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Petição Sobre Mensagens Da Lava Jato
Petição Sobre Mensagens Da Lava Jato
Com a deflagração das duas fases da Operação Spoofing, fora coletado vasto
material de interesse para as investigações, com destaque para os diversos
dispositivos eletrônicos contendo dados armazenados. Ao todo, foram reunidos
cerca de 7 TB de dados eletrônicos, que se encontravam em dispositivos
diversos, tais como smartphones, notebooks, hard disks (HD), pen drives,
tablets e outros dispositivos de mídia de armazenamento de dados.
2
para cada item apreendido. Os arquivos das mídias passaram por um
processo de garantia de integridade baseado no algorítimo Secure Hash
Algorithm (SHA) de 256 bits, cujos resultados foram registrados em
arquivos denominados “hashes.txt” e anexados em mídia ótica a cada um
dos Laudos. Dessa forma, qualquer alteração do conteúdo em anexo aos
Laudos (remoção, acréscimo, alteração de arquivos ou parte de arquivos),
bem como sua substituição por outro com teor diferente, pode ser
detectada. (destacou-se)
1
“As provas de que os chats são autênticos agora vêm de diversos veículos de comunicação – são
definitivas e esmagadoras”. The Intercept. Disponível em:
<https://theintercept.com/2019/07/15/vazajato-as-provas-de-que-os-chats-sao-autenticos-agora-vem-
de-diversos-veiculos-de-comunicacao-sao-definitivas-e-esmagadoras/>. Acesso em: 13.04.2021.
2
“Perícia aponta série de elementos de autenticidade em áudio de Deltan”. Folha de S. Paulo.
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/pericia-aponta-serie-de-elementos-de-
autenticidade-em-audio-de-deltan.shtml>. Acesso em: 13.04.2021.
3
“Lava Jato: Faustão confirma troca de mensagem com o ex-juiz Sérgio Moro”. Carta Capital.
Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/lava-jato-faustao-confirma-troca-de-
mensagem-com-o-ex-juiz-sergio-moro/>. Acesso em: 13.04.2021.
4
“Procurador confirma veracidade de mensagens com críticas a Moro”. Conjur. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2019-jun-30/procurador-confirma-veracidade-mensagens-criticas-moro>.
Acesso em: 13.04.2021; “Com desculpa a Lula, procuradora confirma veracidade de chat da Lava
Jato”. UOL. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/08/27/com-
desculpa-a-lula-procuradora-confirma-veracidade-de-chats-da-lava-jato.htm>. Acesso em: 13.04.2021.
3
5. Pois bem, com vistas a espancar os rumores disseminados
maliciosamente com o objetivo de colocar em dúvida, sem nenhuma tecnicidade, a
integridade dos arquivos analisados – em que pese os experts oficiais já tenham
consignado textualmente em laudo apresentado à Justiça que “Todos os dispositivos
arrecadados foram submetidos a exames pelo Serviço de Perícias em Informática do
Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal”, sendo que “Os arquivos das
mídias passaram por um processo de garantia de integridade” de modo que “qualquer
alteração do conteúdo em anexo aos Laudos (remoção, acréscimo, alteração de
arquivos ou parte de arquivos), bem como sua substituição por outro com teor
diferente, pode ser detectada” -, o Perito CLÁUDIO WAGNER apresentou o 14º Relatório
de Análise Complementar5, demonstrando, de forma amostral, a preservação dos
arquivos em sua maioria, porquanto se permite identificar através das propriedades
eletrônicas registradas (metadados), a data e horário de criação, última alteração, autor,
tipo de documento, dentre outros detalhes, no material recebido e/ou coletado junto à
Polícia Federal. Ou seja, para além das mensagens e áudios já trazidos aos autos, agora
é possível também conferir documentos que integram os arquivos oficiais —
devidamente conferidos.
5
Doc. 01.
6
Anexo 3.
4
qualquer especificação de conteúdo. Oportuno indagar: o que terá a “lava jato”
apresentado ao DOJ - com o qual já havia negociado o pagamento de “percentuais sobre
multas pecuniárias aplicadas contra brasileiros e empresas brasileiras”? A entrega de
pen drives à agência norte-americana aparece, insista-se, em diversos diálogos já
trazidos a lume. A prática, porém, é ilegal e incompatível com o MLTAT firmado pelo
Brasil com os EUA, como também foi amplamente demonstrado. Seja como for, trata-
se de mais uma prova (1) de que a relação entre a “lava jato” e autoridades norte-
americanas está documentada, ao contrário do que foi afirmado neste Supremo Tribunal
Federal; (2) os mestrados desses documentos levam à extinta “força tarefa da lava jato”,
mostrando a higidez dos arquivos; (3) a “lava jato” descumpriu o MLAT.
5
merece qualquer credibilidade e, ao que parece, foi elaborado de forma vinculada a
julgamentos que estão em curso nesta Suprema Corte.
6
DOC. 01
Cláudio Wagner
SIGILOSO Perito Contador CNPC nº 3.738
Contador CRC nº 1RS 048.422/O
Auditor Independente CNAI nº 0604
A
Teixeira, Zanin Martins Advogados
Dr. Cristiano Zanin Martins e
Dra. Valeska Teixeira Zanin Martins
São Paulo, SP.
Prezados Senhores,
• Acordos de confidencialidade;
• Acordos de leniência;
• Acordos de colaboração premiada;
• Minuta e acordo final entre o MPF – Lava Jato Curitiba e
a Petrobrás, destinando valores à fundação a ser
constituída;
• Diversos anexos de Acordos realizados;
1
Cláudio Wagner
SIGILOSO Perito Contador CNPC nº 3.738
Contador CRC nº 1RS 048.422/O
Auditor Independente CNAI nº 0604
• Acordos complementares;
• Atas de Reuniões realizadas;
• Notas a imprensa;
• Correspondências com órgãos Nacionais e do Exterior;
• Planilhas de controles dos atos processuais;
• Outros.
EXEMPLO 1
Documento:
Relatorio para defesa pela AGU_acao Lula10
Localização do arquivo:
Tipo de documento:
.docx
Referência neste relatório:
Anexo 1
Metadados resumido:
File Name Relatorio para defesa pela AGU_acao Lula10.docx
File Size 94 KiB
File Type DOCX
File Type Extension docx
2
Cláudio Wagner
SIGILOSO Perito Contador CNPC nº 3.738
Contador CRC nº 1RS 048.422/O
Auditor Independente CNAI nº 0604
Mime Type
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Creator Edilza Galiano
Last Modified By deltan
Create Date 2017:02:25 04:38:00Z
Modify Date 2017:02:25 05:25:00Z
EXEMPLO 2
Documento:
nota ODE
Localização do arquivo:
Tipo de documento:
docx
Referência neste relatório:
Anexo 2
Metadados resumido:
File Name nota ODE.docx
File Size 65 KiB
File Type DOCX
File Type Extension docx
Mime Type
application/vnd.openxmlformats-officedocument.wordprocessingml.document
3
Cláudio Wagner
SIGILOSO Perito Contador CNPC nº 3.738
Contador CRC nº 1RS 048.422/O
Auditor Independente CNAI nº 0604
EXEMPLO 3
Documento:
Oficio n° 14661/2017 MPF/PR/RJ)
Assunto:
Entrega pendrive ao Departamento de Justiça Americano – DoJ
Localização do arquivo:
Eq01_Item01\Arquivos/Users/walterneto/Downloads/NEWS/FUDEU/Orlando/cestaro.pdf
Tipo de documento:
Digitalizado (escaneado)
Referência no relatório:
ANEXO 3
Metadados resumido:
File Size 363 KiB
File Type PDF
File Type Extension pdf
Mime Type application/pdf
Pdf Version1.6
Create Date 2017:10:30 09:46:14+05:30
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Creator Tool ScanPDFMaker 1.0
Producer Samsung-M4080FX
Observações:
O documento por ser uma reprodução (ScanPDFMaker), tem data de criação
posterior a data do documento.
