Afinal, o Que É BPM

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Afinal, o que é Business Process Management (BPM)?

Um novo conceito para um novo contexto


(artigo submetido em 8/11/2008)

Manoel Veras Sousa Neto


Programa de Pós-Graduação em Administração
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
manoelveras.ufrn@yahoo.com.br

Josué Vitor Medeiros Junior


Programa de Pós-Graduação em Administração
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
josuevitor@yahoo.com.br

ABSTRACT
Business processes result in products or services being delivered by organizations. Their importance
results from the fact that they integrate different activities that are developed in distinct functional areas,
involving workers, customers and business partners with a common objective. However, many
organizations are structured and guided by specific functions, which makes it difficult for this thorough
understanding of processes to be developed. In addition to that, Information Technology tools have
historically been based on a data management perspective and not a business process one. Business
Process Management (BPM) tries to bring together IT concepts and management theories that deal with
managing the life cycle of processes, enabling the design, execution, control, monitoring and analysis of
processes by means of methodologies and technologies that can be adapted to change situations in a
diligent way, making the objectives of the business more tangible to all those involved. BPM uses
concepts that had previously been developed and made popular in business administration, such as
reengineering and total quality management, and technologies such as ERP (Enterprise Resource
Planning) and workflow, in addition to new concepts that are integrated to the organization’s IT structure,
such as SOA (Service Oriented Architecture). This paper presents such concepts and explains how they
are directly or indirectly related to BPM, so that the academic and professional communities can better
understand their importance.
Key-words: business process management; service oriented architecture; processes; management.

RESUMO
Processos de negócios resultam em produtos ou serviços entregues pelas empresas. Sua importância
nas organizações se mostra principalmente por integrarem diferentes atividades em áreas funcionais
distintas, envolvendo funcionários, clientes e parceiros de negócios, com objetivo único. No entanto,
muitas organizações são estruturadas e orientadas por funções específicas, o que acaba dificultando esta
visão unificada dos processos. Além disso, historicamente as ferramentas de Tecnologia da Informação
(TI) têm sido desenvolvidas e implantadas baseadas no gerenciamento dos dados e não dos processos
de negócios. O Business Process Management (BPM) é uma junção entre as teorias de gestão e TI que
provê o gerenciamento do ciclo de vida dos processos, facilitando a descoberta, projeto, execução,
controle, monitoramento e análise dos processos através de metodologia e tecnologias que possam se
adaptar às situações de mudança mais rapidamente e tornar os objetivos de negócios mais palpáveis. O
BPM se utiliza de conceitos anteriormente popularizados na administração, como reengenharia e
qualidade total e de tecnologias como ERP (Sistemas Integrados de gestão) e workflow, além de novos
conceitos para se integrar à estrutura de TI existente na empresa, como SOA (Arquitetura Orientada a
Serviços). O presente artigo objetiva apresentar estes conceitos relacionados direta e indiretamente ao
BPM, de maneira a esclarecer a comunidade acadêmica e profissional a cerca de sua importância.
Palavras-chave: business process management; arquitetura orientada a serviços; processos, gestão.

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1 Introdução Muitos autores se preocuparam em
definir processo. De Sordi (2008), por
As organizações possuem ativida-
exemplo, destaca que processos de
des que se relacionam e de diversas
negócios “são fluxos de trabalho que
maneiras entregam produtos e serviços
permitem atender a um ou mais objetivos
a vários interessados. Setores ou filiais
da organização e que agregam valor do
geograficamente distantes realizam ati-
ponto de vista do cliente”. Processo pode
vidades interdependentes que possibi-
ser definido também como um conjunto
litam à organização relacionar-se com
estruturado de atividades relacionadas
seus fornecedores e parceiros comer-
através de uma sequência lógica no
ciais e entregar produtos e serviços aos
tempo e no espaço, com um começo,
seus clientes.
meio e fim claramente definidos, executa-
O fato é que todo produto ou das para alcançar um resultado definido
serviço principal ou secundário ofereci- para um cliente ou mercado específico
do por uma empresa é necessariamente (WEIKE, 2007; GONÇALVES, 2000;
o resultado de um conjunto de ativida- SMITH e FINGAR, 2002).
des (WESKE, 2007). Estas atividades Gonçalves (2000) descreve exem-
interligadas, denominadas de proces- plos de processos nas organizações,
sos, ocorrem em diferentes níveis orga- segundo uma classificação baseada
nizacionais, desde os operacionais, co- nos setores ou departamentos de uma
mo acompanhamento de um pedido de empresa, tais como desenvolvimento de
clientes, até aqueles de natureza estra- lideranças (administração geral), plane-
tégica, como efetivação de aquisições e jamento da capacidade (manufatura),
parcerias. planejamento de propaganda (marke-
Dessa forma, não existe um pro- ting), gestão de caixa (financeiro), avali-
duto ou serviço oferecido por uma ação de desempenho, além de outros.
empresa sem que um processo exista, Em virtude da diversidade na natu-
caracterizado por um conjunto de ativi- reza dos processos existentes, muitas
dades inter-relacionadas, para tornar classificações são encontradas na litera-
este produto ou serviço possível (GON- tura. Uma destas classificações diz res-
ÇALVES, 2000). peito à matriz de classificação dos
Madison (2005) ressalta a impor- processos (SMITH; FINGAR, 2002), que
tância dos processos descrevendo que pode ser usada para se compreender
a maioria dos problemas nas organiza- melhor a natureza dos processos nas
ções decorre dos processos, mecanis- organizações. Ela se baseia no nível de
mos de controle e estrutura mal elabo- complexidade e no nível estratégico dos
rados. Ele destaca que, ao contrário do processos.
que se pensa e de como se comportam O nível de complexidade se baseia
os gestores, a minoria dos problemas no fato de que processos mais comple-
se relaciona às questões relacionadas a xos se caracterizam por mais dinamici-
pessoas, como habilidades, motivações, dade, pois estão mais expostos a altera-
treinamento etc. ções e adaptações ao longo do tempo.
Portanto, compreender como pro- Por outro lado, processos mais simples,
cessos ocorrem nas organizações e bus- apresentam características estáticas e
car potencializar os benefícios advindos tendem a não sofrer grandes alterações
de sua adoção racionalizada colabora na ao longo do tempo.
percepção de valor de produtos e ser-
Por outro lado, o nível estratégico
viços entregues aos clientes e implica em
das atividades envolvidas no processo
maior competitividade da organização.
2 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9
pode ter um maior impacto estratégico e Segundo a tabela, atividades de
se envolver com questões de longo suporte realizadas através de processos
prazo ou maior impacto operacional e simples têm um baixo valor para a
se envolver com questões diárias da empresa e devem ser automatizadas e
organização. Esta classificação pode padronizadas. O processo de cadastra-
ser contemplada na tabela 1 a seguir. mento de novo cliente em um varejo de
eletrodomésticos, por exemplo, tem es-
sa classificação.
Tabela 1: Matriz de Classificação dos Processos

