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a 4, O AUTOR INSPIRADOR: VIDA E OBRAS” a Stain Battista Mondin nasceu a 26 de Julho de 1926, numa Seas fice ere di Malo (Italia), uma povoagao, pequen® © a i aa uma vi ack a, cujos habitantes so maioritariamente de origem al ean me five ao‘lony igiosa intensa, porque muito bem cultivada pelos mensags 20 dos anos. Foi nesse ambiente que 0 nosso autor nascets VIVE cresceu, estudou e fez desenvolver a sua personalidade ¢ VoCaa. Seu pai, Giuseppe Mondin, teve uma boa formagio cultural e religios: foi seminarista até aos 19 anos, altura em que foi convocado & incorporado nas forcas armadas, participando na guerra da Libia e na Guerra Mundial. Foi exactamente durante esta guerra que conheceu e desposou a senhora Maria Sarcado, uma senhora simples ¢ humilde, mas com uma sabedoria de grande monta, e com a qual teve nove filhos, sendo nosso autor 0 Sexto. ‘Aos 12 anos, concretamente em 1938, ingressou no instituto dos Mis nérios Xaverianos onde prosseguiu os seus estudos, especialmente de gramatiee ¢ linguas, cimentando mais ainda a sua vocagio & vida consagrada que desde pequeno nutria. Num ambiente de grande instablidade politico-militar devido fos horrores da Segunda Guerra Mundial, emitiu os seus primeiros votos em 1944, numa das capelas de Parma, sob dominio dos alemiies em retirada. “Tendo concluido os seus estudos filoséficos e teoldgicos, foi ordenado sacerdote, em 1952, partindo depois para os Estados Unidos d’ América onde prosseguiu, com éxito, 0s estudos superiores, obtendo um Master Degree em filosofia no Boston College e sucessivamente um Master Degree ¢ um Philo- sophiae Doctor em Hist6ria ¢ Filosofia da Religifo na Harvard University. Regressando a Itilia em 1966, comegou a ensinar Histéria da Filosofia na Universita Cattolica dei Sacro Cuore e, dois anos mais tarde, aceita a cdtedra damesma matéria que Ihe vem proposta pela Pontificia Universita Urbaniana, dirigindo, com zelo e competéncia, a Faculdade de Filosofia da mesma Uni- versidade quase ininterruptamente desde 1972 até ao ano lectivo 1997-98 in- Clusive, ano em que Ihe foi concedido, finalmente, o aposentamento, + apresentebiogrfia ruta do que coemos, viva vor, do nosso autor que teve a gentileza de nos career uma entrevista no seu eseitrio do decanado, «19 de Fevereiro de 1998 Teaetentiees sone utbiogrifies conta no dicioniroencilopédio por ele escrito (ef. MONDIN B,Dizionario oe lopedico di ilosofa, telogia€ morale, 2 ed, Massm0, Milano, 1994, p. 559), porém executados COM meg ida Congrenacto OClero eg 6 rito pessoal ao Concilio Vati no oD 1 ptassocinglo dos. Docentes tal ; Sociedade Ingernacional ae Aun; Coa, indie servatore Romano, membro C2) OF '8 jornalis Se a eet + gociedades filosoficas italianas e estrangcins ‘Manifestando qualidades enciclopédicas, Mondin gen com renova, p e encia, todos os dmbitos fundamentais da filosofia ¢ da teolo beset Sf iii ente, Um grande impulso, neste sentido, foi-lhe dado py, aia ode Harvard que conceia laurea que abareava as duns Ares epg, seu mestre Paul Tillich que se movia na linha do confim entre filosofia teologi, sem deixar de fora o seu mestre remoto, S. Tomas d’Aquino, redescoberio . anpade, grasas aos estudes do professor John Rock, de Etiénne Gilson eoy, tros. Destes, de facto, Mondin aprendeu a harmonizar 2% duas formas do sabe; que se am mutuamente, sem conflitos. De modo que, todas as grands, interrogagdes que a inteligéncia humana levanta, cle explora-as e respond: filoséfica e teologicamente. ‘No campo da