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Cláudio Wagner
SIGILOSO Perito Contador CNPC nº 3.738
Contador CRC nº 1RS 048.422/O
Auditor Independente CNAI nº 0604
Atenciosamente,
Cláudio Wagner
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ANEXO 01
AO SENHOR PROCURADOR-REGIONAL DA UNIÃO DA 3ª REGIÃO, DR.
LUIZ CARLOS DE FREITAS
1 O site contém um amplo conjunto de informações, como equipe, sumário do caso, resultados alcançados e
toda a gama de mais de 50 acusações criminais, incluindo cópia das denúncias, das sentenças já proferidas e
códigos de acesso aos processos públicos. A análise das dezenas de denúncias e sentenças demonstra o trabalho
profundo, consistente e sério que vem sendo feito ao longo de mais de 2 anos até a 49ª denúncia, que teve
como um dos denunciados o ex-presidente.
e as provas existentes. Os gráficos, como das vezes anteriores, objetivaram tornar
didática a explicação dos fatos e provas. A linguagem utilizada na entrevista coletiva
derivou e espelhou a linguagem utilizada na acusação criminal formalmente oferecida,
a qual foi, em seguida, recebida pela 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.
8 A avaliação do saudoso Exmo. Ministro Teori Zavascki, feita de passagem, em obiter dictum, segundo a
qual na coletiva se deu “a impressão, sim, de que se estaria investigando essa organização criminosa, mas o
objeto da denúncia não foi nada disso”, havendo uma “espetacularização do episódio” incompatível com o
conteúdo da denúncia, só pode ser compreendida nesse contexto. De fato, ele supôs que o conteúdo da coletiva
não era o mesmo da denúncia, o que é um falso pressuposto, conforme se demonstra cabalmente no texto.
Observe-se, aliás, que o Ministro Dias Toffoli, de modo distinto, afirmou: “Eu não me impressiono com esse
tipo de declaração do Ministério Público. É muito melhor um Estado democrático de direito em que o órgão
acusador vai lá, e publicamente divulga a sua opinião, do que nós termos um regime de exceção, em que
ninguém pode falar. Aqueles que se sentirem prejudicados com algum tipo de excesso vão ter a Justiça para se
socorrer. A mim, não causa espécie” (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,lava-jato-nao-e-golpe-ou-
excecao-afirma-toffoli,10000081072).
absolutamente essencial para a imputação dos crimes, como demonstrarei, e estava
embasada na denúncia oferecida. Além disso, a entrevista coletiva nada mais fez do
que reproduzir a denúncia. Derrubado o pressuposto das críticas, elas não se sustentam.
A análise detida da denúncia revela que a alegação de Luiz Inácio Lula
da Silva, com o devido respeito, é manifestamente improcedente, o que foi reconhecido
no próprio despacho judicial que recebeu a denúncia e deu início à ação criminal, que
será adiante parcialmente transcrito.
Embora Luiz Inácio Lula da Silva esteja sendo investigado por
organização criminosa nos autos do Inquérito nº 3989 que tramita perante o E.
Supremo Tribunal Federal, não há dúvidas quanto à atribuição da Força-Tarefa para o
oferecimento de acusação por corrupção na primeira instância. A chave para entender
a razão da explicação abrangente do esquema criminoso feita na denúncia e,
consequentemente, na entrevista coletiva, é a compreensão de que a descrição e a
comprovação do esquema e do papel do ex-presidente nesse esquema foram
necessárias para a análise da responsabilidade dele pelos crimes de corrupção
imputados. Lembre-se que a apreciação dos crimes de corrupção, aliás, ocorreu em
PIC decorrente de notícia de fato encaminhada pelo próprio procurador-geral da
República à Força-Tarefa.
Para se compreender essa questão, é pertinente apresentar uma visão
panorâmica das condutas criminosas atribuídas ao ex-presidente na denúncia. Foram
imputados a ele os seguintes delitos:
i. Corrupção de R$ 87 milhões em três contratos da OAS com a Petrobras
(capítulo 2 da denúncia anexa – DOC 3);
ii. Lavagem de dinheiro referente ao recebimento de um upgrade, no valor
de R$ 1,1 milhão, de uma unidade habitacional para um tríplex e o recebimento
de reforma e de decoração do mesmo apartamento nos valores, respectivamente,
de R$ 926 mil e R$ 350 mil, tudo pago pela construtora OAS (capítulos 3.2 e 3.3
da denúncia – DOC 3);
iii. Lavagem de dinheiro referente ao serviço de armazenagem de bens
pessoais, paga pela OAS mediante um contrato falso, no valor de R$ 1,3 milhão
(capítulo 3.4 da denúncia – DOC 3).
9 Não é a primeira vez que, na Lava Jato, ocorreu essa interconexão. No caso envolvendo Eduardo Cunha,
enquanto ainda ostentava a condição parlamentar, fatos foram cindidos para que a Justiça de Curitiba apurasse
e processasse a participação de Cláudia Cruz, sua esposa, em crimes praticados em conjunto com ele. Sem
abordar a atuação de Eduardo Cunha nos crimes seria impossível imputar os delitos à cônjuge, pois era ele que
as provas apontavam ter vendido a função pública. Só existiriam crimes de lavagem de dinheiro a ser
imputados a Cruz se ele também, Cunha, tivesse praticado crimes. Esse foi mais um caso em que a abordagem
Veja-se, ainda, que, ao fazer a descrição das circunstâncias do crime,
no tocante à materialidade e autoria delitivas, a acusação cumpriu o disposto no Código
de Processo Penal, que em seu artigo 41 determina: “A denúncia ou queixa conterá a
exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias (...)”.
Resta, assim, demonstrada a necessidade de expor o papel do ex-
presidente no esquema criminoso, na denúncia e consequentemente na coletiva (em
que o subscritor foi porta-voz), o que foi feito no exercício da atividade finalística dos
procuradores, dentro de sua independência funcional. Tudo foi feito dentro da
atribuição do signatário e demais integrantes da Força-Tarefa do caso Lava Jato e,
passados 5 meses da acusação, nenhuma corte afastou tal atribuição.
Não há que se falar, portanto, de abuso de autoridade por atuação fora
das competências ou atribuições previstas em lei. Isso é estapafúrdio. Com isso, cai o
fundamento central dessa ação de indenização, o suposto abuso.
A adequação da acusação e das provas apresentadas pelo Ministério
Público, segundo as exigências desse momento processual, aliás, foi confirmada pelo
recebimento integral da denúncia pelo Poder Judiciário (cf. DOC 13), como referido,
que reconheceu, portanto, haver justa causa para a imputação dos crimes aos acusados.
Destaque-se que, na hipótese de a defesa vislumbrar suposta ilegalidade, poderá,
sempre, questionar tal ato perante as instâncias recursais.
Por conseguinte, não há que se falar que a explicação do papel do ex-
presidente no esquema foi feita para o constranger publicamente. O que se fez, na
verdade, foi simplesmente explicar, de modo detalhado e fiel ao conteúdo da denúncia,
o objeto da acusação. A realização de entrevistas coletivas foi implementada para
garantir transparência e cumprir o dever de informar a sociedade em situações em que
há grande interesse público envolvido, o que foi feito a partir de recomendações oficiais
da Assessoria e da Secretaria de Comunicação do Ministério Público Federal (cf. DOCs
de fatos sujeitos à jurisdição do Supremo foi um meio necessário para que a Justiça de primeira instância
pudesse desempenhar seu papel, cumprindo o propósito da própria Suprema Corte ao desmembrar a análise
dos fatos. O desmembramento da apuração em relação ao crime de organização criminosa, que é um crime-
meio para crimes-fim, gerou o mesmo tipo de situação, particularmente em relação a pessoas com função de
chefia do esquema.
