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Cadernos de Óptica Oftálmica
Cadernos de Óptica Oftálmica
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Copyright © 2010 ESSILOR ACADEMY EUROPE, 13 rue Moreau, 75012 Paris, France - All rights reserved – Do not copy or distribute.
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Dominique Meslin
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ISBN 979-10-90678-27-9
9 791090 678279
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Índice
Introdução
Índice
p.5
1 Espessura e Leveza
A Espessura p.6
1) Efeito do índice de refracção do material
2) Efeito da asferização das superfícies
3) Efeito da espessura de surfaçage
B Leveza p.8
2 Transparência e Durabilidade
A Cor Aparente do Material p.20
B Cromatismo do Material p.21
1) Cromatismo nas lentes oftálmicas p.21
2) Efeitos do cromatismo na visão p.22
C Tratamento de protecção aos riscos p.23
1) Princípios do tratamento de protecção aos riscos p.24
2) Aplicação dos tratamentos de protecção aos riscos p.25
Suplemento : Caracterização da abrasão-riscos,
historial dos tratamentos de protecção aos riscos,
medição e controlo da eficácia anti-abrasão p.26
D Tratamento Anti-Reflexos
1) Diferentes tipos de reflexão da luz e respectivos efeitos p.28
Suplemento : Benefícios visuais dos tratamentos anti-reflexos p.30
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Índice
Índice
3 Resistência e Protecção
A Resistência aos Choques
1) Mecanismo de ruptura p.42
2) Normas de resistência aos choques p.43
B Protecção contra a Luz
1) Necessidade de protecção dos olhos contra as radiações solares p.45
2) Lentes filtrantes em geral p.46
Suplemento : Caracterização da Transmissão de uma lente oftálmica p.48
MATERIAIS & TRATAMENTOS
4 Estética e Moda
A Curvaturas p.62
B Colorações p.63
C Reflexos p.63
Conclusão p.64
4 3
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Introdução
Introdução
Os materiais e os tratamentos são os elementos constituintes fundamentais das lentes oftálmicas: asseguram a correcção
óptica e proporcionam conforto visual. Mais precisamente, os materiais em combinação com a geometria das superfícies
criam a função óptica da lente, e os tratamentos contribuem para o conforto visual por conferirem às lentes múltiplas
propriedades. Em conjunto, visam tornar as lentes correctoras quase imperceptíveis para os portadores.
Nas últimas décadas, quer os materiais quer os tratamentos sofreram profundas evoluções: os materiais orgânicos
substituíram os minerais, os tratamentos de protecção aos riscos e anti-reflexos generalizaram-se, e surgiram novos ma-
teriais e tratamentos.
Actualmente, as lentes oftálmicas têm uma estrutura muito complexa, pois resultam da sobreposição de um material e
de uma série de tratamentos, cada um dos quais correspondendo a uma necessidade específica: espessura mínima,
leveza, transparência, durabilidade, resistência, protecção, estética… Assim, uma lente oftálmica pode integrar cerca de
vinte camadas muito finas depositadas nas suas faces, convexa e côncava (Figura 1).
Com o objectivo de fornecer uma síntese estruturada, todas as noções apresentadas neste caderno são primeiro
abordadas do ponto de vista das necessidades do portador de lentes e os elementos técnicos são depois considerados
como respostas a tais necessidades. Assim, este caderno apresenta quatro partes:
I) Espessura e Leveza
II) Transparência e Durabilidade
III) Resistência e Protecção
IV) Estética e Moda
Em cada um destes pontos, descrevem-se primeiro as necessidades e expectativas dos portadores, e depois apresen-
tam-se as técnicas de concepção e fabrico aplicadas.
Este volume «Materiais & Tratamentos» da colecção dos «Cadernos de Óptica Oftálmica» tem por objectivo apresentar
de forma sintética as noções essenciais de composição e concepção interna das lentes. Constitui um convite para uma
viagem aliciante à essência das lentes oftálmicas.
Anti-sujidade
Anti-reflexos
Protecção
aos riscos
Anti-choque
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Coloração
(opcional)
Material
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1. Espessura e Leveza
Desde o início da existência de lentes oftálmicas, os fabricantes tentaram incessantemente tornar as lentes sempre mais finas e mais leves
para corresponder às expectativas dos portadores. Assim, os índices de refracção dos materiais tornaram-se mais elevados, as superfícies
Espessura
das lentes foram asferizadas, a surfaçage das lentes visou sempre a espessura mínima e, sobretudo, os pesados materiais minerais foram
e Leveza
A Espessura
A espessura de uma lente resulta da combinação de diâmetro 65 mm, a utilização de um material de índice 1.6, em
3 factores: índice de refracção do material, asferização das vez de um material de índice 1.5, permite reduzir a espessura
superfícies e espessura de surfaçage. no bordo em 1,5 mm (7,5 mm versus 9,0 mm), com uma
espessura no centro idêntica. A asferização acrescenta uma
redução complementar de 0,4 mm e torna a lente ligeiramente
1. Efeito do índice de refracção do material mais plana. A surfaçage para espessura mínima permite ganhar
É o principal factor de redução da espessura de uma lente. Para ainda 0,8 mm (1,2 mm versus 2,0 mm). Globalmente, a redução
uma dada potência, quanto mais elevado o índice de refracção de espessura é de 2,7 mm (6,3 mm versus 9,0 mm), ou seja, de
do material, mais fina é a lente. Mais precisamente, quanto mais 30%.
alto o índice, maior a capacidade do material para desviar os
MATERIAIS & TRATAMENTOS
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Espessura
e Leveza
Identicamente, a redução da espessura no centro de uma lente Por outro lado, a espessura da lente varia também em função
com uma potência de +4.00 D e diâmetro 65 mm, obtida do tipo de montagem a efectuar:
devido ao material de índice 1.6, é de 0,6 mm; - para montagem em armação com aro completo, é
a redução complementar resultante da asferização é de 0,2 mm aconselhável uma espessura mínima no bordo de 0,8 mm por
e é acompanhada de uma significativa diminuição da curvatura causa da biselagem da lente;
da lente; finalmente, a surfaçage visando espessura mínima reduz
mais 0,5 mm. No total, a redução de espessura é de 1,3 mm - para uma montagem tipo «Nylor», a espessura mínima no
(4,1 mm versus 5,4 mm), ou seja, cerca de 25%. bordo necessária à ranhuragem da lente é de 1,6 mm no caso
da utilização de fio de nylon e de 2,2 mm para fio de metal;
- para montagem mediante perfuração, a espessura mínima
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Espessura
e Leveza
B Leveza
A leveza de uma lente resulta da combinação da sua espessura a) Materiais orgânicos:
e da leveza do material utilizado no seu fabrico. Mais Índice
Designação Constringência Filtração
precisamente, é a combinação do volume da lente e da Tipo
Comercial
de Refracção
(ve / vd)
Densidade
UV
(ne / nd)
densidade do material que determina o peso da lente.
O volume da lente depende da geometria das suas superfícies, Índice Corrente Orma® (Essilor) 1,502 / 1,500 58 / 58 1,32 355 nm
do formato e das dimensões do calibre da armação e da
espessura necessária para assegurar a robustez da lente e
Médio Índice Airwear® (Essilor) 1,591 / 1,586 31 / 31 1,20 385 nm
permitir a sua montagem (espessura mínima no centro das
lentes côncavas ou no bordo das lentes convexas). Ormix®/
MATERIAIS & TRATAMENTOS
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Materiais Orgânicos
e Minerais
Materiais Orgânicos
e Minerais
Para que a oferta corresponda sempre melhor à contínua procura de lentes finas e leves, a investigação no campo da química dos materiais tem sido
permanente, permitindo desenvolver a utilização de novas matérias e transformar profundamente, no espaço de apenas algumas décadas, a indústria
de óptica oftálmica. Sobretudo, foi possível reduzir em cerca de metade o peso e a espessura das lentes correctoras, para benefício dos portadores.
De seguida, indicam-se detalhadamente as características destes materiais.
A Materiais Orgânicos
Utilizados na óptica oftálmica desde os anos 60, os materiais As matérias termoplásticas têm a propriedade de amolecer sob
orgânicos (vulgarmente apelidados de «plásticos») conseguiram a acção do calor e de poder ser moldadas a quente ou por
suplantar progressivamente os materiais minerais (ou «vidros»), injecção. Dado que a transformação é mecânica e não química,
representando actualmente mais de 90% dos materiais usados esta é reversível, o que torna estes materiais recicláveis.
na produção de lentes. Além das suas qualidades naturais de Utilizadas em muitas indústrias, as matérias termoplásticas só
- Matérias termoendurecidas
Produtos cuja transformação química, sob o efeito do calor, gera
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compostos macro-moleculares tridimensionais duros e rígidos.
Estas matérias são constituídas por cadeias moleculares
relativamente curtas e muito reactivas que se ligam quimicamente.
Sob o efeito do calor, produz-se uma reacção química, designada
«reticulação» ou «cozedura», que cria ligações rígidas entre todas
as moléculas presentes, para formar uma rede tridimensional; a
estrutura diz-se então «reticulada» e confere ao material
propriedades especiais de estabilidade química e de resistência Figura 5: Matérias «termoendurecidas» e matérias
mecânica. «termoplásticas».
A molécula de base ou «monómero» apresenta-se sob a forma
líquida e tem a propriedade de poder ser «polimerizada» sob a
acção do calor ou dos ultravioletas e/ou de um catalisador. Esta Certos materiais, mais recentes, combinam as características das
reacção de polimerização consiste no encadeamento de moléculas resinas termoendurecidas e das resinas termoplásticas.
idênticas do monómero. Dá-se assim origem a uma nova molécula,
polímero, com natureza, dimensão e propriedades diferentes: a
matéria passa do estado de monómero líquido ao de polímero
sólido. Esta é uma transformação química e portanto irreversível:
após aquecimento e polimerização do monómero, o material torna-
se duro, infusível, insolúvel, resistente aos choques e aos produtos
químicos, e dimensionalmente estável.
A maior parte dos materiais utilizados em óptica oftálmica
pertencem a este grupo das matérias termoendurecidas, a começar
pelo CR39®.
- Matérias termoplásticas
Matérias formadas pelo agrupamento de longas cadeias
moleculares lineares ou ligeiramente ramificadas e misturadas
mas não ligadas entre si. Só esta aglomeração e forças
intermoleculares fracas dão a estas matérias a aparência de
sólidas; não existe uma ligação química das cadeias moleculares.
A estrutura molecular mais livre confere a estas matérias
excelentes qualidades de resistência aos choques, pois as
cadeias moleculares podem deslocar-se umas em relação às
outras e absorver assim a energia dos choques.
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Materiais Orgânicos
e Minerais
1. Materiais orgânicos
de índice corrente (1,48 ≤ n<1.5)
CR39®
Após várias tentativas infrutíferas de desenvolvimento de lentes
em matéria termoplástica (lentes Igard® em PMMA ou
Plexiglas®, em 1940) e em matéria termoendurecida (lentes
Orma® 500, em 1950), o CR39® (*) revelou ser o material
orgânico de eleição da óptica oftálmica.
O dietileno-glicol-bis(alilo-carbonato), conhecido como CR39®, é o
material de base utilizado no fabrico da maioria das lentes orgânicas.
