13. Micro-hist6ria: duas ou
trés coisas que sei a tespeito"
Ages none 1.Creio quea primeira vez que owvi falar de" micro-histria”
Gioyonns ON foiem 1977 041978, dabocade Giovanni Levi Acho que mepro-
pric dessa alara nunca ouvida sem pedireucdasoesobre oe
Tnifcado teal: devo terme contentado,imagino, coma ref
rancia 8 excalareduzida da observagio que o prefizo “micro”
| suger Lembro-mebem,no entanto,dequeasnossasconversasde
nti falavam de “micro-hist6ra” como uma etiqueta colade
“Aigam tempo depois, Giovanni Levi, Simona Ceruttic eu
comesamos a trabalhar numa colegio, publicada pela editors
‘inaudnitalada preisamente"Mico-hstrias-Safram¢ar~
tir de entto, un int volumes, de autoresitalanos eestrangeitos,
igus dos itlositaianos fram tradurios para vis linguas
« agadegoa Prick Pidenion, com qn et proveitoramente engueh
(aarRes cote pgines Perry Andernnleu-secrcou-asantes quest
\ ‘Soc uma forme definite: nna dvi
‘noe.
fom ele ais una Veegaram até falar de
recentemente, gragas a uma pequena pesqui
Fetrospectiva? descobri que ess palavra que acteitévamos des-
provida de conotagdes,jé hava sido utlzada por outros.
2.Peloqueseioprimeirosarvoraranorio de*microshis
si cava etd io ean ae out
FREES Sais sewer idoen89efkoem 980 yy
Frofeor por muitos anos na Universidade de Bekele, deveter “49%
Fido uma pessoa nada anal Acopiossbibliograia deste poll
rf ber conreende al de Eros romances (que 130i)
fim precoce manifest ecolégico (Not Rich as You Think (No
to rico como pens 1968); uma recapitulagio da historia uni-
‘eral na forma de autobiografia da expécie humana (Man: An
“Autobiography [Homem: uma autobiografi], 1946); uma crO-
‘teas eserita em colaborasdo com outros, da resistencia oposta
pelo proprio Stewart outros profsore entrees rnst Kanto~
Fowicz, ao juramento imposto na epoca de McCarthy pela admi-
‘Hotragio da Universidade de Berkeley (The Year ofthe Oath [0
tno do ramen}, 1950)? Oslivros mas conhecios de Stewart
(Nemes on he Land (Nome sobre a terra, 1945; 1967: American
Place Names |Nomes de lugares americanos), 1970) so dedica
ddos toponomstica dos Estados Unidos Numa conferéncia,
partndo dos topdnimos mencionados numa ode de Horécin le
Pirtenta que, para interpretar um texto iteriio,énecessrioy
“hts de uo, dcifrar a eferncis embienais— lugares, e38>
codices meteorol6gicas— que cle contém, Esa paixio
jal detale microspico tamblm inpirou olive qu me inte
esc aqui Picket’ Charge. A Microhistory ofthe Final Charge at
‘etary ly 31863 (0 ataque de Picket. Una mero historia
Mo ate final em Getiysbar,3 de jlo de 1863] (1959) Nee
0
Stewart analisa mizuciosamente, ao longo de mais de trezentas
péginas a batalba decsiva da guerra civil americana. titulo se
tefete aum episodio que durou uns vinte minutos: a carga deses-
peradaddeumbatahdo sulstaconduzida sem succssopelomajor-
“general George Edward Pickett, relat sedesenlacanum espacp
xiguo, num lapso de quinze horas. Os mapas e diagramas que
“acompanham o texto trazem registros como“ canhoneio(1.10-
2:35 rw)"/A sorte da batalha de Gettysburg seré decidida em
‘alguns segundos entreum arvoredo eum muro de pedrasAtra-
‘és da ilatago do tempo e da concentragio do espago, Stewart
analisa com
‘mento culminante do acontecin
momento central da noseabistria” [the climax ofthe climax, the
“central moment ofourhistory| —e,comotal,parteda historia uni-
‘yersal Sea fracassada carga de George Edward Picket tivesse sido
‘coroada de sucesso afirma Stewart abatalhade Gettysburg pode-
ria ter terminado de outra mancira, es existéncia de duas reps-
blicas vais teria provavelmente impedido aintervengao decisiva
pas duas guerras mundiais, que transformou os Estados Unidos
‘numa poténcia global"? A micro-histria de Stewart desemboca
‘numa reflesio sobre omariz de Cle6patra