1 e 2).
Por fim, demonstrada a necessidade de descrever o papel do ex-
presidente no esquema e que isso era parte integrante da denúncia, oferecida pelos treze
procuradores, a irresignação de Luiz Inácio Lula da Silva denota na realidade uma
insatisfação com a própria denúncia, e não com a entrevista coletiva10. Se é assim, trata-
se de matéria que recai dentro do âmbito do exercício independente da função
constitucional de membro do Ministério Público. Nesse contexto, só se pode adentrar
o mérito de tal decisão caso tenha havido má-fé ou fraude, nos termos do art. 181 do
Código de Processo Civil (aplicável ao processo penal – art. 3º, do Código de Processo
Penal).
Adentrar, em ação cível, o mérito da opinio delicti, exercida sem má-fé
ou dolo, seria como adentrar, em ação cível, o mérito da decisão judicial emitida por
outro magistrado, para impor-lhe o dever de ressarcir quando o tribunal reverter seu
entendimento ou simplesmente quando o novo juiz da ação indenizatória discordar
daquele. Isso subverteria a funcionalidade de nosso sistema, feriria de morte a
independência judicial e, pelo alto risco imposto, tornaria inexequíveis as funções de
acusar e julgar.
10 O diferencial é que a insatisfação é manifestada, embora contra a denúncia, fora dos autos e numa tentativa
de constranger os procuradores do caso por meio de uma série de iniciativas como representação no Conselho
Nacional do Ministério Público e esta ação judicial.
admissível, no Brasil e nos Estados Unidos (local do suposto precedente que apontaria
em contrário, invocado por Luiz Inácio Lula da Silva).
A denúncia contra o ex-presidente se ampara em provas diretas e
também em provas indiretas ou indiciárias. A descrição e comprovação do esquema
mais abrangente, com as suas peculiaridades, mostrou-se absolutamente necessária
para comprovar a autoria da corrupção, isto é, para a compreensão da responsabilidade
do denunciado pelos crimes de corrupção que foram objeto de imputação. Foi
necessário descrever os fatos, circunstâncias, provas diretas e provas indiretas que
apontam para a centralidade de Luiz Inácio Lula da Silva no esquema criminoso, a fim
de revelar as razões que levam a concluir que é responsável pelos crimes de corrupção
que lhe foram imputados.
Trata-se de um conjunto de indícios e provas convergentes, que
apontam na mesma direção. Assim, por exemplo, a evidência de ter sido o maior
beneficiário do esquema que, de modo similar ao Mensalão, servia para gerenciar o
presidencialismo de coalizão e manter a governabilidade, algo em que o gabinete do
presidente se envolvia diretamente, é um indício. As provas de que enriqueceu por
meio de pagamentos de empreiteiras do esquema são outro indício. Outro indício é o
fato de que a Diretoria de Serviços da Petrobras destinava mais de metade das propinas
para o Partido dos Trabalhadores, sem que um partido pudesse ter ascendência sobre a
Diretoria. Só faz sentido o esquema de pagamentos caso se compreenda que Luiz
Inácio Lula da Silva tinha ascendência sobre o Diretor de Serviços – era o ex-presidente
quem diretamente determinou sua nomeação e tinha poderes para mantê-lo no cargo –
e, ao mesmo tempo, interessavam-lhe os pagamentos a seu partido. Outro indício é o
fato de que o esquema político-partidário prosseguiu a despeito de quem era o Ministro
Chefe da Casa Civil. E assim por diante, uma série de evidências de caráter fático e
lógico, em boa parte indiciárias, apontam para o ex-presidente.
Não raro, há uma incompreensão em relação ao caráter probatório das
provas indiciárias. A título esclarecedor, veja-se o que a Ministra Rosa Weber, na Ação
Penal 470, discorreu sobre a prova por indícios:
Não há justificativa de ordem lógica ou racional a amparar a pretensão de
se impingir, à prova indiciária, a pecha de subprova ou prova menor. “A
eficácia do indício”, ensina Luchinni, citado por Espíndola Filho,“não é menor
do que a da prova direta, tal como não é inferior a certeza racional à
histórica e física”.11
(…)
A lógica autorizada pelo senso comum faz concluir que, em tal espécie de
criminalidade [crimes contra os costumes], a consumação sempre se dá
longe do sistema de vigilância. No estupro, em regra, é quase impossível
uma prova testemunhal. Isso determina que se atenue a rigidez da
valoração, possibilitando-se a condenação do acusado com base na versão
da vítima sobre os fatos confrontada com os indícios e circunstâncias que
venham a confortá-la. Nos delitos de poder não pode ser diferente. Quanto
maior o poder ostentado pelo criminoso, maior a facilidade de esconder o
ilícito, pela elaboração de esquemas velados, destruição de documentos,
aliciamento de testemunhas etc. Também aqui a clareza que inspira o senso
comum autoriza a conclusão (presunções, indícios e lógica na interpretação
dos fatos). (…) A potencialidade do acusado de crime para falsear a verdade
implica o maior valor das presunções contra ele erigidas. Delitos no âmbito
reduzido do poder são, por sua natureza, em vista da posição dos autores,
de difícil comprovação pelas chamadas provas diretas. (…). A essa
consideração, agrego que, em determinadas circunstâncias, pela própria
natureza do crime, a prova indireta é a única disponível e a sua
desconsideração, prima facie, além de contrária ao Direito positivo e à
prática moderna, implicaria deixar sem resposta graves atentados criminais
à ordem jurídica e à sociedade.12
11 Supremo Tribunal Federal, Plenário, AP 470, 2012, fls. 52.706-52.707 (no voto da Exma. Ministra Rosa
Weber).
12 Supremo Tribunal Federal, Plenário, AP 470, 2012, fls. 52.709-52.711 (no voto da Ministra
ROSA WEBER).
a característica marcante é a unidirecionalidade, tudo apontando para um
mesmo ponto específico.13
13 Id., p. 66.
outros órgãos), dando margem à identificação de um verdadeiro esquema de governo
calcado na arrecadação de propinas (a “propinocracia”). Explicou-se que, consoante a
acusação, os subornos tinham três finalidades básicas: criar uma governabilidade
corrompida, promover a perpetuação criminosa no poder e enriquecer ilicitamente. Isso
está descrito de modo explícito na denúncia, já no item "Breve Resumo do Esquema
Criminoso" (fls. 05/07) e depois no tópico “Caixa Geral de propina” (fls. 24/28). O
esquema específico instaurado em face da Petrobras foi detalhado nos tópicos “A
estruturação de um grande esquema criminoso na PETROBRAS” e “O grande cartel
de empreiteiras” (fls. 40/49), sendo que um dos slides apresentados, inclusive, reproduz
integralmente gráfico constante da denúncia (fls. 41). A deturpação do chamado
"presidencialismo de coalização" por mecanismo calcado na indicação de cargos
políticos para angariamento de propinas foi detalhado, por sua vez, no tópico
"Presidencialismo de coalizão deturpado" (fls. 10/14).
Ao tratar do segundo círculo do gráfico (“governabilidade
corrompida”), o porta-voz narrou, na esteira da denúncia, como a distribuição de cargos
para que os partidos pudessem angariar propinas, pelo então presidente, se dava com a
intenção de obter apoio político, explicando como o apoio parlamentar evoluiu com
base nessa sistemática. Esse assunto foi descrito em toda a contextualização inicial da
denúncia, em especial no tópico “Presidencialismo de coalizão deturpado” (fls. 10/14).