filosofia, no entanto, Mondin concentra a sua reflexao ng homem que vem «concebido como ser cultural e, portanto, como projecto li- sre, que se realiza mediante 0 cultivo dos valores absolutos»". Culta também, agudamente, o valor da filosofia crista, percorrendo-a da patristica i escolistica, reconstruindo e repotenciando, deste modo, as linhas fundamentais do pensamento de S. Tomas d’Aquino, a sua grandeza e originalidad: filoséfica e teoldgica. E no campo da teologia so dois os pontos centrais di ais «@) 0 primado absoluto do origindrio (Revelagdo, Palavra de Dew, radicio), portanto, da cristologia origindria, eclesiologia originaria, a- ‘opel eign ete; bo dilogo coma modemidae, sobretudo ars cla. e beans hee éum a muito fecundo, profundo, ordenadoe traduzidos em vias linguas) jee ie Escreveu varios livros (muitos deles destacamos as seguints: I prin, ann aan artigos. Entre as abundantes obras, : II principio dell ‘analogia nella teologia protestante cargos: acumulados, Dentre tantos en : consultor da Sage destacamos os seguint Congregagio para a Educ presidente durante ¥ anios at de Filosofia) e da STA. ( “MONDIN B., Dizion smctclopedice.. ch, p. $39, 23 € catolica (1963); eolog della morte di Dio (19703; granditeoogt del secolo XX, 2 vol,, (1972); Le teologie della prassi a I rei dela speranza (1974); II problema del linguaggio tologicn dalle origin ad ogy (1975) 1 teotogi della liberazione (977; Una nuova cultura per una nuova soviet (1982): valore tuomo (1983); vali fondamentli (1985); Lomo: chi é? (1989) Science wmene e teologa (1989); Dio: chi (1990); Lachiesaprimisia de egno (1992). AU 'uomo (1993); Dizionario enciclopedico ai San Tommaso d Aquino ( 1991) Dizionario enciclopedico di fitosofia, teologia e morale (1994); HT sistema {filosofico ai Tommaso d Aquino (1991); Storia della teologia, 4 vol. (1996); Storia della metafisica, 3 vol. (1998). Enfim, como desportista, Mondin efectuou varias proezas aventuras come alpinista e como ciclista, cujas memérias ele proprio narra no seu ¢ ‘rio. um homem com uma forte vitalidade que, ndo obstante o peso da idade ¢ 0S gravissinos acidentes de bicicleta softidos, ainda tem muito a oferecer 20 m intelectual ¢ no $6, Permanece, no entanto, um autor por descobri, apreci® ¢ propdr as novas geracées de filésofos, aos quais ele aconselha a possess? ddumna boa base teorétic (légica, gnoseologia e metafsica), pois sem ela nfo é possivel erguer e mantero eificio flosbfico. Este éo grande estimulo ou desafio que ele langa a todos nés. © Ch id, L Europa in bicicleta, Dino Ealtore, Roma, 1986; v. tb, id, Nasce in Africa la terza chiesa, Massimo, Milano, 1976, p. 39-48. PRIMEIRA PARTE A CULTURA NA VIDA HUMANA 7 Capitulo 1 NOCAO DE CULTURA O discurso sobre a cultura ¢ actual e urzente nesses tempos que SHO 08 NOSSO% em que as continuas conquistas cientificas tendem a atificializar 0 proprio homem © a sociedade que o acolhe, com a firme ambigao de tudo “terrenizar’, até 0 espirito. A situagdo precipitar-se-d inexoravelmente ao caos, e todos os agentes culturais ndo re-avaliarem as propostas vigentes,injectando novos ¢ eficientes antidotos. ___E, se descermos para o fenémeno cultural angolano, esse alerta torna-$° ainda mais preponderante e imponente, como veremos na segunda parte do nosso estudo, O quadro é demasiado e tristemente desolador. Urge, de facto, fazer qualquer coisa, para o bem de todos. Por isso, 0 que pretendemos neste capitulo é salientar a importancia da cultura na vida do homem, mediante uma definigdo descritiva do termo ¢ uma cenumeragiio das caracteristicas principais que a identificam, pois, s6 assim & que estaremos capacitados para elaborar uma via segura ¢ inequivoca para 0 nosso tao almejado projecto. 