulverizados com uma mistura abrasiva e lubrificante. No fim da
saída do forno onde se fez a fusão dos diversos componentes. A operação, que dura alguns minutos, a lente tem exactamente a
patela apresenta então a forma de uma lente muito espessa com espessura e os raios de curvatura desejados, mas a sua superfície
superfícies irregulares e uma composição interna perfeitamente ainda não está transparente;
homogénea. As suas duas faces, convexa e côncava, são depois - Fase 3: o polimento fino é a operação de acabamento que
trabalhadas (surfaçage) para dar origem à lente final. dá à lente a transparência definitiva. É uma operação semelhante
A surfaçage de cada uma das duas faces da lente tem 3 fases à precedente, mas com a utilização de um polidor flexível
distintas: revestido de feltro e com uma solução abrasiva de grão muito
- Fase 1: o desbaste consiste em trabalhar a patela com um fino.

MATERIAIS & TRATAMENTOS


instrumento diamantado, para lhe dar a espessura e os raios de A nível industrial, a surfaçage das faces convexas das lentes
curvatura pretendidos. Após o desbaste, a lente tem já a forma definitiva, minerais (de todos os tipos: esféricas, asféricas, bifocais ou
mas apresenta ainda uma superfície áspera e apenas translúcida; progressivas) é feita em «série», ao passo que a surfaçage das
- Fase 2: o polimento grosso consiste em reduzir o grão da faces côncavas pode ser feita em série ou à unidade, consoante
superfície da lente sem alterar os raios de curvatura. Para tal, a as potências.

© Essilor International

Figura 17: Fabricação das lentes minerais.

Depois de produzir a geometria da lente, passa-se à aplicação de tratamentos: esta operação será referida mais adiante.

19
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
2.Transparência e Durabilidade
Transparência e

Para assegurar uma excelente correcção óptica, a lente oftálmica deve ser perfeitamente transparente e manter-se assim ao longo do
Durabilidade

tempo. Mas existem dois tipos de factores que se opõem a esta transparência: por um lado, os efeitos ópticos naturais, tais como a
reflexão, a absorção, a dispersão, a difracção e a difusão da luz e, por outro lado, os efeitos do uso e do tempo, tais como os riscos, a
sujidade, o pó e o envelhecimento do material. Para combater estes inimigos naturais ou ocasionais, procuraram-se e usaram-se diversas
soluções técnicas, sob a forma de características intrínsecas do material ou de tratamentos específicos. Nesta segunda parte, apresentamos
estas soluções detalhadamente.

A Cor Aparente do Material


A cor aparente de uma lente é determinada pela composição Para avaliar devidamente a cor aparente…
cromática da luz que transmite. Se todas as cores do espectro
visível forem integralmente transmitidas de forma igual, a lente Para se verificar a cor aparente de uma lente, tem-se por hábito
é branca. Caso contrário, a lente apresenta a cor complementar observar a lente por transmissão da luz diante de uma folha de
da luz não transmitida. papel branco. Esta demonstração pode induzir em erro. Os
Por exemplo, quando as radiações azuis são absorvidas pela papéis contêm muitas vezes agentes azulantes fluorescentes –
lente, o material apresenta uma tonalidade amarelada. É absorvendo as radiações ultravioletas e reemitindo-as na luz
precisamente o que se verifica quando se tenta aumentar o nível visível – destinados a acentuar os azuis e a dar ao papel um
de absorção dos ultravioletas de um dado material. Para
MATERIAIS & TRATAMENTOS

aspecto perfeitamente branco. Colocando a lente em contacto


contrariar este fenómeno, associa-se uma suave coloração com a folha de papel, elimina-se a estimulação branqueadora
(acastanhada, no caso do tratamento UVX®), ou integram-se na provocada pelos ultravioletas e a lente, ou mais precisamente o
composição química do material agentes azulantes, uma espécie papel, torna-se inevitavelmente amarelada. Deste modo apenas
de corantes azulados destinados a compensar a tonalidade se demonstram as qualidades de absorção UV do material, e
amarela (caso dos materiais orgânicos de alto índice). arriscamo-nos, por erro de interpretação, a considerar como um
defeito de transparência o que de facto é uma qualidade de
Todos os materiais orgânicos são sensíveis à luz e tendem a filtração! Como prova, basta afastar a lente do papel e constatar
amarelecer com o tempo. Com efeito, devido à sua estrutura que esta readquire toda a sua brancura.
química, estes materiais interagem com as radiações Na prática, a melhor forma de avaliar a cor aparente de uma
ultravioletas, a luz visível e o oxigénio, e sofrem uma «foto- lente é observar, por transmissão da luz, uma folha de papel
oxidação»: a estrutura do material modifica-se, os agrupamentos branco sem agentes azulantes. A observação deve ser feita
químicos absorvem mais a luz azul e o material amarelece. através da parte central da lente, a uma distância de 10 a 20
Assim, quanto maior a exposição da lente à luz solar e mais cm e sob luz branca. E deve-se substituir regularmente a folha
importante a dose de ultravioletas recebida, maior a tendência de papel, para se ter a certeza de que não é realmente
para amarelecer rapidamente. Este fenómeno é particularmente amarelada!
perceptível no caso dos materiais de alto índice que, resultando
da química do enxofre, têm maior afinidade com o oxigénio e
uma tendência mais marcada para a oxidação. Os agentes
azulantes, integrados na composição dos materiais, têm
também a função de retardar este fenómeno de envelhecimento
natural.

Note-se que o tratamento de protecção aos riscos aplicado nas


duas faces das lentes orgânicas não tem uma influência
relevante na cor aparente do material: de ínfima espessura, o
tratamento não amarelece mas também não protege o material
da alteração da cor. Pelo contrário, o tratamento anti-reflexos é
um factor de protecção contra o amarelecimento, não por
eliminar as radiações ultravioletas, mas por actuar como barreira
à difusão do oxigénio no material: uma lente com tratamento
anti-reflexos tem portanto menos tendência para amarelecer do
que uma lente não tratada.

20
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade
B Cromatismo do Material
1. Cromatismo nas lentes oftálmicas Para quantificar o cromatismo transversal em qualquer ponto de
uma lente, utiliza-se a relação TCA = D / ν, entre o desvio D dos
raios luminosos nesse ponto (expresso em minutos de arco ou
A variação do índice de refracção do material com o dioptrias prismáticas) e a constringência ν do material utilizado.
comprimento de onda das radiações luminosas origina o O desvio D numa lente unifocal é, segundo a aproximação de
fenómeno da dispersão cromática da luz branca aquando da
Prentice, igual a h x P, sendo h a distância entre o ponto
refracção. Com efeito, sendo o índice de refracção mais elevado
considerado e o centro óptico da lente, e P a potência da lente,
para os comprimentos de onda curtos, produz-se um
daqui resulta que TCA = h x P / ν. Conclui-se assim que o

MATERIAIS & TRATAMENTOS


desdobramento da refracção da luz visível do vermelho ao azul.
cromatismo transversal depende de 3 factores: descentração do
A dispersão cromática é uma característica importante para a
óptica oftálmica mas com consequências menos relevantes do olhar do portador, potência da lente, e constringência do
que para a óptica instrumental, pois o próprio olho humano é material.
fortemente afectado de cromatismo.
O cromatismo está presente em todas as lentes, mas é sempre Constringência ou número de Abbe – definição:
considerado insignificante no centro da lente, porque a Para caracterizar o poder de dispersão de um material, utiliza-
aberração cromática longitudinal da lente é fraca comparada se um indicador denominado constringência ou número de Abbe
com a do olho. Pelo contrário, o cromatismo pode ser relevante (definido por Ernst Abbe, físico e industrial alemão, 1840 –
quando o olho utiliza a zona periférica da lente, porque a 1905) e simbolizado pela letra grega ν. É um valor inversamente
aberração cromática transversal da lente (ou TCA – Transverse proporcional à dispersão cromática do material, e que
Chromatic Aberration) cria múltiplas imagens coloridas corresponde a definições ligeiramente diferentes consoante os
desviadas umas em relação às outras, que podem ser vistas sob países, em função dos comprimentos de onda considerados.
a forma de uma irisação do contorno dos objectos (ver Figura
18).
Europa e Japão: νe Países anglo-saxónicos: νd
ne – 1 nd – 1
νe = nF’ – nC’
νd = nF – nC
em que: em que:
ne: índice de λe = 546,07 nm nd: índice de λd = 587,56 nm
(banda verde do mercúrio) (banda amarela do hélio)
nF’: índice de λF’ = 479,99 nm nF: índice de λF = 486,13 nm
(banda azul do cádmio) (banda azul do hidrogénio)
nC’: índice de λC’ = 643,85 nm nC: índice de λC = 656,27 nm
(banda vermelha do cádmio) (banda vermelha do hidrogénio)

Na prática, os valores de constringência νe e νd diferem muito


pouco, pois só as décimas são afectadas. Na óptica oftálmica, a
constringência varia entre 60, para os materiais menos
dispersivos, e 30, para os mais dispersivos. De um modo geral,
quanto mais elevado é o índice de refracção de um material,
mais forte é a sua dispersão cromática, e portanto mais fraca é
© Essilor International

a sua constringência (ver quadro de materiais).

Figura 18: Aberração cromática longitudinal e transversal.

21
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade

2. Efeitos do cromatismo na visão a


Descentramento da direcção
do olhar (graus)
É importante distinguir dois tipos de efeitos do cromatismo na
60
visão: por um lado, a percepção por parte do portador das lentes 55 ν =58
e, por outro lado, os seus efeitos na acuidade visual. 50
ν =42
- A percepção do cromatismo é muito subjectiva e variável consoante 45
40 ν =37
o indivíduo: ocorre em média para um nível de cromatismo de 2,5
35 ν =32
minutos de arco, ou seja, o cromatismo produzido por um prisma em
CR39® (ν = 58-59) de cerca de 4 dioptrias prismáticas (Δ)*.
30 ν =30
25
- Os efeitos do cromatismo na acuidade visual – por exemplo, a 20
ilegibilidade de uma linha numa escala de acuidade com intervalos 15

© Essilor International
de 0.1 Log MAR – necessitam de um cromatismo 3 vezes superior, 10
MATERIAIS & TRATAMENTOS

5
ou seja, de cerca de 7,5 minutos de arco, ou ainda o cromatismo 0
produzido por um prisma em CR39® de cerca de 12.5 Δ*. 1 2 3 4 5 6

Por outro lado, dado que o cromatismo só é perceptível numa


Potência da lente (dioptrias)
posição descentrada do olhar, é importante considerar a zona da
lente efectivamente utilizada pelo olho em visão foveal. Em relação
a isto, a coordenação dos movimentos dos olhos e da cabeça do
portador tem um papel primordial, pois define em todos os b Descentramento da direcção
momentos a posição da linha do olhar na lente. Qualquer do olhar (graus)
movimento da cabeça induz geralmente uma recentragem do olho 80
e reduz a zona da lente realmente explorada pelo olhar. Várias
medições* mostraram que 80% das fixações oculares se produzem 70
ν =42
num ângulo de ±15º a 20º e 100% num ângulo de ±30º. Assim,
apenas nesta zona central da lente – de cerca de 15 mm de raio
60 ν =37
em torno do centro óptico – o cromatismo pode, na prática, ter 50
ν =32
influência na visão. ν =30
40

Pela lei de Prentice, é possível traduzir os valores dos limiares 30


acima indicados em descentrações do olhar, em função da

© Essilor International
20
potência da lente e para diferentes valores de constringência:
- Na Figura 19a relativa à percepção das irisações, verifica-se, 10
por exemplo, que no caso de uma lente com uma potência de
4.00 D, produzida com um material clássico de constringência 0
1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00
= 58, o cromatismo começa a ser visto a partir de uma rotação
do olho de 20º. Constata-se, por um lado, que o cromatismo
não é perceptível na parte central da lente e, por outro lado, que
com um material de fraca constringência, é necessária uma lente Potência da lente (dioptrias)
de potência superior a 2.50 D para o portador ter a percepção
das irisações ao rodar os olhos 20º. Note-se que com este nível Figura 19: Efeitos do cromatismo na visão:
de cromatismo a acuidade visual não é praticamente afectada. a) Limiar de percepção das irisações
- Na Figura 19b relativa aos efeitos na acuidade visual, verifica- b) Limiar dos efeitos na acuidade visual.
se que num ângulo de rotação do olho de ±20º é preciso que a
potência da lente atinja 7.00 D, com um material de fraca Para solucionar este problema do cromatismo, os químicos
constringência (o caso mais crítico), para que a acuidade visual procuram desenvolver materiais de fraco cromatismo e portanto
seja afectada. Por consequência, os efeitos do cromatismo de elevada constringência. Infelizmente, a margem de manobra
manifestam-se maioritariamente no exterior das zonas exploradas é relativamente limitada, pois qualquer aumento do índice de
pelo olho em visão foveal, e na maior parte do tempo o refracção de um material é geralmente acompanhado por um
cromatismo não tem repercussão significativa na acuidade visual. aumento do cromatismo. Na prática, os efeitos do cromatismo
só podem ser parcialmente atenuados, e o portador deve
Conclui-se portanto que o cromatismo tem uma influência limitada inevitavelmente habituar-se a um certo nível de cromatismo nas
na qualidade visual, e não tem consequências relevantes para a lentes.
maioria dos portadores. Só tem efeitos reais na periferia das lentes Por fim, note-se que o cromatismo está presente em todas as
de fortes potências produzidas com materiais muito dispersivos. lentes, e que vem juntar-se aos outros problemas ópticos
Devido aos desvios ópticos naturais, este efeito é teoricamente existentes, tais como as aberrações de deficiência de potência ou
mais sensível para os hipermetropes que para os míopes, pois as de astigmatismo dos feixes oblíquos, ou os reflexos parasitas.
digressões do olhar são maiores no primeiro caso, e é também Logo, há que evitar a acumulação de deficiências ópticas,
mais sensível para os presbitas com lentes progressivas ao abaixar assegurando-se uma perfeita asferização das superfícies das
o olhar para ver ao perto. lentes e a aplicação sistemática de um tratamento anti-reflexos.

* Segundo estudos de I&D da Essilor.

22
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade
C Tratamento de Protecção aos Riscos
Entre os inimigos quotidianos da lente oftálmica, os riscos são Difusão e difracção da luz – definições:
certamente os mais temíveis. Podem-se distinguir globalmente
dois tipos:
- os riscos «finos» que resultam da abrasão por fricção de Difusão da luz:
pequenas partículas nas duas faces da lente. A difusão é um fenómeno de reemissão da luz em todas as
Por exemplo, os riscos provocados pela limpeza da lente. Estes direcções, com a mesma intensidade. Produz-se à superfície de
tendem a aumentar a difusão da luz nas superfícies da lente e todos os corpos e na espessura dos materiais transparentes. É
originam a percepção de uma mancha difusa; a difusão da luz que permite aos olhos distinguir os objectos e

MATERIAIS & TRATAMENTOS


- os riscos «grossos» provocados pela fricção de grandes que define a cor destes.
partículas ou resultantes de agressões sofridas por contacto com Numa lente oftálmica, a difusão à superfície teoricamente não
objectos diversos. São verdadeiros sulcos na superfície, que existe porque a surfaçage da lente – e particularmente o
actuam opticamente como estrias de uma rede de difracção da polimento – visa a sua eliminação. A difusão produz-se no
luz. Traduzem-se na percepção de uma mancha acentuada, no entanto, quando as superfícies da lente são sujeitas à poluição
local dos riscos, e são simultaneamente visíveis e perturbadores exterior ou a sujidades oleosas, ou quando a sua superfície
da visão. apresenta riscos finos.
A difusão na espessura da lente é também muito limitada: em
certos casos, pode conferir à lente um aspecto amarelo ou
leitoso. A quantidade de luz difundida por uma lente oftálmica
é muito fraca, e geralmente considera-se insignificante.

Difracção da luz:
A difracção é um fenómeno de mudança de direcção da
propagação das ondas luminosas, que se produz quando estas
encontram obstáculos de pequenas dimensões (da ordem de
© Essilor International

alguns comprimentos de onda da luz). A luz é reemitida numa


ou em várias direcções particulares, e com uma intensidade que
a torna visível.
A difracção assume uma certa importância na óptica oftálmica,
porque actua como reveladora de eventuais irregularidades na
superfície das lentes, e particularmente de riscos devidos ao uso.

Figura 20: Diferentes tipos de riscos: riscos «finos» e riscos


«grossos».

Para evitar o aparecimento de riscos e conservar as qualidades


originais da lente, procura-se aumentar a resistência aos riscos
das lentes orgânicas por meio de um tratamento específico de
endurecimento das superfícies. Este tratamento consiste em
depositar nas faces da lente uma fina camada de uma
substância mais dura e mais resistente às agressões que o
próprio material de base. Embora a principal vocação deste
tratamento seja melhorar a resistência aos riscos, tem também
a função de permitir e consolidar a aplicação ulterior de um
tratamento anti-reflexos de boa qualidade.

23
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade

1. Princípios do tratamento de Por outro lado, este tipo de tratamento tornou-se necessário
protecção aos riscos para resolver o problema particular das lentes com tratamento
anti-reflexos. Efectivamente, este último consiste em depositar,
Aplicar um tratamento protecção aos riscos nas superfícies de por cima do verniz de protecção aos riscos, várias camadas
uma lente oftálmica significa lutar eficaz e simultaneamente muito finas de natureza unicamente mineral e portanto muito
contra os riscos finos, decorrentes da limpeza continuada, e os duras e quebráveis. Neste caso, a função do tratamento
riscos grossos, resultantes de agressões diversas. Por protecção aos riscos é colmatar a diferença das propriedades
conseguinte, a resposta tem que ser dupla: maior dureza à mecânicas do substrato orgânico e das finas camadas minerais
superfície para resistir ao atrito de pequenas partículas e do anti-reflexos, intercalando uma camada de comportamento
também grande flexibilidade para amortecer a agressão de intermédio. A estrutura original dos vernizes nanocompósitos,
grandes partículas. de natureza simultaneamente orgânica e mineral, assegura uma
transição mecânica – tendo uma espécie de efeito
MATERIAIS & TRATAMENTOS

Uma solução eficaz para o problema dos riscos consiste em «amortecedor» – entre o anti-reflexos e o substrato. Esta é uma
depositar vernizes nanocompósitos nas superfícies das lentes das características essenciais do tratamento Crizal®.
(ver historial a seguir), assim designados por serem compostos
simultaneamente por matéria orgânica e matéria mineral:
integração de partículas minerais da dimensão de um
nanómetro numa matriz orgânica. Estes vernizes resolvem o Para reforçar melhor o efeito amortecedor, passou a intercalar-
problema dos riscos devido a uma dupla propriedade: se uma camada suplementar, com propriedades mecânicas
resistência aos riscos finos dada a dureza da componente intermédias, entre o verniz de protecção aos riscos e o
mineral, e resistência aos riscos grossos pela flexibilidade tratamento anti-reflexos. Designada «Scratch Resistance
conferida pela componente orgânica. Booster», esta camada assegura uma perfeita continuidade da
estrutura da lente, desde o seu núcleo orgânico mole até à fina
a
carapaça mineral dura do tratamento anti-reflexos. Assim, por
efeito da continuidade e da interpenetração das diferentes
camadas, a resistência da lente aos riscos é consideravelmente
melhorada.
A adição desta camada suplementar é uma das especificidades
do tratamento Crizal Forte®.
© Essilor International

© Essilor International
b
© Essilor International

Figura 21: Princípios do tratamento de protecção aos riscos:


© Essilor International

a) Riscos finos
b) Riscos grossos.

Figura 22: Tratamento protecção aos riscos e tratamento anti-


reflexos: a) Tratamento clássico
b) Tratamento com camada intermédia de
reforço – “Scratch Resistance Booster”.

24
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade
2. Aplicação dos tratamentos de
protecção aos riscos
O tratamento de protecção aos riscos das lentes orgânicas consiste
em depositar uma camada de verniz, com cerca de 3 a 5 mícrones
de espessura, sobre as duas superfícies da lente. O tratamento
pode ser feito segundo duas técnicas: imersão ou centrifugação.