Ao abordar o terceiro tema do gráfico, o “poder de decisão”, o porta-
voz reportou como a denúncia descreveu que competia ao presidente a nomeação dos
mais altos cargos da administração federal e como seu poder de decisão era essencial
para o funcionamento do esquema de governabilidade corrompida antes referido.
Nesse sentido, nomeou diretores da Petrobras para anteder aos interesses do PT, PP e
PMDB. Isso é descrito em toda a contextualização inicial da denúncia, em especial nos
tópicos "Breve resumo do esquema criminoso" (fls. 05/07) e “Presidencialismo de
coalizão deturpado” (fls. 10/14). O papel desempenhado pelo ex-presidente na
nomeação dos diretores da Petrobras de Serviços, Abastecimento e Internacional para
atendimento a interesses arrecadatórios de partidos (PT, PP e PMDB) é descrito
minuciosamente na denúncia, nos tópicos "Lula, José Dirceu e a estruturação do
governo" (fls. 29/30), "Nomeação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de
Abastecimento" (fls. 30/33), "Nomeação de Renato Duque para a Diretoria de
Serviços" (fls. 33/34), "Nomeação de Nestor Cerveró para a Diretoria Intercional" (fls.
35/36), "Mensalão e influência do PMDB na PETROBRAS" (fls. 36/38) e "Nomeação
de Jorge Zelada para a Diretoria Internacional da PETROBRAS" (fls. 39/40).
Ao tratar do quarto círculo do gráfico (“perpetuação criminosa no
poder”), o porta-voz reproduziu que a denúncia, crimes e provas nela descritos mostra
que o esquema de corrupção na Petrobras era um esquema partidário de perpetuação
no poder gerenciado, primordialmente, pelo Partido dos Trabalhadores. Expôs-se com
base na denúncia que o papel de destaque de Lula como líder partidário e como
simultaneamente líder de governo é mais um indicativo, junto com os demais, de que
tinha ciência e decisão sobre um esquema que, também segundo a denúncia, envolveu
pessoas dos dois âmbitos que cooperaram entre si para fins ilícitos. Na petição inicial
acusatória, a distribuição de cargos para fins de arrecadação de propina em troca de
apoio político no governo foi descrita em toda a contextualização dos fatos,
destacando-se sobretudo o capítulo “Breve resumo do esquema criminoso” (fls. 05/08)
e os tópicos “Presidencialismo de coalizão deturpado” (fls. 10/14), “Lula no vértice de
diversos esquemas criminosos” (fls. 18/21) e “Uma complexa engrenagem criminosa
a favor de Lula” (fls. 28/29). Ainda, a divisão das propinas por partido nas diretorias
da Petrobras consta do tópico “Caixa Geral de propina” (fls. 21/26).
No quinto tópico do gráfico (“pessoas próximas na Lava Jato”), o porta-
voz explicitou, com esteio na acusação, que várias pessoas próximas a Lula, incluindo
pessoas de fora da estrutura partidária do PT, estão envolvidas na Lava Jato, o que é
mais um indicativo de que Lula era elo de ligação do esquema. O relacionamento
próximo de Lula com diversos dos investigados na Lava Jato, de fato, é mencionado já
no primeiro tópico da denúncia (“Breve Resumo do esquema criminoso” - fls. 05/08),
reafirmado no tópico “A ação criminosa de Lula” (fls. 75/150). Além disso, há menções
específicas e detalhadas quanto a relacionamentos específicos, como é o caso de José
Dirceu e Bumlai em outros trechos, exemplificativamente, no tópico “Nomeação de
Jorge Zelada para a Diretoria Internacional da Petrobras” (fls. 39/40).
Ao tratar do sexto assunto do gráfico (“Mensalão”), o porta-voz narrou,
com embasamento na denúncia, como funcionou o esquema comprovado no Mensalão,
mostrando que Mensalão o esquema na Petrobras são ambos esquemas de corrupção
com os mesmos objetivos, desenvolvidos por um mesmo governo e partido, no qual
apoio político era obtido em troca de “mesadas” (mensalão) e “cargos” (esquema da
Petrobras). A apresentação nada mais fez, de novo, do que sintetizar a denúncia,
particularmente o que foi exposto no tópico "Mensalão e Lava Jato: faces de uma
mesma moeda" e no início do tópico “Lula no vértice de diversos esquemas
criminosos” (fls. 14/18 e 18/21 respectivamente, em especial os itens/parágrafos 30).
Quando da abordagem do sétimo círculo (“pessoas próximas no
Mensalão”), o subscritor tratou de parte da denúncia que explicita que também no
mensalão foram acusadas e condenadas pessoas muito próximas ao ex-presidente. A
proximidade de Luiz Inácio Lula da Silva de todas as pessoas destacadas na
apresentação é expressamente referida no mesmo tópico "Mensalão e Lava Jato: faces
de uma mesma moeda" da denúncia (fls. 16 e 17), em especial no item/parágrafo 28.
No tocante à oitava questão trazida pelo gráfico (“José Dirceu”), o
porta-voz, na esteira da acusação, apontou que a continuidade do esquema de corrupção
após a saída de José Dirceu do governo Lula em 2005, com o esquema na Petrobras
seguindo o Mensalão, indica que a gerência da atividade criminosa estava acima do
“homem forte” do governo Lula, apontando para o próprio ex-presidente, que, em
última análise, tinha o poder de indicação para os cargos da alta administração. Na
denúncia, a relação entre o ex-presidente e José Dirceu, como “homem forte” do novo
governo, é exposta sobretudo no tópico “Relação entre Lula e José Dirceu” (fls. 08 a
10). No tópico “Lula no vértice de diversos esquemas criminosos” (fls. 18/21), destaca-
se que o ex-presidente comandou a arquitetura corrupta verificada em seu governo,
mesmo após a saída de José Dirceu (parágrafo/item 37). Ainda, a relação entre Lula e
José Dirceu quanto à atuação para distribuição de cargos em favor de agremiações
políticas foi detalhada no tópico “Lula, José Dirceu e a estruturação do governo” e
subtópicos, nos quais se abordou inclusive a continuidade da atuação do ex-presidente
após a saída de José Dirceu do governo (fls. 29 a 40).
Ao abordar o nono círculo (“vértice comum”), o porta-voz explicou
que, além de ser ponto comum entre governo e partido, a denúncia apontava Luiz
Inácio Lula da Silva como o único vértice comum dos vários órgãos públicos em que
o esquema de propinas se disseminou. Esse esquema, além de difuso, se mantinha
mesmo com a substituição das pessoas que nele desempenhavam funções menores que
as de Lula, como José Dirceu, Nestor Cerveró e os tesoureiros do PT que se sucederam.
O exposto na apresentação reflete o tópico “LULA no vértice de diversos esquemas
criminosos” (fls. 18/21). Há menções, ainda, a trechos constantes em outros pontos da
denúncia, como, por exemplo, o depoimento de Roberto Jefferson na Ação Penal 470,
constante do parágrafo/item 27 da denúncia, o papel de destaque da Petrobras nos
investimentos federais, constante do parágrafo/item 42, e a continuidade do esquema
apesar da saída de pessoas que nele desempenhavam papéis inferiores ao de Lula, o
que se encontra no parágrafo/item 151 (fls. 84).
O décimo tópico (“enriquecimento ilícito”) foi analisado, pelo porta-
voz, que explicou, com base na acusação, que o fato de que o ex-presidente enriqueceu
ilicitamente, segundo a denúncia, é outra peça do quebra-cabeça que aponta para sua
responsabilidade. Em inúmeros momentos da denúncia se referiu que um dos objetivos
do esquema criminoso era o enriquecimento ilícito. Além disso, o recebimento de
valores espúrios pelo ex-presidente é objeto expresso da denúncia, por exemplo, no
item “Caixa geral de propina” (fls. 21/28), na imputação de corrupção e
particularmente na de lavagem (capítulos 3 e 4).