1, 0 HOMEM COMO SER CULTURAL ‘Acultura é uma propriedade s6 do homem, pelo homem e para o homem, porque é ela que faz dele um ser especificamente humano, racional, estético, atico e eticamente empenhado"; é ela que faz dele um ser cultural, categoria que harmonizae integra os dois extremos (naturalismo e historicismo) que, a0 longo da histéria, se foram repelindo mutuamente, como bem nota Mondin: ‘A filosofia cléssica (Platio, Aristteles, Zenio, Plotino, etc.) considerava o homem ‘Como um ser natural: constituido de uma esséncia imutavel que the foi dada pela vatureza, da qual ele deriva néo s6 as les biol6gicas, tuas também os ditames moras «Age segundo a natueza » era 0 imperativo categorico da flosofia grega, Era claramente uma concepeio estitica do homem, fundada no primado do in- » ¢f MONTANI M., Filasfia della cultura... ct. $1 28 a vontade, da contemplago sobre a praxe, da natureza sobre a ema operou una mudanga radical. Nao vé mais no sto da natureza, mas um produto de si mesmo. E a concepgiio shinee ey, part da ncaa to primado da liberdade sobre a inteligéncia, da pray do hamen Pténca sobre aessénca, da histria sobre a naturera Ng a . di ejate nenhum outro imperativo além daquele de traduzir em 4 sibilidades (a propria poténcia). Ato pri das posigdes anittcas existe, porém, um meto termo, que Eni fo owem nem como ser natural nem simplesmente omy ona com src, home no 6 preduto nem dame ce nem tio pouco da historia, mas, em parte, da natureza e em parte da ane sc rramdlama ente a natureza a histéria € obra da cultura telecto sobre pris pos ide verdade que se vai impondo paulatinamente, sem as ae ane filosofica foi veiculando ao longo dos séculos. Den indo podemos reduzit © homem nem 4 pura natureza, nem a pura histéria ¢ ‘ent 4 pura cultura: Ele é tudo isto numa tensio permanente de projectualidade fazendo dele o « grande milagre », porque ¢ 0 tinico ser, na ordem dos sere, criados, que possui urna natureza interminada, ou seja, uma ‘natureza sem natureza’, uma natureza excéntrica, porque sempre em projecgo, pois assim foi querido pelo seu criador”. “MONDIN ,, Una nuova cultura... cit, p. 19. Um outro notével antropélogo diria a propéito que a shaureaa do homem é a cultura, ou seja, ue o homem, pela sua propria natureza, produz a curs (BERNARDINIB,, Uomo, cultura socita.Introdicione agli stud emo-antropologici Angeli, Miso, 1974,p.24) Hee ee os dos Arabes [diz Pico i, venerdveis padres, que Abbedallasaraceno,perguntado sobre o que Ie parca sumamente admirivel nesta cena do mundo, respondeu que nada se apresentava mis capléndio do que o homem. E este dito concorda com aquele famoso de Ermete: ‘Grande milagre.) €o bomen’ » (PICO G M., De hominis dignitate, Vallecchi Editore, Firenze. 1942, p. 103). "Esa grandeza do homem como ser por fazer, por construir, foi muito celebrada e cultivada na filsofia do Renascimento, tl como testemunha um dos trechos dessa época: «1 ndo te dei, 6 Adio, nem lugar ‘auto determinaso diz respeito ao homem em si mesmo e no modifica radicalmente a sua relagio co” ‘natureza; é uma faculdade de escotha entre as possibilidades limitadas que esto jé dadas por natuez 8 O homem, por conseguinte, ao contririo dos outros animais que sesue™ modelos de comportamento fixos, instintivos e inatos, deve fazer-se. deve cultivar-se, porque grande parte dos modelos de comportamento adquite-05 NO