Atividades de suporte realizadas caracterizando os processos atuais nas


através de processos complexos devem organizações como:
ser deixadas sob responsabilidade de • Extensos e complexos, envol-
terceiros. Um varejo de pequeno porte vendo grande quantidade de
que deseje fazer parte do comércio fluxos de materiais e informa-
eletrônico normalmente terceiriza o pro- ções com escopo cada vez maior
cesso de vendas pela Internet através e, com isso, envolvendo vários
da contratação de uma estrutura de TI setores de uma organização,
para manutenção do site. além de outras organizações
As atividades estratégicas envol- distintas. Isto caracteriza muitos
vidas em processos simples têm um processos como distribuídos
valor moderado para a empresa e nor- (geograficamente) e customiza-
malmente se referem à colaboração dos, ou seja, “desenhados” para
entre organizações. Processos relacio- cada realidade empresarial;
nados à compra de produtos por um • Dinâmicos, tendo em vista a
supermercado se adequam neste perfil. necessidade de adaptação às
alterações de mercado. Novos
Atividades estratégicas envolvidas produtos e serviços são cons-
em processos complexos caracterizam- tantemente redefinidos, regula-
se como de missão crítica para a em- mentações governamentais são
presa e devem ser gerenciadas com impostas, concorrências ou no-
uma abordagem de melhoria contínua, vos entrantes passam a fazer
já que a otimização destes processos parte do mercado. Estes fatos
gera alto retorno para a empresa. Como demandam que a empresa re-
exemplo, pode-se citar o gerenciamento defina seus processos para tor-
e análise dos tipos de planos de saúde ná-los mais adaptados às novas
existentes em relação à demanda e realidades;
aceitação de mercado por uma empresa • Duradouros, podendo perdurar
desta área. por meses ou até anos. Um
Smith e Fingar (2002) complemen- processo de pesquisa e desen-
tam as definições descritas acima volvimento (P&D), por exemplo,
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pode ter prazos longos, sendo adaptem seus processos de maneira
necessário um controle cons- rápida, flexível e segura.
tante; O grande problema é que, em
• Dependentes das pessoas, que decorrência da grande dependência da
têm um papel fundamental nas tecnologia da informação pelas organi-
decisões, gerenciamento e me- zações e da maneira como grande parte
lhoria dos processos; das aplicações foi concebida, mudanças
• Muitas vezes, difíceis de ser como estas são realizadas de maneira
visualizados em sua total exten- lenta e a um custo alto, em função da
são. Principalmente para as pes- diversidade de sistemas de informações
soas que se encontram limitadas existentes e da ausência de uma
aos setores/departamentos da orientação para processos incorporada
organização e que participam a estas tecnologias.
apenas de parte da execução
de um processo. Esta dificulda- Com isto, a organização tem difi-
de torna-se ainda mais clara culdades em se adaptar a um mercado
pelo fato de que muitos proces- dinâmico e repleto de exigências e
sos envolvem diferentes organi- situações novas. Faz-se necessária
zações. uma maior orientação para os proces-
sos de negócios mais importantes e
Diante destas características dos para o seu gerenciamento, de maneira
processos, faz-se necessário utilizar explícita.
ferramentas tecnológicas que dêem
suporte às mais variadas atividades O Business Process Managament
envolvidas no seu gerenciamento. (BPM) possibilita às organizações al-
cançarem seus objetivos através da
Smith e Fingar (2002) ainda adi- melhoria, gerenciamento e controle de
cionam outras duas características seus processos de negócios essenciais.
advindas deste fato: os processos são
cada vez mais automatizados, sendo Jeston e Nelis (2006) enfatizam
executados através de ferramentas de nesta definição cada um dos termos
software e, por isso, passam a ter uma envolvidos, como o fato de que a
natureza técnica e de negócios, pois melhoria dos processos significa torná-
envolvem tanto questões tecnológicas los mais eficientes e eficazes e, como
como as regras de negócios embutidas nem todos os processos contribuem
neles. diretamente para os objetivos estraté-
gicos da organização, o foco deve se
Neste contexto, uma diversidade concentrar nos processos essenciais.
de tecnologias suporta as atividades
estratégicas ou operacionais, tornando O BPM tem suas raízes e influên-
a arquitetura mais disseminada e diver- cias a partir de conceitos e tecnologias
sificada à medida que a organização se das áreas de negócios e TI. Jeston e
relaciona com outras organizações e Nelis (2006) apontam fatores determi-
clientes. Em função do aumento da nantes para que as empresas adotem
complexidade, sistemas de informações ou passem a considerar o BPM incor-
estão cada vez mais sendo utilizados no porado ao seu sistema de gestão.
suporte e automatização dos processos. No aspecto organizacional, estes
Assim, novas necessidades de fatores são o rápido crescimento, aqui-
mercado, sejam geradas pelos clientes sições e fusões e maior agilidade para
ou por regulamentações governamen- aproveitar novas oportunidades de mer-
tais demandam que as organizações cado. Quanto à gestão, fatores como