Em décimo-primeiro lugar (“maior beneficiado”), a entrevista coletiva
abordou a explicação da denúncia de que Lula foi o maior beneficiado com o esquema
criminoso, tornando-se forte politicamente com a governabilidade corrompida, forte
economicamente para financiar suas campanhas e ainda teve acréscimos patrimoniais
ilícitos, como denunciado. Os slides reproduzem fielmente o que a acusação imputou
no tópico “Uma complexa engrenagem criminosa a favor de LULA” (fls. 28/29).
A “expressividade” do esquema – décimo-segundo círculo – também
foi analisada, na esteira da exordial acusatória, como mais um indicativo que se soma
aos demais para apontar o comando do esquema pelo ex-presidente, seu principal
beneficiário. Na denúncia, exemplificativamente, no tópico “Lula no vértice de
diversos esquemas criminosos”, e particularmente no parágrafo/item 37, isso foi
explicitamente colocado (fls. 18/21).
A “reação de Lula” ao Mensalão e à Lava Jato foi o décimo terceiro
tópico tratado na entrevista coletiva. Com base na acusação, apontou-se como o fato
de desqualificar ou mesmo obstruir as investigações, em vez de fazer cessar os
esquemas e buscar a punição dos responsáveis sob sua ascendência, é mais um
indicativo de sua responsabilidade pelos fatos criminosos. Na denúncia, isso foi foco
do tópico "Mensalão e Lava Jato: faces da mesma moeda" (fls. 14 a 18, mais
especificamente no parágrafo/item 28, valendo destacar a nota de rodapé 47). A
entrevista do ano de 2005 na qual Lula afirma ter conhecimento de caixa 2 é
referenciada no parágrafo/item 145, a fls. 81. A tentativa de calar Nestor Cerveró é
expressamente mencionada a fls. 150.
Por último (“Depoimentos”), o porta-voz apresentou, na linha da
acusação formal, a existência de vários depoimentos de colaboradores que igualmente
apontam que o ex-presidente comandou o esquema. As declarações dos colaboradores
se encontram em vários pontos da denúncia, havendo expressa abordagem de todas
aquelas referidas na coletiva: Pedro Correa (notas de rodapé 85 a fls. 29 e 322 a fls. 79,
bem como o item 50 a fls. 28/29); Delcídio do Amaral (nota de rodapé 319 a fls. 78);
Fernando Schahin (fls. 80); Fernando Soares (fls. 40 da denúncia, em especial a nota
de rodapé 140); e Nestor Cerveró (nota de rodapé 325 a fls. 80).
Como antes dito, membros do Ministério Público podem dar entrevista
sobre investigações e denúncias, desde que sejam fiéis em seus relatos ao conteúdo dos
autos e apresentem argumentos calcados nas provas, tudo dentro dos limites da lei. Na
situação específica da entrevista coletiva, contudo, seu conteúdo foi restrito,
circunscrevendo-se aos termos da denúncia apresentada, seus crimes e provas.
Assim, os círculos convergentes são apenas o conteúdo da própria
denúncia, em forma gráfica. Seu conteúdo é técnico-jurídico e não político. O
funcionamento do sistema político é abordado apenas na medida em que ele é o
background dos crimes praticados e é necessário para sua compreensão14. Como a
denúncia é técnica e tem mais de cem páginas, sua tradução para leigos foi feita por
meio de explicações e recursos didáticos. As imagens apresentadas no powerpoint
constituem simplesmente uma ilustração gráfica da acusação oferecida, com o objetivo
de melhor atingir o propósito da coletiva de prestar contas e transmitir conhecimento.
Os círculos convergentes não têm impacto negativo sobre a imagem do
ex-presidente (caráter “pejorativo”) que extravase o teor da própria acusação. E se a
reclamação é com o teor da acusação, diz respeito ao cerne do exercício da atividade
ministerial, submetida ao Judiciário na ação criminal. O que tem conteúdo pejorativo
são os crimes imputados, que são refletidos nos círculos, o que é objeto da denúncia.
Os círculos são, na verdade, uma apertada síntese dos indícios que convergem em torno
de Luiz Inácio Lula da Silva. Nada que está ali deixa de estar na própria denúncia.
14 Do mesmo modo, a compreensão do dolo em um homicídio praticado por um médico contra um paciente,
no meio de uma cirurgia, pode exigir a exposição das práticas médicas que são normalmente adotadas no
contexto daquele tipo de cirurgia. Igualmente, a demonstração da responsabilidade e do dolo do presidente de
uma empresa pela corrupção do subalterno pode demandar a explicação sobre como funcionavam os negócios
da companhia ou aquele ramo de atividade empreendedora. A comprovação de homicídios dolosos por meio
do rompimento de uma barragem, para citar um exemplo recente, pode requerer, de modo similar, uma
incursão sobre as melhores práticas de engenharia e as rotinas da empresa de projeto, manutenção e
fiscalização.
powerpoint15. Até mesmo nos Estados Unidos, trata-se de uma prática rotineira a
apresentação de slides e gráficos em casos criminais, ao contrário do que transpareceu
de modo claramente equivocado a petição inicial.
A Assessoria de Comunicação do Ministério Público Federal no Paraná,
localizada em Curitiba, em relatório oficial anexo (DOC 1), por meio de seus
assessores de comunicação, relata que dentre os instrumentos comuns à prática de
assessoria de imprensa na instituição estão as entrevistas coletivas. Em outro relatório,
o mesmo órgão de Assessoria informa que a realização de entrevistas coletivas quando
do oferecimento de denúncias é uma rotina em todo o Ministério Público Federal, em
casos de repercussão (cf. DOC 15).
Em face do grande número de demandas de inúmeros veículos na Lava
Jato, as coletivas constituem um “instrumento consagrado no campo da assessoria de
comunicação pública para o atendimento dessas demandas de forma horizontal, sem
privilegiar qualquer veículo”, segundo os profissionais de comunicação do órgão (cf.
DOC 1). Ainda segundo o eles, além das coletivas feitas em cada uma das mais de 35
fases da investigação, houve pelo menos 12 coletivas realizadas quando do
oferecimento das principais denúncias da operação (cf. DOCs 1 e 15).
Mais da metade dessas coletivas para explicar denúncias no caso Lava
Jato foram realizadas em hotéis, por orientação do órgão de comunicação, e todos os
trâmites de escolha de local e realização ficaram a encargo da área administrativa da
Procuradoria do Paraná e da Procuradoria-Geral da República, sem participação dos
procuradores da Lava Jato, o que é atestado também em documento oficial (cf. DOC
1). A primeira coletiva em hotel, aliás, contou com a participação do Procurador-Geral
da República e o órgão de Brasília participou ativamente da sua preparação.
Do mesmo modo, a Secretaria de Comunicação, órgão central de
comunicação do Ministério Público Federal em Brasília que estabelece as políticas
oficiais na área, reportou que “no âmbito da Lava Jato em Curitiba, pela peculiaridade
do caso, optou-se pela realização de entrevistas coletivas em dois momentos
15 http://lula.com.br/ao-vivo-advogados-de-lula-dao-coletiva-imprensa-internacional-sobre-acao-do-ex-presidente-na-
onu e http://lula.com.br/ao-vivo-coletiva-de-imprensa-com-advogados-de-lula.
específicos que são de interesse público: no dia das operações deflagradas pela Polícia
Federal e pelo Ministério Púbico Federal, para explicação das medidas adotadas, e na
apresentação das denúncias do Ministério Público Federal à Justiça, para detalhamento
das acusações” (DOC 2).
