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IMPACTO da violéncia na saude dos brasileiros © 2005 Ministerio da Saside Todios os direitos reservados. £ permitida a reprodusso parcial ou total desta obra desde que citada a fonte e que nao seja para venda ou qualguer fim comercial Série 8. Textos Bésicos de Saude 1 edigdo - 2005 rage: 2.000 exemplares Elaboragio, edigae e distribuigao MINISTERIO DA SAUDE Secretaria de Vigilincia em Saude Departamento de Anlise de Situacso e Saude ORGANIZAGAO PAN-AMERICANA DA SAUDE / ORGANIZAGAO MUNDIAL DA SAUDE. Endereso Esplanadla dos Ministérios, Bloco 6, Edificio Sede, 1° andar, Sala 134 EP: 70058-500, BasilayDF Email svs@saude gov.br Home page: www saude-gou.brisvs Instituigges promoteras Ministero da Saude (Organizagio Pan-Americana da Sate / Organizagso Mundial da Sate Centro Latino Americano de Estudos de Violéncia e Sale Jorge Careli/ CLAVES /ENSP/ FHOCRUZ Organizacio Edina Ramos de Souza e Maria Ceca de Souza Minayo Reviséo técnico-cientifica Maria Ceciba de Souza Minaya Consultores téenicos Maria do Socorta Alves Lemos, Carlos Felipe Almeida D'Oliveira, Claudia Aratjo de Lima, Fernando Tomis Acosta, Tania Lees, Vilma Pinheiro Gawryszewski, Miguel Malo Colaboragto Deborah Carvalho Malka 1génia Maria Silvera Rodrigues, Valter Chaves Costa, Vilma Pinheiro Gawryszewski Produgéo editorial Capa: Fabiano Camilo Projeto Grafica: Fabiano Camilo e Licia Saldanha Diagramaeso: Licia Saldanha Normalizacao: Gabriela Letao e Vanessa Kelly Revisao: Lian Assungao. Impresso no Brasil / Printed in Brazil cha Clore bras, Minstério da Said, Secretaria de Viginca em Sade. Impacto da voléncia na sade sos brseios/ Minit da Sal, secretaria de Vigitnca em Sasde.~ asia ' Ministre da Saude, 2005, 340 p.— (Série B.TetosBasicos de Sade) Isan a5-234-0977-x 1. Violinci. 2, Problemas sciais, 3. Sade publica, Tio I, Sér. Violéncia contra a mulher uma questao transnacional e transcultural das relagdes de género Introdugao Género, categoria estruturante A forma contemporanea de se ampliar o foco da discussao da violencia contra a mu- Iher consiste em compreender tal temética como uma das formas de violéncia de género, O termo género tem ligagao direta com 0 feminismo e esta vineulado, con- ceitual © politicamente, com o movimento de mulheres contra a secular opresséo patriarcal que as tem impedido de oferecer & sociedade sua contribuicao peculiar. Género diz respeito a relagées de poder e A distincao entre atributos culturais atribu- idos a cada um dos sexos ¢ suas peculiaridades biolégicas. Para Saffioti (2002), € 0 sexo socialmente modelado, ou seja, as caracteristicas tidas como masculinas ¢ femininas sio ensinadas desde o bergo e tomadas como verdadeiras, pela sua repeti- Ao cultural. Essas caracteristicas socialmente atribufdas se fundam na hierarquia ¢ na desigualdade de lugares sexuados (SAFFIOTI; ALMEIDA, 1995). A violencia de género abrange a que é praticada por homens contra mulheres, por mu- Iheres contra homens, entre homens e entre mulheres. Refletir sobre a relacio vio- lancia-género é importante “para indicar nfo apenas o envolvimento de mulheres homens como vitimas ¢ autores/2s, mas também o seu envolvimento como sujeitos que buscam afirmar, mediante a violéncia, suas identidades masculinas ¢ femininas’ (SUA- REZ; BANDEIRA, 1999, p. 16). Mesmo considerando que a mulher possa vir a ser agente de violencia na sua relagio com o homem, culturalmente, na sociedade brasileira e no mundo, em geral, ela é a vitima preferencial (SAFFIOT!, 2002; KRUG et al, 2002) A violéncia contra a mulher constitui uma questa de satide pitlica, além de ser uma viola¢ao explicita dos direitos humanos. Estima-se que esse problema cause mais mortes as mulheres de 15 a 44 anos que 0 cancer, a malaria, os acidentes de transito © as guerras, Suas varias formas de opressio, de dominacao ¢ de crueldade incluem assassinatos, estupros, abusos fisicos, sexuais ¢ emocionais, prostituigio forgada, mi tilagao genital, violéncia racial ¢ outras. Os perpetradores costumam ser parceiros, familiares, conhecidos, estranhos ou agentes do Estado (SCHRAIBER et al., 2002), Na base de tais situagdes aqui descritas, esto arraigados modelos culturais (GIFTIN, 1994; HEISE et al,, 1994; SCHRAIBER et al., 2002), pois a violéncia contra a mulher, vista a partir das relacdes de genero, distingue um tipo de dominacio, de opressao ¢ de orueldade nas relagoes entre homens ¢ mulheres, estruturalmente construido, re- produzido na cotidianidade e subjetivamente assumido pelas mulheres, atravessando classes sociais, ragas, etnias ¢ faixas etérias (MINAYO, 1994). Os abusos € precon- ceitos contra as mulheres se fundam no dualismo hierarquico de origem grega que privilegia a mente. Essa atribuigao ao homem da representagio da razao e da logica € um padrao cultural milenar, Paralelamente, a representagao da mulher acumula preconceitos contra 0 corpo ¢ a matéria, pois, o feminino é descrito como o locus da corporalidade, da emogio, das coisas efémeras, ciclicas ¢ a atribuigao de cuidados na esfera privada, Como caracteristicas do masculino, sao citados: conhecimento, razao, controle, objetividade, estabilidade e atuagao na esfera publica (WILSHIRE, 1997). A visibilidade da violéncia contra a mulher, entendida como uma expressio da vi léncia de género, deve muito de sua forga ao movimento feminista que, junto com a politizagao da questio ambiental, constitui o mais importante movimento social do século XX. A partir da segunda metade desse século, sua estratégia de agao se centrou na desconstrucio das seculares raizes culturais da inferioridade feminina do patriarcalismo, nas dentincias das diversas formas de violencia, nas tentativas de modificar as leis que mantinham a dominagao masculina ¢ na construgao de novas bases de relagio, protagonizada por mudangas de