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controle maior dos processos por parte comercial, contábil, financeiro e esto-
dos gestores, corte de custos e a neces- que, apesar de representar uma mesma
sidade de uma cultura de alto desem- macro-atividade, pode ocorrer de forma
penho são destacados. fragmentada, em que cada um dos
Ainda neste contexto, Smith e envolvidos está isolado e localmente
Fingar (2002) descrevem sete interessado em realizar seu próprio tra-
balho, dando pouca atenção aos outros.
tendências que estão pressionando as
empresas a entregarem produtos e O melhor resultado em relação a
serviços cada vez mais rápidos, custo, tempo e qualidade depende da
melhores e mais baratos. maneira como cada área funcional
Estas tendências se relacionam ao realiza suas atividades e como interage
maior poder por parte dos clientes, que com as demais áreas nos vários pontos
inclusive demandam soluções mais do processo. Os processos precisam
completas, à necessidade de substituir ser otimizados globalmente e não ape-
a produção em massa por uma custo- nas localmente em cada área funcional.
mização em massa, à dificuldade em se Naturalmente, a maioria dos pro-
identificar concorrentes e fornecedores cessos em uma empresa são repetitivos
pela dinamicidade nos mercados, à e, principalmente, envolvem uma diver-
maior importância das cadeias de supri- sidade de setores e funções que pre-
mentos mais integradas, à substituição cisam não apenas realizar seu trabalho
das formas tradicionais de competição com eficiência e eficácia, mas neces-
pela cooperação e a coopetição e às sitam interagir de maneira otimizada.
mudanças cada vez mais incertas. Uma orientação funcional enfatiza
muito mais a divisão de tarefas e a
2 Modelos de Maturidade e
otimização no funcionamento de cada
Estruturas Organizacionais
área levando a estruturas organizacio-
Orientadas a Processo
nais rígidas e verdadeiras “caixas pre-
Apesar da importância da orienta- tas” em cada área hiper-especializada
ção por processos, muitas empresas (GONÇALVES, 2000).
mantêm em sua estrutura uma forte ori-
A ênfase nos processos, por outro
entação funcional que acaba tornando a
lado, possibilita que haja um maior
visão por processos fragmentada nas
trabalho em equipe e maior autonomia
mais diversas funções dentro da em-
por parte dos funcionários, que passam
presa. Consequentemente, perde-se a
a compreender melhor as consequên-
visão geral das atividades envolvidas
cias de suas ações e decisões em ou-
em um processo, havendo uma ênfase
tras áreas funcionais.
maior na realização das atividades das
funções de maneira independente. As principais diferenças entre a
gestão por processos organizacionais e
De Sordi (2008) caracteriza esta
a gestão por funções tradicional é que a
abordagem administrativa funcional co-
primeira emprega objetivos baseados
mo reducionista, pois direciona a aten-
em expectativas externas (principal-
ção e as decisões dos gestores para
mente dos clientes), sendo os recursos
indivíduos e atividades agrupados em
da empresa agrupados para realizar
áreas funcionais, dificultando uma visão
toda uma sequência de atividades inter-
mais sistêmica dos processos.
ligadas (um processo com início e fim,
O processamento de pedidos de independente das áreas funcionais en-
um cliente, que envolve os setores volvidas). Além disso, não há um filtro

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da hierarquia influenciando no fluxo de maturidade em que uma empresa se
informações, tornando-o mais fluido encontra em relação a sua orientação
(GONÇALVES, 2000). aos processos, contendo cinco estágios
Outra característica que difere principais, desde o puramente orientado
estas abordagens diz respeito à aloca- por funções até as organizações tipica-
ção de pessoas. Na abordagem fun- mente voltadas a processos (GONÇAL-
VES, 2000).
cional, ocorre uma distribuição das
pessoas por departamentos funcionais, Um outro modelo proposto foi o
que se responsabilizam pelas tarefas Business Process Maturity Model
daquele setor. Por outro lado, na abor- (BPMM), desenvolvido para orientar as
dagem por processos, as pessoas empresas a compreenderem seu nível
podem fazer parte de uma equipe de maturidade na adoção dos modelos
responsável pelas tarefas de um de negócios em suas estruturas para
processo multifuncional. Neste contexto, que possam buscar níveis mais altos e
surge o papel do gerente de processos, maior expertise em gestão por proces-
que é diferente do perfil gerencial sos (CURTIS e ALDEN, 2006; HAR-
tradicional, devendo-se exercer a lide- MON, 2006).
rança através da colaboração e influên- Este modelo consiste em cinco
cia (DE SORDI, 2008; JESTON e níveis de maturidade, cada um deles
NELIS, 2006). envolvendo um grupo de atividades,
Para compreender melhor estas objetivos e práticas desenvolvidos para
diferenças, Gonçalves (2000) propôs se alcançar o nível em questão. A
uma classificação baseada no nível de figura 1 a seguir apresenta este modelo.

Figura 1: Modelo de maturidade de processos de Negócios


Fonte: Harmon (2006)