Segundo o órgão, “esse modelo é essencial” para que possam ser
explicados detalhes relevantes e a imprensa possa esclarecer dúvidas, por se tratar de
matéria técnica, assim como promover transparência às ações da operação e propiciar
controle público. “Por tratar-se de um serviço público, a sociedade tem o direito de
conhecer as providências adotadas” (DOC 2).
A convocação das entrevistas coletivas, inclusiva daquela envolvendo
acusações contra Luiz Inácio Lula da Silva, seguiu um mesmo padrão oficial, em que
o objeto da coletiva não era mencionado, conforme comprova relatório oficial da
Assessoria de Comunicação (DOC 14). Ou seja, a convocação da coletiva, mediante
aviso de pauta, seguiu o padrão não só da Assessoria de Comunicação do Paraná em
diversos outros casos, mas também um modelo aplicado de modo rotineiro em outras
unidades do Brasil. Desse modo, não procede a insinuação de que o Ministério Público
Federal buscou dar uma publicidade maior para essa entrevista coletiva em específico.
O tratamento foi padrão. O que aconteceu é que, diante da relevância da figura pública
acusada, o interesse da imprensa foi maior em repercutir o evento.
De forma idêntica, a apresentação de slides é fruto de uma política de
comunicação oficial. O relatório do órgão de comunicação local da Procuradoria
assevera que “em razão da complexidade dos esquemas criminosos que são
denunciados pela força-tarefa, desde a primeira coletiva sobre a operação foi adotado
o uso de apresentações visuais que auxiliam a transmitir as informações de modo mais
claro, didático e organizado” (DOC 1). No mesmo sentido, a informação técnica da
Secretaria de Comunicação de Brasília esclareceu que “desde o começo, as
apresentações projetadas em telão foram usadas como suporte para as informações
disponíveis na denúncia. Como se trata de um assunto jurídico, de difícil assimilação
por pessoas leigas de maneira geral, o objetivo é mostrar, de forma didática, a origem
e o embasamento para as acusações” (DOC 2).
O uso de slides e gráficos em coletivas, aliás, não só é recomendado
pelos profissionais da ciência da comunicação, como se tornou uma prática em outros
casos relevantes do Ministério Público Federal, conforme explicado em outro relatório
oficial (DOC 15): “Mediante consulta, 17 unidades do MPF nos repassaram os dados
de realização/ou não de coletivas. Entre as unidades que responderam à consulta, 70%
confirmaram a realização de coletivas e apenas 30% não a fizeram (...). Entre 2014 e
2016 foi confirmada, em levantamento superficial, a realização de um total de pelo
menos 83 coletivas em 12 unidades do MPF. (...). Entre as coletivas realizadas em 11
estados e no DF no período, constatou-se a utilização de equipamentos de audiovisual
que vão desde simples projeção da denúncia até o desenvolvimento de infográficos e
emprego de software mais avançados de apresentação, a exemplo do ‘Prezi’. O uso dos
equipamentos foi realizado pelas unidades do MPF-RJ, MPF-AM, MPF-PA e MPF-
SE.” (DOC 15).
O emprego de powerpoint e a repercussão da entrevista foram razões
presumíveis para a defesa alegar que houve uma “espetacularização”, mais uma vez –
a suposta superexposição já havia sido aduzida em representações contra colegas que
foram arquivadas. A acusação de “espetacularização”, assim como a de “perseguição
política” é aliás comum a outros réus da Lava Jato, nas diferentes instâncias. Eduardo
Cunha, por exemplo, em nota oficial, acusou o procurador-geral da República de
promover uma “espetacularização”, o que “coloca em xeque a respeitabilidade de um
processo que deveria ser sério – de combate à corrupção –, denigre as instituições e
seus líderes e evidencia a perseguição política” (cf. DOC 19).
Contudo, como demonstramos, o aviso de coletiva para a imprensa
sempre segue um padrão, o conteúdo da entrevista espelhou a denúncia e a realização
da coletiva com suporte em projeções visuais e gráficas obedeceu a diretrizes e práticas
de comunicação estabelecidas no seio da Instituição. O Ministério Público Federal não
tem o condão de ditar para a imprensa a amplitude da repercussão de seus atos, a qual
é guiada pelo interesse de leitores, ouvintes e telespectadores.
O propósito da coletiva foi, na linha da política oficial de comunicação
do Ministério Público, informar, de modo didático, os fatos imputados e o
embasamento, promover transparência e permitir a fiscalização da sociedade sobre os
trabalhos feitos na Lava Jato. A divulgação das informações e o esclarecimento de
dúvidas da imprensa se tornam ainda mais necessárias dentro de um cenário polarizado,
em que a todo momento são divulgadas na internet e em redes sociais “notícias” ou
versões inverídicas de fatos que são objeto da investigação.
Nos Estados Unidos, ao contrário do que querem fazer crer os
advogados do ex-presidente, o emprego dos slides ou apresentações gráficas em
processos criminais é uma prática lícita, admitida e bastante difundida em julgamentos.
Temos várias observações a fazer sobre a decisão do caso Washington vs. Glasmann,
invocado por Luiz Inácio Lula da Silva – a decisão é apresentada como DOC 16. Em
primeiro lugar, quatro dos julgadores seguiram voto que registrou o seguinte: “quando
criados e empregados apropriadamente, ajudas visuais podem ser tanto efetivas como
úteis durante as alegações finais e eu não desencorajaria seu uso. Eu também não leio
o voto condutor como limitador do uso apropriados dos suportes visuais”. Outro voto
também reputou isso óbvio: “certamente, advogados podem e deveriam usar a
tecnologia para modernizar a advocacia e juízes deveriam permitir e mesmo encorajar
novas técnicas”.
Em segundo lugar, a razão pela qual a corte local de Washington anulou
o julgamento não foi o uso de slides via powerpoint, mas sim um grande conjunto de
desvios de conduta do promotor. O mau comportamento da acusação foi considerado
“flagrante”, “de má fé” e “pervasivo”. Note-se, de passagem, aliás, que tal corte não é
a Suprema Corte estadunidense, como se equivocaram os advogados do ex-presidente
ao afirmarem isso, mas um tribunal estadual do noroeste do país. A decisão funciona
como precedente apenas para um dos 50 Estados norte-americanos, não vinculando
nem cortes federais em seu território nem outros Estados. Ela é considerada uma “lower
court”, inferior em abrangência aos circuitos federais, tribunais cuja jurisdição engloba
vários estados e, por isso, têm efeitos mais abrangentes. De todo modo, aquela decisão
não dá qualquer embasamento para o argumento apresentado na petição inicial desta
ação de indenização.
De fato, Washington vs. Glasmann, os 5 votos que venceram as 4
divergências entenderam que houve uma série de ilegalidades praticadas pelo
promotor: inseriu em slides afirmações como evidência que não foi admitida
previamente pela corte, burlando as regras legais próprias do julgamento
estadunidense; modificou provas que tinham sido admitidas, inserindo asserções
impróprias; usou reiteradamente fotos do réu de registro de prisão, com rosto
ensanguentado, assim como textos e imagens “altamente inflamatórios”; gritou diante
do júri que o réu é “culpado, culpado, culpado”16 e fez com que a palavra “culpado”,
em vermelho, cruzasse a imagem do rosto do réu nos slides logo antes das deliberações
– primeiro uma, depois duas e por fim três vezes a mesma palavra tarjou a imagem do
acusado; inverteu ou modificou indevidamente o ônus da prova, confundindo os
jurados ou orientando-os de modo equivocado e prejudicial ao réu, ao dizer que este
deveria ser absolvido somente se os jurados acreditassem no que o réu disse; em vez
de argumentar sobre provas e extrair delas inferências, apelou para a paixão e
preconceito a fim de influir indevidamente na avaliação, pelos jurados leigos, da
sinceridade do réu e de sua culpa.