atitudes ¢ de priticas nas relagdes interpessoais. A vitimizacio da mulher no espago conjugal, por exemplo, foi um dos maiores alvos da atuagao do movimento feminista, que nos tiltimos 50 anos vem bus- cando desnaturalizar os abusos, os maus-tratos e as expressdes de opressio. Assim, problemas que, até entao, permaneciam como segredos do ambito privado ~ ‘em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher" - passaram a ter visibilidade social. A expresso géncro, portanto, tornou-se relevante para se compreender a interagao & a cumplicidade com que se constroem as relacdes entre homens e mulheres, ambos marcados por uma cultura machista e patriarcal (GOMES, 2003) Em resumo, as relagdes violentas entre homens ¢ mutheres devem ser vistas como parte das relacdes sociais em geral, focalizando-se as diferengas culturais atribuidas aos géneros masculino e feminino (TAVARES, 2000). Nessa definiclo, ha o reconhe- cimento de que, nas relagdes interpessoais, os homens raramente sto agredidos por membros de sua familia, Jé as mulheres tanto sao vitimas de maus-tratos cometidos por estranhos como por conhecidos e parentes (PITANGUY, 2003) 1. Violéncia contra a mulher: realidade transnacional e transcultural Para definir a violencia contra a mulher, usa-se aqui uma definigao do Programa para ‘Tecnologia Apropriada em Satide (PATI) que resume um conjunto de conceituagées hoje vigentes: ‘qualquer ato de violencia baseada no género que resulta, ou que prova- velmente resultaré em dano fisico, sexual, emacional ou sofrimento para as mulheres, incluindo ameagas, coercdes ou privagao arbitréria da liberdade, seja na vida publica ou privada’ (PROGRAMA PARA TECNOLOGIA APROPRIADA EM SAUDE, 2002, p. 1) (© movimento Marcha Mundial das Mulheres (2004), no documento que servird de base de discussa0 do Forum Social Mundial, mostra, em primeiro lugar, a universa- lidade desse tipo de violéncia no mundo, afirmando que a todo minuto mulheres sao abusadas, humilhadas, agredidas, violadas, espancadas, exploradas, mortas, na mai ria das vezes, por homens que esto bem préximos a clas. A violencia contra mulheres, em maioria, se exprime na esfera privada, embora, mos- cram as feministas, o ambito privado é politico também. Por exemplo, manifestase no seio da familia com a violacao incestuosa, com as mutilagdes genitais, com o infanticidio, com a preferéncia pelo filho homem, com os casamentos forcados, Dentro do casamento, expressa-se na relagao por meio do estupro conjugal, pelas pancadas, pelo controle psico- ogico, pelo proxenetismo, pelo crime de honra ou, As vezes, pelo assassinato da esposa. No dominio pablico, a violencia se manifesta pelo assédio sexual ¢ moral no trabalho, pelas agressdes sexuais, pelo estupro coletivo, pelo trafico sexual, pelo uso da muller na pornogratia, pelo proxenetismo organizado, pela escravidao e pelas esterilizagées forgadas, dentre outras. Todas essas expressdes, lembra o referido documento, fre. giientemente, so toleradas, silenciadas, desculpadas pela dependéncia das mulheres em relagao aos homens ou por explicagdes psicologizantes inaceitaveis, tais como: os homens sao ineapazes de controlar seus instintos, os estupradores sio doentes men- tais, as mulheres gostam de homens agressivos, Mas, a violéncia contra a mulher também provoca a sua morte, seja por razSes conjue gais, sexuais ou culturais, Por exemplo, s30 conhecidos internacionalmente os assas- sinatos de recém-nascidas na China ¢ os crimes de honra em Marrocos ¢ na Jordana. Mas, na sociedade brasileira os homicidios também ocorrem, como se veré a seguir, seja pela exacerbagao da rela¢ao conjugal, seja por outros motivos que as incluem no Ambito da violéncia social mais ampla. Os termos utilizados para caracterizar as varias formas de violéncia contra a mulher, no Brasil, encontram-se devidamente tratados na parte introdutéria deste livro onde se definem os conceitos de violencia fisica, sexual, psicolégica e negligéncias. O que se acrescenta a seguir siio exemplos que ocorrem na realidade do Pais e devem ser vistos, como as formas mais habituais de maus-tratos ¢ abusos que vitimam as mulheres. Violéncia Sexual + Torcar relagdes sexuais quando a mulher esta com alguma doenga, colocando sua satide em risco. * Forgar relagées sexuais, em geral ‘* Estuprar e assediar sexualmente, ‘+ Exibir do desempenho masculino, + Produzir gestos ¢ atitudes obscenos, no trato com as mulheres, * Discriminar a mulher por sua op¢ao sexual. Violéncia Fisica * Agredir deixando marcas como hematomas, cortes, arranhes, manchas e fraturas. ‘+ Quebrar seus objetos, utensilios e méveis. ‘© Rasgar suas roupas. ‘+ Esconder ou rasgar seus pertences e documentos, ‘© ‘Trancar a mulher em casa, Violén Psicolégica: ‘+ Humilhar ¢ ameagar, sobretudo diante de filhos ¢ filhas ‘+ Impedir de trabalhar fora, de ter sua liberdade financeira e de sair + Deixar 0 cuidado ¢ a responsabilidade do cuidado ¢ da educagao dos filhos ¢ das filhas s6 para a mulher, ‘+ Ameagar de espancamento ¢ de morte + Privar de afeto, de assisténcia ¢ de cuidados quando a mulher esta doente ou gravida ‘+ Ignorar ¢ eriticar por meio de ironias ¢ piadas. = Ofender e menosprezar a seu corpo. + Insinuar que tem amante para demonstrar desprezo. * Ofender a moral de sua familia. + Desrespeitar scu trabalho de cuidado com a familia ou fora de casa, ‘© Criticar de forma despectiva e permanentemente sua atuago como mie e mulher + Usar linguagem ofensiva léncia soe ‘+ Oferecer menor salario que ao homem, para o mesmo trabalho. * Discriminar por atributos de género ou por aparéncia, * Assediar sexualmente, ‘+ Exigir atestado de laqueadura ou negativo de gravidez para emprego. + Promover ¢ explorar a prostituigao ¢ 0 turismo sexual de meninas ¢ de adultas. 