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O primeiro nível se caracteriza mais previsível. São inseridas análises
pela inexistência de um modelo de ges- estatísticas para se definir processos
tão por processos, de maneira que as estáveis que gerem bons resultados
pessoas não são conscientes de que para a empresa. Técnicas de controle
fazem parte de processos e comumente estatísticos como Seis Sigma são
a carga de trabalho alocada para unida- adotadas neste nível de maturidade.
des de negócios envolve decisões sem
A estabilidade conseguida através
nenhum tipo de embasamento nos pro- do terceiro nível e a previsibilidade
cessos inter-relacionados, nem uma vi- alcançada pelo quarto nível ainda não
são global. são suficientes para que a empresa
Os atos heróicos e individuais para possa se utilizar de todos os benefícios
resolução de problemas se sobrepõem advindos da gestão orientada por pro-
a qualquer tentativa em disciplinar e cessos.
gerenciar os processos existentes. A O quinto e último nível de matu-
maneira que a empresa realiza suas ridade propõe atividades de melhorias
atividades e os resultados que apre- proativas para permitir que as capaci-
senta muitas vezes são inconsistentes.
dades atuais da empresa possam ser
No segundo nível de maturidade, a maximizadas a fim de se atingir seus ob-
empresa realiza um controle sobre jetivos estratégicos. A melhoria contínua
áreas de negócios ou setores específi- torna-se um processo institucionalizado
cos. Existe um controle dos processos em todos os níveis organizacionais
local e os funcionários de um setor visando ao alcance dos objetivos orga-
realizam as atividades repetitivas de nizacionais.
maneira consistente e padronizada. Pode-se compreender que além
Diferente do nível de maturidade ante- das ferramentas e tecnologias, este
rior, neste já há um controle em nível modelo de maturidade pressupõe uma
local dos processos.
política organizacional que instituciona-
O terceiro nível de maturidade lize o papel dos processos no dia-a-dia
expande a gestão do nível anterior para das pessoas e uma maior conscienti-
as inter-relações entre as áreas ou zação destas em toda a cadeia de
setores de negócios. Neste nível, as atividades em que estão envolvidas,
melhores práticas realizadas localmente independente dos setores de que fazem
podem ser adotadas por toda empresa parte.
em uma escala mais expandida. Há um Similarmente a este modelo de ma-
processo de medição do desempenho turidade de processos, Madison (2005)
dos processos e estes passam a ser apresenta os estilos de gestão e o
gerenciados desde seu início até o final,
impacto de cada estilo na estrutura
com suas atividades realizadas entre organizacional das empresas. Para
setores diferentes da empresa. justificar os estilos, ele defende que
Neste nível nem todos os proces- 85% dos problemas organizacionais
sos estão mapeados, mas principal- estão relacionados a processos, meca-
mente aqueles que representam maior nismos de controle e estrutura enquanto
importância para a empresa. 15% dizem respeito às pessoas. Par-
O quarto nível de maturidade pos- tindo dos estilos menos desenvolvidos
sibilita que a empresa possa compre- aos mais desenvolvidos, as decisões
ender e prever o impacto dos processos passam a ser mais participativas e a
orientação para processos é maior.
existentes de maneira quantitativa e

Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9 7


O estilo tradicional de gestão de gestão baseada em envolvimento. Este
trabalho pode ser representado através estilo é caracterizado pelo reconheci-
dos organogramas tradicionais típicos. mento das idéias de alguns funcionários
Os tomadores de decisão encontram-se nos níveis hierárquicos mais baixos, de
na parte superior do organograma, forma que são formadas equipes e
enquanto os executores na parte forças de trabalho específicas para
inferior. Neste estilo de gestão, a causa identificação e solução de problemas.
para a maioria dos problemas é atribu- No entanto, estes dois estilos de
ída às pessoas. Treinamento e reestru- gestão sofrem pela falta de interação
turação organizacional através de entre setores diferentes da empresa. As
mudanças de responsabilidades são iniciativas são isoladas e não há um
normalmente formas adotadas para
compartilhamento estruturado de infor-
resolver os problemas, que estão a mações.
cargo exclusivo dos gestores da em-
presa. Este estilo de gestão existe em Nos estilos de gestão baseados
mercados pouco desenvolvidos ou com em processos, há uma mudança na
pouca concorrência. A figura 2 exibe a forma de pensar e resolver problemas:
estrutura típica deste estilo tradicional. ao invés de identificar a causa dos
problemas nas pessoas, estas causas
Madison (2005) ainda descreve são relacionados aos processos mal-
uma modificação do estilo de gestão estruturados e mal elaborados existen-
tradicional, chamando-a de estilo de tes.

Figura 2: Estilo Tradicional de Gestão


Fonte: Madison (2005)
Nesta nova perspectiva, parte dos É importante enfatizar que ne-
processos deixa de pertencer a cada nhum dos estilos deve se sobrepor
departamento ou setor da empresa e totalmente ao outro. Empresas eminen-
passa a ser compartilhado entre os temente funcionais perdem a capaci-
diversos departamentos em uma visão dade de otimizar seus processos de
unificada. negócios pela separação de pedaços

