Texto SIMULADO 1

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Uma pa brasileiro’s Roberto Pompeu de Toledo oda vez que se fala em anti mericanismo, no Brasil, dé vontade de contra-atacar ‘com o apdstrofo. Muita gente nao gostou da presenca de George W. ‘Bush no pafs, mas esse sentimen- to € largamente superado pelo amor que temos pelo apéstrofo. O apéstrofo em questo, para os lei- tores que ainda néo se deram con- ta, € aquele sinalzinbo (') que na lingua inglesa se ple antes do “s” (Cs). Quanto charme num peque- nino sinal gréfico! Bush se sent ria vingado das manifestagdes de protesto se Ihe fosse permitido caminhar por uma rua co- ‘mercial brasileira e verficar quantos nomes de estabele- cimentos sto, em primeiro lugar, em lingua inglesa e, em segundo, ostentam como rabicho 0 's. Somos apaixone- dos pelo 's. O que € uma forma de expressar nosso amor € respeito pelos Estados Unidos. Se o Brasil é antiamericano ou, ao contrétio, america- n6filo —e até 0 mais american6filo dos pafses — € ques- to aberta. Da boca para fora. somos antiamericanos. AS ppesquisas de opiniao vio revelar sempre uma maioria ct tica 20s EUA. Na era Bush, entio, nem se fala, Lé no fun- do, no entanto, é s6 contemplar um ‘s € um coracio bra- iro baterd mais forte. Poucos paises, fora os de lingua inglesa, terdo tantas Iojas, produtos. servigos ou eventos batizados em inglés. Isso vale tanto para o mundo dos 605 — o do servigo bancério chamado prime e 0 do even- to chamado Fashion Week — quanto para o dos pobres. que encontram a seu dispor a lanchonete X Point. Qua do enfeitados pelo ’s. os noes adquirem superior requin- te. Comprar na Bacco’s, em So Paulo, ou bebericar no ‘Leo's Pub, no Rio. nao teria 0 mesmo efeito se 0 nome desses estabelecimentos nio ostentasse aquele pendurice- Iho,delicado como joia, civilizado como o fro. fessor Antonio Pedro Tota, que entende do as- sgactta WO Imperialismo Sedutor: a Americaniza- ing Epoce da 1 Guerra, expica, em argo a publicagao do Wilson Center dedica- LEUA, que a definitiva prova de que ‘tinham nos ganhado, naqueles anos de \oxnazifascismo e 0 Japko, foi a doco. pe- gesto do polegar para cima, o sinal do io corre a Luts da Camara Cascudo, estu- (0s dos gestot dos brasieios, para explicaraorigem do SSE AEET iri cna’. Na base afvea que, por conceasBo do aixao dos EI governo brasileiro, os americanos montaram no Rio Gran- de do Norte para de ld atacar 0 norte da Africa, 0s pilotos -| mecdinicos, uns deniro ¢ outros fora dos avides, € ainda por cima ensurdecidos pelo rufdo dos motores, comunica- vvam-se erguendo o polegar, shunts up, pica dizer uns aos outros quando tudo estava em ordem, gesto encantou os brasileitos que serviam de pes- soal de apoio. Ainda mais que era muito til para a co- municagdo com os estrangeiros. Isso de levantar ou abai- xar 0 polegar tem origem remota ¢ era usado em Roma para indicar se um gladiador devia ser poupado ou mor- to, Mas no Brasil, segundo Camara Cascudo, chegou com os pilotos americanos, e da base aérea se espalhou pelo Nordeste ¢ logo por todo o Brasil. Era tio moderno, tio viril, tio americano! O mesmo autor diz que o “pole- ‘gar para cima” causou a desgraga do “da pontinha da oretha”, Para indicar uma coisa boa, antes, os brasileiros seguravam a ponta da orelha, gesto aprendido dos portu- ‘gueses. Perto do polegar para cima, soava tio antigo, tio da vov6, tio efeminado! ‘As pequenas coisas dizem muito mais do que os atis- sonantes falatrios. A vit6ria do gesto de “positivo” sobre © da pontinha da orelha significou. naquele momento de- cisivo da I Guerra, 0 abandono do que restasse da heran- ‘a lusitana, to singela, tdo curta de horizontes, tio casei- ra, em favor da perseguigio do modelo americano, tio lente, tio desprendido, tao sintonizado no futuro. Da mes- mma forma, o apego a essa outra coisa miida que é 0 apés- trofo representa nossa rendigio aos poderes de seduco americanos, Bares modestos, Brasil afora, anunciam que servem “drink’s”, No venha o leitor observar que estd er- rado, que esse ‘s nada tem a ver com 0 caso possessivo da lingua inglesa. O inglés de nossas ruas néo € o de Shakes- peare. £ 0 ingles recriado no Brasil, como em “motoboy”. 's de drink’s esti talvez para indicar plural, mas com certeza para conferir beleza e vigor americanos 20 ato, de ‘outra forma banal, de avisar os clientes de que ali se ser- vem bebidas. © emprego do 's Brasil afora € muito peculiar, ¢ «quem sair cata das virias formas em que é encontrado terminaré com uma rica colegio. O colunista que vos la tem especial queda por dois exemplares,eatre 0s mui- tos com que, como todos nds, jé deparou. Um € o nome, sem diivida sugestivo — e, mais que sugestivo, inspira- dor — de um motel nos arredores de Florianépolis: “Erectu’s". Outro € 0 de um saldo de beleza de uma ci- dade vizinha a Sio Paulo: “Skova's”. So nomes que. en- quanto explodem de brasileira inventividade, prestam hhomenagem aos EUA. 420 -14.de margo, 2007 voja

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