arco de toda a vida, Nao os herda, portanto, biologicamente; cis porque € também historico: « Nem o homem tem uma natureza que deterministicamente program seu desenvolvimento (como a tém a pedra, a flor ou 0 cavalo), nem é, também, carente de natureza, ou seja, dum certo conjunto de propriedades significa- tivamente humanas ¢ ontologicamente fundadas que ele deve desenvolver y”. oO homem ¢, contemporaneamente, subsisténcia e abertura, natureza ¢ historia, esséncia ¢ existéncia, em suma, é também cultura’ [1] grande parte do que nis possuimosefazemos desde criangas ni & fruto da nate ‘as sim da cultura Esta 6 caractritica mas remarcével, aquela que grandementé distingue o homem dos animais e das plantas. Diversamente dos outros seres VIVOS, ‘cujo ser ¢ inteiramente produzido, pré-fabricado pela natureza, ohomem é, em larga ‘medida, artifice de si mesmo. Enquanto que as plantas ¢ os animais se sujeitam 90 ambiente natural que os circunda, o homem & capaz de cultivi-lo e transformé-lo profundamente, adequando-o its proprias necessidades”. Eis a importéncia da cultura na vida do homem; eis porqué nao é qualquer coisa de banal, secundario ou dispensivel. A cultura, tal como bem salienta Mondin, «ndo é um vestido que se possa pér ou tirar a bel-prazer, nao é qualquer coisa de acidental ou secundario, mas é algo proprio do homem: esta faz parte da natureza humana, ¢ um elemento constitutivo da sua esséncia. Sem a cultura, no & possivel nem a pessoa singular nem o grupo social» ®. Tanatureza mesma que impde ao homem uma certa gama de possiblidades, le no resta nada mais Seno a posiblidae deestabeleero modo de sr no qual pretende reaizar-se (cf. COLOMBERO C., Liuomo'e natura nella flosofia del rinascimento, Loeschet Eaitare, Torino, 1994, p. 18). “MONTANIM., Op. cit-p.52:\.tb, ROSSIP, I! concetto di cultura. fondamenti teorici della scienza aniropologica. (acura di). 7 ed, Einaudi, Torino, 1970, p. 247. "Cf NANNIA., Proggetio mondiale, EMI, Bologna. 1986, p. 180. SMONDIN B. ina mova cultura... ep. 20. Todavia uma cosa € cera: aexisténcia emn6s de ceras peregdesinstntves que si prodtosdanaurea como, pore. digest, arespiraso, a pulsagdes de comagdo, a circulagdo do sangue, os mécanismos de defesa, ete...«Aqu [como diz Guardin nfo sou ‘eu qu aj efectivamente, mas um ‘sjito-cois’ que eth em mim e em redor de mim: o meu sistema psctssomiica, o ambiente naturale soiolgico, a situgobistrics, tad o que se realza sem ami Bhs couperagdon (GUARDINIR,, Liberte graza, destino, Morelia, Brescia, 1957, p. 15). Assim, ‘homer é fate ndo s6 das informapSes genética, mas também das informagSes scio-culturas =MONDIN B., Op, cit p20. 30 © homem fora da cultura, como se pode depreender, é inconcebivel, CE.S.Th, Pll, ¢.95, 2.1 7 MONDIN B, Op. itp. 49;v. tb. CASSIRER E,Saggiosull'uomo eo strauralismo nella lngustica moderna, Armando, Roma, 1968, p,32. Ag MONDIN B. Filosofia dela cultura ede valor, Massimo, Milano, 1994, p78 "Id, Una nuova cultura... cit, p. 50, 3 ois: deserts hist " 6 is, genéticas e incompletas historicas, normativas, psicol6gicas, estruturais, 8 rats Tylor com ef ivi é aquele complexo i 7 feito, ...] é aquele conjunto, «a cultura ou civilizagao [..] 