MATERIAIS & TRATAMENTOS
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Materiais Orgânicos
e Minerais
2. Materiais orgânicos O policarbonato apresenta vantagens que o tornam particularmente
interessante para a óptica oftálmica: uma excelente resistência aos
de médio índice (1.54 ≤ n<1.64) choques (a maior de todos os materiais da indústria oftálmica), um
índice de refracção elevado (ne = 1,591 / nd = 1,586), uma
Actualmente, os materiais orgânicos de índice elevado grande leveza (densidade = 1,20), a possibilidade de uma
apresentam um grande crescimento. Em relação ao CR39® surfaçage fina (espessura até 1,0 mm no centro das lentes
tradicional, permitem fabricar lentes mais finas e mais leves: de côncavas), uma protecção eficaz contra os ultravioletas (pela
um modo geral, têm densidade ligeiramente inferior (entre 1,20 inclusão de um aditivo que oferece uma filtragem UV de 385 nm)
e 1,32), cromatismo mais elevado (constringência entre 31 e e uma grande resistência ao calor (ponto de amolecimento – ou
42), maior sensibilidade ao calor, e oferecem melhor protecção transição vítrea Tg – superior a 140º C). Como todos os materiais
contra os ultravioletas. Mas são muito sensíveis aos riscos, e orgânicos de índice elevado, o policarbonato é sensível aos riscos
e deve ser revestido, obrigatoriamente, por um verniz de
portanto exigem um tratamento sistemático de endurecimento
protecção aos riscos. A sua constringência é relativamente fraca
CH3 CH3
n HO C OH C O C
CH3 CH3 O n
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Materiais Orgânicos
e Minerais
Resinas termoendurecidas a
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calor, a tendência para o amarelecimento, as possibilidades de
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43 e com densidade de 1,20 a 1,25. O material Ormex®
(ne=1,561 / nd=1,558, νe = 37 / νd = 37, d = 1,23) pertencia
a este grupo.
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Materiais Orgânicos
e Minerais
3. Materiais orgânicos Resumindo, o aumento do índice de refracção dos materiais
orgânicos é obtido essencialmente pela introdução de átomos
de alto índice (1.64 ≤ n<1.74) e de enxofre no seio de diferentes grupos de moléculas. Assim,
muito alto índice (n ≥ 1.74) quanto maior a proporção de enxofre, maior o índice de
refracção do material, tal como é demonstrado no quadro de
composição química dos materiais abaixo apresentado.
Para obter um índice de refracção mais elevado, através da É a presença do enxofre na composição dos materiais orgânicos
química dos tio-uretanos, foram utilizados tióis mais ricos em
de índice elevado que explica o odor particular que se liberta
enxofre e sempre associados a funções isocianatos. Desta forma,
o índice de refracção pôde atingir 1,67 e desenvolveu-se o durante a biselagem das lentes.
material Stylis®1.67.
Note-se que, dada a sua particular composição química, os
materiais resultantes da química dos tio-uretanos (Ormix® e
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Materiais Orgânicos
e Minerais
B Materiais Minerais
Durante vários séculos, desde as origens da óptica até meados Na realidade, o acréscimo do índice de refracção é
do século XX, as matérias minerais foram as únicas utilizadas em acompanhado de um aumento da densidade do material que
óptica oftálmica. Mas, no espaço de algumas décadas, foram anula o ganho em leveza devido à redução de espessura da
destronadas e substituídas pelas matérias orgânicas. lente. Por conseguinte, uma lente mineral, qualquer que seja o
seu índice de refracção, continua a ser pelo menos duas vezes
A matéria mineral é sólida e amorfa (ou seja, de estrutura não mais pesada que uma lente orgânica. Quanto à espessura, os
periódica), e é dura e quebrável à temperatura ambiente, mas novos materiais orgânicos de índice muito elevado permitem
fica em estado viscoso a alta temperatura. É obtida pela fusão fabricar lentes cuja espessura rivaliza com a das lentes minerais
MATERIAIS & TRATAMENTOS
a cerca de 1500º C de uma mistura de óxidos, tais como os de de alto índice clássicas (n = 1,7). Pelo contrário, no caso de
silício (o principal óxido utilizado, pois representa cerca de 65% correcções ópticas muito fortes, os materiais minerais de índice
do material), cálcio, sódio, potássio, chumbo, bário, titânio, muito elevado (n = 1,8 ou n = 1,9) mantêm inegavelmente a
lantânio, etc. A matéria mineral não tem uma estrutura química vantagem, em termos de espessura, em relação às lentes
regular e, por consequência, não possui um ponto de fusão orgânicas, tal não se verificando quanto ao peso.
nítido em que passa subitamente do estado sólido ao estado
líquido. Além disso, com a elevação da temperatura, o vidro
amolece e passa progressivamente do estado sólido ao estado
líquido, existindo um estado intermédio dito «vítreo»
caracterizado pela ausência de cristais. Esta particularidade
exclusiva permite trabalhar o material a quente e portanto
moldá-lo. Duas propriedades tornam-no interessante para a
óptica oftálmica: transmite a luz visível e a sua superfície pode
ser polida para se tornar transparente e não difusora.
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Suplemento
Suplemento
Princípios da Fabricação de Lentes
A fabricação de lentes oftálmicas é feita de 2 formas:
- fabricação em «série», de grandes volumes das lentes «acabadas» mais consumidas (unifocais esféricas e asféricas) (lentes de stock), e de
blocos «semi-acabadas» (patelas) – blocos espessos em que a face convexa está acabada e a face côncava será finalizada posteriormente
por encomenda (ver Figura 12);
- fabricação em função da «prescrição» (lentes de receituário):
• ou a partir de uma patela: a operação consiste em acabar a face côncava da lente conforme a correcção óptica do paciente, e em
aplicar na lente os diversos tratamentos de superfície pretendidos (coloração, protecção aos riscos, anti-reflexos, anti-sujidade, etc.);
• ou por acabamento directo das 2 faces da lente ou por polimerização directa, seguido(a) das diferentes operações de
tratamento das superfícies.
A produção em «série» é feita em grande escala em fábricas industriais (cerca de 2/3 das lentes), e a produção em função da «prescrição»
é realizada à unidade em laboratórios de acabamento (1/3 das lentes).
FÁBRICA
LENTE ACABADA PATELA (BLOCO SEMI-ACABADO)
SURFAÇAGE
(DESBASTE E POLIMENTO)
OFICINA ÓPTICA
CORTE
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ÓPTICO
ÓPTICO
MONTAGEM
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Suplemento
Suplemento
Considere-se o exemplo do CR39. O monómero é fornecido sob Usemos como exemplo o policarbonato: o material de base é já
a forma líquida pela indústria química, e depois passa pelas um polímero, e apresenta-se sob a forma de grânulos cuja pureza
seguintes fases de fabrico: foi adaptada à indústria óptica. Estes grânulos são amolecidos e
- preparação do monómero: filtração, eliminação de gases, fundidos por aquecimento, para serem injectados em moldes
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Figura 13: Produção em «série» de lentes orgânicas de resina Figura 14: Produção em «série» de lentes orgânicas de resina
termoendurecida. termoplástica.
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Suplemento
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2. Fabricação em função da
«prescrição»
Surfaçage tradicional
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tradicional consiste em trabalhar mecanicamente a face côncava do
bloco semi-acabado (patela -previamente produzida em série) para se
obter a potência requerida. Este processo de fabrico tem várias etapas:
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- polimento: por meio de fricção de molde, com curvas
complementares às da face côncava da lente, revestido por um feltro
e pulverizado com um líquido de polimento contendo um abrasivo
muito fino. Esta operação dá à lente a transparência definitiva.
A surfaçage tradicional, utilizada desde há muitos anos, requer Figura 15 b: Surfaçage tradicional – alisamento.
um importante conjunto de instrumentos e só permite gerar
superfícies côncavas de geometria simples, esféricas ou tóricas.
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Suplemento
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- as operações de blocagem e corte da patela são idênticas;
- o trabalho subsequente tem 2 fases: desbaste por fresagem
de modo análogo à surfaçage tradicional, e acabamento, por
rotação, com um instrumento específico de diamante (ver Figura
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Suplemento
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B) Princípios da Fabricação de Lentes Minerais
Qualquer que seja o tipo de matéria, a fabricação de uma lente lente firmemente fixa, é posta em contacto com um molde
mineral consiste numa surfaçage da face convexa e da face côncava revestido de um forro abrasivo, cujo raio de curvatura é
de uma patela de vidro mineral fornecida pela indústria vidreira. Esta exactamente o da lente a produzir. A lente e o instrumento são
patela é produzida por moldagem do vidro ainda incandescente, à pulverizados com uma mistura abrasiva e lubrificante. No fim da
saída do forno onde se fez a fusão dos diversos componentes. A operação, que dura alguns minutos, a lente tem exactamente a
patela apresenta então a forma de uma lente muito espessa com espessura e os raios de curvatura desejados, mas a sua superfície
superfícies irregulares e uma composição interna perfeitamente ainda não está transparente;
homogénea. As suas duas faces, convexa e côncava, são depois - Fase 3: o polimento fino é a operação de acabamento que
trabalhadas (surfaçage) para dar origem à lente final. dá à lente a transparência definitiva. É uma operação semelhante
A surfaçage de cada uma das duas faces da lente tem 3 fases à precedente, mas com a utilização de um polidor flexível
distintas: revestido de feltro e com uma solução abrasiva de grão muito
- Fase 1: o desbaste consiste em trabalhar a patela com um fino.
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Depois de produzir a geometria da lente, passa-se à aplicação de tratamentos: esta operação será referida mais adiante.
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2.Transparência e Durabilidade
Transparência e
Para assegurar uma excelente correcção óptica, a lente oftálmica deve ser perfeitamente transparente e manter-se assim ao longo do
Durabilidade
tempo. Mas existem dois tipos de factores que se opõem a esta transparência: por um lado, os efeitos ópticos naturais, tais como a
reflexão, a absorção, a dispersão, a difracção e a difusão da luz e, por outro lado, os efeitos do uso e do tempo, tais como os riscos, a
sujidade, o pó e o envelhecimento do material. Para combater estes inimigos naturais ou ocasionais, procuraram-se e usaram-se diversas
soluções técnicas, sob a forma de características intrínsecas do material ou de tratamentos específicos. Nesta segunda parte, apresentamos
estas soluções detalhadamente.
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Transparência e
Durabilidade
B Cromatismo do Material
1. Cromatismo nas lentes oftálmicas Para quantificar o cromatismo transversal em qualquer ponto de
uma lente, utiliza-se a relação TCA = D / ν, entre o desvio D dos
raios luminosos nesse ponto (expresso em minutos de arco ou
A variação do índice de refracção do material com o dioptrias prismáticas) e a constringência ν do material utilizado.
comprimento de onda das radiações luminosas origina o O desvio D numa lente unifocal é, segundo a aproximação de
fenómeno da dispersão cromática da luz branca aquando da
Prentice, igual a h x P, sendo h a distância entre o ponto
refracção. Com efeito, sendo o índice de refracção mais elevado
considerado e o centro óptico da lente, e P a potência da lente,
para os comprimentos de onda curtos, produz-se um
daqui resulta que TCA = h x P / ν. Conclui-se assim que o
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Durabilidade
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de 0.1 Log MAR – necessitam de um cromatismo 3 vezes superior, 10
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ou seja, de cerca de 7,5 minutos de arco, ou ainda o cromatismo 0
produzido por um prisma em CR39® de cerca de 12.5 Δ*. 1 2 3 4 5 6
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potência da lente e para diferentes valores de constringência:
- Na Figura 19a relativa à percepção das irisações, verifica-se, 10
por exemplo, que no caso de uma lente com uma potência de
4.00 D, produzida com um material clássico de constringência 0
1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00
= 58, o cromatismo começa a ser visto a partir de uma rotação
do olho de 20º. Constata-se, por um lado, que o cromatismo
não é perceptível na parte central da lente e, por outro lado, que
com um material de fraca constringência, é necessária uma lente Potência da lente (dioptrias)
de potência superior a 2.50 D para o portador ter a percepção
das irisações ao rodar os olhos 20º. Note-se que com este nível Figura 19: Efeitos do cromatismo na visão:
de cromatismo a acuidade visual não é praticamente afectada. a) Limiar de percepção das irisações
- Na Figura 19b relativa aos efeitos na acuidade visual, verifica- b) Limiar dos efeitos na acuidade visual.
se que num ângulo de rotação do olho de ±20º é preciso que a
potência da lente atinja 7.00 D, com um material de fraca Para solucionar este problema do cromatismo, os químicos
constringência (o caso mais crítico), para que a acuidade visual procuram desenvolver materiais de fraco cromatismo e portanto
seja afectada. Por consequência, os efeitos do cromatismo de elevada constringência. Infelizmente, a margem de manobra
manifestam-se maioritariamente no exterior das zonas exploradas é relativamente limitada, pois qualquer aumento do índice de
pelo olho em visão foveal, e na maior parte do tempo o refracção de um material é geralmente acompanhado por um
cromatismo não tem repercussão significativa na acuidade visual. aumento do cromatismo. Na prática, os efeitos do cromatismo
só podem ser parcialmente atenuados, e o portador deve
Conclui-se portanto que o cromatismo tem uma influência limitada inevitavelmente habituar-se a um certo nível de cromatismo nas
na qualidade visual, e não tem consequências relevantes para a lentes.
maioria dos portadores. Só tem efeitos reais na periferia das lentes Por fim, note-se que o cromatismo está presente em todas as
de fortes potências produzidas com materiais muito dispersivos. lentes, e que vem juntar-se aos outros problemas ópticos
Devido aos desvios ópticos naturais, este efeito é teoricamente existentes, tais como as aberrações de deficiência de potência ou
mais sensível para os hipermetropes que para os míopes, pois as de astigmatismo dos feixes oblíquos, ou os reflexos parasitas.
digressões do olhar são maiores no primeiro caso, e é também Logo, há que evitar a acumulação de deficiências ópticas,
mais sensível para os presbitas com lentes progressivas ao abaixar assegurando-se uma perfeita asferização das superfícies das
o olhar para ver ao perto. lentes e a aplicação sistemática de um tratamento anti-reflexos.
