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STE naa Ae) lhe ». Xo at mala amiga Ele voltou em meio a um casamento, trazendo na bagagem uma grande certeza. Um dia sonhou alcangar as estrelas, hoje ,seu sonho tem 0 nome de uma mulher. Um amor de infancia, abandonado pelas ilusdes da juventude. Conseguird ele reconquisté-la da maneira fria que imaginou? O Jovem astrénomo tera apenas quinze dias para provar que seu amor ¢ real e néio apenas mais um de seus caprichos. Contudo, grandes segredos do passado poderao ameacar a concretizacao desta historia de amor, “B eu precisei de parte da vida e atravessar um oceano para descobrir que 0 tesouro que procurava estava ao tempo todo ao meu lado". - Axel 1. Um Reencontro Especial Era Uma Noite de Verao no Rio de Janeiro... A lua estava cheia, 0 céu demasiadamente estrelado para uma metrépole, a igreja lotada e os noivos eram o retrato da mais pura felicidade. Elisa, como todos, saudava aos noivos na saida da igreja, mas procurava com os olhos alguém importante que faltava. Toda familia estava l4, menos ele, Axel Wiederchein, o irmao da noiva: — Ser que ele nao vem, Sana? — Perguntou ela a uma amiga: — Ele quem? O Axel? Mas é claro que vem Elisa, sé esta atrasado, alias, como sempre. Ndo se preocupa, nao. Logo ele chega — Ela falou enquanto caminhava na diregéio de um grupo de amigos. Elisa virou-se para tras, um taxi parou na frente da igreja disputando a atengao com a limusine que aguardava pelos noivos. Elisa sabia que so poderia mesmo ser ele, ninguém mais chegaria a um casamento daquele jeito. Ele saiu do carro sorrindo, um vento soprou dando-lhe as boas vindas. Elisa logo se distanciou, nao queria que ele percebesse que o esperava. Estava irritada, pensava que o atraso dele sé podia ser proposital, para roubar a cena, ainda mais vestido da forma como estava, sem gravata, com o paleté na mao: “Convencido’— Era o que pensava —“Sempre foi” Axel ainda nao havia reparado que ela estava por perto, subiu alguns degraus da escadaria da igreja para abragar a irma: — Perdoe-me, Carla, por ter perdido a ceriménia. — Eu te pedi tanto para chegar antes, Axel. Custava? — Eu sei, mas nao pude, nao pude mesmo. Tantas coisas para resolver antes da viagem... Tive sorte em encontrar vocés ainda aqui na igreja. — Sei, esse seu emprego em Londres parece a coisa mais importante da sua vida. — Nao fale uma coisa dessas, nao é bem assim. sim, € nao sou sé eu quem pensa dessa forma nao. — Ah, ja sei, esta falando da dona Clarice. — Nao, se bem que a mamie também deve achar isso. Mas nao estou falando dela — Carla simplesmente olhou na diregao de Elisa e os olhos de Axel seguiram os dela. Ela conversava com um grupo de amigos que também era amigos dele. A olhou por um tempo em busca de alguma mudanga que os anos e a distancia poderiam ter causado a ela, mas nao encontrou nenhuma, parecia a mesma Elisa que havia deixado no aeroporto ao embarcar para Londres: — Ela esta bonita vestida assim. — E so o que tem a dizer depois destes anos? Ele nao respondeu, beijou a face da irma, cumprimentou o cunhado e foi ao encontro dos amigos que conversavam animadamente, Mario, o amigo mais chegado de Axel, foi o primeiro a reparar sua aproximagao: — Ohha sé, gente, quem eu vejo! E, ele tarda mais nao falha! Houve risos e empolgagao pela chegada dele, ele abragou Mario fortemente e depois os outros amigos, menos Elisa, para ela, ele mal olhou. Ela em contrapartida também tentava ignora-lo, nado a surpreendia a atitude dele, afinal era a filha da empregada, apenas isso. Quando se é crianga tudo bem, um a mais é sempre bom nas brincadeiras, j4 adolescente sé pensa em curtir e o tipo de adolescentes que eram, nao parariam para pensar nas origens de cada um, mas quando as pessoas crescem e amadurecem, tudo recebe sua ordem, cada um fica em seu lugar e ai patrdes sao patrées e empregados, empregados e filhos de empregados também. Elisa estava se sentindo exatamente assim, como se ele estivesse colocando-a em seu lugar: — Vamos nessa, cara — Dizia Mario. — Agora é a hora boa da festa: a recepcao, comes e bebes, micos de quem bebe muito. Vem com a gente? — Desculpe-me pessoal, mas nao vou poder ir com vocés. Vim direto do aeroporto, minhas malas estao no taxi, vou passar em casa primeiro — Ele finalmente olhou para Elisa — Vocé vem comigo, Elisa? Ela, nao acreditava no que ele dizia, derrubando toda sua teoria, achava que ele nem mesmo a tinha reconhecido e ele a chamava pelo nome: — 0 que disse? — Pedi que viesse comigo. Ela estava comegando a entender, precisava deixar as malas, nado chamaria nenhum outro amigo para isso, ela era a empregadinha: — Por que justo eu? — Por favor, Elisa. Ele estendeu a mao sabendo que ela nfo deixaria uma mao estendida, sendo assim, Elisa foi com ele, embora contrariada. iiiiii O taxi seguia pela orla da zona sul do Rio. Depois de um periodo de um constrangedor siléncio, Elisa abriu a boca, estava aborrecida e nao fazia 0 menor esforgo para esconder: — Eu nao acredito que me chamou pra te acompanhar daquele jeito. —E qual éo problema? — 0 que eles estarao pensando agora? — Quando vocé diz eles, esta querendo dizer nossos amigos? — Amigos ou nao, detesto que comentem sobre mim. Ele sorriu e depois riu: — Nossa, vocé continua a mesma, Marrentinha. A forma doce e carinhosa com que ele disse, relembrando seu antigo apelido, quebrou o gelo que Elisa insistia em manter, ela riu também e olhou para ele: — Axel, me desculpe. Ah, droga, eu senti sua falta, senti saudades, de verdade. — Eu também. F bom estar de volta e com vocé. Seria natural terminarem com um abraco, ambos queriam que acontecesse, isso era claro, mas ainda mantinham certa formalidade, uma falta de jeito. Axel ent&o desviou o olhar. Pela janela do carro olhava o mar, o calgadao. Era noite, mas tudo perecia ter um brilho muito intenso para ele, afinal, recém-chegado do inverno Londrino... Quando chegaram 4 mans§o da familia Wiederchein, 0 taxista ajudou Axel a colocar as malas para dentro, as deixou na sala, a casa estava vazia por causa do casamento, os empregados foram todos convidados. Axel o pagou e agradeceu, depois voltou até Elisa: — Nossa, a casa continua igual. — Nada mudou por aqui, nem ninguém — Falava Elisa cheia de ironia. — Vocé é quem esta mudado, essa barba, vocé nunca usou, esta forte. Anda malhando? — Nada, é a idade, ganhei mais corpo. — Entendo, alguns