6 04 pet Aquela totalidade que imento, as crengas, 4 aF a moral, o diteito, o eating cajmuqcr ont eapectiade ¢ habito adquirido Pelo homem enquanto ™membro duma sociedade»”. Portanto, a cultura passa cc entendida como o modo de viver proprio duma soviedade. Foi a partir desta oe Las 0s demais estudiosos, como Franz Boas, Richard Niebubr, ro topher: © Outros fizeram nascer as suas andlises sobre o fenémeno cultural, melhorando, especificando e ampliando quanto fora dito por Tylor, fazendo trans- Pargcct mio $6 0s elementos materiais, mas também e sobretudo, os espirituais. Todos concordam, Portanto, que a cultura é 0 produto especial ¢ exclusivo do homem, € a vida dum povo, enfim, éa forma duma sociedade, porque « uma Sociedade sem cultura € uma sociedade sem forma, fou seja] um aglomerado ou colecedo de individuos mantidos [forgadamente] juntos pelas necessidades do momento; enquanto que quanto mais robusta é uma cultura, tanto mais cabalmente esta informa a sociedade e transforma o diverso material humano de que ¢ composta»™. De facto, uma nagio, um povo constitui-se em comu- nidade social gragas 4 sua unidade cultural, porque ¢ esta que Ihe da uma configuracao precisa, nobreza tinica e singularidade inconfundivel. «Uma nagdio [diz Mondin] nao ¢ somente uma soma de homens, mas é uma realidade que transcende esta soma; ¢ uma complexidade de realizagdes e de valores e esta complexidade chama-se exactamente cultura, a qual, portanto, é 0 que de mais profundo existe na alma dum povo, e é também a linfa vital que a sustenta e alimenta»”*. Por isso, para nés, a cultura «é a forma espiritual da sociedade»”, a ‘segunda natureza’ que o homem eria para si mesmo, de modo a tomar a vida ¢ 0 ambiente mais humanos, isto é, mais dignos do homem, Portanto, so realizagdes que "Cf ibid. Ibid, p. 51. »Mondinrecolhe e analisa, pelo menos, oitodefinigdes de autores diferentes: E.B. Tylor, F. Boas, W. D, Wallis, B. Malinowski, M. 1. Herskovits, A. L. Kroeber, C. Dawson e R. Niebuhr. Do confronto estas definigdes nasceu a que ele adoptou equal damos a nossa anuéncia, isto €, a cultura entendida como «Forma espritual da sociedade» (cf, MONDIN B., Op. cit- pp. 50-55), ®DAWSON C,,citado por MONDIN B., in Op. cit, p. $3. *MONDIN B,, Op cits p. $4 "Ibid, p54 34 acriatividade do homem, ra resulta que esta tiltima & ty) rio se encontram ja feitas na natureza rea a cultu 10, conquista ou produ [, que «do confronto entre a natureza & i sen i aquilo que o homem, com 0 seu eng mp que & posto & disponiga? Em outros temas, a natureza & 0 dado origi i" explora homem; enquanto que 4 cultura & aquilo que o homem i deste dads origindrio mediante 2», re-criando, por ass izer, a nature, Ceo das roe modos de compreender, ‘a sua iniciativa” : os Tima ver classificados € confroninens cultura por nés a ‘estamos em condigbes de pass, dJoptados como um todo a descrigdo das caracteristicas: principals qui PRINCIPAIS DA CULTURA 3, CARACTERISTICAS Ses peculiares que a distinguem E dado certo que cada cultura tem express das demais, pois ela ‘no é um uniforme que todas devem receber ¢ vestir in. Giseriminadamente. Todavi, isto ‘nao nos impede considerar que, independents mente da fisionomia particular assumida, cada cultura abarque procedimentos ‘a seguir vamos individuar, ‘ou revestimentos comuns as outras culturas que 3.1.4 CULTURA E UM FENOMENO HUMANO E SOCIAL vcr io é obra nem de Dats nm amaucza¢ muy NSN AS ela é claramente obra do homer: @ fiuito do seu génio, da sua fantasia ¢ criatividade, da sua inteligéncia & vontade. A cultura, portanto, é tudo aquilo que o homem cri, gragas as Taouldades privilegiadas que possui. E quanto vias e precis4mos nos desenvolvimentos precedentes. De facto, como salienta Mondin, ‘centre a cultura ¢ o homem o nexo € to profundo que néo s6 a cultura se define como obra do homem, mas também vale o contrario: 0 homem define-se através da cultura; o