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Transparência e
Durabilidade
C Tratamento de Protecção aos Riscos
Entre os inimigos quotidianos da lente oftálmica, os riscos são Difusão e difracção da luz – definições:
certamente os mais temíveis. Podem-se distinguir globalmente
dois tipos:
- os riscos «finos» que resultam da abrasão por fricção de Difusão da luz:
pequenas partículas nas duas faces da lente. A difusão é um fenómeno de reemissão da luz em todas as
Por exemplo, os riscos provocados pela limpeza da lente. Estes direcções, com a mesma intensidade. Produz-se à superfície de
tendem a aumentar a difusão da luz nas superfícies da lente e todos os corpos e na espessura dos materiais transparentes. É
originam a percepção de uma mancha difusa; a difusão da luz que permite aos olhos distinguir os objectos e
Difracção da luz:
A difracção é um fenómeno de mudança de direcção da
propagação das ondas luminosas, que se produz quando estas
encontram obstáculos de pequenas dimensões (da ordem de
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Transparência e
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1. Princípios do tratamento de Por outro lado, este tipo de tratamento tornou-se necessário
protecção aos riscos para resolver o problema particular das lentes com tratamento
anti-reflexos. Efectivamente, este último consiste em depositar,
Aplicar um tratamento protecção aos riscos nas superfícies de por cima do verniz de protecção aos riscos, várias camadas
uma lente oftálmica significa lutar eficaz e simultaneamente muito finas de natureza unicamente mineral e portanto muito
contra os riscos finos, decorrentes da limpeza continuada, e os duras e quebráveis. Neste caso, a função do tratamento
riscos grossos, resultantes de agressões diversas. Por protecção aos riscos é colmatar a diferença das propriedades
conseguinte, a resposta tem que ser dupla: maior dureza à mecânicas do substrato orgânico e das finas camadas minerais
superfície para resistir ao atrito de pequenas partículas e do anti-reflexos, intercalando uma camada de comportamento
também grande flexibilidade para amortecer a agressão de intermédio. A estrutura original dos vernizes nanocompósitos,
grandes partículas. de natureza simultaneamente orgânica e mineral, assegura uma
transição mecânica – tendo uma espécie de efeito
MATERIAIS & TRATAMENTOS
Uma solução eficaz para o problema dos riscos consiste em «amortecedor» – entre o anti-reflexos e o substrato. Esta é uma
depositar vernizes nanocompósitos nas superfícies das lentes das características essenciais do tratamento Crizal®.
(ver historial a seguir), assim designados por serem compostos
simultaneamente por matéria orgânica e matéria mineral:
integração de partículas minerais da dimensão de um
nanómetro numa matriz orgânica. Estes vernizes resolvem o Para reforçar melhor o efeito amortecedor, passou a intercalar-
problema dos riscos devido a uma dupla propriedade: se uma camada suplementar, com propriedades mecânicas
resistência aos riscos finos dada a dureza da componente intermédias, entre o verniz de protecção aos riscos e o
mineral, e resistência aos riscos grossos pela flexibilidade tratamento anti-reflexos. Designada «Scratch Resistance
conferida pela componente orgânica. Booster», esta camada assegura uma perfeita continuidade da
estrutura da lente, desde o seu núcleo orgânico mole até à fina
a
carapaça mineral dura do tratamento anti-reflexos. Assim, por
efeito da continuidade e da interpenetração das diferentes
camadas, a resistência da lente aos riscos é consideravelmente
melhorada.
A adição desta camada suplementar é uma das especificidades
do tratamento Crizal Forte®.
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b
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a) Riscos finos
b) Riscos grossos.
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Transparência e
Durabilidade
2. Aplicação dos tratamentos de
protecção aos riscos
O tratamento de protecção aos riscos das lentes orgânicas consiste
em depositar uma camada de verniz, com cerca de 3 a 5 mícrones
de espessura, sobre as duas superfícies da lente. O tratamento
pode ser feito segundo duas técnicas: imersão ou centrifugação.
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Figura 23: Princípios do envernizamento por imersão. Figura 24: Princípios do envernizamento por centrifugação.
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Suplemento
Suplemento
Para perceber melhor a concepção dos tratamentos destinados O problema da resistência aos riscos coloca-se desde que surgiram
a aumentar a resistência das lentes, convém compreender bem as lentes orgânicas. Diversas soluções foram sucessivamente
o fenómeno da abrasão – riscos. Considere-se uma partícula estudadas, permitindo eliminar um dos maiores entraves ao
abrasiva como um pico que exerce localmente uma pressão – desenvolvimento destas lentes e introduzir materiais de alto índice.
designada compressão – sobre a superfície da lente. A superfície Descrevem-se agora tais soluções neste curto historial.
reage então em função das suas características mecânicas.
Quando a compressão é suprimida, verifica-se a remanência de A primeira geração de tratamentos de protecção aos riscos (surgidos
uma marca de formato variável, resultado da interacção entre a por volta de 1970) baseava-se apenas na noção de dureza, e
partícula abrasiva e a superfície da lente. Esta marca depende consistia em depositar, por evaporação no vácuo, um revestimento
da dupla propriedade de dureza e deformação do material. A mineral constituído por sílica, sobre as superfícies da lente orgânica.
título de exemplo, se aplicarmos, com idêntica compressão, um Este tratamento, geralmente designado «quartzagem», era eficaz
pico abrasivo sobre diversos materiais, estes reagem de maneira contra os riscos finos, mas fracturava-se sob a acção de agressões
diferente:
MATERIAIS & TRATAMENTOS
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e a marca terá a forma adquirida no momento da deformação
máxima.
Assim, existe uma «lei de comportamento» própria de cada
material. Os técnicos representam-na habitualmente por meio de
um gráfico, em que a % de deformação é apresentada no eixo das
abcissas e o valor da compressão no eixo das ordenadas (pressão
«σ» em pascais). Para qualquer material, a lei de comportamento
é uma curva, que parte de 0 e termina num ponto R em que se
b
produz a ruptura: σR é a compressão no ponto de ruptura e XR é
a deformação no ponto de ruptura. Na Figura 25, estão
representadas as leis de comportamento típico de uma lente
mineral e de uma lente orgânica (CR39®). Conclui-se que:
- a lente mineral fractura-se sob o efeito de uma compressão
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relativamente elevada, mas sem se ter deformado muito, e
inversamente,
- o polímero fica estalado, devido a ruptura, por uma compressão
nitidamente mais fraca que a suportada pela lente mineral e, além
disso, do limiar de deformação ao ponto de ruptura, pode sofrer uma
deformação permanente importante, sem ruptura nem estilhaços.
O conhecimento do comportamento de cada material é essencial
para definir a «protecção aos riscos» que pode ser aplicada. Figura 26 : Princípios da «quartzagem»:
a) Riscos finos
b) Riscos grossos.
Compressão
Depois desta primeira geração, seguiu-se (desde 1975) a técnica
de aplicação de uma camada de materiais orgânicos de maior
σR MINERAL
R= Ruptura Domínio elástico
dureza e capazes de sofrer deformações sem se fracturar.
Surgiram assim os primeiros vernizes endurecedores, compostos
polissiloxanos ou acrílicos, que constituíram a segunda geração
de tratamentos. Resultantes da química das silicones – em que
os átomos de carbono são substituídos por átomos de silício –
os vernizes polissiloxanos constituíam uma ponte entre as
σR'
ORGÂNICA
matérias orgânicas e as matérias minerais: a presença de silício
R'= Ruptura
conferia dureza superficial para resistir aos riscos finos, e a
existência de longas cadeias hidrocarbonadas oferecia a
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Suplemento
Suplemento
Medição e controlo da eficácia anti-abrasão
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Transparência e
Durabilidade
D Tratamento Anti-Reflexos
Os reflexos parasitas da luz nas superfícies da lente são de
natureza diversa: reflexão na face convexa, reflexão na face
côncava e reflexão interna. A reflexão reduz a transmissão da
lente e tem efeitos indesejáveis: os reflexos perturbam a visão
do portador e são inestéticos para o observador.
Analisemos em detalhe os efeitos dos diferentes tipos de
reflexão da luz e as soluções fornecidas pelos tratamentos anti-
reflexos.
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MATERIAIS & TRATAMENTOS
( )
2
n–1
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R=
n+1
Assim, a quantidade total de luz perdida por reflexão ao
atravessar as duas faces de uma lente é:
Total da luz
7,8 % 10,4 % 12,3 % 15,7 % 18,3 %
reflectida
AR AR
Se considerarmos que o índice das lentes normalmente mais
usadas é n = 1.6, deduz-se que a quantidade de luz geralmente
perdida por reflexão é, em média, cerca de 10% do fluxo
luminoso incidente. Assim, conclui-se que é imperiosa a
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Transparência e
Durabilidade
b. Reflexão na face côncava c. Dupla reflexão interna
Um fenómeno importante é o da reflexão, na face côncava da Um fenómeno particular de desdobramento das imagens pode
lente, da luz originada por uma fonte situada atrás do portador igualmente produzir-se, por reflexões internas na lente.
das lentes. Este tipo de reflexão pode ser muito incómodo, Desencadeia-se do seguinte modo: após refracção através da
especialmente em condições de fraca iluminação ambiente, face convexa da lente, o feixe luminoso atinge a face côncava, e
como por exemplo na condução nocturna. Com efeito, esta luz produz-se, por um lado, uma nova refracção do feixe luminoso
reflectida indesejável vem sobrepor-se à luz proveniente do e, por outro lado, uma 2ª reflexão da luz que cria um feixe
cenário observado, provocando uma redução dos contrastes e luminoso secundário. Este último, após uma nova reflexão na
portanto da qualidade de visão, e pode mesmo ser a causa de face convexa da lente e refracção através da superfície côncava,
fenómenos de encandeamento. Para mais detalhes, ver a seguir dá origem a uma 2ª imagem de menor intensidade que a
o «Suplemento: Benefícios visuais dos tratamentos anti-reflexos». imagem principal e ligeiramente desviada em relação a esta.
Para o portador, traduz-se na percepção de um desdobramento
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AR AR AR AR
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Figura 30: Alteração dos contrastes da visão, por reflexão da Figura 31: Desdobramento de imagens, por reflexões internas
luz na face côncava da lente. da luz na lente.
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Transparência e
Durabilidade
se muitas vezes insuficientemente convincente para motivar a Para mostrar o aumento dos contrastes proporcionado por um
adopção deste tipo de tratamento por parte dos consumidores. tratamento anti-reflexos, analisemos o esforço visual de um
Com um tratamento anti-reflexos, é possível reduzir fortemente indivíduo ao tentar discriminar dois pontos objectos: para tal,
este «efeito de espelho». examinemos a formação das imagens na retina. Como qualquer
aparelho óptico, o olho apresenta imperfeições, e a imagem
formada na retina de um ponto objecto não é um ponto mas uma
mancha luminosa. Assim, a visão de dois pontos apresenta-se
como a justaposição de duas manchas luminosas mais ou menos
confundidas. Se a distância que separa os dois pontos for
suficiente, a imagem retiniana formada permite discriminá-los.