2. Mortes violentas de mulheres no Brasil A violéncia com desfecho fatal cometida contra as mulheres, em nivel mundial, tem apre- sentado menor impacto quando comparada com a que vitimiza 0 sexo masculino, Em 2000, no mundo inteiro, cinco milhdes de pessoas morreram por causas externas, sendo que a mortalidade masculina foi duas vezes mais alta do que a feminina. Entretanto, em algumas regides, as taxas de mortes femininas por suicidio e queimaduras s4o mais ele- vadas do que as mortes masculinas. Na China, por excmplo, as taxas de suicidio feminino chegam a ser duas vezes maior do que as do masculino (SOUZA et al, 2003). Como se pode ver no grafico 1, no Brasil, comparando as taxas de mortalidade por causas externas por género, as masculinas s4o superiores ¢ crescem numa velocidade muito maior. Em 1981, as taxas masculinas eram de 113,83 por cem mil e, em 2000, 118,94 por cem mil. J4 as que se referem As mulheres, no mesmo periodo, passaram de 22,78 para 21,81 por cem mil mulheres, respectivamente. Grafico 1 Taxas de mortalidade por causas externas segundo género. Brasil, 1991 a 2000 Tabela 1. Taxas de mortalidade femi cc ‘Acidente Transporte Alogamento Demais causas Homicidio Les6es ignoradas Queda Suicidio Total ep gg ee 100 “0 a0 [Fe aace | 115.826 | 109.608 | 11,692 [74006 | 120.724 | 126,376 | 126332 [ra2.866 | r21.212 | 114,936 [E=Fem. [22.7eaa [21,4801 [22,7067 | 23,167 [240366 [26,5035 | 24,6009 [23 seve [22.5628 [21,8143 Fonte: siM/Datasus Apesar de serem muito menos elevadas, as taxas de mortalidade feminina no periodo de 2 2000, na faixa dos 15 a 24 anos, tiveram um crescimento relativo um pouco maior do que as masculinas. Em 1999, cerca de 60% dos dbitos masculinos corridos nessa fai- xa etaria se relacionavam as causas violentas e, em 2000, passaram a representar 70%, havendo um incremento de 15: etaria, as causas violentas passaram de 28,9% para 33,5%, significando wm aumento rele tivo de 16% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFTA B ESTATISTICA, 2002) J4 no conjunto de dbitos femininos nessa mesma faixa Na tabela 1, pode-se verificar que as taxas de mortalidade feminina por causas externas oscilaram ao longo da década, sendo 22,78 em 1991, elevando-se para 26,50 em 1996 e chegando a 21,81 em 2000, Quando se analisam as violéncias por causas, \cia 0 inicio e término da década, observa-se que apesar de os acidentes de transporte continuarem sendo a principal causa violenta de especificas, tomando-se como r¢ Sbitos de mulheres, essa forma de vitimizagio veio perdendo forga para os homicidios que aumentaram no periodo, ina por causas externas especificas. Brasil, 1991 a 2000 Pise [ss [ise [os [ss [ss [an | 8,42 775 845 9,05 959 894 772 7,22 6,60 206 216 227° 231 249 242 2,021.84 279 2,38 253 246 4,46 414 3,57 3,99 3,67 3,19 364421 462 4,43 4,27 4,26 221 2,47 2,63 216 2,28 198 2,69 2,24 203 1,97 1,97 2,06 134 164 1,54 161157 167 1,78 476178 1,48 22,78 21,48 23,17 24,04 26,50 24,70 23,68 22,56 Fonte: SIWDatarar Comparando-se os dados por capitais brasil a mortalidade feminina por causas externas foi bem desigual. Os homicidios aprese: taram as maiores taxas em 1991 em Boa Vista, Rio Branco ¢ Recife, com 12,03, 9,05 & 8,92 por cem mil mulheres, respectivamente. Jé em 2000, Boa Vista continuou a ter © primeiro lugar nas taxas de homicidios cometidos contra mulheres, 10,97; segui- ram-se Porto Velho e Recife, ambas capitais com taxa de 10,12 por cem mil. Em 1991, Floriandpolis era a capital com menor taxa de homicidio feminino (0,76) e, em 2000, esse lugar passow a ser ocupado por Natal com taxa de 0,26 por com mil. ras, constata-se que, durante 0 periodo, Em geral, os homens morrem mais por causas externas do que as mulheres. No entan- to, dependendo da faixa etaria e da causa especifica, podem ser constadas especifi dades entre os géneros, apontando uma maior vitimizagao feminina em determina dos casos, A tabela 2 ilustra essas especificidades, ocorridas no ano de 2000, Os dados dessa tabela apontam que: (a) os homicidios representam a primeira causa externa de mortes masculinas ¢ a segunda causa externa de mortes femininas; (b) os homens morreram por acidentes de transportes quatro vezes mais do que as mulhere: (© os acidentes de transportes foram a principal causa externa de mortes femininas; (@ tanto os homicidios masculinos quanto os femininos aumentaram do inicio para 6 final da década; (¢) 0s suicidios ¢ os acidentes de transporte tiveram mais peso nos 6bitos femininos do gue nos masculinos em todas as faixas etérias, exceto nos grupos de.0a 4 ¢ de 60 ou mais anos; (f) os homicidios tiveram maior importancia para os ho- mens em todas as faixas, exceto na de 0 a 4 anos; (g) 0 afogamento é mais importante ‘para os homens do que para as mulheres nas faixas etérias de 0 a4 ¢ de $a M anos. Tabela 2. Mortalidade proporcional por causas externas especificas segundo faixas etarias e género. Brasil, 2000 iz Ea 30-44a cory Cor ae Poe Me oe ee oe Me oe Afogamento 408 391 25,0 21,3 51 48 48 37 51 4) 49 49 Force: sia/Datavas Comparados por faixa etaria, em 2000, a proporgao de homicidios masculinos no con- junto da mortalidade por acidentes e violéncias era de 5,0% na faixa de 0 a 4 anos de idade e seu maior percentual no grupo de 15 a 29 anos de idade (56,1). Ja os femininos, dentro dos mesmos parametros, corresponderam a 5,5% ¢ 33,7%. Tanto em 1991 quanto em 2000, mais meninas de 0 a4 anos de idade foram assassinadas do que meninos dessa faixa etéria, numa proporgao de 4,9% para 4,5% © 5,5% para 5,0%, respectivamente. E Nas relagdes entre autoria de homicidios ¢ vitimas, também as diferengas de géneros se destacam. Dados de 1995 ¢ 1996 apontam que, nos homicidios masculinos, o percentual dos que demonstravam uma relagio de afinidade entre vitima e acusado como agressor foi de 35,60% © 39,34%, respectivamente, Ja em relacio aos assassinatos de mulheres esse percentual foi bem superior, com 