homem é, por definigao, animal cultural, porque € © ‘tinico animal "Bid. pp. 55-56. Este conceit antropologica, enquanto consi bjectiva,enquantoprivilega a forma de organizagio socal ¢ os costumes que lal ie ¢ tv, enquano is formas do viver humano, reeebi pelos individuos como que impostas, é que 0 indivi ‘como homem (ef. MONTANI M., Op. cit, p. 31) —— das e transmits Pe° siedade nio se realizar® 35 Capaz de culturay”, dai criados que og autores do + dai a sua centralidade e dignidade na ordem dos Sere" i scair na conta de que a cultura nio é wm B00 VO: inato ou automitico; ela requer uma aprendizagem, uma Um enfon por Conseeuinte,exige, quer do individuo singular, quer da Soe '¥0 drduo, sacrificios e um empenho constante. Por isso, diz-se @ cultura é laboriosa, poi ai , Pois, ir ta a cultura s €5f0060. Os den Po Como fsa Niebuhr, «cninguém Conquista ine cpenden sos a2 nat ém com di ireza S40 recebidos tal como vém i lentemente das intengdese esforgos do homemt; pelo contirio, 0s dons da cul a hen podem ser conquistados sem algum esforgo da parte de quem Ao afirmarmos que o homem ¢ 0 criador da cultura, no pretenlemos dizer ue a cria do nada (actividade exclusiva de Deus, por isso é o Ser Supremo)» Pols, neste caso, o homem nao passa duma “causa instrumental livre’ com 0 mandato divino de dominar ¢ administrar as coisas deste mundo™ para satis fazer as proprias necessidades. Eis porque & que a cultura «é a resposta do homem 0 querer [providencial] divino» *; eis porque & que, além de humanizar, © homem, através da cultura, deva também glorificar o seu criador. : Embora o homem seja o artifice principal da cultura, ele ndo o ¢ ‘enquanto individuo singular, mas sim enquanto membro duma sociedade, gra¢as qual cle se realiza como pessoa e pode concorrer, sem graves riscos, a realizagaio plena do projecto-homem*, Assim, a cultura, além de fendmeno humano, & também um fenémeno social. Por isso, fala-se duma ‘causalidade circular’ nas relagdes existentes entre a cultura e os individuos que a assumem: cada homem, 6, de facto, filho da propria cultura, pois dela recebe a qualidade © 0 modus vivendi, contemporaneamente, porém, «...] S40 0s individuos que produzem ou dio vida uma cultura, perpetuando ou modificando uma forma de cultura existente que (08 tomou o que sio. A cultura mais ou menos alterada que estes produzem, por sua ver, influencia grandemente o conteiido das personalidades que dela derivam; » MONDIN B., Una mova cultura... it, p. 91; ¥. tb, CATEMARIO A., Linee di antropologia culturale, vol. 1, Vibo Valenzia, 1972, p. 6 48. Note-se que muitos autores como Fichte, Hegel, Lévi-Strauss ¢ ou tros dio a cultura uma origem extra-humana, ou sea, fazem-na eclodir dum Pensamento incénscio. ‘Cf princpalmenteFICINO M., Sopra lo amore, ES SRL, Milano, 192; PICO G M., De hominis digniat, it *Citado por MONDIN B., in Op. cit, p. 96 Cf Gen. 215." MONDIN B., Op. cit p. 95. © {d,, Antropologia flosofica, UP, Roma, 1989, p. 165 s. 36 © 0 proceso ss ou seja © homem, como Prossegue assim no tempo” me dum grupo, ¢ gerador da sua propria cult Pov est fms nang bre tem que for assumida ¢assimilada pot 0 oT oral, isto € ‘Assim sendo, a cultura € também WM Ti, pois poder cot oumée, porconseguinte, susceptivel a oy rejeitada.. Assim ue, i assum ou desaprovada, apreciada ou conden a como Pi a.cultura no ¢ automaticamente ou Int ¢ os idealistas. D; riamente os racionalistas, iluministas, a als Davos ov nao nantes tra ponderagao em assumire#SETE PPT 1s ao cas, a desordem Moral ¢ podem intoxics-la pitt : sa a rere chega-se com muita fadiga, ps A ade eagilidade. Esta regra vale tn, na espirtual da sociedade que charg, cestarmos atentos para nao f a sociedade que 4 desorientagao. Um 20 vicio escorrega-se com mu Ssoas quanto para ad para as pessoas qual fe mos cultura. E preciso, Por conseguinte, dos vicios uma cultura. 