Envernizamento por imersão («dip coating») Envernizamento por centrifugação


Neste processo de envernizamento, as lentes recebem uma («spin coating»)
camada de verniz nas duas faces simultaneamente. Primeiro, as

MATERIAIS & TRATAMENTOS


Este processo consiste em colocar a lente sobre um suporte
lentes são limpas e preparadas em diversos banhos de ultra-sons rotativo a velocidade controlada, e em depositar no seu centro
para aderência do verniz; depois, são imersas num banho de uma gota de verniz líquido, que é espalhado por centrifugação e
verniz líquido e viscoso, de onde são extraídas a uma velocidade que cria sobre a lente um revestimento uniforme. Seguidamente,
constante para se controlar perfeitamente a espessura o verniz é polimerizado por cozedura num forno ou por exposição
depositada (ver Figura 23). Em seguida, o verniz é polimerizado, a radiações ultravioletas.
ou seja, endurecido por cozedura a uma temperatura de cerca Este processo, em que as faces da lente são tratadas
de 100º C. Transforma-se então numa camada sólida e dura, que individualmente, é particularmente adequado à produção em
dá à lente assim revestida um nível de resistência aos riscos em série de pequena escala.
função da respectiva composição e espessura. A eficácia de protecção aos riscos dos revestimentos assim
Todas estas operações são realizadas em atmosfera protegida depositados é muitas vezes medíocre, quando são polimerizados
(de sala branca), com temperatura e humidade controladas. por acção dos UV.
© Essilor International

© Essilor International

Figura 23: Princípios do envernizamento por imersão. Figura 24: Princípios do envernizamento por centrifugação.

O uso do tratamento de protecção aos riscos nas lentes


orgânicas generalizou-se: mais de 2/3 das lentes orgânicas
possuem este tratamento. O desejo crescente de proteger o
investimento que as lentes representam para os portadores,
e uma maior utilização de materiais de alto índice – para os
quais este tipo de tratamento é imperativo e sistemático –
reforçam o seu uso. Actualmente, os tratamentos de
protecção aos riscos perderam o carácter opcional, e
tornaram-se numa parte integrante de todas as lentes
orgânicas.

25
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Suplemento

Caracterização do fenómeno da abrasão – Historial dos tratamentos de protecção aos


riscos riscos

Para perceber melhor a concepção dos tratamentos destinados O problema da resistência aos riscos coloca-se desde que surgiram
a aumentar a resistência das lentes, convém compreender bem as lentes orgânicas. Diversas soluções foram sucessivamente
o fenómeno da abrasão – riscos. Considere-se uma partícula estudadas, permitindo eliminar um dos maiores entraves ao
abrasiva como um pico que exerce localmente uma pressão – desenvolvimento destas lentes e introduzir materiais de alto índice.
designada compressão – sobre a superfície da lente. A superfície Descrevem-se agora tais soluções neste curto historial.
reage então em função das suas características mecânicas.
Quando a compressão é suprimida, verifica-se a remanência de A primeira geração de tratamentos de protecção aos riscos (surgidos
uma marca de formato variável, resultado da interacção entre a por volta de 1970) baseava-se apenas na noção de dureza, e
partícula abrasiva e a superfície da lente. Esta marca depende consistia em depositar, por evaporação no vácuo, um revestimento
da dupla propriedade de dureza e deformação do material. A mineral constituído por sílica, sobre as superfícies da lente orgânica.
título de exemplo, se aplicarmos, com idêntica compressão, um Este tratamento, geralmente designado «quartzagem», era eficaz
pico abrasivo sobre diversos materiais, estes reagem de maneira contra os riscos finos, mas fracturava-se sob a acção de agressões
diferente:
MATERIAIS & TRATAMENTOS

mais fortes, e não resolvia o problema dos riscos grossos.


- uma barra de borracha deforma-se com extrema elasticidade
e volta ao seu estado inicial após remoção do pico, sem nenhuma a
marca;
- uma barra de vidro deforma-se muito pouco e depois fractura-
se se a compressão ultrapassar um determinado limite, deixando
uma marca muito visível;
- uma barra de alumínio deforma-se por ductilidade da matéria

© Essilor International
e a marca terá a forma adquirida no momento da deformação
máxima.
Assim, existe uma «lei de comportamento» própria de cada
material. Os técnicos representam-na habitualmente por meio de
um gráfico, em que a % de deformação é apresentada no eixo das
abcissas e o valor da compressão no eixo das ordenadas (pressão
«σ» em pascais). Para qualquer material, a lei de comportamento
é uma curva, que parte de 0 e termina num ponto R em que se
b
produz a ruptura: σR é a compressão no ponto de ruptura e XR é
a deformação no ponto de ruptura. Na Figura 25, estão
representadas as leis de comportamento típico de uma lente
mineral e de uma lente orgânica (CR39®). Conclui-se que:
- a lente mineral fractura-se sob o efeito de uma compressão

© Essilor International
relativamente elevada, mas sem se ter deformado muito, e
inversamente,
- o polímero fica estalado, devido a ruptura, por uma compressão
nitidamente mais fraca que a suportada pela lente mineral e, além
disso, do limiar de deformação ao ponto de ruptura, pode sofrer uma
deformação permanente importante, sem ruptura nem estilhaços.
O conhecimento do comportamento de cada material é essencial
para definir a «protecção aos riscos» que pode ser aplicada. Figura 26 : Princípios da «quartzagem»:
a) Riscos finos
b) Riscos grossos.

Compressão
Depois desta primeira geração, seguiu-se (desde 1975) a técnica
de aplicação de uma camada de materiais orgânicos de maior
σR MINERAL
R= Ruptura Domínio elástico
dureza e capazes de sofrer deformações sem se fracturar.
Surgiram assim os primeiros vernizes endurecedores, compostos
polissiloxanos ou acrílicos, que constituíram a segunda geração
de tratamentos. Resultantes da química das silicones – em que
os átomos de carbono são substituídos por átomos de silício –
os vernizes polissiloxanos constituíam uma ponte entre as
σR'
ORGÂNICA
matérias orgânicas e as matérias minerais: a presença de silício
R'= Ruptura
conferia dureza superficial para resistir aos riscos finos, e a
existência de longas cadeias hidrocarbonadas oferecia a
© Essilor International

elasticidade necessária para resistir às fortes agressões. Mas,


estes vernizes não provaram ser um suporte mecânico
Deformação suficientemente rígido para constituir uma base satisfatória para
depósito do tratamento anti-reflexos.
ΧR Χ' R'

Figura 25: Lei do comportamento de uma lente mineral e de


uma lente orgânica.

26
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento

Suplemento
Medição e controlo da eficácia anti-abrasão

A medição da resistência das lentes à abrasão é essencial para


o respectivo controlo. Esta medição deve ser rápida, fácil de
efectuar e simples de interpretar. Os fabricantes desenvolveram
métodos de testagem que consistem em submeter lentes de
amostra, representativas de um lote de fabrico, a simulações de
abrasão ou de agressão. Eis alguns dos testes mais utilizados:

- Teste Bayer : a lente é submetida a um movimento de vaivém


© Essilor International num tabuleiro com um pó abrasivo – areia ou alumina – de
granulometria definida. A medida da difusão da luz na lente
testada comparada com a difusão numa lente padrão fornece
uma avaliação da abrasão produzida.
- Teste do abrasímetro: uma fita incrustada de finas partículas
abrasivas – carborundo, por exemplo – e sob um determinado

MATERIAIS & TRATAMENTOS


peso, passa um certo número de vezes sobre a lente de amostra.
A luz transmitida por difusão nesta lente é comparada com a
Figura 27: Princípio dos vernizes clássicos – estrutura difusão numa lente padrão.
organo-siliciosa. - Teste da palha-de-aço: existem vários métodos de fricção –
Dez anos mais tarde, a necessidade de resolução do problema de forma mecânica e reprodutível ou manual e demonstrativa –
particular das lentes anti-reflexos deu origem a uma terceira de uma lente com um esfregão de palha-de-aço fina. Compara-
geração de revestimentos endurecedores – os vernizes se a lente de amostra com a lente padrão visualmente ou por
nanocompósitos. Era preciso colmatar a diferença entre as meio de um aparelho normalizado de medição da difusão da luz.
propriedades mecânicas dos polímeros orgânicos e as das finas
camadas minerais do anti-reflexos, para produzir um conjunto
simultaneamente coeso e flexível. Os vernizes nanocompósitos,
constituídos por uma matriz orgânica com nanopartículas
minerais dispersas, podiam conter até cerca de 50% de sílica,
oferecendo portanto uma rigidez superior à dos vernizes
polissiloxanos. Além disso, a dimensão nanométrica destas
partículas – de 10 a 20 nm – eliminava qualquer risco de
difusão da luz e assegurava uma perfeita transparência. Ao
mesmo tempo que resolviam a problemática do anti-reflexos, os
vernizes nanocompósitos solucionavam realmente o problema
dos riscos, devido à resistência aos riscos finos da componente
mineral e à resistência aos riscos grossos da componente
orgânica.

Depois, a «quartzagem» regressou ao mercado (por volta da


década de 1990), como resposta alternativa ao desafio
particular da protecção das lentes tratadas com anti-reflexos. A
ideia era depositar sobre o polímero uma camada mineral
espessa e dura, a servir de base ao tratamento anti-reflexos. A
© Essilor International

resistência às agressões fracas era boa, mas a camada


fracturava-se sob as fortes agressões, e os resultados globais não
foram satisfatórios.

De natureza completamente diversa, a «plasma-polimerização»


constituiu também uma tentativa de resposta para o problema
dos riscos. A técnica consiste em criar, numa estufa sob vácuo,
um plasma, ou seja, produzir uma descarga eléctrica num gás Figura 28: Medição da eficácia anti-abrasão: teste Bayer
sob fraca pressão, e em introduzir depois um monómero gasoso
rico em siloxanos. Este último polimeriza-se sob o efeito da
energia fornecida pelo plasma, para formar, por condensação,
uma película sólida sobre as lentes colocadas na estufa. O
elevado preço de custo, a complexidade do controlo de fabrico
e o defeito deste processo, por aumentar as irregularidades da
superfície das lentes, impediram o seu efectivo desenvolvimento.

Os vernizes nanocompósitos finalmente provaram ser a melhor


resposta para a questão do aumento da resistência aos riscos
das lentes orgânicas, e o seu uso generalizou-se depois
amplamente.

27
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade

D Tratamento Anti-Reflexos
Os reflexos parasitas da luz nas superfícies da lente são de
natureza diversa: reflexão na face convexa, reflexão na face
côncava e reflexão interna. A reflexão reduz a transmissão da
lente e tem efeitos indesejáveis: os reflexos perturbam a visão
do portador e são inestéticos para o observador.
Analisemos em detalhe os efeitos dos diferentes tipos de
reflexão da luz e as soluções fornecidas pelos tratamentos anti-
reflexos.

© Essilor International
MATERIAIS & TRATAMENTOS

1. Diferentes tipos de reflexão da luz


e respectivos efeitos

a. Reflexão na face convexa e reflexão interna na


face côncava
Além do fenómeno de refracção da luz através de cada uma das
superfícies da lente (que assegura o efeito corrector da lente),
produz-se em simultâneo um fenómeno de reflexão da luz em
cada face: primeiro na face convexa da lente, depois na face
côncava, após atravessar a espessura da lente. Esta reflexão está
na origem da redução da intensidade de luz transmitida pela lente.
A intensidade da luz reflectida é tanto maior quanto mais elevado
for o índice de refracção do material, e pode ser quantificada,
para cada face, por meio do coeficiente de reflexão:

( )
2
n–1

© Essilor International
R=
n+1
Assim, a quantidade total de luz perdida por reflexão ao
atravessar as duas faces de uma lente é:

Índice 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9

Total da luz
7,8 % 10,4 % 12,3 % 15,7 % 18,3 %
reflectida
AR AR
Se considerarmos que o índice das lentes normalmente mais
usadas é n = 1.6, deduz-se que a quantidade de luz geralmente
perdida por reflexão é, em média, cerca de 10% do fluxo
luminoso incidente. Assim, conclui-se que é imperiosa a
© Essilor International

necessidade de aplicar um tratamento anti-reflexos nas lentes


com índices de refracção elevados, pois a perda de luz pode
atingir 15 a 20% no caso das lentes de muito alto índice.
Com um tratamento anti-reflexos, é possível reduzir a proporção
de luz reflectida – logo, perdida – para menos de 1% (ver
Figuras a seguir).

Figura 29: Redução da intensidade luminosa por reflexão da


luz nas faces da lente.

28
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade
b. Reflexão na face côncava c. Dupla reflexão interna
Um fenómeno importante é o da reflexão, na face côncava da Um fenómeno particular de desdobramento das imagens pode
lente, da luz originada por uma fonte situada atrás do portador igualmente produzir-se, por reflexões internas na lente.
das lentes. Este tipo de reflexão pode ser muito incómodo, Desencadeia-se do seguinte modo: após refracção através da
especialmente em condições de fraca iluminação ambiente, face convexa da lente, o feixe luminoso atinge a face côncava, e
como por exemplo na condução nocturna. Com efeito, esta luz produz-se, por um lado, uma nova refracção do feixe luminoso
reflectida indesejável vem sobrepor-se à luz proveniente do e, por outro lado, uma 2ª reflexão da luz que cria um feixe
cenário observado, provocando uma redução dos contrastes e luminoso secundário. Este último, após uma nova reflexão na
portanto da qualidade de visão, e pode mesmo ser a causa de face convexa da lente e refracção através da superfície côncava,
fenómenos de encandeamento. Para mais detalhes, ver a seguir dá origem a uma 2ª imagem de menor intensidade que a
o «Suplemento: Benefícios visuais dos tratamentos anti-reflexos». imagem principal e ligeiramente desviada em relação a esta.
Para o portador, traduz-se na percepção de um desdobramento

MATERIAIS & TRATAMENTOS


de imagem: uma 2ª imagem de menor intensidade, uma espécie
de «eco» da imagem principal de forte intensidade.
© Essilor International

© Essilor International

AR AR AR AR
© Essilor International
© Essilor International

Figura 30: Alteração dos contrastes da visão, por reflexão da Figura 31: Desdobramento de imagens, por reflexões internas
luz na face côncava da lente. da luz na lente.

29
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Transparência e
Durabilidade

Benefícios Visuais dos Tr


Os benefícios dos tratamentos anti-reflexos são principal-mente
d. Reflexão na face convexa
visuais e depois estéticos: oferecem sobretudo maior conforto
O fenómeno de reflexão da luz mais evidente e mais conhecido
visual e contribuem adicionalmente para a estética das lentes.
é o «efeito de espelho». Trata-se da reflexão da luz na face
Estas vantagens nem sempre são bem compreendidas pelos
convexa da lente, facilmente visível por um observador colocado
próprios profissionais de óptica oftálmica e portanto, por maioria
à frente do portador: produz uma imagem espelhada da fonte
de razão, pelo grande público. Aprofundamos aqui, apoiados em
de luz ambiente (sol, iluminação exterior ou interior). Este tipo
resultados de estudos experimentais, a análise dos dois benefícios
de reflexão não perturba o portador, mas incomoda o
visuais mais significativos: acentuação dos contrastes e redução
observador por não ver distintamente os olhos do seu
dos efeitos de encandeamento.
interlocutor: o efeito é essencialmente estético e não afecta a
visão do portador das lentes. Frequentemente utilizado para
promover o uso dos tratamentos anti-reflexos, este argumento A) Aumento dos contrastes
foi por vezes contraproducente: o puro aspecto estético revelou-
MATERIAIS & TRATAMENTOS

se muitas vezes insuficientemente convincente para motivar a Para mostrar o aumento dos contrastes proporcionado por um
adopção deste tipo de tratamento por parte dos consumidores. tratamento anti-reflexos, analisemos o esforço visual de um
Com um tratamento anti-reflexos, é possível reduzir fortemente indivíduo ao tentar discriminar dois pontos objectos: para tal,
este «efeito de espelho». examinemos a formação das imagens na retina. Como qualquer
aparelho óptico, o olho apresenta imperfeições, e a imagem
formada na retina de um ponto objecto não é um ponto mas uma
mancha luminosa. Assim, a visão de dois pontos apresenta-se
como a justaposição de duas manchas luminosas mais ou menos
confundidas. Se a distância que separa os dois pontos for
suficiente, a imagem retiniana formada permite discriminá-los.
Quando os pontos se aproximam, as duas manchas tendem a
confundir-se e o indivíduo só tem a percepção de um único ponto.

Este fenómeno pode ser quantificado, a partir da intensidade


mínima e máxima da mancha luminosa, sob a forma do contraste
da imagem formada, segundo a fórmula:
C = (a – b) / (a + b)
em que a é a intensidade máxima e b a intensidade mínima da
mancha luminosa retiniana (ver Figura 33). Para que os dois
pontos sejam vistos separados, C deve ser superior ao valor
correspondente ao limite de detecção do olho.

AR AR
© Essilor International

© Essilor International

AR AR
Figura 33a: Aumento dos contrastes por meio dos tratamentos
anti-reflexos.

(1) Stuart G. Coupland, Trevor H. Kirkham: «Increased contrast sensitivity


© Essilor International

with antireflective coated lenses in the presence of glare», Canadian


Journal of Ophthalmology, 1981; 16 : 137-140.
(2) Trevor H. Kirkham, Stuart G. Coupland: «Increased visual field area with
antireflective coated lenses in the presence of glare», Canadian Journal
of Ophthalmology, 1981; 16 : 141-144.
(3) Catherine Eastell: «The effectiveness of AR-Multireflection coatings on
night driving», Escola Superior de Optometria de Cardiff, Universidade do
País de Gales, 1991.
Figura 32: «Efeito de espelho», por reflexão da luz na face (4) Estudo realizado nos EUA por um centro independente de investigação
convexa da lente. da visão, 2004 / 2005.

30
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
atamentos Anti-Reflexos
Suponhamos que o indivíduo é um automobilista a conduzir de B) Redução do encandeamento
noite, e tenta distinguir nitidamente ao longe os faróis de dois
ciclistas circulando em sentido contrário. Mas surge por trás dele Diversos estudos(1) mostraram que, em presença de uma fonte
uma viatura, cujos faróis se reflectem na face côncava das suas luminosa perturbadora, os tratamentos anti-reflexos permitem
lentes: os reflexos parasitas criam uma mancha luminosa na melhorar consideravelmente a sensibilidade aos contrastes. Os
retina, de intensidade uniforme, que vem adicionar-se à estudos consistiam na observação de miras de contraste
intensidade dos dois pontos observados (os faróis dos ciclistas). normalizadas, por pacientes alternativamente equipados com
O resultado é uma nítida diminuição do contraste, assim obtido: lentes sem tratamento ou com tratamento anti-reflexos e
C’ = (a’ – b’) / (a’ + b’) submetidos ou não a um encandeamento proveniente de trás.
Tal diminuição pode fundir numa única imagem a visão dos dois Os resultados apresentados na
ciclistas anteriormente bem distintos, ou pode mesmo fazer Figura 34 representam:
perder a percepção da sua presença. - a curva da normal sensibilidade ao contraste destes
pacientes, sem encandeamento;

MATERIAIS & TRATAMENTOS


- a diminuição da sensibilidade ao contraste causada pelo
Um tratamento anti-reflexos pode minimizar ou mesmo eliminar encandeamento, com lentes sem tratamento anti-reflexos;
totalmente este efeito, por meio da redução da reflexão da luz - a recuperação da sensibilidade ao contraste obtida devido
na face côncava da lente. ao tratamento anti-reflexos, em condições idênticas de
encandeamento.

Da mesma maneira, foi possível estabelecer que, em


determinadas condições de encandeamento, o campo visual de
um indivíduo com óculos é sensivelmente mais amplo com
lentes anti-reflexos que com lentes sem tratamento(2).
Por outro lado, também foi demonstrado(3) que uma lente com
tratamento anti-reflexos permite, em condições de condução
nocturna, reduzir de 2 a 5 segundos o tempo de recuperação
a da visão normal após encandeamento, em relação a lentes sem
tratamento; este intervalo de tempo corresponde ao percurso
de uma distância de 28 a 70 m à velocidade de 50 km/hora…

Por último, um estudo(4) realizado com cem pacientes


b
© Essilor International

demonstrou uma nítida preferência pelas lentes com tratamento


anti-reflexos comparativamente às lentes sem tratamento,
segundo diversos critérios de avaliação (visão global, no trabalho
com computador, na condução nocturna, conforto visual,
reflexos). Este estudo mostrou também que o uso de lentes anti-
reflexos provoca uma redução significativa da fadiga visual.

As lentes anti-reflexos permitem limitar consideravelmente os


Figura 33b: Formação das imagens de pontos separados na retina. efeitos indesejáveis da reflexão da luz: acentuam os contrastes,
reduzem os efeitos do encandeamento (particularmente em
condições de fraca iluminação) e proporcionam um conforto
visual nitidamente superior.
1000
Sensibilidade aos Contrastes

a'

Sem
100 encandeamento

a b' Encandeamento
com anti-reflexos

Encandeamento
sem anti-reflexos

b
© Essilor International

© Essilor International

10

1
1 10 20
Frequência espacial

Figura 33c: Efeito de reflexão parasita. Figura 34: Redução dos efeitos do encandeamento por meio
dos tratamentos anti-reflexos.