anos vivendo na Europa muda uma pessoa. — Eu mudei sim, é verdade. Ainda bem, nao é? Mas vocé também mudou, Elisa. — Quem eu? Eu nao. Continuo a mesma. — NAo senhora, continua nada. Esta com um nariz empinado, metida. Por que isso, hein? Sera que é s6 porque terminou a faculdade de... De que era mesmo? — Biologia — Ela cruzou os bragos ao falar. - Eu cursei biologia junto com a Sana, caso nao se lembre. E se tenho um nariz empinado é por tudo que conquistei, eu me esforcei bastante para isso. Tenho orgulho de mim. — Uau, ela tem orgulho se ser uma bidloga. — Nao seja ridiculo, esta me menosprezando. — Calma, é brincadeira, nao precisa se aborrecer. — Eu tenho muito orgulho sim, de quem sou. E nao vou correr o risco de vocé me mandar carregar essas malas e me tratar como uma empregada. Axel se ofendeu com as palavras da amiga: — Alguma vez na vida eu te tratei como uma empregada? — Nao, mas... — Entio cala a boca e me ajuda a carregar essas malas. —E por que eu faria isso? — Porque somos amigos e amigos se ajudam. — Entdo ainda sou sua amiga? — Mas que pergunta boba é essa? Vocé é minha melhor amiga. Elisa, nds dividiamos tudo. Serd que esqueceu? — Eu nunca poderia esquecer, sé estava me defendendo. — Se defendendo de qué? De mim? Nao tenha defesas contra mim, sou eu , o Axel. —Nio, nao de vocé exatamente. Mas de uma possivel decepsao. — Vocé? Sempre foi tao corajosa. Nao se atira mais na vida, nao se arrisca? — Que isso? Nao. Isso é coisa do passado. Agora o que eu mais quero é seguranga. — Ah nfo! Nao acredito que estou te ouvindo dizer essa frase. Eles riram juntos: — Mas pra mim nio importa. — O que nao importa? — Que tenha medo. — Ah, nao vai me dizer que vocé continua se jogando de cabega em tudo e quebrando a cara como sempre. — Eu gosto de aventuras, é da minha natureza. — Esta falando de aventuras amorosas? — Aventuras de todos os tipos. — Parece que vocé nao cresceu. Axel riu e a pegou pela cintura encostando sua cabeca na dela: —Vocé esta linda. —Vocé bebeu? — Por que esta me perguntando isso? —Vocé sabe. Ela tirou as mais dele de sua cintura e foi pegar uma das malas: — Gente, o que é isso? Tem chumbo aqui dentro? — Eu trouxe alguns presentes. — Deve ter muitas novidades para contar. — £ tenho sim, mas vou ter tempo pra isso. Tirei fé1 semanas. Elisa olhou para ele animada: — Depois de quase quatro anos sem aparecer. Férias? Que milagre é esse? — Ja estava mais do que na hora, nao acha? —E, estava sim. Respondeu sorrindo, s, vou ficar por duas 2. Pacto de Felicidade Na festa, todos os amigos de Axel estavam reunidos, era um grupo de dois rapazes e duas mocas, sem contar Axel, Elisa e Carla, que a essa altura ja havia se despedido da festa com seu marido e estava a caminho da lua de mel: — Foi muito emocionante. A Carla merecia um dia como esse — Disse uma das amigas chamada Juliana: — Esse é um amor de livro mesmo, se conheceram a cerca de seis meses, mais ou menos e jd se casaram — Respondeu Elisa. - Muitos acharam loucura, precipitado, mas basta olhar para os dois com mais aten¢ao para ver que nasceram um para outro. Mario se manifesto — Sera que da pra mudar o rumo dessa conversa? Vamos reagir machées, ficar nesse papinho de “o amor é lindo”. Futebol, bem melhor. — Enlouqueceu Mario? Falar sobre futebol em uma festa de casamento? S6 falta pedir as cervejas — Replicou Juliana. —Por que, tem ai? Se tiver, manda! — Pra falar a verdade eu prefiro futebol - Concordou Sana. — Ah Sana! Nao acredito! Nao da apoio pra esse cara nao, se nao ele nao para nunca! Eles riam e bebiam, sentados em uma mesa delicadamente decorada. — Brincadeiras a parte, acho que todos gostariam de ter a felicidade que a Carla teve hoje - Declarou Axel segurando uma taga de champanhe na mesa e mantendo o olhar fixo nela. — Cada um da sua forma, com seus sonhos, seu maior sonho. — Ih, nossa! Ld vem papo cabe¢a. — NAo, é sério, eu voltei ao Brasil em busca do meu maior sonho. — Mas seu maior sonho ja se realizou, seu trabalho na Europa. — Nada disso, Elisa. Eu voltei ao Brasil pra encontrar a mulher da minha vida. As gargalhadas nao foram contidas, néo poderiam imaginar que ele falava sério: — Tudo bem, podem zombar, sei que é algo improvavel pra mim, acho que 6a idade. — Esta carente ele gente, releva. - Sana ria ao dizer aquilo — Vamos ouvir nosso tiltimo romantico. — Obrigado, Sana. Eu proponho a vocés um pacto. Eu tenho quinze dias de férias, durante esse periodo, cada um de nds vai colocar todo o seu empenho, todo seu esforgo para vencer seu maior desafio, concretizar seu maior sonho e no final, vamos nos reunir em nossa praia para comemorar a nossa Vitoria. Ele ergueu a taga e todos fizeram o mesmo: — Axel, acha mesmo que vai conhecer a mulher da sua vida em quinze dias? — Nao, Ju, eu ja a conhegco, vou precisar conquista-la, conquistar uma mulher que sempre amei, mas nao podia aceitar, porque se fosse verdade, teria que admitir o quanto fui burro a vida toda. — Gente, ele esta mesmo apaixonado! Elisa permanecia calada e intrigada em saber que mulher seria essa, afinal, ele nunca contara a ela sobre um sentimento tao forte. Sentiu-se um pouco traida, era sua melhor amiga e ele ndo lhe disse nada: — Muito bem, pessoal, agora é minha vez - Disse Sana risonha. - Meu maior desafio é encarar meu pai, mais uma vez, diga-se de passagem, ter coragem pra deixar tudo pra tras e me mandar pra Abrolhos, com uma mochila nas costas, viajar por ai, trabalhar num projeto TAMAR ou Baleia Jubarte, sei la. Seguir meu espirito livre. — Ah 6, isso é cem por cento, Sana! A garota Insana! Todos riam: — Eu pretendo montar uma banda e me tornar um rock star. Manifestou-se Mario. Os amigos riram mais e assim entre risos, palavras e champante todos revelaram seus desafios até que chegou a vez de Lticio, 0 mais introspectivo dos amigos: — Diante das revelacdes de vocés, eu que achava meu sonho dificil, acho que no sera tanto assim - Ele olhou para Juliana - Homem perfeito, né? Rico, lindo, romantico, mas nado meloso - Ele riu discretamente. — Diante disso, acho que fica facil vencer essa doenga. — Doenga? — Pois é, Ju, eu estou com cancer - Vou me internar amanha, desculpem- me, eu no queria contar isso aqui, assim, estragar a festa, mas esto todos falando sobre os seus sonhos, eu tinha que ser sincero com vocés. — Licio eu nao... — Nao ,Axel, esta tudo bem, saber disso me fez entender muitas coisas