66,04% ¢ 72,28%, respectivamente, durante 0 ‘mesmo periodo (BARSTED, 1998). Durante a década, em algumas capitais, os assassinatos de mulheres tiveram um sen- sivel crescimento. As trés que mais destacaram por esse tipo de crime foram Boa Vis- ta, Cuiaba e Palmas, com elevacao de 178,8%, 128,3% e 65,6%, respectivamente. im algunas capitais brasileiras 0 assassinaco foi a primeira causa violenta de morte Ge mulheres. E 0 caso, em 2000, de Recife, onde os homicdios atingiram a taxa de 10,12 por cem mil mulheres; de Sao Paulo, 7,64 por cem mil; So Luis, 3,45 por com mil e Salvador, 2,09 por cem mil Identificam-se correlagdes positivas entre as taxas de mortalidade feminina por cate sas externas ¢ indicadores socioecondmicos relacionados a alfabetizagao (R= 0,38), renda (R=0,41) ¢ pobreza (R=0,47), com significincia de 0,05, Esses achados mere- cem uma reflexao. Primeiramente, chama atengao 0 fato das correlagées encontradas serem fracas. Além disso, cabe observar que os dados se referem a capitais. Talvez por isso, nesses espacos, onde o indice de alfabetizacao é mais ou menos homogéneo € costuma ser elevado, tenha sido encontrada a mais fraca correlagao dessa varis- vel com a mortalidade feminina. Por outro lado, no caso brasileiro, as capitais que apresentam maior dinamismo econémico seriam também aquelas em que se observa maior desigualdade econdmica, ou seja, concentram pessoas com renda mais elevada a0 mesmo tempo em que sao pdlos atrativos para uma populagao carente que ai busca condigies de sobrevivencia, Essa seria uma hipstese para explicar as correlagdes ob- servadas entre maiores renda ¢ pobreza e taxas de mortalidade feminina por causas externas mais elevadas. Ja no que se refere ao indicador razao de dependéncia! (R= -0,41), observou-se uma correlagio negativa, ou seja, quanto menor a razio de dependéncia maior a taxa de mortalidade, Em outras palavras, as taxas de mortalidade feminina por causas ex- ternas sto maiores quanto menor for o grupo de pessoas inativas (criangas ¢ idosos) Nesses dados sobre as capitais brasileiras, 0 que pode estar ocorrendo é que a vio~ Iéncia fatal sobre as mulheres seria maior onde as unidades familiares fossem, em média, menores, o que é uma caracteristica das grandes metrépoles do Pais. ja a proporgio de pessoas que vivem em familias nas quais a razio entre os inativos (membros coms idade de até 14 anos e de 65 anos os mais) ¢ os ativas (membros com dade entre 15 ¢ 64 anos) € maior que 75%. 4, Extensao e conseqiiéncia da violéncia para a vida e a satide das mulheres Os maus-tratos ¢ abusos cometidos contra as mulheres brasileiras apresentam uma extensio significativa. Pesquisa (FUNDAGAO PERSEU ABRAMO, 2004), realizada com 2.502 mulheres em 187 municipios de 24 estados das cinco macrorregives bra Jeiras, apontou que uma em cada cinco mulheres brasileiras (19%) declarou esponts- neamente qule sofreu violéncia por parte de algum homem. Quando incentivadas para citarem algum tipo de agressio, 43% informaram que foram agredidas por homens Outro dado significativo do estudo ressalta que um tergo das mulheres (33%) admite J ter sido vitima, em algum momento de sua vida. No conjunto das entrevistadas, 11% declararam ter sofrido espancamento com cortes, marcas ou fraturas © 8% foram ameagadas por armas de fogo. A partir dos dados, a pesquisa fez uma projecao da taxa de espancamento (11%) para o universo investigado (61,5 milhdes), indicando que pelo menos 6,8 milhdes de mulheres foram espancadas, © mario ou parceiro foi o agressor frequentemente apontado numa variagao de 53% @ 70% das ocorréncias em qualquer modalidade de violencia pesquisada, excetuan- do-se 0 assédio. Constatou-se, também, que as mulheres raramente fazem dentincias pliblicas ¢, em quase todos os casos de violéncia, mais de 50% nao procuram ajuda. Outra faceta do problema é apontada pelo estudo de Leal & Leal (2002). Trata-se do trafico de mulheres - adultas, adolescente e criancas - para fins de exploragao sexual comercial, Esse estudo demonstrou que hé uma associacao entre os abusos sofridos anteriormente tanto no interior da familia quanto fora dela e a opressio do trafic Num conjunto de 219 de casos notificados ¢ estudados, 98 mulheres tinham idade especificada e 121 eram apenas citadas como mulheres ¢ adolescentes. Das que pos- stliam idade declarada, 53% eram adultas © 47%, adolescentes. No comércio de trafico, os homens aparecem como os principais aliciadores ¢ recrutadores, As autoras cha- mam a atengao para o Into de que, apesar do trafico de mulheres ser um fendmeno em expansio no Pais, pouco se saber sobre o mimero de vitimas envolvidas e a dinamica das redes que o mantém. Especificamente em relagio a exploragdo sexual de criancas e adolescentes, a exii téncia de meninas prostituidas no Pais, com diferentes caracteristicas regionais, tam- ‘bém se desponta como uma das formas mais perversas da violéncia cometida contra a mulher, Tal exploragao se ancora ‘na comercializagao do corpo como coer¢ao ou escravidao ou para atender as necessidades bisicas de sobrevivéncia” (GOMES et al, 1999, p. 171), revelando, dentre outros niveis de dominacio, os de ordem adultocéntri- ca, masculina e econémica. A maior consciéncia de seus direitos ¢ 0 aprimoramento dos registros vém fazendo com que a violéncia cometida contra a mulher adquira maior visibilidade na socieds- de brasileira, Destacam-se, por exemplo, estudos de ocorréncias registradas nas Dell sgacias Especializadas de Natal, Fortaleza, Salvador e Joao Pessoa, no perodo de 1987 2 1997 (AMARAL, 2002): as dentincias que, em 1990, foram 12.951, em 1997, chegaram 8 22.585, observando-se uma importante elevacao no processo de notificagées. Como em todos os estudos brasileiros sobre 0 tema, os resultados do trabalho de Amaral (2002) revelam um quadro tipico de violéncia intrafamiliar