31
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade

2. Princípios do tratamento anti-reflexos Para haver anulação da luz reflectida, os cálculos mostram que
a camada extra-fina depositada sobre a lente deve ter:
- um índice de refracção n’ igual à raiz quadrada do índice
O tratamento anti-reflexos consiste em depositar sobre as de refracção do material n;
superfícies da lente uma série de finas camadas sobrepostas, para
- uma espessura que seja um múltiplo de λ / 4.n’, sendo λ
que os raios de luz reflectida interfiram entre si de forma a anularem- o comprimento de onda da luz a anular.
se. Para tal, é preciso explorar a natureza ondulatória da luz e pôr
as ondas luminosas reflectidas em «interferência destrutiva». Com um tratamento «mono-camada», é possível suprimir a
reflexão para um dado comprimento de onda da luz, mas é
impossível eliminar as reflexões do conjunto das radiações do
espectro visível. Opta-se por anular especial-mente as reflexões
do domínio espectral a que o olho é mais sensível, ou seja, a luz
MATERIAIS & TRATAMENTOS

verde – amarela (λ = 555 nm), razão pela qual a reflexão


residual terá neste caso cor azul ou púrpura.

Para obter uma atenuação global no conjunto do espectro,


utiliza-se o princípio do tratamento «multi-camadas», que
consiste em eliminar a reflexão residual jogando com as
interferências múltiplas de ondas reflectidas por várias camadas.
Cada uma destas camadas produz uma onda de luz reflectida,
© Essilor International

as diversas ondas são desfasadas umas em relação às outras e


interferem multiplamente entre si. Um cálculo complexo permite
determinar como anular quase totalmente a luz reflectida. Se no
caso de um tratamento «mono-camada» a reflexão residual de
luz é cerca de 2% em cada face, no caso de um tratamento
«multi-camadas» esta é inferior a 1%. O efeito cromático (ou
seja, a cor do reflexo residual), relevante no tratamento «mono-
Figura 35: Princípios do tratamento anti-reflexos. camada», é reduzido para um nível muito fraco no anti-reflexos
«multi-camadas».
Analisemos o fenómeno que se produz com uma camada isolada
Registe-se que a eficácia de um tratamento anti-reflexos não é
do tratamento (Figura 35). O feixe luminoso incidente decompõe-
directamente proporcional ao número de camadas depositadas,
se num feixe reflectido por esta camada e num feixe refractado que
a penetra. Este último atinge então a superfície da lente e divide- mas depende da organização da sua sobreposição e da
se por sua vez num feixe reflectido e num feixe refractado. Se interacção das diversas ondas reflectidas. Conforme os
estabelecermos rigorosamente a espessura e o índice de refracção fabricantes, um tratamento anti-reflexos multi-camadas pode ser
da camada de tratamento depositada sobre a lente, conseguimos composto por 3 a 8 camadas.
que estas duas ondas reflectidas se anulem: para tal, é preciso que
estas se sobreponham e estejam em «oposição de fase», ou seja, Por último, note-se que, por princípio, o tratamento anti-reflexos
que uma onda esteja no seu máximo de intensidade quando a funciona na interface entre a lente e o ar, e que, portanto, este
outra estiver no seu mínimo e inversamente. Obtém-se assim uma é sempre aplicado na fase final da cadeia de produção da lente.
anulação da luz reflectida. Toda a luz que não é reflectida é
transmitida, logo a transmissão da lente aumenta nitidamente.

a b
© Essilor International

Figura 36a: Princípios do tratamento anti-reflexos «multi-ca- Figura 36b: Princípios do tratamento anti-reflexos «multi-
madas»: múltiplas interferências. camadas»: anulação das ondas reflectidas.

32
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade
3. Caracterização e resultados dos
tratamentos anti-reflexos

a. Eficácia do anti-reflexos b. Cor residual

A eficácia de um tratamento anti-reflexos é medida a partir do A cor residual de um tratamento anti-reflexos é definida pela
respectivo «espectro de reflexão», curva que fornece, após o composição espectral da luz que reflecte. A reflexão residual
tratamento, a intensidade da luz reflectida em função do pode apresentar diversas cores, consoante o tipo de tratamento
comprimento de onda (ver Figura 37). A área situada sob a curva depositado na lente. Assim, na Figura 37 que representa o
representa a quantidade de luz ainda reflectida. espectro de reflexão numa face de uma lente de índice 1.5:

MATERIAIS & TRATAMENTOS


A eficácia anti-reflexos pode ser classificada, de um modo geral, - a linha branca representa a reflexão sem tratamento: todos
segundo os três níveis seguintes: os comprimentos de onda são reflectidos de modo uniforme a
um nível de 4%;
- a curva azul representa a reflexão de um tratamento anti-
Eficácia Reflexão por face (ρ) Transmissão (τ)
reflexos mono-camada: a intensidade reflectida é maior no azul
Alta 0,3 a 1,0 % 97,5 à 99,0 % e no vermelho, criando uma tonalidade púrpura;
- a curva amarela representa a reflexão de um tratamento
Média 1,0 à 1,8 % 96,0 à 97,5 % multi-camadas tipo Crizal ®, com reflexos residuais amarelo –
verde.
Standard 1,8 à 2,5 % 94,5 à 96,0 %
O controlo da cor dos reflexos residuais é um exercício técnico
difícil, pois a mínima variação do índice de refracção ou da
espessura das camadas do tratamento anti-reflexos tem
consequências imediatamente visíveis na cor destes reflexos.

Eis a razão pela qual, nos laboratórios, as duas lentes de uma


Reflexão (%)

6
armação recebem geralmente o tratamento anti-reflexos no
mesmo lote de fabrico. Por outro lado, no caso das lentes
produzidas em série, é necessário um controlo rigoroso, para
5
poder emparelhar numa armação duas lentes fabricadas em
momentos diferentes e com equipamentos diferentes. Por este
4 motivo, cada lote de fabrico inclui lentes de controlo, para se
verificar o respeito rigoroso das especificações de reflexão e
3 colorimetria dos tratamentos anti-reflexos realizados.

Por outro lado, além das razões estéticas, a escolha da cor


2
residual de um tratamento anti-reflexos pode também fazer-se
com base em critérios técnicos, especialmente em função da
© Essilor International

1 sensibilidade absoluta ou diferencial do olho às diversas cores.


A decisão tomada acerca do reflexo verde – amarelo do
0 tratamento Crizal ® foi tecnicamente fundamentada.
350 400 500 600 700 800
380 780
Para concluir, é possível efectuar tratamentos ditos
Comprimento de Onda (nm)
«acromáticos», ou seja, com uma reflexão residual uniforme das
diversas cores do espectro e sem uma cor específica
Figura 37 : Espectros de reflexão dos tratamentos anti-reflexos. observável… mas isto por vezes dificulta o reconhecimento do
tratamento e a respectiva identificação!

33
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Suplemento

O sistema colorimétrico L*, a*, b* Franjas de interferência na superfície das


lentes orgânicas de alto índice
Para caracterizar o reflexo residual de um tratamento anti-
reflexos, utiliza-se o sistema colorimétrico L*a*b* (proposto em Por vezes, à superfície das lentes de alto índice revestidas de um
1976 pela Comissão Internacional da Iluminação). Este sistema verniz de protecção aos riscos de índice normal e com
é uma «cartografia» das cores estabelecida segundo o eixo verde tratamento anti-reflexos, produz-se um fenómeno inestético de
– vermelho das abcissas e o eixo azul – amarelo das ordenadas. interferências ópticas. Manifesta-se sob a forma de franjas de
Qualquer cor P é definida pelas coordenadas a* no eixo verde interferência – alternância de bandas claras e escuras – que
– vermelho e b* no eixo azul – amarelo, e pode ser quantificada podem ser observadas na superfície da lente. Estas franjas
pelas suas duas características essenciais: resultam da interferência das ondas luminosas reflectidas pelo
- ângulo de matiz h* que traduz a cor, representado pelo ângulo verniz de protecção aos riscos, por um lado, e pelo substrato,
definido pelo segmento OP e pelo eixo verde – vermelho (eixo das por outro lado, e são acentuadas pelo tratamento anti-reflexos.
a*); Este fenómeno produz-se apenas numa situação muito
- saturação ou croma C* que traduz a intensidade da cor, particular, quando estão reunidas as três condições seguintes:
representada pelo comprimento do segmento OP, desde a - diferença significativa entre o índice de refracção da lente e
ausência de tonalidade («acromática») no centro do sistema, até
MATERIAIS & TRATAMENTOS

o índice do verniz de protecção aos riscos: por exemplo, material


à tonalidade pura («monocromática») na periferia deste. de índice 1.74 e verniz de índice 1.5;
a Amarelo - iluminação com luz monocromática: por exemplo, a de uma
b*
lâmpada fluorescente (luz policromática com picos
monocromáticos); as franjas não surgem portanto com luz
natural branca;
- existência de uma variação de espessura do verniz depositado
na superfície da lente.
P Este fenómeno altera um pouco a estética da lente, mas não tem
C* quaisquer consequências visuais para o portador, pois não é
perceptível.

Verde
h* Vermelho
A solução técnica para este problema é dupla:
a* - utilização de um verniz de protecção aos riscos com um alto
O índice de refracção, que atenua o fenómeno de interferências
por redução da diferença entre o índice do verniz e o índice do
substrato (técnica designada «combinação» de índices);
© Essilor International

- introdução de uma camada suplementar, entre o substrato e


o verniz, destinada a eliminar por interferência destrutiva a onda
reflectida pelo substrato (técnica designada «camada quarto de
onda»)
A utilização destas técnicas tende a generalizar-se na fabricação
de lentes orgânicas de muito alto índice de refracção (n > 1.7).
Azul

Figura 38a: Sistema colorimétrico L*, a*, b*.


Este sistema colorimétrico permite situar as diversas cores dos
reflexos, tal como representado na figura a seguir.

A A
B
© Essilor International

C
B

C
© Essilor International

Figura 39: Princípio da aparição de franjas de interferência na


-20 -15 -10 -5 0 5 10 D superfície das lentes.

Figura 38: Diferentes reflexos residuais.

34
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade
Tratamento anti-reflexos na face côncava das a
lentes solares

Numa lente solar, o tratamento anti-reflexos tem uma utilidade muito


particular: eliminar os reflexos produzidos na face côncava da lente.
Enquanto na face convexa de uma lente solar o tratamento anti-
reflexos é dispensável, na face côncava pode ser essencial para o
conforto visual do portador. Efectivamente, aplicar um tratamento
anti-reflexos na face convexa de uma lente solar para aumentar a

© Essilor International
transmissão da luz está até em contradição com o objectivo da
lente, que é atenuar a intensidade da luz que atinge o olho. Pelo
contrário, a ausência de tratamento anti-reflexos na face convexa
pode contribuir para eliminar cerca de 4% da luz incidente (numa
lente de índice 1.5), antes da sua penetração na lente. Razão pela
qual, além da questão estética, muitas lentes solares têm faces

MATERIAIS & TRATAMENTOS


convexas espelhadas. Mas o tratamento anti-reflexos na face
côncava tem um objectivo diferente: eliminar a reflexão da luz
b
proveniente de fontes luminosas situadas atrás do portador.

Para explicar este fenómeno, considere-se a situação de um


indivíduo com óculos a observar um objecto com uma
intensidade de luz 100 e tendo o sol, com intensidade 500,
situado atrás das costas. Numa lente com índice de refracção
1.5, a luz reflectida em cada face é 4% sem tratamento
anti-reflexos e 0,4% com tratamento. A reflexão da luz solar na
face côncava da lente cria uma imagem parasita de intensidade

© Essilor International
500 x 4% = 20. Concentremo-nos na intensidade da luz
recebida pelos olhos do portador e, mais precisamente, na
relação entre a intensidade da luz parasita recebida do sol por
reflexão na face côncava e a intensidade da luz proveniente do
objecto observado e transmitida pela lente. Designemos esta
relação de «índice de desconforto». Podem dar-se quatro casos:
- Se a lente for branca e sem tratamento anti-reflexos, a luz
transmitida é 100 x 0,96 x 0,96 = 92 e o índice de desconforto c
é 20 / 92 = 22% (Figura 40a).
- Se a lente for branca e com tratamento anti-reflexos nas 2 faces,
a luz transmitida é 100 x 0,996 x 0,996 = 99 e a luz reflectida é
500 x 0,004 = 2; o índice de desconforto é 2 / 99 = 2% (Figura
40b).
- Se a lente for solar e possuir uma absorção interna de 67%, a
luz transmitida é 100 x 0,96 x 0,33 x 0,96 = 30. A luz parasita
reflectida pela face côncava continua a ser 20, logo o índice de
desconforto é 20 / 30 = 67% (Figura 40c). Note-se que, se o filtro
© Essilor International

solar fosse mais forte, a intensidade da luz parasita poderia igualar


ou mesmo exceder a intensidade da luz recebida do objecto!
- Se esta lente solar tiver tratamento anti-reflexos na face
côncava, a luz transmitida é 100 x 0,96 x 0,33 x 0,996 = 32 e
a luz parasita é 500 x 0,004 = 2; logo o índice de desconforto
é 2 / 32 = 6% (Figura 40d).
Avalia-se assim a utilidade da aplicação de um tratamento anti-
reflexos na face côncava das lentes solares, para aumentar o d
conforto visual dos portadores. Só podemos lamentar que tal
ainda não seja prática corrente.

Figura 40: Transmissão e reflexão da luz numa lente solar (de


índice 1.5 e absorção 67%):
a) Lente branca sem tratamento anti-reflexos
(índice de desconforto = 22%);
© Essilor International

b) Lente branca com tratamento anti-reflexos


(índice de desconforto = 2%);
c) Lente solar sem tratamento anti-reflexos
(índice de desconforto = 67%);
d) Lente solar com tratamento anti-reflexos na face côncava
(índice de desconforto = 6%).

35
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade

4. Aplicação dos tratamentos anti-


reflexos
O tratamento anti-reflexos requer elevada tecnicidade e
equipamento muito sofisticado. Se a fabricação de uma lente
implica alta tecnologia, a produção do anti-reflexos depende de
altíssima tecnologia. A técnica de fabrico do tratamento anti-reflexos
consiste em depositar sobre cada uma das faces da lente uma série
de finas camadas sobrepostas, com um índice de refracção
específico, perfeita transparência, e espessura mínima controlada
até às décimas de nanómetro (ou seja, uma precisão de ± 10-10 m).
MATERIAIS & TRATAMENTOS

Só a tecnologia de evaporação no vácuo permite satisfazer estas


exigências e aplicar sobre as lentes, por condensação, um material
extremamente puro, com uma composição química rigorosamente
controlada e uma espessura adequada perfeitamente monitorizada.
A evaporação no vácuo – ou sublimação – consiste em levar as
substâncias minerais constitutivas do anti-reflexos ao estado gasoso,
por aquecimento a temperaturas muito elevadas, numa atmosfera
de vazio provocado. Estas substâncias, assim vaporizadas numa
estufa sob vácuo, depositam-se sobre a superfície da lente, em
camadas com espessura controlada em tempo real por meio de
uma microbalança de quartzo piezoeléctrico. As diversas
substâncias constitutivas das diferentes camadas do tratamento
anti-reflexos são sucessivamente evaporadas, sobrepondo-se umas
sobre as outras.
Para explicações mais precisas acerca das tecnologias de
produção, ver mais adiante o «Suplemento: Tecnologia de fabrico
dos tratamentos anti-reflexos».
© Essilor International

Figura 41: Estufa de evaporação no vácuo.

Os tratamentos anti-reflexos proporcionam um inegável


aumento do conforto visual dos seus portadores. O uso destes
tratamentos está em crescimento constante há várias
décadas, mas a sua penetração no mercado é muito variável
entre os diversos países: desde a aplicação sistemática no
Japão, até à opção raramente utilizada nos países
emergentes. No total, a nível mundial, cerca de 50% das
lentes actualmente vendidas têm tratamento anti-reflexos.
Ninguém duvida que estes tratamentos continuarão em
crescimento nos anos futuros.

36
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade
E Tratamentos Anti-Sujidade e Anti-Poeira
1. Tratamento anti-sujidade
Um tratamento anti-reflexos apresenta à escala microscópica
uma superfície irregular onde as sujidades – compostas por
moléculas aquosas ou lipídicas – podem alojar-se. Com efeito,
as camadas extra-finas deste tipo de tratamento são
relativamente porosas e a poluição oleosa ou as impurezas
podem incrustar-se nos poros da última camada. Para atenuar

MATERIAIS & TRATAMENTOS


este inconveniente, recorre-se a técnicas utilizadas no fabrico
das componentes electrónicas: consistem em revestir a
superfície com uma matéria com propriedades hidrofóbicas e

© Essilor International
oleofóbicas (ou seja, que reduz consideravelmente a aderência
da água e das substâncias oleosas). Estes tratamentos actuam
de 3 maneiras:
- repelência das moléculas de sujidade e redução da respectiva
aderência devido à energia muito fraca de superfície;
- oposição à migração das moléculas de sujidade para os micro-
poros do tratamento anti-reflexos por obturação das lacunas
Figura 42: Princípios do tratamento anti-sujidade:
intersticiais;
b) estrutura química do revestimento anti-sujidade.
- aumento da eliminação das moléculas de água e de sujidade
devido à superfície mais deslizante da lente.

Este revestimento anti-sujidade é extremamente fino – da ordem A eficácia de um tratamento anti-sujidade pode ser quantificada
de apenas alguns nanómetros de espessura – não tendo quaisquer pelo «ângulo de contacto» de uma gota de água depositada sobre
consequências no efeito anti-reflexos. a superfície da lente, ou seja, o ângulo compreendido entre a
É formado por componentes químicos que contêm cadeias superfície da lente e a tangente à superfície da gota. Este ângulo
fluoradas ou hidrocarbonadas. Pode-se referir, por exemplo, os é tanto maior quanto menor a superfície de contacto da gota com
polissilazanos fluorados cujas moléculas têm uma estrutura bastante a lente e, portanto, quanto mais fraca for a aderência da gota.
complexa: por um lado, possuem radicais que actuam como A eficácia anti-sujidade também pode ser medida pelo «ângulo
ganchos sobre a sílica (que constitui a última camada do tratamento de deslize». A medição faz-se depositando uma gota de água de
anti-reflexos) dando muito boa aderência ao tratamento; por outro dimensão calibrada sobre a superfície da lente colocada na
lado, possuem elementos ricos em flúor e dotados de uma forte horizontal e inclinando progressiva-mente a lente até a gota
repelência química da água e das gorduras. deslizar sobre a superfície desta. O ângulo de deslize é o ângulo
de inclinação da lente no momento em que a gota começa a
deslizar: quanto menor o ângulo, mais deslizante é a superfície
e portanto mais eficaz é o tratamento anti-sujidade.
© Essilor International

© Essilor International

Figura 42: Princípios do tratamento anti-sujidade:


a) obturação das lacunas intersticiais do anti-reflexos.
Figura 43: Eficácia do tratamento anti-sujidade:
a) ângulo de contacto
b) ângulo de deslize.

37
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Transparência e
Durabilidade

Se as primeiras gerações de tratamentos anti-sujidade apenas Para evitar este fenómeno, o princípio do tratamento anti-poeira
alisavam parcialmente as superfícies da lente consiste em acrescentar, mesmo no seio da estratificação anti-
(1ª geração do Crizal®, por exemplo), as novas moléculas reflexos, uma camada condutora transparente que induz o
aplicadas nas gerações seguintes permitiram realmente lacar as desaparecimento das cargas. Estas são assim eliminadas em
superfícies, evolução perfeitamente perceptível ao limpar a lente algumas milésimas de segundo e, pelo facto de não
(Crizal Alizé®). Este avanço foi ainda reforçado com o Crizal Forte permanecerem à superfície da lente, não atraem as partículas
®, por meio de uma densificação das moléculas fluoradas anti- de poeira. Logo, as lentes mantêm-se perfeitamente limpas e
sujidade, devido ao processo de fabrico HSD – High Surface totalmente livres de pó.
Density Process™ (ver mais adiante o «Suplemento: Tecnologia
de fabrico dos tratamentos anti-sujidade»). Esta técnica foi inicialmente aplicada no tratamento Crizal® A2
e depois também no Crizal Forte®. Constitui, desde então, uma
das características da gama de tratamentos Crizal®.
MATERIAIS & TRATAMENTOS

A eficácia destes tratamentos de minimização da aderência da


sujidade é tal que dela resultam superfícies extremamente
deslizantes, apresentando também “o inconveniente da
respectiva vantagem”: efectivamente, foi necessário acrescentar
uma camada suplementar provisória, após a aplicação do
tratamento anti-sujidade, para atenuar, temporariamente, o
efeito deslizante e permitir ao óptico a blocagem das lentes sem
correr o risco destas girarem ou caírem durante o desbaste. Esta a
camada provisória suplementar, de cor azul, é retirada pelo
óptico após a montagem das lentes, mediante simples limpeza.
O pleno efeito anti-reflexos da lente é então revelado.