e por fim, amar a vida. Nunca desejei tanto viver e por isso estou aqui, queria encontrar todos, se tornou dificil estarmos juntos. Cada um seguiu seu rumo, alguns ainda se vém com frequéncia, mas todos juntos como no passado, coisa rara hoje em dia, nao é? Pra isso estou aqui, vamos nos divertir, como nos velhos tempos. Juliana nao conteve o impulso, o abragou e chorou: — Nao, no faga isso, por favor, nao quero choro. Ei gente, eu nao morri. — Ele segurou o rosto dela e disse-lhe particularmente. - Eu nao morri, estou aqui - Terminou com um beijo no rosto da amiga. — Se é pra ter divers4o, como nos velhos tempos, vamos fazer direito. — 0 que esta pensando em fazer, Mario? — Uma intervencao nessa festa chata. — 0 qué? Elisa parecia assustada, Axel so ria, ja podia imaginar: — N§o preciso de quinze dias. Lticio: baixo, eu: batera: Axel: guitarra e voz, vamos nessa botar essa bandinha meia boca pra correr. — Nao, nao, nao posso fazer isso, n&io toco ha anos. — E dai, Axel? Ta todo mundo bébado mesmo. Disse Mario rindo cinicamente: — Vamos Id - Concordou Liicio. - Essa festa esta precisando urgentemente de Nirvana. —E isso ai Smells Like Teen Spirit! Eles foram até os musicos e os colocaram para fora, a festa parou, todos olharam o que acontecia, a maioria com tagas nas maos. Os trés amigos se colocaram a postos, ensaiaram alguns acordes. As meninas se apressaram para chegar a frente: — Eles sao loucos — Concluiu Elisa, Sana respondeu: — Exato, por isso sao minha turma. Axel se posicionou ao microfone com a guitarra no corpo, seus pais olhavam com reprovagao, mas ele sabia que nao fariam nada que provocasse um escdndalo: — Hora de agitar um pouquinho, pessoal! Ele deu 0 sinal, comegando com a guitarra, era uma misica que j4 haviam tocado dezenas de vezes, Sana gritou: —Uhuuu! Aos poucos as pessoas foram se juntando ao redor, abandonando a estranheza inicial, foram gostando e quando terminaram, pediram que continuassem, entéo tocaram “About The Girl’, também do Nirvana, Seguida, por uma versao de “Epic do Faith no More” e “Under The Brigde” do Red Hot Chilli Pepears. Nesta ultima cancao, tudo comegou a perder a graga, pois Axel viu Elisa dangando com alguém. Dancando, rindo e conversando. Estava claro que era alguém que ela conhecia e tinha intimidade. Terminada a canc¢ao, ele nao quis tocar mais nada, saiu sem falar com os amigos. Mario deu um tempo e depois foi até ele: — 0 que houve? —Nada, s6 me cansei. Ele viu Elisa caminhando sozinha. 0 salao de festa era na verdade um lindo jardim com uma parte coberta por um teto transparente, haviam trés coretos e algumas moitas em formatos diversos, Axel deixou Mario e seguiu Elisa a puxando para tras de uma dessas moitas: — E vocé? Que susto! Foi legal o que fizeram, estava um pouco desafinado, mas foi legal. — Quem é aquele cara que estava dangando com vocé? Ela sorriu um pouco sem graga: —E quem éa mulher que quer conquistar? — Elisa, vocé... — Olha, para, ta. Para com isso. Nao comega a bancar o irmdo ciumento de novo, ta bom? Esta grandinho demais pra isso. — Espera Elisa - Ele segurou a mao dela. —Néo quer dangar comigo também, hum? Ele a segurou pela cintura e comegou a conduzi-la, ea girar com ela, a jogou para baixo, sorriam, em seguida, levantaram-se. Axel tocou o rosto dela e Elisa afirmou: — Eu me divirto tanto com vocé. — Nao é bom estarmos juntos? —E sim. Mas... Alguém me espera. Ela o largou depressa e voltou para o rapaz com quem estava. 3. Impedindo um Romance Segundo dia: Axel acordou cedo, foi até a cozinha, pegou uma maga e sentou-se a mesa. A mae de Elisa entrou em seguida, sorriu para ele e recebeu outro sorriso de volta: — Dona Catia! — Axel! Quero dizer, doutor Axel. Ela estava impressionada com a mudanga dele, estava com uma barba rala e bem feita, o cabelo encorpado e 0 fisico realmente tinha se desenvolvido muito, como Elisa também havia notado. A presenga dele tornara-se imponente como a de um ri —N§&o me chame de doutor, pelo amor de Deus. — O café da manha esta atrasado, eu sei, mas imaginei que todos acordariam mais tarde, por causa da festa. — NAo vai se preocupar com isso, nao consegui dormir por causa do fuso hordrio. E eu como qualquer coisa mesmo, no precisa me servir, estou acostumado a me virar. — Ento la é assim? Nao é tAo facil ter empregados? — Nao. Aprendi a ser homem la. — Realmente, saiu daqui um garoto e voltou um homem feito. — Ah, que bom que parou de me tratar com cerimO6nia. —E, bobagem mesmo, te conhego desde pequenininho. — Asenhora ea Elisa ja sao parte da familia. Mas... Por falar nela. Como ela esta? O que tem feito ultimamente? — U6, vocés nado conversaram? — Nao o suficiente - Havia uma pequena ponta de irritag&o na voz dele, por lembrar que ele preferiu terminar a noite com outra pessoa. - Ela tem saido com alguém? Esta com algum compromisso? — Por que no pergunta a cla mesma? Elisa acabara de entrar e também como Axel pegou uma maca: — Oi mae, bom dia. Axel, vocé por aqui? — Qualé o problema? —Nenhum. 0 que estavam conversando? — Ele estava querendo saber se vocé tem namorado? — E 0 qué? — Quis saber ela realmente surpreendida. Axel se engasgou com um pedago da maga. Elisa e Catia correram para acudi-lo, levantaram os bragos, bateram nas costas, depois de salvo, Elisa ria: — Vai com calma. Continua com fome de estivador, é? — Minhas duas heroinas, obrigado. — Mas sobre o que a mame disse, vocé... — Nao, nao, sua mae se confundiu. Eu perguntei se vocé tinha trabalho. — Como assim, Axel? Vocé sabe. —Tem razio, esqueci. E no zooldgico, nao é? —E sim. Mas se fosse aquele outro assunto, eu queria falar com vocé sobre. — Sobre aquilo que sua mie pensou que eu disse? —E. Vem comigo. Ele a acompanhou até o jardim, sentaram-se em um banco: — Axel, sabe aquele cara que estava comigo ontem? — Sei, 6 um babaca. — Por que acha isso? — Reconhego um babaca assim que vejo. Ela riu: — Para de besteira, Axel, nao vai perder minha atengao por causa dele. —E por que eu perderia? Ha alguma coisa entre vocés? Elisa suspirou e para Axel aquilo era um mau sinal: —Tem sim alguma coisa acontecendo, mas ele é meio escorregadio. Parece no querer compromisso. — Se é assim, ento cai fora. — Axel, nao é assim to facil, eu gosto dele. — Gosta nada. — Ja vi que nao vai dar pra conversar com vocé. — Nao, nao, nao! Desculpe-me, pode falar. — Ele nos viu juntos ontem, achou que vocé estava me