com as seguintes caracteristi- cas: a maioria das vitimas com idade entre 15 ¢ 45 anos; possuindo algum vinculo afetivo com o agressor; sem renda prépria; com baixo grau de instrucao (Ensino Fundamental incompleto} ¢ morando em bairros periféricos daquelas capitais, O estudo concluiu que do total de registros de maus-tratos fisicos, cujos agressores so maridos ou companhet- ros, poucos tiveram encaminhamento juridico, indicando que a sociedade ainda nio in- temmalizou esse tipo de violéncia como passivel de penalidade (AMARAL, 2002) Junto A conclusio desse estudo, nio pode ser desconsiderado o fato de que 0 nfo encami- nhamento juridico também revela que, em alguns casos, as mulheres nao desejam pens lizar os seus maridos ou companheiros com medo de que sejam presos. Bm outros casos, com base em Muniz (1996), observam-se que as solicitagdes feitas as DEAMs demandam. soluges distintas das que sio oferecidas pelo uso da légica do mundo juridico formal. A autora citada, em seu estudo realizado em DEAMS do Rio de Janeiro, observa que nes- sas delegacias sio comuns os mecanismos de resolugio de conflites com uma dinamica flexivel, reversivel e extremamente seletiva, Nesse sentido, em momentos, a autoridade policial exerce um papel de mediacao para se encontrar um tipo de resolugaio demandado pela clientela dessas delegacias. Nesse cenario, observa-se que na mator parte dos casos atendidos os litigantes encontram-se enradados em densas vin- culagses, isto , em relagdes miltiplas onde a continuidade dessas mesmas relagées, sejam las estruturalmente conflituasas ou harménicas, se impée como um valor que parece ultra- passar as razies imediatas da densincia* (MUNIZ, 1996, p. 151) Estudos do ISER (2003), tendo como campo empirico Delegacias Distritais e Delega- cias Especiais de Atendimento a Mulher do Rio de Janeira (DEAMs), mostraram que as deniincias cresceram 68,1% no perfodo de 1991 a 1999, Essa pesquisa assinalou um aumento de notificagdes de ameacas, estupros e lesses corporais dolosas, da ordem de 256,6%, 65,0% e 35,0%, respectivamente. f claro que esta ocorrendo expressiva mudanga no comportamento das mulheres vitimas e da sociedade, trazendo a pitblico um problema antes tratado como do ambito privado, Especificamente em relacio A violéncia sexual, a Secretaria de Seguranca do Estado do Rio de Janeiro apresenta um diagnéstico preliminar (RIO DE JANEIRO (Governo), 2004), bbaseado em registros das delegacias brasileiras, Nesse documento, sao registrados limites, atribuidos ao fato de as estatisticas nacionais sobre 0 assunto serem pouco detalhadas a0 fato de os crimes sexuais serem particularmente subnotificados. 0 referido diagnés- tico revela que, entre os anos 1999 ¢ 2000, 54.176 pessoas foram vitimas de estupro e de atentado violento ao pudor. Dentre esses dados, destacam-se 30.003 estupros notificados por mulheres. As taxas de estupro foram de 9,22 por cem mil habitantes ¢ 8,78 por cem mil, nos anos de 1899 ¢ 2000, respectivamente. As de atentado violento a0 pudor, no ‘mesmo periodo, corresponderam a 6,76 por cem mil ¢ 7.13 por cem mil nos mesmos anos estudados. As vitimas de estupros sio mulheres de todas idades, enquanto as de atentado violento ao pudor so, predominantemente, criangas ¢ adolescentes. Em relagio ao Estado do Rio de Janeiro, o diagnéstico em questo apresenta uma série histérica de registros relativos a estupro ¢ atentado ao pudor, permitindo uma anélise mais aprofundada do que no caso nacional, Especificamente no que se refere a registtos de estupro, predominantemente cometido contra mulheres, as notificagdes cresceram. de 1991 (com 886 registros) até 1999 (com 1.571 registros) e tiveram uma leve queda até 2001 (com 1.364 registros). No caso dos atentados violentos ao pudor, 0 total de vitimas em 1991 foi de 473, passando para 1.770 em 2001, O percentual de mulheres vitimas des- se atentado foi crescendo ao longo do periodo, passando de 21,4% em 1991 para 75,3% em 2001 no conjunto das vitimas (RIO DE JANEIRO (Governo), 2004), O ctescimento dos registros de estupros ¢ atentados violentos contra o pudor nao significa necessariamente um aumento de casos ocorridos no Estado do Rio de Janeiro. Como 0 proprio diagnéstico (RIO DE JANEIRO (Governo), 2004) menciona, o aumento das noti- ficacGes desses crimes se explicam, em parte, pela melhoria no registro de informacoes, sobretudo nas Delegacias Especializadas de Atendimento a Mulher (BEAMS). Mesmo levando em conta tal observagao, nao se pode desconsiderar que o aumento de registros também pode ser traduzido pela melhor visibilidade desses crimes no Ambito social. Quando se levam em consideracao os tipos de violéncias por género das vitimas, encon- tram-se diferencas signiticativas. Os dados da Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro para © ano de 1999 revelam que, dos homicidios dolosos, 81,1% eram homens, 84% mulheres ¢ em 10,5% no havia informagio do sexo. Em relagao as queixas por lesbes dolosas, 59,39% ram de mulheres, 35,7%, de homens ¢ em 5,0% dos casos nao havia informacao (INST 'TUTO SUPERIOR DE ESTUDOS RELIGIOSOS, 2003), Esses dados indicam que os homens sao mais atingidos pela violéncia fatal em geral cometida pelos proprios homens ¢ as mu- Iheres so as maiores vitimas de lesdes, abusos ¢ maus-tratos, perpetrados por homens. Estudos de Schraiber et al (2002), tomando como base um serviga de atengao primaria em Sio Paulo, é bastante revelador do que se pode detectar nessas unidades. Os autores assinalaram 34,1% de lesdes e queixas de violéncia fisica e de 36,6% quando essas sao somadas a violencia sexual no ambito familiar por parte das usuarias. Parcela conside- ravel das vitimas (21,3%) eram mulheres gravidas, A maioria dos abusos € cometida por parceiros, expparceiros ¢ outros familiares. Os autores observam que a violéncia de que se