Quando os pontos se aproximam, as duas manchas tendem a
confundir-se e o indivíduo só tem a percepção de um único ponto.
AR AR
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AR AR
Figura 33a: Aumento dos contrastes por meio dos tratamentos
anti-reflexos.
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Suplemento
atamentos Anti-Reflexos
Suponhamos que o indivíduo é um automobilista a conduzir de B) Redução do encandeamento
noite, e tenta distinguir nitidamente ao longe os faróis de dois
ciclistas circulando em sentido contrário. Mas surge por trás dele Diversos estudos(1) mostraram que, em presença de uma fonte
uma viatura, cujos faróis se reflectem na face côncava das suas luminosa perturbadora, os tratamentos anti-reflexos permitem
lentes: os reflexos parasitas criam uma mancha luminosa na melhorar consideravelmente a sensibilidade aos contrastes. Os
retina, de intensidade uniforme, que vem adicionar-se à estudos consistiam na observação de miras de contraste
intensidade dos dois pontos observados (os faróis dos ciclistas). normalizadas, por pacientes alternativamente equipados com
O resultado é uma nítida diminuição do contraste, assim obtido: lentes sem tratamento ou com tratamento anti-reflexos e
C’ = (a’ – b’) / (a’ + b’) submetidos ou não a um encandeamento proveniente de trás.
Tal diminuição pode fundir numa única imagem a visão dos dois Os resultados apresentados na
ciclistas anteriormente bem distintos, ou pode mesmo fazer Figura 34 representam:
perder a percepção da sua presença. - a curva da normal sensibilidade ao contraste destes
pacientes, sem encandeamento;
a'
Sem
100 encandeamento
a b' Encandeamento
com anti-reflexos
Encandeamento
sem anti-reflexos
b
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10
1
1 10 20
Frequência espacial
Figura 33c: Efeito de reflexão parasita. Figura 34: Redução dos efeitos do encandeamento por meio
dos tratamentos anti-reflexos.
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Durabilidade
2. Princípios do tratamento anti-reflexos Para haver anulação da luz reflectida, os cálculos mostram que
a camada extra-fina depositada sobre a lente deve ter:
- um índice de refracção n’ igual à raiz quadrada do índice
O tratamento anti-reflexos consiste em depositar sobre as de refracção do material n;
superfícies da lente uma série de finas camadas sobrepostas, para
- uma espessura que seja um múltiplo de λ / 4.n’, sendo λ
que os raios de luz reflectida interfiram entre si de forma a anularem- o comprimento de onda da luz a anular.
se. Para tal, é preciso explorar a natureza ondulatória da luz e pôr
as ondas luminosas reflectidas em «interferência destrutiva». Com um tratamento «mono-camada», é possível suprimir a
reflexão para um dado comprimento de onda da luz, mas é
impossível eliminar as reflexões do conjunto das radiações do
espectro visível. Opta-se por anular especial-mente as reflexões
do domínio espectral a que o olho é mais sensível, ou seja, a luz
MATERIAIS & TRATAMENTOS
a b
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Figura 36a: Princípios do tratamento anti-reflexos «multi-ca- Figura 36b: Princípios do tratamento anti-reflexos «multi-
madas»: múltiplas interferências. camadas»: anulação das ondas reflectidas.
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Transparência e
Durabilidade
3. Caracterização e resultados dos
tratamentos anti-reflexos
A eficácia de um tratamento anti-reflexos é medida a partir do A cor residual de um tratamento anti-reflexos é definida pela
respectivo «espectro de reflexão», curva que fornece, após o composição espectral da luz que reflecte. A reflexão residual
tratamento, a intensidade da luz reflectida em função do pode apresentar diversas cores, consoante o tipo de tratamento
comprimento de onda (ver Figura 37). A área situada sob a curva depositado na lente. Assim, na Figura 37 que representa o
representa a quantidade de luz ainda reflectida. espectro de reflexão numa face de uma lente de índice 1.5:
6
armação recebem geralmente o tratamento anti-reflexos no
mesmo lote de fabrico. Por outro lado, no caso das lentes
produzidas em série, é necessário um controlo rigoroso, para
5
poder emparelhar numa armação duas lentes fabricadas em
momentos diferentes e com equipamentos diferentes. Por este
4 motivo, cada lote de fabrico inclui lentes de controlo, para se
verificar o respeito rigoroso das especificações de reflexão e
3 colorimetria dos tratamentos anti-reflexos realizados.
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Suplemento
Suplemento
Verde
h* Vermelho
A solução técnica para este problema é dupla:
a* - utilização de um verniz de protecção aos riscos com um alto
O índice de refracção, que atenua o fenómeno de interferências
por redução da diferença entre o índice do verniz e o índice do
substrato (técnica designada «combinação» de índices);
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A A
B
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C
B
C
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Durabilidade
Tratamento anti-reflexos na face côncava das a
lentes solares
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transmissão da luz está até em contradição com o objectivo da
lente, que é atenuar a intensidade da luz que atinge o olho. Pelo
contrário, a ausência de tratamento anti-reflexos na face convexa
pode contribuir para eliminar cerca de 4% da luz incidente (numa
lente de índice 1.5), antes da sua penetração na lente. Razão pela
qual, além da questão estética, muitas lentes solares têm faces
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500 x 4% = 20. Concentremo-nos na intensidade da luz
recebida pelos olhos do portador e, mais precisamente, na
relação entre a intensidade da luz parasita recebida do sol por
reflexão na face côncava e a intensidade da luz proveniente do
objecto observado e transmitida pela lente. Designemos esta
relação de «índice de desconforto». Podem dar-se quatro casos:
- Se a lente for branca e sem tratamento anti-reflexos, a luz
transmitida é 100 x 0,96 x 0,96 = 92 e o índice de desconforto c
é 20 / 92 = 22% (Figura 40a).
- Se a lente for branca e com tratamento anti-reflexos nas 2 faces,
a luz transmitida é 100 x 0,996 x 0,996 = 99 e a luz reflectida é
500 x 0,004 = 2; o índice de desconforto é 2 / 99 = 2% (Figura
40b).
- Se a lente for solar e possuir uma absorção interna de 67%, a
luz transmitida é 100 x 0,96 x 0,33 x 0,96 = 30. A luz parasita
reflectida pela face côncava continua a ser 20, logo o índice de
desconforto é 20 / 30 = 67% (Figura 40c). Note-se que, se o filtro
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E Tratamentos Anti-Sujidade e Anti-Poeira
1. Tratamento anti-sujidade
Um tratamento anti-reflexos apresenta à escala microscópica
uma superfície irregular onde as sujidades – compostas por
moléculas aquosas ou lipídicas – podem alojar-se. Com efeito,
as camadas extra-finas deste tipo de tratamento são
relativamente porosas e a poluição oleosa ou as impurezas
podem incrustar-se nos poros da última camada. Para atenuar
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oleofóbicas (ou seja, que reduz consideravelmente a aderência
da água e das substâncias oleosas). Estes tratamentos actuam
de 3 maneiras:
- repelência das moléculas de sujidade e redução da respectiva
aderência devido à energia muito fraca de superfície;
- oposição à migração das moléculas de sujidade para os micro-
poros do tratamento anti-reflexos por obturação das lacunas
Figura 42: Princípios do tratamento anti-sujidade:
intersticiais;
b) estrutura química do revestimento anti-sujidade.
- aumento da eliminação das moléculas de água e de sujidade
devido à superfície mais deslizante da lente.
Este revestimento anti-sujidade é extremamente fino – da ordem A eficácia de um tratamento anti-sujidade pode ser quantificada
de apenas alguns nanómetros de espessura – não tendo quaisquer pelo «ângulo de contacto» de uma gota de água depositada sobre
consequências no efeito anti-reflexos. a superfície da lente, ou seja, o ângulo compreendido entre a
É formado por componentes químicos que contêm cadeias superfície da lente e a tangente à superfície da gota. Este ângulo
fluoradas ou hidrocarbonadas. Pode-se referir, por exemplo, os é tanto maior quanto menor a superfície de contacto da gota com
polissilazanos fluorados cujas moléculas têm uma estrutura bastante a lente e, portanto, quanto mais fraca for a aderência da gota.
complexa: por um lado, possuem radicais que actuam como A eficácia anti-sujidade também pode ser medida pelo «ângulo
ganchos sobre a sílica (que constitui a última camada do tratamento de deslize». A medição faz-se depositando uma gota de água de
anti-reflexos) dando muito boa aderência ao tratamento; por outro dimensão calibrada sobre a superfície da lente colocada na
lado, possuem elementos ricos em flúor e dotados de uma forte horizontal e inclinando progressiva-mente a lente até a gota
repelência química da água e das gorduras. deslizar sobre a superfície desta. O ângulo de deslize é o ângulo
de inclinação da lente no momento em que a gota começa a
deslizar: quanto menor o ângulo, mais deslizante é a superfície
e portanto mais eficaz é o tratamento anti-sujidade.
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Se as primeiras gerações de tratamentos anti-sujidade apenas Para evitar este fenómeno, o princípio do tratamento anti-poeira
alisavam parcialmente as superfícies da lente consiste em acrescentar, mesmo no seio da estratificação anti-
(1ª geração do Crizal®, por exemplo), as novas moléculas reflexos, uma camada condutora transparente que induz o
aplicadas nas gerações seguintes permitiram realmente lacar as desaparecimento das cargas. Estas são assim eliminadas em
superfícies, evolução perfeitamente perceptível ao limpar a lente algumas milésimas de segundo e, pelo facto de não
(Crizal Alizé®). Este avanço foi ainda reforçado com o Crizal Forte permanecerem à superfície da lente, não atraem as partículas
®, por meio de uma densificação das moléculas fluoradas anti- de poeira. Logo, as lentes mantêm-se perfeitamente limpas e
sujidade, devido ao processo de fabrico HSD – High Surface totalmente livres de pó.
Density Process™ (ver mais adiante o «Suplemento: Tecnologia
de fabrico dos tratamentos anti-sujidade»). Esta técnica foi inicialmente aplicada no tratamento Crizal® A2
e depois também no Crizal Forte®. Constitui, desde então, uma
das características da gama de tratamentos Crizal®.
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2. Tratamento anti-poeira
Além de poder sujar-se, a superfície de uma lente orgânica pode
também atrair as poeiras por um fenómeno electrostático. Com
efeito, o material orgânico é isolante e não condutor de cargas:
ao esfregar a superfície da lente, especialmente durante a sua Figura 45: Princípio do tratamento anti-poeira:
limpeza, geram-se cargas electrostáticas que não desaparecem a) Princípio da atracção electrostática do pó
rapidamente; estas cargas negativas atraem todas as partículas b) Repelência do pó numa lente tratada.
de pó carregadas positivamente. Por conseguinte, a lente nunca
está perfeitamente limpa e sem pó.
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Suplemento
Tecnologia de Fabrico dos Tratamentos Anti-Reflexos
A tecnologia de produção dos tratamentos anti-reflexos é muito sofisticada e requer equipamentos de alta tecnologia. Consiste em
depositar sobre a superfície das lentes uma série de camadas sobrepostas, transparentes, extremamente finas e com espessuras
perfeitamente controladas. O tratamento é aplicado em lentes prévia e totalmente acabadas, ou seja, após surfaçage, eventual coloração
e, no caso das lentes orgânicas, do verniz de protecção aos riscos. As lentes são colocadas numa estufa sob vácuo, onde as diferentes
camadas de tratamento são depositadas por evaporações sucessivas dos respectivos componentes.
Passamos agora a descrever, detalhadamente, as diversas etapas do fabrico destes tratamentos.