© Essilor International
© Essilor International

Figura 44: Camada «azul» provisória.

Os tratamentos anti-sujidade permitiram ultrapassar um dos


maiores obstáculos ao desenvolvimento dos tratamentos anti-
reflexos. A retenção de sujidades era efectivamente a principal
crítica que os portadores de lentes faziam a estes tratamentos.
© Essilor International

2. Tratamento anti-poeira
Além de poder sujar-se, a superfície de uma lente orgânica pode
também atrair as poeiras por um fenómeno electrostático. Com
efeito, o material orgânico é isolante e não condutor de cargas:
ao esfregar a superfície da lente, especialmente durante a sua Figura 45: Princípio do tratamento anti-poeira:
limpeza, geram-se cargas electrostáticas que não desaparecem a) Princípio da atracção electrostática do pó
rapidamente; estas cargas negativas atraem todas as partículas b) Repelência do pó numa lente tratada.
de pó carregadas positivamente. Por conseguinte, a lente nunca
está perfeitamente limpa e sem pó.

38
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento

Suplemento
Tecnologia de Fabrico dos Tratamentos Anti-Reflexos
A tecnologia de produção dos tratamentos anti-reflexos é muito sofisticada e requer equipamentos de alta tecnologia. Consiste em
depositar sobre a superfície das lentes uma série de camadas sobrepostas, transparentes, extremamente finas e com espessuras
perfeitamente controladas. O tratamento é aplicado em lentes prévia e totalmente acabadas, ou seja, após surfaçage, eventual coloração
e, no caso das lentes orgânicas, do verniz de protecção aos riscos. As lentes são colocadas numa estufa sob vácuo, onde as diferentes
camadas de tratamento são depositadas por evaporações sucessivas dos respectivos componentes.
Passamos agora a descrever, detalhadamente, as diversas etapas do fabrico destes tratamentos.

A) Preparação das lentes antes do tratamento Para atingir tais temperaturas, os materiais são postos num cadinho
em que o calor é criado por um destes dois processos:
- aquecimento por efeito de Joule: um cadinho de metal
Antes de depositar as diferentes camadas do anti-reflexos, é
refractário (tungsténio ou tântalo) ou de carbono é enchido com
necessário limpar a superfície das lentes, para eliminar todos os
o material sólido e é percorrido por uma intensa corrente

MATERIAIS & TRATAMENTOS


resíduos das anteriores etapas de fabrico e obter uma pureza
eléctrica que o leva a uma alta temperatura; o material funde e
quase perfeita à escala molecular. Esta limpeza é efectuada em
depois evapora-se na estufa em direcção às lentes. (Este efeito
cubas com produtos detergentes activados por ultra-sons (a sua
de Joule é muito conhecido: por exemplo, constitui a base de
acção baseia-se no fenómeno da cavitação, que consiste em
funcionamento dos radiadores eléctricos).
fazer variar fortemente e a alta frequência a pressão do líquido,
- aquecimento por bombardeamento electrónico: um «canhão
e cujo efeito corresponde ao de uma enérgica escovagem).
de electrões», baseado no mesmo princípio dos tubos catódicos
A colocação na estufa destas lentes ultra-limpas é feita em
(como os das antigas televisões), emite um feixe de electrões
«atmosfera de sala branca» – ou seja, controlada quanto ao pó,
focalizado, por meio de electroímanes, no material a evaporar
humidade, temperatura e sob alta pressão – para eliminar
colocado numa cavidade de formato apropriado. Os electrões
qualquer depósito de pó, que faria descamar o tratamento e
são absorvidos pelo material alvo, cedendo-lhe a sua energia
criaria pontos brilhantes na superfície da lente.
sob a forma de calor e levando o material a uma temperatura
Por último, é efectuada uma limpeza final sob vácuo,
tal que este se evapora.
imediatamente antes do depósito das camadas anti-reflexos:
- por «eflúvio», ou seja, por descarga eléctrica num gás sob
Para realizar o tratamento, é necessário medir e controlar em
fraca pressão; ou
tempo real a espessura de cada camada no decurso do depósito
- por bombardeamento iónico, uma espécie de decapagem
de material sobre a superfície da lente: um dos métodos mais
da superfície da lente por meio de um canhão de iões (um pouco
utilizado consiste em pesar o material depositado por meio de
como a decapagem de uma parede por meio de um jacto de
uma microbalança de quartzo piezoeléctrico. Trata-se de um
água a alta pressão) – técnica dita «Ion Pre-Cleaning» ou IPC.
cristal de quartzo capaz de vibrar com uma frequência muito
precisa (utilizado por esta razão nos relógios de quartzo). O valor
desta frequência é alterado por depósito de uma massa sobre
B) Evaporação no vácuo uma das suas faces. É o que acontece ao depositar-se uma fina
camada de material sobre um cristal de quartzo colocado na
A evaporação no vácuo consiste em levar um corpo ao estado gasoso estufa ao mesmo nível das lentes. Devido a um tratamento
por aquecimento numa atmosfera de vazio provocado (sublimação). electrónico, a variação de frequência é transformada numa
No caso dos materiais utilizados no tratamento anti-reflexos, para se medição precisa da espessura e da velocidade de depósito da
obterem camadas de boa qualidade é necessário um aquecimento camada extra-fina. Assim, a espessura das camadas depositadas
a temperaturas compreendidas entre 1000º e 2200º C. pode ser controlada à décima de nanómetro.
© Essilor International

Figura 46: Esquema de uma estufa de evaporação no vácuo.

39
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Suplemento

Tecnologia de Fabrico dos Tratamentos Anti-Reflexos


O que é o vácuo? E porquê o vácuo? C) Características das camadas anti-reflexos

Numa estufa repleta de uma atmosfera gasosa, as moléculas O efeito anti-reflexos é obtido pela sobreposição de camadas
estão permanentemente animadas de movimentos com de diferentes materiais, sucessivamente vaporizados na estufa
trajectórias rectilíneas e em colisão, quer entre si, quer com as e depositados na superfície das lentes. Os materiais utilizados
paredes da estufa. Se diminuirmos o número de moléculas são óxidos de sílica (SiO2), de zircão (ZrO2), de titânio (TiO2),
presentes na estufa, se produzirmos o vácuo, a sua raridade de nióbio (Nb2O5) e, no caso das lentes minerais, fluoreto de
conduz à inexistência de colisões entre moléculas, e à sua magnésio (MgF2).
colisão unicamente com as paredes da estufa. É o que se produz A composição exacta da estratificação e a espessura relativa das
num equipamento de fabricação de tratamentos anti-reflexos: o diversas camadas dependem da técnica do fabricante.
vácuo é criado por bombagem e as moléculas do tratamento, As propriedades das camadas são muito condicionadas pelas
vaporizadas na estufa, circulam sem colidir entre si até do substrato sobre o qual são depositadas. Por exemplo, as
MATERIAIS & TRATAMENTOS

encontrarem as paredes da estufa … ou a superfície das lentes lentes minerais suportam temperaturas até 300º C, mas é
a tratar com o anti-reflexos! impossível submeter as matérias orgânicas a temperaturas
O nível de vácuo criado na estufa é muito elevado: a pressão superiores a 100º C, porque amarelecem e depois decompõem-
interna é reduzida para cerca de 10-6 milibares, ou seja, quase se. Assim, foi necessário desenvolver processos de fabrico a
dez vezes menor que o «vazio» existente na superfície da lua ou baixas temperaturas para o tratamento das lentes orgânicas. Por
mil milhões de vezes inferior à pressão atmosférica terrestre! outro lado, os coeficientes de dilatação térmica dos materiais
orgânicos são muito superiores aos dos materiais minerais
utilizados nos estratos do anti-reflexos, podendo criar tensões
na interface do substrato e do tratamento: isto explica, por
exemplo, o facto de uma lente estalar quando submetida a um
choque térmico (por aquecimento excessivo nos equipamentos
do óptico (ventilette, por exemplo), ou por exposição prolongada
ao sol junto ao tablier de um automóvel). Por isso, no caso do
tratamento das lentes orgânicas, é preciso controlar
perfeitamente a temperatura à superfície das lentes durante o
depósito das camadas.
Resumindo, os processos de aplicação das camadas anti-
reflexos são complexos e requerem uma adaptação a cada um
dos materiais.

D) Organização da aplicação do tratamento


© Essilor International

Para receber o tratamento anti-reflexos, as lentes são colocadas,


uma a uma, em suportes em forma de sector, apoiadas em aros
adaptados. Estes sectores são dispostos sobre uma calote em
forma de cúpula que é depois introduzida na estufa sob vácuo.
As lentes são agrupadas, em séries de 100 a 150 no máximo,
Figura 47: Pressão atmosférica e atmosfera de uma estufa sob segundo os respectivos índices de refracção. A estufa é fechada
vácuo. e o vácuo é então criado por meio de várias bombas primárias
e secundárias. Depois, a aplicação do tratamento consiste numa
sucessão de evaporações dos diversos componentes, que se
depositam sobre a face da lente virada para o interior da cúpula.
Só a tecnologia de evaporação no vácuo permite actualmente O tempo de bombagem é de cerca de meia hora, e um ciclo
realizar tratamentos anti-reflexos de qualidade. Efectivamente: completo de evaporações demora cerca de uma hora.
- permite transferir para a superfície das lentes, por condensação, Terminado este ciclo, a estufa é aberta, a cúpula é extraída e as
materiais puros e de composição química rigorosamente lentes são minuciosa-mente voltadas. Recomeçam então as
controlada; mesmas operações de bombagem e de evaporação para
- possibilita a sobreposição de camadas com uma espessura tratamento da outra face das lentes. Depois do tratamento
extremamente precisa (± 0,1 nm) e perfeitamente controlada; terminar, as lentes são retiradas para serem inspeccionadas.
- garante uma óptima aderência das diferentes camadas devido
a interfaces livres de qualquer poluição externa.

A produção dos tratamentos anti-reflexos requer equipamentos


sofisticados e portanto de custo extremamente elevado, mas
exige sobretudo um grande domínio técnico de todo o processo:
o saber e a experiência do fabricante são fundamentais.

40
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Tecnologia de Fabrico dos Tratamentos Anti-Sujidade
O tratamento anti-sujidade consiste em aplicar por cima do a
último estrato do tratamento anti-reflexos, uma camada
simultaneamente hidrofóbica e oleofóbica de espessura muito
fina (com apenas alguns nanómetros).
Este revestimento pode ser aplicado de dois modos diferentes:

© Essilor International
- por um processo de imersão semelhante ao utilizado no
tratamento de protecção aos riscos, mas muito mais simples;
- por evaporação no vácuo, na estufa do tratamento anti-
reflexos, sendo imediatamente depositado sobre a última
camada da estratificação anti-reflexos.

Este revestimento é um composto químico, que contém por um


lado cadeias fluoradas e hidrocarbonadas e por outro lado b
moléculas à base de silício. As moléculas de silício permitem a

MATERIAIS & TRATAMENTOS


aderência das moléculas fluoradas à superfície do anti-reflexos.
O composto apresenta-se geralmente sob a forma de um
material líquido, e é vaporizado na estufa sob vácuo no final da

© Essilor International
aplicação do tratamento anti-reflexos, por um processo de
evaporação semelhante ao utilizado para as outras diversas
camadas. Então, deposita-se sobre a superfície do último estrato
do anti-reflexos, colmatando as irregularidades e os poros deste
tratamento e formando uma camada extremamente fina de
alguns nanómetros.
Figura 48: Densificação do tratamento anti-sujidade pelo
A primeira geração do tratamento anti-sujidade (Crizal®) apresentava processo HSD.
um número limitado de cadeias fluoradas, o que tornava a superfície
da lente só parcialmente hidrofóbica e oleofóbica. Depois, esse
número foi muito aumentado até a superfície ficar extremamente
deslizante (Crizal Alizé®). Atingido este ponto, tornou-se necessário
aplicar uma camada suplementar provisória, para reduzir o efeito
deslizante e permitir aos ópticos a montagem das lentes.
Posteriormente, o processo HSD (High Surface Density Process™)
permitiu aumentar ainda mais o número de moléculas fluoradas
depositadas na superfície do anti-reflexos, revestir melhor a lente
com uma camada mais densa e mais espessa, e assim tornar o
tratamento anti-sujidade ainda mais eficaz (Crizal Forte®).

Tecnologia de Fabrico dos Tratamentos Anti-Poeira


O princípio da produção do tratamento anti-poeira consiste em
introduzir na estratificação anti-reflexos uma camada
suplementar transparente, condutora das cargas electrostáticas.
Esta camada assegura o efeito anti-estático do tratamento da
seguinte maneira: as cargas negativas geradas durante a limpeza
das lentes são imediatamente eliminadas por condução e
portanto não atraem as poeiras com cargas positivas.

As condições de aplicação desta camada devem ser muito bem


controladas, para se obter simultaneamente uma boa condutividade
e uma perfeita transparência. Para tal, a espessura e a densidade
© Essilor International

desta camada transparente e condutora são monitorizadas devido


à utilização da i-technology™, uma adaptação das tecnologias
espaciais e das fibras ópticas. Trata-se de um processo de aplicação
do anti-reflexos baseado na utilização de iões:
- por um lado, antes do depósito da estratificação anti-
reflexos, as lentes são submetidas a um bombardeamento
iónico, para limpar as superfícies e permitir uma aderência
perfeita e duradoura do tratamento;
- por outro lado, durante o processo de evaporação, as Figura 49: Tratamento anti-poeira por meio da i-technology™.
moléculas são energizadas pelos iões, o que permite uma grande
densificação da camada antiestática e um depósito perfeitamente
uniforme.

41
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
3. Resistência e Protecção
Resistência e

Uma lente oftálmica, além de fina, leve e transparente, deve ser também protectora: deve resistir aos choques e proteger eficazmente os
olhos dos efeitos nocivos da radiação solar.
Protecção

Na terceira parte deste caderno, referem-se em pormenor as propriedades de resistência e filtração das lentes.

A Resistência aos Choques


A resistência aos choques é uma propriedade fundamental e Por outro lado, note-se que os tratamentos de protecção aos
absolutamente necessária: uma lente oftálmica deve resistir às riscos e anti-reflexos fragilizam as lentes e tornam-nas menos
agressões da vida quotidiana sem se partir; não pode nunca resistentes que as lentes não tratadas. No caso de um embate,
representar um risco, mesmo mínimo, para o portador, pelo a fissura nasce na estratificação anti-reflexos, naturalmente mais
contrário, deve constituir uma protecção. Ao longo do tempo, a frágil devido à sua natureza mineral, transmite-se ao verniz de
resistência aos choques das lentes oftálmicas foi protecção aos riscos e depois ao substrato: a lente no seu
consideravelmente reforçada. Inicialmente, as lentes conjunto fica fragilizada pelo seu componente mais fraco. Para
exclusivamente minerais eram naturalmente frágeis e partiam- remediar este facto e reforçar a resistência aos choques destas
se facilmente: nessa época, eram objecto de tratamentos de lentes, incorpora-se, entre o substrato e o verniz de protecção
MATERIAIS & TRATAMENTOS

têmpera química ou térmica para melhorar a resistência. aos riscos, uma camada de um «verniz primário» de tipo
Posteriormente, surgiram as lentes orgânicas com qualidades elastómero, capaz de deter a propagação da fissura devido à
naturais superiores, em termos de resistência, que muito sua natureza elástica. Esta camada serve também para favorecer
contribuíram para o seu sucesso. Por fim, foi criada a aderência do tratamento de protecção aos riscos e permitir a
regulamentação para impor às lentes oftálmicas normas de aplicação de vernizes mais duros.
resistência e garantir aos portadores toda a segurança
necessária.
Descrevemos agora as circunstâncias em que uma lente pode
quebrar, e recordamos as normas de resistência aos choques
que se aplicam às lentes oftálmicas.

1. Mecanismo de ruptura
A resistência aos choques de uma lente oftálmica resulta da
combinação da resistência natural do material utilizado, da
espessura da lente, da presença de tratamentos
de protecção aos riscos e anti-reflexos e de um eventual
tratamento anti-choques.
Se ocorrer um embate, geralmente sofrido na face convexa, o
processo de ruptura da lente é o seguinte: depois de uma certa
amplitude de deformação, cria-se uma estria incipiente na face
côncava da lente; esta estria constitui um ponto fraco a partir
do qual a energia mecânica do choque se concentra,

© Essilor International
provocando o seu alargamento e a sua propagação, sob a forma
de fissura, através da espessura da lente.
Em caso de embate, os materiais orgânicos e os materiais
minerais têm comportamentos totalmente diferentes:
- as lentes minerais, muito frágeis à extensão, têm um limiar
de resistência muito pequeno e partem-se muito facilmente:
necessitam de tratamentos de têmpera térmica ou química, o
Figura 50: Mecanismo de ruptura de uma lente oftálmica: fis-
que tornou mais difícil a sua utilização e causou a sua regressão;
suras incipientes na face côncava podem propagar-
- as lentes orgânicas têm intrinsecamente um melhor
se através da espessura da lente e provocar a sua
comportamento: a sua estrutura molecular confere-lhes uma
ruptura.
boa plasticidade e uma grande amplitude de deformação antes
da ruptura, permite-lhes absorver grande parte da energia do
choque e resistir melhor.
Os diversos tipos de materiais orgânicos têm propriedades
diferentes: as matérias termoplásticas, devido à relativa
liberdade e mobilidade das suas cadeias moleculares, podem
dissipar melhor a energia recebida dos choques. As matérias
termoendurecidas, devido à sua estrutura de redes reticuladas,
são mais rígidas e têm menor resistência. Assim, o CR39®
cumpre as normas em condições de espessura mínima; o
poliuretano tem uma boa resistência mas pode partir-se; o
policarbonato tem uma excelente resistência e não se quebra:
é o material resistente por excelência, utilizado inclusivamente
no fabrico de lentes de protecção. Os materiais orgânicos de
alto índice são geralmente mais resistentes que o CR39® mas
menos resistentes que o policarbonato.

42
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção
2. Normas de resistência aos a
choques
As normas de resistência aos choques relativas às lentes
oftálmicas diferem um pouco consoante os países: nos E.U.A.,
é a norma de resistência à queda de uma pequena esfera,
emitida pela Food and Drug Administration1 (FDA), que é válida;
na Europa e na Ásia, é a norma de resistência à pressão de uma
força de 100 newton, enunciada pelo Comité Européen de
Normalisation2 (CEN), que é aplicada.

© Essilor International
Especificando:

MATERIAIS & TRATAMENTOS


- Norma FDA (de resistência dinâmica): estipula que uma
lente oftálmica deve resistir à queda, no centro da sua face
convexa, de uma esfera de aço, com 16 g de massa e 16 mm
(5/8 de polegada) de diâmetro, partindo de uma altura de 1,27
m (50 polegadas). Numa amostragem de lentes testadas, a
tolerância é de 6,5% de lentes partidas. Emitida em 1972, esta
norma esteve na origem do grande desenvolvimento das lentes b
orgânicas nos E.U.A. e nos países que a adoptaram.

- Norma CEN (de resistência estática): estipula que uma


lente oftálmica deve resistir à pressão de uma força de 100
newton (ou seja, de uma massa de 10 kg) aplicada durante 10
segundos sobre a face convexa: a lente não deve quebrar, não
deve estalar com perda de matéria, e não deve deformar-se (a
variação da flecha não deve exceder 4,5 mm). Todas as lentes
devem obedecer às exigências desta norma. Para ser válida, os

© Essilor International
testes são realizados com as lentes mais frágeis, ou seja, as de
potências negativas.

Note-se que estas normas se referem a mínimos de resistência


aos choques, a que todas as lentes devem obedecer
obrigatoriamente. Mas os fabricantes são livres para levar mais
longe as qualidades dos seus produtos: é o caso da Essilor, que
optou por ser muito mais exigente do que as normas quanto à
resistência aos choques das suas lentes. Figura 51 : Testes de resistência aos choques:
a) Teste FDA: queda, sobre a face convexa da lente, de
A resistência aos choques é uma característica essencial para uma esfera de aço com 16 g de massa e 16 mm
proteger os olhos dos portadores das agressões mecânicas e de diâmetro, partindo de uma altura de 1,27 m.
conferir às lentes a devida durabilidade. Esta resistência tem b) Teste CEN: aplicação, sobre a face convexa da
importância primordial no caso do equipamento óptico das lente, de uma força de 100 newton durante 10
crianças. Os materiais orgânicos resolveram esta questão de segundos.
forma muito satisfatória: actualmente, é o policarbonato,
perfeitamente inquebrável, que constitui a melhor solução.