paquerando - Ela ria como se fosse a coisa mais impossivel do mundo. — Ele achou isso? — Pois é, mas foi bom, foi bom. Ele estava com citimes, entdo eu pensei que se fingissemos ter alguma coisa, ele poderia se decidir de uma vez. Nao vai rir, ta. Eu sei que é infantil, mas da essa forga pra sua amiga. Ela abracgou o brago dele carinhosamente e apoiou a cabega em seu ombro: —Tudo bem. Mas me diz quem é ele, quero nome completo. — Marcelo Juliano Paiva, ele trabalha com seu pai. — Ah, bom saber. — Ele me deu a chave do apartamento dele, vai me esperar amanha para conversamos, se nao der certo, vocé entra na histdria. — Vocé vai mesmo me usar assim, descaradamente? — Claro. Se nao de que adiantaria ter um amigo bem sucedido e gato como vocé? —Vocé é muito cara de pau mesmo, menina. Ela riu, beijou o rosto dele e saiu. Axel, nado concordara com aquilo assim, tao benevolentemente. Tinha um plano e também seus contatos, apesar dos anos fora, por isso pediu o nome completo do “pretendente’” de Elisa. Comegaria a colocar seu plano em pratica, aquele romance nao continuaria. Terceiro dia: Axel chegou a um bar aconchegante, lembrava vagamente os conhecidos bares da capital inglesa. Ele cumprimentou uma linda mulher que o esperava de pernas cruzadas. Ela tinha o cabelo ruivo e cacheado, bem cuidado, uma maquiagem impecavel, estava vestida como quem vai para um encontro amoroso: — Que bom que esta de volta e que bom que me procurou. Mas me pergunto: por que sera? Pela nossa velha amizade é que nao foi, aposto. Ela era uma amiga de faculdade que se tornou garota de programa para pagar os estudos, até perceber que com seu corpo poderia ganhar muito mais, em menos tempo e sem tanto esforgo: — Eu tenho um trabalho pra vocé, Kelly, pago bem. — Otimo, essa é minha linguagem. Mas por favor, diga que finalmente é com vocé. — Nao pagaria por uma mulher. — Pra vocé eu fago de graca. Sentada na banqueta do bar, ela tocou a perna de Axel com o salto, ele bebeu um gole do drink que ela pedira para ele acreditando que nao se atrasaria: — Um dia quem sabe? Mas nao hoje. — Certo, vamos ao assunto. — Minha melhor amiga esta envolvida com um cafajeste. Ela tem um encontro com ele nesse enderego as nove da noite — Disse-lhe entregando um papel dobrado. — O safado a convidou para a casa dele, mora sozinho. Ja sabe o que ele quer, nao? — Como conseguiu o enderego dele? — Quando quero uma coisa, sempre consigo. Mas enfim, quero que chegue ld antes e seduza o Mané, ele nao vai resistir, conhe¢o o tipo. Mas preste atengao: é imprescindivel que ela os flagre juntos. — Hun, ja entendi: a mocinha vai la, se decepciona com o namorado e vai chorar as magoas direto nos seus bracos. Ele abriu os bragos sorrindo: —Esperta. Vou mostrar que ela sé pode ser feliz de verdade comigo. — Esta apaixonado por sua amiga ou s6 nao quer perder a parada? — A Elisa é a mulher da minha vida, perdi muito tempo pra descobrir e agora preciso correr, se tiver que passar por cima de alguém, eu vou passar, atropelo sem do, mas nao vou voltar para a Europa sem ela. Quando chegou em casa no fim do dia, Axel aguardou Elisa voltar do trabalho, Assim que a viu apontar no portdo, a puxou pela mao até seu quarto: — Mas que droga! Por que fez isso? Sabe que eu detesto ser arrastada! — Calma, Marrentinha. Eu disse que trouxe presentes. Nao ficou curiosa em saber qual é 0 seu? — Eu nfo imaginava que teria trazido alguma coisa pra mim. Ele a pegou pela mao e a fez sentar na cama com el: — Flisa, eu nao sei por que vocé esta com esse complexo de filha da empregada, como se isso fizesse de vocé ou de sua mae pessoas piores. Nao me trate com reservas. Por que esse preconceito de repente? As nossas diferengas nunca importaram. Sempre estivemos juntos, sempre gostamos das mesmas coisas. Vocé nasceu e foi criada nessa casa. —E exatamente isso. Eu fui criada aqui, e gragas A generosidade dos seus pais, pude estudar em boas escolas, frequentava os mesmos lugares que vocé e seus amigos. Mas e se eu fosse uma qualquer, sem estudo, sem cultura, uma pessoa que ndo teve oportunidades na vida? Ele sorriu docemente: — Eu nao consigo te imaginar assim. Ela se levantou: — Acho que nao preciso dizer mais nada. Ela ia sair: — Espera. Que importancia isso tem? 0 que teria sido nao importa. Eu sou o que sou e vocé é o que é. E nos gostamos assim, exatamente como somos. — As coisas nao séo simples assim. Agora eu preciso ir, vou me arrumar, tenho um encontro daqui a pouco. — Ah é mesmo? O que esta esperando entio? Vai logo ficar horas se arrumando para aquele idiota! — Ele nao é um idiota! — Ah, claro que nao, esqueci. Ele nao é idiota, ele é muito esperto, a idiota é vocé! — Vocé que é! —E vocé! — Vocé! — Entio sai logo daqui e me deixa em paz! Ela saiu e Axel bateu a porta, depois de discutirem como duas criangas, respiraram, logo se arrependeram. Pouco tempo depois Mario chegou, esperava por Axel na sala, Elisa passou por ele e o rapaz logo falou dos planos para o fim de noite: — O Axel quer matar as saudades das partidas de vdlei de praia noturnas. Esses programas cem por cento cariocas. — Ele te chamou? — Chamou sim. E vamos dar uma esticada com umas gatas, ele esta precisando de uma pele morena, queimada de sol. Sabe? - Indagou com um sorriso sacana, Elisa simplesmente cruzou os bragos: — Quer dizer que esta arrumando mulheres pra ele? Cafetao! — Nao, nao é bem assim. £ uma coisa que pode acontecer ou niio. Nao quer vir com a gente? — Nao, Mario. A Elisa, j4 tem um compromisso — Disse Axel enquanto descia as escadas: —Vocés néo mudam nunca, parecem que tém dezoito anos. Ela saiu resmungando: —Mas 0 que foi que deu nela? Esta mais marrentinha do que nunca. Axel riu e bateu no ombro de Mario: — Vamos logo. Elisa se preparava para 0 encontro, mas nada parecia lhe vestir bem, estava irritada, incomodada. Entendeu que precisava descobrir 0 que a estava aborrecendo e foi facil: Axel na praia com outras mulheres. Respirou aliviada, deduziu que era apenas citime de amigo. Vestiu a primeira roupae fez um simples rabo de cavalo, se desse tempo passaria na praia. 