A) Preparação das lentes antes do tratamento Para atingir tais temperaturas, os materiais são postos num cadinho
em que o calor é criado por um destes dois processos:
- aquecimento por efeito de Joule: um cadinho de metal
Antes de depositar as diferentes camadas do anti-reflexos, é
refractário (tungsténio ou tântalo) ou de carbono é enchido com
necessário limpar a superfície das lentes, para eliminar todos os
o material sólido e é percorrido por uma intensa corrente
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Numa estufa repleta de uma atmosfera gasosa, as moléculas O efeito anti-reflexos é obtido pela sobreposição de camadas
estão permanentemente animadas de movimentos com de diferentes materiais, sucessivamente vaporizados na estufa
trajectórias rectilíneas e em colisão, quer entre si, quer com as e depositados na superfície das lentes. Os materiais utilizados
paredes da estufa. Se diminuirmos o número de moléculas são óxidos de sílica (SiO2), de zircão (ZrO2), de titânio (TiO2),
presentes na estufa, se produzirmos o vácuo, a sua raridade de nióbio (Nb2O5) e, no caso das lentes minerais, fluoreto de
conduz à inexistência de colisões entre moléculas, e à sua magnésio (MgF2).
colisão unicamente com as paredes da estufa. É o que se produz A composição exacta da estratificação e a espessura relativa das
num equipamento de fabricação de tratamentos anti-reflexos: o diversas camadas dependem da técnica do fabricante.
vácuo é criado por bombagem e as moléculas do tratamento, As propriedades das camadas são muito condicionadas pelas
vaporizadas na estufa, circulam sem colidir entre si até do substrato sobre o qual são depositadas. Por exemplo, as
MATERIAIS & TRATAMENTOS
encontrarem as paredes da estufa … ou a superfície das lentes lentes minerais suportam temperaturas até 300º C, mas é
a tratar com o anti-reflexos! impossível submeter as matérias orgânicas a temperaturas
O nível de vácuo criado na estufa é muito elevado: a pressão superiores a 100º C, porque amarelecem e depois decompõem-
interna é reduzida para cerca de 10-6 milibares, ou seja, quase se. Assim, foi necessário desenvolver processos de fabrico a
dez vezes menor que o «vazio» existente na superfície da lua ou baixas temperaturas para o tratamento das lentes orgânicas. Por
mil milhões de vezes inferior à pressão atmosférica terrestre! outro lado, os coeficientes de dilatação térmica dos materiais
orgânicos são muito superiores aos dos materiais minerais
utilizados nos estratos do anti-reflexos, podendo criar tensões
na interface do substrato e do tratamento: isto explica, por
exemplo, o facto de uma lente estalar quando submetida a um
choque térmico (por aquecimento excessivo nos equipamentos
do óptico (ventilette, por exemplo), ou por exposição prolongada
ao sol junto ao tablier de um automóvel). Por isso, no caso do
tratamento das lentes orgânicas, é preciso controlar
perfeitamente a temperatura à superfície das lentes durante o
depósito das camadas.
Resumindo, os processos de aplicação das camadas anti-
reflexos são complexos e requerem uma adaptação a cada um
dos materiais.
40
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Suplemento
Tecnologia de Fabrico dos Tratamentos Anti-Sujidade
O tratamento anti-sujidade consiste em aplicar por cima do a
último estrato do tratamento anti-reflexos, uma camada
simultaneamente hidrofóbica e oleofóbica de espessura muito
fina (com apenas alguns nanómetros).
Este revestimento pode ser aplicado de dois modos diferentes:
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- por um processo de imersão semelhante ao utilizado no
tratamento de protecção aos riscos, mas muito mais simples;
- por evaporação no vácuo, na estufa do tratamento anti-
reflexos, sendo imediatamente depositado sobre a última
camada da estratificação anti-reflexos.
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aplicação do tratamento anti-reflexos, por um processo de
evaporação semelhante ao utilizado para as outras diversas
camadas. Então, deposita-se sobre a superfície do último estrato
do anti-reflexos, colmatando as irregularidades e os poros deste
tratamento e formando uma camada extremamente fina de
alguns nanómetros.
Figura 48: Densificação do tratamento anti-sujidade pelo
A primeira geração do tratamento anti-sujidade (Crizal®) apresentava processo HSD.
um número limitado de cadeias fluoradas, o que tornava a superfície
da lente só parcialmente hidrofóbica e oleofóbica. Depois, esse
número foi muito aumentado até a superfície ficar extremamente
deslizante (Crizal Alizé®). Atingido este ponto, tornou-se necessário
aplicar uma camada suplementar provisória, para reduzir o efeito
deslizante e permitir aos ópticos a montagem das lentes.
Posteriormente, o processo HSD (High Surface Density Process™)
permitiu aumentar ainda mais o número de moléculas fluoradas
depositadas na superfície do anti-reflexos, revestir melhor a lente
com uma camada mais densa e mais espessa, e assim tornar o
tratamento anti-sujidade ainda mais eficaz (Crizal Forte®).
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3. Resistência e Protecção
Resistência e
Uma lente oftálmica, além de fina, leve e transparente, deve ser também protectora: deve resistir aos choques e proteger eficazmente os
olhos dos efeitos nocivos da radiação solar.
Protecção
Na terceira parte deste caderno, referem-se em pormenor as propriedades de resistência e filtração das lentes.
têmpera química ou térmica para melhorar a resistência. aos riscos, uma camada de um «verniz primário» de tipo
Posteriormente, surgiram as lentes orgânicas com qualidades elastómero, capaz de deter a propagação da fissura devido à
naturais superiores, em termos de resistência, que muito sua natureza elástica. Esta camada serve também para favorecer
contribuíram para o seu sucesso. Por fim, foi criada a aderência do tratamento de protecção aos riscos e permitir a
regulamentação para impor às lentes oftálmicas normas de aplicação de vernizes mais duros.
resistência e garantir aos portadores toda a segurança
necessária.
Descrevemos agora as circunstâncias em que uma lente pode
quebrar, e recordamos as normas de resistência aos choques
que se aplicam às lentes oftálmicas.
1. Mecanismo de ruptura
A resistência aos choques de uma lente oftálmica resulta da
combinação da resistência natural do material utilizado, da
espessura da lente, da presença de tratamentos
de protecção aos riscos e anti-reflexos e de um eventual
tratamento anti-choques.
Se ocorrer um embate, geralmente sofrido na face convexa, o
processo de ruptura da lente é o seguinte: depois de uma certa
amplitude de deformação, cria-se uma estria incipiente na face
côncava da lente; esta estria constitui um ponto fraco a partir
do qual a energia mecânica do choque se concentra,
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provocando o seu alargamento e a sua propagação, sob a forma
de fissura, através da espessura da lente.
Em caso de embate, os materiais orgânicos e os materiais
minerais têm comportamentos totalmente diferentes:
- as lentes minerais, muito frágeis à extensão, têm um limiar
de resistência muito pequeno e partem-se muito facilmente:
necessitam de tratamentos de têmpera térmica ou química, o
Figura 50: Mecanismo de ruptura de uma lente oftálmica: fis-
que tornou mais difícil a sua utilização e causou a sua regressão;
suras incipientes na face côncava podem propagar-
- as lentes orgânicas têm intrinsecamente um melhor
se através da espessura da lente e provocar a sua
comportamento: a sua estrutura molecular confere-lhes uma
ruptura.
boa plasticidade e uma grande amplitude de deformação antes
da ruptura, permite-lhes absorver grande parte da energia do
choque e resistir melhor.
Os diversos tipos de materiais orgânicos têm propriedades
diferentes: as matérias termoplásticas, devido à relativa
liberdade e mobilidade das suas cadeias moleculares, podem
dissipar melhor a energia recebida dos choques. As matérias
termoendurecidas, devido à sua estrutura de redes reticuladas,
são mais rígidas e têm menor resistência. Assim, o CR39®
cumpre as normas em condições de espessura mínima; o
poliuretano tem uma boa resistência mas pode partir-se; o
policarbonato tem uma excelente resistência e não se quebra:
é o material resistente por excelência, utilizado inclusivamente
no fabrico de lentes de protecção. Os materiais orgânicos de
alto índice são geralmente mais resistentes que o CR39® mas
menos resistentes que o policarbonato.
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Resistência e
Protecção
2. Normas de resistência aos a
choques
As normas de resistência aos choques relativas às lentes
oftálmicas diferem um pouco consoante os países: nos E.U.A.,
é a norma de resistência à queda de uma pequena esfera,
emitida pela Food and Drug Administration1 (FDA), que é válida;
na Europa e na Ásia, é a norma de resistência à pressão de uma
força de 100 newton, enunciada pelo Comité Européen de
Normalisation2 (CEN), que é aplicada.
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Especificando:
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testes são realizados com as lentes mais frágeis, ou seja, as de
potências negativas.
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Resistência e
Protecção
As radiações solares que atingem a Terra são um pequeno • os UVA (de 380 a 315 nm) cujo efeito bronzeador é bem conhecido;
subconjunto do vasto campo das vibrações electromagnéticas, • os UVB (de 315 a 280 nm) responsáveis pelas queimaduras da pele.
que se estendem das radiações cósmicas às ondas As radiações UV que atingem a Terra são constituídas por 95% de
radioeléctricas. Cada radiação é caracterizada pela sua UVA e 5% de UVB. As radiações com menor comprimento de onda,
frequência ν ou pelo seu comprimento de onda λ = c / ν (c = as UVC (de 280 a 200 nm), são perigosas e são interceptadas pela
velocidade da luz, ou seja, 300 000 km / s). A radiação solar camada de ozono que envolve a atmosfera.
presente na superfície da Terra cobre o intervalo compreendido - para além do domínio visível, os infravermelhos que se estendem
entre λ = 280 nm e λ = 2000 nm e inclui: de λ = 780 nm a λ = 2000 nm, e são para lá destes valores
- a radiação visível, ou seja, a que desencadeia a estimulação absorvidos pelo vapor de água presente na atmosfera.
dos receptores retinianos após atravessar os meios intra-oculares, A luz visível é portanto um pequeno conjunto de ondas do grande
e que abrange, segundo os valores normalizados, de λ = 380 nm campo das radiações electromagnéticas, notáveis pelo facto de
(violeta) a λ = 780 nm (vermelho); interagirem com os nossos olhos e nos permitirem ver o mundo.
- para aquém do domínio visível, os ultravioletas com comprimento
de onda λ = 380 nm a 280 nm, distinguindo-se 2 tipos:
10 -14
10 -12
10 -10
10 -2
10 -6
10 -4
10 -8
10 2
10 4
10
200 280 315 380 400 500 600 700 780 800 Comprimento
de Onda λ
(nm)
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Resistência e
Protecção
1. Necessidade de protecção dos a. Efeito dos ultravioletas
A exposição aos ultravioletas é uma causa importante de lesões
olhos contra as radiações solares oculares. Algumas destas lesões são irreversíveis e podem
provocar uma perda parcial ou total da visão. Mais precisamente,
O sol marca o ritmo da nossa vida, fornece-nos luz e calor, mas nem a luz ultravioleta pode estar na origem de irritações oculares,
todas as suas radiações são benéficas. Algumas, nomeadamente secura dos olhos, lesões da conjuntiva, foto-queratites, oftalmias
as ultravioletas e a luz azul, podem ser perigosas a longo prazo. (ou queimaduras da córnea como a «cegueira da neve»),
Referimos seguidamente em detalhe os seus efeitos na visão e nas opacidades do cristalino, catarata precoce, e também afecções
estruturas do olho. retinianas particularmente nas crianças.
A luz ultravioleta constitui portanto um perigo quotidiano,
Transmissão da luz através das diferentes especialmente quando a sua concentração é maior: no Verão,
estruturas do olho quando a radiação solar é mais intensa; a meio do dia, quando o
315 nm
UVA 35,5% 13% 50% 1,5%
transparentes, é um factor importante do encandeamento. Por
380 nm
450 nm
outro lado, por ser focalizada à frente da retina pelo sistema
490 nm
560 nm LUZ
óptico do olho, está na origem de uma impressão de falta de
590 nm VISÍVEL nitidez.
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630 nm
780 nm
- Efeitos na retina: tal como as radiações ultravioletas, a luz
azul participa na degradação das células retinianas (epitélio
pigmentar e foto-receptores): uma exposição repetida e/ou
CRISTALINO MÁCULA
prolongada à luz azul pode provocar foto-traumatismos na
retina; a longo prazo, os efeitos cumulativos da exposição à luz
azul são considerados como um factor de risco de
Figura 53: Transmissão da luz através das diferentes estruturas degenerescência macular ligada à idade (DMLI) e portanto de
do olho. perda da acuidade visual.