2; Poucosanos depos desconhecendotewart,umestudioso
mexicann( Gis ConleryGonllginservapaavraicro-his-
tbr” no subitulo de uma monografa (Pueblo en ilo. Mirokist-
via de San Jot de Gracia (Uns alia em tummlto}, Cidade do
‘Mexico, 1968),Ela investiga no espagode quatro séulosastrans-
formagbes de uma lia mindscul,ignorada’ Mss pequenas
dinates so resataas pola tpicidade:€ esse (am do fto de
“Gre anziery Gonaiernascewe moroud)oekemento quejs=
Aiea caolha de San Jost de Gracia entre il outras alias ané-Jogas. Agu i sindnimo de local, excita como fri-
‘ava Gonailezy Gonzile ctando Paul Leuiliot, numa ética qua-
litativa, endo quantitative’ O sucesso de Pueblo en vilo(reim-
presto, depoistraduzidoparao francts)animou oautorateorizar
a suafundamentagio em doisensaios,“Elarte dela microhistoria”
"Teoria dela mirohistori [A artee teoria da micro-hstéria),
incluidos em duas coletinasintitladas respectivamente Invita-
‘ina la mirohstria (1973) [Convite& micr-hist6ria]e Nueva
invitacion ala microhistria [Novo convite 4 micro-histria]
(1982), Nessas piginas, cujo eco & prceptivel em outta publica-
‘es mexicanas osmesmosanos, Gonzélezy Gonziler di
Amicro-hisria da petit histoire aned6tica e desareditadasrea-
firma a identdade com a histéria que, na Inglaterra na
[duas alternatvas:histéria “métria’, adequada para designar of
mundo “pequeno,fraco,feminino, sentimental da mae’, como o
mundo centrado na fama ou na aldea; ou histéra yin, temo]
taista que evoca tudo o que de"ferinino, conservadorterres-
4 Embora reivindicando a substancialpaternidade da pla-
'micro-hstoria’ Gonzdle y Gonzalerrecordava que ela
aparecanaintrodugo de Braudel para Traitédesocolopeea-
tad desociologa organizado por Georges Guvitch (1958) as
“sin signifi concreta conoid” Na ela para Brau")
deh microhistoiretinha um significado muito preciso, mas nega
‘Gutasitnime dehiuaredntnomenticls dagil
_sicinal” que via cham histria do mundo" do
“PrOfagonibas gue mais parsciam macsros. No ambi
oa
ant
£ breve eespasmédico, Braudel consi
rava que essa hist6ria tradi
cionalera,em todo caso, menos interessantedo que amicrossocio-
logia, de um lado, edo que a economettia, do outro,
‘Como se sabe, Braudel havia declarado a sua hostlidade a
histoire événementeldentiicada com ahistéria politica desde
0s tempos de Mediterraneo (1949). Dez anos depois, Braudel
:manifestavade novo, comaspereza,amesmaintolertncia. Masele
cera inteligente demais, impaciente demais para se contentar com
repetiro qu, por eftito da sua autoridade,acabara se tormando
para muitosuma verdade estabelcid,Deitando subitamente de
Jadoo quelbepareciam agora “discusses antiga’ Braudel exce-
‘veU:"0 ato do cotdiano (para no falar no acontecimento, ese
sociodrama)¢ repetico,regularidade, multiplicidade [mult-
tude}, 0 que no quer dizer, de forma absolut, que seu nivel ndo
teahafertilidade ou valor cientificos. Seria preciso aprofundar
‘essa questo" Para que essa indicat foseseguda passar-e
-iam25 anos”
A postibilidade de um conhecimento cientffico da singulari-
dade continuava exculds, para Braudel: ait divers pod
tualmente, ser resgaiado somente po er considrado repet
—umadjetivo que nas piginas de Gonzdlery Gonzalez se torou
“pico” Mas micro-histracontinuavacondenada.A palavr,
evidentemente cacada em microconomia,microsscilogia pet-
maneceuctcundada de um halo tecnicss, como resulta dase-
suintepassagem de Les leurs ewes [As flores szuis], 0 mais belo
romance (talver) de Raymond Queneau. Os dois interlocutores
so oduuedeAigee seu capeio:
0 quo senor gostaria de saber, exatamentet
—0 que vost acha da histéria universal em geral eda iséria
_geal em particular Sou todo ouvidos,
—Exoumuitecansado — dist ocapelio.—Depois voctdescansa, Dign uma cis: exe Conf de Bas
ea hist universal?