4. Magoas do Passado Axel e Mario ganharam a partida de volei, os times eram mistos com duas mulheres e dois homens em cada. Depois da vitoria, sentaram na areia bebendo agua de coco: — Isso que é vida! Senti tanto a falta de tudo isso. Essa luz... Londres é linda, eu adoro viver la, mas é muito cinza. Ja aqui tudo parece dourado. Sair de 14 em pleno inverno e chegar aqui com toda essa luz é de ofuscar a visdo. Axel olhou para o mar, a lua cheia dava a ele um aspecto de mar de prata: — Mario, o que acha da Elisa? — O qué? Como mulher? Fala sério, jA nem sei mais, pra mim ela é um homem. Mas espera ai. Se esta me perguntando isso... Ah nao, nao acredito - Dizia ele entre risos. - Esta afim dela? — Afim nao é a palavra correta. — Pera la, cara. Nunca ligou pra ela, nado dessa forma. Alids, vocé foi o primeiro a tratar ela como um camarada. Vocés surfavam e jogavam futebol juntos. E vocé até incentivava ela a entrar na roda punk. — Ah ela era boa na roda punk, vocé se lembra. Nossa! — Ela poderia se machucar. — Antes quebrava o nariz de todo mundo. Ela nunca gostou de ser excluida das coisas por ser mulher. — E vocé nunca a viu como tal. — Como nao? Eu sempre a amei, essa é a verdade. — Amou coisa nenhuma! — Amei sim, nds jd tivemos alguma coisa no passado. — Um passado muito remoto, né? Porque eu nao me lembro. — Nao foi um namoro. — S6 me diz uma coisa: vocé estava se lixando pra gente... — Nao é bemassim. — E assim sim, sabe que é. S6 voltou pra buscar ela, nao foi? - Axel confirmou. — Vocé nao pode decidir as coisas pelos outros, deixa de ser egoista. Voltou, tem seus quinze dias, decidiu que ama a Elisa e que ela vai com vocé pra Europa. Nao consultou ela, nao sabe o que ela quer, nao esta se importando. Sinceramente, Axel, isso nao é amor. — Olha aqui, Mario, eu vou fazer ela querer exatamente 0 que eu quero. — Manipulando. — No, nao é nada disso, mas eu sei que ela também me ama, 0 nosso elo é muito forte, é mais do que amizade. — $6 nao se esquega de contar isso pra ela, antes de embarcarem. — Nossa, mas vocé ta muito chato mesmo, hein? Deve ser a idade, Ta ficando velho e rabugento, Deus me livre! Bom, eu tenho que ir, quero chegar antes da Elisa. — Até onde eu sei, 0 encontro dela nao é contigo. — N&o vai ter encontro nenhum, eu dei um jeito. —Vocé sabotou 0 encontro dela? —E porai. Axel foi para casa apressado, nao podia deixar que Elisa chegasse antes dele e se trancasse para chorar sozinha em seu quarto. Nao podia perder a oportunidade criada por ele mesmo, mas se surpreendeu ao vé-la sentada no banco do jardim, ficava proximo a janela da sala. Algumas heras subiam de um lado e de outro formando um arco acima do banco, suas flores brancas estavam adormecidas: — Elisa? Tao cedo, o que aconteceu? — Estou te esperando, — Me esperando? ~ Ele sorriu. — Foi se encontrar com ele vestida assim? Esta muito bonita. — Por favor, Axel, nada de piadas agora. Ele sentou-se ao lado dela: — NAao é piada, adoro quando vocé faz um rabo de cavalo. Fica parecendo uma menina. Elisa, nao suportou ouvir aquilo, pois era exatamente como se sentia, uma menininha ingénua. Abragou Axel e chorou em seus bragos, exatamente como ele havia planejado: — Eu precisava me desculpar. Vocé estava certo, ele é um idiota e eu mais ainda. Quando penso que queria usar vocé pra conquistar aquele.. Ai aquel — Calma. Nao quer me dizer o que aconteceu? — N§o, eu so queria te pedir desculpas. — Lisa, seja ld o que tenha acontecido, mais tarde vocé vai agradecer, foi melhor assim. Ja pensou se por um acaso se envolvesse mais? Se casasse com ele? — Deus me livre! — Vocé nado merece uma coisa assim. Vocé merece um homem que pense sempre em vocé, que queira te dar os presentes mais caros que possa comprar. Que te coloque acima de qualquer coisa, que faca tudo por vocé. — Esse homem nio existe — ela chorava e ria. — Como nao? Existe sim, est esperando por vocé, em algum lugar. E quando vocés se esbarrarem e se olharem de verdade, vai ver que é pra sempre. Ela sorriu ao olhar pra ele: — Vocé, Axel. —Eu? — E, vocé. Sempre me faz sentir melhor. Por isso também estava te esperando. Pra que fizesse graga, me fizesse rir das minhas desgracas, como sempre. Vocé sempre me mostrou que nada era tao terrivel quanto eu imaginava, que tudo podia ter uma solucdo. E a sua solugdo era sempre diversao. Vocé torna tudo mais leve e suportavel. Eu adoro tudo em vocé, tudo, até mesmo o que detesto. Tem uma explicac4o pra isso? — Deve ser porque eu sou o homem da sua vida. Eles riram juntos: —E, tem razio. Os risos pararam, Axel nao olhava para ela, Elisa sentiu um clima estranho, aquele siléncio que reina quando as pessoas nao tém nada a dizer ou muito: — Axel, vocé... — Nao estou brincando. — Claro que sim, tem que estar. — Nao estou, Elisa, € no que eu acredito. — Vocé, o homem da minha vida? — N§o fui o primeiro? Deveria ter sido o tinico. — Nao, nao vem falar desse assunto, esta enterrado. — Sera possivel que nao teve nenhuma importancia pra vocé? — Mas é claro que teve, mas foi um erro! — No foi um erro! — Foi sim e vocé concordou. A gente se desculpou tanto por aquilo, combinamos esquecer, nunca mais tocar nesse assunto. — Nao se esquece algo assim. — Como nao? Quantas vieram depois de mim, Axel? Deveria ter esquecido. — Nao fala assim, nao sou tao voliivel. — Vamos parar com essa conversa agora. — Tudo bem, mas antes responda, nao pra mim, mas pra vocé mesma: quem segurou sua m&o na hora do recreio no seu primeiro dia de aula quando vocé chorou querendo seu pai? Com quem vocé fez a sua primeira viagem sem os seus pais aos treze anos? Elisa, quem te consolou depois da morte do seu pai e prometeu estar sempre contigo? — Quer mesmo me fazer lembrar dessa promessa quebrada? — Quebrada? — Disse que estaria sempre comigo e meses depois foi embora. — Eu ndo sabia que ainda estava sofrendo. — Nao sabia? Mas é claro que sabia! Era meu pai! Sabe o que é perder alguém que se ama? Claro que nfo! Na verdade acho que esta certo, vocé nao sabia. Afinal, nunca perdeu nada em toda a sua vida! Axel sentiu lagrimas brotarem em seus olhos, nao deixou que elas caissem, entendia agora a forma como ela o tratou quando chegou, estava ferida e cheia de magoas: — Eu me apoiava em vocé - Continuou ela. - Vocé era meu apoio e foi embora, teve uma boa oportunidade em um grande observatdrio e se mandou. Nao quis saber de nada, nao pensou duas vezes. — Eu pensei muito, mais do que duas vezes, Elisa. O que acha que eu sou? Por que guardou tudo isso? Por que nao me falou nada? — Porque era importante pra vocé. E também porque sei que nao ficaria por minha causa. — Talvez nao, mas poderia ter te levado comigo. Ia ser bom pra vocé naquele