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dos processos em cada setor ou melhoria de qualidade foi enriquecido
departamento. Empresas eminentemen- por técnicas estatísticas por meio da
te orientadas a processos perdem a contribuição de vários pesquisadores,
necessidade de especializações funcio- como Deming e Juran, dentre outros.
nais (SMITH, 2007) Dessa forma, é O conceito de gestão da qualidade
importante que haja um estilo de gestão total ou Total Quality Management
composta por processos e funções.
(TQM) envolvia três aspectos principais.
Jeston e Nelis (2006) descrevem O primeiro era a recomendação de se
as responsabilidades que um gerente realizar uma abordagem sistemática
de processos deve ter. Dentre estas dos processos. Isto significa que a
responsabilidades, pode-se citar: espe- ênfase era na melhoria contínua e este
cificar os objetivos, metas e medidas conceito se utilizou de ferramentas
relacionados aos processos e comuni- qualitativas e quantitativas, além de
cá-los de maneira constante aos envol- métodos estatísticos para avaliação dos
vidos, monitorar e gerenciar o progresso dados para verificação da melhoria dos
dos processos em relação aos objeti- processos (SMITH, 2007).
vos, metas e medidas e verificar se
Além disso, o TQM também
estes continuam válidos. pressupunha o envolvimento de todos
De Sordi (2008) enfatiza que o na empresa, desde a alta diretoria até
aspecto mais visível entre as organiza- cada um dos funcionários responsáveis
ções tradicionais e aquelas orientadas a pela execução dos processos, que
processos é a existência do gerente (ou passaram a ter maior autonomia para
gestor) do processo. Além das respon- que tivessem a iniciativa de melhorarem
sabilidades apontadas anteriormente, o os processos com os quais estavam
autor complementa algumas habilidades envolvidos.
necessárias para esta função, como o Por fim, o TQM inovou ao enfatizar
bom relacionamento com as áreas fun-
a importância do cliente enquanto prin-
cionais distintas, boa articulação entre cipal beneficiário dos processos. Isso
estas áreas e entendimento crítico dos significou mudar a ênfase de aspectos
processos da empresa em relação aos internos para resultados externos dos
seus objetivos estratégicos. produtos e serviços entregues ao cliente
(SMITH, 2007; JESTON e NELIS, 2006).
3 Perspectiva histórica no desen-
volvimento do conceito de BPM A Toyota adotou este modelo de
gestão e desenvolveu o Sistema Toyota
O conceito de processo não é
de Produção, consagrado e utilizado
novo na história da administração.
mundialmente por inúmeras outras
Frederick Taylor, no início da adminis-
empresas. Convém lembrar, contudo
tração científica, desenvolveu técnicas
que nem todos os seguidores conse-
modernas de engenharia industrial e
guem os mesmos resultados obtidos na
melhoria de processos industriais e
Toyota, em função do elevado grau de
outros trabalhos manuais. Este pode ser
disciplina necessário para a eficiente
considerado o início de uma gestão
aplicação do sistema (JESTON e
considerando processos, muito embora
NELIS, 2006). Além disso, o alto custo e
centrada em atividades específicas e
a complexidade para se justificar proje-
operacionais.
tos de TQM, somados à falta de
Durante o desenvolvimento e conhecimento das ferramentas estatísti-
implantação da onda dos programas de cas e da sua aplicação aos processos
qualidade total, o conceito Taylorista de não produtivos foram alguns outros
Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9 9
aspectos que contribuíram para o insu- A abordagem de reengenharia
cesso da implantação da filosofia da trouxe como benefícios a necessidade
Toyota em muitas outras empresas de ter ferramentas tecnológicas para
(SMITH, 2007). suportar processos mais extensos e
Na Década de 1990, foi disse- inter-funcionais, além de demonstrar que
minada a reengenharia de processos, mudanças inovadoras devem ocorrer
nas empresas, e não apenas a melhoria
enfatizando a mudança radical dos
processos, focando processos abran- contínua inerente ao TQM.
gentes que percorriam funções diversas Para dar respaldo tecnológico e
na empresa e que tinham grande justificar projetos de reengenharia, os
visibilidade. Embora muitas empresas sistemas integrados de gestão (ERPs)
tenham implantado projetos de reenge- prometiam orientar as empresas para
nharia, raros são os casos de sucesso processos através do acesso de um
com esta abordagem, em face dos sistema com múltiplos módulos orienta-
ambiciosos objetivos perseguidos e da dos aos diversos setores da empresa.
dificuldade de implantá-los. Muito em- Outra tecnologia surgida para dar
bora a reengenharia tenha despertado
suporte à reengenharia de processos foi
um interesse muito grande, o risco na o sistema workflow (fluxo de trabalho).
implantação destes projetos também Este sistema permitiu que os processos
era grande, o que afastou muitos poten- fossem “desenhados” por meio de um
ciais adeptos (JESTON e NELIS, 2006). ambiente computacional e executados
Pela complexidade inerente aos envolvendo diferentes ações realizadas
processos que seriam mudados radi- de maneira colaborativa entre os setores.
calmente, e consequentemente a diver- A teoria de gestão proposta por
sidade de pessoas de áreas funcionais Taylor, em que os processos eram
diferentes envolvidas no processo, a implícitos e não automatizados, repre-
reengenharia causou muita dificuldades
sentou uma primeira onda no desen-
para aceitação de mudanças por parte volvimento de organizações orientadas
das pessoas. Ao invés de considerar os a processos. A reengenharia represen-
processos de trabalho existentes e tou a segunda onda, através do redese-
tentar solucionar problemas nestes nho radical dos processos de negócios,
processos, a equipe de reengenharia
que passaram a ser suportados, em de-
descartava todos os benefícios dos terminadas circunstâncias, por ferramen-
processos em andamento e começava tas automatizadas como os sistemas
um novo processo (normalmente, mui- integrados de gestão (ERPs) e Work-
tos novos processos). As pessoas flows. (SMITH e FINGAR, 2002).
passaram a sentir-se à margem e a
reengenharia tornou-se sinônimo de O Business Process Management
corte de pessoal (SMITH, 2007). Isto (BPM) aproveita todos os benefícios
ocorreu principalmente devido ao advindos das metodologias, ferramentas
descompasso existente entre a forma e tecnologias dos ciclos anteriores para
como a reengenharia considerava que implantar, gerenciar e melhorar proces-
os processos deveriam ocorrer e a sos de maneira madura, sendo denomi-
forma como eles de fato ocorriam, exi- nado, em função disto, de “terceira onda”.
gindo a substituição do processo conhe- O BPM está se tornando mais
cido pelo novo processo (SMITH e popular entre as empresas também em
FINGAR, 2002). função da maturidade tecnológica e de
gestão atingidas atualmente. A figura 3

10 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9


exibe as diferentes ondas na gestão por descritas uma quarta, relaciona ao mo-
processos, tendo além das 3 ondas vimento pela gestão da qualidade total.

Figura 3: Perspectiva Histórica na Gestão por Processos


Fonte: Elaborada pelos autores
Quanto mais recente é a perspec- ser compreendidas como uma metodo-
tiva histórica, maior é a importância dos logia de gestão BPM.
processos. A onda BPM representa uma A figura 4 exibe todas as ativida-
empresa centrada nos processos, sendo des constantes do ciclo de vida dos
os seus processos completamente auto- processos gerenciadas pelo BPM e
matizados e todo ciclo de vida dos pro- seus relacionamentos. É importante res-
cessos gerenciados constantemente. saltar que esta figura em si representa
um processo.
4 Ciclo de vida dos processos
Apenas definir ou “desenhar” um Inicialmente a atividade de desco-
processo não é suficiente para que a berta tem por objetivo tornar explícitos os
organização tenha os benefícios da processos existentes, internamente ou
gestão por processos. É preciso que externamente, a partir da visão dos
todo ciclo de vida de um processo seja diferentes envolvidos. Esta atividade
gerenciado para obter uma maximiza- pode ser automatizada ou manual, desde
ção de resultados de maneira contínua que transforme as atividades que eram
e constante. realizadas de maneira implícita em
processos explicitamente documentados.
O BPM está relacionado ao
gerenciamento de oito atividades ou É importante ressaltar que nesta ati-
capacidades inerentes ao ciclo de vida vidade os processos que ocorrem atual-
dos processos: descoberta, projeto, mente na empresa são explicitados, de
implantação, execução, interação, con- maneira que funcionários, clientes, par-
trole, otimização e análise dos proces- ceiros comerciais, ou seja, os envolvidos
sos (SMITH e FINGAR, 2002; WEIKE, se conscientizem de seus papéis e do
2005). Estas atividades também podem papel dos outros envolvidos, na maneira
como as atividades são realizadas.