queixam as mulheres costuma se aprosentar de forma severa ¢ repetitiva, atingindo sua face, seu pescogo e seus braces, principalmente. O mesmo estude revela que uma em cinco mulheres admitiu ter medo de alguém proximo a ela e uma em trés delas viviam em situagio endémica de violéncia interfamiliar. Segundo a pesquisa, porém, apenas 55% das que sofreram agressées fisicas reconheceram tais abusos como violencia, 0 que zevela, em si, ainda um longo caminho a percorrer na consciéncia de seus direitos. Os dados de internagdes do Datasus que utilizam a classificagao da CID, lesdes € venenamento por género, revelam, ao contrario do quadro de deniincias aos érgaos de seguranca publica, uma diminuigao das lesdes ¢ traumas associados a violéncia, entre 1995 a 2000, Ao contrario, as internagGes masculinas por essas causas chegam a ser mais do que 0 dobro das femininas. As taxas de internagao por acidentes ¢ violéncias exam de 6,48 por mil, para homens 3,01 para mulheres. Em 2000, ambas cairam para 5,80 ¢ 2,42, respectivamente. O decréscimo foi de 10,4% e de 19.6%, apontando para uma diminuigao maior das internages femininas, Levando-se em conta as taxas de internagao por todas as causas por wm maior perio- do de analise que vai de 1984 a 2000, verifica-se o aumento das taxas por acidentes © violéncias (18,9%). As taxas de internagao para mil habitantes passaram de 3,4 em 1984 para 4,1 internagdes em 2000. Ressalta-se ainda que o inicio dos anos 90 concentrou as taxas mais elevadas de todo o periodo analisado (MINAYO et al, 2003, 110), Anélises de Minayo et al, (2003) ressaltam que, em 2000, no Brasil: (a) os homens in- termaram mais do que as mulheres, representando cerca de 70% do total; (b) a capital que apresentou a maior taxa é Belém (6,7 internacées por mil habitantes) e a menor, Natal (2 internacdes por mil habitantes); () nas faixas etérias acima de 60 anos, hou- ve maior numero de internagdes femininas do que masculinas, com as proporcdes de 7.2% € 6,2%, respectivamente; (a) as hospitalizagBes concentraram-se nas faixas etérias de até 29 anos, diminuindo até a faixa de 59 anos e voltando a crescer no grupo Ge 60 anos ou mais; (e) dentre as principais causas de internagio do grupo das lesdes € envenenamentos, os traumatismos representaram 83,2% do total. As informagées sobre hospitalizagdes, no entanto, néo dio conta do mal profundo que (os abusos © maus-tratos causam a satide das mulheres. As consequéncias, sejam quais forem as circunstancias ¢ formas de violéncia sofridas, em primeiro lugar, manifestam- se em forma de vergonha e culpabilidade. Vergonha do que sofreram, como invasio de sua intimidade, negacao de seu livre arbitrio e de sua integridade. Culpabilidade, por constatar que nunca foram capazes de resistir suficientemente. As marcas desse soft mento moral aparecem logo no corpo, na satide, trazendo sequelas nao sé fisicas, mas também evidenciando varios tipos de associagao, somatizagao € prejuiizo mental. Uma delas é a persisténcia de dores que se cronificam sem diagnéstico de lesdes, como mos- tra. a pesquisa de Almeida (2001). Esse estudo mostrou que mais de 90,1% de mulheres com dores crénicas, atendidas por um centro especifico para a atengao a esse problema no Hospital Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/RJ, sofreram ou ainda sofriam violéneia fisica intrafamiliar € 46,2% delas tinham sido ou ainda eram vitimas de violéncia sexual. Os médicos que as atendem nunca haviam se atentado para os estragos da violéncia sobre a saiide. Também Minayo et al (2003a) ¢ Cavalcante € Minayo (2004) observaram, num estudo qualitative que usow a técnica de autépsia psicossocial, uma sinergia muito elevada entre violéncia contra a mulher e tentativas ideagao suicida. Mas, os problemas sio ainda mais vastos: atingem-nas emocionalmen- te por meio da perda de auto-estima, provocando depressio, fobias, pesadelos, crises de angtistia, psicoses, medo de relacdes sexuais, dentre outros. Heise et al (1994) ressalta, por meio de comparagées internacionais, que cerca de 35% das queixas das mulheres 0s servigos de satide estao associadas a algum tipo de violencia 5. Violéncia estrutural e desigualdade racial e social No que concerne a violéncia estrutural, verifica-se que, em algumas situagdes, as mulhe- res so mais atingidas do que os homens. Os dados do IBGE (2002a) revelam que, apesar das mulheres serem a maioria no Pais, terem uma escolaridade maior do que a dos ho- ‘mens, assumirem cada vez mais a lideranca das familias e desempenharem papéis im- portantes na sociedade brasileira, sua renda continua sendo menor do que a masculina Embora, ao longo da década, essa desigualdade tenha diminuido, seu rendimento ainda é menor: em 1991, equivalia a 63,1% e, em 2000, a 71,5% do que os homens recebiam, As mulheres, além de receberem menos do que os homens, também exercem dupla Jornada, acumulando tarefas domésticas. Segundo IBGE (2002b), a parcela feminina que trabalhava s6 em afazeves domésticos correspondia, em 1992, a 90% do conjunto de mulheres ocupadas, passando para 93,6% em 2000. Ja entre as homens que traba- Thavam, esse percentual subiu de 35,8% para 51,2%, em 1992 ¢ 1999, respectivamente. 