3.2. A CULTURA E UM FENOMENO | pINAMICO-DIALOGICO E HISTORIC Um dos aspectos bem salientes € a dinamicidade ea abertura da cultura, is esa ndo é uma realidade estatica opace 0% fechada em si mesma, com esti sempre em tensdo, em + inerte. Ao invés, ela ela esta a par © passo com o ‘a monada de Leibniz, ¢ i 2 tao de mutagzo, transformasdo ¢ evolugdo; a peregrnar da humanidade, concretamente do grupo social que a encarna, A tara nunca esté em estado permanente de imobilidade: ela «esta penetrade por uma tensdo entre aquilo que era € aquilo que sera; ou seja, esti impregnada de um determinado dinamismo para @ prossecugdo dum nivel de hhumanidade sempre mais perfeiton”. Por isso, se no cresce, declina; se nio progride,retrocede; se nlo se aperfeigoa, cai no vicio. ‘Quer no grupo social quer na cultura cireula sempre um permanente fluxo evolutivo e renovador, procurando adaptar-se € responder ds novas exigéncias que a vida, a historia ¢ 0 ambiente impGem. Assim que, por exemplo, quando um modelo cultural nao corresponde mais aos anseios da sociedade, deve ser “ KLUCKHOHN C. - KROEBER A., Il concetto di 2 i . MN concetto di cultura, ; MONTANIM, Filosofia della cultura. cit, p. rig peer peso? 7 avaliado e melhorado, elimi ; denovee sae rado,elminandoo que no conta mas mediante We ineesdo ds sociedade fares nn is renovadores", | uma obrigagao de todos 0s men 7 sao aas aes rem que acl eases bem xia ino ixiam, Por conseguinte, o dinamismo interno ¢ genuino que move cada cultura a di 4 idade nlio deve ser obstrutd rossecugio daquele ideal perfeito de humani eibisisaaai lo nem intoxicado com modelos que a moda do momento vat indo aqui e aco. Mudanga sim, mas com os pes bem assenes no mundo dos valores perenes que analisaremos mais adiante. . mm Tazbes que esto na base das mudangas culturais sio varias: Mondin 0s desastres naturais, biolégicos ¢ psicologicos; ‘acrescentariamos também os desastres ideolégicos e religiosos. Favorecem também a mudanga ‘0s contactos histéricos com povos de culturas diferentes, em que, NO ppassado, povos ditos primitivos e incivs, na pica dos que os encontravar™ foram despojados e revestidos de roupagens impréprias e estranhas ¢ presente- ‘mente, continuam a ser colonizados e sufocados culturalmente, gragas, nfo 36 aos potentissimos meios de comunicagéo de massa e outros meios aliciantes ¢ ilusérios, mas também gragas ao ‘incdnscio’, para nio dizermos consciente complexo de dependéncia, exibido por esses povos. Em vez do didlogo in- tercultural assistimos a uma invasio, imposigdo, intromissdo anulante ¢ a uma assimilagdo ingénua da parte de quem sofre tal violénci ‘Uma coisa, todavia, 6 certa: cada cultura veicula em si uma sabedoria perene, viva c inaliendvel, que deve ser tutelada e salvaguardada contra todos e quaisquet Jesaltos que ao longo da historia se vo manifestando. Nisto consiste, de facto, a importancia da historicidade da cultura. Produzida,crada pelo homem, ser essencialmentehistrico, a cultura partilha com riety autora propriedade da hstoricidade [..].Hstérico nlo és6 o real contigente, ose pam o real consciente ial, Orga cultura & sempre expresso da. autocons- acide omem, a auzoconsiénia do grupo social... cultura enquanto forma Epritual da sociedade 6, como a alma em relagdo ao corpo, condicionada ¢ ‘condicionante em relagio ao desenvolvimento do grupo social. A acor ee cortcimento, no seu progredir eno Seu regredir. Uma determinada nanos crve se arhstrica quando no responde mais s exigéncias vitais da sociedade. En- tretanto esin desagrega-se quando perde a sua forga unificante, a sua — spiritual, a sua cultura”. cf MONDIN B, Una muons cura ci. 100 “Ct. iid bid, p. 103. 