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Resistência e
Protecção
uma representação gráfica designada espectro (ou curva) de da «caracterização das propriedades de transmissão de uma lente
absorção ou de transmissão. Um espectro constitui uma marca oftálmica»). Este factor corresponde a uma definição internacional
característica de uma molécula ou de um dado encadeamento normalizada e é utilizado para a classificação das lentes em cinco
de moléculas. Todas as matérias absorvem a luz mas de zonas graus de transmissão da luz: de 0, para as lentes claras, a 4, para
distintas do espectro solar. as mais escuras. Os critérios de classificação baseiam-se não só
Quanto maior a densidade electrónica da ligação das moléculas nas propriedades de transmissão da luz visível da lente, mas
que constituem o polímero, directamente relacionada com a também de transmissão dos UV-A e dos UV-B. Estes critérios são
natureza dos átomos e com o modo de ligação destes entre si, estabelecidos para lentes planas com uma espessura de 2,0 mm
mais o espectro de transmissão se desloca em direcção aos com luz incidente normal.
grandes comprimentos de onda. No caso das lentes brancas, a
constituição intrínseca do polímero é geralmente suficiente para Grau de Domínio espectral Domínio espectral
filtrar a maioria dos ultravioletas, caso contrário é possível filtração ultravioleta visível
acrescentar moléculas suplementares ditas «absorventes UV» Valor máximo Valor máximo Transmissão
da transmissão da transmissão da luz visível
para obter uma protecção total. Para uma protecção solar UV-B solar UV-A τv
suplementar contra a luz visível, nas lentes solares por exemplo, τ SUVB τSUVA 380-780nm
incorporam-se no polímero corantes que, devido à forte 280-315 nm 315-380 nm
densidade de electrões, deslocam o espectro de absorção para de a
UVB UVA
(%) (%)
a luz visível e asseguram assim o efeito de filtragem. (%) (%)
0 τv 80,0 100,0
τv
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1 43,0 80,0
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Resistência e
Protecção
Grau Descrição Pictogramas Indicações de Uso
d. Respeito da visão das cores
A redução de luz proporcionada pelas lentes filtrantes está
Lente branca associada à questão do respeito da visão das cores.
0 ou muito levemente Interiores – Céu encoberto Efectivamente, um filtro colorido, que possui uma certa
colorida
selectividade espectral, deforma inevitavelmente a visão das
Lente
cores. Por um fenómeno de «adaptação cromática», o cérebro
1 Luz solar atenuada
levemente colorida humano é capaz de minimizar os efeitos e de restabelecer, em
grande parte, a paleta relativa das cores naturais. Mas este
Lente fenómeno tem limites e a cor observada corresponde à
2 medianamente Luz solar média deformação residual após adaptação cromática. A cor é
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colorida
evidentemente função do filtro de luz e, mais precisamente, da
respectiva selectividade espectral.
3 Lente escura Luz solar forte
Por isso, certos tipos de colorações (como as Cores Fisiológicas®)
τν b
b
100
80
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60
40
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20
0
Figura 58: Índice de distorção das cores – campo vectorial de
380
400
450
500
550
600
650
700
750
780
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Suplemento
Suplemento
∫
780
da lente branca. No caso de uma lente oftálmica branca, esta
τ (λ) . ν
(λ) . SD65(λ).dλ
absorção é insignificante; no caso de uma lente filtrante constitui
uma das funções da lente. τν = 380
∫
780
Tal como é definida, a absorção não caracteriza o efeito da redução
total da intensidade luminosa da lente, mas apenas o efeito da 380
ν (λ) . SD65 (λ).dλ
redução interna. Razão pela qual se opta geralmente pelo conceito
de «luz transmitida» – que integra o conjunto dos fenómenos que em que τ(λ) = factor espectral de transmissão do filtro, ν(λ) = eficácia
actuam sobre a intensidade luminosa – em vez de «luz absorvida» luminosa relativa espectral do olho, e SD65(λ) é a distribuição espectral
que só caracteriza a absorção interna da lente. da radiação da fonte de luz normalizada. Este coeficiente τν é o
utilizado para definir os graus de coloração das lentes oftálmicas e para
as classificar em função da respectiva transmissão da luz.
φλ τλ ν λ φλ
(%) (%)
60 60
100 100
80 80
40 40
60 60
40 40
20 20
(W/m2.μm)
(W/m2.μm)
20 20
τν
0 0 0 0
380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780
dλ λ(nm) dλ λ(nm) dλ λ(nm) dλ λ(nm)
φλ νλ φλ
60 (%) 60
100
80
40 40
60
40
20 20
(W/m2.μm)
(W/m2.μm)
20
0 0 0
380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780 380 400 450 500 550 600 650 700 750 780
dλ λ(nm) dλ λ(nm) dλ λ(nm)
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Suplemento
Transmissão e filtragem dos UV
A óptica oftálmica interessa-se muito particularmente pelas C) Caracterização da absorção de uma
propriedades de absorção dos ultravioletas das lentes, lente oftálmica
caracterizada pela taxa de transmissão dos UV (UVA e UVB) ou
pela absorção dos UV. A taxa de transmissão dos UV é a Factor de absorção αi
proporção de luz transmitida na zona dos UVA (315 a 380 nm) e Definido pela relação αi = Φα / Φin, caracteriza a absorção de
na zona dos UVB (280 a 315 nm), e é expressa em %. A absorção uma lente pela relação entre o fluxo luminoso Φα = Φin - Φex
UV é determinada, na curva de transmissão da lente, pelo absorvido entre as faces de entrada e de saída da lente e o fluxo
comprimento de onda abaixo do qual a lente transmite menos de
luminoso Φin penetrado na lente. Se a absorção da lente variar
1% da luz, e é expressa em nm.
com o comprimento de onda, o factor espectral de absorção
interna αiλ da lente é determinado da mesma forma para cada
B) Caracterização da reflexão de uma comprimento de onda λ da luz incidente.
( )
2
n–1
ρ=
n+1
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Resistência e
Protecção
a. Lentes solares 0
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2
90
A eliminação dos ultravioletas é um factor essencial da Grau 0
80
protecção solar. Os materiais orgânicos de alto índice filtram os
70 Grau 1
UV sistematicamente, mas o CR39 não, e por isso deve-se
obrigatoriamente acrescentar um absorvente de UV ao 60
monómero, no caso das lentes solares planas fabricadas em 50
Grau 2
série, ou aplicá-lo sobre a superfície da lente, no caso das lentes 40
correctoras produzidas à unidade. Não seria obviamente 30
correcto propor aos consumidores lentes que não filtrassem os
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Grau 3
20
UV e que implicassem o risco de ser mais prejudiciais do que
10 Grau 4
benéficas. Infelizmente, nem todas as lentes solares existentes
no mercado cumprem estes preceitos, e portanto é essencial 0
que os profissionais de óptica oftálmica se certifiquem, junto dos 280 330 380 430 480 530 580 630 680 730 780
fornecedores, das características das lentes que propõem aos Comprimento de Onda (nm)
pacientes ou clientes.
Por outro lado, o filtro solar pode ser selectivo do ponto de vista Figura 61: Curvas de transmissão da luz para os diversos graus
espectral, ou seja, pode eliminar certas cores do espectro e/ou de intensidade – CR39 brun (castanho), de 0 a 4.
aumentar a transmissão de uma parte específica do espectro.
Esta selectividade visa geralmente eliminar os ultravioletas e a b. Lentes filtrantes dos ultravioletas e da luz
luz azul.
azul
Por último, no capítulo sobre os tratamentos anti-reflexos,
referimos o benefício visual decorrente da aplicação deste 1) Lentes com melanina
tratamento na face côncava das lentes coloridas. Além do A melanina é um pigmento natural, existente nos cabelos, na
conforto visual proporcionado por estas lentes, certos pele e nos olhos. Este pigmento protege o corpo dos efeitos
tratamentos anti-reflexos são especialmente estudados para as nocivos do sol, mais particularmente dos ultravioletas e da luz
lentes solares, com o objectivo de reduzir a reflexão na face azul, por exemplo, dando à pele um tom bronzeado. Ao nível do
côncava da lente, não só da luz visível, mas também mais olho, actua contra a degradação das células retinianas
especificamente das radiações ultravioletas (Crizal Sun®, por absorvendo os fotões e dissipando a respectiva energia. De um
exemplo). modo geral, a quantidade de melanina naturalmente presente
no corpo é tanto mais elevada quanto mais escura for a cor dos
olhos, dos cabelos e da pele.
O princípio das lentes com melanina consiste em integrar na sua
composição, no próprio seio da lente, pigmentos de melanina
sintética, que reforçam a protecção natural dos olhos.
50
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Resistência e
Protecção
Estas lentes têm a propriedade de proteger os olhos contra a Se intercalarmos, entre esta luz reflectida e o olho, um filtro
luminosidade ambiente ofuscante (essencialmente devida à luz polarizado de eixo vertical – portanto com direcção de polarização
azul), acentuar os contrastes e contribuir para retardar o perpendicular ao plano de vibração da luz reflectida – é possível
envelhecimento da retina e da pele do contorno dos olhos. eliminar totalmente esta luz.
Eliminam 100% dos UV e 98% da luz azul, e contribuem assim O funcionamento das lentes polarizadas baseia-se neste princípio.
para preservar a visão dos portadores. a
As lentes são castanhas e produzidas em policarbonato: uma
película colorida de espessura uniforme é adicionada durante a
fabricação, sobre a face convexa da lente, depois revestida por
um verniz protector. Têm assim uma cor natural e uniforme,
qualquer que seja a sua potência.
Estas lentes com melanina são especialmente recomendadas
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2) Colorações para actividades desportivas
A prática de um desporto requer muitas vezes uma protecção
ocular especial. O meio ambiente, as condições de luminosidade
e as exigências visuais são função do desporto praticado: o tipo
de lente indicado difere consoante a modalidade desportiva.
Além da correcção óptica, as lentes reforçam a visão dos
contrastes e optimizam a eficiência visual dos desportistas,
devido à sua coloração específica. b
Para corresponder a esta procura, criou-se uma gama de
«colorações para desportos» (Sports-Solutions™) estudadas em
colaboração com desportistas de alta competição.
Esta gama é constituída por uma série de cores especificamente
adaptadas às exigências dos diversos tipos de actividades
desportivas: por exemplo, castanho-claro, grau 2, para o golfe;
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amarelo polarizado grau 2, para o ciclismo; castanho polarizado,
grau 3, para os desportos náuticos; castanho-escuro, grau 4,
para o alpinismo, etc.
Estas colorações são aplicadas em lentes de policarbonato, que
aliam a leveza à incomparável resistência aos choques. Todas as
lentes desta gama eliminam 100% dos UV e, no mínimo, 92%
da luz azul, para assegurar uma perfeita protecção dos olhos e Figura 62: Princípio de actuação de uma lente polarizadora:
aumentar a percepção dos contrastes. a) Polarização da luz reflectida
As lentes podem ainda beneficiar, na face côncava, do b) Eliminação por meio de filtro polarizador.
tratamento anti-reflexos específico das lentes solares (Crizal®
Sun) e, na face convexa, de um efeito espelhado.
c. Lentes polarizadas
A luz é uma vibração electromagnética que se transmite em
todos os planos em volta da direcção da sua propagação. Benefícios das lentes polarizadas
Quando é reflectida por uma superfície plana, polariza-se, ou
As lentes polarizadas oferecem dois benefícios essenciais aos
seja, vibra apenas num único plano:
portadores de lentes solares: redução do encandeamento e
o plano perpendicular ao plano de incidência (definido pela reforço da percepção do relevo e das cores. Estes benefícios
direcção do raio luminoso e a normal à superfície no ponto de resultam da eliminação da luz reflectida horizontalmente.
incidência). Por exemplo, quando a luz do sol é reflectida por Efectivamente, esta luz reemitida por reverberação não só tem
uma superfície horizontal, como uma estrada ou um plano de uma intensidade ofuscante, como também perturba a visão por
água, esta vibra apenas no plano perpendicular ao plano vertical se sobrepor à luz proveniente do objecto observado. Eliminando
que passa pelo ponto de incidência e que inclui a direcção de selectivamente tal luz, suprime-se uma causa importante de
reflexão da luz (ver Figura 62); neste plano o eixo de vibração encandeamento e anula-se uma componente luminosa
da luz é horizontal. perturbadora dos contrastes. A visão é portanto mais
confortável e mais perfeita, por se reduzir a fadiga visual
associada ao encandeamento e por se melhorar a percepção
dos contrastes dos objectos.