0s dados revelam tanto diferengas quanto desigualdades entre homens ¢ mulheres, Estudo sobre a produgio bibliografica brasileira no campo da Satide revela que, na década de 90, a violéncia contra a mulher passou a ser explicada, majoritariamente, a partir da perspectiva de género, como parte das relagdes de dominagao e de desigual- dades entre elas e os homens (GOMES, 2003). Embora constituam uma cultura socialmente generalizada, as desigualdades de género assumem tonalidades diferenciadas quando relacionadas a classe, etnia e raga, evider ciando uma dramaticidade especifica, quando sio analisadas a partir das variaveis assi- naladas (BARSTED, 2004). No entanto, nem sempre se consegue apoiar essa discussio a partir de informagoes precisas, Oliveira (2003) chama atengao para a dificuldade de se dimensionar a magnitude da violéncia contra a mulher, no Brasil, a partir da pers- pectiva racial. A autora observa que nio ha “dados que possibilitem tragar um quadro sobre a violéncia especifica contra as mulheres negras” (OLIVEIRA, 2003, p. 180), No entanto, quando se situam as desigualdades como produto de fatores estruturais, é possivel constatar diferencas significativas na combinagao das variaveis raga e g nero. © estudo de Henriques (2001) evidencia com clareza tais diferencas, baseando stias anélises em Pesquisas Nacionais de Amostras Domiciliares (Pnad) do IBGE, rea- lizadas nos anos 90. Em tais inquérites, o quesito cor escolhido pelo entrevistado osci- la entre as opcdes “branca’, *preta’, ‘amarela’, *parda" e ‘indigena’. Henriques (2001) considera como populagao negra ou afro-brasileira a que declara ‘cor parda e preta’. Independentemente de sexo, nesse estudo, observa-se uma composi¢ao da pobreza que aponta para exclusio racial. “Os negros em 1999 representavam 45% da popt- ago brasileira, mas correspondem a 64% da populacio pobre ¢ 69% da populagao indigente. Os brancos, por sua vez, sf 54% da populacao total, mas somente 36% dos pobres © 31% dos indigentes" (HENRIQUES, 2001, p. 9). A partir do estudo que privilegiou a desigualdade como a categoria central, 0 autor conclui que: (a) ha uma imensa desigualdade de oportunidades que penaliza a popu- lagio negra, fazendo que a pobreza nAo esteja “democraticamente” distribuida entre as ragas; (b) os brancos so mais ricos e desiguais em oportunidades ¢ (c) os negros so mais igualmente pobres Henriques (2001) chama atencio também para o fato de estar havendo um “embran- quecimento da riqueza nacional": no conjunto dos 10% mais pobres do Pais, 70% sio negros, enquanto que, nos 10% mais ricos, somente 15% sao negros, As desigualdades entre brancos e negros também podem ser observadas na escolaridade média da po- pulagio adulta. Os dados relativas aos anos de estudo, em 1999, apontam para: (a) um. diferencial entre brancos e negros de 2,3 anos; (b) uma taxa maior de analfabetismo em negros com mais de 15 anos, com 19,8% contra 8,3% dos brancos com a mesma faixa etaria; (c) um maior percentual de analfabetos funcionais de negros com menos de quatro anos de estudo (46,99) em relagdo aos brancos na mesma situacao (26,4%); (@) uma diferenga significativa entre negros e brancos no conjunto dos adultos que nao completaram o Ensino Fundamental, 7,3% contra 57,4% Combinando-se a anflise das desigualdades raciais com as varidveis género anos de estudo, pode ser observado seu impacto na participacao do mercado de trabalho. No periodo de 1992 a 1999, as diferencas entre as mulheres se acirraram, penalizando ais as negras, enquanto as diferencas entre homens apontaram, no mesmo periodo, vantagens relativas dos negros. Apesar de tanto as mulheres brancas quanto as negras terem aumentada suas taxas de participagao no mercado de trabalho, entre 1982 ¢ 1988, a melhoria relativa das brancas é significativamente superior a das negras, J& entre os homens, a taxa de participagao dos hhomens negros cresccu mais que a dos brancos em toda a série. A desagregagao por raga revela que, nos anos 90, ha uma ampliagéo das difevengas entre as mulheres, penalizanda as negras, ¢ uma redugio dessas diferengas entre os homens (HENRIQUES, 2001) A violencia presente nas relagdes de género traz. perdas para o ser masculino, uma vez que 0 género, enquanto construgao histérico-social, tanto pode ser considerado como fator estruturante das relagdes entre homens e mulheres, quanto pode ser visto como um fator determinante do adoecer ¢ da morte da populagao masculina ¢ feminina, 0 padrio da masculinidade vigente tende a contribuir para que os homens adotem com- portamentos de risco, transformando-se nas prineipais vitimas da mortalidade por cau- sas externas, Esse é 0 mesmo modelo que impera na dominagao sobre as mulheres ¢ se expressa nos atos violentos fisicos e simbolicos cometidos contra elas (REDES HUMA- NIZADAS DE ATENDIMENTO AS MULHERES AGREDIDAS SEXUALMENTE, 2003), A construgao da masculinidade como fator da violéncia prejudica tanto a mulher quanto os homens, como mostra o documento Violéncia Intrafamiliar: Orientagéo para a Pratica em Servigo (BRASIL, 2002), chamando a atengao para a necessidade de se rever 0 mito de que a mulher é 0 unico ser prejudicado pela cultura machista, AS idéias de Bourdieu (1999) podem ser utilizadas para melhor explicar essa afirmacao, uma ver que tal autor observa que, no cenario da dominagio masculina, as vitimas nao sio apenas as mulheres, Nele, os homens também esto aprisionados, sem que se percebam como vitimas da representacio dominante. Assim, 0 que é tido como um privilégio masculino também pode ser uma cilada, fazendo com que o ser mascullino, em tensio e contensao permanentes, seja a todo o momento testado em situagdes em que virilidade e violéncia se mesclam num espago que esta ‘fora de todas as ternuras e de todos os enternecimentos desviritizantes do amor* (BOURDIBU, 1999, p. 66) 6. Prevengao da violéncia contra a mulher e papel da area de sauide No final dos anos 70 e inicio dos 80, no Brasil, a problemitica da violéncia contra a mt Ther, trazida a pablico e politizada pelo movimento feminista ganhow expressividade Uma das conquistas dos grupos de militancia dessa causa foi a ctiagio de servigos como das Delegacias Especializadas no Atendimento as Mulhetes (DEAMs), as casas- abrigo e os centros de referéncia multiprofissionais que tém enfocado, principalmen- te, a violencia fisica e sexual cometidas por parceiros, ex~parceiros e companheiros. Especificamente em relagdo as DEAMSs, tidas como experiéncia inédita