momento. — Para, vocé nem ia pensar nisso, além do mais, eu estava estudando, tinha minha vida. — Entenda isso entio, vocé nao abriria m4o do seu objetivo para me seguir, como eu nao abri mao do meu para ficar. — Isso faz parte do passado, n&o faz sentido algum trazer de volta a tona, sentido algum. Ela saiu do banco, foi em diregao a edicula. Axel foi atras, mas encontrou a porta fechada. Conhecendo a janela do quarto dela, ele foi até 14, sabia que nao podia bater, pois acordaria a mae de Elisa certamente: — Elisa, nao precisa abrir sua janela para mim se nao quiser, mas por favor, me escuta: eu jamais imaginei que tivesse causado esse sofrimento a vocé, mas sei porque se sentiu abandonada. Porque nio era seu irmao que estava indo embora. Escuta, Lisa, eu fui um tolo, um estupido, um insensivel. Perdoa-me vai, ou pelo menos me diz que nada vai mudar entre nds. Que vamos continuar sendo amigos. Axel esperou por uma resposta, mas nada havia além do siléncio. Ele a deixou em paz, como imaginava que ela queria. Elisa, por sua vez, o ouviu atentamente, siléncio em sua boca, mas perturbacao em seu coracao. Nao poderia dizer a ele que tudo voltaria a ser como antes, pois sentia que alguma coisa havia mudado e sabia que era definitivamente. 5. Uma Briga que Aproxima Quarto dia: Elisa quis evitar encontrar-se com Axel no dia seguinte, por isso saiu mais cedo do que de costume para o trabalho. Ele entendeu perfeitamente a intengdo dela, mas nao podia concordar, nao podia deixar para depois. Saber que havia causado a ela um sofrimento ainda maior do que aquele que ela ja tinha diante da morte de seu pai, estava deixando seu coragéio apertado, incomodado, triste enfim. Decidiu ir ao encontro dela no zoolégico, combinou consigo que seria discreto, acontece que ele nao era o linico a procurar por ela. Elisa tinha um encontro na noite anterior e 0 rapaz com quem deveria estar no momento em que se derramava em ligrimas no ombro de Axel, estava disposto a tirar satisfagdes. Elisa nao gostava de ser a coitadinha e nesse caso também nao o seria: — Espero que seja breve, nao tenho nada pra falar com vocé e estou no meu local de trabalho. — Vocé esteve no meu apartamento ontem, nao esteve, Elisa? — 0 que vocé acha? Marcou comigo ou sera que eu errei a data e ontem foi o dia da vagabunda de beira de estrada? Ele a pegou pelos cotovelos: — Vocé jogou todas as minhas roupas pela janela! — Me solta seu estupido! Vocé mereceu! Estava desmaiado 14 ao lado daquela piranha! — Qual€é o problema, hein? Até onde eu sei jogamos no mesmo time. — Eu nao sei do que esta falando. — Nao seja cinica, o filho do patrao, do nosso patrao. Estava dando em cima dele. — Ele nao é meu patrao, tira a mo de mim, me solta! Quanto mais ela tentava se soltar, com mais forca ele a segurava: — Quer saber? Eu até pensei em vocé quando aquela deusa ruiva apareceu na minha porta, juro. Mas eu nao ia trocar um mulherdo daquele por uma coisinha simples como vocé. E quer saber mais? Ela foi enviada pra mim por um amigo, alguém que eu nem quis saber o nome. Entendeu bem? Eu te troquei por uma prostituta. — Vocé é nojento! Ela cuspiu no rosto dele, que revoltado a jogou no chao. Axel chegava naquela hora, nado pensou, segurou o cara pela gola da camisa, bufava: — 0 que vocé pensa que esta fazendo?! — Nao seja bobo, amigo, ela estava dando mole pra vocé e pra mim na mesma festa, nao se engane com esse jeito de certinha, ela esta arrumando um golpe pra cima de vocé, é uma profissional. Axel respondeu a ofensa a Elisa com um soco, como se fosse uma ofensa a ele mesmo, depois 0 pegou no chao e continuou a bater. Elisa entrou no meio, na intengao de defender Axel, mas ele nao precisava. Logo se afastou e gritou por socorro. Muitas pessoas os rodeavam, no meio da briga, ela ouviu que estava demitida. Nao demorou para alguns policiais chegarem e os levarem para a delegacia do bairro, Axel estava detido. E 14 depois de esfriarem a cabega, conversaram com uma grade entre eles: — Eu sinto muito pelo seu emprego, Elisa. Acho que vocé tem razao, continuo agindo como um adolescente. — Nao, nada disso. Eu é que lhe devo desculpas. Era um problema meu e vocé é quem terminou preso. — Se alguém te ofende, te machuca, é problema meu também. — Ele nao me machucou, nao diante do que vocé fez com ele. Sério, acho que quebrou o nariz do desgracado — Disse rindo. — Nao perdeu a pratica. — Claro que nao, estou muito mais forte agora. Ele levantou a manga da blusa e mostrou o brago egocéntrica e divertidamente. — Vocé sempre arrumava briga, pelos motivos mais banais, era encrenqueiro, mas seus pais raramente ficavam sabendo das suas confusées, sempre dava um jeito de resolver sozinho. — Era muita energia, sangue alemio, ao contrario do que pensam é quente, muito. Mas agora eu sei pra onde direcionar essa energia. —E bom mesmo. Cientista e baderneiro? Acho que nao combina. — Nao, combina nao. Mais uma vez aquele siléncio constrangedor: — Eu nao queria encontrar com vocé, nao hoje. — Eu sei, mas também sei que se eu pudesse te tocar — Ele passou a mao na face dela que se afastou um pouco. - Se eu pudesse estar perto e dizer tudo que eu sinto, se eu pudesse te mostrar, sei que poderia te convencer. Ela se afastou ainda m: — Eu preciso ir agora, eu vou ali, ali perto, eu tenho que... —Tudo bem. — Eu volto. Elisa se pegou rindo ao sair da delegacia, era agradavel e lisonjeiro ver 0 interesse dele por ela. Lembrou-se rapidamente de como era apaixonada por ele na puberdade e também no inicio da adolescéncia. Até entender que era pelo fato de ele ser a figura masculina mais presente em sua vida depois do seu pai e entendia agora que a maioria das meninas na idade que ela tinha, se apaixonavam por rapazes mais velhos, e naquela época, quase quatro anos de diferenga, faziam uma menina de doze olhar para um menino de dezesseis como um homem feito. Tinha superado tudo aquilo, sabia que era coisa de menina, mas bastou ele dar um sinal para que voltasse a se sentir exatamente como antes. Algumas horas depois estava de volta A delegacia, desta vez, ela e Axel estavam em uma sala: — Como te deixaram voltar? — Contei para eles quem vocé €. — Ah Marrentinha, imagino o que falou. — Vocé trabalha em um importante centro de astronomia na Europa, imagina isso, é quase uma questao diplomatica, tem cidadania e passaporte alemAo, tem quase tripla nacionalidade, sem contar que