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Resistência e
Protecção
a b
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a’ b’
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Figura 63: Efeitos das lentes polarizadas:
a-a’) Anti-encandeamento
b-b’)Reforço dos contrastes. Para reconhecer uma lente polarizada …
É relativamente fácil verificar se uma lente é ou não polarizada: basta
observar, através da lente, a intensidade da luz reflectida, por
exemplo, pela estrada ou pelo capô de um automóvel, ou a
Comparativamente, as lentes solares tradicionais reduzem o intensidade da luz emitida por um ecrã LCD ou de plasma, e rodar a
encandeamento provocado pelo sol e pela luz reflexa lente em volta do respectivo eixo – se a luz se reduzir ou desaparecer
unicamente pela diminuição global do nível de transmissão da totalmente para uma certa orientação da lente e se for máxima para
luz visível; não actuam especificamente sobre a luz reflectida a orientação perpendicular, a lente é polarizada; se a intensidade da
perturbadora, e portanto proporcionam um conforto visual mais luz se mantiver constante, a lente não é polarizada.
limitado que o obtido com lentes polarizadas.
Os filtros polarizados são, por exemplo, obtidos por extensão de películas
Em relação às qualidades de filtragem das lentes polarizadas, é de polivinilacetato (PVA) com intensidade reforçada por corantes e cujas
interessante referir os seguintes aspectos particulares: moléculas fortemente esticadas polarizam a luz. Nas lentes oftálmicas,
- a redução da luz é em parte devida ao próprio princípio da afocais solares ou correctoras, o efeito polarizado é obtido pela inserção
polarização: eliminação de todas as ondas que não vibram no de uma película polarizadora muito fina no interior da lente durante a sua
plano vertical; fabricação (ver o Suplemento a seguir). Note-se que esta película possui
- as películas polarizadas são sempre coloridas: são geralmente uma certa orientação e que deve ser inserida na lente tendo em conta o
cinzentas, cinzentas-verdes ou castanhas, mas podem também ter eixo de uma eventual prescrição (eixo de astigmatismo ou orientação de
outras cores, e a intensidade de coloração pode atingir o grau 3; uma lente progressiva, por exemplo). Assim, as lentes polarizadas
- um filtro polarizado não é naturalmente protector contra os correctoras contêm referências permanentes (gravações) e referências
UV: esta propriedade depende das qualidades do material a que provisórias (marcações), que permitem orientar a lente na montagem. As
está associado e/ou do tratamento particular deste último. lentes polarizadas são maioritariamente produzidas em CR39 e
policarbonato, mas existem também em materiais orgânicos de alto índice
Note-se que o uso de lentes polarizadas pode originar e em matéria mineral.
fenómenos particulares:
- percepção de uma cor azul ou púrpura em alguns pára-brisas As lentes polarizadas têm um vasto campo de aplicação para
de automóveis, devido à polarização da luz transmitida através os portadores de lentes solares, pois além de reduzirem a
destes vidros, e resultante da composição ou do tratamento dos intensidade da luz, diminuem o encandeamento e acentuam os
mesmos; contrastes. Os condutores e os praticantes de actividades
- forte redução ou mesmo anulação da luz ao observar ecrãs náuticas ou de pesca reconhecem toda a utilidade destas lentes,
por eliminarem a luz reflectida numa estrada molhada ou na
LCD e de plasma (como os dos GPS, telefones, computadores
superfície da água.
portáteis, televisões, etc.), devido à polarização da luz por eles
As lentes polarizadas têm grande expansão no domínio das
emitida. Este problema é actualmente resolvido pela polarização afocais solares, mas a sua aplicação como correctoras, unifocais
não mais horizontal mas oblíqua da luz. e progressivas solares, é mais recente e o seu uso ainda muito
pouco difundido. A gama de lentes Xperio™, cujo nome significa
«eXperience the outdoors like never before», tem por objectivo
contribuir para desenvolver este mercado.
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Resistência e
Protecção
d. Filtros especiais Muitos filtros são aplicáveis nas lentes orgânicas em CR39,
O objectivo destes filtros é transmitir selectivamente certas afocais ou correctoras, podendo ser eficazes para os pacientes
radiações e absorver outras parcial ou totalmente. Estes filtros amblíopes, afáquicos, albinos, ou afectados por DMLI,
podem ter duas funções distintas: retinopatia diabética, retinite pigmentar ou glaucoma. Estes
- função de protecção, reduzindo ou anulando o efeito nocivo filtros protegem os olhos contra os UV, melhoram a visão dos
de certos comprimentos de onda e/ou diminuindo a energia contrastes, reforçam o conforto visual e por vezes aumentam
luminosa que penetra nos olhos; mesmo a acuidade visual. Infelizmente, não existe uma relação
- função de estimulação, transmitindo selectivamente certos unívoca entre as características do filtro, a afecção visual e o
comprimentos de onda que melhoram a percepção do portador. conforto que este pode proporcionar. Só o ensaio por parte do
paciente, em condições reais de utilização e por meio de faces
Existe uma grande variedade de filtros, e portanto damos adicionais amovíveis, permite determinar a cor e a intensidade
apenas alguns exemplos: mais adequadas.
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material orgânico tradicional como o CR39 é de 355 nm, mas 40%
pode ser elevada para 400 nm, mediante a aplicação de um 20%
tratamento de superfície constituído por um filtro de UV
associado a uma leve coloração castanha de grau 0 (Figura 64a);
caso contrário, o filtro adquire uma tonalidade amarelada. De 380 400 500 600 700 780
um modo geral, note-se que os materiais orgânicos são
melhores filtros de UV que os materiais minerais e que, entre os
orgânicos, os materiais de alto índice, incluindo o policarbonato,
filtram mais UV que o CR39. b
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Suplemento
Suplemento
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A. Lentes orgânicas
1. Coloração integral da matéria
Os materiais orgânicos com coloração integral são
exclusivamente utilizados para o fabrico de lentes afocais
solares, pois praticamente já não são usados para as lentes Figura 65: Coloração de lentes orgânicas por impregnação da
correctoras. No caso das matérias termoendurecidas, estes superfície.
materiais são obtidos por adição de diversos corantes ao
monómero aquando da sua formulação e antes da respectiva 3. Coloração por impregnação de um verniz
polimerização. No caso das matérias termoplásticas, e mais Os corantes penetram facilmente no CR39, mas tal não se
particularmente do policarbonato, os corantes são integrados verifica em todos os materiais, particularmente nos
na fabricação dos grânulos do polímero ou na fusão do polímero termoplásticos como o policarbonato. Neste caso é necessário
antes da sua injecção. Geralmente, em todos estes materiais, recorrer a técnicas de coloração diferentes consoante as
incorporam-se absorventes de UV para aumentar a protecção qualidades de absorção do material: por exemplo, submeter a
contra estas radiações. Os materiais orgânicos com coloração superfície do material a uma forte acção dos UV de forma a
integral permitem produzir em série lentes solares planas de permitir a difusão de corantes no seio da matéria a partir das
todas as cores e de todas as intensidades. superfícies da lente, ou aplicar na face côncava da lente um
verniz que depois será impregnado de corantes.
2. Coloração por impregnação da superfície
Consiste em impregnar as superfícies da lente com corantes, e é 4. Coloração por sublimação
efectuada por imersão das lentes numa solução contendo Processo mais recente, baseado no seguinte princípio: sobre
corantes e diversos aditivos adjuvantes da coloração. Os corantes uma folha de um papel especial é impressa a tinta colorida
penetram na matéria até uma espessura de cerca de 6 a 10 destinada a impregnar as lentes. A folha é colocada por cima
mícrones. A coloração é geralmente efectuada antes de um das lentes dispostas num tabuleiro e isoladas por meio de um
eventual tratamento de protecção aos riscos. suporte circundante individual.
A intensidade da cor é determinada pela natureza e a O tabuleiro é posto num forno sob vácuo que permite transferir a
concentração do corante e pelo tempo de imersão da lente: tinta para a lente: a tinta passa do estado sólido ao estado gasoso
cerca de 1 minuto para as cores mais claras até cerca de 2 horas (sublimação) e deposita-se na superfície da lente. Depois, as lentes
para as mais escuras. A cor e tonalidade da coloração é são colocadas numa estufa a 150º C, durante várias horas, para
determinada pelas concentrações relativas dos três corantes permitir a migração dos corantes através da superfície das lentes
primários – azul, amarelo, vermelho: obtém-se portanto uma e a sua fixação no substrato.
paleta ilimitada de matizes. Por outro lado, a coloração pode ser Desenvolvido inicialmente para a coloração dos materiais orgânicos
uniforme em toda a lente, ou esbatida – dégradée de cima para de muito alto índice, que não podem ser tratados por imersão, este
baixo, bi-dégradée a partir de cima e de baixo, e tricolor pela processo de coloração por sublimação poderá augurar uma nova
combinação de um duplo esbatimento sobre fundo de coloração era na coloração de lentes. Além de permitir a coloração de novos
uniforme! materiais, também apresenta a vantagem de ser mais «inócuo»:
O dégradé da cor é obtido por deslocação da lente em relação utilizam-se folhas impressas em vez de pós químicos, não existe o
ao banho de coloração: presa por uma pinça, a lente é risco de emanações perigosas, não é necessário reciclar os banhos
totalmente imersa, com a parte superior dirigida para baixo, e e não se consome água. Este processo apresenta portanto trunfos
depois é retirada muito lentamente; a parte superior, que para um desenvolvimento forte e duradouro.
permanece mais tempo no banho, é mais impregnada de
corantes que a parte inferior, criando-se assim a variação da cor.
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Suplemento
5. «Coloração» por inserção de uma película
As lentes polarizadas são um caso particular de «coloração»:
obtidas pela inserção, no seio das lentes orgânicas, de uma
película muito fina de polivinilacetato (PVA) colorido, com uma
espessura de cerca de 35 a 40 mícrones. No fabrico das lentes
de receituário, são utilizadas duas técnicas diferentes:
- a tecnologia de «embedded film» (película embutida) utilizada
para os materiais termoendurecidos (CR39®, por exemplo):
consiste em inserir uma película polarizada no molde, introduzir o
monómero dos dois lados da película e efectuar a polimerização;
- a tecnologia de «wafer» (película laminada) utilizada para as
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Resistência e
Protecção
b. Fotocromatismo de lentes orgânicas
As lentes fotocromáticas orgânicas são relativamente recentes: As lentes fotocromáticas orgânicas utilizam simultaneamente
só tiveram expansão real a partir da década de 1990, com a vários tipos destas moléculas, pois os seus efeitos combinados
introdução no mercado das primeiras lentes Transitions®, ou permitem obter, em função do doseamento, as tonalidades
seja, mais de 25 anos depois das fotocromáticas minerais. O cinzentas ou castanhas pretendidas pelos portadores. A
princípio do fotocromático mineral não era aplicável à matéria tonalidade é obtida por efeito subtractivo de mistura de cores
orgânica, porque as estruturas e dimensões das moléculas eram primárias.
muito diferentes; foi portanto necessário encontrar outras O desenvolvimento das fotocromáticas orgânicas é tal que
moléculas. O efeito fotocromático das lentes orgânicas é obtido actualmente a oferta inclui várias versões o que permite adaptar
pela introdução na matéria de compostos fotossensíveis que, as lentes fotocromáticas aos diferentes modos e estilos de vida
por acção de radiações UV específicas, sofrem uma alteração de dos portadores.
estrutura que modifica as suas propriedades de absorção da luz
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Suplemento
Caracterização das Propriedades das Lentes Fotocromáticas
Suplemento
Transmissão de luz no estado claro e no estado diferentes consoante as versões): cada uma tem a propriedade
escuro de absorver uma parte específica do espectro da luz visível. Se
As propriedades de transmissão da luz de uma lente o tempo de reacção destas substâncias não for igual, verifica-se
fotocromática são descritas com precisão por curvas de uma variação da cor da lente no decurso do fenómeno
transmissão e por coeficientes τv medidos no estado claro e no fotocromático
estado escuro. A variação de transmissão criada pelo fenómeno (efeito de «camaleão»). Esta particularidade observada nas
fotocromático é assim perfeitamente traçada. As últimas primeiras gerações de fotocromáticas orgânicas foi muito
gerações de lentes fotocromáticas orgânicas têm uma eficácia nitidamente atenuada nas gerações seguintes.
notável: por um lado, lentes perfeitamente transparentes no
estado claro (τv > 90%) e, por outro lado, com o nível de uma
coloração solar de grau 3 no estado escuro (τv < 20%), com Sensibilidade às condições climáticas
temperatura ambiente moderada. O calor ambiente é o estimulador natural do aclaramento da
lente fotocromática e assegura a reversibilidade do fenómeno.