Já na situação da entrevista coletiva, ocorreu justamente o inverso: no
início se delimitou que se tratava de uma imputação (e não julgamento) circunscrita a
fatos específicos. Não se invocaram paixões, nem mesmo em relação à avaliação
política do ex-presidente. Pelo contrário, deixou-se claro no início que não se estava a
julgar a pessoa do denunciado. Não se usou qualquer tipo de fotografia do ex-
presidente. Não houve deturpação de provas ou emprego de provas inadmissíveis. Não
se pediu aos ouvintes que considerassem o ex-presidente culpado. Não se afirmou que
o denunciado era culpado, mas sim que se fazia imputação de fatos, o que ocorreu com
clareza no contexto de denúncia, e não de julgamento.
O uso de powerpoints nos julgamentos norte-americanos é tão
espalhado e admitido que colegas e amigos consultados disseram que seria difícil
16 Está assentado, nos Estados Unidos, que o promotor não pode fazer tal afirmação de culpa, no julgamento,
em razão da peculiaridade do common law consistente na universalidade dos julgamentos por júri. No contexto
dos júris, a opinião do promotor pode ter uma forte influência sobre espírito dos jurados, por serem leigos. No
Brasil, em razão da diferença do sistema para a imensa maioria dos crimes, que são julgados por um juiz
técnico, não existe essa regra.
encontrar julgados abordando isso especificamente. Mais fácil é encontrar alguns
julgamentos que abordaram a adequação do conteúdo, e não do uso em si, dos slides.
Exemplificativamente, porém, apontam-se aqui dois julgados de cortes superiores, que
abarcam vários Estados, nos quais se discutiu a adequação do teor dos slides
apresentados ao Júri e se entendeu que o conteúdo não violou o direito a um julgamento
justo: Strong v. Roper, 737 F.3d 506 (2013), decidido pelo 8º Circuito Federal, e US
v. Ruiz, 710 F.3d. 1077 (2013), julgado pelo 9º Circuito Federal.
O precedente invocado pelo ex-presidente, portanto, nada tem a ver
com a proibição do uso de esquemas visuais e gráficos, mas sim com a existência de
um extenso conjunto de abusos em um caso concreto, vinculados ao apelo para o
preconceito e a paixão contra o réu, em substituição à análise racional das provas. O
emprego de powerpoint foi e continua sendo uma constante em tribunais norte-
americanos para explicar crimes e provas de modo visual e didático.
Já que Luiz Inácio Lula da Silva invocou o direito norte-americano, é
interessante observar que, naquele país, jamais seria admitida esta ação de indenização.
Em primeiro lugar, porque a atuação de um promotor é revestida de imunidade absoluta
contra ações cíveis, conforme decidiu a Suprema Corte norte-americana no caso Imbler
v. Pachtman (424 US 409 (1976)) – DOC 18. Dentre as várias razões que embasaram
a decisão unânime, está o fato de que o risco de ações cíveis “minaria a performance
de seus deveres”, pois o promotor seria constrangido “em cada decisão pelas
consequências em termos de sua potencial responsabilidade pessoal em uma ação por
danos”. Isso inclusive abriria as portas para vinganças por parte de réus ressentidos.
Mais ainda, prosseguiu aquele tribunal, a possibilidade de ações faria com que “sua
energia e atenção fossem desviadas de seu dever premente de aplicar a lei criminal”.
Além disso, ainda que não houvesse uma imunidade absoluta para
promotores, a Suprema Corte norte-americana estabeleceu que ações decorrentes de
suposta difamação contra “figuras públicas” só são cabíveis quando satisfeito um ônus
probatório muito exigente. De fato, balanceando a proteção da imagem com o direito
fundamental à liberdade de expressão, entendeu que só são admissíveis ações de
indenização quando se demonstrar malícia real (“actual malice”), isto é, se houver
prova de que o emitente das declarações sabia serem falsas ou então agiu
desconsiderando de modo negligente sua verdade ou falsidade (New York Times Co.
v. Sullivan, 376 U.S. 254 (1964) – DOC 17).
17 Tal caráter foi expressamente salientado pelo E. CNMP quando da aprovação da Recomendação, conforme
constou no voto condutor do Relator Conselheiro Otavio Brito Lopes (Proposição 1.00192/2015-39).
Art. 13. As informações e o momento de divulgá-las devem ser
responsavelmente avaliados, conforme o interesse público, os direitos
fundamentais, a segurança institucional e o sigilo legal, quando existir, assim
como os riscos de eventual comprometimento da investigação, quando se
tratar do ato investigativo. A divulgação para a imprensa deve considerar,
também os critérios de interesse jornalistico, a atualidade e a universalidade.
18 Assim, equivocaram-se os advogados em sua petição quando apontaram que a denúncia teria sido
apresentada à Justiça apenas no dia seguinte. O lapso decorreu do exame do processo errado. O processo
eletrônico correto, disponível para consulta pública no website da Justiça Federal, é o 5046512-
94.2016.4.04.7000 (chave pública de consulta: 162567218816). Nele se observa que a acusação formal foi
protocolada no próprio dia 14 de setembro, às 15h:26m.
19 Além disso, o próprio art. 8º da Resolução nº 23/2007, desse e. CNMP, apontada por Luiz Inácio Lula da
Silva reitera o princípio constitucional de publicidade das investigações, reconhecendo o direito do membro
do Ministério Público de prestar informações inclusive aos meios de comunicação social a respeito de
providências adotadas para a apuração de fato em tese ilícitos.
apresentada como uma decisão ou como um juízo de condenação antecipada dos
envolvidos;
v) o fato de terem sido imputados nessa denúncia crimes de corrupção e
de lavagem de dinheiro praticados por ex-Presidente da República, os quais
ocasionaram danos superiores a R$ 90 milhões, evidencia o interesse público em sua
divulgação, visto que atende a todos os critérios enunciados na Resolução nº 39/2016
do CNMP: atualidade, universalidade e interesse nacional.
Nesse sentido, impera registrar o senso de responsabilidade da Força
Tarefa, que se empenhou em seguir as orientações do CNMP, antes mesmo da
completa aprovação e entrada em vigor da norma acima citada (provável
Recomendação nº 39).
(...)
20 Trata-se, em última análise da proteção dos mesmos valores que são tutelados pela imunidade parlamentar
Convém, contudo, fazer outro raciocínio hipotético. Suponha-se que a
denúncia tivesse sido ofertada e na entrevista coletiva ocorresse simplesmente a sua
leitura na íntegra. A entrevista teria, nesse caso, um potencial idêntico de afetar a
imagem do ex-presidente, porque, no fundo, o impacto é causado pela própria
denúncia. Realmente, ela imputa o cometimento de crimes gravíssimos praticados,
segundo a acusação, em detrimento da sociedade brasileira. Isso, mais uma vez, revela
que, se há impacto à imagem do ex-presidente, ele não decorre da atuação do subscritor
na entrevista coletiva, como porta-voz da Força-Tarefa, e sim dos fatos praticados pelo
autor segundo a denúncia protocolada e em seguida recebida pela Justiça.
Em suma, se houve qualquer impacto à imagem do autor, ele decorreu dos
atos por ele praticados e não do regular exercício das funções pelo porta-voz e demais
integrantes da Força-Tarefa.
Admitir que o réu da ação criminal se valha da ação cível para “sancionar”
e “retaliar” o acusador, que exerce função e serviço públicos, abriria espaço para um
efeito cascata intimidatório nada desejável, que viria a inviabilizar a atividade do
Ministério Público em casos contra pessoas poderosas econômica e politicamente,
como a Lava Jato.