é filho de quem é. — Preferia que nao tocasse no nome do meu pai. O carcereiro chegou até eles: — 0 Doutor pode vir comigo? O delegado quer falar com vocé. Axel olhou para Elisa: — Doutor? — Cochichou rindo. Axel sentou-se diante do delegado e Elisa permaneceu de pé: —Teve sorte rapaz, o homem que vocé agrediu, ndo quis prestar queixa, disse que foi um desentendimento miituo. — O covarde esta é com medo de perder o emprego - Intrometeu-se Elisa que ao receber um olhar desaprovador do delegado, se calou. — 0 senhor esta liberado, é sé assinar aqui. Descendo as escadas da delegacia, Axel olhou para o reldgio: — Droga! Estou atrasado! — Nao vai me dizer que... —Desculpe-me, Elisa, no posso te levar pra casa, tenho um compromisso, importante. — Nao acha que precisamos conversar? Isso nao seria mais importante? — Claro que sim, mas... Olha, me espere em casa, eu vou voltar pra vocé. Axel chegou ao restaurante, Kelly esperava por ele jA impaciente com a demora, antes de entrar, ele conferiu para ver se todo dinheiro que havia pegado ao sair de casa estava la, embora estivesse longe nos ultimos anos, sabia dos boatos sobre a policia do Rio de Janeiro: — Até que enfim, pensei que ia cometer a indelicadeza de me dar um bolo e ainda me deixar pagar a conta. — Eu nunca faria isso, ainda mais depois do seu excelente trabalho. Ela sorriu: — Sou boa no que fago, eis o meu grande talento — Ele entregou o dinheiro a ela colocando-o sobre a mesa, Kelly pegou, contou e colocou dentro do sutia. - Uma mocinha inocente como eu, nao pode correr riscos em uma cidade tao perigosa. — Concordo plenamente — Ele deixou mais algumas notas em cima da mesa. - Isso paga a conta? — Espera ai, por que tanta pressa? — Ela estd me esperando. — Antes de ir, escute uma coisa: esta apaixonado por uma louca. Ela pegou todas as roupas do cara e atirou pela janela, todas mesmo, meu vestido também, por sinal, vocé esta me devendo. Axel riu: — Coitado de quem mexer com a Marrentinha. —Tome cuidado entio para nao magoa-la, ela pode fazer muito pior. — Nao se preocupe, sei como lidar com ela. — Entéo, boa sorte meu amigo. Disse ela levantando um brinde. Axel ao despedir-se dela, lhe deu um beijo no rosto e o batom dela ficou marcado em sua blusa. 6. Amor e Musica Elisa viu quando Axel chegou, ele falou com os pais, mas nem tocou no assunto da prisdo, logo a mae de Elisa cochichou algo em seu ouvido e ele foi ao encontro dela na garagem. Elisa 0 esperava sentada em um banquinho de madeira: — Nao demorou nada. —Disse que voltaria. — Lembra-se deste lugar? Os ensaios da banda, seu pai louco com o barulho... Axel riu e se aproximou: —E, hoje sinto pena dele. Ele pegou outro banco e sentou-se diante dela: — Sempre adorei sua voz e 0 jeito como segurava a guitarra, era sexy. — Sexy era vocé saindo do mar com a prancha na mao. Elisa agora era quem ria, ela na verdade gargalhava: — Ah, vocé esta louco! Com aquele cabelo? — E, todo bagungado assim - Dizia enquanto bagungava o prdprio cabelo. — Correndo e sorrindo. Eu sentia raiva, muitas vezes. — Raiva? Por qué? — Porque sabia que nao voltaria a ser minha. —Vocé desejou que acontecesse de novo? Ele apenas afirmou com a cabega com certo pesar no olhar: — Eu me lembro de cada detalhe — Ela segurou a mao dele — Quatro de maio... — De mil novecentos e noventa e dois, oito anos atras. — Eu lembro a misica que a gente ouvia antes dos seus amigos chegarem. Axel simplesmente comegou a cantar “Black”, da banda americana Pearl Jam, apertou a mAo de Elisa, afloravam nos dois as lembrangas: 04/05/1992 Axel recebeu alguns amigos que pareciam suspeitos para Elisa, seus pais n&o estavam em casa. Ele nado demorou muito, entregou a eles algum dinheiro e eles lhe deram um pacote, em seguida foram embora. Axel entéo falou brevemente com Elisa e seguiu para 0 seu quarto, ela desconfiada, foi atras dele: — Elisa, o que vocé quer? Ela cruzou os bragos numa atitude de total cobranga: — Eu vi, nao adianta negar - Ela pegou o pacote em cima da cama dele, que alias estava uma bagunga, como a da maioria dos jovens de dezoito anos. Axel tentou impedir, mas ela foi mais rapida - Seu vagabundo. Como se atreve a trazer esses traficantes para sua casa e gastar dinheiro com essa porcaria? — Ja vai comegar, né - Ele arrancou o pacote da mao dela. — Isso aqui é meu passaporte pra felicidade. — Nao seja idiota, é o passaporte para felicidade deles que vio fazer a festa com seu dinheiro. — E dai? Eu posso comprar, posso pagar, isso e muito mais! Tudo que eu quiser! — Quero ver vocé pagar a tristeza da sua familia quando descobrirem o que vocé anda usando! — Sua intrometida! Ela avangou para cima dele e pegou o pacote de volta, correu em diregdo ao banheiro disposta a jogar na privada, mas ele foi atrés e quando ela jogaria, segurou sua mao direita, depois a esquerda e a prendeu contra a parede com os bra¢os suspensos. Viu uma ponta de medo nos olhos dela, eles arfavam, estavam colados um ao outro. Axel sabia da paixao dela por ele, nunca quis encoraja-la, ndo por nado se sentir atraido, sentia-se sim e muito. Ela era bela e bem desenvolvida em corpo e mente para sua idade, mas nao queria encorajé-la, por saber que ele seria o homem errado para uma menina certa como Elisa era. Mas naquela hora, tendo ela em suas mfos, sentindo o calor que emanava do corpo dela, uma onda de desejo percorreu todo o seu corpo. Ele a beijou, sem aviso algum, além do seu olhar. Simplesmente a beijou de maneira que Elisa mal podia respirar. De fato, ele também sabia que ela jamais havia beijado outro rapaz, mas no quis saber, nao quis pensar. Seduzida pelos beijos, pelas caricias, Elisa deixou o pacote cair no chao e agarrou-se ao pescoco dele. Axel a queria, era tudo que sabia, que sentia naquele momento, desejava aquela menina mais do que qualquer coisa que pudesse almejar ter na vida. Suas maos desceram pelo corpo dela até chegarem as suas coxas, ele ent&o a suspendeu pelas pernas encaixando-a em seu quadril e levando-a para sua cama. Debrugou-se sobre ela, a olhou nos olhos. Ela suspirou, fechou os olhos em espera, era sua permissao. iiiiii Axel terminou de cantar, olhou para Elisa, que olhou pra ele: — Eu fui um canalha, seduzi vocé, eu fui... Na verdade fui eu mesmo, mas nao queria ser eu mesmo com vocé, porque certamente iria te machucar. E vocé sempre foi o meu tesouro mais precioso. Tinha que te proteger de mim