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Figura 4: Atividades do ciclo de vida dos processos gerenciadas pelo BPM
Fonte: Smith; Fingar (2002)
Uma vez explicitados os proces- e melhorá-los. Definição de medidas de
sos, pode-se analisá-los para descobrir desempenho e uso de simulações para
inconsistências e problemas existentes análise de possibilidades alternativas
na maneira como estão estruturados. O nos processos são tarefas realizadas
projeto visa a modelar, manipular e nesta atividade.
reestruturar os processos que foram A implantação significa colocar no
explicitados anteriormente durante a ati- ambiente de produção os processos
vidade de descoberta e que a organi-
que foram explicitados e reestruturados
zação tem necessidade de modificar a nas atividades anteriores, para todos os
partir de pressões externas, por exem- participantes, incluindo pessoas, aplica-
plo. A composição, decomposição, ções e outros processos. Através do
combinação, reestruturação e transfor- BPM, esta atividade pode ser realizada
mação dos processos fazem parte totalmente, de maneira automatizada.
desta atividade.
A implantação possibilita que se-
A idéia é que os processos sejam jam alocados e distribuídos recursos
modelados, representados de uma ma- para os processos, que estes sejam
neira clara através de modelos. Os divididos para diferentes sistemas de
modelos dos processos de negócios
informações e envolvidos. É uma ativi-
expressos em uma notação gráfica dade de contextualização dos proces-
facilitam a comunicação sobre os pro- sos mapeados no ambiente em que
cessos de maneira que diferentes envol- serão executados posteriormente.
vidos podem mais facilmente analisá-los
12 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9
Como na maioria das vezes, mitem que intervenções humanas ou
aspectos tecnológicos estão envolvidos, tecnológicas ocorram para manter o
aspectos como interações entre um processo em andamento, como por
sistema de BPM e os sistemas legados exemplo, alterar o número de partici-
e demais tecnologias existentes na pantes de um processo ou lidar com
empresa ou em empresas parceiras situações excepcionais como uma so-
devem ser considerados nesta ativida- brecarga na capacidade tecnológica
de. Componentes de software a partir demandada pelos processos em execu-
de uma arquitetura chamada de SOA ção.
(Service Oriented Architecture) podem Portanto, são atividades que
ser adotados para agilizar esta atividade possibilitam que intervenções sejam
(esta arquitetura será descrita no próxi-
realizadas caso algo fora do padrão
mo tópico). ocorra (erros ou exceções) e ainda
As quatro atividades seguintes permitem que informações sobre os
ocorrem paralelamente e garantem que processos sejam exibidas através de
os processos possam ser executados interfaces gráficas. As intervenções po-
de maneira confiável e previsível do dem ser alterações nos recursos
ponto de vista de tecnologia e de negó- alocados ou nos participantes envolvi-
cios. dos nos processos.
A atividade de execução visa a Para medir o desempenho dos
garantir a execução e armazenamento processos, a atividade de análise per-
apropriados dos processos, sem que os mite que sejam realizadas avaliações
usuários finais possam visualizar estes inteligentes de maneira a tornar os
detalhes técnicos. Sistemas que se processos estrategicamente mais rele-
encontram distribuídos entre duas em- vantes e descobrir oportunidades de
presas parceiras, por exemplo, mas que inovação. É possível assim, visualizar
participem de um mesmo processo ou recursos alocados e tempo consumido
da interação entre processos e sistemas nos processos existentes, além de
de informações existentes são apresen- realizar análises através de simulações.
tados para o usuário final de maneira
A otimização permite que sejam
única e transparente. Esta atividade é
realizadas melhorias nos processos,
naturalmente técnica, estando sob res-
fazendo uma ligação entre as atividades
ponsabilidade do pessoal de TI.
de projeto e análise dos processos. Ela
As pessoas podem interagir com pode ocorrer de maneira automatizada,
os processos através da atividade de a partir da detecção automática de
interação. Esta permite que o usuário gargalos ou de inconsistências nos pro-
possa visualizar a interface de um cessos.
processo (telas, inter-relacionamentos
entre atividades de um processo etc.), 5 Tecnologias e ferramentas
realizando alterações quando neces- relacionadas ao BPM
sário, como a entrada de dados para Tradicionalmente, o pessoal da
execução do processo, visualização de área de TI e o pessoal da área de
relatórios, a partir dos processos em gestão de negócios têm interesses
andamento ou finalizados. conflitantes em relação aos sistemas de
As atividades de monitoramente informações ou aplicações existentes
e controle são aplicadas tanto aos ou a serem desenvolvidas.
processos quanto aos sistemas de
gerenciamento de processos. Elas per-
Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9 13
Comumente, gestores criticam a jam incorporados aos sistemas basea-
falta de flexibilidade das aplicações dos em dados, naturalmente verticais.
desenvolvidas, as quais mesmo quando Na verdade, os processos são na-
implantadas de forma a se adequarem à turais ao dia-dia das empresas e são
realidade da organização, não conse- eles que dão sentido aos dados arma-
guem se adaptar às diversas mudanças zenados e recuperados, em função das
necessárias ao longo do tempo, de ma-
necessidades da empresa. As aplicações
neira rápida o suficiente (WEIKE, 2005). computacionais desenvolvidas tradicio-
Isto sempre ocorreu porque a nalmente são difíceis de serem alteradas
estrutura de TI existente e desenvolvida e adaptadas às pressões competitivas às
ao longo dos anos nas empresas foi quais as empresas estão expostas e
projetada para que uma nova aplicação normalmente tomam muito tempo.
fosse desenvolvida e construída a partir As tecnologias e metodologias
de uma linguagem extremamente técni- envolvidas com o BPM surgiram princi-
ca, sob o domínio do pessoal de TI. palmente para tornar mais pragmáticas,
Nenhum gestor podia requisitar flexíveis, rápidas e confiáveis as mu-
alterações em um sistema de controle danças necessárias da estrutura de TI
de vendas, por exemplo, e este sistema para as necessidades da empresa.
não podia ser alterado sem que um O conjunto de tecnologias respon-
desenvolvedor ou analista de TI intervis- sável por gerenciar e realizar as ativi-
se no processo para especificar, em dades de ciclo de vida dos processos
uma linguagem computacional, a alte- são chamadas de Business Process
ração que precisava ser feita. Management Suites (BPMS).
O tempo para realização destas Estas tecnologias são fornecidas
alterações ou construções de novos por diversas empresas, seja de maneira
sistemas é lento, em função do “gar- independente e voltadas apenas para
galo” representado pela necessidade de os processos, seja incorporadas a
intervenção da TI, comprometendo a tecnologias já existentes, como ERPs,
competitividade de uma empresa. As- CRMs etc. O que difere basicamente
sim, dois mundos diferentes, que falam um BPMS de outro é o escopo com que
linguagens diferentes, precisam traba- cobre as atividades do ciclo de vida dos
lhar com um mesmo fim. Por um lado, processos (TANRIKORUR, 2007).
pessoas de gestão precisam de uma
estrutura flexível de TI, que possa se Estas são ferramentas baseadas
adaptar às demandas ambientais e no paradigma orientado a processos
tomadas de decisões. De outro lado, que permitem que o ciclo dos processos
técnicos de computação se utilizam seja gerenciado e alterado mais natural-
uma estrutura que na realidade deman- mente pelos gestores e pessoal de
da tempo para ser alterada. negócios, em função das necessidades
do negócio.
Smith e Fingar (2002) ainda res-
saltam que o paradigma adotado no A idéia é que a empresa possa
desenvolvimento de sistemas de infor- desenhar, construir, melhorar, analisar,
mações ao longo dos anos sempre foi controlar e simular processos sem que
baseado no gerenciamento, armazena- detalhes técnicos tornem estas ativida-
mento e recuperação de dados. Este des lentas e dependentes da TI. O pes-
paradigma dificulta que os processos de soal de TI, por sua vez, passa e
negócios, naturalmente horizontais, se- responder mais rapidamente às neces-
sidades da empresa.