A manifestação do porta-voz na entrevista coletiva, na realidade, teve o
cuidado de buscar preservar, na medida do possível, a imagem do ex-presidente e de
seus correligionários, restringindo verbalmente a abrangência da acusação àquilo que
é, de fato, seu objeto. Nesse sentido, ressalvei expressamente no início daquele ato:
material, que é absoluta quando relacionada ao mandato. Tal imunidade pode e deve ser considerada um vetor
orientativo da interpretação da proteção dada a promotores e juízes.
imputar a ele a responsabilidade por crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro,
em um contexto específico, afirmando qual é a medida de sua responsabilidade com
base em evidências. A mesma ressalva se aplica em relação ao Partido dos
Trabalhadores: não se julga aqui a adequação de sua visão de mundo ou ideologia,
mas se avalia, sim, se a agremiação se envolveu, por meio de seus diversos prepostos,
em crimes específicos.
Agora, o que se deve notar, para além do fato de que eventual dano decorre
do conteúdo da denúncia e não da coletiva, é que inúmeros fatos, provas e denúncias
relacionados a crimes, ao longo de 2015 e 2016, impactaram negativamente a imagem
do ex-presidente – sem que eles tenham relação imediata com a execução da
questionada entrevista coletiva. A revelação de muitos fatos desabonadores decorreu
da própria atividade investigativa da imprensa, nem sempre com vínculo direto e
imediato com a atuação de agentes públicos. Isso foi objeto de uma análise sumária
pela Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República, consubstanciada no
DOC 26, que apontou alguns deles e sua repercussão. Essa análise objetiva revela que,
quanto à possível prática de crimes, não procede a alegação de que o ex-presidente
goza de imaculada reputação.
Observe-se que a Assessoria de Comunicação arrolou pelo menos 9 fatos
que impactaram negativamente a imagem do ex-presidente, no Brasil e no exterior,
sem relação direta com a entrevista coletiva – vários anteriores à coletiva ou sem
relação com a Lava Jato. Esses 9 fatos foram objeto de 205 notícias da imprensa,
arroladas de modo meramente exemplificativo no relatório, que destacou ainda 78
notícias internacionais, tudo sem relação com a entrevista coletiva. São eles:
Notícias, desde 2010 e que se intensificaram em 2014, sobre a propriedade
oculta de Triplex no Guarujá, com reformas bancadas por empreiteira
investigada na Lava Jato (38 notícias)
Investigações do Ministério Público do Estado de São Paulo sobre a compra da
cobertura tríplex (18 notícias)
Propriedade de sítio em Atibaia que foi objeto de reformas pagas por empreiteira
investigada na Lava Jato (39 notícias)
Investigação da Receita Federal apontando irregularidades em empresas
vinculadas ao ex-presidente, ou levantando suspeitas sobre a regularidade da
atuação do Instituto Lula e da empresa LILS Palestras (21 notícias)
Operação Janus (sem relação com Lava Jato), da Polícia e Ministério Público
Federal em Brasília, e acusações relacionadas a vantagens indevidas recebidas
pelo ex-presidente para influenciar agentes públicos estrangeiros e agilizar
financiamentos no BNDES (15 notícias)
Tentativa de nomeação do ex-presidente como ministro após a divulgação de
grampos que apontavam intuito de “blindar” o investigado, o que ganhou
destaque inclusive no noticiário internacional (21 notícias)
Operação Zelotes (não derivada da Lava Jato), da Polícia e Ministério Público
Federal em Brasília, levantou suspeitas de tráfico de influência, lavagem de
dinheiro e organização criminosa em que o ex-presidente teria atuado para
favorecer empresa sueca que produz caças Gripen. Isso foi objeto de denúncia
criminal contra Luiz Inácio Lula da Silva, gerando ampla e continuada
repercussão. (22 notícias)
Outras notícias sobre relação do ex-presidente com empresas e empreiteiras com
impacto negativo sobre imagem (7 notícias)
Criação e aparição de boneco inflável “pixuleco” a partir de agosto de 2015, com
impacto negativo em imagem (24 notícias)
Repercussão internacional das investigações contra o ex-presidente não
relacionadas diretamente à entrevista coletiva (78 notícias)
Diante de todo esse quadro, vê-se que o impacto sobre a imagem do ex-
presidente foi causado por uma série de fatos e investigações (da Justiça Federal de
Curitiba e de Brasília, da Justiça Estadual de São Paulo, do Supremo Tribunal Federal
e da própria imprensa), que revelaram fatos e provas desabonadores. Dentro de dezenas
de atos públicos de uma dessas investigações, está a denúncia apresentada. Deve-se
ressaltar que a ação penal ajuizada contra o ex-presidente tem natureza pública, sendo
a publicidade a regra nesse tipo de situação. Já a realização da entrevista coletiva, por
sua vez, foi apenas um veículo de divulgação do teor da denúncia, a qual é parte dos
atos públicos da investigação de Curitiba, investigação essa que por sua vez é uma
pequena parte do conjunto de apurações que tramitam em Curitiba e em várias outras
instâncias judiciais e de controle social, e que integra o exercício regular das funções
de agentes públicos incumbidos de oferecer acusações penais quando formada a opinio
delicti.
10. Conclusão
Dito tudo isso, ação de indenização apresentada por Luiz Inácio Lula da
Silva ataca diretamente atos praticados pelo subscritor no estrito exercício das
atribuições constitucionais e legais, inserindo-se no mérito da atividade finalística do
Ministério Público. Mais ainda, trata-se de tentativa de interferir na atividade-fim, que
já foi inclusive judicializada. Não se pode admitir que, num Estado de Direito, o
acusador fique sujeito a intimidação ou retaliação dos próprios acusados, sob pena de
se inibir o próprio “rule of law”.
________________________________
Deltan Martinazzo Dallagnol
Procurador da República
ANEXO 02
Força Tarefa Lava Jato deflagra 26ª fase, com a execução de novos mandados de
prisão, busca e apreensão e condução coercitiva
Estão sendo cumpridos, nesta terça feira, 22 de março, mandados de busca e apreensão
e de condução coercitiva para aprofundar a investigação de possíveis crimes de
organização criminosa, corrupção e lavagem de ativos oriundos de desvios da Petrobras,
cometidos por empresários e profissionais ligados ao Grupo Odebrecht.
Conforme provas angariadas até o presente momento, faziam parte deste setor
responsável pela operacionalização do pagamento de propina os seguintes investigados:
Hilberto Mascarenhas Alves Silva Filho, Fernando Migliaccio da Silva, Luiz Eduardo da
Rocha Soares, Angela Ferreira Palmeira, Alyne Nasciment Borazo, Isaias Ubiraci Chaves
Santos, Maria Lúcia Tavares, Marcelo Rodrigues, Olívio Rodrigues Junior.
Nesse sentido, foram identificadas, por exemplo, pedidos de pagamento de propina pelos
seguintes Diretores da Odebrecht: i) Roberto Prisco Paraíso Ramos (Chefe da Odebrecht
Óleo e Gás); ii) Paul Elie Altit (chefe da Odebrecht Realizações Imobiliárias); iii) Fernando
Luiz Ayres da Cunha Santos Reis (Chefe da Odebrecht Ambiental); iv) Benedicto Barbosa
Júnior (chefe da Odebrecht Infraestrutura), v) João Alberto Lovera(executivo da Odebrecht
Realizações Imobiliárias); vi) Antônio Carlos Daiha Blando (Diretor Superintendente da
Além disso, a partir das planilhas obtidas e das anotações contidas em seu celular
apreendido, obtiveram-se evidências de que Marcelo Odebrecht, então Presidente da
Organização Odebrecht, não apenas tinha conhecimento e anuía com os pagamentos
ilícitos, mas também comandava diretamente o pagamento de algumas vantagens
indevidas, como, por exemplo, as vantagens indevidas repassadas aos publicitários
também investigados Monica Moura e João Santana.