τν Existe portanto um antagonismo entre o efeito dos ultravioletas
e o efeito do calor: sob igual radiação UV, a lente fotocromática
100 tende a escurecer tanto mais, quanto mais baixa for a
90 temperatura. Assim, uma mesma lente fotocromática torna-se
MATERIAIS & TRATAMENTOS
30
sobre o fenómeno fotocromático.
20
10
Evolução no tempo
0
As propriedades de fotocromatismo das lentes orgânicas
280 330 380 430 480 530 580 630 680 730 780
evoluem com o tempo. Sob o efeito de uma oxidação das
Comprimento de Onda (nm)
moléculas fotossensíveis, a amplitude do mecanismo
Figura 70: Curvas de transmissão de luz no estado claro e fotocromático tende a diminuir: após alguns anos, a lente
no estado escuro (Transitions® VI Gris e Brun). escurece um pouco menos que no início. Assim, é interessante
(Fonte: Transitions Optical) avaliar em laboratório a amplitude real desta alteração. Para tal,
selecciona-se uma lente no final do processo de produção e
Cinéticas de escurecimento e aclaramento medem-se as respectivas cinéticas de escurecimento e
As propriedades fotocromáticas são geralmente representadas aclaramento. Depois, a lente é submetida a um envelhecimento
por curvas de escurecimento e aclaramento da lente. Estas curvas artificial, por exposição a uma radiação UV intensa durante 200
apresentam a evolução do τv em função do tempo, nas fases de horas. Medem-se então novamente as cinéticas do seu
escurecimento e de aclaramento da lente, a uma temperatura de fotocromatismo e, por comparação com as medidas de origem,
23°C / 73°F. No exemplo considerado na Figura 71, constata-se pode-se quantificar a evolução das suas propriedades.
que o τv decresce na fase de escurecimento e cresce na fase de
aclaramento. O declive mostra que o escurecimento é Todas estas propriedades das lentes fotocromáticas são
significativamente mais rápido que o aclaramento. medidas em laboratório, por meio de uma instrumentação
sofisticada que visa recriar artificialmente as condições
Estabilidade da cor climáticas reais de utilização.
O fotocromatismo de uma lente é obtido pela introdução de
moléculas fotossensíveis que reagem à estimulação dos
ultravioletas. Nas fotocromáticas orgânicas, intervêm várias
moléculas (nas Transitions® VI são utilizadas 5 a 7 moléculas
τν% τν%
100
90
80
70
60
50
40
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30
20
10
0
0 1 5 10 15 0 1 5 10 15 20
0,5 mn 0,5 mn
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Suplemento
Características das fotocromáticas orgânicas a) Tão transparente quanto uma lente branca
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- No estado inactivo, tão transparente quanto uma lente branca Transitions® VI
AR
(Figura 72a): no estado claro, uma lente fotocromática oferece
uma transmissão de cerca de 90%, que se eleva para 95% 99% Lente branca 1.6
quando tem tratamento anti-reflexos. Assim, uma lente AR
fotocromática é perfeitamente clara no estado inactivo, e é mais
transparente com anti-reflexos que uma lente branca sem anti-
0 1 2 3 4
τν
reflexos. Note-se também que o tratamento anti-reflexos, além de 100% 80% 43% 18% 8% 3%
Claro Escuro
aumentar a transparência da lente, favorece o fenómeno
fotocromático por aumentar a intensidade da luz que penetra na
b) Tão escura quanto uma lente solar
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C / 73º F, e atinge portanto o nível de transmissão de um filtro de
grau 3. Assim, as lentes fotocromáticas podem perfeitamente Transitions® VI
rivalizar com as lentes solares. Note-se que a cor cinzenta escurece 15%
um pouco mais que a cor castanha;
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fraco das lentes fotocromáticas, apesar de ter sido
consideravelmente reduzido: em 30 segundos, a transmissão eleva- Transitions® VI 12%
se em média de 12-15% para 25% e em 2 minutos atinge 45%. 15%
Para regressar, a partir da activação máxima, a uma transmissão
de 70%, são necessários respectivamente 7 e 9 minutos para a cor
castanha e a cor cinzenta; o retorno ao estado claro requer cerca
de 20 a 25 minutos;
0 1 2 3 4
τν
100% 80% 43% 18% 8% 3%
Claro Escuro
- Menor sensibilidade à temperatura: o efeito da temperatura
foi, durante muito tempo, um travão ao desenvolvimento das
d) Cinética de aclaramento melhorada
lentes fotocromáticas nos países de clima quente. Actualmente, o
problema foi superado: com 35°C / 95°F, a transmissão da lente
desce para cerca de 30%, atingindo portanto o nível de uma lente
filtrante de grau 2, com uma capacidade de escurecimento da cor 70% 45% 25%
cinzenta um pouco maior que da cor castanha. 7-9 mn 2 mn 30s
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Suplemento
Suplemento
Tecnologia de Fabrico das Lentes Filtrantes
com Transmissão Variável
1. Lentes orgânicas
A fabricação das lentes orgânicas fotocromáticas consiste em
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introduzir corantes fotossensíveis nas lentes, utilizando-se
diversos processos:
- impregnação através da superfície convexa da lente;
- depósito de camada sobre a superfície convexa da lente
(«trans-bonding»);
- adição, antes da polimerização, no monómero líquido;
- inserção de uma película fotocromática («wafer») no
interior da lente.
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tecnologia de referência. Estas duas tecnologias são utilizadas
na fabricação das lentes Transitions®. A adição de compostos
fotocromáticos antes da polimerização do monómero é utilizada
por certos fabricantes (como a Corning com a SunSensors®). A
tecnologia de «wafer» fotocromática é utilizada minoritariamente.
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4. Estética e Moda
Estética e Moda
O uso de lentes oftálmicas é geralmente considerado uma necessidade ou uma obrigação, e muito raramente aceite com prazer. Para tornar
as lentes mais atractivas, concentramos também a nossa atenção na respectiva estética. Por outro lado, a evolução das armações e as
tendências da moda geram naturalmente uma procura de evolução das lentes. Isto verifica-se muito especialmente no domínio das lentes
correctoras solares, pois os portadores tentam aliar correcção óptica e moda: o equipamento óptico torna-se também um acessório de moda.
Assim, actualmente os dados estéticos são parte integrante da concepção das lentes. Damos particular atenção a três características:
curvatura das lentes, colorações e reflexos. Vamos abordá-las sucessivamente.
A Curvaturas
Em relação à curvatura das lentes, existem duas tendências: a
uma procura geral de lentes planas, mais discretas e, por outro
lado, uma procura de lentes muito curvas, mais envolventes.
Estas duas tendências resumem-se numa única exigência:
adaptação da curvatura das lentes à das armações. A procura
de lentes planas relaciona-se essencialmente com a correcção
óptica, e a de lentes curvas deve-se a questões estéticas,
necessidade de protecção e exigências da prática desportiva.
Linha do olhar
MATERIAIS & TRATAMENTOS
Eixo óptico
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Curvatura das lentes e qualidade óptica
Linha do olhar
aberrações ópticas – de deficiência de potência e de
astigmatismo dos feixes oblíquos – que podem alterar
significativamente a visão do portador, quando o olhar é
descentrado. É neste ponto que a asferização das superfícies é ico
muito útil: permite modificar a curvatura da lente sem alteração
ópt
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da qualidade óptica, por compensação na(s) superfície(s) da Ângulo de
Eixo
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Estética e Moda
B Colorações C Reflexos
Por necessidade de conforto ou exigências da moda, pode Os reflexos das lentes são também objecto de uma atenção
aplicar-se um grande número de colorações, uniformes ou particular. O efeito de espelho é uma das técnicas utilizadas para
dégradées. Destinadas a reduzir um pouco a luminosidade, melhorar a estética da lente e/ou para reforçar a eficácia de
realçar o olhar, dar uma nota colorida ou afirmar um estilo, estas filtragem. E pode ser de intensidade variável:
colorações são na maioria de fraca intensidade, e não constituem - se for de intensidade fraca a moderada (cerca de 20% de
de forma nenhuma uma verdadeira protecção contra a luz solar. reflexão), constitui um elemento essencialmente estético, dá à
As respectivas taxas de transmissão de luz correspondem lente um efeito espelhado, respeita a percepção da coloração e
geralmente ao grau 0 (τν de 100 a 80%), ou por vezes ao grau contribui muito pouco para a protecção solar;
1 (τν de 80 a 43%). Em função do material utilizado, constituem - se for de forte intensidade (reflexão superior a 60% ), actua
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Conclusão
Conclusão
MATERIAIS & TRATAMENTOS
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No final desta viagem à essência das lentes oftálmicas, Ninguém duvida que as lentes oftálmicas sofrerão ainda no
permitimo-nos recordar uma vez mais toda a complexidade futuro inúmeros aperfeiçoamentos, sempre com o objectivo de
deste produto aparentemente tão simples. se tornarem mais confortáveis e mais discretas. Estas inovações
A lente oftálmica é actualmente um conjunto sofisticado de resultarão provavelmente do recurso a tecnologias procedentes
Materiais e Tratamentos indissociavelmente ligados e unidos, de outros sectores de actividade, ou a técnicas ainda incipientes,
para proporcionar ao portador o máximo conforto visual. É uma ou mesmo ignoradas actualmente… e certamente implicarão
verdadeira «alquimia de eficácias» praticada ao serviço da visão. uma actualização do presente Caderno!
Investigadores, engenheiros e técnicos – químicos, físicos, Esperamos que este volume da série de Cadernos de Óptica
ópticos, operadores mecânicos, logísticos ou fabricantes – Oftálmica ajude os profissionais de óptica oftálmica a
desenvolvem todo o seu engenho e arte, para melhorar compreender ainda melhor os «Materiais e Tratamentos» das
incessantemente a eficácia dos produtos. As inúmeras inovações lentes oftálmicas que ocupam o seu quotidiano. Assim, saberão
introduzidas ao longo das últimas décadas e as tecnologias cada valorizar melhor as respectivas qualidades e eficácia, e respeitar
vez mais sofisticadas às quais recorrem comprovam-no. Esta a nobreza da sua função. E sobretudo poderão seleccionar
tecnicidade e complexidade das lentes oftálmicas são esclarecidamente as lentes mais adequadas às necessidades de
claramente desconhecidas do grande público e, por vezes, dos pacientes e clientes, ou seja, as lentes que lhes permitirão «Ver
próprios profissionais de óptica oftálmica. Melhor para Viver Melhor» !
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Anexo
Memorando Acerca da Natureza e Estrutura da Matéria
Anexo
MATERIAIS & TRATAMENTOS
Ia IIa IIIa IVa Va VIa VIIa 0
1 2
1 1
H He
3 4 5 6 7 8 9 10
2 2
Li Be B C N O F Ne
11 12 13 14 15 16 17 18
3 3
Na Mg IIIb IVb Vb VIb VIIb VIII Ib IIb Al Si P S Cl Kr
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
4 4
K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54
5 5
Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
55 56 57 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86
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6 6
Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Ti Pb Bi Po At Rn
87 88 89 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71
7 6
Fr Ra Ac Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103
7
Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md No Lr
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Anexo
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MATERIAIS & TRATAMENTOS
Author
Dominique Meslin
Concepção e Academy
Essilor Redacção
Europe
Dominique MESLIN
Varilux® University
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