em todo mur do, essas delegacias podem ser consideradas como “um passo importante na direcao do reconhecimento piblico da violéncia doméstica presente na sociedade brasileira Elas vém contribuindo, decisivamente, pata explicitaglo e ordenagio de uma deman- da que antes encontrava-se dispersa e oculta" (MUNIZ, 1996, p. 133) © movimento femil fa também trouxe influéncias para o campo da Saiide, Uma de suas repercussdes nesse campo foi a criacio do Programa de Atencio Integral & Satide da Mulher (Paism) em 1983, concebido como um *modelo assistencial capaz de atender as necessidades globais da satide feminina® (CAVALCANTI, 2004, p, 48). Segundo Gosta (2001), 0 Paism, que na representagao desse movimento seria um programa feito por mu- Theres e para mulheres, ficou restrito ao planejamento familiar. No entanto, em alguns locais do Pais, os principios desse programa ensejaram a ampliagao desse foco de abran- géncia, No Municipio do Rio de Janciro/RJ, por exemplo, a violéncia sexual tornou-se um dos seus temas centrais e, por conta disso, servicas de referéncia na aten¢ao as mulheres vitimas de violéncia foram implantados, possibilitando a capacitagao de profissionais, a produgao de materiais educativos e a realizagao de eventos voltados para a intervencio a prevencio frente a violéncia cometida contra a mulher (CAVALCANTI, 2004) (© que Suarez e Bandeira (2002) observam a respeito das DEAMs pode ser aplicado a todos os outros servigos, embora apresentem imperfeigdes, expressam um espago piiblico para os discursos acerca dos direitos das mulheres ¢ de scu tratamento cqui- tativo, no caso de deniincias das diversas situagdes de violencia, No caso da satide, todas as atividades que vm sendo desenvolvidas levam em conta al _gumas premissas: (1) existem, internacionalmente, definigdes medidas que ja se tor- nara consensos em convengées € acordos mundiais: elas devem constituir-se em pa- rametro das intervengdes a favor das mulheres; (2) 0 Pais 6 atravessado por uma ampla diversidade cultural ¢ isso, em principio, exige a adequacao cultural das medidas a serem adotadas; (3) as ages especitficas da area s6 conseguirio alcangar éxito se forem plane- Jadas ¢ executadas a partir de uma articulagao intersetorial e, sobretudo, com a estreita colaboragao de instituigdes civis voltadas para a defesa dos direitos das mulheres, A experiencia mostra que alguns princfpios podem guiar o encaminhamento de solu es para os problemas de maus-tratos e para a promogio dos direitos das mulheres. © Ministério da Satide, por meio do documento Violéncia Intrafamiliar: Orientagao para a Pratica em Servico (BRASIL, 2002), propde medidas evidencindas como efica- zes por todos ¢ todas que vém convergindo na filosofia de trabalho, no diagnéstico dos problemas ¢ na construgao de propostas de encaminhamento: ‘+ promover a organizacao de grupos de mulheres com a finalidade de trabalhar as guesties de genero, poder, violéncia, fortalecimento da autonomia ¢ formas alter- nativas de resolugao de conflitos + facilitar 0 acesso a uma rede de apoio social (trabalho, moradia, etc), buscando incluir a mulher e elevar sua condi¢ao de cidadania; + promover grupos de homens com a finalidade de propiciar a discussao sobre a vio- léncia, relagdes de genero, fortalecimento da auto-estima ¢ formas alternativas de resolugao de conflitos (BRASIL, 2002, p. 54) Sabe-se que grande parte das agdes citadas no documento do Ministério da Sadde pressu- ppde capacitacao dos profissionais de satide, a partir de trés prinefpios fundamentais: (a) mudanga de atitudes, vencendo preconceitos em relagao & naturalizagao da violéncia de género (Paula, 1995); (b) busca de formas eficazes de diagnosticar a ocorréncia da violén- cia (Bergamo, 1998): ¢ (¢) ndo-reducio da atengao ao trato das lesdes ¢ traumas, atitude corrente dentro da stica biomédica (CORREA, 2000; SCHRAIBER; D'OLIVEIRA, 1999) Para atingir os objetivos de superacao da violencia de género e em particular contra as mulheres, é preciso que os profissionais de satide, em suas atividades cotidianas de atendimento, desenvolvam técnicas de abordagem que ultrapassem o cuidado com as lesdes: (a) aprendam a fazer perguntas ¢ a dar resposta a tal situagao; (b) estejam preparados para ajudar as vitimas de violéncia com tratamento ¢ referéncia adequa- dos ¢ (¢) desenvolvam ages de encaminhamento, buscando eticacia dos tratamentos, em conjunto com outros setores (PROGRAMA PARA TECNOLOGIA APROPRIADA, EM SAUDE, 2002) £ fundamental assinalar que o enfrentamento da violéncia de género nao pode pres- cindir, no setor Satie, da prevencao priméria que costuma ser obscurecida pela im- portancia de diversos programas que, compreensivelmente, procuram lidar com as conseqiiéncias imediatas e intimeras da violéncia (KRUG et al, 2002, p. 112). Hoje, a inflexao do modelo assistencial para 0 paradigma da Satde da Familia, torna os pro- gramas desse tipo de crucial importancia para a democratizagao das relagses de géne- 10 ¢ pata a prevengio da violéncia contra a mulher (CAVALCANTI, MINAYO, 2004) Os investimentos do setor deve m traduzir-se, principalmente, na promogao de condigGes que facilitem o desenvolvimento de interagées pessoais mais justas ¢ de reconhecimento dos méritos da contribuigao feminina para a sociedade: A base para esse ambiente deve sey a nova gerardo das criangas que devem crescer com melhores capacidades do que tiverara seus pais, de forma geral, em lidar com os relaciona- ‘mentos ¢ resolver seus conflitos interns, com maiores oportunidades para seu futuro ¢ com nogies mais adequadas sobre camo os homens ¢ mulheres podem se relacionar e comparti- Thar o poder (KRUG et al, 2002, p12), Referéncias Bibliograficas AMARAL, ©. 6. G. Violéncia em delegacias da mulher no Nordeste. In: CORREA, M. (Org). 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