14 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9


Para padronizar a linguagem de Modeling Notation), conforme Smith e
representação dos processos, bastante Fingar (2002).
útil nas atividades de ciclo de vida que Esta notação permite que haja
envolvem representação de fluxos de uma padronização na representação
atividades de um processo, inclusive dos processos principalmente visando a
definição de processos paralelos, pon- facilitar a comunicação entre processos
tos de decisão e eventos externos, foi
de empresas distintas. A figura 5 apre-
criada a BPMN (Business Process senta um exemplo de um processo
mapeado através do BPMN.

Figura 5: Exemplo de um processo através da notação BPMN


Fonte: Borges (2008)
O exemplo representado pela figu- Uma livraria que passe a comer-
ra 5 exibe um processo de solicitação cializar livros on-line, através do comér-
de autorização de pagamento, em que cio eletrônico, precisa integrar este novo
uma loja requisita uma autorização à sistema web (interface) para o cliente
operadora de cartão, a partir do setor com toda sua arquitetura de sistemas já
de vendas. A operadora então se res- existentes. Caso ela queira tornar o
ponsabiliza por autorizar a transação processo de vendas mais confiável e
financeira e a loja dá continuidade ao ágil, precisa ainda integrar e expandir o
processo, envolvendo o setor de logís- processo aos seus fornecedores, como
tica para a entrega do pedido. a empresa que gerencia fisicamente
Vale observar que quanto mais seu estoque através de depósito próprio
complexo, interconectado e abrangente ou a empresa de verificação de
é um processo de negócio para uma confiabilidade de crédito. Neste caso, o
empresa (ou para as empresas envolvi- processo de atendimento ao pedido do
das neste processo, como no caso da cliente que acessa o site da livraria é
operadora de cartão e a loja), maior é a iniciado com base nas informações
necessidade de acessar informações selecionadas e cadastradas pelo usuá-
existentes em sistemas e tecnologias rio, que realiza a compra através de
diversas, já desenvolvidas anteriormente cartão de crédito, por exemplo. O pro-
e existentes no ambiente de produção. cesso tem continuidade através da
verificação e validação do cartão de

Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9 15


crédito do cliente, por meio do sistema O problema é que, normalmente,
de análise de crédito da empresa dona processos como estes envolvem a
da bandeira do cartão de crédito e, caso comunicação com tecnologias diversas,
haja aprovação, o processo faz a muitas vezes em empresas diversas e
verificação da disponibilidade do livro que exigem a interação entre sistemas
(ou livros) para entrega imediata, a distintos e, mais importante ainda, que
partir do estoque controlado por uma se baseiam em regras de negócios que
terceira empresa. Este processo é re- podem ser alteradas e em novas tecno-
presentado de maneira simplificada na logias que podem ser adicionadas ou
figura 6. eliminadas do processo de comunicação.