mesmo. — Axel, vocé nao me seduziu, eu sabia bem 0 que estava fazendo, sonhava com vocé, eu te... Vocé sabe, naquela época. E, além disso, vocé estava drogado. — NAo, eu nAo estava, dizer aquilo foi mais uma prova da minha covardia. Eu nunca usei, nao tinha coragem, sé queria afrontar meu pai, pra ganhar atengao. Eu nao tinha usado droga nenhuma. Inventei aquilo para que nao ficasse com raiva de mim. — Foi por amor, por amor que me dei a vocé, eu te amava, era capaz de qualquer coisa por um carinho, um beijo e de repente vocé estava la me agarrando daquele jeito. Nao tive tempo de pensar, mas se pensasse, é claro que faria o mesmo, a paix4o é algo incontroldvel. — Vocé estava apaixonada, mas eu nao. Foi desejo e vocé era minha amiga, quase irma. Entende como me sentia um lixo pelo que fiz? Mas alguma coisa aconteceu comigo, com vocé, com nds dois. Mexeu comigo de uma forma estranha. Era como se me encontrasse, eu nao sabia entender aquilo. Achei que era apenas culpa a principio. — Eu esperava por um pedido de namoro e vocé me veio com um pedido de desculpas. Eu aceitei, concordei que foi um erro, mas por dentro. — Euera imaturo. — Vocé me machucou. — Te machuquei querendo nao te machucar. — Mas foi bom, tudo que aconteceu, eu cresci e abandonei aqueles sonhos bobos. — E arrumou um namorado. — Pra te esquecer! —E funcionou? — Sim, vocé sabe, nossa amizade nao foi abalada, ao contrario se fortaleceu, e nunca mais tocamos neste assunto, até agora. Ele segurouo rosto dela fazendo-a se aproximar mais dele: — Eu sei que nao agi como um homem. — Axel. — Nao, me deixa falar - Ele segurou 0 corpo dela com um dos bragos e com a outra mao, puxou ela pelo cabelo erguendo seu rosto para ele, o banco onde Elisa estava, ficou apoiado em apenas duas pernas, ele praticamente a segurava em seu colo. — Eu sei que nao agi como um homem, mas aquilo era novo pra mim, eu nao sabia como lidar com aqueles sentimentos, eu nunca antes havia... — Havia 0 qué? — Nao foi sexo apenas, eu te amei, vocé foi minha, minha mulher. Eu te amava, me apaixonei naquela cama, ou despertei, nao sei. Elisa, eu passei aquele ano todo louco por vocé. — Nao me contou. — Eu sei, nao podia, nao tinha o direito, mas o que eu sentia naquele tempo, o que eu sinto agora... Ele a apertou mais, Elisa suspirou, estavam a um segundo de um beijo, mas havia uma marca de batom a jovem se apartou dele, deu as costas: —0 que foi? — S6 queria entender que tipo de jogo quer fazer comigo. — Nao ha jogo nenhum - Respondeu desentendido - E tudo verdade. Ela deu um tapa no rosto dele e saiu. Axel levou a mao a face, depois ao peito, no sabia o que dofa mais naquela hora. Sentia-se ridiculo. Expés seus sentimentos mais secretos pra tudo terminar assim? N4o viu outra solugdo para terminar a noite: abriu uma garrafa de vinho e tomou um porre sozinho. 7. Axel, Elisa, Calor e Cebolas Quinto Dia: — Axel, 6 Axel, acorda ai vagabundo! Anda, playboy, acorda logo! Cansado de chamar, quase berrar, Mario sacudiu Axel na cama. Ele estava de brucos e tampou a cabega com um lengol: — Ah, me deixa. Que pesadelo é esse? Quem te deixou entrar aqui? Fala que eu vou mandar pra rua. — Deixa de ser preguicoso, ja so dez horas da manha. — 0 qué?! Nao acredito! Me chame 4s dez da noite. Dessa vez ele cobriu a cabega com um travesseiro que foi puxado por Mario: — 0 que houve com vocé? — Tive um dia horrivel ontem. — Me deixa adivinhar: brigou com a Elisa. — Briguei com elae por ela. E pra qué? Pra nada. —Vocé vai quebrar a cara, ela é dura na queda. — Eu sou muito mais. E uma questio de honra agora. — Esquece isso, cara. Vem comigo, sei o remédio certo para essa ressaca. Corrida na praia. — Boa ideia, assim ao menos eu fico algumas horas longe daquela marrentinha. iiiiii Desempregada, Elisa foi atras da sua mae na cozinha, e embora houvesse diversos empregados naquela casa, para desempenhar as mais diversas tarefas, ela ajudava sua mae com o preparo do almogo: — Elisa, sai daqui, vocé esta me atrapalhando. — Poxa, mae, me deixa ajudar, nao consigo ficar sem fazer nada. — Nao devia ter perdido o emprego entéo, agora que os animais se livraram de vocé, sobrou pra mim. As duas riram: — Nao realizei nenhum procedimento na senhora ainda. — Esta me comparando aos seus pacientes? Riram um pouco mais: — Eu sinto muito, mie, ter sido demitida por causa das minhas encrencas amorosas. Sei que prometi tirar a senhora daqui. — Filha, eu nunca disse que queria sair daqui. Gosto do meu trabalho, dos patrées, da Carlinha, do Axel. Nossa vida esta aqui, Elisa, vocé nasceu aqui e se hoje esta assim, linda, formada e culta, devemos agradecer a eles que pagaram seus estudos. Usar o dinheiro que ganhar agora pra dar as costas, seria uma ingratidao. — Nao se trata de ingratidao, mée. Sei l4, queria experimentar, ter o nosso canto. Se até os filhos deles vao pra longe e nio sao ingratos por isso. E a vida, eles nio me compraram com os estudos, sou livre. — Claro, vocé é jovem, deve sim viver sua vida, ser independente, se casar, ter sua familia, sua casa. Eu ja vivi tudo isso e foi aqui, fui e sou feliz nesse lugar. — Por falar nisso, mae. Serd que eu daria uma boa esposa? - Perguntou rindo: — 0 que foi? Esta de olho em alguém? — Nao. Nem penso nisso. — Se ndo pensasse, ndo estaria perguntando. — Mae, acha que uma mulher deve fechar os olhos para uma traicdo? — Filha, eu nao sei. Cada mulher pensa de um jeito. — Mas se ela amasse muito o marido e nao quisesse abrir mao daquele sentimento, porque é arrebatador demais e... Se ela confiasse nele mesmo. sabendo que ele a traiu? Eu sei que isso é meio louco, mas... Enfim, a senhora perdoaria um deslize? — Elisa, esta apaixonada por alguém? Ela sorriu e ficou sem graga, deixou um copo cai — Olha sé 0 que vocé fez, menina! Elisa, anda conversando muito com o Axel, nao 6? —E qual é a novidade? — 0 jeito dele, 0 jeito que fala de voc — Que jeito? — Aquele jeito, cheio de agticar na boca, parece que esta falando de uma princesa. Elisa parou de juntar os cacos de vidro: —Jura? Ela tentou disfargar o entusiasmo com o qual a pergunta saira de sua boca: — Se isso for verdade, Elisa, se ele estiver interessado, tenha cuidado, por favor, nao deixe que nada aconteca entre vocés, seria uma confusao danada. — Nao precisa se preocupar com isso, mae. Somos sé amigos, como sempre fomos. iiiiii

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