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Posicionamento

É HORA DE APROFUNDAR O CARÁTER REPUBLICANO DA


ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

Brasília, 08 de abril de 2021 - A Advocacia-Geral da União (AGU) aparece com


recorrência nos noticiários. Não há surpresa nisso. Afinal, trata-se da instituição
responsável pela representação judicial e extrajudicial da União e pela defesa das
políticas públicas e dos gestores e autoridades dos diversos poderes, órgãos e
entidades federais. Além disso, cabe à AGU prestar assessoria e consultoria jurídica ao
Poder Executivo Federal, e a suas autarquias e fundações, ajudando os gestores
públicos no controle da juridicidade dos atos administrativos. Por fim, cabe
especificamente ao Advogado-Geral da União defender a legitimidade das leis e atos
normativos em face das ações de controle concentrado de constitucionalidade.
Apesar de sua relevância para a edificação do Estado Democrático de Direito, dos
princípios e direitos fundamentais e dos valores democráticos, a AGU permanece um
arranjo mal-acabado. Diferente do Ministério Público da União (MPU) e da Defensoria
Pública da União (DPU), o Advogado-Geral não precisa ser escolhido entre os
integrantes das carreiras da Advocacia Pública Federal. Pior que isso, os advogados
públicos federais não têm sua independência técnica assegurada por meio de regras e
de procedimentos que realizem o adequado equilíbrio entre a autonomia de seus
membros e as exigências de unidade de sua atuação institucional.
Devido à fragilidade de seu arcabouço institucional, a AGU tem sido reduzida a mera
correia de transmissão das escolhas do Chefe do Poder Executivo, sem compromisso
com manter uma linha de coerência com teses institucionalmente defendidas.
Todavia, é um equívoco pensar a AGU como um ministério do Poder Executivo,
ignorando que os advogados públicos federais e o próprio Advogado-Geral da União,
no exercício de suas atribuições institucionais, não fazem escolhas gerenciais ou
políticas, mas atuam para que as escolhas feitas por gestores e autoridades políticas
sejam realizadas em observância às balizas da lei e do Direito.
Nesse contexto, instituições de Estado, que executam função essencial à justiça, como
a AGU, o MPU e a DPU, deveriam estar blindadas por regras que impedissem que suas
chefias pudessem ser nomeadas para os tribunais superiores, notadamente o Supremo
Tribunal Federal, sem que fosse observado um período mínimo de
desincompatibilização ("quarentena"). Regras de quarentena, como sabemos, são
essenciais à defesa da integridade das instituições públicas.
Infelizmente, em lugar do incremento dos arranjos institucionais voltados à reforçar o
caráter público das funções essenciais à justiça, caminhamos em direção ao
aprofundamento do risco de captura das instituições de Estado por interesses
particularistas. A Proposta de Reforma Administrativa, por exemplo, irá legitimar, em
lugar de impedir, o ingresso de pessoas de fora dos quadros da AGU em atividades
estratégicas, técnicas e de gestão, por meio da criação dos chamados “cargos de
liderança e assessoramento”, que poderão ser nomeados livremente, sem concurso
público, com base em critérios predominantemente políticos. Trata-se de uma porta
escancarada ao aparelhamento da Advocacia de Estado.
A quarentena do Advogado-Geral da União, do Procurador-Geral da República e do
Defensor Público-Geral Federal seria um passo importante em favor da blindagem das
instituições que eles chefiam da excessiva influência de fatores políticos,
incrementando a realização de sua missão institucional. No caso específico da AGU, ela
teria que ser combinada, ainda, com outras medidas voltadas a impedir a sua captura
política, como a limitação da escolha do Advogado-Geral da União e dos ocupantes de
funções estratégicas, técnicas e de gestão aos integrantes das respectivas carreiras, e o
reforço das garantias institucionais necessárias a assegurar a independência dos
advogados públicos federais.
Há, no Congresso Nacional, propostas adormecidas de alteração da Constituição e
mesmo da Lei Orgânica da AGU, que permitiriam caminhar na direção aqui sugerida, à
exemplo da PEC 82/2007.
Mas é preciso mais. A ANAFE - Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais
defende que a quarentena aplicada ao Advogado-Geral da União, ao Procurador-Geral
da República e ao Defensor Público-Geral Federal é medida urgente e necessária ao
incremento do caráter público e republicano das instituições encarregadas do exercício
das funções essenciais à justiça no âmbito da União, com destaque para a AGU.

Lademir Gomes da Rocha


Presidente da ANAFE

Calberto Coutinho da Costa


Presidente do Colegiado da ANAFE

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