Referências das normas de resistência aos choques em vigor:


Norma ISO 14889; Norma ANSI Z 80.1 – 1987; Norma ISO
2859-1.

1 Serviços ministeriais de supervisão dos produtos alimentares


e dos medicamentos.
2 Comité Europeu de Normalização.

43
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção

B Protecção contra a luz


O olho humano possui um certo número de defesas naturais que de forte intensidade. Esta lente filtrante tem uma dupla função:
lhe permitem proteger-se da luz: obturação reflexa das pálpebras, reduzir o nível da intensidade da luz que atinge o olho, e eliminar,
constrição pupilar, filtração por parte dos meios transparentes, por absorção, as radiações nocivas. A lente pode ser de
adaptação retiniana à intensidade da luz, etc. Mas esta protecção transmissão fixa (com coloração uniforme ou esbatida – dégradée)
pode ser insuficiente e podem surgir lesões, por efeito cumulativo, ou de transmissão variável, ou seja, fotocromática.
nas próprias estruturas do olho. O recurso à protecção Vamos agora recordar a necessidade de protecção contra as
suplementar de uma lente filtrante, de forma permanente, permite radiações solares, examinar depois os princípios gerais da
aumentar a protecção e o conforto visual, e em condições protecção solar, e por fim referir os diferentes tipos de lentes
específicas, permite proteger os olhos de uma radiação luminosa filtrantes.
MATERIAIS & TRATAMENTOS

As radiações emitidas pelo sol

As radiações solares que atingem a Terra são um pequeno • os UVA (de 380 a 315 nm) cujo efeito bronzeador é bem conhecido;
subconjunto do vasto campo das vibrações electromagnéticas, • os UVB (de 315 a 280 nm) responsáveis pelas queimaduras da pele.
que se estendem das radiações cósmicas às ondas As radiações UV que atingem a Terra são constituídas por 95% de
radioeléctricas. Cada radiação é caracterizada pela sua UVA e 5% de UVB. As radiações com menor comprimento de onda,
frequência ν ou pelo seu comprimento de onda λ = c / ν (c = as UVC (de 280 a 200 nm), são perigosas e são interceptadas pela
velocidade da luz, ou seja, 300 000 km / s). A radiação solar camada de ozono que envolve a atmosfera.
presente na superfície da Terra cobre o intervalo compreendido - para além do domínio visível, os infravermelhos que se estendem
entre λ = 280 nm e λ = 2000 nm e inclui: de λ = 780 nm a λ = 2000 nm, e são para lá destes valores
- a radiação visível, ou seja, a que desencadeia a estimulação absorvidos pelo vapor de água presente na atmosfera.
dos receptores retinianos após atravessar os meios intra-oculares, A luz visível é portanto um pequeno conjunto de ondas do grande
e que abrange, segundo os valores normalizados, de λ = 380 nm campo das radiações electromagnéticas, notáveis pelo facto de
(violeta) a λ = 780 nm (vermelho); interagirem com os nossos olhos e nos permitirem ver o mundo.
- para aquém do domínio visível, os ultravioletas com comprimento
de onda λ = 380 nm a 280 nm, distinguindo-se 2 tipos:
10 -14

10 -12

10 -10

10 -2
10 -6

10 -4
10 -8

10 2

10 4
10

Raios Raios Raios Ultra- Luz Infra- Radar Feixes TV FM OC PO GO


Cósmicos γ X violetas Visível vermelhos Hertzianos
Micro-ondas Comprimento
de Onda λ
(m)

Ultravioletas Luz Visível Infravermelhos


© Essilor International

UVC UVB UVA

200 280 315 380 400 500 600 700 780 800 Comprimento
de Onda λ
(nm)

Figura 52: Radiações electromagnéticas e luz solar.

44
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção
1. Necessidade de protecção dos a. Efeito dos ultravioletas
A exposição aos ultravioletas é uma causa importante de lesões
olhos contra as radiações solares oculares. Algumas destas lesões são irreversíveis e podem
provocar uma perda parcial ou total da visão. Mais precisamente,
O sol marca o ritmo da nossa vida, fornece-nos luz e calor, mas nem a luz ultravioleta pode estar na origem de irritações oculares,
todas as suas radiações são benéficas. Algumas, nomeadamente secura dos olhos, lesões da conjuntiva, foto-queratites, oftalmias
as ultravioletas e a luz azul, podem ser perigosas a longo prazo. (ou queimaduras da córnea como a «cegueira da neve»),
Referimos seguidamente em detalhe os seus efeitos na visão e nas opacidades do cristalino, catarata precoce, e também afecções
estruturas do olho. retinianas particularmente nas crianças.
A luz ultravioleta constitui portanto um perigo quotidiano,
Transmissão da luz através das diferentes especialmente quando a sua concentração é maior: no Verão,
estruturas do olho quando a radiação solar é mais intensa; a meio do dia, quando o

MATERIAIS & TRATAMENTOS


sol atinge o zénite; na montanha, onde a neve reflecte 80% da
- A luz visível atinge a retina, incluindo os curtos comprimentos radiação; a grande altitude, onde as radiações aumentam cerca
de onda de forte energia. de 10% por cada 1000 m de altura; à beira-mar, devido à reflexão
- Os UVA são em grande parte absorvidos pelo cristalino, mas da luz solar na água (20%) e na areia (10%); na cidade, onde as
podem atingir a retina, particularmente no caso das crianças. superfícies brilhantes reflectem a luz e os UV.
- Os UVB são maioritariamente absorvidos pela córnea, mas Assim, convém proteger não só os olhos mas também a pele
uma pequena parte atinge o cristalino. destes efeitos nocivos!
- Os UVC são totalmente absorvidos pela camada de ozono.
b. Efeitos da luz azul
A luz azul é a mais energética do espectro visível. Também
designada pelo termo «AEV» (alta energia visível), cobre o
domínio espectral de 380 a 500 nm, dos violetas (380 a 420
nm) aos azuis (420 a 500 nm). Rica em energia, a luz azul é mais
difundida na atmosfera que os outros comprimentos de onda
do espectro visível (segundo a lei de Rayleigh): razão pela qual
o céu limpo tem cor azul. A luz azul está presente na luz directa
do sol, mas também é emitida por muitas fontes de luz artificial.
CÓRNEA RETINA
Porque penetra no olho, a luz azul tem efeitos na visão e na
200 nm
UVC
retina:
280 nm
UVB 70% 11% 19%
- Efeitos na visão: devido à sua mais forte difusão nos meios
CAMADA DE OZONO

315 nm
UVA 35,5% 13% 50% 1,5%
transparentes, é um factor importante do encandeamento. Por
380 nm
450 nm
outro lado, por ser focalizada à frente da retina pelo sistema
490 nm
560 nm LUZ
óptico do olho, está na origem de uma impressão de falta de
590 nm VISÍVEL nitidez.
© Essilor International

630 nm

780 nm
- Efeitos na retina: tal como as radiações ultravioletas, a luz
azul participa na degradação das células retinianas (epitélio
pigmentar e foto-receptores): uma exposição repetida e/ou
CRISTALINO MÁCULA
prolongada à luz azul pode provocar foto-traumatismos na
retina; a longo prazo, os efeitos cumulativos da exposição à luz
azul são considerados como um factor de risco de
Figura 53: Transmissão da luz através das diferentes estruturas degenerescência macular ligada à idade (DMLI) e portanto de
do olho. perda da acuidade visual.

importante referir aqui que nem todas as lentes solares são


uma protecção eficaz contra os ultravioletas e, por maioria de
razão, contra a luz azul. As lentes coloridas que não filtram
estas radiações nocivas, só protegem os olhos do
encandeamento pela redução da intensidade da luz visível: a
pupila dilata-se, então, por reacção reflexa e deixa penetrar
no olho uma maior quantidade de luz, por consequência,
ainda mais radiações nocivas. Conclui-se, portanto, que uma
lente solar de má qualidade pode ser pior que a ausência de
protecção. É evidentemente inaceitável que este tipo de
lentes possa ser proposto por profissionais de óptica
oftálmica.

45
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção

2. Lentes filtrantes em geral b. Classificação das lentes em função da luz


transmitida
Um filtro de luz pode ser caracterizado pelas suas propriedades
a. Princípio da filtragem / absorção das lentes físicas de transmissão da luz – factor de transmissão τ, curva de
Os materiais são compostos por moléculas formadas por transmissão e filtração UV – e pelas propriedades fisiológicas daí
átomos, as unidades elementares da matéria, que por sua vez resultantes: factor relativo de transmissão da luz visível τν. Este
são constituídos por um núcleo e por electrões. factor τν é específico da óptica oftálmica e resume as
A interacção destas moléculas com a luz traduz-se propriedades fisiológicas do filtro num único número: a relação
principalmente por uma excitação dos electrões, que passam de entre o fluxo de luz emergente da lente e o fluxo de luz incidente
um estado electrónico fundamental S0 a um estado excitado S1. na lente tal como são percepcionados pelo olho, ou seja,
A diferença entre estes dois níveis de energia pode ser registada ponderados para cada comprimento de onda pela eficácia relativa
por meio de um espectrómetro que fornece, mediante opção, espectral νλ do olho (ver a definição precisa no Suplemento acerca
MATERIAIS & TRATAMENTOS

uma representação gráfica designada espectro (ou curva) de da «caracterização das propriedades de transmissão de uma lente
absorção ou de transmissão. Um espectro constitui uma marca oftálmica»). Este factor corresponde a uma definição internacional
característica de uma molécula ou de um dado encadeamento normalizada e é utilizado para a classificação das lentes em cinco
de moléculas. Todas as matérias absorvem a luz mas de zonas graus de transmissão da luz: de 0, para as lentes claras, a 4, para
distintas do espectro solar. as mais escuras. Os critérios de classificação baseiam-se não só
Quanto maior a densidade electrónica da ligação das moléculas nas propriedades de transmissão da luz visível da lente, mas
que constituem o polímero, directamente relacionada com a também de transmissão dos UV-A e dos UV-B. Estes critérios são
natureza dos átomos e com o modo de ligação destes entre si, estabelecidos para lentes planas com uma espessura de 2,0 mm
mais o espectro de transmissão se desloca em direcção aos com luz incidente normal.
grandes comprimentos de onda. No caso das lentes brancas, a
constituição intrínseca do polímero é geralmente suficiente para Grau de Domínio espectral Domínio espectral
filtrar a maioria dos ultravioletas, caso contrário é possível filtração ultravioleta visível

acrescentar moléculas suplementares ditas «absorventes UV» Valor máximo Valor máximo Transmissão
da transmissão da transmissão da luz visível
para obter uma protecção total. Para uma protecção solar UV-B solar UV-A τv
suplementar contra a luz visível, nas lentes solares por exemplo, τ SUVB τSUVA 380-780nm
incorporam-se no polímero corantes que, devido à forte 280-315 nm 315-380 nm
densidade de electrões, deslocam o espectro de absorção para de a
UVB UVA
(%) (%)
a luz visível e asseguram assim o efeito de filtragem. (%) (%)

0 τv 80,0 100,0

τv

© Essilor International
1 43,0 80,0

2 0,125 τv 18,0 43,0


Energia
3 8,0 18,0
V4 0,5 τv
V3 4 3,0 8,0
1,0
V2 S1
V1
© Essilor International

V0 Figura 55: Classificação das lentes em função da luz


transmitida.
V4
V3 A cada uma destes graus de transmissão da luz corresponde
V2 S0
V1 uma descrição, uma indicação de uso e uma representação
V0 gráfica normalizadas apresentadas na Figura 56:
- grau 0 caracteriza as lentes brancas ou muito levemente
coloridas, utilizadas permanentemente;
Absorção Transmissão - grau 1 corresponde às colorações intermédias, entre lentes
brancas e lentes solares;
- graus 2, 3, 4 referem-se às lentes solares e correspondem a níveis
de luz solar média, forte e excepcionalmente forte, respectivamente.
Os pictogramas são normalizados e definem, por meio de imagens
Espectro Espectro internacionalmente convencionadas, o uso recomendado para
© Essilor International

cada grau de coloração e os respectivos limites. Com efeito, esta


normalização da classificação das colorações é acompanhada por
restrições de uso, que devem ser comunicadas aos utilizadores,
mais precisamente: uso das lentes não recomendado para a
Comprimento de Onda (nm) Comprimento de Onda (nm)
condução automóvel nocturna se a intensidade de coloração
atingir ou ultrapassar o grau 1; uso das lentes não recomendado
Figura 54: Modelo teórico da absorção da luz.
para a condução automóvel se pertencerem ao grau 4.

46
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção
Grau Descrição Pictogramas Indicações de Uso
d. Respeito da visão das cores
A redução de luz proporcionada pelas lentes filtrantes está
Lente branca associada à questão do respeito da visão das cores.
0 ou muito levemente Interiores – Céu encoberto Efectivamente, um filtro colorido, que possui uma certa
colorida
selectividade espectral, deforma inevitavelmente a visão das
Lente
cores. Por um fenómeno de «adaptação cromática», o cérebro
1 Luz solar atenuada
levemente colorida humano é capaz de minimizar os efeitos e de restabelecer, em
grande parte, a paleta relativa das cores naturais. Mas este
Lente fenómeno tem limites e a cor observada corresponde à
2 medianamente Luz solar média deformação residual após adaptação cromática. A cor é
© Essilor International

colorida
evidentemente função do filtro de luz e, mais precisamente, da
respectiva selectividade espectral.
3 Lente escura Luz solar forte
Por isso, certos tipos de colorações (como as Cores Fisiológicas®)

MATERIAIS & TRATAMENTOS


foram estudados para minimizar a deformação das cores e reduzir
Luz solar excepcionalmente forte. o «percurso cromático» de adaptação que o sistema visual deve
Lente muito escura Lente não adequada para
4
a condução automóvel. efectuar. O princípio consiste em seleccionar, para cada uma das
colorações clássicas em castanho, cinzento, cinzento-verde ou
Figura 56: Descrição e indicações de uso dos diferentes graus preto, uma nova coloração que, do ponto de vista teórico,
de transmissão da luz. transforma menos as coordenadas colorimétricas de uma fonte
luminosa cromática de referência (ver Figura 58) e, do ponto de
vista prático, é mais apreciada pelos portadores. Para definir as
c. Cor e transmissão de uma lente novas colorações, primeiro é calculado um índice teórico de
A cor de uma lente é determinada pela composição cromática da
restituição das cores, pela soma das distorções cromáticas finais,
luz que transmite, excepto no caso particular das lentes espelhadas,
após adaptação cromática simulada, de amostras de cores de
e resulta do somatório das radiações visíveis recebidas pelos olhos
referência. Este índice é utilizado para se fazer uma primeira
do observador.
selecção de colorações, que depois são avaliadas na prática por
A partir unicamente da cor de uma lente, é difícil avaliar com precisão
uma amostra de pacientes. Desta forma, pode-se proporcionar
as suas propriedades de transmissão. Contudo, podem estabelecer-
maior conforto visual aos portadores de lentes solares, não se
se alguns princípios gerais:
baseando a escolha da coloração unicamente em critérios
• a cor cinzenta transmite as radiações visíveis mais uniformemente;
subjectivos ou estéticos, mas também em critérios fisiológicos.
• a cor castanha absorve mais o azul-verde que o laranja-vermelho;
• a intensidade da cor traduz a quantidade de absorção da luz visível;
• a cor não está relacionada com a absorção dos ultravioletas ou dos
infravermelhos.

Inversamente, é igualmente difícil estabelecer a cor de uma lente a


partir da respectiva curva de transmissão. a
A escolha da cor é feita em função das propriedades de absorção
pretendidas, e da eventual tendência ametrópica do indivíduo – o
míope prefere geralmente o castanho e o hipermetrope o verde –
mas também em função dos gostos pessoais do portador. Por outro
lado, a tradição cultural pode também ter influência: o cinzento e as
cores neutras são considerados «bons filtros» no mundo anglo-saxão,
e a Europa continental prefere a cor castanha, por oferecer melhor
protecção contra as radiações da zona inferior do espectro visível e
por reforçar os contrastes.

τν b
b
100

80
© Essilor International

60

40
© Essilor International

20

0
Figura 58: Índice de distorção das cores – campo vectorial de
380
400

450

500

550

600

650

700

750

780

uma lente colorida:


λ(nm)
a) Coloração clássica b) Cores fisiológicas ®.
Figura 57: Curvas de transmissão da luz para diversas cores (Vectores curtos indicam uma fraca distorção das cores:
(cinzento, castanho, verde). a perturbação é menor e a visão é mais confortável).

47
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Suplemento

Caracterização da Transmissão de uma Lente Oftálmica


A luz transmitida por uma lente é a luz que não é reflectida nem A. Caracterização da transmissão de
absorvida pela lente, e depende da composição química do
material e dos eventuais tratamentos aplicados nas superfícies uma lente oftálmica
da lente. Factor de transmissão τ
Assim, o fluxo luminoso Φτ que atinge o olho corresponde ao fluxo Definido pela relação τ = Φτ / Φ, caracteriza as propriedades
Φ incidente na face convexa da lente subtraído do fluxo Φρ de transmissão de uma lente pela relação entre o fluxo luminoso
reflectido pelas 2 superfícies da lente e do fluxo Φα eventualmente Φτ emergente da superfície de saída e o fluxo luminoso Φ
absorvido pelo material, tal que Φτ + Φρ + Φα = Φ. incidente na superfície de entrada. Em geral, este factor é
A percepção do portador da lente resulta da combinação de 3 calculado para cada comprimento de onda λ da luz e é então
elementos: intensidade e composição espectral da luz incidente, designado factor espectral de transmissão τ(λ).
reflexão e absorção pela lente e respectivas selectividades espectrais
e, por fim, sensibilidade do olho às diferentes radiações visíveis. Curva de transmissão
MATERIAIS & TRATAMENTOS

Descreve as propriedades físicas da lente enquanto filtro de luz,


Referimos seguidamente os diversos factores utilizados para
apresentando a variação do seu factor espectral de transmissão τ(λ)
caracterizar as propriedades de transmissão, reflexão e
em função do comprimento de onda. Esta curva permite observar a
absorção das lentes oftálmicas.
selectividade espectral do filtro.

Transmissão versus absorção da luz: Factor relativo de transmissão da luz


A luz que atravessa uma lente sofre uma redução devido à reflexão visível τν
nas suas superfícies e à absorção do material. Este factor é específico da óptica oftálmica, e resume as
A reflexão é caracterizada pelo factor de reflexão ρν; propriedades fisiológicas do filtro num único número: a relação entre
a absorção é caracterizada pela absorção interna αi, ou seja, pela o fluxo de luz emergente da lente e o fluxo de luz incidente na lente,
proporção da luz absorvida entre a face de entrada e a face de saída tal como são percepcionados pelo olho, ou seja, ponderados para
cada comprimento de onda pela eficácia relativa espectral ν(λ) do
da lente (ver mais abaixo). Assim, quando se refere uma absorção
olho. Este factor é calculado por meio da seguinte fórmula:
de 15%, significa que uma redução interna do fluxo luminoso de
15% se acumula à redução devida à reflexão da luz nas superfícies


780
da lente branca. No caso de uma lente oftálmica branca, esta
τ (λ) . ν
 (λ) . SD65(λ).dλ
absorção é insignificante; no caso de uma lente filtrante constitui
uma das funções da lente. τν = 380


780
Tal como é definida, a absorção não caracteriza o efeito da redução
total da intensidade luminosa da lente, mas apenas o efeito da 380
ν (λ) . SD65 (λ).dλ
redução interna. Razão pela qual se opta geralmente pelo conceito
de «luz transmitida» – que integra o conjunto dos fenómenos que em que τ(λ) = factor espectral de transmissão do filtro, ν(λ) = eficácia
actuam sobre a intensidade luminosa – em vez de «luz absorvida» luminosa relativa espectral do olho, e SD65(λ) é a distribuição espectral
que só caracteriza a absorção interna da lente. da radiação da fonte de luz normalizada. Este coeficiente τν é o
utilizado para definir os graus de coloração das lentes oftálmicas e para
as classificar em função da respectiva transmissão da luz.