Figura 6: Processo de vendas em uma livraria on-line


Fonte: Elaborada pelos autores
Para lidar com este desafio é que um novo sistema, se a arquitetura dos
a arquitetura SOA (Service Oriented serviços (aplicações de software) tiver
Architecture) ou arquitetura orientada a sido estruturada de acordo com a SOA.
serviços foi criada. A SOA é uma abor- A SOA permite que seja criada e
dagem para desenvolver sistemas de TI mantida uma arquitetura de TI flexível a
que permite às empresas alavancar
ser usada de acordo com a necessi-
ativos existentes e facilmente permitir dade da empresa. O principal objetivo
as mudanças requeridas para suportar da SOA é facilitar o gerenciamento da
o negócio (HURWITZ et al., 2007). complexidade dos ativos de TI (notada-
O objetivo existente neste conceito mente, bancos de dados e softwares),
é a elaboração, controle e melhoria de favorecendo uma maior facilidade da
uma arquitetura de aplicações (soft- reutilização destes ativos (chamados de
wares) construída como serviços que serviços), a integração entre eles, sem
devem ser usados e reutilizados, de a necessidade de se excluir o que já
acordo com a necessidade do negócio. existia de sistemas antes da implanta-
ção da arquitetura (BEA, 2006).
Assim, se o departamento finan-
ceiro da empresa precisa de uma nova É como se fosse uma estruturação
aplicação de verificação de crédito e o das aplicações computacionais para se-
setor comercial já utiliza um serviço rem usadas quando necessárias na
destes em alguma aplicação existente, organização. Estes pedaços (como
não há necessidade de se implementar peças legos) bem definidos e com
16 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9
funcionalidades claras podem ser reor- de verificação de crédito do cliente pre-
ganizados para formar novas estruturas cisa acessar o sistema que realiza esta
de TI para suportar as operações da função). Caso os sistemas envolvidos
organização. tenham sido estruturados de acordo
E qual a relação da arquitetura SOA com a SOA, os processos podem
com o BPM? Eles se complementam. acessá-los quando necessário, deixar
de utilizá-los, se assim for definido, ou
Enquanto a arquitetura SOA possi- reconectá-los a outros sistemas (servi-
bilita a construção independente de ser- ços). Caso a empresa contrate uma nova
viços que podem ser combinados em operadora de crédito, poderá se utilizar
um contexto de negócios (ROSEN, dos serviços fornecidos pela operadora,
2006), o BPM pode se utilizar desta sem precisar reescrever linhas de código
arquitetura para acessar informações e de seus sistemas de informação.
realizar tarefas sem que seja necessária
a criação de novos sistemas ou com- Portanto, a arquitetura SOA provê
plexas ligações entre o processo de a plataforma que realiza a ligação entre
negócios e a tecnologia já existente. os processos de negócios e os recursos
operacionais de TI, sejam eles sistemas
Em uma forma mais técnica, os integrados de gestão (ERPs) ou siste-
processos são construídos como um mas legados. A figura 7 exibe, através
conjunto de atividades. Estas atividades de camadas, a relação entre os proces-
muitas vezes precisam de informações sos e a estrutura de TI construída atra-
de sistemas já existentes (como no vés da SOA.
exemplo da livraria virtual, a atividade

Figura 7: Interação entre os processos e a arquitetura SOA


Fonte: Rosen (2006)

Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9 17


A camada de processo, na parte 6 Considerações Finais
superior da Figura 7, denominada Pro-
Muito embora a ênfase em pro-
cessos de Negócios, exibe um processo
cessos não seja um tema novo, tendo
estruturado e o inter-relacionamento en-
sido popularizada pela reengenharia de
tre as suas atividades. Este processo
processos e pelo movimento pela quali-
normalmente é definido e compreendido
dade total, somente nos últimos anos se
pela área de negócios da empresa, que
tornou possível uma implementação mais
se preocupa apenas em desenhá-lo e
factível nas organizações, de maneira a
validar sua lógica, ou regras de negó-
transformar processos em tecnologia
cios (condições, pontos de decisão,
incorporada ao dia-dia das pessoas nas
eventos externos etc.). Portanto, esta
empresas.
camada não se preocupa com os deta-
lhes técnicos das camadas inferiores, O BPM surge como esta possibi-
apenas com a forma de representar os lidade real de se transformar mudanças
processos, através da notação BPMN, necessárias na forma como o trabalho é
por exemplo. realizado nas empresas em processos
otimizados, analisados e validados de
As duas camadas seguintes,
maneira a proporcionar mudanças mais
denominadas Serviços de Negócios e
rápidas, diante do mercado competitivo.
Serviços de Integração, exibem a lógica
Além disso, permite que as dificuldades
relacionada à arquitetura SOA. São
existentes entre o pessoal de negócios
responsáveis pela “tradução” da cama-
e a área de TI sejam minimizados, de
da de processos para as camadas de
maneira que os gestores possam defi-
mais baixo nível, relacionadas à arquite-
nir, controlar e otimizar os processos de
tura tecnológica.
maneira mais rápida e a área de TI te-
A camada Serviços de Negócios nha condições de atender e incorporar
agrega os processos em serviços espe- as alterações na estrutura mais rapida-
cíficos, como análise de crédito, verifi- mente, fazendo uso da arquitetura SOA.
cação de estoque, busca pelo endereço,
No entanto, para que haja um dire-
dentre outros, repassando as informa-
cionamento verdadeiro para os proces-
ções dos serviços para a camada
sos, é necessário que estes estejam
Serviços de Integração, que detalha em
relacionados à estratégia organizacio-
nível operacional os serviços da cama-
nal, de maneira que este vínculo seja
da superior, realizando a comunicação
constantemente validado para não se
com os sistemas e tecnologias da ca-
perder os benefícios providos por tal
mada inferior, como bancos de dados,
alinhamento.
servidores ou mainframes.
Apesar na ênfase tecnológica, vale
Por fim, a camada de Recursos
a pena ressaltar que o BPM não deve
Operacionais disponibiliza os dados
ser visto apenas como tecnologia, pois
necessários para serem entregues às
isto faria com que se perdesse a
camadas superiores, utilizados na ca-
conexão necessária com as melhores
mada de processos. Nesta camada se
práticas de gestão para os processos.
encontra a infra-estrutura de tecnologia
Tampouco deve ser considerado mera-
das empresas, incluindo os bancos de
mente como uma prática de gestão, já
dados ou servidores de dados já exis-
que desconsiderar a TI impediria a
tentes anterioremente.
incorporação dos processos nas ativi-
dades diárias das organizações.

18 Revista Eletrônica de Sistemas de Informação, v. 7, n. 2, artigo 9


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