38 De maneira que, cada po’ para nao adulterar nem a ual OS povos distingue como tal, dade’, constituido p' saber dialogar, no miituo ¢ fecundo. 4. CONCLUSAO De tudo qua! importantissimo qu a sociedade que jpo de povo &s mentali dizendo que en! ue sao realidades e fazer crescer 0 ho ‘a sua propria person: © Temos que ter em Historia da Filosofia. Com est sim oessncin duma coisa vista cO™O Freon o dinaismno da sua tendenia para S02 propria constitu como tal Op. cit, p. 198). ‘sno longo dos sélos, de facto, © 1 renascimental eromintico, PX Nesta Optica, a cultura e ‘eo homem nfo passava mais dum drgdo desta. ‘ocentro de tudo, Por [No mundo clissico, medieval, o alberga: tre a natureza € a CU" que se atraem reciproc: ymem na sua humanidade, jaque ele écl ‘ectualidade constante. alidade. Dai a sua proj conta que o conceit te termo wo deve estar atento © jenar 0 scu “bilhete de i alerta para niio perder ¢ Qu de outras culturas ge ta cultura, coma que mm preconceitos> Para um enriquec; iene respeito © S¢ nto dissemos até aqui, ea cultura, 2 seu todo, j ; mostra-me & diriamos. Todavia, # ‘dade hodierna. Ohomem, prio produz, 20 mun temos vindo a Itura nao exis! dialogicas principio bindmio natureza-cultura [No mundo racionalista cidealista, ohomem era‘ repelem mu é cultural considerar’ natural o que de izagao da ‘alidade ¢ suicidio materialidade, em que tudo resulta inegavel o bre 0 indi ido cant tua cultura © dir-te-ei quem és ltura nfo é tudo, COMO quer a ‘com efeito, no é s6 cultur do simbélico. O grande tad émio natureza-cultura ies tuamente, caindo assim na I, provocando, outrossim, propria naturezas®, © que do prorio homem. Pois tentar, podemos concluir nio deve existir contflito, amente™ para manter namado a construit sus' tee ie 39 (© homem, para o desenvolvimento da sua natureza, leva em si desde o seu primeir0 ‘momento vital, um patriménio genético especifico que sera necessariamente ¢ varias vyezes modelado pelo ambiente, A cultura, por isso, impde-se como uma necessidade para a existéncia humana do homem, seja para a sua adaptagio ao ambiente, Sei para munir-se de meios necessirios para uma expresso cratva: a sociosfera € 80 necessdria ao homem quanto a biosfera *. Assim que, a fungo mediadora da cultura ¢ imprescindivel, porquanto concorre sempre para a emancipago e promogdo do homem que sem ela no se distinguiria dos outros animais, Contudo, e dada a transcendéncia do homem, ‘como veremos na terceira parte da nossa dissertaciio, a cultura é também a uma continua autosuperagao, a um continuo abrir-se aquilo que ela nao é, porque ela no se esgota em si mesma: 0 homem ser-natural-cultural também ser-espiritual. Grd massa clita e informe da natureza... Hoje, porém, predomina uma interpretago vam reciproco dare receber: por meio da cultura o homem humaniza a natureza e, aaa ee capo, mediante os seus Teursos, © raundo naturaliza homem (cf. MONDIN B., L'uomo 297 Floment di anropotoga lsefca, 7, Massimo, Milano, 1993, pp. 202-203), ® MONTANI M., Op. ci, p- 199. 4 cultura a part dialogica que implica

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