φλ τλ ν λ φλ
(%) (%)
60 60
100 100

80 80
40 40
60 60

40 40
20 20
(W/m2.μm)

(W/m2.μm)

20 20

τν
0 0 0 0
380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780
dλ λ(nm) dλ λ(nm) dλ λ(nm) dλ λ(nm)

φλ νλ φλ
60 (%) 60
100

80
40 40
60

40
20 20
(W/m2.μm)

(W/m2.μm)

20

0 0 0
380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780
dλ λ(nm) dλ λ(nm) dλ λ(nm)

Figura 59: Transmissão de uma lente oftálmica.

48
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Transmissão e filtragem dos UV
A óptica oftálmica interessa-se muito particularmente pelas C) Caracterização da absorção de uma
propriedades de absorção dos ultravioletas das lentes, lente oftálmica
caracterizada pela taxa de transmissão dos UV (UVA e UVB) ou
pela absorção dos UV. A taxa de transmissão dos UV é a Factor de absorção αi
proporção de luz transmitida na zona dos UVA (315 a 380 nm) e Definido pela relação αi = Φα / Φin, caracteriza a absorção de
na zona dos UVB (280 a 315 nm), e é expressa em %. A absorção uma lente pela relação entre o fluxo luminoso Φα = Φin - Φex
UV é determinada, na curva de transmissão da lente, pelo absorvido entre as faces de entrada e de saída da lente e o fluxo
comprimento de onda abaixo do qual a lente transmite menos de
luminoso Φin penetrado na lente. Se a absorção da lente variar
1% da luz, e é expressa em nm.
com o comprimento de onda, o factor espectral de absorção
interna αiλ da lente é determinado da mesma forma para cada
B) Caracterização da reflexão de uma comprimento de onda λ da luz incidente.

MATERIAIS & TRATAMENTOS


lente oftálmica
A quantidade de luz absorvida na travessia de um material é
Factor de reflexão ρ dada pela Lei de Lambert (Johann Heinrich Lambert, matemático
Definido pela relação ρ = Φρ / Φ, caracteriza a reflexão na de origem francesa, 1728-1777), que estabelece que camadas
interface de dois meios transparentes pela relação entre o fluxo de espessura igual de um material têm uma absorção de luz igual
luminoso reflectido Φρ e o fluxo luminoso incidente Φ. Em geral, (em %), qualquer que seja a intensidade da luz (por outras
determina-se o factor espectral de reflexão ρ(λ) para cada palavras, que a absorção é função exponencial da espessura).
comprimento de onda λ da luz incidente. Assim, é possível deduzir que o fluxo luminoso Φex que atinge a
superfície de saída da lente é dado pela fórmula Φex = Φin . e-kx
Ao nível de um dioptro de separação entre o ar e um meio em que k é o coeficiente de extinção específica do material e x
transparente com índice de refracção n, sob incidência normal da é a espessura de material atravessada pela luz. O factor de
luz, o factor de reflexão é dado pela seguinte fórmula estabelecida absorção interna é dado por αi = 1 - e-kx, sendo aplicado como
por Fresnel (Augustin Fresnel, físico francês, 1788-1827): um coeficiente redutor tal que Φex = Φin . ( 1 - αi ).

( )
2
n–1
ρ=
n+1

Este factor representa um travão à passagem da luz através do


dioptro e é utilizado como um coeficiente redutor aplicado ao
fluxo de luz incidente. Assim, um fluxo luminoso Φ, ao atravessar
um dioptro com factor de reflexão ρ, é reduzido de uma fracção
Φρ e fica, após atravessar o dioptro, Φ . (1 − ρ). No caso de uma Aplicação – cálculo do fluxo luminoso
lente oftálmica, o fenómeno da reflexão produz-se na face transmitido por uma lente:
convexa e na face côncava da lente, e o fluxo reflectido total é
dado pela expressão Φρ = Φ . ρ . (2 − ρ), pressupondo-se a
inexistência de absorção interna da luz. Considere-se um fluxo luminoso incidente Φ que atinge a
superfície de uma lente:
- após reflexão parcial no primeiro dioptro, o fluxo que
Factor de reflexão da luz visível ρν
penetra na lente é : Φ . (1 − ρ);
Este factor é utilizado em óptica oftálmica para caracterizar o - este fluxo sofre uma redução ao atravessar a lente, e fica
efeito visual da reflexão pela relação entre o fluxo de luz
Φ . (1 − ρ) . (1 − αi) quando atinge a segunda face da lente;
reflectida e o fluxo de luz - produz-se então uma nova reflexão da luz e o fluxo que

780
ρ (λ) . ν(λ) . SD65 (λ).dλ
incidente, tal como são
emerge é: Φτ = Φ . (1 − ρ)2 . (1 − αi).
percepcionados pelo olho, ou ρ = 380

seja, ponderados para cada ν



780

comprimento de onda pela 380


ν (λ). SD65 (λ).dλ
eficácia relativa espectral ν(λ)
do olho. Este factor é calculado da seguinte maneira:
em que ρ(λ) = factor espectral de reflexão do filtro, V(λ) = eficácia
luminosa relativa espectral do olho, e SD65(λ) é a distribuição
espectral da radiação da fonte de luz normalizada.

49
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção

3. Lentes filtrantes de cor fixa Graus PHYSIOBRUN PHYSIOGRIS PHYSIOXV PHYSIOBLACK

a. Lentes solares 0

O princípio da protecção contra as radiações solares consiste,


por um lado, em reduzir o nível de intensidade da luz visível 1
(cerca de 60 a 95%) e, por outro lado, em eliminar as radiações
nocivas, especialmente os ultravioletas. Assim, a acção da lente
solar é dupla: a eliminação dos ultravioletas é assegurada pelo

© Essilor International
2

material, e a redução da intensidade da luz visível pela coloração


da lente. 3
A classificação internacional atrás referida define 3 categorias
de lentes que podem ser usadas para a protecção solar:
- grau 2 (τν de 43 a 18%) para luz solar média;
MATERIAIS & TRATAMENTOS

- grau 3 (τν de 18 a 8%) para luz solar forte;


- grau 4 (τν de 8 a 3%) para luz solar excepcionalmente forte. Figura 60: Gama das Cores Fisiológicas ®.
A transmissão dos UVA (λ = 315 a 380 nm) deve ser igual ao
máximo do valor do τν para o grau 2 e a metade desta taxa para
os graus 3 e 4. A dos UVB (λ = 280 a 315 nm) não deve exceder τν
um décimo do τν qualquer que seja o grau de coloração. 100

90
A eliminação dos ultravioletas é um factor essencial da Grau 0
80
protecção solar. Os materiais orgânicos de alto índice filtram os
70 Grau 1
UV sistematicamente, mas o CR39 não, e por isso deve-se
obrigatoriamente acrescentar um absorvente de UV ao 60
monómero, no caso das lentes solares planas fabricadas em 50
Grau 2
série, ou aplicá-lo sobre a superfície da lente, no caso das lentes 40
correctoras produzidas à unidade. Não seria obviamente 30
correcto propor aos consumidores lentes que não filtrassem os

© Essilor International
Grau 3
20
UV e que implicassem o risco de ser mais prejudiciais do que
10 Grau 4
benéficas. Infelizmente, nem todas as lentes solares existentes
no mercado cumprem estes preceitos, e portanto é essencial 0

que os profissionais de óptica oftálmica se certifiquem, junto dos 280 330 380 430 480 530 580 630 680 730 780
fornecedores, das características das lentes que propõem aos Comprimento de Onda (nm)
pacientes ou clientes.

Por outro lado, o filtro solar pode ser selectivo do ponto de vista Figura 61: Curvas de transmissão da luz para os diversos graus
espectral, ou seja, pode eliminar certas cores do espectro e/ou de intensidade – CR39 brun (castanho), de 0 a 4.
aumentar a transmissão de uma parte específica do espectro.
Esta selectividade visa geralmente eliminar os ultravioletas e a b. Lentes filtrantes dos ultravioletas e da luz
luz azul.
azul
Por último, no capítulo sobre os tratamentos anti-reflexos,
referimos o benefício visual decorrente da aplicação deste 1) Lentes com melanina
tratamento na face côncava das lentes coloridas. Além do A melanina é um pigmento natural, existente nos cabelos, na
conforto visual proporcionado por estas lentes, certos pele e nos olhos. Este pigmento protege o corpo dos efeitos
tratamentos anti-reflexos são especialmente estudados para as nocivos do sol, mais particularmente dos ultravioletas e da luz
lentes solares, com o objectivo de reduzir a reflexão na face azul, por exemplo, dando à pele um tom bronzeado. Ao nível do
côncava da lente, não só da luz visível, mas também mais olho, actua contra a degradação das células retinianas
especificamente das radiações ultravioletas (Crizal Sun®, por absorvendo os fotões e dissipando a respectiva energia. De um
exemplo). modo geral, a quantidade de melanina naturalmente presente
no corpo é tanto mais elevada quanto mais escura for a cor dos
olhos, dos cabelos e da pele.
O princípio das lentes com melanina consiste em integrar na sua
composição, no próprio seio da lente, pigmentos de melanina
sintética, que reforçam a protecção natural dos olhos.

50
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção
Estas lentes têm a propriedade de proteger os olhos contra a Se intercalarmos, entre esta luz reflectida e o olho, um filtro
luminosidade ambiente ofuscante (essencialmente devida à luz polarizado de eixo vertical – portanto com direcção de polarização
azul), acentuar os contrastes e contribuir para retardar o perpendicular ao plano de vibração da luz reflectida – é possível
envelhecimento da retina e da pele do contorno dos olhos. eliminar totalmente esta luz.
Eliminam 100% dos UV e 98% da luz azul, e contribuem assim O funcionamento das lentes polarizadas baseia-se neste princípio.
para preservar a visão dos portadores. a
As lentes são castanhas e produzidas em policarbonato: uma
película colorida de espessura uniforme é adicionada durante a
fabricação, sobre a face convexa da lente, depois revestida por
um verniz protector. Têm assim uma cor natural e uniforme,
qualquer que seja a sua potência.
Estas lentes com melanina são especialmente recomendadas

MATERIAIS & TRATAMENTOS


para as crianças, cuja protecção é essencial, para as pessoas
com olhos claros e pele branca, naturalmente menos protegidas,
e para os adultos com mais de 60 anos, cuja protecção natural
diminui com o tempo.

© Essilor International
2) Colorações para actividades desportivas
A prática de um desporto requer muitas vezes uma protecção
ocular especial. O meio ambiente, as condições de luminosidade
e as exigências visuais são função do desporto praticado: o tipo
de lente indicado difere consoante a modalidade desportiva.
Além da correcção óptica, as lentes reforçam a visão dos
contrastes e optimizam a eficiência visual dos desportistas,
devido à sua coloração específica. b
Para corresponder a esta procura, criou-se uma gama de
«colorações para desportos» (Sports-Solutions™) estudadas em
colaboração com desportistas de alta competição.
Esta gama é constituída por uma série de cores especificamente
adaptadas às exigências dos diversos tipos de actividades
desportivas: por exemplo, castanho-claro, grau 2, para o golfe;

© Essilor International
amarelo polarizado grau 2, para o ciclismo; castanho polarizado,
grau 3, para os desportos náuticos; castanho-escuro, grau 4,
para o alpinismo, etc.
Estas colorações são aplicadas em lentes de policarbonato, que
aliam a leveza à incomparável resistência aos choques. Todas as
lentes desta gama eliminam 100% dos UV e, no mínimo, 92%
da luz azul, para assegurar uma perfeita protecção dos olhos e Figura 62: Princípio de actuação de uma lente polarizadora:
aumentar a percepção dos contrastes. a) Polarização da luz reflectida
As lentes podem ainda beneficiar, na face côncava, do b) Eliminação por meio de filtro polarizador.
tratamento anti-reflexos específico das lentes solares (Crizal®
Sun) e, na face convexa, de um efeito espelhado.

c. Lentes polarizadas
A luz é uma vibração electromagnética que se transmite em
todos os planos em volta da direcção da sua propagação. Benefícios das lentes polarizadas
Quando é reflectida por uma superfície plana, polariza-se, ou
As lentes polarizadas oferecem dois benefícios essenciais aos
seja, vibra apenas num único plano:
portadores de lentes solares: redução do encandeamento e
o plano perpendicular ao plano de incidência (definido pela reforço da percepção do relevo e das cores. Estes benefícios
direcção do raio luminoso e a normal à superfície no ponto de resultam da eliminação da luz reflectida horizontalmente.
incidência). Por exemplo, quando a luz do sol é reflectida por Efectivamente, esta luz reemitida por reverberação não só tem
uma superfície horizontal, como uma estrada ou um plano de uma intensidade ofuscante, como também perturba a visão por
água, esta vibra apenas no plano perpendicular ao plano vertical se sobrepor à luz proveniente do objecto observado. Eliminando
que passa pelo ponto de incidência e que inclui a direcção de selectivamente tal luz, suprime-se uma causa importante de
reflexão da luz (ver Figura 62); neste plano o eixo de vibração encandeamento e anula-se uma componente luminosa
da luz é horizontal. perturbadora dos contrastes. A visão é portanto mais
confortável e mais perfeita, por se reduzir a fadiga visual
associada ao encandeamento e por se melhorar a percepção
dos contrastes dos objectos.

51
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção

a b

© Essilor International
© Essilor International
a’ b’
MATERIAIS & TRATAMENTOS

© Essilor International

© Essilor International
Figura 63: Efeitos das lentes polarizadas:
a-a’) Anti-encandeamento
b-b’)Reforço dos contrastes. Para reconhecer uma lente polarizada …
É relativamente fácil verificar se uma lente é ou não polarizada: basta
observar, através da lente, a intensidade da luz reflectida, por
exemplo, pela estrada ou pelo capô de um automóvel, ou a
Comparativamente, as lentes solares tradicionais reduzem o intensidade da luz emitida por um ecrã LCD ou de plasma, e rodar a
encandeamento provocado pelo sol e pela luz reflexa lente em volta do respectivo eixo – se a luz se reduzir ou desaparecer
unicamente pela diminuição global do nível de transmissão da totalmente para uma certa orientação da lente e se for máxima para
luz visível; não actuam especificamente sobre a luz reflectida a orientação perpendicular, a lente é polarizada; se a intensidade da
perturbadora, e portanto proporcionam um conforto visual mais luz se mantiver constante, a lente não é polarizada.
limitado que o obtido com lentes polarizadas.
Os filtros polarizados são, por exemplo, obtidos por extensão de películas
Em relação às qualidades de filtragem das lentes polarizadas, é de polivinilacetato (PVA) com intensidade reforçada por corantes e cujas
interessante referir os seguintes aspectos particulares: moléculas fortemente esticadas polarizam a luz. Nas lentes oftálmicas,
- a redução da luz é em parte devida ao próprio princípio da afocais solares ou correctoras, o efeito polarizado é obtido pela inserção
polarização: eliminação de todas as ondas que não vibram no de uma película polarizadora muito fina no interior da lente durante a sua
plano vertical; fabricação (ver o Suplemento a seguir). Note-se que esta película possui
- as películas polarizadas são sempre coloridas: são geralmente uma certa orientação e que deve ser inserida na lente tendo em conta o
cinzentas, cinzentas-verdes ou castanhas, mas podem também ter eixo de uma eventual prescrição (eixo de astigmatismo ou orientação de
outras cores, e a intensidade de coloração pode atingir o grau 3; uma lente progressiva, por exemplo). Assim, as lentes polarizadas
- um filtro polarizado não é naturalmente protector contra os correctoras contêm referências permanentes (gravações) e referências
UV: esta propriedade depende das qualidades do material a que provisórias (marcações), que permitem orientar a lente na montagem. As
está associado e/ou do tratamento particular deste último. lentes polarizadas são maioritariamente produzidas em CR39 e
policarbonato, mas existem também em materiais orgânicos de alto índice
Note-se que o uso de lentes polarizadas pode originar e em matéria mineral.
fenómenos particulares:
- percepção de uma cor azul ou púrpura em alguns pára-brisas As lentes polarizadas têm um vasto campo de aplicação para
de automóveis, devido à polarização da luz transmitida através os portadores de lentes solares, pois além de reduzirem a
destes vidros, e resultante da composição ou do tratamento dos intensidade da luz, diminuem o encandeamento e acentuam os
mesmos; contrastes. Os condutores e os praticantes de actividades
- forte redução ou mesmo anulação da luz ao observar ecrãs náuticas ou de pesca reconhecem toda a utilidade destas lentes,
por eliminarem a luz reflectida numa estrada molhada ou na
LCD e de plasma (como os dos GPS, telefones, computadores
superfície da água.
portáteis, televisões, etc.), devido à polarização da luz por eles
As lentes polarizadas têm grande expansão no domínio das
emitida. Este problema é actualmente resolvido pela polarização afocais solares, mas a sua aplicação como correctoras, unifocais
não mais horizontal mas oblíqua da luz. e progressivas solares, é mais recente e o seu uso ainda muito
pouco difundido. A gama de lentes Xperio™, cujo nome significa
«eXperience the outdoors like never before», tem por objectivo
contribuir para desenvolver este mercado.

52
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção
d. Filtros especiais Muitos filtros são aplicáveis nas lentes orgânicas em CR39,
O objectivo destes filtros é transmitir selectivamente certas afocais ou correctoras, podendo ser eficazes para os pacientes
radiações e absorver outras parcial ou totalmente. Estes filtros amblíopes, afáquicos, albinos, ou afectados por DMLI,
podem ter duas funções distintas: retinopatia diabética, retinite pigmentar ou glaucoma. Estes
- função de protecção, reduzindo ou anulando o efeito nocivo filtros protegem os olhos contra os UV, melhoram a visão dos
de certos comprimentos de onda e/ou diminuindo a energia contrastes, reforçam o conforto visual e por vezes aumentam
luminosa que penetra nos olhos; mesmo a acuidade visual. Infelizmente, não existe uma relação
- função de estimulação, transmitindo selectivamente certos unívoca entre as características do filtro, a afecção visual e o
comprimentos de onda que melhoram a percepção do portador. conforto que este pode proporcionar. Só o ensaio por parte do
paciente, em condições reais de utilização e por meio de faces
Existe uma grande variedade de filtros, e portanto damos adicionais amovíveis, permite determinar a cor e a intensidade
apenas alguns exemplos: mais adequadas.

MATERIAIS & TRATAMENTOS


Filtros que interceptam os UV a
Os filtros que aumentam a absorção natural dos UV por parte
dos materiais orgânicos e minerais brancos podem ser utilizados
para reforçar a protecção contra estas radiações. Para permitir
100%
o uso permanente destas lentes, estudámos filtros que
reduzissem apenas ligeiramente a transmissão do espectro 80%
visível. Por exemplo, a intercepção dos UV por parte de um 60%

© Essilor International
material orgânico tradicional como o CR39 é de 355 nm, mas 40%
pode ser elevada para 400 nm, mediante a aplicação de um 20%
tratamento de superfície constituído por um filtro de UV
associado a uma leve coloração castanha de grau 0 (Figura 64a);
caso contrário, o filtro adquire uma tonalidade amarelada. De 380 400 500 600 700 780
um modo geral, note-se que os materiais orgânicos são
melhores filtros de UV que os materiais minerais e que, entre os
orgânicos, os materiais de alto índice, incluindo o policarbonato,
filtram mais UV que o CR39. b

Filtros que acentuam os contrastes


Estes filtros absorvem as radiações ultravioletas e azuis e 100%
transmitem especificamente a parte central do espectro visível. 80%
Por exemplo, um filtro amarelo claro (grau 1) elimina a difusão
da luz azul e transmite especificamente os comprimentos de 60%
© Essilor International

onda próximos do máximo de sensibilidade do olho (Figura 40%


64b). Permite melhorar a percepção dos contrastes com céu 20%
encoberto, tendo utilidade, por exemplo, para os condutores,
montanheses e caçadores. Do mesmo modo, um filtro amarelo- 380 400 500 600 700 780
laranja mais intenso (grau 1,2 ou 3) filtra as radiações UV e azuis
até 400, 445 455 nm respectivamente e transmite
especificamente a zona central do espectro (Figura 64b). Pode
ser utilizado para melhorar a visão e o conforto visual dos
amblíopes e dos afáquicos. c

Filtros de alta absorção


Estes filtros absorvem as radiações UV e as da parte inferior do 100%
espectro visível e só transmitem as da parte superior. Por 80%
exemplo, um tratamento castanho-vermelho escuro (grau 3 ou
60%
4), que intercepta todas as radiações até 445 nm (grau 3) ou
© Essilor International

560 nm (grau 4) e transmite selectivamente as radiações da 40%


parte superior do espectro visível, permite reduzir a estimulação 20%
dos bastonetes da retina e fazer repousar o sistema escotópico
mantendo a acuidade visual (Figura 64c). 380 400 500 600 700 780

Figura 64: Curvas de transmissão de alguns filtros especiais:


a) Filtro UV sobre Orma (UVX ®)
b) Filtro amarelo (Kiros ®) e amarelo-laranja (Lumior ®)
c) Filtro castanho-vermelho (RT ®).