sim, Hstri universe gerl,
-—Emeus cnheinhos?
—Histra geal em particu
—Bocasamento das minha fibast
—Malehistria dos acnatcimentos Micto-histeianomasimo.
0 que? — bers 0 duque de Auge. — Que diabo de lingua &
esa Hoje por acaso a sua Pentecotes?
—Queirame descupar, senor Bo cansag, sabe."
‘Odugue de Auge (assim como, provavelmente, muitos lito-
res de Queneau em 1965) nunca tinha ouvido falar de micro-his-
‘ra. Talvez por isso, ignorando a precisa clasiticacio do capelio,
‘editor que publicou em 1977 a tradugio francesa de Pueblo en
vil de GonzSlez y Gonzalez nto hesitou em substtur, no subti-
tulo eno texto, com efeitos involuntariamente cdmicos 0 termo
“micro-historia” por "hist6ria universal"
5. Miohisory, micohisria, ico gual dees |
tradigbes, totalmente independents svinulo ojtalianomi-
‘cet Noplanoesttamentterminolgic,emqueme movi
ft agor,arespsta no € dios; ao ancs micas
eno em primiro ugar na espléndid rade de Ls flows
Blew (de que citi apenas um echo) qu alo Calvico prepa
rove pablo em 1967. Eansegundolugaa nt pase
de Pimo Levi em que a pslvramirsoria parece pela pri-
tera ves (at onde ai) em alan de mance auténoma.”
Tatas do nko de“Catbono' capa que conc tabla
peiica 395:
Okitor neste ponte deve ter percebidohétempo queistonto um
tratado de qulmics:a minha presungiondochega tanto," ma vie
at fal et méme un peu profane” No 6 ampouco wana autcbio-
_rafia,andosernoslimitesparciisesimbslicosem quetodoescrito
‘¢uma autobiograi, melhor dizendo, tod obra humana: mas de
‘todo modo ¢semprehistéra. ,oupretendia ser, uma micro-histé-
faa histria de um ofcioe das suas derrtss,vtériasemmistia,
‘como todos descjam conta, quando sent préximo de verencerra
seo cco da sua trajtriaeaarte dena deser longa."
"Nada nessaspalavras pacataso melancblicas faz presagiar
qu, doze anos depois, 0 autor trai a prbpria vida, Naacetagto
do limite (daexisténcia, das suas capacidades) que domina esse
trecho entra também aredugio de esala sugerida pela palavra
“micr-histria’ Primo Lev talvera tena encontrado na versio
italiana de Calvino e, quem sabe, cotejado com 0 texto de Que-
neat, O conhecimento da tradugio de Les fleursblewes me parece
indsctivel das os ett laos que uiam Primo Leva Cal-
ino: als tima pigina de “Carbono’ com que se encerra A
tabelaperidca fn eco ikima pina de O bardo nas drvores
‘Um nove encontro entre Calvin ¢ Primo Levi por meio de Que-
neau deu-se alguns anos depois, slictado pela tradusdo italiana
«la Pst coxmogoneportatve[Pequena cosmogonia poral.”
Pouco depois do seuaparecimentoem A abel perddin.ps-
Lavra microstoriaentrou para o éxicg historiogrico italiano per-