53
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Suplemento

Tecnologia de Fabrico das Lentes Filtrantes com


Transmissão Fixa
Coloração integral da matéria e coloração por A coloração das lentes orgânicas oferece múltiplas possibilidades.
tratamento de superfície A sua execução é relativamente simples: as lentes podem ser
coloridas à unidade, aos pares ou por lotes, por cópia de lentes-
Do ponto de vista do modo de produção, distinguem-se 2 modelo. O poder de observação e a experiência do técnico de
grandes tipos de lentes coloridas: coloração são essenciais: a coloração das lentes orgânicas requer
- lentes com coloração integral da matéria, ou seja, cujo perícia, para não dizer arte!
material é colorido previamente à surfaçage da lente;
- lentes coloridas por tratamento de superfície, ou seja,
submetidas a uma coloração após a respectiva surfaçage.
Estas duas técnicas aplicam-se quer em lentes orgânicas, quer
em lentes minerais; a opção por uma delas depende não só do
material mas também das limitações logísticas, mais
MATERIAIS & TRATAMENTOS

precisamente do volume de lentes a fabricar.


Em geral, a grande maioria das lentes solares afocais são
fabricadas com coloração integral da matéria, e a grande
maioria das lentes correctoras solares são coloridas por
tratamento de superfície.

© Essilor International
A. Lentes orgânicas
1. Coloração integral da matéria
Os materiais orgânicos com coloração integral são
exclusivamente utilizados para o fabrico de lentes afocais
solares, pois praticamente já não são usados para as lentes Figura 65: Coloração de lentes orgânicas por impregnação da
correctoras. No caso das matérias termoendurecidas, estes superfície.
materiais são obtidos por adição de diversos corantes ao
monómero aquando da sua formulação e antes da respectiva 3. Coloração por impregnação de um verniz
polimerização. No caso das matérias termoplásticas, e mais Os corantes penetram facilmente no CR39, mas tal não se
particularmente do policarbonato, os corantes são integrados verifica em todos os materiais, particularmente nos
na fabricação dos grânulos do polímero ou na fusão do polímero termoplásticos como o policarbonato. Neste caso é necessário
antes da sua injecção. Geralmente, em todos estes materiais, recorrer a técnicas de coloração diferentes consoante as
incorporam-se absorventes de UV para aumentar a protecção qualidades de absorção do material: por exemplo, submeter a
contra estas radiações. Os materiais orgânicos com coloração superfície do material a uma forte acção dos UV de forma a
integral permitem produzir em série lentes solares planas de permitir a difusão de corantes no seio da matéria a partir das
todas as cores e de todas as intensidades. superfícies da lente, ou aplicar na face côncava da lente um
verniz que depois será impregnado de corantes.
2. Coloração por impregnação da superfície
Consiste em impregnar as superfícies da lente com corantes, e é 4. Coloração por sublimação
efectuada por imersão das lentes numa solução contendo Processo mais recente, baseado no seguinte princípio: sobre
corantes e diversos aditivos adjuvantes da coloração. Os corantes uma folha de um papel especial é impressa a tinta colorida
penetram na matéria até uma espessura de cerca de 6 a 10 destinada a impregnar as lentes. A folha é colocada por cima
mícrones. A coloração é geralmente efectuada antes de um das lentes dispostas num tabuleiro e isoladas por meio de um
eventual tratamento de protecção aos riscos. suporte circundante individual.
A intensidade da cor é determinada pela natureza e a O tabuleiro é posto num forno sob vácuo que permite transferir a
concentração do corante e pelo tempo de imersão da lente: tinta para a lente: a tinta passa do estado sólido ao estado gasoso
cerca de 1 minuto para as cores mais claras até cerca de 2 horas (sublimação) e deposita-se na superfície da lente. Depois, as lentes
para as mais escuras. A cor e tonalidade da coloração é são colocadas numa estufa a 150º C, durante várias horas, para
determinada pelas concentrações relativas dos três corantes permitir a migração dos corantes através da superfície das lentes
primários – azul, amarelo, vermelho: obtém-se portanto uma e a sua fixação no substrato.
paleta ilimitada de matizes. Por outro lado, a coloração pode ser Desenvolvido inicialmente para a coloração dos materiais orgânicos
uniforme em toda a lente, ou esbatida – dégradée de cima para de muito alto índice, que não podem ser tratados por imersão, este
baixo, bi-dégradée a partir de cima e de baixo, e tricolor pela processo de coloração por sublimação poderá augurar uma nova
combinação de um duplo esbatimento sobre fundo de coloração era na coloração de lentes. Além de permitir a coloração de novos
uniforme! materiais, também apresenta a vantagem de ser mais «inócuo»:
O dégradé da cor é obtido por deslocação da lente em relação utilizam-se folhas impressas em vez de pós químicos, não existe o
ao banho de coloração: presa por uma pinça, a lente é risco de emanações perigosas, não é necessário reciclar os banhos
totalmente imersa, com a parte superior dirigida para baixo, e e não se consome água. Este processo apresenta portanto trunfos
depois é retirada muito lentamente; a parte superior, que para um desenvolvimento forte e duradouro.
permanece mais tempo no banho, é mais impregnada de
corantes que a parte inferior, criando-se assim a variação da cor.
54
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
5. «Coloração» por inserção de uma película
As lentes polarizadas são um caso particular de «coloração»:
obtidas pela inserção, no seio das lentes orgânicas, de uma
película muito fina de polivinilacetato (PVA) colorido, com uma
espessura de cerca de 35 a 40 mícrones. No fabrico das lentes
de receituário, são utilizadas duas técnicas diferentes:
- a tecnologia de «embedded film» (película embutida) utilizada
para os materiais termoendurecidos (CR39®, por exemplo):
consiste em inserir uma película polarizada no molde, introduzir o
monómero dos dois lados da película e efectuar a polimerização;
- a tecnologia de «wafer» (película laminada) utilizada para as
© Essilor International

lentes em policarbonato: consiste em produzir laminados

MATERIAIS & TRATAMENTOS


polarizados, constituídos por uma película polarizada inserida
entre duas finas camadas de policarbonato, com uma espessura
total de cerca de
0,6 mm, e em aplicar esta estrutura sobre a face convexa dos
moldes (inserções) colocados na prensa onde será efectuada a
injecção do material.
Nos dois casos, a película polarizada fica presa entre duas
camadas do material. Estes processos são essencialmente
utilizados no fabrico das lentes semi-acabadas, unifocais ou
progressivas com acabamento posterior da face côncava. No
fabrico das lentes solares polarizadas são utilizadas técnicas
idênticas mas em grande escala.
Relembremos que a película polarizada possui uma certa
orientação (eixo de polarização vertical) e que deve ser inserida
na lente tendo em conta o eixo de uma eventual prescrição
astigmática ou da orientação de uma superfície progressiva. Por
consequência, a logística de fabricação das lentes polarizados é
relativamente simples para as afocais solares (que podem ser
orientadas posteriormente), mas apresenta maior complexidade
© Essilor International

para as lentes correctoras (que devem ser orientadas no


momento da fabricação).

Figura 66: Coloração de lentes orgânicas por sublimação.


© Essilor International

Figura 67: Coloração de lentes orgânicas por inserção de uma


película.

55
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento

B. Lentes minerais 4. Lentes filtrantes de cor variável


a. Princípio geral do fotocromatismo
1. Coloração integral da matéria
A coloração integral da matéria mineral é obtida por A protecção de uma lente filtrante com transmissão fixa da luz é
incorporação, na sua composição, de sais metálicos com eficaz, mas tem o inconveniente de não se adequar a todas as
propriedades de absorção específicas: por exemplo, sais de circunstâncias: se o filtro for de tipo solar, é muito escuro para ser
níquel e cobalto (púrpura); cobalto e cobre (azul); crómio (verde); usado em ambiente interior; se o filtro for de fraca intensidade, é
ferro, cádmio (amarelo); ouro, cobre, selénio (vermelho), etc. muito claro para ser usado no exterior. As lentes fotocromáticas,
Estes materiais assim coloridos são utilizados essencialmente cuja transmissão varia com a intensidade da luz e se adapta às
para a fabricação em série de lentes afocais solares e de diversas condições de iluminação, constituem portanto uma
protecção. Existem também alguns materiais com uma leve solução.
MATERIAIS & TRATAMENTOS

coloração integral (castanha, cinzenta, verde ou rosa),


especificamente filtrantes, que são utilizados para a fabricação Do ponto de vista técnico, as lentes fotocromáticas (do grego
«phôtos» = luz e «khrôma» = cor) têm a propriedade fundamental
de lentes correctoras, mas o seu uso é actualmente muito
de escurecer, sob a acção dos ultravioletas, e de aclarar, na sua
limitado. Com efeito, têm o inconveniente da intensidade da cor
ausência e sob a acção do calor.
depender da espessura da lente, e portanto foram substituídos
Esta propriedade é reversível, e as características de transmissão
por materiais orgânicos. da lente oscilam entre dois extremos:
o estado mais claro dito «não activado» e o estado mais escuro dito
2. Coloração por tratamento de superfície «activado». Do ponto de vista químico,
A coloração da superfície das lentes minerais consiste em aplicar o fotocromatismo é uma transformação reversível entre dois
sob vácuo um revestimento de compostos metálicos sobre uma estados que conferem à lente propriedades de transmissão e cor
face da lente. As lentes são aquecidas a 200-300º C e o diferentes. A transformação dá-se da seguinte maneira: os
revestimento é depositado por evaporação sob forte vácuo (10- ultravioletas (com comprimento de onda compreendido entre 340
5 milibares) de materiais tais como os óxidos de crómio, e 380 nm) fornecem a energia necessária à transformação química
molibdénio ou titânio misturados com monóxido de silício ou que provoca o escurecimento da lente, e o calor ambiente induz o
fluoreto de magnésio. Consoante os materiais utilizados e a cor regresso ao estado claro inicial.
e intensidade pretendidas, o revestimento pode ser constituído
por uma única camada espessa e contínua ou por sobreposição
de uma série de finas camadas alternadas, sendo a espessura
total de cerca de 1 mícron. A intensidade da coloração é
determinada pela espessura da camada depositada, e a cor é
definida pelos materiais utilizados: os óxidos produzem
geralmente tonalidades castanhas, e a cor cinzenta é
normalmente obtida a partir da mistura de um metal e de
compostos transparentes tais como a sílica. As camadas
depositadas têm espessura igual, para se obter sempre uma cor
uniforme. A paleta de cores possíveis continua a ser
relativamente limitada.
A tecnologia utilizada para a coloração das lentes minerais é © Essilor International
sofisticada, semelhante à empregue nos tratamentos anti-
reflexos.

Figura 68: Princípio geral do fotocromatismo.

Este princípio geral tem várias consequências:


- dado que o fotocromatismo é activado pelos UV, uma lente
fotocromática pode escurecer sem sol visível, sob céu
encoberto, por exemplo;
- dado que a intensidade da cor adquirida pela lente resulta
do equilíbrio entre o número de moléculas activadas pelos UV e
o número de moléculas desactivadas pelo calor ambiente, uma
lente fotocromática tende a escurecer menos quando faz calor
do que quando faz frio;
- dado que o escurecimento é provocado pelos ultravioletas
e que estes são no todo ou em parte interceptados pelos vidros,
as lentes fotocromáticas não funcionam em ambiente interior, e
particularmente não escurecem por detrás do pára-brisas de um
automóvel (com excepção de um tipo especial de lentes
activadas pela luz visível, que por consequência conservam
sempre alguma cor).

56
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção
b. Fotocromatismo de lentes orgânicas
As lentes fotocromáticas orgânicas são relativamente recentes: As lentes fotocromáticas orgânicas utilizam simultaneamente
só tiveram expansão real a partir da década de 1990, com a vários tipos destas moléculas, pois os seus efeitos combinados
introdução no mercado das primeiras lentes Transitions®, ou permitem obter, em função do doseamento, as tonalidades
seja, mais de 25 anos depois das fotocromáticas minerais. O cinzentas ou castanhas pretendidas pelos portadores. A
princípio do fotocromático mineral não era aplicável à matéria tonalidade é obtida por efeito subtractivo de mistura de cores
orgânica, porque as estruturas e dimensões das moléculas eram primárias.
muito diferentes; foi portanto necessário encontrar outras O desenvolvimento das fotocromáticas orgânicas é tal que
moléculas. O efeito fotocromático das lentes orgânicas é obtido actualmente a oferta inclui várias versões o que permite adaptar
pela introdução na matéria de compostos fotossensíveis que, as lentes fotocromáticas aos diferentes modos e estilos de vida
por acção de radiações UV específicas, sofrem uma alteração de dos portadores.
estrutura que modifica as suas propriedades de absorção da luz

MATERIAIS & TRATAMENTOS


visível. São utilizadas várias famílias de moléculas e as
transformações de estrutura sofridas por estas moléculas
podem ser de diversa ordem: rupturas de ligação, formação de
ligações, isomerizações cis-trans, etc.
Para ilustrar este fenómeno, descrevemos o princípio de
funcionamento de uma molécula fotocromática utilizada nas
lentes Transitions® (Figura 69): sob a acção dos UV, a molécula
abre-se e desdobra-se no espaço de modo a imobilizar-se
temporariamente numa configuração plana, posição em que a
deslocalização dos electrões é máxima e induz uma forte
absorção da luz visível, escurecendo a lente. Quando a
estimulação dos UV cessa, a molécula regressa ao estado inicial
incolor sob o efeito da temperatura.

© Essilor International

Figura 69: Princípio de funcionamento do fotocromático orgânico.

57
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Caracterização das Propriedades das Lentes Fotocromáticas
Suplemento

Transmissão de luz no estado claro e no estado diferentes consoante as versões): cada uma tem a propriedade
escuro de absorver uma parte específica do espectro da luz visível. Se
As propriedades de transmissão da luz de uma lente o tempo de reacção destas substâncias não for igual, verifica-se
fotocromática são descritas com precisão por curvas de uma variação da cor da lente no decurso do fenómeno
transmissão e por coeficientes τv medidos no estado claro e no fotocromático
estado escuro. A variação de transmissão criada pelo fenómeno (efeito de «camaleão»). Esta particularidade observada nas
fotocromático é assim perfeitamente traçada. As últimas primeiras gerações de fotocromáticas orgânicas foi muito
gerações de lentes fotocromáticas orgânicas têm uma eficácia nitidamente atenuada nas gerações seguintes.
notável: por um lado, lentes perfeitamente transparentes no
estado claro (τv > 90%) e, por outro lado, com o nível de uma
coloração solar de grau 3 no estado escuro (τv < 20%), com Sensibilidade às condições climáticas
temperatura ambiente moderada. O calor ambiente é o estimulador natural do aclaramento da
lente fotocromática e assegura a reversibilidade do fenómeno.
τν Existe portanto um antagonismo entre o efeito dos ultravioletas
e o efeito do calor: sob igual radiação UV, a lente fotocromática
100 tende a escurecer tanto mais, quanto mais baixa for a
90 temperatura. Assim, uma mesma lente fotocromática torna-se
MATERIAIS & TRATAMENTOS

80 mais escura no inverno em alta montanha, que no verão em


70
plena praia! Para descrever este efeito, mede-se a capacidade
60
de escurecimento da lente em diversas simulações de condições
climáticas, em particular em condições de forte temperatura
50
(35°C / 95°F). As diversas curvas de escurecimento mostram,
40
pelas suas diferenças, o efeito real das condições climáticas
© Essilor International

30
sobre o fenómeno fotocromático.
20

10
Evolução no tempo
0
As propriedades de fotocromatismo das lentes orgânicas
280 330 380 430 480 530 580 630 680 730 780
evoluem com o tempo. Sob o efeito de uma oxidação das
Comprimento de Onda (nm)
moléculas fotossensíveis, a amplitude do mecanismo
Figura 70: Curvas de transmissão de luz no estado claro e fotocromático tende a diminuir: após alguns anos, a lente
no estado escuro (Transitions® VI Gris e Brun). escurece um pouco menos que no início. Assim, é interessante
(Fonte: Transitions Optical) avaliar em laboratório a amplitude real desta alteração. Para tal,
selecciona-se uma lente no final do processo de produção e
Cinéticas de escurecimento e aclaramento medem-se as respectivas cinéticas de escurecimento e
As propriedades fotocromáticas são geralmente representadas aclaramento. Depois, a lente é submetida a um envelhecimento
por curvas de escurecimento e aclaramento da lente. Estas curvas artificial, por exposição a uma radiação UV intensa durante 200
apresentam a evolução do τv em função do tempo, nas fases de horas. Medem-se então novamente as cinéticas do seu
escurecimento e de aclaramento da lente, a uma temperatura de fotocromatismo e, por comparação com as medidas de origem,
23°C / 73°F. No exemplo considerado na Figura 71, constata-se pode-se quantificar a evolução das suas propriedades.
que o τv decresce na fase de escurecimento e cresce na fase de
aclaramento. O declive mostra que o escurecimento é Todas estas propriedades das lentes fotocromáticas são
significativamente mais rápido que o aclaramento. medidas em laboratório, por meio de uma instrumentação
sofisticada que visa recriar artificialmente as condições
Estabilidade da cor climáticas reais de utilização.
O fotocromatismo de uma lente é obtido pela introdução de
moléculas fotossensíveis que reagem à estimulação dos
ultravioletas. Nas fotocromáticas orgânicas, intervêm várias
moléculas (nas Transitions® VI são utilizadas 5 a 7 moléculas

τν% τν%
100
90
80
70
60
50
40
© Essilor International

30
20
10
0
0 1 5 10 15 0 1 5 10 15 20
0,5 mn 0,5 mn

Figura 71: Cinéticas de escurecimento e de aclaramento (Transitions® VI Gris e Brun).

58
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento
Características das fotocromáticas orgânicas a) Tão transparente quanto uma lente branca

Ao longo das diferentes gerações de lentes que se sucederam, as


fotocromáticas orgânicas sofreram consideráveis aperfeiçoamentos.
Tendo como exemplo as lentes Transitions® VI, analisemos as suas
presentes características:
90%
AR
95%

© Essilor International
- No estado inactivo, tão transparente quanto uma lente branca Transitions® VI
AR
(Figura 72a): no estado claro, uma lente fotocromática oferece
uma transmissão de cerca de 90%, que se eleva para 95% 99% Lente branca 1.6
quando tem tratamento anti-reflexos. Assim, uma lente AR
fotocromática é perfeitamente clara no estado inactivo, e é mais
transparente com anti-reflexos que uma lente branca sem anti-
0 1 2 3 4
τν
reflexos. Note-se também que o tratamento anti-reflexos, além de 100% 80% 43% 18% 8% 3%
Claro Escuro
aumentar a transparência da lente, favorece o fenómeno
fotocromático por aumentar a intensidade da luz que penetra na
b) Tão escura quanto uma lente solar

MATERIAIS & TRATAMENTOS


lente, sendo portanto particularmente recomendado em lentes
fotocromáticas;

- No estado activado, tão escura quanto uma lente solar (Figura


72b): no estado escuro, a transmissão da lente desce para cerca
de 12% a 15% após uma activação total de 15 minutos com 23º
12%

© Essilor International
C / 73º F, e atinge portanto o nível de transmissão de um filtro de
grau 3. Assim, as lentes fotocromáticas podem perfeitamente Transitions® VI

rivalizar com as lentes solares. Note-se que a cor cinzenta escurece 15%
um pouco mais que a cor castanha;

- Uma cinética de escurecimento muito rápida (Figura 72c): após


30 segundos de activação, a transmissão da lente desce para cerca
0 1 2 3 4
τν
100% 80% 43% 18% 8% 3%
de 30%, após 1 minuto para 20% e após 2 minutos para 15%, Claro Escuro
demonstrando-se assim a rapidez do fenómeno fotocromático. A
quase totalidade do escurecimento é atingida em menos de 2 c) Cinética de escurecimento muito rápida
minutos;

- Uma cinética de aclaramento melhorada (Figura 72d): o tempo


necessário para o aclaramento da lente é sempre mais longo que 30% 20% 12%/15%
30 s 1mn 15 mn
o requerido para o seu escurecimento. Este continua a ser o ponto

© Essilor International
fraco das lentes fotocromáticas, apesar de ter sido
consideravelmente reduzido: em 30 segundos, a transmissão eleva- Transitions® VI 12%
se em média de 12-15% para 25% e em 2 minutos atinge 45%. 15%
Para regressar, a partir da activação máxima, a uma transmissão
de 70%, são necessários respectivamente 7 e 9 minutos para a cor
castanha e a cor cinzenta; o retorno ao estado claro requer cerca
de 20 a 25 minutos;
0 1 2 3 4
τν
100% 80% 43% 18% 8% 3%
Claro Escuro
- Menor sensibilidade à temperatura: o efeito da temperatura
foi, durante muito tempo, um travão ao desenvolvimento das
d) Cinética de aclaramento melhorada
lentes fotocromáticas nos países de clima quente. Actualmente, o
problema foi superado: com 35°C / 95°F, a transmissão da lente
desce para cerca de 30%, atingindo portanto o nível de uma lente
filtrante de grau 2, com uma capacidade de escurecimento da cor 70% 45% 25%
cinzenta um pouco maior que da cor castanha. 7-9 mn 2 mn 30s
© Essilor International

As qualidades das lentes fotocromáticas orgânicas progrediram 12%


Transitions® VI
notavelmente com o tempo. Permitem agora o uso destas lentes
15%
em todas as circunstâncias, quer em ambiente interior quer no
exterior, e asseguram aos portadores uma óptima protecção
permanente contra a luz visível e os ultravioletas.
0 1 2 3 4
τν
100% 80% 43% 18% 8% 3%
Claro Escuro

Figura 72: Características das lentes fotocromáticas


(Transitions® VI) (Fonte: Transitions Optical).

59
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Resistência e
Protecção

c. Fotocromatismo de lentes minerais


Benefícios das lentes fotocromáticas:
O conceito de fotocromatismo mineral é conhecido há muitos
anos: foi introduzido no mercado, em 1965, pela empresa As lentes fotocromáticas oferecem dois benefícios essenciais aos
Corning com as primeiras lentes Photogray®, e depois foi portadores: adaptação mais fácil às variações de luminosidade
aperfeiçoado com as diferentes gerações de lentes que lhe e protecção permanente contra as radiações nocivas.
sucederam. O princípio do fotocromatismo destas lentes baseia- A adaptação às variações da luz é obtida pelo ajustamento
se na introdução na matéria mineral de cristais de halogenetos automático do nível de transmissão da lente ao nível de
de prata, que reagem sob o efeito dos ultravioletas, provocando intensidade da luz solar. As lentes facilitam a adaptação dos
o escurecimento. olhos às alterações da intensidade luminosa e reduzem os
A nível atómico, o mecanismo fundamental deste efeitos do encandeamento. Diminui-se assim a fadiga visual
fotocromatismo é uma troca de electrões entre o átomo de prata associada às variações de luz de que os pacientes se queixam
MATERIAIS & TRATAMENTOS

e o átomo de cloro – presente sob a forma de cloreto de prata muitas vezes.


(Figura 73) – e o ambiente próximo. Na ausência de luz, a A protecção contra as radiações nocivas é assegurada pelas
ligação prata–cloro é iónica e o átomo de prata permanece propriedades de filtragem das lentes fotocromáticas: 100% dos
transparente: a lente conserva o estado claro. Na presença de UVA e dos UVB são eliminados desde o estado claro, e a
uma radiação UV, o electrão instável abandona o ião cloro para protecção é reforçada contra as radiações azuis no estado
se reunir ao ião prata que precipita sob forma metálica e escuro. Esta protecção permanente, reforçada quando a luz se
intercepta a luz: a lente transita para o estado escuro. Quando torna mais intensa, evita os efeitos cumulativos da exposição à
a radiação UV diminui ou desaparece, o electrão suplementar luz solar, que podem conduzir a lesões oculares. A longo prazo,
abandona o átomo de prata e retorna ao átomo de cloro: a lente as lentes fotocromáticas podem assim contribuir para preservar
volta à sua tonalidade clara inicial. a visão dos portadores.

Apesar de apresentar um crescimento regular, o uso de lentes


fotocromáticas não está ainda generalizado. Difere consoante os
continentes: na América do Norte e na Austrália, 15% a 20%
das lentes correctoras são fotocromáticas, na Europa são apenas
10% e na Ásia são menos de 5%. O seu desenvolvimento em
materiais orgânicos, particularmente pela empresa Transitions
Optical, consolidou definitivamente o sucesso das lentes
orgânicas em detrimento das lentes minerais. A eficácia das
© Essilor International

últimas gerações de lentes e a necessidade imperiosa de


protecção da visão de cada indivíduo
levam-nos a prever uma procura crescente das lentes
fotocromáticas.

Figura 73: Fotocromatismo mineral.

60
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Suplemento

Suplemento
Tecnologia de Fabrico das Lentes Filtrantes
com Transmissão Variável
1. Lentes orgânicas
A fabricação das lentes orgânicas fotocromáticas consiste em

© Essilor International
introduzir corantes fotossensíveis nas lentes, utilizando-se
diversos processos:
- impregnação através da superfície convexa da lente;
- depósito de camada sobre a superfície convexa da lente
(«trans-bonding»);
- adição, antes da polimerização, no monómero líquido;
- inserção de uma película fotocromática («wafer») no
interior da lente.

MATERIAIS & TRATAMENTOS


A tecnologia de impregnação continua a ser largamente aplicada
na fabricação das lentes de índice 1.5, e a de depósito de
camada é utilizada para os materiais orgânicos de alto índice e
o policarbonato. Com o crescimento natural destes últimos e
dada a vantagem do depósito de camada, relativamente
independente da natureza dos materiais sobre os quais a
camada é depositada, o «trans-bonding» deverá tornar-se a

© Essilor International
tecnologia de referência. Estas duas tecnologias são utilizadas
na fabricação das lentes Transitions®. A adição de compostos
fotocromáticos antes da polimerização do monómero é utilizada
por certos fabricantes (como a Corning com a SunSensors®). A
tecnologia de «wafer» fotocromática é utilizada minoritariamente.

No caso da impregnação, a operação é realizada em lentes semi-


acabadas, previamente fabricadas num material cuja Figura 74: Fotocromatização de uma lente orgânica:
composição química foi adaptada às exigências do a) por impregnação
fotocromático. Um verniz contendo os corantes fotocromáticos b) por depósito de camada.
é depositado, por centrifugação, sobre a face convexa da lente
semi-acabada. Esta é depois colocada numa estufa a alta
temperatura: sob o efeito do calor, a estrutura do material «abre-
se», os corantes penetram na matéria (até uma espessura de 2. Lentes minerais
cerca de 150 a 200 mícrones) e após arrefecimento ficam aí
presos. O verniz fotocromático, então esvaziado de corantes, é Nas lentes minerais, o fenómeno fotocromático é assegurado
retirado da superfície da lente por enxaguamento. por substâncias fotocromáticas introduzidas na própria matéria:
neste caso são cristais de halogenetos de prata. A inclusão
No caso do depósito de uma camada fotocromática («trans- destas substâncias é efectuada pela indústria vidreira durante a
bonding»), um verniz contendo as moléculas fotossensíveis é fabricação do material, no momento da fusão a alta temperatura
depositado sobre a face convexa da lente, em contacto com o dos seus diversos constituintes. São produzidas patelas – cujas
material, antes da aplicação dos tratamentos de protecção superfícies são ainda irregulares mas de constituição
contra os riscos e anti-reflexos: a sua espessura total é de cerca perfeitamente homogénea – que depois são acabadas por
de 15 a 20 mícrones. A tecnologia utilizada para depositar este surfaçage da face convexa e da face côncava (segundo as
verniz é semelhante à utilizada para aplicação dos revestimentos técnicas descritas anteriormente). Todas as geometrias de lentes
de protecção contra os riscos. Este verniz dá à lente uma função
são executáveis a partir destas patelas: unifocais, bifocais e
fotocromática, e deve permitir o depósito posterior de
progressivas, com índices de refracção 1.5 e 1.6.
tratamentos de protecção contra os riscos e anti-reflexos
No caso particular de determinadas lentes minerais de muito
eficazes. Deve portanto possuir propriedades mecânicas que
alto índice, o fotocromatismo é assegurado por uma fina película
permitam a sua perfeita inserção no conjunto «material +
fotocromática que é polimerizada (ou seja, colada) sobre a face
tratamento protecção aos riscos + tratamento anti-reflexos»,
contribuindo assim para criar uma estrutura coesa e resistente. convexa da lente; actualmente, o uso destas lentes é
extremamente reduzido.
Todas estas operações de fotocromatismo são realizadas em De um modo geral, pelo facto dos componentes fotocromáticos
série, em fábricas especializadas, a montante das operações de serem introduzidos no seio do material, as lentes fotocromáticas
surfaçage da lente. As lentes fotocromáticas recebem depois minerais têm os inconvenientes de uma coloração integral da
sistematicamente um revestimento de protecção contra os matéria: quando a lente é activada, a tonalidade varia com a
riscos. Todas as geometrias de lentes – quer sejam unifocais espessura, ou seja, uma lente convexa é mais escura no centro
quer progressivas – são executáveis numa gama completa de e uma lente côncava é mais escura no bordo.
materiais orgânicos fotocromáticos de baixo, médio e alto índice É inútil referir que o uso das lentes fotocromáticas minerais, do
de refracção. mesmo modo que os materiais minerais em geral, está em nítida
regressão, tanto mais que as qualidades fotocromáticas dos
materiais orgânicos já igualaram ou até ultrapassaram as dos
materiais fotocromáticos minerais.

61
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
4. Estética e Moda
Estética e Moda

O uso de lentes oftálmicas é geralmente considerado uma necessidade ou uma obrigação, e muito raramente aceite com prazer. Para tornar
as lentes mais atractivas, concentramos também a nossa atenção na respectiva estética. Por outro lado, a evolução das armações e as
tendências da moda geram naturalmente uma procura de evolução das lentes. Isto verifica-se muito especialmente no domínio das lentes
correctoras solares, pois os portadores tentam aliar correcção óptica e moda: o equipamento óptico torna-se também um acessório de moda.
Assim, actualmente os dados estéticos são parte integrante da concepção das lentes. Damos particular atenção a três características:
curvatura das lentes, colorações e reflexos. Vamos abordá-las sucessivamente.

A Curvaturas
Em relação à curvatura das lentes, existem duas tendências: a
uma procura geral de lentes planas, mais discretas e, por outro
lado, uma procura de lentes muito curvas, mais envolventes.
Estas duas tendências resumem-se numa única exigência:
adaptação da curvatura das lentes à das armações. A procura
de lentes planas relaciona-se essencialmente com a correcção
óptica, e a de lentes curvas deve-se a questões estéticas,
necessidade de protecção e exigências da prática desportiva.

Linha do olhar
MATERIAIS & TRATAMENTOS

Eixo óptico

© Essilor International
Curvatura das lentes e qualidade óptica

A curvatura das lentes oftálmicas é uma exigência estética, mas


também uma interessante questão óptica. Recorde-se que a
potência correctora de uma lente oftálmica resulta da adição
(algébrica) da potência positiva da face convexa e da potência
negativa da face côncava, e que existe uma combinação óptima b
das curvaturas das duas faces, que permite reduzir as
aberrações ópticas (lentes com «forma ideal», correspondendo
às elipses de Tscherning). Fora desta combinação, surgem

Linha do olhar
aberrações ópticas – de deficiência de potência e de
astigmatismo dos feixes oblíquos – que podem alterar
significativamente a visão do portador, quando o olhar é
descentrado. É neste ponto que a asferização das superfícies é ico
muito útil: permite modificar a curvatura da lente sem alteração
ópt

© Essilor International
da qualidade óptica, por compensação na(s) superfície(s) da Ângulo de
Eixo

lente da deficiência óptica que o olho percepcionaria. A curvatura


asferização tem sido essencialmente utilizada para tornar as
lentes mais planas, logo mais finas, mas note-se que a sua
utilização se impõe igualmente, pelas mesmas razões, no caso
das lentes curvas.
A asferização constitui de facto o meio de libertação das
restrições de curvatura da lente, e oferece ao criador da lente
um grau de liberdade suplementar na selecção das curvaturas. c
Por outro lado, se as lentes curvas podem apresentar aberrações
ópticas laterais, note-se que são geralmente montadas em
Linha do olhar

armações muito encurvadas, cuja frente apresenta um ângulo


de curvatura importante em relação ao rosto do portador. O eixo
do olhar do portador atinge a superfície côncava da lente
ico

obliquamente, originando-se assim aberrações ópticas – de


ópt

potência, de astigmatismo dos feixes oblíquos e de distorção –


Eixo

percepcionadas pelo portador em posição primária do olhar. É


© Essilor International

então necessário compensar estas aberrações, durante a Ângulo de


surfaçage, regulando as potências da lente em conformidade, e curvatura
integrando um prisma na correcção (o caso das lentes Essilor
Openview®). Esta compensação é efectuada ponto por ponto,
por meio da tecnologia de surfaçage digital. As lentes têm
portanto uma potência mensurável ligeiramente diferente da
potência da prescrição, e por essa razão, apresentam uma dupla
etiquetagem com a «potência prescrita» e a «potência medida» Figura 75: Lentes curvas e qualidade óptica:
no fronto-focómetro. a) Lentes não curvas numa armação tradicional
b) Lentes curvas standard numa armação encurvada
c) Lentes curvas para armação curva.

62
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Estética e Moda
B Colorações C Reflexos
Por necessidade de conforto ou exigências da moda, pode Os reflexos das lentes são também objecto de uma atenção
aplicar-se um grande número de colorações, uniformes ou particular. O efeito de espelho é uma das técnicas utilizadas para
dégradées. Destinadas a reduzir um pouco a luminosidade, melhorar a estética da lente e/ou para reforçar a eficácia de
realçar o olhar, dar uma nota colorida ou afirmar um estilo, estas filtragem. E pode ser de intensidade variável:
colorações são na maioria de fraca intensidade, e não constituem - se for de intensidade fraca a moderada (cerca de 20% de
de forma nenhuma uma verdadeira protecção contra a luz solar. reflexão), constitui um elemento essencialmente estético, dá à
As respectivas taxas de transmissão de luz correspondem lente um efeito espelhado, respeita a percepção da coloração e
geralmente ao grau 0 (τν de 100 a 80%), ou por vezes ao grau contribui muito pouco para a protecção solar;
1 (τν de 80 a 43%). Em função do material utilizado, constituem - se for de forte intensidade (reflexão superior a 60% ), actua

MATERIAIS & TRATAMENTOS


ou não um bom filtro contra os ultravioletas. Para além do como um verdadeiro espelho, não permite distinguir a cor da lente,
aspecto estético, é essencial que o portador esteja bem para um observador colocado em frente do portador, e tem um
informado acerca das qualidades protectoras limitadas destas importante efeito protector pela eliminação de uma parte
lentes. A normalização da intensidade ou graus de coloração e a significativa da luz (é o caso, por exemplo, das lentes de alta
respectiva indicação sistemática tem por objectivo contribuir protecção solar para praticar ski).
para uma perfeita informação. Tecnicamente, esta espelhagem consiste em depositar uma camada
de um óxido metálico sobre a face convexa da lente. Em função da
Oferece-se uma ampla paleta de colorações (de lentes natureza da camada depositada, o efeito de espelho pode ser neutro
orgânicas), que varia consideravelmente em função dos gostos (prateada), ou adquirir um aspecto dourado ou colorido. Geralmente
dos portadores, e que é regularmente renovada em função das é aplicado sobre lentes coloridas, com coloração solar ou de moda,
tendências da moda. O exemplo abaixo apresentado constitui e pode ser esbatida – dégradée ou mesmo bi-dégradée.
portanto uma simples ilustração!

Grau Colorações Grau Colorações


Uniformes Dégradées

0 1

© Essilor International

1 2
© Essilor International

1 2

1 2

Figura 76: Exemplo de uma gama de colorações de moda


© Essilor International

Quanto aos materiais, só as matérias orgânicas podem oferecer


uma ampla gama de colorações, e também uma variedade de
diâmetros, formatos e curvaturas. Para a prática de desportos,
o material de eleição é o policarbonato.

Figura 77: Lentes espelhadas.

Por outro lado, devido ao forte desenvolvimento da tecnologia


dos tratamentos anti-reflexos, tornou-se possível escolher a cor
do reflexo residual, em função dos gostos do cliente ou para
condizer com a armação.

63
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Conclusão
Conclusão
MATERIAIS & TRATAMENTOS

© Essilor International

No final desta viagem à essência das lentes oftálmicas, Ninguém duvida que as lentes oftálmicas sofrerão ainda no
permitimo-nos recordar uma vez mais toda a complexidade futuro inúmeros aperfeiçoamentos, sempre com o objectivo de
deste produto aparentemente tão simples. se tornarem mais confortáveis e mais discretas. Estas inovações
A lente oftálmica é actualmente um conjunto sofisticado de resultarão provavelmente do recurso a tecnologias procedentes
Materiais e Tratamentos indissociavelmente ligados e unidos, de outros sectores de actividade, ou a técnicas ainda incipientes,
para proporcionar ao portador o máximo conforto visual. É uma ou mesmo ignoradas actualmente… e certamente implicarão
verdadeira «alquimia de eficácias» praticada ao serviço da visão. uma actualização do presente Caderno!

Investigadores, engenheiros e técnicos – químicos, físicos, Esperamos que este volume da série de Cadernos de Óptica
ópticos, operadores mecânicos, logísticos ou fabricantes – Oftálmica ajude os profissionais de óptica oftálmica a
desenvolvem todo o seu engenho e arte, para melhorar compreender ainda melhor os «Materiais e Tratamentos» das
incessantemente a eficácia dos produtos. As inúmeras inovações lentes oftálmicas que ocupam o seu quotidiano. Assim, saberão
introduzidas ao longo das últimas décadas e as tecnologias cada valorizar melhor as respectivas qualidades e eficácia, e respeitar
vez mais sofisticadas às quais recorrem comprovam-no. Esta a nobreza da sua função. E sobretudo poderão seleccionar
tecnicidade e complexidade das lentes oftálmicas são esclarecidamente as lentes mais adequadas às necessidades de
claramente desconhecidas do grande público e, por vezes, dos pacientes e clientes, ou seja, as lentes que lhes permitirão «Ver
próprios profissionais de óptica oftálmica. Melhor para Viver Melhor» !

64
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Anexo
Memorando Acerca da Natureza e Estrutura da Matéria

Anexo
MATERIAIS & TRATAMENTOS
Ia IIa IIIa IVa Va VIa VIIa 0
1 2
1 1
H He
3 4 5 6 7 8 9 10
2 2
Li Be B C N O F Ne
11 12 13 14 15 16 17 18
3 3
Na Mg IIIb IVb Vb VIb VIIb VIII Ib IIb Al Si P S Cl Kr
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
4 4
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54
5 5
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
55 56 57 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86

© Essilor International
6 6
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Ti Pb Bi Po At Rn
87 88 89 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71
7 6
Fr Ra Ac Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103
7
Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md No Lr

Figura 78: Classificação periódica dos elementos: tabela de Mendéléïev.

Orgânico versus Mineral


Relativamente ao ambiente terrestre, foi definida uma classificação dos materiais com base nos respectivos constituintes atómicos essenciais.
Distinguem-se:
- Matérias minerais, que incluem os corpos puros e as misturas que constituem as rochas e a crusta terrestre – designadas «SIAL» e
constituídas essencialmente por silício e alumínio – assim como os seus derivados. As respectivas moléculas são combinações variadas de
um pequeno número de átomos (de um a vinte) pertencentes ao grupo da classificação dos elementos. Em óptica oftálmica, os elementos
essencialmente encontrados são representados pela zona verde da tabela da Figura 78.
- Matérias orgânicas, que incluem os corpos puros e misturas que constituem essencialmente os reinos vegetal e animal, assim como os
seus corpos derivados, carburantes fósseis e materiais de síntese da química orgânica. As matérias orgânicas, muito numerosas e complexas
(os organismos vivos são exemplos deste facto), têm moléculas constituídas muitas vezes por um número importante de átomos (até vários
milhares), mas recolhidas de algumas espécies anatómicas muito pouco numerosas: essencialmente, C, H, O e N (zona rosa da tabela da
Figura 78). O carbono C é de certo modo o esqueleto da matéria viva; sendo H, O e N os elementos da atmosfera que permite a vida.

65
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
Anexo
MATERIAIS & TRATAMENTOS

© Essilor International

66
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
MATERIAIS & TRATAMENTOS

Author
Dominique Meslin
Concepção e Academy
Essilor Redacção
Europe
Dominique MESLIN
Varilux® University

67
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
www.essiloracademy.eu
Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.l - All rights reserved - Produced by Essilor® Academy - Portuguese - 07/14

You might also like